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FARMACOCINÉTICA QUANTITATIVA E MODELOS FARMACOCINÉTICOS Curva concentração plasmática por tempo Pensando-se na curva concentração plasmática por tempo de um fármaco, tem-se que avaliar qual concentração é obtida a partir da concentração daquela determinada dose e se essa concentração obtida está dentro da janela terapêutica, ou seja, está acima da concentração mínima eficaz para que a resposta ocorra, mas está abaixo da concentração mínima tóxica. Então, um esquema terapêutico para um determinado fármaco é definido de forma que a sua concentração plasmática média fique dentro da janela terapêutica. O efeito observado é proporcional à concentração plasmática do fármaco. Observando o gráfico que mostra a concentração plasmática da aminofilina em função do tempo, pode-se ver que as curvas são distintas, pois na via intravenosa não se tem o processo de absorção. Modelo 1 de compartimento ou monocompartimental Para que todos esses aspectos farmacocinéticos que são observados após a administração do fármaco sejam melhor compreendidos, tem-se vários modelos matemáticos que visam determinar os vários aspectos farmacocinéticos resultantes da administração de um fármaco. Na primeira figura, tem-se a dose sendo administrada por via oral, sendo absorvido a partir do local de administração e o fármaco chega a circulação, ou tem-se a administração intravenosa onde o fármaco é administrado direto na circulação. Nesse modelo de 1 compartimento, se presume que o fármaco é absorvido e distribuído de forma instantâneo e homogêneo por todo o organismo. Dessa forma, é como se o organismo todo fosse compreendido dentro de um único compartimento. Modelo de 2 compartimentos ou bicompartimental O modelo de 2 compartimentos assume que existe um compartimento central, que seria o sangue e os tecidos bem perfundidos, e o compartimento periférico, que seria os tecidos menos perfundidos. Após a absorção ou administração intravenosa, ocorre um equilíbrio mais lento, para que haja um equilíbrio entre o compartimento central e o compartimento periférico, para que haja equilíbrio no processo de distribuição. Na curva da concentração em função do tempo, na fase inicial (de A até B) mostra o processo de distribuição (mais lenta), depois, com o equilíbrio da distribuição, de B até C, tem-se majoritariamente o processo de eliminação. Volume de distribuição Uma vez na circulação sistêmica, a concentração plasmática de um fármaco vai depender do quanto ele é distribuído para os sítios extravasculares. O volume aparente de distribuição de um fármaco indica a extensão da distribuição. É uma medida teórica e independe da dose. 𝑉𝑑 = 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑓á𝑟𝑚𝑎𝑐𝑜 𝐶𝑝 Vd = volume de líquido que o fármaco ocuparia se todo o fármaco presente no corpo estivesse na mesma concentração encontrada no plasma. Unidade: volume. Fatores que podem alterar o volume de distribuição Ligação às proteínas plasmáticas; Ligação às proteínas teciduais; Lipossolubilidade; Fluxo sanguíneo para os vários tecidos. Um fármaco altamente ligado às proteínas plasmáticas vai ter uma concentração plasmática mais elevada, o que resulta num volume de distribuição menor. Enquanto um fármaco altamente distribuído terá uma concentração plasmática menor e um volume de distribuição maior. Lembrando que o fato de o fármaco ter afinidade pelas proteínas plasmáticas e se ligar a elas não significa que ele não possa ter também afinidade por componentes teciduais. Depuração (clearance) Mede a eficácia do organismo na eliminação do fármaco. Volume de sangue do qual o fármaco é completamente eliminado por unidade de tempo (ex.: mL/min). 𝐶𝑙 = 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑒𝑙𝑖𝑚𝑖𝑛𝑎çã𝑜 𝐶𝑝 Unidade: volume/tempo. Cl sistêmico = Cl renal + Cl hepático + ... 