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ENEM 2020: O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira

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Tema: O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira
Aluna Victoria Zambon Brondani	
No romance “As vantagens de ser invisível”, o personagem principal transcreve em cartas seus sentimentos e suas vivências. Esses escritos revelam um evidente quadro de depressão, pois ele demonstra um dilema relacionado ao desejo de viver ou de tirar a própria vida. Fora da ficção, as doenças mentais na sociedade brasileira também são uma realidade que, de modo infeliz, carregam estigmas que as descreditam. Nesse sentido, convém analisar os agentes sociais e públicos que influenciam a inercial problemática.
	De fato, a manutenção de crenças ultrapassadas contribuí na estigmatização de doenças mentais. De acordo com a teoria “Habitus”, de Pierre Bordieu, as estruturas sociais são incorporadas no processo de socialização, o que faz com que comportamentos e crenças sejam naturalizados e reproduzidos ao longo de gerações. Nessa perspectiva, é indubitável que determinadas estruturas sociais, relacionadas a opiniões religiosas/morais acerca da desclassificação de transtornos psicológicos, persistem entre o corpo social, o qual considera o adoecimento da mente como uma fraqueza de caráter e uma ausência de afazeres, o que, certamente, impede que uma parcela dos sujeitos recorra ao tratamento adequado. É inaceitável, portanto, a manutenção de crenças que perpetuem desordens psicológicas como pseudo-doença.
	Outrossim, a negligência estatal em oferecer subsídios para o tratamento de doenças mentais impulsiona a problemática. Para a filósofa Hannah Arendt, a essência dos Direitos Humanos é o direito de ter direitos. Sob essa óptica, percebe que a afirmação de Hannah não se concretiza, pois, o Estado não consegue ou não demonstra interesse em garantir um direito básico à população – a saúde, que engloba todo o bem-estar corporal. Essa omissão estatal, sem dúvida, gera desinformação e preconceito, como também, impede o acesso de grande parte da população a serviços psicológicos e colabora para a persistência do quadro de adoecimento mental. É inaceitável, desse modo, a continuidade da inércia governamental na resolução desse óbice e na contribuição de estigmas.
	O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira representa um desafio hodierno e, por conseguinte, medidas devem ser adotadas. Para isso, convém à mídia, como grande influenciadora de comportamentos, por meio de campanhas, que podem estar presentes em personagens de novelas e séries, abordar a real necessidade de tratamento de problemas psicológicos e do combate aos estigmas relacionados a eles, a fim de que haja uma maior compreensão sobre o assunto e um estímulo à consciência coletiva da importância de tratamentos psicológicos. Ademais, cabe ao Ministério da Saúde, por intermédio de verbas estáveis e adequadas, criar um centro itinerante de atendimento psicológico, que percorra todas as regiões do país, com a finalidade de universalizar e facilitar o acesso à saúde psicológica. Com essas medidas, os preconceitos enraizados sobre doenças psicológicas, como proposto pela teoria “Habitus”, serão, gradativamente, mitigados.

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