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7.1 a. b. c.d. Conceituação A organização política de um povo abrange o conjunto de instituições pelas quais se mantêm a ordem, o bem-estar e a integridade do grupo, sua defesa e proteção. Essas instituições regulam e controlam a vida da sociedade, garantindo a seus membros: direitos individuais: ao mesmo tempo em que exige o cumprimento de suas obrigações; organização do governo local: aldeia, cidade; sistema de governo: tribal, nacional, estatal; defesa e proteção: contra inimigos externos, por meio da organização militar. Hoebel e Frost (1981, p. 321) definem organização política como “aquela parte da cultura que funciona explicitamente para dirigir as atividades dos membros da sociedade em direção às metas da comunidade”, entendida esta como a depositária dos valores e ideias comuns a um grupo humano, que encontra correspondência na sociedade mais ampla. Nadel (1966) vê no político uma organização para a paz interna e a guerra externa. A organização política é um aspecto da cultura encontrado em todos os grupos humanos, simples ou complexos. A condição necessária para a sua existência é a formação de grupos e subgrupos, cujas relações requerem controle social. Parentesco, sexo, religião e associações outras que servem de base para a segmentação das sociedades. A característica essencial da organização política é o exercício do poder. Outros aspectos têm igual importância: participação, lealdade, tradições e símbolos comuns, governo e sistema de relações externas. 7.2 7.2.1 7.2.2 7.2.3 Elementos da organização política Três elementos são considerados básicos na constituição do aspecto político das sociedades primitivas: o parentesco, a religião e a Economia. Parentesco A descendência, as regras de residência, os arranjos matrimoniais, os clãs, as linhagens, enfim, as relações de parentesco que unem as famílias formam um conjunto significativo e atuante no controle político. Quanto mais acentuados são os laços de parentesco mais se estreitam os laços políticos, fortalecidos sempre pela atuação da religião. As sociedades simples fundamentam-se quase exclusivamente no parentesco. Religião A religião exprime-se por meio das crenças, da mitologia e determina a visão de mundo das sociedades. Tem função política ou é o instrumento do político que regula as relações sociais. Torna-se necessário o conhecimento dos diferentes tipos de manifestação religiosa ante a inter-relação entre o político, o religioso e o social. Economia Indivíduos e grupos participam das múltiplas formas de produção que as sociedades apresentam, desde a coleta e a caça rudimentares, praticadas pelos aborígenes australianos, passando pela agricultura e criação intensivas até as complexas economias de Estado dos Incas e Astecas. Por meio dessas formas, organizam-se o trabalho, a produção e a distribuição dos recursos existentes (terra, água e outros bens). Esses elementos propiciam prestígio, poder e status que resultam em desigualdades no interior das sociedades, dando origem ao Estado. 7.3 7.3.1 7.3.1.1 a. b. c. Natureza da organização política A organização política surge em qualquer sociedade segmentada em subgrupos, sendo um sistema que regula as relações entre os grupos e seus membros, que compartilham padrões e ideias em comum. Toda sociedade territorial participa de um sentimento de união, gerando interesses comuns entre os quais estão os interesses políticos. Os conceitos de Estado e de Governo são considerados básicos na análise da organização política. Estado Costuma-se defini-lo como a nação politicamente organizada. Copans (1971, p. 27) afirma que o Estado é uma forma não primitiva de governo, um meio de governar sociedades, devendo ser compreendido em termos de território, população e governo. O território e a população são anteriores ao Estado, e o governo é o próprio Estado. Elementos do Estado Território: uma unidade territorial corresponde a uma unidade política. São áreas definidas, menores ou maiores, ocupadas respectivamente por pequenos agrupamentos (bandos ou hordas) ou por organizações maiores (tribos, confederações, impérios), ligados por padrões e ideias comuns. População: grupos de indivíduos ligados por uma cultura comum. As populações formam sociedades, portadoras de interesses individuais e grupais. Governo: consiste no instrumento executivo da