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Antropologia - Organização politica

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Prévia do material em texto

7.1
a.
b.
c.d.
Conceituação
A organização política de um povo abrange o conjunto de instituições
pelas quais se mantêm a ordem, o bem-estar e a integridade do grupo, sua
defesa e proteção. Essas instituições regulam e controlam a vida da
sociedade, garantindo a seus membros:
direitos individuais: ao mesmo tempo em que exige o
cumprimento de suas obrigações; organização do governo local:
aldeia, cidade; sistema de governo: tribal, nacional, estatal; defesa
e proteção: contra inimigos externos, por meio da organização
militar.
Hoebel e Frost (1981, p. 321) definem organização política como
“aquela parte da cultura que funciona explicitamente para dirigir as atividades
dos membros da sociedade em direção às metas da comunidade”, entendida
esta como a depositária dos valores e ideias comuns a um grupo humano, que
encontra correspondência na sociedade mais ampla.
Nadel (1966) vê no político uma organização para a paz interna e a
guerra externa. A organização política é um aspecto da cultura encontrado em
todos os grupos humanos, simples ou complexos. A condição necessária para
a sua existência é a formação de grupos e subgrupos, cujas relações requerem
controle social. Parentesco, sexo, religião e associações outras que servem de
base para a segmentação das sociedades.
A característica essencial da organização política é o exercício do
poder. Outros aspectos têm igual importância: participação, lealdade,
tradições e símbolos comuns, governo e sistema de relações externas.
7.2
7.2.1
7.2.2
7.2.3
Elementos da organização política
Três elementos são considerados básicos na constituição do aspecto
político das sociedades primitivas: o parentesco, a religião e a Economia.
Parentesco
A descendência, as regras de residência, os arranjos matrimoniais, os
clãs, as linhagens, enfim, as relações de parentesco que unem as famílias
formam um conjunto significativo e atuante no controle político. Quanto mais
acentuados são os laços de parentesco mais se estreitam os laços políticos,
fortalecidos sempre pela atuação da religião. As sociedades simples
fundamentam-se quase exclusivamente no parentesco.
Religião
A religião exprime-se por meio das crenças, da mitologia e determina a
visão de mundo das sociedades. Tem função política ou é o instrumento do
político que regula as relações sociais. Torna-se necessário o conhecimento
dos diferentes tipos de manifestação religiosa ante a inter-relação entre o
político, o religioso e o social.
Economia
Indivíduos e grupos participam das múltiplas formas de produção que
as sociedades apresentam, desde a coleta e a caça rudimentares, praticadas
pelos aborígenes australianos, passando pela agricultura e criação intensivas
até as complexas economias de Estado dos Incas e Astecas. Por meio dessas
formas, organizam-se o trabalho, a produção e a distribuição dos recursos
existentes (terra, água e outros bens). Esses elementos propiciam prestígio,
poder e status que resultam em desigualdades no interior das sociedades,
dando origem ao Estado.
7.3
7.3.1
7.3.1.1
a.
b.
c.
Natureza da organização política
A organização política surge em qualquer sociedade segmentada em
subgrupos, sendo um sistema que regula as relações entre os grupos e seus
membros, que compartilham padrões e ideias em comum. Toda sociedade
territorial participa de um sentimento de união, gerando interesses comuns
entre os quais estão os interesses políticos.
Os conceitos de Estado e de Governo são considerados básicos na
análise da organização política.
Estado
Costuma-se defini-lo como a nação politicamente organizada. Copans
(1971, p. 27) afirma que o Estado é uma forma não primitiva de governo, um
meio de governar sociedades, devendo ser compreendido em termos de
território, população e governo. O território e a população são anteriores ao
Estado, e o governo é o próprio Estado.
Elementos do Estado
Território: uma unidade territorial corresponde a uma unidade
política. São áreas definidas, menores ou maiores, ocupadas
respectivamente por pequenos agrupamentos (bandos ou hordas)
ou por organizações maiores (tribos, confederações, impérios),
ligados por padrões e ideias comuns.
População: grupos de indivíduos ligados por uma cultura comum.
As populações formam sociedades, portadoras de interesses
individuais e grupais.
Governo: consiste no instrumento executivo da organização
política. Representa a autoridade que controla os membros da
sociedade, por meio de normas preestabelecidas e dentro de um
território definido. Ele se concretiza por meio de órgãos, onde
pessoas especializadas exercem funções ligadas ao poder e se
preocupam em executá-las, valendo-se da força e de poderes
coercitivos (veja Seção 7.3.2).
