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9 A profissão secretarial A profissão secretarial surgiu em meio à intelectualidade e aos centros de poder e decisão. Os escribas foram os primeiros a exercerem essa função, por dominarem a escrita e terem um amplo conhecimento cultural, necessários para assessorar os governantes e líderes em suas batalhas. Mais tarde, com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, e os avanços da ciência e da tecnologia, ocorreu um salto quan- titativo e qualitativo na profissão, de maneira que, atualmente, o secretário ocupa um espaço evidente nas organizações e é considerado um profissional essencial nesses ambientes. Este capítulo dedica-se à contextualização da profissão na sociedade. Para tanto, apresenta-se a sua origem, evolução, funções e atividades atuais. Origem da profissão A profissão de secretariado surgiu nas civilizações antigas, na figura dos escribas, que foram os primeiros a serem conhecidos como assessores, profissionais que do- minavam a escrita, com alto nível de intelectualidade e conhecimento cultural e, por isso, ocupavam lugares de prestígio na sociedade, eram respeitados por todos, além de colaborarem na perpetuação do conhecimento por meio da prática da escrita. “Cabia ao escriba exercer funções de secretário, copista, contador, geógrafo, arquivista, histo- riador, linguista e escritor, podendo atuar ainda como guerreiro quando acompanhava seu líder em batalhas e viagens exploratórias” (NONATO JÚNIOR, 2009, p. 81). Ocupa- vam também cargos de considerável importância nos negócios públicos das províncias em que estavam inseridos, sendo que, muitas vezes, trabalhavam como secretários de Estado e em diversas atividades respeitáveis. Várias profissões atuais têm origem no fazer do escriba, especialmente a secre- tarial, que se dedica ao assessoramento a empresas públicas e privadas, necessitando agir com ética, profissionalismo, competência e demonstrar confiança. Esses atributos já faziam parte do trabalho do escriba. A partir da democratização na Grécia e da proliferação de novas ideologias religio- sas e políticas no sudeste do continente europeu, que possibilitou ao povo facilidades para aprender a ler e a escrever, a classe dos escribas foi enfraquecida e dividiu-se em Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 9 13/10/2010 16:44:46 10 A p ro fis sã o se cr et ar ia l dois grupos. No primeiro, permaneceram os escribas que continuaram em posições de destaque, como professores, filósofos e escritores devido ao seu domínio intelectual e vasta cultura. No segundo grupo ficaram os escribas prisioneiros de guerra, submis- sos e explorados, recebiam e executavam ordens de seus superiores, restringindo-se à atividade de copista. Com isso, “[...] a competência intelectual dos assessores não era mais conhecida pelo povo, pois todo seu trabalho era tomado como sendo obra de seu superior” (NONATO JÚNIOR, 2009, p. 86), o que acabou nublando a imagem desse profissional, que até então ocupava lugar de destaque na sociedade. Dessa forma, o primeiro grupo dos escribas ligou-se a profissões renomadas, en- quanto, o segundo, mascarou a função dos escribas pelo trabalho servil e operacional que realizava. A profissão secretarial se desenvolveu com o segundo grupo de escribas, por isso, por um período, esteve sob o comando de superiores, devendo deter-se ao solicitado por eles ou pedir permissão para qualquer iniciativa, restringindo sua atua- ção a tarefas operacionais e obediência de ordens. Esses fatos, de certa forma, expli- cam o porquê da profissão ainda hoje ser vista como excessivamente técnica e prag- mática, desconsiderando toda a sua evolução ao longo da história. Evolução da profissão A Revolução Industrial possibilitou o incremento tecnológico em máquinas e equipamentos de produção, logo modificou o sistema produtivo, as relações de traba- lho e os processos empresariais. Com isso, a presença de assessores de executivos, para a realização de tarefas administrativas, passou a ser fundamental, retomando parte do prestígio atribuído à profissão, em sua origem com os escribas. Nessa época a profissão era eminentemente desenvolvida pelos homens. A pri- meira iniciativa de inserir o sexo feminino no trabalho secretarial ocorreu na Europa. Napoleão Bonaparte