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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PATOLOGIA DA NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA 1 DOCENTE: ELIANE LOPES ROSADO APOSTILA DE DIETOTERAPIA 1 CURSO DE NUTRIÇÃO – 5º PERÍODO (2018.2) ALUNA: GLEICIANE BUENO Rio de Janeiro 2018 2 BLOCO I • AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NA PRÁTICA CLÍNICA.................................................................4 • MODIFICAÇÃO DA DIETA NORMAL PARA ENFERMOS..........................................................18 • TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL..............................................................................................28 • TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL......................................................................................40 • DESNUTRIÇÃO..................................................................................................................................44 BLOCO I • OBESIDADE.......................................................................................................................................56 • HEPATOPATIAS................................................................................................................................62 • TRANSTORNOS ALIMENTARES • ESOFAGOPATIAS • GASTROPATIAS BLOCO III • PANCREATOPATIAS........................................................................................................................79 • SISTEMA DIGESTÓRIO: VESÍCULA..............................................................................................97 • SITEMA DIGESTÓRIO: INTESTINO DELGADO.........................................................................108 • SISTEMA DIGESTÓRIO: INTESTINO GROSSO...........................................................................125 3 BLOCO I 4 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NA PRÁTICA CLÍNICA Quando falamos de avaliação nutricional, precisamos entender o conceito de estado nutricional. ESTADO NUTRICIONAL (é uma relação de ingestão x gasto): Grau no qual as necessidades fisiológicas por nutrientes estão sendo alcançadas (Pollock e Wilmore, 1993). “É a condição de saúde de um indivíduo influenciada pelo consumo e utilização de nutrientes, e identificada pelo somatório* de informações obtidas de estudos físicos, bioquímicos, clínicos e dietéticos” (Associação Americana de Saúde Pública, OMS 2000). Há uma gama de indicadores que podem ser usados para fazer um diagnóstico. O estado nutricional pode variar devido: ✓ Mudança de horário das refeições ✓ Estado da doença (dores/dificuldades na ingestão) A ingestão não supre as necessidades. ✓ Doenças catabólicas • IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO PACIENTE HOSPITALIZADO ✓ Verificar a vulnerabilidade ao desenvolvimento da desnutrição iatrogênica*; ✓ Detectar precocemente o risco nutricional; ✓ Minimizar complicações clínicas (infecções, cicatrização deficiente, dependência de ventilação); ✓ Reduzir tempo de internação Quando a desnutrição se desenvolve no ambiente hospitalar. Motivos para a desnutrição iatrogênica: A própria internação (perda de apetite, emocional...), temperatura da refeição, medicação com efeitos colaterais, tipo e horário das refeições, qualidade da refeição... • FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ✓ História clínica ✓ Exame físico geral e específico ✓ Avaliação antropométrica ✓ Avaliação da composição corporal ✓ Avaliação laboratorial ✓ Anamnese alimentar (análise do consumo habitual e não habitual) ✓ Avaliação subjetiva global • ETAPAS DA ABORDAGEM NUTRICIONAL ✓ Identificação e características gerais do paciente (queixa e diagnóstico principal, HDA, HPP*, história familiar, história social, avaliação do estado mental, avaliação do funcionamento intestinal) ✓ Aplicação de inquéritos dietéticos e compara-los com as recomendações nutricionais 5 ✓ Avaliação dos demais indicadores nutricionais ✓ Educação nutricional ✓ Prescrição dietética ✓ Acompanhamento da aceitação da dieta prescrita HDA= história da doença atual HPP= história patológica pregressa AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA É a ciência que estuda as medidas de tamanho, peso e proporções do corpo humano (Gibson R, 2005; Pollock e Wilmore, 1993). VANTAGENS (Gibson R, 2005) ✓ Procedimentos simples e seguros; ✓ Equipamentos são de baixo custo, portáteis e duráveis; ✓ Os dados são precisos e acurados quando as técnicas são padronizadas; ✓ Possibilita análises do estágio da desnutrição/obesidade e mudanças do estado nutricional; ✓ Determina limites e valores de risco da desnutrição/obesidade. PARÂMETROS ANTROPOMÉTRICOS • PESO CORPORAL (atual, usual, ideal ou teórico e ajustado) Em alguns casos, não há como medir o peso atual, como pacientes acamados, dessa forma, faz-se necessário fazer estimativas. O peso usual é importante em casos de pacientes que são magros ou estão em risco no estado nutricional e podem estar com retenção de líquidos ou edemas que façam ganhar peso, ficando aparentemente eutróficos, quando na verdade é apenas água. A perda de peso é um indicador importante para o estado nutricional. ▪ Pode indicar desnutrição ou risco no estado nutricional ▪ É calculado com o peso atual e o usual. O peso ideal podemos calcular para saber quantos kg o paciente deve ganhar ou perder. USUAL: É o peso que o paciente normalmente o paciente apresenta e é informado pelo mesmo. IDEAL: É o peso que o paciente deve alcançar ou que é bom pra ele (é calculado com o IMC de eutrofia) ATUAL: É o peso feito na balança pelo profissional. 6 AVALIAÇÃO DO PESO SECO Total de peso (kg) a ser subtraído do peso atual de acordo com o grau de edema e local atingido. Há casos que se notado um edema (retenção hídrica), esse valor deve ser descontado para determinar o estado nutricional, senão o mesmo pode ficar superestimado. A avaliação é feita pela formação de cacifu. A classificação é feita com sinal de “+” GRAU DE EDEMA LOCAL ATINGIDO TOTAL DE PESO A SER SUBTRAÍDO + Tornozelo 1kg ++ Joelho 3-4kg +++ Raiz da coxa 5-6kg ++++ Anasarca 10-12kg (Matarese LE. Nutrition support handbook, 1997) Lê-se “1 cruz em 4” → edema apenas no joelho “2 cruzes em 4” → do tornozelo até a panturrilha Anasarca = edema generalizado ESTIMATIVA DE PESO DE ASCITE E EDEMA ASCITE: Retenção líquida no abdomem. NÃO avaliamos o grau de ascite (o médico que irá determinar) Entendendo a fisiopatologia da ascite: Em determinadas situações, como alguns tipos de câncer mais catabólicos, o tumor renal, por exemplo. Mesmo sem metástase, ele promove um catabolismo intenso e se “alimenta” de tudo que o organismo produz, podendo desenvolver uma doença hepática como uma cirrose e uma das consequências é a queda da albumina. A albumina regula a permeabilidade vascular, e a sua queda causa uma perda de líquido, do meio intravascular para o extravascular, e esse líquido se acumula na cavidade peritoneal levando a ascite. Então, a ascite normalmente está associada a hipoalbuminemia. GRAU DA ASCITE/EDEMA PESO ASCÍTICO (Kg) EDEMA PERIFÉRICO (Kg) Leve 2,2 1,0 Moderado 6,0 5,0 Grave 14,0 10,0 JAMES, 1989. PERCENTUAL DE PERDA DE PESO CORPORAL 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑠𝑜 = 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑢𝑠𝑢𝑎𝑙 − 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑎𝑡𝑢𝑎𝑙 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑢𝑠𝑢𝑎𝑙 × 100 TEMPO PERDA DE PESO IMPORTANTE (%) PERDA DE PESO GRAVE (%) 1 semana 1-2 >2 1 mês 5 >5 7 3 meses 7,5 >7,5 6 meses 10 >10 ASPEN, 1993 PESO AJUSTADO Peso ideal = IMC ideal x (altura)² Sendo: IMC médio para homens = 22 kg/m² e para mulheres = 21 kg/m² (OMS, 1985) ESTIMATIVA DO PESO CORPORAL Homens = [(0,98xCP) + (1,16xAJ) + (1,73xCB) + (0,37xDCSE) - 81,69] Mulheres (cm) = [(1,27xCP) + (0,87xAJ) + (0,98xCB) + (0,4xDCSE) - 62,35] (Chumlea et al, 1988) • ESTATURA No caso do adulto,a altura só serve para o cálculo do IMC. Em crianças, é um indicador do estado nutricional pregresso. ESTIMATIVA DA ALTURA CORPORAL * Altura do joelho (Chumlea et al, 1985): ▪ Homens (cm) = 64,19 - (0,04 x I) + (2,02 x AJ) ▪ Mulheres (cm) = 84,88 - (0,24 x I) + (1,83 x AJ) * Extensão dos braços (Kwok e Whitelaw, 1991) Braços estendidos em ângulo reto com o corpo. Medir com a fita métrica a distância entre o dedo médio de uma mão até o esterno e multiplica-se por 2 ou mede-se do dedo médio de uma mão até o dedo médio da outra. * Estatura recumbente (Garcia ANM, 2000). Paciente em posição supina (deitada de costas) – leito na posição horizontal completa. Realizar a medida da altura do topo da cabeça até a base dos pés. CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE ADULTOS DE ACORDO COM O IMC CLASSIFICAÇÃO IMC (kg/m2) Magreza grau III <16,0 Magreza grau II 16,9-16,0 Magreza grau I 18,4-17,0 Baixo peso <18,5 Normal 18,5-24,9 Pré-obeso 25,0-29,9 Obesidade classe I 30,0-34,9 Obesidade classe II 35,0-39,9 8 Obesidade classe III ≥40 (OMS, 1997; ABESO, 2016) CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL PELO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, PARA IDOSOS. CLASSIFICAÇÃO IMC (kg/m2) Baixo peso <22 Eutrofia 22,0-27,0 Obesidade >27,0 (Lipschitz. Primary Care, 1994) AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DE AMPUTADOS 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜 = 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑎 𝑎𝑚𝑝𝑢𝑡𝑎çã𝑜 100 − % 𝑎𝑚𝑝𝑢𝑡𝑎çã𝑜 × 100 𝐼𝑀𝐶 = 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜 (𝑘𝑔) (𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 (𝑚))2 (1 − % 𝑎𝑚𝑝𝑢𝑡𝑎çã𝑜) (Osterkamp. J Am Diet Assoc, 1995; Tsamaloukas et al. JPEN, 1994) Proporções do corpo humano para estimativa do peso corporal (Osterkamo.J Am Diet Assoc, 1995). • CIRCUNFERÊNCIAS Ponto médio do braço: É medida a partir do acrômio até o olécraneo CIRCUFERÊNCIA DO BRAÇO (Frisancho AR, 1990) CIRCUFERÊNCIA MUSCULAR DO BRAÇO (CMB) (Frisancho AR, 1981) 𝐶𝑀𝐵 (𝑐𝑚) = 𝐶𝐵 (𝑐𝑚) – (𝐷𝐶𝑇 (𝑚𝑚) × 𝜋 (Gurney e Jelliffe, 1973). Essa circuferência é um indicador do estado proteico somático. Quando a CMB se encontrar abaixo de 5%, indica uma depleção do estado proteico somático porque reflete a proteína muscular. 