Segundo alguns autores, o Estado é um elemento universal da
organização social humana. Krader (1970, p. 27) defende a ideia de que o
governo é universal, enquanto outros aspectos da cultura, como o Estado, não
o são.
Consiste, pois, em uma instituição de governo, mas não a única
instituição política existente para governar sociedades. Nem todos os grupos
humanos possuem um Estado político. Segundo Copans (1971, p. 8), “ele tem
um papel que é uniforme em toda parte: controlar e dirigir as vidas das
pessoas sob seu império, por meio de poder social centralizado nas mãos de
uns poucos”.
Para Lowie (1927), o Estado existe potencialmente em todas as
sociedades, concre-tizando-se em algumas delas. Em outras, encontra-se em
forma incipiente. Sua presença indica que a sociedade atingiu certa
complexidade.
A perspectiva histórica demonstra que os Estados, mesmo assumindo
formas diferentes, apresentam uma base comum: território definido,
população estável, grupos diferenciados, instituições governamentais etc. A
partir dessa base comum, o Estado acha-se em condições de cumprir seus
objetivos: dirigir e assegurar as vidas dos cidadãos; controlar as relações
entre os diversos Estados; garantir o bem-estar dos membros da sociedade.
Na história da humanidade, surgiram diferentes tipos de Estados
(alguns já desapareceram e a maioria transformou-se em Estados modernos):
cidades-Estado; Estados imperiais e teocráticos; tribos-Estado; Estados tribais
consanguíneos; Estados nacionais e numerosas outras formas estatais.
7.3.1.2
1.
2.
3.
4.
7.3.2
O Estado Nacional, característico das sociedades modernas, originou-
se na Europa e desenvolveu-se na América, Ásia e África, sendo, hoje, uma
forma dominante de Estado, adaptando-se às diferentes ideologias
(democracia, socialismo, comunismo).
Funções do Estado
De acordo com Fried (1960), todo Estado apresenta as seguintes
funções especializadas:
Controle populacional. Estabelecimento de limites, categorias de
cidadania, e realização de censos. Todo Estado precisa estabelecer
limites territoriais para separá-lo de outras sociedades. Os censos
permitem conhecer as características da população.
Judiciário. O Estado tem leis, procedimentos legais e códigos que
regulam as relações entre indivíduos e grupos.
Cumprimento da lei. A presença de militares e policiais contribui
à defesa do território e cumprimento das decisões judiciais.
Fiscal: Tributação. O Estado precisa de um sistema fiscal ou
financeiro para regular a produção, distribuição e consumo de
bens.
Governo
Entende-se por Governo a autoridade individual ou grupal que controla
determinado território e que exerce poder sobre ele.
Pode também ser definido como a administração oficial dos negócios
públicos, regidos por pessoas especializadas, com delegações de poderes. Em
todas as sociedades, o governo atua por meio de arranjos políticos e
processos legais e judiciais.
– Características: todo governo desenvolve relações formais e informais nas
sociedades em geral. Nos grupos simples, o governo é informal, enquanto nas
sociedades complexas é formalizado e relaciona-se diretamente com o
Estado.
A característica fundamental consiste na concentração da força física
nas mãos da autoridade central. Há uma série de restrições aos membros dos
grupos no que tange aos seus direitos, comotirar a vida do outro. Entretanto,
essas restrições não atingem o Estado, que tem o poder de vida e morte,
confisco de bens e propriedades, sanções etc.
Nas sociedades sem Estado, a proteção e o controle são executados,
quando necessários, pelo próprio grupo. Cessa quando a necessidade
desaparece.
– Formas de governo: a mais elementar forma de governo encontra-se nos
bandos ou hordas. São grupos de subsistência, nômades, com um conselho de
homens que exercem o poder político. Exemplos: os esquimós e os
bosquímanos.
Nas aldeias (populações sedentárias), a vida política torna-se mais
complexa e mais interdependente. Os líderes são os responsáveis pelo
controle social, pela ação coletiva e pela preservação da lei e da ordem.
O mesmo acontece nas associações, compostas de membros unidos por
um fim comum, praticamente independentes da organização de parentesco e
de vizinhança da sociedade. Exemplo: os índios Crow, das planícies dos
Estados Unidos, organizam-se em associações.
Figura 7.1 – Indígenas da nação Crow (data aproximada 1878-1883).