informou sua esposa que levaria uma secretária para registrar seus feitos na batalha contra a Rússia, porém, ela não concordou e solicitou que um homem o acompanhasse na guerra. Assim, Bonaparte levou o linguista francês Fran- çois Champollion, que se tornou um dos maiores secretários de todos os tempos. Champollion deixou um importante ensinamento: “[...] o labor da assessoria deve ser feito com grande aprofundamento teórico e uma ampla visão cultural sobre a realida- de assistida” (NONATO JÚNIOR, 2009, p. 89). Ensinamento que vem sendo seguido pela maioria dos profissionais de secretariado em sua prática de trabalho. Contudo, devido às diversas guerras em nível mundial ocorridas nos séculos XIX e XX, levando um grande número de homens para os campos de batalha, surgiu a Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 10 13/10/2010 16:44:46 11 A p rofissão secretarial necessidade de as mulheres ocuparem postos de trabalho. As mulheres, acostumadas com os afazeres domésticos e com o cuidado dos filhos, levaram para os escritórios esse perfil. Preocupavam-se, portanto, com a organização do ambiente, visando ao conforto e bem-estar das pessoas que lá conviviam, o que foi importante para aquele momento. As mulheres, historicamente, sofrem preconceitos e discriminações da socieda- de. O fato de terem saído do espaço do lar, e irem para o espaço profissional, serem remuneradas pelo trabalho e com isso contribuírem com o sustento da família foi um marco significativo na busca da igualdade diante do sexo masculino. A discriminação, entretanto, continuou nos ambientes de trabalho. As mulheres, tidas como proprie- dade dos homens, tiveram que se sujeitar a situações bastante desiguais, jornada de trabalho, remuneração, atividades, sobretudo, à dominação exercida pelos homens, que eram os que detinham o poder. Isso reduziu as contribuições das mulheres, logo, das secretárias, pois elas ficaram restritas à execução de tarefas simples e ao mando dos superiores, sem terem a oportunidade de desenvolver seus potenciais, ficando im- plícito um perfil submisso e expectador. Aos poucos, as mulheres foram conquistando a igualdade e se consolidando no mercado de trabalho. A profissão secretarial foi uma das áreas em que as mulheres se firmaram e passaram a ser a maioria. Ao mesmo tempo, com a evolução da ciência e dos meios tecnológicos, alicerçados pelas transformações mundiais na área social, política e econômica, especialmente a partir da década de 1950, houve um salto qua- litativo no fazer da assessoria, impulsionando o desenvolvimento e a valorização da profissão secretarial. De auxiliar, o secretário se transformou em assistente de executi- vos, ganhando espaço diferenciado nas organizações, fortalecendo suas habilidades e mostrando sua competência para desempenhar diversas funções nas organizações. No Brasil, assim como nos demais países, a profissão começou a se destacar em meados de 1950 e já era exercida eminentemente por mulheres. A atuação secretarial focalizava o desenvolvimento das técnicas secretariais, que foram sendo aprimora- das a partir das inovações tecnológicas e da complexificação dos processos empresa- riais. O fato de os profissionais demonstrarem fácil adaptação às mudanças e a busca pelo aperfeiçoamento, inclusive em termos de educação profissional, promoveu o crescimento da profissão. Com o crescimento, a categoria se organizou em entidades no Brasil cuja primeira conquista foi a Lei 6.556, de 5 de setembro de 1978, que dispõe sobre a atividade de secretário. Essa lei foi o primeiro documento oficial da categoria, embora tenha consi- derado o trabalho secretarial como atividade e não como profissão. Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb11 13/10/2010 16:44:46 12 A p ro fis sã o se cr et ar ia l Lei 6.556, de 5 de setembro de 1978 Dispõe sobre a atividade de Secretário e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1.º O exercício da atividade de Secretário, com as atribuições previstas nesta Lei, será permitido ao portador de certificado de conclusão do curso regular de Secretariado, em nível de 2.º grau. Art. 2.º Poderá beneficiar-se da prerrogativa do artigo anterior o profissional que conte dois ou mais anos, atividades próprias de Secretário, na data da vigência desta Lei, e que apresente certificado de curso em nível de 2.