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A gestão do conhecimento organizacional APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, conheceremos a gestão do conhecimento organizacional. Imagine-se em uma empresa que oferece oportunidades aos seus colaboradores para se mostrarem ativamente produtivos. Agora pense em um cenário de liberdade, entusiasmo e interesse genuíno pelo trabalho. Seria algo surreal para você? Talvez não mais. O contexto corporativo agora deve ser (e em muitos casos já é) outro. Portanto, descobriremos o porquê da importância do conhecimento para as organizações da atualidade e a importância de seu controle e estímulo pelos gestores departamentais. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Defender a importância da gestão do conhecimento organizacional.• Diferenciar dado, informação e conhecimento.• Classificar conhecimento tácito e conhecimento explícito.• DESAFIO Para Tobin (1998), "A organização baseada em conhecimento é aquela que reconhece, promove e utiliza o conhecimento coletivo e as habilidades das pessoas como as maiores fontes de vantagens competitivas sustentáveis." Para este desafio você deverá pesquisar e apresentar cinco empresas que utilizam a gestão do conhecimento e informar que tipos de programas/investimentos são esses. INFOGRÁFICO O infográfico a seguir representa, de forma esquemática, os aspectos fundamentais para a implantação da gestão do conhecimento organizacional. CONTEÚDO DO LIVRO Atualmente, diante das inúmeras mudanças que o cenário oferece, compreender que a organização é um sistema vivo que interage constantemente com o meio em que se insere, mostra-se uma estratégia bastante conveniente para a busca de vantagem competitiva. A organização que possui o conhecimento como referência é aquela que reconhece, promove e utiliza-o como fonte de vantagem competitiva. As inúmeras possibilidades existentes (dados, informações e conhecimento) implicam que haja a adoção da gestão do conhecimento como um caminho para um alinhamento mais condizente com o que a empresa deseja para seu futuro, pois não é mais possível ficar esperando, é necessária ação. Neste capítulo A gestão do conhecimento organizacional da obra Gestão de pessoas, você vai identificar como e porque a gestão do conhecimento é importante para o alcance de vantagem competitiva, identificando as diferenças entre conhecimento tácito e explícito diante da diferenciação entre dados, informação e conhecimento. Boa leitura. GESTÃO DE PESSOAS Fabiane Padilha da Silva Gestão do conhecimento organizacional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar por que a gestão do conhecimento organizacional é impor- tante para o alcance de vantagem competitiva. Diferenciar dado, informação e conhecimento. Distinguir conhecimento tácito de conhecimento explícito. Introdução Atualmente, diante das inúmeras mudanças que o cenário oferece, compreender que a organização é um sistema vivo que interage cons- tantemente com o meio em que se insere é uma estratégia bastante conveniente para a busca de vantagem competitiva. A organização que possui o conhecimento como referência é aquela que reconhece, promove e utiliza-o como fonte de vantagem competitiva. As inúmeras possibilidades existentes (dados, informações e conhecimento) implicam que haja a adoção da gestão do conhecimento como um caminho para um alinhamento mais condizente com o que a empresa deseja para seu futuro, pois não é mais possível ficar esperando, é necessário agir. Neste capítulo, você vai identificar como e por que a gestão do co- nhecimento é importante para o alcance de vantagem competitiva, identificando as diferenças entre conhecimento tácito e explícito diante da diferenciação entre dados, informação e conhecimento. Gestão do conhecimento organizacional: importância para a vantagem competitiva É inquestionável que a contemporaneidade diferencia-se de outros momen- tos históricos, por exemplo, pela inserção da tecnologia em nossas vidas. A chamada era do conhecimento trouxe consigo o uso disseminado da tecnologia da informação e comunicação (TIC) e democratizou a utilização das mídias sociais. Assim, as organizações, da mesma forma que as pessoas, estão em constante adaptação diante das