organização política. Representa a autoridade que controla os membros da sociedade, por meio de normas preestabelecidas e dentro de um território definido. Ele se concretiza por meio de órgãos, onde pessoas especializadas exercem funções ligadas ao poder e se preocupam em executá-las, valendo-se da força e de poderes coercitivos (veja Seção 7.3.2). Segundo alguns autores, o Estado é um elemento universal da organização social humana. Krader (1970, p. 27) defende a ideia de que o governo é universal, enquanto outros aspectos da cultura, como o Estado, não o são. Consiste, pois, em uma instituição de governo, mas não a única instituição política existente para governar sociedades. Nem todos os grupos humanos possuem um Estado político. Segundo Copans (1971, p. 8), “ele tem um papel que é uniforme em toda parte: controlar e dirigir as vidas das pessoas sob seu império, por meio de poder social centralizado nas mãos de uns poucos”. Para Lowie (1927), o Estado existe potencialmente em todas as sociedades, concre-tizando-se em algumas delas. Em outras, encontra-se em forma incipiente. Sua presença indica que a sociedade atingiu certa complexidade. A perspectiva histórica demonstra que os Estados, mesmo assumindo formas diferentes, apresentam uma base comum: território definido, população estável, grupos diferenciados, instituições governamentais etc. A partir dessa base comum, o Estado acha-se em condições de cumprir seus objetivos: dirigir e assegurar as vidas dos cidadãos; controlar as relações entre os diversos Estados; garantir o bem-estar dos membros da sociedade. Na história da humanidade, surgiram diferentes tipos de Estados (alguns já desapareceram e a maioria transformou-se em Estados modernos): cidades-Estado; Estados imperiais e teocráticos; tribos-Estado; Estados tribais consanguíneos; Estados nacionais e numerosas outras formas estatais. 7.3.1.2 1. 2. 3. 4. 7.3.2 O Estado Nacional, característico das sociedades modernas, originou- se na Europa e desenvolveu-se na América, Ásia e África, sendo, hoje, uma forma dominante de Estado, adaptando-se às diferentes ideologias (democracia, socialismo, comunismo). Funções do Estado De acordo com Fried (1960), todo Estado apresenta as seguintes funções especializadas: Controle populacional. Estabelecimento de limites, categorias de cidadania, e realização de censos. Todo Estado precisa estabelecer limites territoriais para separá-lo de outras sociedades. Os censos permitem conhecer as características da população. Judiciário. O Estado tem leis, procedimentos legais e códigos que regulam as relações entre indivíduos e grupos. Cumprimento da lei. A presença de militares e policiais contribui à defesa do território e cumprimento das decisões judiciais. Fiscal: Tributação. O Estado precisa de um sistema fiscal ou financeiro para regular a produção, distribuição e consumo de bens. Governo Entende-se por Governo a autoridade individual ou grupal que controla determinado território e que exerce poder sobre ele. Pode também ser definido como a administração oficial dos negócios públicos, regidos por pessoas especializadas, com delegações de poderes. Em todas as sociedades, o governo atua por meio de arranjos políticos e processos legais e judiciais. – Características: todo governo desenvolve relações formais e informais nas sociedades em geral. Nos grupos simples, o governo é informal, enquanto nas sociedades complexas é formalizado e relaciona-se diretamente com o Estado. A característica fundamental consiste na concentração da força física nas mãos da autoridade central. Há uma série de restrições aos membros dos grupos no que tange aos seus direitos, comotirar a vida do outro. Entretanto, essas restrições não atingem o Estado, que tem o poder de vida e morte, confisco de bens e propriedades, sanções etc. Nas sociedades sem Estado, a proteção e o controle são executados, quando necessários, pelo próprio grupo. Cessa quando a necessidade desaparece. – Formas de governo: a mais elementar forma de governo encontra-se nos bandos ou hordas. São grupos de subsistência, nômades, com um conselho de homens que exercem o poder político. Exemplos: os esquimós e os bosquímanos. Nas aldeias (populações sedentárias), a vida política torna-se mais complexa e mais interdependente. Os líderes são os responsáveis pelo controle social, pela ação coletiva e pela preservação da lei e