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Naysa Gabrielly Alves de Andrade INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO E APLICAÇÕES DA FARMACOCINÉTICA - A farmacocinética pode ser definida como a medida e a interpretação formal de alterações temporais nas concentrações de um fármaco em uma ou mais regiões do organismo em relação à dose administrada, ou seja, o que o organismo faz com o fármaco Farmacodinâmica o que o fármaco faz com o organismo Farmacocinética o que o organismo faz com o fármaco - Na prática, a farmacocinética tem como foco as concentrações do fármaco no plasma sanguíneo, pois as concentrações plasmáticas apresentam relação clara com as concentrações do fármaco no líquido extracelular que envolve as células que expressam receptores e outros alvos com os quais as moléculas do fármaco interagem (estratégia de concentração-alvo) - A variação individual em resposta a uma determinada dose de um fármaco é frequentemente maior que a variabilidade da concentração plasmática àquela dose - A interpretação formal dos dados farmacocinéticos consiste em colocar em gráfico os dados de concentração X tempo em um modelo e determinar os parâmetros que descrevem o comportamento observado - Esses parâmetros podem ser usados para ajustar o esquema posológico para alcançar uma concentração plasmática-alvo estabelecida inicialmente a partir de experiências farmacológicas APLICAÇÕES DA FARMACOCINÉTICA: - É importante para o desenvolvimento de fármacos, para compreender os dados pré-clínicos farmacológicos e toxicológicos e decidir o regime de administração nos estudos clínicos de eficácia - A compreensão dos princípios gerais da farmacocinética é importante para os clínicos quando estabelecem as recomendações de dosagem no folheto informativo que acompanha os fármacos. Os clínicos também precisam compreender os princípios da farmacocinética para identificar e avaliar possíveis interações medicamentosas, para interpretar as concentrações dos fármacos de acordo com a monitoração terapêutica do fármaco e para ajustar racionalmente os regimes de administração A ELIMINAÇÃO DOS FÁRMACOS EXPRESSA ATRAVÉS DA DEPURAÇÃO - A taxa de eliminação total de um fármaco por todas as vias é o parâmetro farmacocinético fundamental que descreve a eliminação dos fármacos. É definido como o volume de plasma que contém o fármaco removido do corpo por unidade de tempo - A eliminação total de um fármaco é a soma das taxas de eliminação de cada mecanismo envolvido na eliminação de um fármaco, normalmente depuração renal e depuração metabólica + outras vias adicionais de eliminação (fezes, respiração etc.) - A depuração de um fármaco pode ser determinada para um único indivíduo pela medida da concentração plasmática do fármaco (p. ex., em mg/l) em intervalos preestabelecidos durante uma infusão intravenosa constante - No estado de equilíbrio, a taxa de entrada no organismo é igual à taxa de eliminação, assim: Ceq concentração plasmática no estado de equilíbrio CLtot está em unidades de volume/tempo - Para muitos fármacos, a depuração em um dado indivíduo é a mesma para doses diferentes, logo, o conhecimento da depuração permite calcular Naysa Gabrielly Alves de Andrade velocidade de administração necessária para atingir a concentração plasmática no estado de equilíbrio - A CLtot também pode ser estimada pela medida da concentração plasmática em intervalos estabelecidos a partir de uma única dose intravenosa em bolus de, digamos, Q mg: MODELO DE COMPARTIMENTO ÚNICO: - A quantidade do fármaco no organismo quando ele é administrado em bolus único é igual à dose administrada Q - Muitos fármacos apresentam uma cinética de primeira ordem, na qual a taxa de eliminação é diretamente proporcional à concentração do fármaco - Em uma cinética de primeira ordem, a concentração do fármaco diminui exponencialmente - Quando um modelo de compartimento único pode ser aplicado, a concentração do fármaco no plasma se aproxima exponencialmente do valor de estado de equilíbrio durante uma infusão constante - Quando a infusão é interrompida, a concentração cai de maneira exponencial em direção a zero com a mesma meia-vida: após uma meia-vida, a concentração cairá para metade da concentração inicial; após 2 meia-vida, ela cairá a ¼ da concentração inicial, após 3 meia-vida, a 1/8 e assim por diante - Quanto mais longa a meia-vida, maior a permanência do fármaco no organismo após interrupção da sua administração - Durante a administração crônica do fármaco, quanto mais longa a meia-vida, mais tempo será necessário para que seja alcançado o valor de estado de equilíbrio: uma meia-vida para alcançar 50% do valor de estado de equilíbrio, duas para alcançar 75%, três para alcançar 87,5%, e assim por diante - Se o fármaco em questão tiver meia-vida de aproximadamente 24 horas, por exemplo, serão necessários de 3 a 5 dias para se aproximar da concentração de estado de equilíbrio durante uma infusão a uma velocidade constante. Caso isso seja muito lento para uma determinada condição clínica, uma dose de ataque poderá ser utilizada para alcançar uma concentração terapêutica do fármaco mais