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Culpabilidade e suas correntes

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MÓDULO 2: DO CRIME E SUAS 
EXCLUDENTES 
 
TEMA 4 – CULPABILIDADE E SUAS 
EXCLUDENTES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Considerando o conceito analítico de crime, a depender da corrente adotada, a culpabilidade 
pode ser encarada como substrato integrante do crime ou pressuposto para a sua prática e, 
neste caso, sob a forma de elemento alheio e não um de seus componentes. 
 
Nesse sentido, temos as seguintes correntes: 
 
a) Quadripartite = entende ser o crime composto por 4 elementos, os quais sejam: fato típico 
(já estudado em aula destacada, tratando de ação/omissão justaposta a um modelo legal 
proibitivo, que alcança determinado resultado lesivo), antijurídico (igualmente já estudado em 
aula anterior, significa a contrariedade ao disciplinado pelo ordenamento jurídico, desde que 
distante de uma das causas de justificação), culpável e punível (em face do qual está cominada 
uma sanção penal). Portanto, temos: 
 
 Crime = Fato Típico + Ilícito + Culpável + Punível 
 
b) Tripartite: define ser o crime composto por apenas 3 substratos, os quais sejam: fato típico, 
antijurídico e culpável. Para esta corrente, a punibilidade não integra o conceito de crime, sendo 
apenas uma decorrência lógica, resposta penal consequentemente conferida àquele que o 
praticar. Em síntese: 
 
 Crime = Fato Típico + Ilícito + Culpável 
 
c) Bipartite: entende ser o crime composto por apenas 2 substratos, os quais sejam: fato 
típico e antijurídico. Além de igualmente excluir a punibilidade (que continua sendo encarada 
como mera decorrência), esta corrente também afasta a culpabilidade da estrutura do crime, uma 
vez caracterizada com um pressuposto para a aplicação da pena, ou seja, o autor de um crime 
– leia-se, fato típico e antijurídico – somente sofrerá a reprimenda quando provido de 
culpabilidade. Em suma: 
 
 Crime = Fato Típico + Ilícito + Culpável 
 
 
Aula I – Culpabilidade 
 
Oportuno consignar que, independentemente da corrente adota, a culpabilidade é elemento 
inerente a análise do crime, sem a qual não se permite a aplicação de sanção penal e, feitas tais 
considerações, daremos início ao seu estudo. 
 
Conceito: 
 
Em linhas gerias, a culpabilidade se traduz no juízo de censura social que recai sobre o fato 
perpetrado e seu autor, desde que presentes a imputabilidade, a potencial consciência de 
ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. 
 
Os mencionados elementos (que serão objeto específico de aulas posteriores) configuram 
situações de ausência de margem para a atuação livre pelo sujeito, seja por comprometimento 
de sua autodeterminação ou compreensão acerca dos fatos, seja por lhe faltarem alternativas 
distintas de ação, dentro do contexto fático ao qual está submetido. 
 
Como tal, a culpabilidade somente encontra razão onde houver liberdade de ação pelo agente, 
posto deter plena possibilidade de seguir o mandamento legal e, quando não o faz, enseja 
margem à reprovação social. 
 
Nesse passo, sublinha Nucci, que o juízo de censura compreende o livre-arbítrio do sujeito, a 
quem era possível e exigível comportar-se conforme o direito. 
 
Dessa forma, a culpabilidade pode ser dividia em: 
 
a) Formal = trata da censura atribuída em face de determinado comportamento, sendo 
fonte para sua criminalização, bem como para a fixação das balizas máxima e mínima 
de sua respectiva sanção. Como exemplo, podemos observar a cominação abstrata de 
penas menores aos delitos culposos, em detrimento da reprovabilidade superior aos 
delitos dolosos; e 
 
b) Material = relativa ao juízo concreto que recai sobre o agente e a infração por ele 
perpetrada, inclusive culminando na dosimetria de sua reprimenda concreta. 
 
Portanto, do ponto de vista formal, a culpabilidade é avaliada de forma abstrata para valorar 
condutas e cominar-lhes reprimendas. Sob o aspecto material, a culpabilidade é verificada 
casuisticamente, mediante as condições subjetivas do infrator e o delito cometido, como 
fundamentos para a fixação concreta de sua pena. 
 
Individualização da Pena: 
 
A dosimetria da reprimenda guarda relação de proporcionalidade direta com a culpabilidade, 
portanto, quanto maior a culpabilidade, maior será a sanção concretamente estabelecida. 
Nesse sentido, o art. 29 do CP preceitua que cada sujeito arcará com a pena na medida de sua 
culpabilidade. 
 
No mesmo bojo, devido à importância para a fixação da pena, o art. 59 do CP elenca a 
culpabilidade como primeiro vetor a ser observado pelo magistrado. 
 
Espécies: 
 
Como dito anteriormente, a culpabilidade deve ser verificada casuisticamente, incidindo sobre o 
sujeito e a conduta por ele perpetrada. Deste modo, temos: 
 
Do Fato = aferida em face da violação perpetrada pelo agente, avaliando aquilo o que fez, em 
detrimento do que ele é, ou seja, partindo da prática do fato típico e antijurídico, segue-se ao 
juízo de censura, o qual recai sobre esse comportamento que, ao seu turno influencia a pena 
(são exemplos: circunstâncias e consequências do crime); 
 
Do Autor = volta-se aos aspectos pessoais do sujeito, porém não dissociados do fato por ele 
cometido, ou seja, tais fatores, de per si, não se prestam a influir na punição, mas, quando 
atrelados a infração cometida, são considerados na dosimetria como um segundo ponto de apoio 
(exemplificando: personalidade, antecedentes e conduta social) 
 
Tipo total de culpabilidade: 
 
Teoria implementada por Jakobs, dentro da visão funcionalista, que dispõe sobre a formação de 
um tipo total de culpabilidade composto por: 
 
Tipo positivo = referente a imputabilidade, enquanto condição positivamente exigida do 
sujeito; 
 
 
 
 
Tipo negativo = relativa a condição negativa em situação de desgraça pelo sujeito, em 
face da qual torna-se inexigível o comportamento conforme o direito. 
 