transformações que acontecem permanentemente, e o conhecimento passa a ser um dos insumos mais relevantes nesse cenário. A gestão do conhecimento oferece às instituições muitas possibilidades de se destacar no cenário competitivo. O conhecimento, atualmente, é visto como um dos principais ativos estratégicos das organizações. Portanto, cada vez mais, cabe à empresa administrá-lo, de forma a alavancar os resultados pretendidos (CAVALCANTI, 2011). Na esfera econômica, a competitividade pode ser estudada quando a estru- tura em que a organização se estabelece (por exemplo: monopólio, oligopólio ou concorrência perfeita) faz com que ela assuma determinada conduta, o que resultará em um desempenho proveniente das decisões tomadas pelos gesto- res. Isso significa que a interação entre concorrentes promoverá impactos na performance dos players desse mercado, fazendo com que a competitividade assuma um papel central nas relações que se estabelecem (LOPES, 2016). Deriva do panorama econômico, portanto, a competitividade, pois a forma como se apresentam organizadas as empresas, define as estratégias utilizadas, o que resultará em um determinado desempenho (LOPES, 2016). Entretanto, é na área da gestão que a competitividade, com mais destaque, revela-se como um fator decisivo para o sucesso das organizações. Porter (2004), a partir do Modelo das Cinco Forças, enfatiza que na relação com os concorrentes (diretos e indiretos) atuam cinco forças, sendo elas: ameaça à entrada de novos concorrentes; poder de barganha dos fornecedores; poder de barganha dos compradores; produtos substitutos; e intensidade da rivalidade entre os concorrentes. Essas forças refletem ameaças que são encontradas no ambiente no qual a empresa está inserida. É de Porter (2004), também, a ideia de que uma organização deve buscar liderança em custos, diferenciação ou enfoque — as chamadas estratégias competitivas. Assim, a competitividade resulta da formulação de estratégias coerentes com o ambiente em que a empresa se encontra, e, consequentemente, a escolha da estratégia definirá o caminho que a empresa decidirá tomar. Gestão do conhecimento organizacional2 A vantagem competitiva de uma empresa se dá quando ela “[...] implanta uma estratégia que os concorrentes não conseguem copiar ou consideram custosa demais para imitar” (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2011, p. 72). Para Possolli (2012, p. 96), a gestão do conhecimento é “[...] um conjunto de ações que sistematizam uma base de saberes, em operação por iniciativa de aprendizagem organizacional”. Pode-se abstrair, diante dessas duas afirma- ções, que as decisões dos gestores devem ter como base o conhecimento, e é essa sustentação que fará com que a empresa se mantenha em vantagem competitiva frente aos concorrentes. O conhecimento deriva do indivíduo, passando para o grupo e para a organização como um todo e tornando ativo esse processo, que é cíclico, pois o grupo também poderá gerar conhecimento para o indivíduo, da mesma forma que a empresa poderá ser a origem do conhecimento de um indivíduo. Pode-se concluir, dessa forma, que a gestão do conhecimento, dada como esse conjunto de saberes, afetará de forma direta a competitividade da organiza- ção, como aponta Bitencourt (2010, p. 57): “[...] a gestão sistematizada deste conhecimento como uma alternativa estratégica é que se apresenta como uma nova alternativa”. As transformações advindas do uso intensivo de tecnologias digitais fazem com que as empresas tenham que se adaptar e readaptar constan- temente. Não é mais possível que uma organização que queira manter-secompetitiva fique parada diante de tantas e frequentes mudanças no meio que a rodeia. As mudanças dos últimos anos têm obrigado as instituições a buscar formas inovar constantemente e, nesse sentido, o conhecimento mostra-se como um ativo intangível gerador de vantagem competitiva e performance sustentável. Imagine um espaço onde há um videogame e uma mesa de ping-pong. No passado, provavelmente, essa seria uma área restrita ao lazer em, talvez, um condomínio ou um hotel para passar as férias. Hoje em dia, não se vê isso dessa maneira: muitas empresas estão entendendo que os colaboradores podem ser mais produtivos quando estão em um meio onde podem relaxar. Tempos atuais requerem medidas diferentes na busca de novas ideias e, assim, as organizações devem rever seus modelos, buscando conhecimento em locais nunca antes esperados. Não é apenas frente ao computador que se tem boas ideias: sair da caixa é uma forma de ver a caixa de maneira diferente. 