Entre as sociedades ágrafas, o governo é sempre democrático;
raramente aceitam lideranças políticas ditatoriais. Exemplos: a liga dos
Iroqueses, chamada As Cinco Nações; os grupos tribais do Alto Xingu
(Brasil), em sua aculturação intertribal, conservaram sua autonomia.
O controle político assume formas diferentes, de acordo com as
culturas onde se manifesta.
No Brasil, uma definição clássica de formas de governo é a
estabelecida por Darcy Azambuja,
são formas de vida do Estado, revelam o caráter coletivo do seu elemento
humano, representam a reação psicológica da sociedade às diversas e
complexas influências de natureza moral, intelectual, geográfica, econômica e
política através da História (AZAMBUJA, 2005, p. 200).
Passaes et al. (2012) apresentam um resumo muito didático dos tipos
de formas de governo. A mais antiga classificação das formas de governo é a
de Aristóteles, apresentada em sua obra A política, que pode ser explicada da
seguinte forma: se o governo é exercido por um só, visando ao bem comum,
é a monarquia, ou a realeza; se o governo é exercido por um só, mas no
próprio interesse, oprimindo os governados, é a tirania ou despotia, a forma
corrupta da monarquia; se o governo é exercido por uma minoria
privilegiada, quer dizer, pela nobreza, em benefício de todos os governados, é
a aristocracia; se o governo for exercido por essa minoria mas em proveito
próprio, temos a forma corrupta de aristocracia, denominada oligarquia; se o
governo é ou pode ser exercido por todos os cidadãos, visando ao bem
comum, é a democracia; se o governo é exercido pelas multidões revoltadas,
ou se estas influenciam diretamente os governantes, oprimindo os
governados, temos a forma impura da democracia, que é denominada
demagogia.
Continuando com Passaes et al. (2012), Maquiavel, na sua obra
Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, apresenta a sua teoria de
ciclos de governo. Partindo de um estado anárquico, que existiu no início da
vida em sociedade, os homens, para se defender, escolheram como chefe o
mais robusto. Após várias escolhas, perceberam que aqueles atributos não
indicavam um bom chefe, passando a escolher o mais justo e sensato. Essa
monarquia eletiva foi transformada em hereditária, que foi degenerada pelos
próprios herdeiros, surgindo a tirania. Os mais ricos e nobres conspiraram,
apoderando-se do governo, instituindo a aristocracia voltada para o bem
comum. Os seus descendentes esqueceram os males da tirania e passaram a
governar em proveito próprio, transformando a aristocracia em oligarquia. O
povo, revoltando-se contra a oligarquia, destituiu os oligarcas, instaurando o
governo popular ou democrático. O próprio povo degenerou a democracia, ao
utilizar o governo para fins próprios, gerando a anarquia, voltando-se ao
ponto de partida do ciclo de governo. Com a publicação da obra De L’esprit
des Lois, por Montesquieu, surgiu a classificação que agrupa os governos em
três grupos distintos: o Republicano, o Monárquico e o Despótico.
Nos Estados modernos, os tipos mais comuns de governo são a
a.
b.
c.
d.
e.
Monarquia e a República. A primeira pode ser definida como o sistema de
governo em que o poder político está concentrado nas mãos de uma só
pessoa, o qual é exercido por ela ou por delegação dela. A Monarquia pode
ser absoluta ou constitucional. Na Monarquia absoluta o poder político é
exercido pelo monarca e a sua vontade deve ser juridicamente a mais alta,
não depende de nenhuma outra; o Estado é o rei. Na Monarquia
constitucional, o monarca não tem poder absoluto, os seus poderes emanam
da Constituição.
A República consiste no sistema político em que os cargos de chefe do
Poder Executivo e dos membros do Poder Legislativo são eletivos,
temporários e responsáveis. A República pode ser parlamentar e
presidencialista. Na República parlamentar, o Poder Executivo é exercido
pelo gabinete e não pelo Presidente da República. Na República
presidencialista, o Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República.
É o governo de um Estado no qual o povo exerce a soberania diretamente ou
por meio de representantes eleitos.
Exemplos de diversas formas de governo:
Oligarquia: poder nas mãos de uma classe social pequena.
Exemplo: triunvirato militar na Grécia (1967-1973).
Monarquia: poder atribuído à pessoa de um rei. Exemplos:
Holanda, Suécia, Ilhas Polinésias.
Gerontocracia: governo de homens idosos. Exemplo: os
Andamaneses (negros da Baía de Bengala).