º grau. Art. 3.º São atribuições do Secretário: a) executar tarefas relativas à anotação e redação, inclusive em idiomas estrangeiros; b) datilografar e organizar documentos; c) outros serviços de escritório, tais como: recepção, registros de compromissos e informações, principalmente junto a cargos diretivos da organização. Parágrafo único. O secretário procederá segundo normas específicas rotineiras, ou de acordo com seu próprio critério, visando a assegurar e agilizar o fluxo dos trabalhos administrativos da empresa. Art. 4.º O disposto nesta Lei aplica-se à iniciativa privada, às empresas com maioria de ações do Estado ou da União, às empresas públicas e às fundações. Parágrafo único. O disposto nesta Lei não se aplica à administração direta e às autarquias da União. Art. 5.º O regulamento desta Lei disporá sobre as modalidades de Secretariado, definindo categorias e hierarquia salarial, inclusive para os fins previstos no Art. 6.º. Art. 6.º O exercício da atividade de Secretário depende de registro na Delegacia Regional do Trabalho. Parágrafo único. O Ministério do Trabalho expedirá instruções sobre o registro referido neste artigo. Art. 7.º Na Carteira de Trabalho e Previdência Social deverá ser anotada a categoria de Secretário, dentre aquelas mencionadas no regulamento. Art. 8.º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação [...] Como retrata a referida lei, as atividades costumeiramente desenvolvidas pelos secretários se caracterizavam pela anotação de recados, atendimento telefônico, regis- tros de entrevistas, arquivamento, redação de ditados, entre outras. A preocupação era voltada à eficiência na realização de tais tarefas, de maneira a agilizar o trabalho. Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 12 13/10/2010 16:44:46 13 A p rofissão secretarial O reconhecimento do secretariado como profissão ocorreu sete anos depois, por meio da Lei 7.377, de 30 de setembro de 1985, que também define o enquadramento funcional do secretário executivo e do técnico em secretariado, bem como as atribui- ções de cada um. A redação, dos incisos I e II do artigo 2.º, do caput do artigo 3.º, do inciso VI do artigo 4.º e o parágrafo único do artigo 6.º, foi alterada em 1996 pela Lei 9.261. A versão final da lei que regulamenta a profissão secretarial é a que segue. Lei 7.377, de 30/09/85 com alterações da Lei 9261, de 10/01/96 Dispõe sobre o exercício da profissão de secretário e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1.º O exercício da profissão de secretário é regulado pela presente Lei. Art. 2.º Para os efeitos desta Lei, é considerado: I - Secretário Executivo - o profissional diplomado no Brasil por Curso Superior de Secretariado, reconhecido na forma da Lei, ou diplomado no exterior por curso de Secretariado, cujo diploma seja revalidado no Brasil, na forma da Lei. II - Técnico em Secretariado - o profissional portador de certificado de conclusão de curso de secretariado, em nível de 2.º grau. Art. 3.º Fica assegurado o direito ao exercício da profissão aos que, embora não habilitados nos termos do artigo anterior, contem, pelo menos, 5 (cinco) anos ininterruptos, ou 10 (dez) intercalados, de exercício em atividades próprias de secretaria, na data de vigência desta Lei [...]. Art. 4.º São atribuições do Secretário Executivo: I - planejamento, organização e direção de serviços de secretaria; II - assistência e assessoramento direto a executivos; III - coleta de informações para a consecução de objetivos e metas de empresas; IV - redação de textos profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro; V - interpretação e sintetização de textos e documentos; VI - taquigrafia de ditados, discursos, conferências, palestras de explanações, inclusive em idioma estrangeiro; VII - versão e tradução em idioma estrangeiro, para atender às necessidades de comunicação da empresa; VIII - registro e distribuição de expediente e outras tarefas correlatas; IX - orientação da avaliação e seleção da correspondência para fins de encaminhamento à chefia; X - conhecimentos protocolares. Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 13 13/10/2010 16:44:47 14 A p ro fis sã o se cr et ar ia l Art. 5.