9 ÁREA MÚSCULAR DO BRAÇO CORRIGIDA (AMBc) (Heymsfield et al,1982) Masculino 𝐴𝑀𝐵𝑐 (𝑐𝑚2) = [𝐶𝐵 (𝑐𝑚) − 𝜋 𝑥 𝐷𝐶𝑇 (𝑚𝑚) / 10] 2 – 10 4𝜋 Feminino 𝐴𝑀𝐵𝑐 (𝑐𝑚2) = [𝐶𝐵 (𝑐𝑚) − 𝜋 𝑥 𝐷𝐶𝑇 (𝑚𝑚) / 10] 2 – 6,5 4𝜋 RISCO DE COMPLICAÇÕES METABÓLICAS ASSOCIADAS À OBESIDADE, EM FUNÇÃO DO PERÍMETRO DA CINTURA AUMENTADO MUITO AUMENTADO HOMENS 94cm 102cm MULHERES 80cm 88cm (OMS, 1997; ABESO, 2016) Quando se faz o perímetro da cintura, estamos medindo a gordura visceral. O perímetro da cintura indica o risco cardiometabólico. Além do perímetro da cintura, o risco pode ser avaliado pelo uso da relação cintura- quadril, entretanto, o uso desse método pode superestimar o perímetro. *Cintura maior que o quadril → físico android *Cintura menor que o quadril → físico ginecoide ou ginóide O perímetro da cintura é mais usado pois se consegue estimar com confiança a gordura intrabdominal. CURIOSIDADE: Por que a gordura intrabdominal é mais perigosa que a gordura subcutânea? Na gordura subcutânea temos receptores αdrenérgicos e na intrabdominal mais receptores βdrenérgicos. Os αdrenérgicos estão mais envolvidos com as vias lipogênicas (acumulo), sendo mais sensíveis à insulina, que por sua vez é anabólica. Os βdrenérgicos possuem atividade catabólica, sendo mais resistentes à ação da insulina, com facilidade de mobilização de gordura, o pool de ácidos graxos livres na corrente sanguínea será muito maior, então o risco de doenças cardiometabólicas será maior. Quando se tem muito ácido graxo livre, o fígado para de utilizar a glicose e passa a utilizar esse ácido graxo para sintetizar VLDL e a glicose que não está sendo utilizada ficará na corrente sanguínea (podendo levar a uma diabetes). O VLDL irá para corrente sanguínea que irá resultar em LDL e consequentemente haverá uma redução do HDL. Então... A relação da gordura intra-abdominal com a doença cardiovascular, por exemplo, é que ela é mais facilmente mobilizada, gera ácido graxo livre e o fígado vai sintetizar VLDL e LDL e poupar a utilização de glicose. 10 CLASSIFICAÇÃO DE RISCO METABÓLICO PELO PERÍMETRO DA CINTURA, SEGUNDO IDF. RISCO DE COMPLICAÇÕES METABÓLICAS ASSOCIADAS ÀOBESIDADE ELEVADO HOMENS ≥ 90cm MULHERES ≥ 80cm • DOBRAS CUTÂNEAS ▪ Dobra cutânea tricipital (DCT) (Frisancho AR, 1990) ▪ Dobra cutânea subescapular ▪ Somatório das dobras cutâneas tricipital, bicipital, subescapular e suprailíaca Limitações: - Exige intenso treinamento; - Existe variação na consistência do tecido adiposo, elasticidade da pele e proporção de gordura interna e externa; - Representatividade dos locais de medição; - Limitado na perda de peso recente e extremos de adiposidade. ESTIMATIVA DA DENSIDADE CORPORAL (KG/M3) (SOMATÓRIO DAS DOBRAS CUTÂNEAS TRICIPITAL, BICIPITAL, SUBESCAPULAR E SUPRAILÍACA). (Durnin e Womersley, 1974) ESTIMATIVA DA GORDURA CORPORAL POR MEIO DA DENSIDADE CORPORAL CALCULADA PELO SOMATÓRIO DE DOBRAS CUTÂNEAS FÓRMULA DE SIRI (1961) → %GCT = (4,95/D - 4,5) x 100 11 FÓRMULA DE BROZEK ET AL. (1963) → %GCT = (4,570/D - 4,142) x 100 • COMPOSIÇÃO DOS TECIDOS CORPORAIS TECIDO ADIPOSO: Células adiposas, fluidos extracelulares, endotélio vascular e colágeno MASSA MAGRA: Água, minerais, matéria orgânica e lipídios essências (É o que estimamos com as dobras cutâneas e bioimpedância) (McArdle el al, 7a ed. 2011) Como o tecido livre tecido de gordura tem muita água e minerais, ele é mais denso. O problema de algumas dietas como jejum intermitente é que além de perder massa gorda, perde também a massa magra, que é um tecido metabolicamente ativo. FATORES QUE ALTERAM A DENSIDADE DOS COMPARTIMENTOS CORPORAIS: ▪ Idade ▪ Sexo ▪ Quantidade de tecido adiposo ▪ Nível de atividade física ▪ Raça ou etnia ▪ Estado de saúde IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL (CC) EM PACIENTES HOSPITALIZADOS: ▪ Identificar riscos associados ao acúmulo de gordura abdominal; ▪ Associar risco à saúde com baixo e alto nível de gordura corporal; ▪ Monitorar mudanças na composição corporal (CC) associadas a doenças específicas; ▪ Avaliar a eficiência do programa nutricional; ▪ Investigar relação entre CC e morbimortalidade; ▪ Formular intervenções para prevenção precoce de doenças crônicas (Smith, 2004). • BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA Baseia-se no princípio de que a passagem da corrente elétrica no tecido hidratado corresponderá ao conteúdo de água corporal total e, consequentemente, massa magra, considerando o modelo de dois compartimentos corporais. 12 (Lukaski, 1987). Vantagens da bioimpedância elétrica ✓ Método simples e não invasivo ✓ Rápido, não causa desconforto ✓ Resulta em medida precisa e válida Limitações da bioimpedância elétrica ✓ Variação na hidratação corporal (ex: obeso, idoso) ✓ Variação na temperatura ambiental ✓ Alto custo, comparado as dobras cutâneas ✓ Limitado na fase inicial da dieta para perda de peso, na obesidade AVALIAÇÃO LABORITORIAL É importante avaliar: ▪ Estado protéico somático (índice de creatinina altura e balanço nitrogenado) ▪ Estado protéico visceral (proteínas plasmáticas) ▪ Estado de ferro (transferrina, capacidade de ligação do ferro, saturação da transferrina e ferritina) *Gilicemia e lipodograma não servem para avaliar o estado nutricional (são exames complementares) AVALIAÇÃO DO ESTADO PROTEICO SOMÁTICO Índice de creatina altura: é uma relação da creatinina excretada com a altura do indivíduo. A creatinina é um metabólito da proteína muscular, diferente da ureia, que representa majoritariamente a urina ingerida. Então, se a creatinina estiver alta na urina, pode está havendo uma mobilização damassa magra → catabolismo (oxidação da proteína para gerar energia). Entretanto, esse fator não é válido para doenças renais. Fatores que podem alterar os resultados: ✓ variações diurnas; ✓ estresse emocional; ✓ exercícios extenuantes; ✓ menstruação; ✓ ingestão diária de carne e proteína; ✓ infecção, febre, trauma e IRC; # Idade; ✓ diabetes mellitus tipo 2 e obesidade, com dietas muito restritas 13 𝐼𝐶𝐴 (%) = 𝑐𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎 𝑢𝑟𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑎 (24ℎ) × 100% 𝑐𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎 𝑢𝑟𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑎 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 Referência (creatinina excretada): 23mg/dL (masculino) 18mg/dL (feminino) (Walser, 1987) Balanço Nitrogenado Fatores que podem alterar os resultados: ✓ Inadequação proteica (desbalanço entre AAE e AANE); ✓ Catabolismo proteico (trauma, infecção, sepse, queimaduras) ✓ Perdas proteicas (fístulas, diarréia); ✓ Doença renal crônica. BN = N ingerido (g) – N excretado (g) BN = [Proteína (g)/6,25 – (uréia urinária (g)/2,14]+4 Fatores que dificultam a realização do exame: São caros; ✓ Requer tempo do paciente e da equipe; ✓ Perdas protéicas dos alimentos, antes da ingestão – superestimativa do consumo; ✓ Perdas nas fezes, urina, pele, fístulas - subestimativa. AVALIAÇÃO DO ESTADO PROTEICO VISCERAL Fatores que podem afetar as concentrações das proteínas plasmáticas: ✓ Ingestão proteica inadequada; ✓ Metabolismo alterado; ✓ Deficiência específica de proteína plasmática; ✓ Síntese proteica reduzida resultante de ingestão energética inadequada, deficiência de eletrólitos, elementos traços e de vitaminas (A); ✓ Trocas na permeabilidade capilar; ✓ Medicamentos (ex: contraceptivos orais); ✓ Exercícios extenuantes Meia vida e valores de referência das proteínas plasmáticas 14 PROTEÍNAS PLASMÁTICAS MEIA VIDA REFERÊNCIA albumina 14-20 dias 3,5-5,5 g/dL transferrina 8-9 dias 200-400 mg/dL pré-albumina ligada a tiroxina 2-3 dias 15,7-29,6 mg/dL proteína ligada ao retinol 12 horas 2,6-7,6 mg/dL Diagnóstico nutricional segundo as concentrações de albumina plasmática CONCENTRAÇÕES DE ALBUMINA (G/DL) CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL >3,5 Adequada 3,0-3,5 Depleção leve 2,4-2,9 Depleção moderada <2,4 Depleção grave Alterações fisiopatológicas associadas com modificações na transferrina: ✓ Gastrointestinais e renais; ✓ doenças hepáticas; ✓ insuficiência cardíaca congestiva; ✓ inflamação; ✓ redução nos requerimentos de ferro (infecção crônica, anemia perniciosa, etc); ✓ gestação, terapia com estrogênio e hepatite aguda (aumento); ✓ anemia associada à má nutrição AVALIAÇÃO DO ESTADO DE FERRO ✓ Transferrina – 200 a 400mg/dL Aumentada: anemia ferropriva, hepatite aguda, contraceptivos orais e gravidez. Reduzida: estados inflamatórios crônicos, infecção, doenças hepáticas crônicas, neoplasias e doença renal ✓ Capacidade de ligação de ferro total (CTLF) 250 – 450 g/dL (total) e 150 – 340 g/dL (livre). Aumentada: anemia ferropriva, gestação. Reduzida: Estados inflamatórios crônicos, sobrecarga de ferro e hemocromatose ✓ Saturação da transferrina – 20 a 50% (100 x ferro) / CTLF ✓ Ferritina SEXO VALORES PADRÃO (µg/dL) MÍNIMO MÁXIMO Masculino 24 336 Feminino 11 176 Pós-menopausa 11 306 15 Aumentada: infecções, traumas, neoplasias, artrite, sobrecarga de ferro (hemocromatose). Reduzida: deficiência de ferro. ÍNDICES NUTRICIONAIS Utilização