𝐸 = 𝐶𝑖− 𝐶𝑓 𝐶𝑖 𝐶𝑙 = 𝐸 𝑥 𝑄 Pensando na depuração do fármaco, onde ele está naquele grande reservatório (compartimento) a uma determinada concentração, esse fármaco vai chegar em um órgão depurador/extrator (como o fígado) através da circulação, que apresenta esse fármaco a esse órgão extrator através de um fluxo sanguíneo (Q). Então o fármaco chega nesse órgão em uma concentração inicial (Ci), uma fração desse fármaco é depurada e tem-se, saindo do tecido pelo sangue venoso, uma concentração final (Cf). Mesmo para um extrator perfeito (E = 1), a depuração é limitada em seu valor máximo pelo fluxo para o extrator (Q). 𝑘 = 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑒𝑙𝑖𝑚𝑖𝑛𝑎çã𝑜 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑓á𝑟𝑚𝑎𝑐𝑜 = 𝐶𝑙 𝑥 𝐶𝑝 𝑉𝑑 𝑥 𝐶𝑝 = 𝐶𝑙 𝑉𝑑 Quanto maior a constante de velocidade de eliminação (k), mais rápida é a eliminação do fármaco. Cinética de 1ª ordem A maioria dos fármacos exibe uma cinética de 1ª ordem para esses processos de eliminação; é o processo mais comum. A quantidade de fármaco metabolizada ou excretada em certa unidade de tempo é diretamente proporcional à concentração do fármaco na circulação sistêmica nesse exato momento. Para que a cinética de 1ª ordem ocorra, os sistemas de metabolização e eliminação precisam ser não saturados. Uma fração constante do fármaco é eliminada por unidade de tempo. Cinética de ordem zero Os mecanismos de depuração se tornam saturados, mesmo na concentração terapêutica ou em concentrações superiores. Essa cinética ocorre quando se tem processos saturáveis: como enzimas e transportadores. O processo de depuração se torna constante quando se tem a saturação, por exemplo, da enzima ou transportador envolvido no processo. Taxa independente da concentração do fármaco quando saturado. Na cinética de ordem zero, os sistemas de metabolização e eliminação são saturados. Uma quantidade constante do fármaco é eliminada por unidade de tempo. Exemplos: fenitoína e etanol. Gráfico mostrando a concentração sanguínea do álcool em função do tempo para varias doses. A depuração do álcool é constante e independe da concentração plasmática, isso porque a taxa de oxidação pelo álcool desidrogenase é saturável, alcança um limite. Então mesmo que a concentração de álcool no plasma aumente, somente uma quantidade será eliminada por determinado tempo. Meia vida (t1/2) Tempo necessário para a concentração plasmática ou a quantidade de fármaco no corpo ser reduzida em 50%. 𝑡1 2 = 0,693 𝑘 𝑡1/2 = 0,693𝑉𝑑 𝐶𝑙 Fatores que afetam a meia-vida Efeitos sobre o volume de distribuição Envelhecimento (diminuição da massa muscular → diminuição da distribuição): diminuição da meia-vida. Obesidade (aumento da massa adiposa → aumento da distribuição): aumento da meia-vida. Líquido patológico (aumento da distribuição): aumento da meia-vida. Efeitos sobre a depuração Indução do citocromo P450 (aumento do metabolismo): diminuição da meia-vida. Inibição do citocromo P450 (diminuição do metabolismo): aumento da meia-vida. Insuficiência cardíaca (diminuição da depuração): aumento da meia-vida. Insuficiência hepática (diminuição da depuração): aumento da meia-vida. Insuficiência renal (diminuição da depuração): aumento da meia-vida. Fração da dose remanescente Entre 5 e 7 meia-vidas, tem-se uma fração remanescente muito pequena da dose que foi administrada inicialmente. Então é um consenso que um fármaco é completamente eliminado do organismo após 5 a 7 meia-vidas. Usaremos 7 meia-vidas. Concentração-alvo e planejamento do esquema terapêutico A concentração-alvo é a concentração que produz o efeito terapêutico desejado. Essa concentração-alvo pode varias para um mesmo fármaco. Para que possa determinar o melhor esquema terapêutico e calculara dose necessária para obter a concentração-alvo, tem que levar em consideração a depuração, o volume de distribuição, a meia-vida e a biodisponibilidade dos fármacos. Terapia de doses múltiplas A administração de doses múltiplas é utilizada quando se deseja um efeito terapêutico duradouro. Quando um fármaco é administrado sempre na mesma dose, com intervalos fixos entre as doses, a quantidade de fármaco no organismo aumentará progressivamente até que o platô seja alcançado no estado de equilíbrio. A concentração aumenta progressivamente pois ocorre acúmulo na concentração plasmática, visto que sempre resta no organismo um pouco de fármaco das doses anteriores. O acúmulo é inversamente proporcional à fração da dose perdida em cada intervalo de dosagem (1 – fração remanescente). 