da ordem. O mesmo acontece nas associações, compostas de membros unidos por um fim comum, praticamente independentes da organização de parentesco e de vizinhança da sociedade. Exemplo: os índios Crow, das planícies dos Estados Unidos, organizam-se em associações. Figura 7.1 – Indígenas da nação Crow (data aproximada 1878-1883). Entre as sociedades ágrafas, o governo é sempre democrático; raramente aceitam lideranças políticas ditatoriais. Exemplos: a liga dos Iroqueses, chamada As Cinco Nações; os grupos tribais do Alto Xingu (Brasil), em sua aculturação intertribal, conservaram sua autonomia. O controle político assume formas diferentes, de acordo com as culturas onde se manifesta. No Brasil, uma definição clássica de formas de governo é a estabelecida por Darcy Azambuja, são formas de vida do Estado, revelam o caráter coletivo do seu elemento humano, representam a reação psicológica da sociedade às diversas e complexas influências de natureza moral, intelectual, geográfica, econômica e política através da História (AZAMBUJA, 2005, p. 200). Passaes et al. (2012) apresentam um resumo muito didático dos tipos de formas de governo. A mais antiga classificação das formas de governo é a de Aristóteles, apresentada em sua obra A política, que pode ser explicada da seguinte forma: se o governo é exercido por um só, visando ao bem comum, é a monarquia, ou a realeza; se o governo é exercido por um só, mas no próprio interesse, oprimindo os governados, é a tirania ou despotia, a forma corrupta da monarquia; se o governo é exercido por uma minoria privilegiada, quer dizer, pela nobreza, em benefício de todos os governados, é a aristocracia; se o governo for exercido por essa minoria mas em proveito próprio, temos a forma corrupta de aristocracia, denominada oligarquia; se o governo é ou pode ser exercido por todos os cidadãos, visando ao bem comum, é a democracia; se o governo é exercido pelas multidões revoltadas, ou se estas influenciam diretamente os governantes, oprimindo os governados, temos a forma impura da democracia, que é denominada demagogia. Continuando com Passaes et al. (2012), Maquiavel, na sua obra Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, apresenta a sua teoria de ciclos de governo. Partindo de um estado anárquico, que existiu no início da vida em sociedade, os homens, para se defender, escolheram como chefe o mais robusto. Após várias escolhas, perceberam que aqueles atributos não indicavam um bom chefe, passando a escolher o mais justo e sensato. Essa monarquia eletiva foi transformada em hereditária, que foi degenerada pelos próprios herdeiros, surgindo a tirania. Os mais ricos e nobres conspiraram, apoderando-se do governo, instituindo a aristocracia voltada para o bem comum. Os seus descendentes esqueceram os males da tirania e passaram a governar em proveito próprio, transformando a aristocracia em oligarquia. O povo, revoltando-se contra a oligarquia, destituiu os oligarcas, instaurando o governo popular ou democrático. O próprio povo degenerou a democracia, ao utilizar o governo para fins próprios, gerando a anarquia, voltando-se ao ponto de partida do ciclo de governo. Com a publicação da obra De L’esprit des Lois, por Montesquieu, surgiu a classificação que agrupa os governos em três grupos distintos: o Republicano, o Monárquico e o Despótico. Nos Estados modernos, os tipos mais comuns de governo são a a. b. c. d. e. Monarquia e a República. A primeira pode ser definida como o sistema de governo em que o poder político está concentrado nas mãos de uma só pessoa, o qual é exercido por ela ou por delegação dela. A Monarquia pode ser absoluta ou constitucional. Na Monarquia absoluta o poder político é exercido pelo monarca e a sua vontade deve ser juridicamente a mais alta, não depende de nenhuma outra; o Estado é o rei. Na Monarquia constitucional, o monarca não tem poder absoluto, os seus poderes emanam da Constituição. A República consiste no sistema político em que os cargos de chefe do Poder Executivo e dos membros do Poder Legislativo são eletivos, temporários e responsáveis. A República pode ser parlamentar e presidencialista. Na República parlamentar, o Poder Executivo é exercido pelo gabinete e não pelo Presidente da República. Na República presidencialista, o Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República. É o governo de um Estado no qual o povo