de variáveis antropométricas, do estado proteico visceral e dietética. ÍNDICE DE RISCO NUTRICIONAL (IRN) Esse índice representa o risco que o indivíduo possui de se tornar desnutrido levando em consideração a albumina e o peso atual. Um fator que limita a utilização desse índice é o peso usual. Se o paciente não souber informar, não é possível calcular. É utilizado quando é necessário fazer uma triagem ou fechar um diagnóstico rápido. IRN = (15,9 x Alb (g/dL)) + (0,417) x % peso usual Onde % peso usual = peso atual x 100 / peso usual Interpretação: ▪ Estado nutricional adequado - 100% ▪ Desnutrição moderada – 97 a 99,9% ▪ Desnutrição grave - < 97,5% (Mullen et al, 1979; Gibson, 2005). ÍNDICE DE PROGNÓSTICO NUTRICIONAL (IPN) Esse índice indica a sobrevida do paciente considerando a albumina, DCT, transferrina e teste de hipersensibilidade cutânea (HCT). IPN = 158 – (16,6 x Alb (g/dL)) – (0,78 x DCT (mm)) – (0,2 x T (mg/dL)) – (5,8 x HCT) Onde ▪ HCT (hipersensibilidade cutânea) = 0 (não reator), 1 (enduração < 5mm) e 2 (enduração > 5mm); ▪ T – transferrina; ▪ DCT – dobra cutânea triciptal. Interpretação: ▪ Alto risco - > 50% ▪ Risco intermediário – 40 a 49% ▪ Baixo risco - < 40% ÍNDICE NUTRICIONAL HOSPITALAR (INH) 16 INH = (0,91 x Alb (g/dL)) − (1,00 x HCT) – (1,44 x sepse) + (0,98 x diagnóstico clínico) – 1,09 Onde HCT (0 (não reator), 1 (enduração < 5 mm) e 2 (enduração > 5 mm)); Sepse (presente = 1 e ausente = 2); Diagnóstico clínico (câncer = 1, outras doenças = 2). Interpretação: ▪ Sobrevida de 25% - -1 ▪ Sobrevida de 90% – 2,5 ▪ Sobrevida de 50% - 0 MUST- FERRAMENTA UNIVERSAL DE RASTREIO NUTRICIONAL É utilizado mais em idosos 1) Avaliar o IMC do indivíduo; ▪ Maior ou igual a 20 = 0 pontos ▪ 18,5 – 20 = 1 ponto ▪ Inferior ou igual a 18,5 = 2 pontos 2) Avaliar a perda de peso durante os últimos 6 meses; ▪ Inferior ou igual a 5% = 0 ponto ▪ 5-10% = 1 ponto ▪ Maior ou igual a 10% = 2 pontos 3) Avaliar a severidade da doença Adicionar 2 pontos – caso não haja ingestão dietética por mais de 5 dias Interpretação: 0 – Baixo risco: seguir rotina clínica e acompanhamento Hospital = periodicidade semanal Ambulatorial = periodicidade mensal 1 – Médio risco: Observação Hospital= monitorar ingestão dietética por 3 dias Ambulatorial = idem 2 ou mais: Alto risco Tratamento – se necessário utilizar suplementação nutricional. AVALAIAÇÃO CLÍNICA OU EXAME FÍSICO Devemos tentar sempre seguir a orientação cabeça→pés para que se analise tudo. 17 ÁREA CORPORAL MANIFESTAÇÃO CLÍNICA CABELO Coloração não é muito usada pois pode sofrer interferências (tinturas, etc) Pode-se analisar o brilho, que pode está associado com o estado proteico além do ressecamento, despigmentação e quebras FACE É avaliado o consumo da musculatura temporal, que é um indicador clínico da depleção proteica somática. É avaliado também a bola gordurosa de bichat, que é um indicador da reserva adiposa. OLHOS É avaliado o ressecamento e coloração, se estão normocorados ou hipocorados. Pessoas com anemia ferropriva normalmente possui olhos hipocorados. O ressecamento indica o estado de hidratação → xerofitalmia BOCA Há a avaliação interna e externa, observando lesões nasolabiais – seborreia nasolabial, que tem relação com vitamina B12. Na avaliação interna, olha-se a dentição que pode ser um sinal de uma possível disfagina ou odinofagia* Gengivas: alguns quimioterápicos causam edemas e inchaços. A deficiência de niacina causa aglocite/gengivas escorbúticas. Língua: Paciente desidratado não forma saliva. Avaliação da coloração e papilas, pois uma deficiência de Fe pode ser causa de atrofia das papilas. PESCOÇO Avaliação do consumo da musculatura supra e infra clavicular, que pode ser um indicador de deficiência proteico-calórica. BRAÇOS Avaliação da presença de edemas → formação de cacifu. ABDOMEM Avaliação com o exame ectoscopico, analisando se ele está plano, globoso ou escavado (desnutrição proteico-calórica), apalpação com auscuta, que normalmente é feito no cólon ascendente, transverso e descendente, que é para ouvir se está com flatulência aumentada ou normal. Aumentada = Hipertimpanico Normal= Normotimpanico MÃOS Avaliação do consumo interósseo, que pode ser uma depleção proteico-calórico. Na palma da mão avaliamos a palidez palmar, que tem relação com o estado de Fe Unhas: unhas quebradiças podem indicaro estado de zinco, ferro, vitamina A e proteínas. Na anemia ferropriva elas costumam mudar de conformação. PERNAS Podemos avaliar a formação do arco entre as coxas → consumo muscular intenso, que também pode ser um indicador proteico. AVALIAÇÃO DIETÉTICA Métodos retrospectivos: Recordatório de 24 horas Questionário de freqüência alimentar (QFA) Anamnese ou história alimentar Métodos prospectivos: Diário ou registro alimentar 18 MODIFICAÇÕES DA DIETA NORMAL PARA ENFERMOS • ETAPAS PARA PRESCRIÇÃO DIETÉTICA 1) Cálculo do valor energético total (VET) É necessária a utilização, se possível, do peso atual. 2) Distribuição entre os macronutrientes Essa distribuição irá depender do tipo de patologia. 3) Composição em micronutrientes: vitaminas e minerais Conhecer os minerais e vitaminas importante para cada tipo de doença e comentar na conduta. 4) Consistência/textura Além da consistência, é importante informar a via de acesso (oral, enteral, parenteral), lembrando que terapia enteral e parenteral sempre serão líquidas. 5) Temperatura: quente, fria ou adequada à preparação Nos casos de obesidade, é útil utilizar preparações mais quentes nas refeições principais pois saciam mais e nos casos de desnutrição, utilizar preparações mais frias pois saciam menos (logo, o indivíduo irá comer mais). 6) Fracionamento Normalmente, 5 a 6 refeições ao dia. Se o indivíduo só faz 3 refeições ao dia, DEVEMOS redistribuir essas quantidades para que ele passe a comer 6 vezes ao dia. 7) Volume Pacientes que possuem comprometimento cardio-respiratório possuem dificuldades de mastigar/deglutir → não aguentam grandes volumes durante as refeições, dessa forma, devemos fazer um fracionamento maior. 8) Ingestão hídrica 9) Cuidados especiais: alimentos restritos, proibidos e horários Particularidades como restrição alimentar por religião ou gosto devem entrar na conduta. Além disso, é necessário fazer uma lista de orientações para alimentos que são permitidos e que se devem evitar para cada doença. Ex: indivíduos com gastrite, evitar alimentos ácidos. • INDICAÇÕES DAS MODIFICAÇÕES NA TEXTURA ▪ Reinicio da nutrição oral, após jejum prolongado (jejum para exames, cirurgias de grande porte, por exemplo) ▪ Após processos cirúrgicos 19 ▪ Anorexia nervosa ▪ Preparação para exames diagnósticos e/ou cirurgia: Por exemplo, exames no cólon requer que o inestino esteja limpo, sem resíduos, ou seja, sem fibras e lácteos, dessa forma, usa-se uma dieta mais líquida. ▪ Progressão da dieta enteral ou parenteral ▪ Doenças gastrointestinais moderadas (úlceras, gastrites...) • MODIFICAÇÕES FÍSICAS DA DIETA DIETA NORMAL Indicações: funcionários do hospital; pacientes sem alterações físicas, sem restrição Características: completa e equilibrada; fracionamento, volume e consistência normais; fibras e tecido conectivo inteiro; permite todos os alimentos e preparações. Nessa dieta, o VET é atingido facilmente. Quanto mais líquida a dieta, menor a densidade calórica (kcal/g) DIETA BRANDA Indicações: última fase na transição para a dieta normal; problemas de ingestão e digestão ou debilitados com anorexia (câncer, febre) e geriátricos; convalescência e rotina de pós-operatório; -doenças gastrointestinais. Características: valor energético adequado, completa e equilibrada; fracionamento normal e temperatura adequada; fibras e tecido conectivo modificados pela cocção; fácil digestibilidade e pobre em irritantes da mucosa (pimenta, alho, sazon, mostarda, vinagre...); condimentação leve; evita-se frituras, condimentos picantes e ricos em lipídios. ALIMENTOS PERMITIDOS NA DIETA BRANDA GRUPO ALIMENTOS Bebidas Sucos naturais, refresco, alguns chás, água. Sobremesas Sobremesas caseiras leves, açúcar até 10% Condimentos Sal, noz moscada, ervas aromáticas, cebola. Lácteos Queijos frescos ou cremosos, requeijão e coalhada, batidos lácteos e iogurtes. Proteicos Ovo (omelete, mexido, cozido) Pescados magros (merluza, linguado) Carnes magras (frango, peru, presunto) Cereais e farinhas Farinhas até 15% (forma de biscoitos e bolos) Macarrão, arroz e batata bem cozidos Legumes (suflês, purês) Leguminosas Bem cozidas ou caldos Hortaliças Cozidas (purê ou cremes) Evitar flatulentos Frutas Natural, bem macias e sem casca, cozida, suco. Gorduras Óleos vegetais, creme de leite Manteiga ou margarina 20 CARDÁPIOS DAS DIETAS BRANDAS REFEIÇÕES CARACTERÍSTICAS Desjejum Infusões suaves, lácteos, açúcar, bolos, biscoitos macios, torradas ou pão de forma, fruta. Lanche Sucos naturais, fruta, compotas ou lácteos. Almoço e jantar Sopa de macarrão ou arroz, purê de vegetais, arroz ou macarrão ou vegetal C cozidos. Carne magra, pescado branco, ovo, lácteos. Fruta em suco, batida, cozida ou crua ou lácteos. Ceia Infusão suave com açúcar. Torradas, pão de forma ou biscoito. DIETA PASTOSA Indicações: pacientes com problemas de ingestão (anorexia, disfagia) e digestão, ou adêntulos; convalescência e rotina de pós-operatório; pós-operatório máxilo-facial; preparo para determinados exames de rotina; danos neurológicos, distúrbios neuromotores, retardo mental severo, doenças esofágicas. Características: completa e equilibrada; fracionamento aumentado; consistência semi-sólida; temperatura adequada às preparações; fibras e tecido conectivo modificados pela cocção; fácil digestibilidade e pobre em irritantes da mucosa; pode usar suplementos industrializados. ALIMENTOS PERMITOS NA DIETA PASTOSA GRUPO ALIMENTOS Bebidas Sucos naturais, refresco, alguns chás, água. Sobremesas Sobremesas caseiras leves, açúcar até 10% Condimentos Sal, noz moscada, ervas aromáticas, cebola. Lácteos Queijos frescos ou cremosos, requeijão e coalhada, batidos lácteos e iogurtes. Proteicos Ovo (quente, pochê, cozido, gemada) Pescados magros (merluza, linguado) Carnes magras (frango, peru, presunto) Cereais e farinhas Farinhas até 15% (forma de biscoitos e bolos) Macarrão, arroz e batata bem cozidos Legumes (suflês, purês, sopa) Leguminosas Bem cozidas, caldos, liquidificado Hortaliças Cozidas (purê ou cremes) Evitar flatulentos Frutas Natural, bem macias e sem casca, cozida, suco. Gorduras Óleos vegetais, creme de leite Manteiga ou margarina CARDÁPIOS DAS DIETAS PASTOSAS REFEIÇÕES CARACTERÍSTICAS Desjejum Infusões suaves, lácteos, açúcar, bolos, biscoitos macios, torradas ou pão de forma, fruta em purê. Lanche Sucos naturais, fruta, compotas ou lácteos. 