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Fichamento de Como se deve escrever a história do Brasil - Von Martius

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Anotações para o texto de Von Martius, Como se deve escrever a história do Brasil
1. Von Martius destaca, de início, que a mescla de três raças produziu o povo brasileiro. Pretos, marrons e brancos convergiram na grande salada étnica que é a nação brasileira.
2. Embora reunidas na formação do povo brasileiro, as três raças não se confundem em seus aspectos morais e em sua dignidade. Cada raça é dotada de características peculiares, medida em termos morais segundo sua “natureza”.
3. Von Martius faz um corte qualitativo na tríade branco-negro-marrom, onde o primeiro elemento é notadamente superior aos demais. O autor esboça uma valorização historiográfica de negros e marrons na construção do homem brasileiro, mas só o faz na medida em que destaca o predomínio moral do português. Como se vê no trecho abaixo:
“Sei muito bem que Brancos haverá que, a uma tal ou qual concorrência dessas raças inferiores taxem de menoscabo à sua prosápia. (...) Os espíritos mais esclarecidos e mais profundos, pelo contrario, acharão na investigação da parte que tiveram, e ainda tem as raças Índia Etiópica no desenvolvimento histórico do Povo Brasileiro, um novo estímulo para o historiador humano e profundo.”
4. Todo o texto é notadamente romântico na descrição das glórias portuguesas, da descoberta à colonização do Novo Mundo. Ao tratar da mescla de raças, o autor assevera que a raça superior (portuguesa) se beneficiará das raças inferiores, na possibilidade de aprimorar-se mutuamente. Von Martius parece entender o convívio entre raças tão diversas como a oportunidade ideal para os portugueses ampliarem seus domínios e estender a benesse da civilização aos bárbaros nativos e africanos.
5. Imbuído de um sentimento que chama de filantropia transcendente, Von Martius afirma que as raças inferiores devem ser elevadas ao estágio moral e civil europeu por meio da educação. Ou seja, os brancos portugueses deveriam compreender a presença maciça de marrons e negros em seus novos domínios como uma oportunidade concedida pela divina providência para que a civilização alcançasse as raças inferiores. É a lógica etnocida de que fala Clastres, segundo a qual uma etnia é desfigurada gradativamente até atingir um determinado nível de equiparação com a etnia superior.
6. A historiografia, segundo Von Martius, deve se inspirar nesse filantropismo humanista para atribuir a negros e marrons a importância devida na história da formação do povo brasileiro. Assim, um historiador competente deveria entender a peculiaridade do Brasil em abrigar três raças totalmente diversas, como um capricho inédito da Providência.
“Portanto devia ser um ponto capital para o historiador reflexivo mostrar como no desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o aperfeiçoamento de três raças humanas, que nesse país são colocadas uma ao lado da outra, de urna maneira desconhecida na história antiga, e que devem servir-se mutuamente de meio e de fim.”
7. Ao tratar dos indígenas brasileiros, Von Martius rejeita as teses antigas que diziam ser o aborígine sul-americano um exemplar do homem em seu estado de natureza, diretamente emanado de Deus, como fossem produtos de geração espontânea. Apesar de rejeitar essa tese por sua falta de verossimilhança histórica, Von Martius acata outra tese não menos discutível historicamente. Diz ele que os indígenas brasileiros são resultado de uma história perdida.
8. Quando recomenda um itinerário na investigação historiográfica dos povos aborígenes, Von Martius diz que primeiramente se deve buscar conhecer o povo indígena como ente físico e, depois, como ente espiritual. Ou seja, primeiro se conhecem as propriedades físicas dos índios e depois suas qualidades espirituais, das quais suas ações são expressões. A investigação deve começar pelos documentos dos indígenas. Seu dialeto é o principal documento histórico a ser abordado.
9. Von Martius considera que o fato de diversas tribos aborígenes brasileiras falarem o dialeto Tupi significa que as tribos, apesar de suas diversidades em variados aspectos, são originárias de uma grande nação nativa, cuja história se perdeu. Ou seja, o autor confunde as tribos em uma única comunidade étnica que teria se desmembrado em pequenas células. Note-se aqui a noção de nacionalidade, tomada do imaginário europeu do século XVIII, sendo aplicada sobre as pesquisas no Novo Mundo. 
10. Von Martius sugere que as expressões de espiritualidade dos aborígenes, seus ritualismos, seu idioma devem ser usados como fios condutores ao conhecimento mais aprofundado do universo espiritual e cultural dos indígenas. Acredita, inclusive, que a fala de um único dialeto em variadas áreas geográficas no Novo Mundo remonta a uma civilização perdida, da qual todas as tribos teriam florescido de maneira desordenada. Leia-se:
“Assim como no Peru com as línguas Quíchua e Aimará que se estendiam sobre vastíssimos territórios, aconteceu no Brasil com a língua Tupi; e não podemos duvidar que todas as tribos, que nela sabem fazer-se inteligíveis, pertençam a um único e grande povo, que sem dúvida possuiu a sua historia própria, e que de um estado florescente de civilização, decaiu para o atual estado de degradação e dissolução, do mesmo modo como o observamos entre os povos ocidentais, que falavam a língua dos Incas, ou o Aimará.”
11. Ao tratar dos europeus na criação da personalidade brasileira, Von Martius é pródigo em menções ao espírito aventureiro e empreendedor dos navegadores portugueses. O autor entende que a aptidão portuguesa para grandes negócios e empreendimentos permitiu aos primeiros colonos adaptar-se ao Novo Mundo e a expandir-se, por meio das armas, pela mata adentro. Há, na narração do expansionismo português, um apelo ao espírito capitalista que conquista terras, levanta indústrias, dá vida ao comércio, aproxima financeira e culturalmente países distantes geograficamente.
12. Quando se refere a ordens eclesiásticas, o autor destaca o valor civilizatório das incursões católicas aos confins do país nascente. Atribui importância, sobretudo, aos jesuítas, cuja ordem foi responsável por dialogar de maneira mais pacífica com os aborígenes e por fazê-los assimilar os rudimentos do cristianismo. 
13. Von Martius nota que, em muitos momentos do Brasil Colônia, as ordens religiosas entraram em conflito com o governo português. De qualquer modo, ele não recrimina a política colonial por atrasar ou mesmo silenciar o avanço do cristianismo, tampouco dá a entender que os jesuítas foram afoitos demais em suas pretensões evangelísticas a ponto de desafiar as autoridades instituídas pela Coroa. Nosso autor parece indisposto a suscitar críticas aos clérigos e colonos. Com isso, pode-se supor que Von Martius recomenda um método historiográfico preocupado em analisar o conjunto dos agentes políticos que operaram na construção do país, e não na conduta isolada de suas instituições fundantes.

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