º São atribuições do Técnico em Secretariado: I - organização e manutenção dos arquivos de secretaria; II - classificação, registro e distribuição de correspondência; III - redação e datilografia de correspondência ou documentos de rotina, inclusive em idioma estrangeiro; IV - execução de serviços típicos de escritório, tais como recepção, registro de compromissos, informações e atendimento telefônico. Art. 6.º O exercício da profissão de Secretário requer prévio registro na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho e far-se-á mediante a apresentação de documento comprobatório de conclusão dos cursos previstos nos incisos I e II do Art. 2.º desta Lei e da Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS. Parágrafo único. No caso dos profissionais incluídos no art. 3.º desta lei, a prova da atuação será feita por meio de anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social de qualquer outro meio permitido em Direito. Art. 7.º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 8.º Revogam-se as disposições em contrário. A década de 1980 foi decisiva para a ascensão da profissão secretarial. Muitas foram as conquistas nesse período, iniciando com a regulamentação da profissão (Lei 7.377/85). Na sequência, em 1987, houve o enquadramento sindical (Portaria 3.103, de 29/04/1987) como categoria profissional diferenciada. A partir de então, as entidades de classe existentes foram se constituindo em sindicatos para defender os direitos da profissão. Atualmente existem 25 sindicatos estaduais unidos em favor da área secre- tarial, assim distribuídos pelo país: Quadro 1 – Sindicatos do secretariado no Brasil Região Estado Sindicato Norte Amapá SINSEAP Amazonas SINSEAM Pará SINSEPA Roraima SINSERR Nordeste Alagoas SINSEAL Bahia SINDSEB Ceará SINDSECE Maranhão SINDSEMA Paraíba SINSEPB Pernambuco SINSEPE Piauí SINSEPI Rio Grande do Norte SINSERN Sergipe SINSESE (F EN A SS EC , 2 01 0) Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 14 13/10/2010 16:44:47 15 A p rofissão secretarial Região Estado Sindicato Sudeste Espírito Santo SINDESEC Minas Gerais SINDSEMG Rio de Janeiro SINSERJ São Paulo SINSESP São Paulo/ABC SINSEC São Paulo/Campinas SINSECAMP Centro-Oeste Distrito Federal SISDF Mato Grosso SINSEMAT Mato Grosso do Sul SINSEMS Sul Paraná SINSEPAR Santa Catarina SINSESC Rio Grande do Sul SISERGS O próximo avanço, ainda em agosto de 1988, foi a criação da Federação Nacio- nal de Secretárias e Secretários (Fenassec), em Curitiba. Atualmente essa federação é sediada em Recife e tem como foco de atuação: educação profissional, conscientiza- ção de cidadania, assuntos legais (acordos salariais, assistência jurídica), imagem da profissão e do profissional, eventos/cursos sociais e de integração (FENASSEC, 2010). A respeito da fundação da federação, Nonato Júnior (2009, p. 107) lembra que em ou- tubro de 1988 seria outorgada a nova Constituição brasileirae as categorias profissio- nais, que até então não tinham uma federação exclusiva, poderiam fazer parte de uma federação majoritária de trabalhadores. Por isso a criação da Fenassec nessa data foi fundamental para a área, sobretudo, para a ascensão da profissão. Em 1989, tem-se outra importante conquista: o Código de Ética do Profissional de Secretariado, composto de oito capítulos, que tratam dos princípios, direitos, deveres, sigilo profissional e relações entre profissionais, com empresas e entidades. Assim, se chega na década de 1990 com os principais documentos necessários a uma categoria profissional no país: regulamentação, enquadramento sindical, sindicatos estaduais, federação nacional e código de ética. Formação em secretariado A partir da evolução da profissão, as instituições de ensino superior do país pas- saram a ofertar o bacharelado em secretariado executivo com o propósito de melhor preparar e capacitar os profissionais para as novas demandas do mercado, por meio de uma formação sólida, abrangente e interdisciplinar. O primeiro curso foi criado em 1969 pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas foi na década de 1990 que o ensino superior em secretariado se proliferou, juntamente com eventos e produção acadêmica na área. Foi nesse período, também, que a procura por tal formação cresceu (F EN A SS EC , 2 01 0) Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 15 13/10/2010 16:44:47 16 A p ro fis sã o se cr et ar ia l