21 Almoço e jantar Sopa de macarrão ou arroz, purê de vegetais, arroz ou macarrão ou vegetal C bem cozidos. Carne desfiada ou moída, ovo. Fruta em suco, batida, cozida ou crua ou lácteos. Ceia Infusão suave com açúcar. Torradas, pão de forma ou biscoito macio. DIETA SEMI LÍQUIDA Indicações: pacientes com problemas na ingestão (disfagia, adêntulos) e digestão; enfermidades febris, esofagite de refluxo, insuficiência respiratória; pré e pós-operatório, pré e pós preparo para exames. Características: equilibrada, porém hipocalórica; fracionamento: ~7 refeições / dia e volume reduzido; temperatura adequada às preparações; fibras e tecido conectivo modificados pela cocção; podem ser peneiradas ALIMENTOS PERMITIDOS NA DIETA SEMI LÍQUIDA GRUPO ALIMENTOS Bebidas Sucos naturais, refresco, alguns chás, água. Vários Sorvetes e gelatinas, mel, açúcar a 10% Condimentos Sal, ervas aromáticas, cebola. Lácteos Leite puro ou enriquecido, coalhada, iorgutes. Proteicos Ovo (sopas, purês, sobremesas) Pescados magros (merluza, linguado) e aves bem macios Carnes magras (frango, peru, presunto) Cereais e farinhas Farinhas até 5% c/ leite (sobremesa ou creme) Torradas e biscoitos macios, pão careca Arroz e batata (purê, canja, sopa ou creme) Leguminosas Bem cozidas, caldos, liquidificado Hortaliças Cozidas e trituradas (purê ou cremes) (<lipídios) Evitar flatulentosFrutas Natural, bem macias e sem casca, cozida, suco. Gorduras Óleos vegetais, creme de leite Manteiga ou margarina CARDÁPIOS DAS DIETAS SEMI LÍQUIDAS REFEIÇÕES CARACTERÍSTICAS Desjejum Infusões suaves, lácteos, açúcar, bolos, mingau, biscoitos macios Lanche Sucos naturais, fruta, compotas ou lácteos. Almoço e jantar Caldo de carne, vegetais ou pescado, sopa de macarrão ou arroz, purê de vegetais. Sucos, gelatina de fruta ou sorvete, lácteos, fruta cozida ou em purê Ceia Infusão suave com açúcar. Mingau. DIETA LÍQUIDA COMPLETA 22 Indicações: pacientes com problemas de ingestão e digestão; enfermidades febris, após cirurgia da cabeça e pescoço, esofagite de refluxo, insuficiência respiratória, doenças gastrointestinais; pré e pós-operatório e pré e pós preparo de exames. Características: nutricionalmente inadequada e restringe alimentos sólidos; fracionamento >6 refeições/dia; temperatura adequada à preparação; fácil digestibilidade sem resíduo; fibras e tecidos conjutivos modificados pela cocção; devem ser peneiradas em peneiras de malha fina. ALIMENTOS PERMITIDOS NA DIETA LÍQUIDA COMPLETA GRUPO ALIMENTOS Bebidas Infusões suaves, sucos de frutas adoçados, chás Vários Sorvetes, gelatina, gelo, mel, açúcar 5% (maltodextrina, karo, nidex). Condimentos Sal, ervas aromáticas, cebola. Lácteos Leite, iogurte, etc... (verificar a tolerância). Proteicos Ovo quente, em sopas, gemada Peixe e aves em sopas liquidificadas, caldo Cereais e farinhas Farinha até 3% ou 1,5% (aveia) Caldos. Leguminosas Bem cozidas, caldos, liquidificado Hortaliças Cozidas e trituradas (purê ou cremes) (<lipídios) Evitar flatulentos Frutas Liquidificadas, sucos coados, refresco. Gorduras Óleos vegetais, creme de leite Manteiga ou margarina CARDÁPIOS DAS DIETAS LÍQUIDAS COMPLETAS REFEIÇÕES CARACTERÍSTICAS Desjejum Infusões, sucos, leite quente e açúcar, mingau Lanche Sucos, gelatina, leite batido com frutas Almoço e jantar Caldo de carne ou pescado ou hortaliças, sopa de macarrão ou arroz, purê de vegetais (+ rala). Sucos, gelatina de fruta ou sorvete, lácteos, fruta cozida ou em purê. Ceia Infusão suave com açúcar. Mingau. DIETA LÍQUIDA RESTRITA Indicações: pré e pós-operatório (é a primeira no pós-operatório de grandes cirurgias), pré e pós preparo de exames; após período de alimentação por via endovenosa; cirurgia de cabeça e pescoço; diarréia aguda. Características: nutricionalmente inadequada e restringe alimentos sólidos; fracionamento > 6 refeições / dia e não usar por mais de 24h; volume inicial de 50 a 100mL e temperatura adequada; fornece líquidos e eletrólitos via oral; não exige trabalho digestivo e verifica a tolerância do TGI; as fibras são proibidas; devem ser peneiradas em peneira de malha fina. ALIMENTOS PERMITIDOS NA DIETA LÍQUIDA RESTRITA 23 GRUPO ALIMENTOS Bebidas Infusões suaves diluídos a 1%, água mineral. Vários Gelatina líquida, maltodextrina (dextrosol, nidex) 5% Hortaliças Coado, apenas batata, chuchu e cenoura Frutas Refresco de laranja e maça, diluídos ½ e coado. CARACTERÍSTICAS DOS ALIMENTOS PARA DIETAS PASTOSAS/TRITURADAS ▪ Pescados - pouca espinha, pouco odor e sabor (merluza e linguado), - cozimento prévio, podendo agregar leite. ▪ Carnes - menos fibrosas (frango), cozimento e corte prévio. ▪ Ovos - misturá-los com verduras, batata, arroz, farinhas, etc..., esquentando-o previamente (pasteurizado). ▪ Verduras e hortaliças - Triturado, preparo simples, enriquecer purês c/ a água. ▪ Cereais - farinha misturada ao leite, ovo, etc..., - arroz, pode estar misturado a verduras ou protéicos, ▪ Frutas - sucos ou liquidificadas, frescas ou cozidas (evitar grumos), Obs: o suco de limão pode evitar a oxidação dos purês. Cuidados especiais: ▪ Preferir alimentos/pratos com textura habitual adequada; ▪ Padronizar as receitas ▪ Utilizar líquidos nutritivos (caldo de carne, verdura, leite); ▪ Preparar, de preferência, no momento da refeição. Caso seja guardado, respeitar o tempo < 24h a - 4 o C ou > tempo a - 18o C, ▪ aquecer a To 65o C e não requentar; ▪ Evitar grumos, ossos, espinhas ou filamentos • MODIFICAÇÕES QUÍMICAS DA DIETA ou no valor energético ou na proporção de macronutrientes ou em algum nutriente (dieta hipossódica, rica em fibras ou em algum mineral ou vitamina) Exclusão de componentes específicos (dieta isenta de glúten, isenta de lactose) ou na quantidade/qualidade de fibras (dietas laxativas ou obstipantes) na quantidade de resíduos. 24 DIETA DE PROTEÇÃO GÁSTRICA Indicações: Pacientes com gastrite / úlcera; Pacientes em uso de medicamentos que irritam a mucosa gástrica. Características: Restrita em alimentos ácidos, infusões concentradas; restrita em gorduras. REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA LÍQUIDA DESJEJUM Infusão suave com açúcar LANCHE Caldo: hortaliça, pescado ou carne desengordurada ALMOÇO E JANTAR Caldo: hortaliça, pescado ou carne desengordurada Suco não ácido, gelatina ou sorvete de frutas CEIA Infusão suave com açúcar REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA SEMILÍQUIDA DESJEJUM Infusão suave, iogurte, açúcar, biscoito ou torradas LANCHE Suco não ácidos, gelatina ou iogurte ALMOÇO E JANTAR Caldo: hortaliça, pescado ou carne; sopas de macarrão ou arroz; purês de vegetais ou arroz (sem gordura) Suco não ácido, gelatina, sorvete de frutas, fruta cozida ou em purê ou iogurte CEIA Infusão suave com açúcar REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA BRANDA DESJEJUM Infusão, lácteos, açúcar, bolo simples ou torradas LANCHE Suco não ácidos, compota ou lácteo ALMOÇO E JANTAR Sopas de macarrão ou arroz; purês de vegetais ou arroz; macarrão; vegetal C cozido (sem gordura) Carne magra, pescado branco, ovo ou lácteo Fruta como suco não ácido, batida, cozida, madura ou iogurte CEIA Infusão suave com açúcar DIETAS SEM RESÍDUO, LACTOSE E LIPÍDIOS Indicações: Pacientes com diarréia, intolerância à lactose 25 Características: Restrita em resíduos (fibras, lácteos); restrita em lactose (lacteos); restrita em gorduras; adicionada de alimentos adstringentes. REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA LÍQUIDA DESJEJUM Infusão suave com limão e açúcar LANCHE Suco de fruta adstringente ALMOÇO E JANTAR Água de arroz ou cenoura Suco de fruta adstringente CEIA Infusão suave com limão e açúcar REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA SEMILÍQUIDA DESJEJUM Infusão c/ limão e açúcar, torradas ou biscoitos LANCHE Suco de fruta adstringente ALMOÇO E JANTAR Água ou purê de cenoura ou arroz; sopa de macarrão (s/ gordura) Fruta adstringente em suco ou cozida e triturada CEIA Infusão suave com limão e açúcar REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA BRANDA SEM LÁCTEOS DESJEJUM Infusão suave com limão ou suco adstringente Torradas, biscoitos ou bolo simples LANCHE Batido de fruta adstringente ALMOÇO E JANTAR Purê de hortaliças, arroz, sopa de macarrão, vegetal C cozido Carne magra picada, pescado branco ou ovo Fruta adstringente (suco, batida, cozida, madura) Torradas ou pão careca CEIA Infusão suave com limão e açúcar REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA BRANDA COM LÁCTEOS DESJEJUM Idem + iogurte desnatado LANCHE Batido de fruta adstringente ou iogurte desnatado ALMOÇO E JANTAR