exerce a soberania diretamente ou por meio de representantes eleitos. Exemplos de diversas formas de governo: Oligarquia: poder nas mãos de uma classe social pequena. Exemplo: triunvirato militar na Grécia (1967-1973). Monarquia: poder atribuído à pessoa de um rei. Exemplos: Holanda, Suécia, Ilhas Polinésias. Gerontocracia: governo de homens idosos. Exemplo: os Andamaneses (negros da Baía de Bengala). Democracia: poder investido no povo que o exerce direta ou indiretamente. Exemplos: Suíça, Finlândia. Teocracia: governo por direção sobrenatural (sacerdotes). Exemplos: antigo Egito, Havaí, Tibete. De todas essas formas de governo, a mais frequente entre os povos ágrafos é a gerontocracia. O governo de mulheres em sociedades não civilizadas parece nunca ter existido. Matriarcado e matrilinearidade são formas de organização social que não devem ser confundidas com governo de mulheres. 7.4 7.4.1 7.4.2 Níveis de desenvolvimento De acordo com Service, 1962 (apud KOTTAK, 2010), ao analisar os níveis de desenvolvimento sociocultural, os antropólogos distinguem os seguintes tipos: Bandos ou hordas O bando patrilocal, a mais simples e rudimentar forma de estrutura social, encontra-se em todas as partes da Terra. Os bandos constituídos por poucas famílias nucleares aparentadas (100 pessoas no máximo) são nômades, com economia de subsistência: coleta, caça e pesca. “Não existe lá vida política separada, nem governo ou sistema legal acima da modesta autoridade informal dos chefes de família e dos líderes efêmeros”, afirma Service (1962, p. 120); e conclui: “a família e o bando são a única organização econômica, política e religiosa e suas relações não são formalizadas, são apenas familiares”. Exemplos: os esquimós do Alasca; os pigmeus da África. Tribos e nações O nível tribal de organização sociocultural das tribos e nações é mais complexo do que o do bando, do qual conservam ainda algumas características. São “organizações segmentares”, marcadamente familiares, igualitárias, com laços baseados no parentesco. Nesse nível, surgem instituições propriamente tribais que levam à integração das partes num todo cultural mais amplo e controlam as relações entre os vários grupos – etários, religiosos, econômicos etc. Entre esses outros grupos menores, como linhagens, anciãos, homens, mulheres etc., 7.4.3 estabelece-se uma hierarquização não institucionalizada. Exemplos: os Tiv da Nigéria, estudados por Balandier; a tribo ou “nação” Tupi-guarani, da costa brasileira, do século XVI. Nação é um povo fixado em determinada área geográfica possuindo certa organização, sentimentos de união, identidade de língua, etnia, religião etc. A formação de nações encontra-se com mais frequência no âmbito das sociedades civilizadas. Chefaturas Consistem em um tipo de organização política, mas ainda não estatal, embora tenham já certa autonomia em nível político e condições de passarem a Estado.Colocam--se entre os bandos e tribos e o Estado. Em vários aspectos da cultura – Economia, Arte, Religião, Política – contrastam com as tribos. Politicamente, constituem-se em um regime governativo, primitivo, ainda baseado no sistema de parentesco, mas este assume importância secundária. Têm, entretanto, um território mais definido e uma autoridade legitimada. As sociedades de chefaturas acham-se segmentadas em grupos distintos, com base em critérios socioeconômicos e religiosos. Por exemplo: nobres, escravos, homens livres. São sociedades não mais igualitárias; não têm propriamente um governo, mas possuem autoridade centralizada. Não há propriedade privada, nem mercado, nem classes socioeconômicas definidas. Faltam-lhes uma hierarquia propriamente política e uma administração específica. O que caracteriza fundamentalmente as chefaturas é a acentuada desigualdade entre os grupos, na sociedade. No alto da pirâmide social, encontra-se o chefe; abaixo dele, sucessivamente, as demais pessoas, com grande rivalidade de status. As chefaturas encontram-se em muitas localidades da Terra. 