Democracia: poder investido no povo que o exerce direta ou
indiretamente.
Exemplos: Suíça, Finlândia.
Teocracia: governo por direção sobrenatural (sacerdotes).
Exemplos: antigo Egito, Havaí, Tibete.
De todas essas formas de governo, a mais frequente entre os povos
ágrafos é a gerontocracia.
O governo de mulheres em sociedades não civilizadas parece nunca ter
existido. Matriarcado e matrilinearidade são formas de organização social que
não devem ser confundidas com governo de mulheres.
7.4
7.4.1
7.4.2
Níveis de desenvolvimento
De acordo com Service, 1962 (apud KOTTAK, 2010), ao analisar os
níveis de desenvolvimento sociocultural, os antropólogos distinguem os
seguintes tipos:
Bandos ou hordas
O bando patrilocal, a mais simples e rudimentar forma de estrutura
social, encontra-se em todas as partes da Terra. Os bandos constituídos por
poucas famílias nucleares aparentadas (100 pessoas no máximo) são
nômades, com economia de subsistência: coleta, caça e pesca.
“Não existe lá vida política separada, nem governo ou sistema legal
acima da modesta autoridade informal dos chefes de família e dos líderes
efêmeros”, afirma Service (1962, p. 120); e conclui: “a família e o bando são
a única organização econômica, política e religiosa e suas relações não são
formalizadas, são apenas familiares”. Exemplos: os esquimós do Alasca; os
pigmeus da África.
Tribos e nações
O nível tribal de organização sociocultural das tribos e nações é mais
complexo do que o do bando, do qual conservam ainda algumas
características. São “organizações segmentares”, marcadamente familiares,
igualitárias, com laços baseados no parentesco.
Nesse nível, surgem instituições propriamente tribais que levam à
integração das partes num todo cultural mais amplo e controlam as relações
entre os vários grupos – etários, religiosos, econômicos etc. Entre esses
outros grupos menores, como linhagens, anciãos, homens, mulheres etc.,
7.4.3
estabelece-se uma hierarquização não institucionalizada. Exemplos: os Tiv
da Nigéria, estudados por Balandier; a tribo ou “nação” Tupi-guarani, da
costa brasileira, do século XVI.
Nação é um povo fixado em determinada área geográfica possuindo
certa organização, sentimentos de união, identidade de língua, etnia, religião
etc. A formação de nações encontra-se com mais frequência no âmbito das
sociedades civilizadas.
Chefaturas
Consistem em um tipo de organização política, mas ainda não estatal,
embora tenham já certa autonomia em nível político e condições de passarem
a Estado.Colocam--se entre os bandos e tribos e o Estado. Em vários
aspectos da cultura – Economia, Arte, Religião, Política – contrastam com as
tribos.
Politicamente, constituem-se em um regime governativo, primitivo,
ainda baseado no sistema de parentesco, mas este assume importância
secundária. Têm, entretanto, um território mais definido e uma autoridade
legitimada.
As sociedades de chefaturas acham-se segmentadas em grupos
distintos, com base em critérios socioeconômicos e religiosos. Por exemplo:
nobres, escravos, homens livres.
São sociedades não mais igualitárias; não têm propriamente um
governo, mas possuem autoridade centralizada. Não há propriedade privada,
nem mercado, nem classes socioeconômicas definidas. Faltam-lhes uma
hierarquia propriamente política e uma administração específica.
O que caracteriza fundamentalmente as chefaturas é a acentuada
desigualdade entre os grupos, na sociedade. No alto da pirâmide social,
encontra-se o chefe; abaixo dele, sucessivamente, as demais pessoas, com
grande rivalidade de status.
As chefaturas encontram-se em muitas localidades da Terra.
7.4.4
7.4.4.1
Exemplos: as civilizações arcaicas do Peru; os Ashanti da África.
Quadro 7.1 – Bases econômicas e regulação política de bandos, tribos,
chefaturas e estados
TIPO SOCIOPOLÍTICO TIPO ECONÔMICO EXEMPLO TIPO REGULAÇÃO
Bando Coletores Esquimós, Pigmeus Local
Tribo Horticultura, pastoreio Yanomami, Masai, Tupi-guarani Local, temporariamente regional
Chefatura Horticultura produtiva Civilizações peruanas, Ashantis Regional permanente
Estado Agricultura, Indústria Mesopotâmia, Brasil contemporâneo Regional permanente
Fonte: Kottak (2010). Adaptado pelo atualizador.