Idem. Sobremesa: também pode inserir lácteo desnatado 26 DIETAS PARA DM OU HIPERGLICEMIA Indicações: Pacientes com diabetes ou intolerância à glicose Características: Restrita em açúcares simples REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA LÍQUIDA DESJEJUM Infusão suave com leite e suco de fruta sem açúcar LANCHE Iogurte natural batido ALMOÇO E JANTAR Caldo de verdura, pescado ou carne com pouca gordura Suco, gelatina ou sorvete sem açúcar CEIA Infusão suave sem açúcar REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA SEMILÍQUIDA DESJEJUM Infusão suave, lácteo, biscoito maria ou torradas LANCHE Suco não ácidos, gelatina ou iogurte sem açúcar ALMOÇO E JANTAR Caldo dehortaliças, pescado ou carne (pouca gordura); sopa de macarrão; arroz; purês de hortaliças. Suco, gelatina, sorvete de frutas, fruta cozida ou em purê ou lácteo sem açúcar CEIA Infusão suave sem açúcar REFEIÇÕES CARACTERÍSTICA BRANDA DESJEJUM Infusão suave, lácteos, bolo simples ou torradas LANCHE Suco de frutas, compota ou batida com lácteos Biscoito maria ou torradas ALMOÇO E JANTAR Sopa de macarrão; arroz; purês de hortaliças; vegetal C cozido Carne magra picada, pescado branco, ovo ou lácteo Fruta como suco, batida, cozida, madura ou lácteo CEIA Infusão suave sem açúcar • PROTOCOLO PARA PREPARO PRÉ CIRURGICO Cirurgia menor ▪ Dia anterior - ceia com dieta leve e pouca fibra ▪ Dia da cirurgia - jejum mínimo de 12h. 27 Cirurgia maior ▪ Dia anterior - dieta branda pobre em resíduos e ceia líquida pobre em resíduos ▪ Dia da cirurgia - jejum mínimo de 12h. Cirurgia no cólon ▪ Dois dias antes - dieta branda pobre em resíduos ▪ Dia anterior - desjejum e almoço líquidos, lanche e jantar líquida, ambas pobres em resíduos ▪ Dia da cirurgia - jejum mínimo de 12h. Pós-operatórios com quadros diarréicos: ▪ Reidratação oral (24 a 48h) ▪ Dieta líquida sem resíduos, lactose e pobre em lipídios ▪ Dieta semi-líquida sem resíduos, lactose e pobre lipídios ▪ Dieta branda muito baixa em fibras e lipídios, sem lactose ▪ Branda muito baixa em fibras e lipídios, com lácteos 28 TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL Enteral = O alimento é administrado dentro do trato gastrointestinal, seja por via oral, via sonda ou osteomia. Parenteral = Administração da dieta diretamente nos vasos sanguíneos. TERAPIA NUTRICIONAL→ Conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção e/ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio da nutrição oral, enteral e/ou parenteral. Para melhores resultados deve ser iniciada precocemente (até 72h após a internação e/ou estabilização hemodinâmica) Alimentação por via nutricional enteral, que utiliza fonte de nutrientes de forma isolada ou combinada*, de composição definida ou estimada, especialmente formulado ou elaborado para o uso por sondas ou via oral. Industrializado ou não, utilizado para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou hospitalar, visando a síntese e /ou manutenção dos tecidos, órgãos e sistemas. *Há a possibilidade de ter um módulo de proteínas ou completo (proteínas, carboidratos, lipídios emicronutrientes) É DA RESPONSABILIDADE DO NUTRICIONISTA, avaliar o estado nutricional dos pacientes, suas necessidades e requerimentos, bem como realizar todas a operações inerentes à prescrição dietética, composição e preparação da Nutrição Enteral, atendendo às recomendações das Boas Práticas de Preparação da Nutrição Enteral. ESQUEMA DE DECISÃO EM NUTRIÇÃO ENTERAL Quando o paciente está com risco de aspiração, devemos pensar no posicionamento da sonda naso. A MAIS FISIOLÓGICA* é a NASOGÁSTRICA, mas em casos de riscos de aspiração, a NASOENTÉRICA é melhor. *Podemos utilizar alimentos mais completos. 29 INDICAÇÕES PARA NUTRIÇÃO ENTERAL ▪ Lesões do SNC (coma), anorexia nervosa, AVE, doença de Parkinson, depressão grave; ▪ Neoplasias, quimioterapia e radioterapia em baixas dosagens; ▪ Queimaduras, infecções graves, traumas, cirurgias; ▪ Ingestão oral inadequada (< 60% das necessidades) / 7-10 dias; ▪ Desnutrição moderada com ingestão oral inadequada; ▪ Pós-operatórios (cirurgias de grande porte); ▪ Disfagia grave (para consistência líquida); ▪ Estenoses esofagianas, neoplasias orofaríngeas, esofágicas e gástricas; ▪ Fístulas digestivas de baixo débito; ▪ Síndrome do intestino curto (< 100cm restante de jejuno ou < 150 cm íleo); CONTRA-INDICAÇÕES PARA NUTRIÇÃO ENTERAL: ▪ Obstruções intestinais completas; ▪ Íleo paralítico; ▪ Fístulas digestivas de alto débito; ▪ Diarréia severa resistente à terapia convencional; - Pancreatite aguda grave; ▪ Choque. PARÂMETROS CONSIDERADOS PARA A ADMINISTRAÇÃO DE NUTRIÇÃO ENTERAL 1. Escolha da via e do local de infusão da dieta: via = onde a sonda será colocada / infusão = aonde a dieta irá cair. Ex: Naso/Gastrica. 2. Tamanhos das sondas materiais utilizadas na confecção das sondas 3. Técnicas de administração: a administração pode ser continua ou intermitente. 4. Tipos de dietas 5. Densidade calórica: se o paciente precisa ganhar peso, utiliza-se uma dieta mais densa; 6. Osmolaridade: importante para não obstruir a sonda ou causar diarréia 7. Modo de preparo, ingredientes, complexidade dos nutrientes 8. Particularidades ou dietas especiais. 30 VIAS DE ACESSO DA SONDA ENTERAL VIA DE ACESSO VANTAGENS DESVANTAGENS GÁSTRICA (sondas naso ou orogástricas) Maior tolerância para sobrecargas osmóticas* e variedades de fórmulas*, volume, facilidade de posicionamento; local mais fisiológico e de mais fácil acesso; tolerância a qualquer tipo de dieta; tolerância à administração em bolos; Progressão mais rápida do programa Maior risco de aspiração pulmonar em pacientes com dificuldade neuro motora de deglutição; risco de saída acidental por tosse, soluço ou vômitos. ENTÉRICA (sondas nasoentéricas – duodenais ou jejunais) pequeno calibre Menor risco de refluxo e aspiração; Maior dificuldade de saída acidental, por tosse, soluços ou vômitos; indicada nos casos de refluxo grave, retardo no EG, gastroparesias; local de escolha em casos de gastroparesia, estenose pilórica e intervenção cirúrgica gástrica. Requer dietas normo a hiposmolares; menos fisiológico; não tolera grandes volumes (bolos); maior dificuldade de posicionamento (fazer a verificação do posicionamento por raio X); local de mais difícil acesso; progressão mais lenta. OSTOMIAS (gastrostomia enterostomia (jejunostomia)) Indicada para suporte nutricional prolongado; o acesso pode ser feito pelo método endoscópico. O método endoscópico não pode ser utilizado nos casos de ascite maciça, hepatomegalia, úlceras gástricas, diálise peritoneal contínua, peritonite. 31 • Sobrecarga osmótica: bom para pacientes que precisam de dieta com alto carboidrato ou proteína → que alteram a osmolaridade • Variedade de fórmulas: hidrolisado ou não hidrolisado → como o TGI está em funcionamento, não haverá problema na digestão de macronutrientes • Volume → quando a via é intestino, a dieta deve ser gotejada, já no estomago pode ser feita a administração com seringa/bolus. • Quando o paciente tem alguma doença gástrica (tumor gástrico, estenose) não adianta colocar a dieta no estomago porque a saída dela vai está dificultada. As ostomias são menos incomodas e o calibre é mais grosso, permitindo dietas artesanais. TÉCNICAS DE ADMINISTRAÇÃO DA DIETA ENTERAL INTERMITENTE: Pacientes com esvaziamento gástrico (EG) normal, NE domiciliar. ✓ Bolus: injeção com seringa, 100- 350ml de dieta no estômago a cada 3-4h. Administração durante 5- 20 min. Usar seringa de 60mL. Irrigar sonda com 20-30 mL água potável. ✓ Gravitacional: 50- 500 ml administrado por gotejamento, com intervalo de 4-8h (20-40 min de infusão), precedida e seguida por irrigação da sonda com 20-30 mL de água potável. Pode ser utilizado bomba infusora. Na gravitacional consegue-se utilizar um volume maior, bom para pacientes com um VET alto (como os casos de queimaduras) CONTÍNUA: Desnutridos graves, retardo no EG. ✓ Bomba infusora: 25-150ml/h em um período de 12-24h, interrompida de 6-8hpara irrigação da sonda com 20- 30 mL de água potável. TÉCNICA VANTAGENS DESVANTAGENS INTERMITENTE Permite deambulação; Indicada para tratamento domiciliar; Dispensa bomba infusora > Risco de refluxo gastroesofágico e aspiração pulmonar CONTÍNUA >tolerância às dietashiperosmolares; Permite progressão mais rápida; Indicada em casos de refluxo gastroesofágico; Permite nutrição noturna Dificulta deambulação; Exige bomba infusora 32 CÁLCULO DO GOTEJAMENTO ▪ Valor energético total da dieta: dependendo do estado geral (após exame laboratorial, atropométrico e clínico, já sabemos se o paciente irá ingerir via oral, enteral, parenteral) ▪ Volume a ser administrado: O volume dependerá da dieta que for escolhida (densidade calórica) EXEMPLO: Para cada 100mL, se tem 1.5 → 150 kcal/100mL Para cada 100ml, se tem 2.0 → 200 kcal/100mL Ambas hipercalóricas, utilizadas em casos desnutrição e pacientes com retenção hídrica. ▪ Densidade calórica DC (Kcal / ml) = 𝐾𝑐𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑢𝑙𝑎çã𝑜 CATEGORIZAÇÃO DAS FÓRMULAS ENTERAIS SEGUNDO A DC CATEGORIA DA DC VALORES DE DC (Kcal/mL) CATEGORIA DA FÓRMULA Muito baixa <0,6 Acentuadamente hipocalórica Baixa 0,6-0,8 Hipocalórica Padrão 0,9-1,2 Normocalórica Alta 1,3-1,5 Hipercalórica Muito Alta >1,5 Acentuadamente hipercalórica ▪ Período para administração da dieta. Cálculo do gotejamento – administração intermitente (exemplo) Esquema alimentar: 4 a 6 tomadas/ dia durante 20 a 40 minutos. 