rapidamente Naysa Gabrielly Alves de Andrade EFEITOS DE ADMINISTRAÇÕES REPETIDAS: - Injeções repetidas constituem um padrão mais complicado que a elevação exponencial suave observada durante uma infusão intravenosa, mas o princípio é o mesmo - A concentração aumentará até chegar a uma concentração de estado de equilíbrio média com evolução temporal aproximadamente exponencial, mas irá oscilar - Quanto menores e mais frequentes forem as doses, mais essa situação se aproximará da observada com uma infusão contínua, e menores serão as oscilações na concentração - O esquema posológico exato não afeta a concentração de estado de equilíbrio média, ou a velocidade na qual ela é alcançada - Na prática, um estado de equilíbrio é alcançado após três a cinco meias-vidas - A dose de ataque é eventualmente utilizada no início do tratamento com um fármaco que apresenta uma meia-vida longa em face da urgência da condição clínica, como pode ser o caso ao tratar arritmias cardíacas com fármacos como amiodarona ou digoxina ou iniciar uma anticoagulação com heparina EFEITOS DA VARIAÇÃO NA VELOCIDADE DE ABSORÇÃO: - Se o fármaco for absorvido lentamente do intestino ou do local de injeção para o plasma, o efeito é o mesmo que o observado durante uma infusão lenta a uma velocidade variável na corrente sanguínea - A velocidade de absorção é diretamente proporcional, em qualquer momento, à quantidade do fármaco que ainda não foi absorvida, que é, no melhor dos casos, uma estimativa grosseira da realidade MODELOS CINÉTICOS MAIS COMPLEXOS: MODELO DE DOIS COMPARTIMENTOS: - É uma aproximação amplamente utilizada, na qual os tecidos são agrupados como um compartimento periférico - As moléculas do fármaco podem entrar e sair do compartimento periférico apenas por meio do compartimento central, que geralmente representa o plasma - A adição de um segundo compartimento ao modelo acarreta na introdução de um segundo Naysa Gabrielly Alves de Andrade componente exponencial na evolução temporal predita da concentração plasmática, de modo que ele apresente uma fase rápida e uma lenta - Se a transferência do fármaco entre os compartimentos central e periférico for relativamente rápida em comparação com a velocidade de eliminação, então a fase rápida (fase α pode representar a redistribuição do fármaco - A concentração plasmática alcançada após o término da fase rápida, mas antes de ter ocorrido uma eliminação considerável, possibilita uma medida da combinação dos volumes de distribuição dos dois compartimentos; a meia-vida da faselenta (a fase β) fornece uma estimativa de Kel - Se um fármaco for rapidamente metabolizado ou eliminado, as fases α e β não são bem distintas, e o cálculo em separado dos valores Vd e kel para cada fase não é simples CINÉTICA DE SATURAÇÃO: - No caso de alguns fármacos o tempo de desaparecimento do fármaco do plasma não segue os padrões exponenciais ou biexponenciais, mas é inicialmente linear. Isso é frequentemente denominado de cinética de ordem zero para ser diferenciada da cinética normal de primeira ordem - Cinética de saturação é um termo mais apropriado porque expressa o mecanismo subjacente; ou seja, a saturação de um transportador ou enzima e, por isso, à medida que a concentração do substrato do fármaco aumenta a taxa de eliminação, aproxima- se de um valor constante - A cinética de saturação acarreta várias consequências importantes: A duração da ação depende mais fortemente da dose que outros fármacos que não apresentam saturação metabólica A relação entre a dose e a concentração plasmática no estado de equilíbrio resulta em uma linha com inclinação muito íngreme e imprevisível - A taxa máxima de metabolismo estabelece um limite à velocidade de administração do fármaco; se essa taxa for excedida, a quantidade de fármaco no organismo irá, a princípio, aumentar indefinidamente e nunca alcançar um estado de equilíbrio. Na realidade, isso não acontece, pois, a concentração plasmática sempre depende, em alguma extensão, da taxa de eliminação (geralmente porque outras vias metabólicas não saturáveis ou a excreção renal contribuem significativamente em concentrações elevadas). Apesar disso, as concentrações plasmáticas no estado de equilíbrio de fármacos desse tipo variam bastante e de maneira imprevisível com a dose - Variações na taxa de metabolismo causam alterações desproporcionais na concentração plasmática - Os fármacos que apresentam cinética de saturação têm o uso clínico menos previsível que outros que apresentam cinética linear LIMITAÇÕES DA FARMACOCINÉTICA: - Dois pressupostos importantes apoiam a expectativa de que, ao relacionar a resposta de um fármaco com sua concentração plasmática, seja possível reduzir a variabilidade das respostas ao ter em conta a variação farmacocinética – ou seja, variação na absorção, distribuição, metabolismo e excreção: 1. A concentração plasmática de um fármaco apresenta uma relação precisa com a concentração de um fármaco próximo ao seu alvo (receptor, enzima etc.) 2. A resposta ao fármaco depende apenas da sua concentração no ambiente ao redor de seu alvo
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