3Gestão do conhecimento organizacional A vantagem competitiva é, portanto, fruto do conhecimento, que, con- temporaneamente falando, não é estático, pelo contrário, é dinâmico, muda a todo o momento e está em todos os lugares. A empresa que não entender isso estará parada no tempo, esperando que algo de extraordinário lhe aconteça sem ter feito nada para merecer. A origem do conhecimento em épocas de internet e mídias sociais é muito — e cada vez mais —, líquida, permeando, assim, diversos e diferentes espaços e meios. Desse modo, a sistematização desse conhecimento mostrará que ainda há muito que se percorrer no sentido de aproveitar todo esse ativo intangível que é o conhecimento. O que se pode perceber, quando se trata de alinhar a gestão do conhecimento à vantagem competitiva, é que existem diversos caminhos a serem percorridos. Carvalho (2012) cita alguns deles: comprometimento com uma trajetória; fecundi- dade; especificação do estilo; foco na reestruturação do sistema de conhecimento, foco na reestruturação do sistema de tarefas; comunicação de valores externos e comprometimento com o desenvolvimento da competitividade. O ideal é que se tenha uma interação entre esses elementos, de forma que se construa uma vantagem competitiva sustentável para a organização, conforme mostra a Figura 1. Figura 1. Finalidade estratégica da visão do conhecimento. Fonte: Adaptada de Carvalho (2012). Defender o conhecimento e a importância da gestão do conhecimento organizacional para o alcance de vantagem competitiva é permitir que a organização se mantenha no páreo com os concorrentes. Em tempos de era Gestão do conhecimento organizacional4 do conhecimento, é aceitar que as transformações pelas quais a sociedade passa são condicionadas ao meio organizacional da mesma maneira. É, além disso, elevar o nível de cada colaborador como o detentor de insumo para o sucesso da empresa, mostrando o quanto ele é imprescindível nesse processo. Diferenças entre dado, informação e conhecimento A sociedade vem passando por transformações que exigem das empresas a adoção de novas posturas e novos modelos de gestão como uma alternativa viável frente aos acontecimentos provocados pelo avanço na utilização de tecnologias da informação e comunicação (TICs) e mídias sociais. Ao longo dos anos, a humanidade passou por diferentes momentos, que trouxeram elementos que desencadearam novos arranjos tanto no cenário individual quanto no social e profi ssional. Esses acontecimentos marcaram mudanças de hábitos e trouxeram elementos que, hoje, podem ser considerados corriqueiros (por estarem tão introjetados no cotidiano das pessoas) ou mesmo obsoletos (por não mais apresentarem o desempenho esperado). Analisando essas transformações pelas quais a humanidade passou, Tofler (1980) sustenta que existem três ondas que refletem o desenvolvimento da humanidade: a primeira onda iniciou-se há 10 mil anos e era da terra, da força braçal e de recursos renováveis que a riqueza vinha. Na segunda onda, que teve início há 300 anos, a era agrícola é substituída pela era industrial, em que as fábricas dominam o contexto e promovem a riqueza, com a padronização de processos e o surgimento do carvão, petróleo e eletricidade como novas alternativas para fonte de energia. Por fim, a terceira onda — iniciada em torno de 1955 — vem denominada como a era da informação e do conhecimento, momento em que as mudanças nas TICs marcam sobremaneira a sociedade, fazendo com que as empresas se adaptem ou morram, pois novos modelos de gestão baseiam-se, agora, no valor agregado obtido por ativos intangíveis, como o conhecimento. Nessa era, a gestão que se faz possibilita às empresas a adoção de diversos processos que venham a permitir a criação e aquisição, a organização e a arma- zenagem, a distribuição e a aplicação do conhecimento (BITENCOURT, 2010). Portanto, sistematizar o conhecimento é, além de criar, explorá-lo para trazer