1. VET: 2000 Kcal 2. Densidade calórica da dieta = 1,5 → 2000 𝑘𝑐𝑎𝑙 1,5 = 1334𝑚𝐿 𝑑𝑎 𝑑𝑖𝑒𝑡𝑎 3. Volume a ser administrado = 1334𝑚𝐿 6 𝑟𝑒𝑓𝑒𝑖çõ𝑒𝑠 = 222𝑚𝐿 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑑𝑎 𝑡𝑜𝑚𝑎𝑑𝑎 4. Período de administração: 7:00h-7:40h (40min) = 222 40 = 5,5 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠/𝑚𝑖𝑛 FORMULAÇÕES ENTERAIS - CLASSIFICAÇÃO 1) QUANTO A DENSIDADE CALÓRICA ✓ Normocalórica ✓ Hipocalórica ✓ Hipercalórica 2) QUANTO A OSMOLARIDADE/OSMOLALIDADE ✓ Isotônicas = 300 – 400 mOsm/L ✓ Hipotônica =< 300 mOsm/L 33 ✓ Hipertônica = > 400 mOsm/L • A dieta com hiperosmolaridade tem uma maior capacidade de causar desconforto gastrointestinal • Quanto mais hidrolisada a dieta, maior a osmolaridade, maior o risco. • A osmolaridade do sangue é de 300 a 350, se colocamos no TGI uma dieta de 500 de osmolaridade, o sangue será menos concentrado que a dieta → o risco é do líquido passar do meio menos concentrado (sangue) para o mais concentrado (TGI) para dissolver esse soluto. Então, a dieta que oferece menos risco é a isotônica. 3) QUANTO AO TIPO DE DIETA ADEQUAÇÃO E EVOLUÇÃO DO GASTO ENERGÉTICO TOTAL Pacientes desnutridos graves ou em jejum prolongado = recomenda-se iniciar com 1/5 do GET no primeiro dia. Pacientes eutróficos ou moderadamente desnutridos = 1/3 do GET no primeiro dia. ESTIMATIVA RÁPIDA DA OFERTA CALÓRICA POR KG DE PESO CORPORAL SITUAÇÃO/CONDIÇÃO RELAÇÃO DE OFERTA Estável 20 – 22 Kcal/Kg Perda de peso 20 – 25 Kcal/Kg Manutenção de peso 25 – 30 Kcal/Kg Ganho de peso 30 – 35 Kcal/Kg Cirurgia eletiva 32 Kcal/Kg Politraumatismo 35 – 40 Kcal/Kg Sepse 25 – 30 Kcal/Kg Fonte: Patiño 2000. NECESSIDADES DIÁRIAS DE PROTEÍNAS SEGUNDO A CONDIÇÃO CLÍNICA CONDIÇÃO CLÍNICA OFERTA DE PROTEÍNA Sem estresse metabólico 0,8g/Kg/dia Estresse metabólico leve (hospitalização eletiva) 1,0 – 1,2g/Kg/dia Estresse metabólico moderado (pós-operatório complicado, infecção, trauma) 1,2 – 1,5g/Kg/dia Estresse metabólico intenso (sepse, pancreatite, trauma grave) 1,5 – 2,0g/Kg/dia Fonte: National Advisory Group on Standards and Practice Guidelines for Parenteral Nutrition 1998. 4) QUANTO A COMPLEXIDADE DOS NUTRIENTES POLIMÉRICA (nutrientes intactos, com e sem lactose, baixa osmolaridade, menor custo e manuseio, densidade calórica de 1 a 2 kcal/mL). ▪ leite integral, desnatado e proteínas de soro de leite (caseinato de cálcio ou sódio), soja ou IPS, soro de leite, clara de ovo, lactoalbumina, proteínas isoladas de caseína. 34 ▪ Polímeros de glicose (maltodextrina, xarope de milho) a dissacarídeos (sacarose e lactose) ou monossacarídeos. Lipídios (óleo vegetal, gordura de leite, triglicerídeos de cadeia média - TCM) EXEMPLO: Descrição: Dieta enteral nutricionalmente completa, normocalórica e normoproteica, enriquecida com exclusivo mix de carotenóides e de baixa osmolaridade. Hipossódica, isenta de sacarose, lactose e glúten. Indicação: Pacientes com necessidades calóricas normais sem restrição de volume. Realimentação pós jejum prolongado. Transição de terapia parenteral/dieta oligomérica para terapia enteral polimérica. Pacientes com sensibilidade a dietas hiperosmolares, restrição de sódio e pacientes idosos. OLIGOMÉRICA (> osmolaridade e absorção intestinal) ▪ Peptídeos de cadeia curta, enriquecidos com aa livres ▪ Carboidratos como mono e dissacarídeos. ▪ Lipídios (triglicerídeos de cadeia média - TCM), vitaminas e minerais Na oligomérica, as vezes utilizam-se um mix de AA livres e peptídeos de cadeia curta, pois os peptídeos ajudam à diminuir a osmolaridade. ELEMENTAR (densidade energética de 1 a 1,5 kcal/mL, hiperosmolar, composição semelhante à parenteral, isenta de resíduos, fibras e lactose) ▪ Aminoácidos livres, glicose, TCM e ácidos graxos MODULARES (predominância de um dos nutrientes essenciais) Ex: Whey protein é uma dieta modular. Vantagens: ▪ < Viscosidade e produção de resíduos ▪ Fácil digestibilidade ▪ Alto valor nutritivo ▪ Exige pouco manuseio e são de baixo custo, comparadas com as completas. Desvantagens: ▪ Não devem ser utilizadas em todos pacientes ▪ Administração – infusão contínua, gota a gota ou intermitente. 35 5) QUANTO AO MODO DE PREPARO ▪ Industrializadas (em pó para reconstituição ou líquidas) ▪ Artesanais (a base de alimentos “in natura”, com ou sem adição de produtos industrializados). 6) QUANTO AOS INGREDIENTES ▪ Completa (macro e micronutrientes) ▪ Modular (possui os nutrientes em separado) DIETAS ESPECIAIS • DOENÇA RENAL AGUDA E CRÔNICA 14% de suas calorias são de proteínas de alto valor biológico (aa essenciais) para minimizar a formação de uréia. O perfil de vitaminas e minerais auxilia na reposição de perdas durante a diálise. Possui alta densidade calórica, Provendo as necessidades energéticas com restrição de volume. • PACIENTES CRÍTICOS, PÓS-OPERATÓRIO Nutrição enteral ou oral, eficaz contra infecções e complicações no pósoperatório por conter arginina, nucleotídeos e ácidos graxos polinsaturados da série n-3. • INSULFICIÊNCIA HEPÁTICA Rica em aa de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina) e pobre em aminoácidos aromáticos (fenilalanina, tirosina e triptofano). • INSULFICIÊNCIA PULMONAR Pobre em carboidratos. • NUTRIENTES ESPECIAIS Vitaminas A, C e E, zinco e potássio: Insuficiência no processo cicatricial. Vitaminas A, C e E, zinco, ácidos graxos série 3, arginina: Insuficiência na resposta imunológica. Nutrientes condicionalmente essenciais e oligoelementos: Taurina (presente em alimentos de origem animal) ▪ AA reduzido no plasma e nos leucócitos durante estresse e após trauma e queimaduras. ▪ atua na agregação de sais biliares ▪ participa do metabolismo glicídico e do cálcio. ▪ antioxidante: estabiliza as membranas celulares. ▪ 36 Carnitina ▪ Transporte de TCL para oxidação intra-mitocondrial Selênio (frutos do mar, carne bovina, aves, grãos integrais) ▪ Suplementação reduz infecções, aumenta produção anticorpos, potencializada pela vitamina E. ▪ Atividade fagocitária Recomendação: 100 a 200 mg/dia. # Cromo (brócolis, batata, carne vermelha, banana, maçã) ▪ Reduz o colesterol sérico ▪ Potencializa a ação da insulina Recomendação: 200 a 400 mg/dia. Molibidênio (leite, feijão, cereais e pães) ▪ Componente de sistemas enzimáticos (necessário na oxidação do enxofre). ▪ Deficiência leva a taquicardia e pode ocorrer em pacientes desnutridos com doença de Crohn em NPT prolongada. Nucleotídeos ▪ Síntese principalmente no fígado (dependente de energia). ▪ A produção endógena é insuficiente no hipermetabolismo. ▪ Síntese de DNA, RNA, ATPe AMPc. ▪ Importante na manutenção da integridade intestinal e na resposta imunológica. L-arginina (legumes, produtos de origem animal, nozes) ▪ Sua síntese é insuficiente no estresse. ▪ Possui elevado conteúdo de N, melhora balanço N. ▪ Incrementa a resposta imune (células T) (grandes cirurgias e traumas) – doses de 17 a 25g/dia. ▪ Melhora a cicatrização. ▪ Dose máxima de 30g/dia – para evitar distensão abdominal e diarreia L-Glutamina (carnes, ovos, leite e derivados, soja) O paciente desnutrido pode deixar sequelas, como a diminuição da área de absorção. A L glutamina favorece a regeneração tecidual. ▪ Aminoácido mais abundante no homem. ▪ Essencial durante estresse, minimiza perda muscular. ▪ Combustível das células de rápida proliferação do intestino, minimizando atrofia, e do sistema imunológico. 37 ▪ Participa da síntese de proteínas viscerais. ▪ Precursor glutationa peroxidase. ▪ Diminui infecções em pacientes críticos e tempo de internação. ▪ Dose na NE de 16g/L e na NPT de 40g/L Ácidos graxos polinsaturados da série 3 ▪ Precursores do EPA e DHA. ▪ Os eicosanóides modulam as funções cardiovasculares, pulmonares, imunológicas, reprodutivas e secretoras de muitas células. ▪ Influencia a composição lipídica da membrana celular, plaquetas, eritrócitos, neutrófilos, monócitos e hepatócitos. Auxiliam o sistema Imunológico. INDICAÇÃO DA NE PRECOCE COM IMUNOMODULADORES: ▪ Cirurgia gastrointestinal eletiva ▪ Desnutrição moderada ou grave, pré-cirurgia do TGI. ▪ Trauma grave (abdome, tórax, crânio, medula espinhal) ▪ Queimaduras com mais de 30% da área corporal e 3o grau Ventilação mecânica Resultados esperados do uso de imunomoduladores: ▪ < incidência de complicações infecciosas ▪ < tempo de internação ▪ < tempo de ventilação mecânica ▪ Queda da falência de múltiplos órgãos. Tempo de uso de imunomoduladores: Mínimo – 5 dias Critérios para interrupção: Queda das proteínas próinflamatórias (proteína C reativa) e aumento da préalbumina. COMPLICAÇÕES DA NUTRIÇÃO ENTERAL COMPLICAÇÕES GASTROINTESTINAIS COMPLICAÇÕES POSSÍVEIS CAUSAS DISTENSÃO ABDOMINAL Posicionamento incorreto da sonda e/ou do paciente Não verificação do resíduo gástrico Excessos de volume e velocidade de administração elevada) DIARRÉIA Infusões muito rápidas 38 Alimentação em bolus Posição da sonda concentração da fórmula Uso associado de medicamentos pela sonda Hipoalbuminemia Intolerância a lactose Contaminação bacteriana da fórmula CONSTIPAÇÃO INTESTINAL Teor de fibra reduzido Diminuição da peristalse intestinal Diminuição do aporte hídrico NÁUSEAS OU VÔMITOS - Trato digestório não funcionante Reposicionamento da sonda para nível duodenal Aumento da velocidade de infusão ESTASE GÁSTRICA Permanência de cerca de 60% do volume da última infusão COMPLICAÇÕES MECANICAS COMPLICAÇÃO POSSÍVEIS CAUSAS OBSTRUÇÃO DA SONDA (DA SONDA) Ausência de higienização Calibre da sonda SAÍDA DA SONDA Posicionamento inicial incorreto IRRITAÇÃO NASOFARÍNGEA Posicionamento incorreto Alterações nasofaríngeas ASPIRAÇÃO Posicionamento do paciente Tosse COMPLICAÇÕES METABÓLICAS COMPLICAÇÃO POSSÍVEIS CAUSAS HIPERCALEMIA Potássio sérico > 5mEq/L) – fórmula com excesso de potássio, retenção de potássio para anabolismo, causas secundárias. DEFICIÊNCIAS DE VITAMINAS E/OU MINERAIS HIPERGLICEMIA - Infusão rápida