consideravelmente. Atualmente o curso é ofertado na maioria dos estados brasileiros e possui Diretrizes Curriculares Nacionais específicas (Resolução 03/2005 da Câmara de Educação Superior). Além do bacharelado em secretariado executivo, acompanhando as políticas educacionais nacionais, atualmente também são ofertados cursos superiores de tec- nologia em secretariado. Em maio de 2009, o Ministério da Educação publicou o novo Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia, que organiza e orienta a oferta de cursos tecnológicos em todas as áreas no país. [...] formar profissionais aptos a desenvolver, de forma plena e inovadora, as atividades em um determinado eixo tecnológico e com capacidade para utilizar, desenvolver ou adaptar tecnologias com a compreensão crítica das implicações daí decorrentes e das suas relações com o processo produtivo, o ser humano, o ambiente e a sociedade. (BRASIL, 2009) O Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia está organizado em 10 eixos tecnológicos, sendo um deles de Gestão e Negócios, no qual o curso de secreta- riado ficou alocado, juntamente com os cursos de comércio exterior, gestão comer- cial, gestão da qualidade, gestão de cooperativas, gestão de recursos humanos, gestão financeira, gestão pública, logística, marketing, negócios imobiliários e processos gerenciais. Em se tratando do perfil profissional do tecnólogo em secretariado, o catálogo prevê o que segue: O Tecnólogo em Secretariado planeja e organiza os serviços de secretaria de centros decisórios de uma instituição. Aplicando conceitos e ferramentas tecnológicas específicas de assessoramento, de forma a otimizar os processos vinculados a suas atividades, esse profissional assessora executivos, diretores e suas respectivas equipes, planeja, organiza, implanta e executa atividades e metas da área, eventos, serviços protocolares, viagens, relações com clientes e fornecedores, comunicação e redação de textos técnicos, além de gerenciar informações. (BRASIL, 2009) Assim sendo, a profissão secretarial, ao longo de sua história, evoluiu acompa- nhando as mudanças sociais e organizacionais, tornando-se uma categoria organizada que luta pelos seus direitos e reconhecimento. Com a qualificação dos profissionais em nível superior, que possibilita a atuação ainda mais condizente com as necessidades das organizações, a visão unilateral impregnada na profissão vem sendo desmistifica- da, consequentemente, o campo de atuação é ampliado. Os secretários vêm assumin- do mais responsabilidades, agregando outras atividades e funções. Funções e atividades secretariais Desde os anos 1950 percebe-se uma transformação no fazer do secretário, logo, no perfil profissional. A passagem da sociedade industrial para a sociedade do conhe- cimento influenciou intensamente essa transformação, uma vez que as organizações Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 16 13/10/2010 16:44:47 17 A p rofissão secretarial passaram a necessitar de mão de obra qualificada e diferenciada, pois o conhecimento técnico já não era suficiente para responder com competência à complexidade dos processos empresariais e às demandas do mercado. Por isso, os secretários contemplaram em seu trabalho novas metodologias e tec- nologias que muito contribuíram e contribuem para o processo organizacional. Não se trata de excluir da profissão as técnicas e procedimentos, mas de agregar uma atitude diferenciada diante de tais técnicas, atitude de reflexão sobre o fazer e de interferência nessa realidade, e não de alienação e submissão. Evidentemente, toda tecnologia que passa a fazer parte do cotidiano das empre- sas precisa ser administrada por um ser que reflete sobre o fazer, e com isso cria e so- luciona. A automação dos ambientes de trabalho, isoladamente, não acarreta um pro- fissional mais competente, mas sim a sua capacidade de utilizar inteligentemente os meios tecnológicos em prol de um trabalho mais eficaz e que apresente maior índice de produtividade e qualidade. Mudanças no perfil do secretário são sinalizadas por Guimarães (2001), no quadro 2, que faz um paralelo entre as atividades antes realizadas e as atuais, referindo-se a meados de 2000. Quadro 2 – As mudanças na atividade secretarial O que se fazia antes O que se está fazendo hoje Datilografia Gerenciamento