resultados sustentáveis à organização. E, para que haja essa sistematização, é 5Gestão do conhecimento organizacional necessário que se tenha claro que dado é diferente de informação, informação é diferente de conhecimento e, por fim, dado não é sinônimo de conhecimento. O conhecimento é derivado da informação e, por sua vez, a informa- ção se origina em dados. Essa hierarquia (BITENCOURT, 2010) aponta que a combinação entre dados, informações e conhecimento leva à sabedoria organizacional, a qual se baseia na identificação do que leva a empresa a potencializar e utilizar o conhecimento em prol de atingir uma estratégia. Assim, não basta tornar evidente o conhecimento, é necessário sua aplicação efetiva, que será apresentada por meio de produtos e serviços inovadores. A Figura 2, a seguir, mostra essa relação. Figura 2. Relação entre dados, informação e conhecimento. Fonte: Bitencourt (2010, p. 59). Nessa escala, os dados são eventos que, isoladamente, não apresentam significado, o que eles têm apenas a partir do momento em que há uma inter- pretação sobre eles. Portanto, são imprescindíveis para que haja a informação, pois esta deriva dos dados. Atualmente, com o uso massivo de tecnologia nas empresas, os bancos de dados passaram a ser elementos estratégicos, pois, ao serem trabalhados de forma correta, podem gerar informações valiosas às organizações. Gestão do conhecimento organizacional6 A área de recursos humanos se utiliza muito dos bancos de dados, pois eles podem gerar informação de grande valor para a organização, melhorando a tomada de decisão, possibilitando um melhor planejamento da área e também fornecendo insumos estratégicos para uma gestão mais assertiva. Um exemplo de dado pode ser o nível escolar de um colaborador, que pode ser usado para descobrir quantos colaboradores possuem ensino superior. Com base nessa informação, a empresa pode optar por oferecer aos colaboradores um subsídio para aqueles que se dispuserem a cursar o ensino superior, já que se sabe que as empresas com colaboradores que apresentam maiores níveis de escolaridade apresentam melhores resultados. Dessa forma, o dado é um fato relativo a eventos sem significado, a infor- mação é um dado organizado para descrever uma situação e o conhecimento é a forma como o ser humano interpreta esses dados e informações e os repassa aos demais. O dado tem sentido quando o ser humano o interpreta, transforma em informação e o aplica (conhecimento) na tentativa de alcançar os objetivos da organização. Veja, no Quadro 1, um comparativo sobre os conceitos de dado, informação e conhecimento. Fonte: Adaptado de Possolli (2012). Conceito Definição Características Exemplo Dado Engloba simples observações sobre o estado do mundo. Facilmente estruturado, obtido por máquinas, transferível. É frequen- temente quantificável. Número de pessoas acima do peso na instituição. Informação Dado dotado de relevância e propósito. Exige consenso em relação ao significado, a medição humana. Requer unidade de análise.Gráfico contendo a função e o peso de cada colaborador. Conhecimento Informação valiosa da mente humana. Engloba reflexão, síntese e contexto. Dificilmente estru- turado, obtido por máquinas, transferível. É frequentemente tácito. Ações de reeduca- ção alimentar com a contratação de uma nutricionista. Quadro 1. Conceito, definição, características e exemplos de dados, informação e co- nhecimento 7Gestão do conhecimento organizacional Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que o conhecimento trata de crenças e compromissos, sendo, assim, a função de uma atitude, perspectiva ou in- tenção específica. O conhecimento está relacionado à ação e a um contexto relacional, mostrando que ele é sustentado pela informação, mas não é o mesmo que ela. O que se pode observar com as palavras anteriores é que a informação distingue-se do conhecimento por diversas características, mas o mais importante é compreender que não há conhecimento sem informação. A humanidade vivencia uma época em que é quase imperceptível a dife- rença entre virtual e real; dessa forma, onde dados e participantes se movem continuamente, existe uma busca contínua, que é a de reunir esses dados a fim de transformá-los em informação e, o mais