Infecção HIPOGLICEMIA 39 DESIDRATAÇÃO Uso de fórmulas hipertônicas Baixa oferta de água Diarréia 40 TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL Solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. Solução: quando se tem dois macronutrientes (AA e glicose) Emulsão: Quanto tem os três macronutrientes. INDICAÇÕES: ▪ Não é seguro utilizar o trato digestório ▪ Houve falha na utilização do trato digestório ▪ Quando a oferta é insuficiente via enteral/vo Sindrome do intestino curto (há uma perda da funcionalidade do intestino pois fica com uma porção absortiva muito pequena) Fistulas digestivas de alto débito (há uma comunicação anormal entre dois epitélios, normalmente intestino e pele, criando uma drenagem de líquido para a pele) Doenças inflamatórias intestinais, obstrução intestinal, íleo paralítico, vômitos de dificil controle, pancreatite aguda grave c/intolerência a tne, pré-operatório de pacientes denutridos, diarreia de dificil controle, lactentes prematuros e de baixo peso, inadequação ou fracasso da tne. CONTRA INDICAÇÕES ▪ Quando o trato digestório pode ser utilizado ▪ Fase de refluxo ao trauma / sepse – instabilidade hemodinamica ▪ Choque circulatório não resolvido ▪ Lactato sérico> 3 mmol/l ▪ Hipóxia (pao2 <50 mm hg) ▪ Acidose grave (ph <7,2) Pacientes com instabilidade hemodinâmica não recebe NENHUM tipo de dieta. Instabilidade = temperatura baixa, frequência cardíaca alta ou baixa, frequência respiratória baixa... QUANDO INICIAR? 1) Desnutrição / risco nutricional + impossibilidade de usar o trato digestório 2) TNE atinge menos 60% da meta estipulada por 7 dias. 41 NUTRIÇÃO PARENTERAL PERIFÉRICA (NPP) INDICAÇÕES ▪ Nutrição “Complementar” a dieta enteral ou via oral ▪ < 5 dias e/ou < 800mOsm/L Justamente por ser periférica, essas vias são muito sensíveis, então a osmolaridade deve ser menor. VANTAGENS: ▪ Acesso fácil, rápido ▪ Baixo custo ▪ Não requer cuidados especializados DESVATAGENS ▪ Não suporta osmolaridade alta ▪ Aporte nutricional parcial ▪ Requer troca frequente de acesso • NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL (NPT) INDICAÇÃO ▪ Nutrição mais prolongada > 5 dias VANTAGENS ▪ Suporta osmolaridade > 800mOsm/L ▪ Oferta aporte nutricional total DESVANTAGENS ▪ Maior custo ▪ Técnica mais complexa ▪ Risco de complicações infecciosas • TIPOS DE ACESSO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL~ Periféricas: veia cefálica e veia basílica Total: Veia jugular interna, subclávia e femoral 42 SUBSTRATOS ▪ Aminoácidos O mais usado é o AA a 10% → 10g em 100mL Glutamina: AA condicionalmente essencial → solução a 20% Devemos utilizar glutamina parenteral em pacientes graves em uso de np? O uso parenteral de glutamina está contraindicada em pacientes com: • disfunção orgânica múltipla • disfunção renal • disfunção hepática • instabilidade hemodinâmica ▪ Glicose Solução de Glicose a 10%, 25%, 50% e 70% Mínimo: 100 a 200g/dia ▪ Lipídeos Emulsões têm alta densidade calórica e são isotônicas • Emulsões de 10 e 20% • Contêm TCL, TCM, óleo de oliva e/ou peixe • Recomendação até 1g/kg/dia ▪ Eletrólitos ▪ Vitaminas ▪ Oligoelementos • MISTURAS 3X1 e 2X1 3X1 2X1 Emulsão AA + glicose +lipídeo Mais balanceada Solução AA + glicose Precisa repor AGE Risco de disglicemia 43 Solução + hiperosmolar • PRONTA PARA USO X MANIPULADAS Pronta para uso: disponível, menor erro de prescrição, composição fixa / não individualizada, custo menor; Manipuladas: tempo manipular / entrega, risco de erros na prescrição, composição individualizada, custo maior. COMPLICAÇÕES DA NP • Mecânicas: flebite, trombose • Infecciosas: translocação bacteriana, higiene inadequada • Metabólicas: Hipo e hiperglicemia, distúrbios eletrolíticos, hipertriglideridemia, doenças hepáticas, síndrome da realimentação. 44 DESNUTRIÇÃO “É um estado mórbido secundário a uma deficiência ou excesso, relativo* ou absoluto, de um ou mais nutrientes essenciais, que se manifesta clinicamente ou é detectado pormeio de testes bioquímicos, dados antropométricos, topográficos ou fisiológicos” (OMS, Jellife, 1966). Refere-se mórbido secundário pois normalmente há uma causa primária que leva a desnutrição. *Um indivíduo obeso pode estar com excesso de má nutrição, mas com deficiência de um micronutriente → a desnutrição não é completa. Exemplo: Obesidade + anemia ferropriva DESNUTRIÇÃO X MÁ NUTRIÇÃO → A má nutrição pode ser também para mais (como nos casos de obesidade) DESNUTRIÇÃO X MAGREZA → A magreza pode ser constitucional (não tem nenhuma alteração subclínica), já a desnutrição é a associação da magreza e alterações. • FATORES ETIOLÓGICOS PRIMÁRIOS ▪ Ingestão insuficiente de nutrientes ▪ Seleção inadequada dos alimentos SECUNDÁRIOS ▪ Anorexia ▪ Má absorção e digestão ▪ Maior excreção ▪ Maior gasto energético ▪ Metabolismo intermediário anormal. DESNUTRIÇÃO IATROGÊNICA é a desnutrição que ocorre dentro do ambiente hospitalar. 48,1% e 12,5% dos pacientes internados nos hospitais públicos brasileiros apresentam desnutrição e desnutrição grave, respectivamente. Fatores relacionados com a desnutrição iatrogênica: ▪ Não realização de avaliação e evolução nutricional: em questão de dieta, a evolução necessita de um acompanhamento. ▪ Rotação de profissionais: pode ocorrer de cada profissional apresentar uma conduta diferente. ▪ Não observação da ingestão alimentar: Realizar inquéritos dietéticos, analisar se o paciente está realizando as refeições. 45 ▪ Procedimento cirúrgico em pacientes desnutridos: + catabolismo / + GET ▪ Ausência de intervenção nutricional em estados hipermetabólicos; ▪ Uso prolongado de soros; ▪ Retardo na instituição da terapia nutricional adequada; ▪ Ambiente hospitalar; ▪ Novos horários de refeições; ▪ Diferentes preparações dietéticas. A maior prevalência de desnutrição está em doenças autoimunes, hematológicas, respiratórias, gastrointestinais... • PATOGENIA DAS DOENÇAS CARENCIAIS Inadequação nutricional → diminuição das reservas orgânicas → diminuição das concentrações plasmáticas e celulares → alterações das reações bioquímicas → sinais e sintomas clínicos. • FISIOPATOLOGIA E ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS ▪ Redução da hematopoiese (< ingestão de aa); Acontece principalmente quando a desnutrição é proteica ou proteica calórica, acarretando na redução de O2. Pode ser devido a uma menor ingestão de aminoácidos, pela necessidade aumentada ou porque se tem uma menor absorção (disponibilidade). ▪ Diminuição das concentrações de hemoglobina e do número de hemácias ▪ Redução do transporte de oxigênio. ALTERAÇÕES METABÓLICAS ▪ Diminuição da atividade física A fim de poupar energia. ▪ Diminuição lenta da massa magra; ▪ Produção de corpos cetônicos Catabolismo da massa magra → gliconeogênese. Na desnutrição, a massa celular ativa diminui (que inclui a massa magra) em detrimento da água extracelular que permanece*, e a gordura também (por isso a DCT diminui) *Nesse caso, não há renovação tecidual, então quando uma célula morre, há um estravazamento do líquido e a célula não é renovada. 46 ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS Redução da glicemia e concentração de aa livres ↓ [insulina]: lembrando que a insulina só se eleva com alta glicose. Acontece mais na desnutrição calórica. ↑ [glucagon]: catabolismo ↓ [triiodotironina] (T3) ↑ hormônio de crescimento, catecolaminas e glicocorticoides Glicólise, glicogenólise, lipólise, mobilização dos aminoácidos e preservação das proteínas viscerais ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES Redução progressiva do tamanho do coração, durante a evolução da desnutrição ↓ débito cardíaco: capacidade de irrigar ; ↑ frequência cardíaca; ↓ pressão arterial e hipotensão postural; ↓ fluxo sanguíneo renal e taxa de filtração glomerular; ALTERAÇÕES RESPIRATÓRIAS Atrofia do diafragma e da musculatura respiratória acessória ↓ força respiratória, capacidade vital e oxigenação: O paciente irá precisar de respiração mecânica. Paciente com desnutrição tem dificuldade de levar sangue e oxigênio para os tecidos periféricos → CIANOSES → extremidades arrocheadas. ↓ desempenho respiratório, insuficiência respiratória aguda, dificuldade de interromper a ventilação artificial e maior susceptibilidade a infecções respiratórias. ALTERAÇÕES DIGESTIVAS ↓ Secreções gástricas, pancreáticas e biliares: o estomago fica gaseificado e o paciente pode cursar com deficiência de B12 devido ao fator intrínseco ↓ Vilosidades e alterações na motilidade intestinal 47 Supercrescimento bacteriano, favorecido pela hipocloridria, hipomotilidade e deficiências imunológicas; Má absorção de lipídios e dissacarídeos; Intolerância à lactose. Vamos explicar... ▪ Disfunção da lipase lipoproteica: Como o paciente terá pouca LPL, não será feita a distribuição dos lipídeos, podendo ocorrer uma intoxicação. A menor βoxidação ocorre pelo indivíduo não ter todo o aparato para realizar essa via. Com a menor entrada de glicose (↓ carbo), o fígado íra começar a utilizar a gordura para produzir energia, mas se o indivíduo apresenta uma menor síntese de lipoproteína (que é responsável por exportar essa gordura), ele irá começar a guardar lipídeo → ESTEATOSE HEPÁTICA. ALTERAÇÕEES IMUNOLÓGICAS Atrofia do tecido linfóide; ↓ número de linfócitos circulantes; Comprometimento da resposta celular e humoral; Infecções oportunistas ALTERAÇÕES ELETROLÍTICAS ↓ potássio corporal (↓ proteína muscular e perda de potássio intracelular): O potássio está presente na massa magra, então se o paciente perde muita massa magra, também irá perder o potássio. ↓ Atividade da bomba Na/K afetada (↓ K e ↑ Na intracelular) pela ↓ [insulina] e dos substratos