Coculpabilidade: 
 
Partindo do pressuposto que ao Estado incumbe o dever de propiciar condições iguais aos 
cidadãos, esta teoria defende que os fatores sociais devem ser sopesados para a fixação da 
pena e, a depender do caso, inclusive fundamentarem a aplicação da atenuante inominada (Art. 
66 do CP). 
 
Escorada no determinismo social, a coculpabilidade atribui, parte da responsabilidade pela 
prática da infração, ao meio e as condições em que vive o sujeito, cuja omissão pelo Estado em 
fornecer assistência para a inclusão social, também deve influir na dosimetria da reprimenda. 
 
É certo, porém, que no Brasil são diversas as pessoas em situação de dificuldade, o que não se 
pode prestar de justificativa para a prática de delitos. Ao revés, inúmeros sujeitos em 
semelhantes condições, perseguem caminho distinto, buscando sobreviver pelos meios lícitos, 
reforçando quão descabida se demonstra esta teoria. 
 
Com efeito, não se deve vulgarizar a aplicação da atenuante inominada, pois, conforme salienta 
Nucci, há de existir causa efetivamente importante, de grande valor, pessoal e específica 
do agente – e não comum a inúmeras outras pessoas, não delinquentes, como seria a 
situação de pobreza ou descaso imposto pelo Estado1. 
 
Em suma, malgrado a culpabilidade também se escore em aspectos subjetivos do infrator, o 
meio em que vive, suas condições sociais ou a falta de assistência pelo Estado, não devem servir 
de subterfúgio para amenizar sua responsabilidade quanto ao delito perpetrado. Fosse assim, 
tantos outros em igual situação, também infringiriam as regras, ao invés de buscarem melhores 
condições, distantes de desvios. 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
 “Apesar das inúmeras e profundas discussões levantadas, ao longo dos séculos, a respeito da 
 
1 Curso de Direito Penal, p. 507 – consultar leitura complementar 
problemática da liberdade de vontade humana (ou seja, da questão acercade que se o homem 
é dotado de liberdade plena, mais especificamente, se é capaz de decidir livremente diante de 
alternativas que se lhe anteponham, ou não), um único fato resulta inconteste, a saber, o de que 
os debates a respeito dessa questão nunca chegaram a uma conclusão que fosse representativa 
de um entendimento assente. (...)” 
 
Para a íntegra do texto, segue link abaixo: 
 
CULPABILIDADE E LIVRE-ARBÍTRIO NOVAMENTE EM QUESTÃO. 
 
JURISPRUDÊNCIA 
 
“PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO. DOSIMETRIA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. 
CULPABILIDADE. FATOS ALHEIOS À CONDUTA CRIMINOSA IMPUTADA. ARGUMENTOS 
INIDÔNEOS. ORDEM CONCEDIDA. 
1. Assente-se, preliminarmente, que se vem firmando na jurisprudência dos Tribunais Superiores 
a convicção de que o habeas corpus não seria a via apropriada para a discussão da dosimetria 
da pena, quando há a necessidade de mergulho em dados fáticos. Assim, a correção da 
reprimenda penal nesta sede é extraordinária. 
2. No que tange à valoração da culpabilidade, como circunstância judicial (art. 59 do CP), deve-
se aferir o maior ou menor grau de reprovabilidade do agente pelo fato delituoso praticado, ou 
seja, a censurabilidade que se deve empregar diante da situação de fato em que se deu a 
indigitada prática criminosa. Assim, "A culpabilidade, para fins do art. 59 do CP, deve ser 
compreendida como juízo de reprovabilidade da conduta, apontando maior ou menor 
censurabilidade do comportamento do réu" (HC 363.948/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, 
QUINTA TURMA, julgado em 17/11/2016, DJe 23/11/2016). 
3. Não constitui fundamentação idônea para o acréscimo da pena-base do furto, portanto, 
considerar como desfavorável a culpabilidade do agente que, após ter sido colocado em 
liberdade provisória, descumpriu compromisso de comparecimento quinzenal assumido perante 
o Juízo. 
4. Na espécie, constata-se que a fundamentação é inidônea, merecendo, portanto, reparo por 
este Sodalício. 
5. Ordem concedida a fim de diminuir a pena relativa ao crime de furto para 01 (um) ano e 02 
(dois) meses de reclusão, além do pagamento de 11 dias-multa, no valor unitário do mínimo 
legal, mantidos os demais termos da sentença condenatória.” (STJ, HC 381.921/RJ, Rel. Ministra 
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe 
17/03/2017). 
 
https://jus.com.br/artigos/13089/culpabilidade-e-livre-arbitrio-novamente-em-questao
 
FONTE BIBLIOGRÁFICA 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2016 – notas 98 a 98-D do art. 22; 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Vol. 1, 
págs. 505 a 517;

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