7.4.4 7.4.4.1 Exemplos: as civilizações arcaicas do Peru; os Ashanti da África. Quadro 7.1 – Bases econômicas e regulação política de bandos, tribos, chefaturas e estados TIPO SOCIOPOLÍTICO TIPO ECONÔMICO EXEMPLO TIPO REGULAÇÃO Bando Coletores Esquimós, Pigmeus Local Tribo Horticultura, pastoreio Yanomami, Masai, Tupi-guarani Local, temporariamente regional Chefatura Horticultura produtiva Civilizações peruanas, Ashantis Regional permanente Estado Agricultura, Indústria Mesopotâmia, Brasil contemporâneo Regional permanente Fonte: Kottak (2010). Adaptado pelo atualizador. Na opinião de Kottak (2010), essa é uma visão evolucionista da sociedade. Hoje em dia, em uma visão estruturalista da sociedade (veja Capítulo 13), nenhuma dessas entidades deve ser estudada como uma unidade independente de organização política, uma vez que todas coexistem dentro dos Estados-Nação e estão sujeitas a controle estatal. Estados Nas sociedades organizadas em Estado, persistem muitas características das chefaturas, mas o que as distingue é uma nova forma de integração socioeconômica, que envolve a burocracia e a força legitimada. Elas têm uma existência legal, que interfere e regula as relações entre indivíduos e grupos. Sociedades sem Estado Mesmo os grupos humanos mais simples e isolados possuem alguma forma de governo. Por isso, o mundo primitivo oferece exemplos de diferentes e numerosos tipos. Nas sociedades sem Estado, o governo é 7.4.4.2 informal, sem autoridade centralizada, onde as funções políticas são exercidas por subgrupos, não havendo propriamente um chefe. Organização indiferenciada. Nesse tipo de organização, as relações sociais acham-se intimamente ligadas ao parentesco e são comumente encontradas nas hordas e bandos. Entre estes, a família, geralmente, é patriarcal, a descendência, patrilinear e o governo, gerontocrático (de homens idosos). Exemplos: os esquimós do Alasca; os bosquímanos do Sul da África. Linhagem segmentária. Nesse sistema de organização política, atribui-se o poder de decisão às linhagens, ou seja, aos grupos de parentesco que se consideram descendentes de um ancestral comum (veja Seção 5.3.8, a). As tribos dividem-se em segmentos, e estes, em linhagens. São formações sociais baseadas também no parentesco. Exemplo: os Nuer do Sudão, segundo Evans-Pritchard, vivem em uma “anarquia organizada”, sem instituições legais e onde os valores políticos são relativos. Organização em grupos de idade. Sistema político pouco difundido, sendo o grupo de idade a base da organização e cujos chefes têm a direção dos assuntos de governo e a responsabilidade da integração política. Exemplo: os Nyakyusa. Conselhos de aldeias e associações. Tipo de organização política em que a autoridade emana dos conselhos das aldeias que constituem o próprio governo tribal. Exemplos: os Pueblos dos Estados Unidos; os lbos da África. Aldeias com chefes. O papel do chefe ou líder ganha grande projeção nesse tipo de organização política, na qual o parentesco tem importância secundária. O indivíduo, investido de autoridade política, goza da confiança e recebe o apoio dos grupos vizinhos, responsabilizando-se pela união e pelo controle do seu grupo local. Suas qualidades pessoais permitem-lhe exercer essa liderança. Exemplo: os Shoshones dos Estados Unidos. Sociedades de Estado À medida que as sociedades se tornam mais complexas, em virtude da estabilidade econômico-social e da fixação em aldeias permanentes, vão exigindo lideranças mais estáveis e instituições governamentais mais efetivas. Estabelecem-se as sociedades de Estado nas quais a autoridade é exercida por chefes, reis, conselhos e mesmo por associações de caráter apolítico, e abrange toda a sociedade. Chefias. A necessidade de liderança faz surgir o chefe, que se distingue socialmente pela autoridade a ele conferida. O exercício da chefia, assim como suas funções e poderes, varia entre os diferentes grupos humanos, podendo ser hereditário ou não. Muitas vezes, faz-se a distinção entre chefes de paz e chefes de guerra, com atribuições específicas nas relações tribais internas e externas. Exemplos: os Iroqueses e os Cheyennes dos Estados Unidos. Em algumas tribos africanas, a função do chefe é múltipla: legisla, controla a distribuição e o uso da terra, organiza caçadas, cerimônias religiosas, como também orienta o grupo na defesa e na guerra. Portadores de privilégios, os chamados “chefes cerimoniais” gozam de grande prestígio e são os promotores dos festins cerimoniais, contando ainda com a aprovação de todos os membros do grupo. Exemplo: os Trobriandeses. Reinos. Não é mais a linhagem ou outro segmento que retém a autoridade, mas um governo central, com um chefe supremo exercendo o poder sobre toda a sociedade. É sempre hereditário