Na opinião de Kottak (2010), essa é uma visão evolucionista da
sociedade. Hoje em dia, em uma visão estruturalista da sociedade (veja
Capítulo 13), nenhuma dessas entidades deve ser estudada como uma unidade
independente de organização política, uma vez que todas coexistem dentro
dos Estados-Nação e estão sujeitas a controle estatal.
Estados
Nas sociedades organizadas em Estado, persistem muitas
características das chefaturas, mas o que as distingue é uma nova forma de
integração socioeconômica, que envolve a burocracia e a força legitimada.
Elas têm uma existência legal, que interfere e regula as relações entre
indivíduos e grupos.
Sociedades sem Estado
Mesmo os grupos humanos mais simples e isolados possuem alguma
forma de governo. Por isso, o mundo primitivo oferece exemplos de
diferentes e numerosos tipos. Nas sociedades sem Estado, o governo é
7.4.4.2
informal, sem autoridade centralizada, onde as funções políticas são
exercidas por subgrupos, não havendo propriamente um chefe.
Organização indiferenciada. Nesse tipo de organização, as relações
sociais acham-se intimamente ligadas ao parentesco e são comumente
encontradas nas hordas e bandos. Entre estes, a família, geralmente, é
patriarcal, a descendência, patrilinear e o governo, gerontocrático (de homens
idosos). Exemplos: os esquimós do Alasca; os bosquímanos do Sul da
África.
Linhagem segmentária. Nesse sistema de organização política,
atribui-se o poder de decisão às linhagens, ou seja, aos grupos de parentesco
que se consideram descendentes de um ancestral comum (veja Seção 5.3.8,
a). As tribos dividem-se em segmentos, e estes, em linhagens. São formações
sociais baseadas também no parentesco. Exemplo: os Nuer do Sudão,
segundo Evans-Pritchard, vivem em uma “anarquia organizada”, sem
instituições legais e onde os valores políticos são relativos.
Organização em grupos de idade. Sistema político pouco difundido,
sendo o grupo de idade a base da organização e cujos chefes têm a direção
dos assuntos de governo e a responsabilidade da integração política.
Exemplo: os Nyakyusa.
Conselhos de aldeias e associações. Tipo de organização política em
que a autoridade emana dos conselhos das aldeias que constituem o próprio
governo tribal. Exemplos: os Pueblos dos Estados Unidos; os lbos da África.
Aldeias com chefes. O papel do chefe ou líder ganha grande projeção
nesse tipo de organização política, na qual o parentesco tem importância
secundária. O indivíduo, investido de autoridade política, goza da confiança e
recebe o apoio dos grupos vizinhos, responsabilizando-se pela união e pelo
controle do seu grupo local. Suas qualidades pessoais permitem-lhe exercer
essa liderança. Exemplo: os Shoshones dos Estados Unidos.
Sociedades de Estado
À medida que as sociedades se tornam mais complexas, em virtude da
estabilidade econômico-social e da fixação em aldeias permanentes, vão
exigindo lideranças mais estáveis e instituições governamentais mais efetivas.
Estabelecem-se as sociedades de Estado nas quais a autoridade é
exercida por chefes, reis, conselhos e mesmo por associações de caráter
apolítico, e abrange toda a sociedade.
Chefias. A necessidade de liderança faz surgir o chefe, que se
distingue socialmente pela autoridade a ele conferida. O exercício da chefia,
assim como suas funções e poderes, varia entre os diferentes grupos
humanos, podendo ser hereditário ou não.
Muitas vezes, faz-se a distinção entre chefes de paz e chefes de guerra,
com atribuições específicas nas relações tribais internas e externas.
Exemplos: os Iroqueses e os Cheyennes dos Estados Unidos.
Em algumas tribos africanas, a função do chefe é múltipla: legisla,
controla a distribuição e o uso da terra, organiza caçadas, cerimônias
religiosas, como também orienta o grupo na defesa e na guerra.
Portadores de privilégios, os chamados “chefes cerimoniais” gozam de
grande prestígio e são os promotores dos festins cerimoniais, contando ainda
com a aprovação de todos os membros do grupo. Exemplo: os
Trobriandeses.