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎çã𝑜 = 1 1 − 𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑟𝑒𝑚𝑎𝑛𝑒𝑠𝑐𝑒𝑛𝑡𝑒 Se um fármaco é administrado uma vez a cada meia vida: 1 0,5 = 2 O tempo necessário para alcançar o equilíbrio depende da meia-vida do fármaco, Exemplos: Lidocaína: t1/2 = 90 min; atinge o platô em 10,5 horas. Fenobarbital: t1/2 = 120h; atinge o platô em 840 horas/35 dias. Para fármacos com meia-vida entre 30 minutos e 8 horas, pode-se administrar um esquema terapêutico mais conveniente para o paciente, considerando a segurança do fármaco. Fármacos com meia-vida entre 8 e 24 horas, o intervalo entre as administrações pode ser igual ao tempo de meia-vida. Fármacos com meia-vida maior que 24 horas pode-se optar pela administração uma vez ao dia, por exemplo. Quando necessário um efeito mais imediato, pode ser utilizada uma dose de ataque. Além da determinação correta do esquema terapêutico, também é preciso pensar em possíveis interações medicamentosas. Em azul, tem-se a curva do fármaco sem nenhum tipo de interação. Em rosa, tem-se uma modificação na curva quando ocorre uma interação de inibição enzimática, dessa forma o metabolismo é reduzido e a curva ultrapassa o limite da faixa terapêutica e alcança níveis tóxicos. Do mesmo jeito, quando se tem uma interação de indução enzimática que acelera o processo de eliminação, a curva não irá atingir o platô pois a eliminação é mais rápida, ficando fora da faixa terapêutica. Em equilíbrio Os esquemas posológicos mantêm a concentração plasmática do fármaco no estado de equilíbrio, dentro da janela terapêutica. Esse estado de equilíbrio é alcançado quando a quantidade de fármaco absorvida (Qin) é igual a quantidade de fármaco eliminada (Qout). 𝐶𝑎𝑙𝑣𝑜 = 𝐷 . 𝐹 𝑡. 𝐶𝑙 Quantidade de fármaco absorvida depende de: Dose administrada (D); Intervalo entre as doses (t); Biodisponibilidade (F). 𝑄𝑖𝑛 = 𝑑𝑜𝑠𝑒 𝑇 . 𝐹 Quantidade de fármaco eliminada depende de: Clearance (Cl); Concentração no estado de equilíbrio (Calvo). 𝑄𝑜𝑢𝑡 = 𝐶𝑙 . 𝐶𝑎𝑙𝑣𝑜 Após serem atingidas as concentrações de equilíbrio, as doses subsequentes irão repor a quantidade de fármaco perdida pela eliminação. Através do valor de clearance, pode-se estabelecer a dose de manutenção do fármaco para atingir a concentração no estado de equilíbrio. Lembrando que no equilíbrio a taxa de administração é igual a taxa de eliminação. Infusão intravenosa contínua (a linha pontilhada vermelha), onde a concentração vai subindo sucessivamente até atingir o platô. 𝑑𝑜𝑠𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜 = 𝐶𝑙 𝑥 𝐶𝑎𝑙𝑣𝑜 Administração oral intermitente (linhas dente de serrote vermerlhas), a concentração plasmática varia entre uma administração e outra. 𝑑𝑜𝑠𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛ã𝑜 = 𝐶𝑙 𝑥 𝐶𝑎𝑙𝑣𝑜 𝐹 𝑥 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑎𝑙𝑜 Dose de ataque Utilizada para fármacos com meia-vida muito longa. Dessa forma, para que se alcance a concentração-alvo no equilíbrio é necessário um tempo muito grande, mas nem sempre é possível esperar esse tempo, então a dose de ataque é utilizada. IV: 𝑑𝑜𝑠𝑒 𝑑𝑒 𝑎𝑡𝑎𝑞𝑢𝑒 = 𝑉𝑑 𝑥 𝐶𝑎𝑙𝑣𝑜 VE: 𝑑𝑜𝑠𝑒 𝑑𝑒 𝑎𝑡𝑎𝑞𝑢𝑒 = 𝑉𝑑 𝑥 𝐶𝑎𝑙𝑣𝑜 𝐹 Como a dose de ataque é uma dose mais alta do que a administrada normalmente, geralmente é feita a divisão da dose em 2 a 3 doses para que o paciente não seja exposto a uma dose muito grande daquele fármaco de uma única vez.
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