e tem como função garantir a lei e a paz através da estabilidade na administração do governo. Se, por um lado, representa segurança para os membros da sociedade, por outro pode levar à tirania, à corrupção, em decorrência da possível incapacidade e incompetência de chefes que a hereditariedade colocou no poder. Na Polinésia e na África, é comum a primogenitura, ou seja, o filho mais velho ser o sucessor do pai. Considerando que nas sociedades ágrafas o mundo material acha-se em perfeita conexão com o sobrenatural, os chefes políticos e os chefes sacerdotais agem de forma harmoniosa e o controle das ações dos indivíduos está relacionado com o sobrenatural. Nas sociedades de horticultores, os chefes têm poderes não apenas políticos, mas são responsáveis também pelo bom desenvolvimento da Economia e pela segurança religiosa do grupo. Exemplo: os Ashanti. Conselhos. Acham-se presentes em todas as sociedades e compõem-se de um conjunto de conselheiros, geralmente homens adultos. Quando formado de homens idosos, chama-se gerontocracia. O conselho tem caráter democrático e é integrado pelos chefes dos bandos que participam das decisões. Exemplos: os aborígenes australianos e os astecas. Associações. São grupos não políticos, extraestatais, que colaboram na determinação e na execução das normas políticas: grupos de homens, sociedades secretas (África, Melanésia), sociedades militares (Índios das Planícies, Estados Unidos), conselhos tribais, castas (Índia) e outros. 7.5 7.5.1 a.b. c.d. e. f. g. h. 7.5.2 Processo político Para Kottak (2010), o processo político forma parte de um sistema mais abrangente de controle social experienciado no cotidiano das pessoas. Ninguém vive em uma tribo, chefatura ou estado isolado. Normalmente, os grupos estudados por antropólogos vivem em Estados-Nação onde os indivíduos convivem com diversos níveis e tipos de autoridade política e vivenciam outras formas de controle social. Funções As funções do processo político consistem em: definir as normas comportamentais de conduta aceitável; atribuir força e autoridade; decidir as disputas; redefinir as normas de conduta; organizaros trabalhos públicos grupais (caçadas tribais, construções, consertos, hortas etc.); ocupar-se do mundo sobrenatural através do controle religioso (rituais e cerimoniais); organizar a Economia (manter mercados e desenvolver o comércio); responsabilizar-se pela defesa do território e promover a guerra contra o inimigo. A política é comportamento social não isolado, mas integrado aos demais aspectos da cultura: organização econômica, sistema de parentesco, hierarquização social, organização religiosa etc., como se pode inferir ao se proceder à análise das funções que o processo político deve desempenhar no interior das sociedades. Atributos Atributos específicos que permitem a fácil identificação do processo a. b. c. político: Público e não privado: sua ação atinge toda a sociedade, amplamente considerada, tendo poder de decisão nas ocorrências de âmbito público, não sendo, portanto, um assunto nem individual, nem familiar. Orientado para uma finalidade: tem o objetivo de satisfazer aos interesses públicos em detrimento dos interesses individuais ou grupais. Preocupa-se com os meios e os fins para atingir os seus propósitos, ou seja, compete à política a tomada de decisões pertinentes, de definições das normas sociais e dos valores da cultura. Atribui e centraliza o poder: as pessoas que tomam decisões e exercem o poder na esfera pública estão investidas de autoridade política, presente mesmo nos grupos mais primitivos. É a autoridade que obriga o cumprimento das normas estabelecidas; para tanto, lança mão de sanções e de coerções. Nas sociedades simples, o poder e as lideranças surgem naturalmente, enquanto nas sociedades complexas os mecanismos de controle do cargo, do poder de decisão, da legitimidade da administração política requerem maior complexidade, dadas as exigências impostas pela própria cultura. 7 Organização Política 7.1 Conceituação 7.2 Elementos da organização política 7.2.1 Parentesco 7.2.2 Religião 7.2.3 Economia 7.3 Natureza da organização política 7.3.1 Estado 7.3.2 Governo 7.4 Níveis de desenvolvimento 7.4.1 Bandos ou hordas 7.4.2 Tribos e nações 7.4.3 Chefaturas 7.4.4 Estados 7.5 Processo político 7.5.1 Funções 7.5.2 Atributos
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