Reinos. Não é mais a linhagem ou outro segmento que retém a
autoridade, mas um governo central, com um chefe supremo exercendo o
poder sobre toda a sociedade. É sempre hereditário e tem como função
garantir a lei e a paz através da estabilidade na administração do governo. Se,
por um lado, representa segurança para os membros da sociedade, por outro
pode levar à tirania, à corrupção, em decorrência da possível incapacidade e
incompetência de chefes que a hereditariedade colocou no poder.
Na Polinésia e na África, é comum a primogenitura, ou seja, o filho
mais velho ser o sucessor do pai.
Considerando que nas sociedades ágrafas o mundo material acha-se em
perfeita conexão com o sobrenatural, os chefes políticos e os chefes
sacerdotais agem de forma harmoniosa e o controle das ações dos indivíduos
está relacionado com o sobrenatural.
Nas sociedades de horticultores, os chefes têm poderes não apenas
políticos, mas são responsáveis também pelo bom desenvolvimento da
Economia e pela segurança religiosa do grupo. Exemplo: os Ashanti.
Conselhos. Acham-se presentes em todas as sociedades e compõem-se
de um conjunto de conselheiros, geralmente homens adultos. Quando
formado de homens idosos, chama-se gerontocracia. O conselho tem caráter
democrático e é integrado pelos chefes dos bandos que participam das
decisões. Exemplos: os aborígenes australianos e os astecas.
Associações. São grupos não políticos, extraestatais, que colaboram na
determinação e na execução das normas políticas: grupos de homens,
sociedades secretas (África, Melanésia), sociedades militares (Índios das
Planícies, Estados Unidos), conselhos tribais, castas (Índia) e outros.
7.5
7.5.1
a.b.
c.d.
e.
f.
g.
h.
7.5.2
Processo político
Para Kottak (2010), o processo político forma parte de um sistema
mais abrangente de controle social experienciado no cotidiano das pessoas.
Ninguém vive em uma tribo, chefatura ou estado isolado.
Normalmente, os grupos estudados por antropólogos vivem em
Estados-Nação onde os indivíduos convivem com diversos níveis e tipos de
autoridade política e vivenciam outras formas de controle social.
Funções
As funções do processo político consistem em:
definir as normas comportamentais de conduta aceitável; atribuir
força e autoridade; decidir as disputas; redefinir as normas de
conduta; organizaros trabalhos públicos grupais (caçadas tribais,
construções, consertos, hortas etc.); ocupar-se do mundo
sobrenatural através do controle religioso (rituais e cerimoniais);
organizar a Economia (manter mercados e desenvolver o
comércio); responsabilizar-se pela defesa do território e promover
a guerra contra o inimigo.
A política é comportamento social não isolado, mas integrado aos
demais aspectos da cultura: organização econômica, sistema de parentesco,
hierarquização social, organização religiosa etc., como se pode inferir ao se
proceder à análise das funções que o processo político deve desempenhar no
interior das sociedades.
Atributos
Atributos específicos que permitem a fácil identificação do processo
a.
b.
c.
político:
Público e não privado: sua ação atinge toda a sociedade,
amplamente considerada, tendo poder de decisão nas ocorrências
de âmbito público, não sendo, portanto, um assunto nem
individual, nem familiar.
Orientado para uma finalidade: tem o objetivo de satisfazer aos
interesses públicos em detrimento dos interesses individuais ou
grupais. Preocupa-se com os meios e os fins para atingir os seus
propósitos, ou seja, compete à política a tomada de decisões
pertinentes, de definições das normas sociais e dos valores da
cultura.
Atribui e centraliza o poder: as pessoas que tomam decisões e
exercem o poder na esfera pública estão investidas de autoridade
política, presente mesmo nos grupos mais primitivos. É a
autoridade que obriga o cumprimento das normas estabelecidas;
para tanto, lança mão de sanções e de coerções.
Nas sociedades simples, o poder e as lideranças surgem naturalmente,
enquanto nas sociedades complexas os mecanismos de controle do cargo, do
poder de decisão, da legitimidade da administração política requerem maior
complexidade, dadas as exigências impostas pela própria cultura.
	7 Organização Política
	7.1 Conceituação
	7.2 Elementos da organização política
	7.2.1 Parentesco
	7.2.2 Religião
	7.2.3 Economia
	7.3 Natureza da organização política
	7.3.1 Estado
	7.3.2 Governo
	7.4 Níveis de desenvolvimento
	7.4.1 Bandos ou hordas
	7.4.2 Tribos e nações
	7.4.3 Chefaturas
	7.4.4 Estados
	7.5 Processo político
	7.5.1 Funções
	7.5.2 Atributos

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