de sistemas de informação por meio do controle de rotinas automatizadas multimídia (editores de texto, agendas e planilhas eletrônicas, bancos de da- dos etc.) Envio e recebimento de correspondências Coordenação de fluxo de informações e de papéis no de- partamento, muitas vezes encaminhando-os para uma equipe de apoio. Provisão de material Coordenação de compras, cotação de materiais com for- necedores alternativos e administração dos custos do departamento. Coordenação de viagens (Incluído no segundo item). Atendimento de telefones e visitas Atendimento com enfoque de qualidade total a clientes internos e externos. Manutenção de arquivos Organização de sistemas de dados e informações em arquivos físicos e eletrônicos. Agendamento de reuniões Apoio a reuniões, já que os próprios executivos marcam seus compromissos utilizando sistemas informatizados de comunicação interna. (G U IM A RÃ ES , 2 00 1) Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 17 13/10/2010 16:44:47 18 A p ro fis sã o se cr et ar ia l O exposto no quadro 2 revela que, no final do século XX, a atuação do secretário já era outra, em termos de perfil, responsabilidades e postura, quando comparada à de meados de 1950. Observa-se que as atividades já não se detêm ao operacional, mas o extrapolam, dirigindo-se ao campo gerencial. O nome das atividades é semelhante, mas a metodologia e tecnologia utilizadas são distintas, assim como o objetivo busca- do na realização delas. Medeiros e Hernandes (2003, p. 17) referem-se à mudança no perfil secretarial apontando que o secretário transformou-se em assistente executivo “[...] que domina as habilidades requeridas num escritório, demonstra capacidade para assumir respon- sabilidades sem supervisão direta e tem iniciativa para tomar decisões segundo os objetivos assinalados pela autoridade”. Os autores citam uma alteração significativa no perfil profissional que diz respeito à atuação mais autônoma, não necessitando de supervisão direta e podendo tomar decisões em torno do seu trabalho. Azevedo e Costa (2004, p. 146) igualmente indicam a alteração do perfil secreta- rial, sinalizandoa necessidade de competência em: assessoria que diz respeito à capacidade de trabalhar ao lado dos centros de poder e decisão; gestão, compreendendo o exercício das funções de planejamento, organiza- ção, liderança e controle; empreendedorismo que representa a capacidade reflexiva e criativa para iden- tificar e solucionar problemas e promover práticas inovadoras. Ao se discutir sobre atividades de uma dada profissão, também se torna impor- tante buscar dados constantes na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Mi- nistério do Trabalho e Emprego, que classifica as atividades e profissões em dez gran- des grupos (GG) por ordem de competência, sendo que o GG1 abarca profissionais com mais competência do que o GG2, e assim por diante. A CBO foi atualizada em 2002 e nessa versão o secretariado executivo ficou classificado no segundo grande grupo (GG2), denominado Profissionais das ciências e das artes e o técnico em secretariado no terceiro grande grupo (GG3), denominado Técnicos de nível médio. Os dados rela- tivos ao secretário executivo e técnico em secretariado existentes na CBO são os que seguem. Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 18 13/10/2010 16:44:47 19 A p rofissão secretarial Quadro 3 – Classificação do secretariado executivo e técnico em secretariado na CBO Código da CBO Funções Descrição sumária de suas atribuições Secretária executiva – 2523–05 Secretário bilíngue – 2523–10 Secretária trilíngue – 2523–15 Secretária executiva Assessor de diretoria, assessor de presi- dência, assistente de diretoria, assistente de presidência, auxiliar administrativo de diretoria, auxiliar administrativo de presi- dência, secretário de diretoria, secretário de gabinete, secretário de presidência, secretário pleno, secretário sênior Assessoram os executivos no desem- penho de suas funções, gerenciando informações, auxiliando na execução de suas tarefas administrativas e em reuniões, marcando e cancelando com- promissos. Coordenam e controlam equipes (pes- soas que prestam serviços à secretária: auxiliares de secretária, office boys, co- peiras, motoristas) e atividades; contro- lam documentos e correspondências. Atendem