energéticos: dessa forma, com a diminuição de K, a tendência é reter Na e atrar H2O, por isso que edema é uma alteração eletrolítica comum. METABOLISMO GLICÍDICO - DÉFICIT CALÓRICO • Ao dosar a proteína sérica, estará normal, mas fisicamente estará caquético, porque o corpo estará mobilizando as reservas (proteicas e lipídicas) para a produção de AA essenciais para homeostase. • O indivíduo apresentará hálito cetonico 48 • A deficiência calórica se adapta melhor → o organismo consegue manter a homeostase proteica sanguínea • O AA é utilizado pelo fígado, faz gliconeogênese para fornecer glicose para o cérebro, medula hemácias e outros órgãos vitais; • O fígado também irá utilizar o glicerol e ácido graxo da lipólise até o momento que ele irá acumular o que está recebendo, devido a diminuição das lipoproteínas ao invés de mandar para os tecidos. Mobilização de substratos no jejum ou déficit calórico: METABOLISMO GLICÍDICO – DEFICT PROTEICO • É uma desnutrição mais grave e não necessariamente tem uma deficiência calórica. • No déficit proteico, simultaneamente haverá uma resistência a insulina e o indivíduo estará com um processo inflamatório exarcebado porque há um menor suprimento de AA e falta substrato para a produção de AA (anabolismo) e com isso, fica mais susceptíveis. • Com a resistência a insulina, a glicemia pós-prandial aumenta, pois a insulina não coloca a glicose para as células. • Como há a hiperglicemia, o organismo entende que precisa de mais insulina causando uma hiperinsulinemia (mais anabolismo). • O indivíduo terá a lipólise diminuída pois a insulina inibe. Mobilização de substratos durante a fase aguda: 49 • CONSEQUÊNCIAS DA DESNUTRIÇÃO ▪ Alterações no crescimento e desenvolvimento ▪ Dificuldade no aprendizado ▪ Menor resistência a doenças ▪ Cicatrização lenta ▪ Toxicidade por medicamentos ▪ Diarréia ▪ Infecções DESNUTRIÇÃO PROTEICO CALÓRICA • Com a lesão na mucosa,o poder absortivo irá diminuir e com a atividade das dissacaridases reduzidas, acontecerá um acúmulo de glicose (carboidratos), quejunta ao fato da má absorção, aumentando o poder osmótico, que faz com que ocasione a diarreia osmótica. • A DPC também causa diminuição dos reguladores da flora de microrganismos positivo, favorecendo o crescimento dos patogênicos. • A solubilidade micelar reduzida associada a queda de lipases vai acumular lipídeos nas fazes, causando a esteatorréia. • Má digestão glicídica + má digestão lipídica + deficiências da mucose = diarreia. 50 Imunológicas Hipotrofia / atrofia do baço, timo, linfonodos, medula óssea e amígdalas. ↓ % de linfócitos T e B, macrófagos, eosinófilos e mastócitos, ↓ interferon, PCR e complemento no sangue, ↓ imunidade específica (adquirida) (< IgA secretória), ▪ Tendência hemorrágica ▪ Lesões oculares ▪ Lesões exudativas espoliativas na pele ▪ Desidratação acentuada ▪ Insuficiência cardíaca congestiva: hiperhidratação, anemia, transfusões e Na ▪ Ictericia e hiperbilirrubinemia ( TGO ou AST e TGP ou ALT) ▪ Hipoglicemia (glicose < 54mg/100mL) e hipotermia acentuadas ▪ Redução das proteínas séricas totais Quando o paciente não consegue mais se adaptar, ele cursa com hipoglicemia, hipotermia, acidose metabólica, congestão pulmonar que pode chegar a óbito. Deficiência energética Deficiência proteica Perda severa de gordura e de músculo (proteína somática), hipoalbuminemia (> 2,8 g/dl), ausência de edema, emagrecimento intenso, Proteólise discreta, Imunodepressão discreta, Não concomitante com infecção, GE normal ou reduzido Depleção do compartimento protéico-visceral, grave, hipoalbuminemia (<2,8g/dl), edema, emagrecimento discreto, proteólise intensa, imunodepressão moderada a intensa, concomitante com infecção, GE aumentado. 51 • AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL – indicadores antropométricos IMC (OMS, 1998) ▪ 18,5 - 24,9 Kg/m2 Eutrofia 1 ▪ 18,4 - 17,0 Kg/m2 Magreza grau I ▪ 16,9 – 16,0 Kg/m2 Magreaza grau II ▪ <16,0 Kg/m2 Magreza grau III Perda Ponderal (Blackburn, 1997) % 𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝒑𝒆𝒔𝒐 = (𝒑𝒆𝒔𝒐 𝒖𝒔𝒖𝒂𝒍 − 𝒑𝒆𝒔𝒐 𝒂𝒕𝒖𝒂𝒍) 𝒑𝒆𝒔𝒐 𝒖𝒔𝒖𝒂𝒍 × 𝟏𝟎𝟎 TEMPO PERDA DE PESO SIGNIFICATIVA (%) PERDA GRAVE (%) 1 SEMANA 1-2 >2 1 MÊS 5 >5 3 MESES 5-7 >7 6 MESES 10 >10 Percentual de peso atual em relação ao peso usual (Blackburn, 1997) %𝒑𝒆𝒔𝒐 𝒖𝒔𝒖𝒂𝒍 = 𝒑𝒆𝒔𝒐 𝒂𝒕𝒖𝒂𝒍 𝒑𝒆𝒔𝒐 𝒖𝒔𝒖𝒂𝒍 × 𝟏𝟎𝟎 ▪ 110 – 91% = Eutrofia ▪ 90 - 85% = Desnutrição leve ▪ 84 – 75% = Desnutrição moderada ▪ < 74% = Desnutrição grave Dobra Cutânea Triciptal (DCT) Circunferência Muscular do Braço (CMB) CMB (cm) = CB (cm) – DCT (mm) x 0,314 Albumina Sérica ▪ 3,5 g/dL Normal ▪ 3,4 – 3,0 g/dL Depleção leve ▪ 2,9 – 2,5 g/dL Depleção moderada ▪ < 2,4 g/dL Depleção grave Transferrina Sérica (meia-vida 7-8 dias) ▪ 150 – 200 mg/dL Depleção leve ▪ 100 -150 mg/dL Depleção moderada 52 ▪ <100 mg/dL Depleção grave CARACTERÍSTICAS QUE INDICAM MAU PROGNÓSTICO EM PACIENTES COM DPC ✓ Sinais de colapso circulatório: mãos e pés frios, pulso radial fraco, diminuição da consciência ✓ Infecções: broncopneumonia, sarampo ✓ Petéquias ou tendência hemorrágica ✓ Desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos (hipocalemia ou acidose grave) ✓ Taquicardia persistente, com sinais de insuficiência cardíaca e respiratória ✓ Proteínas séricas reduzidas ✓ Anemia grave ✓ Icterícia clínica ou bilirrubina sérica elevada ✓ Lesões cutâneas exsudativas ou esfoliativas extensas, ou úlcera de decúbito profunda ✓ Hipoglicemia ✓ Hipotermia OBJETIVOS ▪ Corrigir desequilíbrio hidroeletrolítico ▪ Reidratação oral; ▪ Restaurar o estado nutricional gradativamente; ▪ Desnutrição proteica: Corrigir deficiência protéica, edema e fígado gorduroso; ▪ Evitar a Síndrome da realimentação • DIETOTERAPIA *Mesmo que a desnutrição seja proteica esteja grave, não se deve começar com uma dieta muito hiperproteica pois o fígado está prejudicado e não irá conseguir metabolizar com eficiência. TRATAMENTO 1) Correção das alterações eletrolíticas e da desidratação (sede, sensação de boca seca, débito urinário, PA, extremidades frias e baixo nível de consciência) 2) Reposição de fluidos = até a diurese alcançar pelo menos 500 mL/24h. 3) Monitorizar hipotermia ( 35,5C) e hipoglicemia ( 60 mg/dL). Agora NÃO é hora de introduzir uma dieta e sim proporcionar um equilíbrio. CONDUTA NUTRICIONAL 1) CÁLCULO ENERGÉTICO 53 Harris Benedict (cálculo com peso atual) (acréscimo de 500 a 1000 Kcal/dia, com aumento gradual) OU 40- 60 kcal/Kg peso/dia. Começamos a dieta com 1/3 do VET total e depois aumenta-se gradativamente. Normocalórica → Hipercalórica. 2) PROTEÍNA ▪ 1,5 a 2,5 g ptn/Kg de PA/dia - Priorizar proteínas de alto valor biológico (leite, ovo, carne). → HIPERPROTEICA ▪ DPE GRAVE: Iniciar com 0,6g/Kg de PA/dia. (começamos com pouco pensando no fígado) 3) GLICÍDIOS E LIPÍDEOS Glicídios: 70% das Kcal não-proteicas. HIPERGLICÍDICO Lipídios: 30% das Kcal não-proteicas, priorizar AGI e TCM. NORMOLIPÍDICO 4) VITAMINAS E MINERAIS Vitaminas - A, D, E, K - Complexo B - Suplementos vitamínicos podem ser necessários. Na desnutrição proteico calórica, que geralmente o paciente está ingerindo pouco glicídio e pouco lipídio, as vitaminas lipossolúveis podem ficar depletadas. Minerais - Sódio – restringir!!! (ver sintomatologia e exames laboratoriais) - potássio, fósforo, magnésio, ferro, zinco e selênio. 5) Líquidos: 1,0 a 1,5 mL/kcal Via oral ou enteral, sendo a via parenteral a última opção na DPE. Consistência adaptada a tolerância do paciente, sugere-se iniciar com consistência líquida (especialmente para crianças) ou pastosa. Temperatura mais fria. A dieta enteral é na temperatura ambiente, então, se estiver armazenado na geladeira, deve-se retirar horas antes. Fracionamento/ Volume (essencial para síndrome da retroalimentação). ORIENTAÇÕES BÁSICAS ▪ Alimentação em horários regulares. ▪ As pequenas refeições são importantes. Normalmente, não tem como mudar muito o almoço ou jantar, então agregamos caloria nas pequenas refeições. ▪ Limitar o consumo de líquidos durante as refeições (30 a 60 min antes ou depois). 54 ▪ Valorizar a ceia. ▪ No início do tratamento dietético o peso corporal pode não alterar ou reduzir devido a redução do edema com aumento da diurese. ▪ A última etapa do tratamento envolve a manutenção da reabilitação nutricional, com a continuidade de ingestão de dieta nutricionalmente completa e adequada. 55 BLOCO II 56 OBESIDADE É considerado um problema de saúde pública pois está associada a doenças crônicas que demandam um gasto maior do SUS. É UM BALANÇO ENERGÉTICO POSITIVO CRÔNICO que pode ser causado por diversos fatores como excesso de ingestão, um menor gasto metabólico levando ao acúmulo, mas esses dois fatores podem ser modulados por questões genéticas ou endócrinas. OU SEJA não é só porque o indivíduo ingere demais ou é sedentário! DEFINIÇÃO Acúmulo de tecido adiposo localizado ou generalizado, provocado por desequilíbrio nutricional associado ou não a distúrbios genéticos ou endócrino-metabólicos. BALANÇO ENERGÉTICO Ingestã energética – (perdas fecais + perdas urinárias) = energia metabolizável 1 a lei da termodinâmica – A energia não é criada nem destruída, mas sim se transforma de uma fonte para outra. NÃO EXISTE ESTRATÉGIAS QUE QUEIMAM GORDURA. Toda Kcal que o indivíduo ingere pode ser transformada em energia ou armazenada. 2 a Lei da termodinâmica – nem toda energia potencial é “captada” como ATP. → Eficiência metabólica A eficiência do peso corporal depende de dois fenômenos biológicos: 1) Controle do gasto energético 2) Mecanismo do senso da existência de estoque de energia Sinais neurais, sinais de nutrientes
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