clientes externos e internos; organizam eventos e viagens e prestam serviços em idiomas estrangeiros. Podem cuidar da agenda pessoal dos executivos. Técnico em secreta- riado – 3515–05 Técnico em secretariado, secretária (téc- nico em secretariado - português), se- cretário (técnico de nível médio), secre- tário-assistente administrativo (técnico), técnico em secretariado (português). Transformam a linguagem oral em es- crita, registrando falas em sinais, deco- dificando-os em texto; revisam textos e documentos; organizam as atividades gerais da área e assessoram o seu de- senvolvimento; coordenam a execução de tarefas; redigem textos e comuni- cam-se, oralmente e por escrito. Importante destacar que o GG4 corresponde aos Trabalhadores de serviços ad- ministrativos e que, apesar do trabalho secretarial estar relacionado aos serviços ad- ministrativos, os secretários executivos não foram enquadrados no GG4 porque esse grupo é composto por profissionais que têm um perfil executor, realizam atividades burocráticas de ordenar, armazenar, computar e recuperar informações, bem como ati- vidades de fornecimento de serviços a clientes. Esse perfil profissional é contrário ao do secretário executivo na atualidade, o que é comprovado até mesmo pela descrição sumária das atribuições (terceira coluna do quadro 3) (FENASSEC, 2010). O secretá- rio executivo atua em funções de assessoria, gestão e consultoria, possui formação interdisciplinar, elevado nível intelectual e competências técnicas, comportamentais, cognitivas e analíticas. (B RA SI L, 2 00 9) Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 19 13/10/2010 16:44:47 20 A p ro fis sã o se cr et ar ia l A respeito das atividades, atualmente desenvolvidas pelos secretários, apresen- tam-se ainda dados de uma recente pesquisa realizada com 59 secretários atuantes em empresas privadas do interior do Rio Grande do Sul, em que se levantaram as ativida- des cotidianas desses profissionais, conforme o exposto a seguir. Quadro 4 – Atividades atualmente desenvolvidas pelos secretários Atividades atualmente desenvolvidas pelos secretários Aquisição, armazenamento, distribuição, tratamento e disponibilização de informações por meio de Sis- temas de Informações Gerenciais (SIG) e Sistemas de Apoio à Decisão (SADs). Uso de editores de textos, planilhas, apresentações gráficas, correios eletrônicos, pesquisas virtuais. Coordenação do fluxo das informações e dos documentos e correspondências, assegurando a circula- ção adequada das informações. Gerenciamento do estoque e dos custos. Levantamento de preços e efetuação de compras. Planejamento de viagens, organização da documentação para a viagem. Atendimento aos diversos públicos, conciliando os interesses e visando à satisfação. Faz a ligação entre a empresa e os clientes e entre os superiores e funcionários. Gestão documental em arquivos físicos e eletrônicos. Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED). Planejamento, acompanhamento, registro e apoio em reuniões. Gerenciamento da agenda da empresa e dos superiores, buscando otimizar o tempo. Controles diversos que orientam a tomada de decisão dos superiores. Planejamento, execução e avaliação de eventos internos e externos. Identificação e solução de problemas. Planejamento, organização, direção e controle das suas práticas. Observa-se que a atuação secretarial é ainda mais abrangente e complexa nos dias de hoje. O secretário envolve-se com a projeção de ações, delineamento dos ob- jetivos, definição de prioridades e prazos e a metodologia a ser adotada na ação, ou seja, preocupa-se com o que fazer, para que fazer, quando fazer, além do como fazer. Igualmente, identifica e soluciona problemas, sugere e estimula mudanças, concilia interesses pessoais e empresariais. Com visão holística, criativa e flexível, o secretário colabora profundamente na gestão da informação e dos documentos, na otimização do tempo, na organização interna, na satisfação dos clientes internos e externos e esses fatores são significativos para as organizações porque interferem diretamente no desenvolvimento do negó- cio. Assim, a profissão secretarial vem acompanhando as mudanças de paradigmas sociais e organizacionais, buscando o aperfeiçoamento e a agregação de valores em seu trabalho. (D U RA N TE ; S A N TO S, 2 01 0) Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 20 13/10/2010 16:44:47 21 A p rofissão secretarial A profissão secretarial conquistou um espaço mais evidente nas estruturas orga- nizacionais, uma participação e interferência mais amplas nos processos empresariais, sobretudo, maior autonomia para gerir o seu trabalho e tomar decisões inerentes ao seu campo de atuação. Desse modo, a atuação do secretário hoje é muito mais estraté- gica do que operacional, fazendo-se, portanto, respeitada e valorizada pelo mercado. O perfil executor está ficando para trás devido à qualificação dos profissionais e a inter- venção apropriada na realidade. Texto complementar Níveis de atuação do profissional de secretariado (SIQUEIRA, 2005, p. 14) A profissão de secretariado, assim como outras profissões, vem passando por mudanças, tanto na sua forma quanto na amplitude de atuação. Esse fenômeno visa atender a uma demanda do novo cenário empresarial. Demanda essa que exige profissionais ativos, com sólidas competências técni- cas e humanas, capazes de absorver novas atribuições e com visão multidisciplinar. Esta postura garantirá o aproveitamento das oportunidades de mercado, com foco na gestão e maximização de resultados para a organização em que atua. Esse artigo é uma contribuição para suscitar a necessidade de reflexões, dis- cussões e ações sistematizadas. O objetivo é atender a demanda de mercado, em relação aoprofissional de secretariado. A base para as considerações aqui expostas resulta de observação, análise e pesquisa da realidade e das tendências de merca- do; das Diretrizes Curriculares Nacionais Parecer CNE/CES 102/2004 do Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Ensino Superior e de ações já implantadas e realizadas pela Fenassec (I e II Fóruns Nacionais de Debates sobre Competências Profissionais). Qual a expectativa do mercado em relação ao profissional de secretariado? A de que esse profissional tenha sólidos conhecimentos técnicos/administrativos, visão holística da estrutura organizacional da empresa e da sua relação interna e externa, Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 21 13/10/2010 16:44:47 22 A p ro fis sã o se cr et ar ia l principalmente das especificidades da área em que atua (dinâmica dos processos, linguagem e terminologias técnicas etc.). Além disso, que ele seja eficaz no assesso- ramento do time “pool” de executivos com suas respectivas equipes/colaboradores e gestor de resultados organizacionais. Enfim, seja um prestador de serviços, apto a oferecer soluções assertivas com agilidade e precisão. Pode-se constatar, portanto, que a mudança na estrutura dessa profissão está vinculada ao delineamento de níveis de atuação, para atender as peculiaridades em- presariais. Sejam elas em função de nichos de mercado, de porte empresarial, de nível hierárquico-administrativo, de área do conhecimento (financeira, marketing, produção, suprimentos, recursos humanos, entre outras) e de perfis dos gestores/ profissionais, que o profissional de secretariado assessore. Enfim, a tendência é que para assessorar, por exemplo, a área de saúde de uma organização pública, o profissional tenha capacidade de análise, interpretação e ar- ticulação de conceitos da administração pública, bem como das especificidades da área de saúde e do perfil dos profissionais dessa área do conhecimento. Só assim conseguirá desenvolver ações e atividades que agreguem valor aos processos e pro- cedimentos, contribuindo para a consecução dos resultados. A competitividade do profissional de secretariado será assegurada na medida em que este conseguir ter habilidades e conhecimentos que agreguem valor ao tra- balho, à organização e à sociedade, aquilo que podemos chamar de valor pensante. O profissional vitorioso será aquele capaz de oferecer o que a tecnologia e mesmo outros profissionais são incapazes de oferecer. Este é o momento de arregaçar as mangas, repensar os rumos da profissão e contribuir para a evolução profissional de forma ordenada e significativa. O mundo atual exige e vai exigir, cada vez mais, pessoas capazes de quebrar as velhas regras. Capazes de abrir novos horizontes e aceitar os riscos. Topicos_especiais_em_tecnicas_de_secretariado.indb 22 13/10/2010 16:44:47
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