importante, essa informação em conhecimento. São inúmeras as possibilidades de buscar dados e infor- mações, mas ainda cabe ao ser humano a tomada de decisão sobre a forma como eles serão usados, e essa é a característica principal do conhecimento, sua utilização com uma finalidade. Foram muitos os adventos históricos até a data de hoje, entretanto, vive-se uma era em que as informações são abundantes — em função da evolução tecnológica e das comunicações —, mas o uso que se faz delas, muitas vezes, fica aquém do desejado. Quando, antigamente, precisava-se de uma infor- mação específica, demorava-se horas e até dias para encontrá-la. Hoje, em segundos, conseguimos basicamente qualquer dado ou informação por meio dos buscadores. Vive-se em uma época sem precedentes, mas cabe a nós fazer bom uso dessa quantidade enorme de informações em prol de algo útil. Isso também deve acontecer dentro das instituições, pois de nada adianta termos um mundo de oportunidades sem que saibamos aproveitar as benesses que elas podem trazer. O colaborador é o detentor supremo do conhecimento — seja ele tácito ou explícito, como veremos adiante —, e as empresas devem buscar aproveitar isso da melhor maneira possível em busca de seus objetivos. Distinção entre conhecimento tácito e explícito O conhecimento, como já foi visto, parte da utilização de dados e informações. Ele é direcionado a algo, intencional e é próprio do ser humano. Foram os autores Nonaka e Takeuchi, no livro Criação do Conhecimento (primeira edição de 1935), que troxeram a ideia da criação do conhecimento organizacional por meio da dinâmica entre o conhecimento tácito e explícito. Para Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento possui sua origem no indi- víduo, mas expande-se para o meio organizacional e interorganizacional. Assim, Gestão do conhecimento organizacional8 é o indivíduo o principal agente do conhecimento que vem a ser tangibilizado na organização e que pode vir a extrapolar os muros da mesma. Essa dinâmica configura-se por meio de uma espiral, que é a espiral do conhecimento, conforme mostra a Figura 3. Figura 3. Espiral do conhecimento. Fonte: Carvalho (2012, p. 22). Conforme essa espiral, uma das dimensões mais amplas é representada pelo conhecimento interoganizacional, que deriva da troca entre as organizações. Ele é iniciado pelo indivíduo e por meio da interação entre os conhecimentos tácito e explícito desse indivíduo, dos grupos e das organizações, assumindo um nível mais completo, profundo e significativo. Dessa maneira, as relações entre as organizações estabelecem-se com base no conhecimento único de um colaborador, que vai se ressignificando pelas contribuições de outros parceiros, mas sustentado pela mesma base. O conhecimento individual é imprescindível para o conhecimento or- ganizacional. Entretanto, esse conhecimento, mais amplo, deriva de outros recursos (tecnológicos, rotinas, ambiente), que, mobilizados, constroem a cultura da organização, denominada por Nelson e Winter (2005, p. 153) rotina: “O conhecimento reside na memória de uma organização, ou seja, em suas rotinas. Essas rotinas são a forma de estocagem do conhecimento específico da organização”. É essa rotina, específica de cada empresa, que possui como base o conhecimento, o que significa que existe, dentro de cada organização, uma infindade de possibilidades a serem aproveitadas, pois cada pessoa vem com seu histórico de vida, suas experiências, e a junção dessas unidades formará a cultura empresarial. É por isso, então, que a gestão do conhecimento deve se preocupar com esses ativos intangíveis representados pelo conhecimento tácito e explícito. 9Gestão do conhecimento organizacional O conhecimento considerado tácito é aquele derivado de experiências, percepções próprias, modos de fazer únicos. Por ser mais pessoal, mostra-se difícil de ser processado ou transmitido por qualquer forma sistemática ou lógica, sendo um obstáculo sua transposição em palavras ou números. Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que o conhecimento tácito é altamente pessoal, pautado em emoções, valores ou ideais e apresenta duas dimensões, como mostra o Quadro 2. Fonte: Adaptado de Nonaka e Takeuchi (1997). Dimensão Características Técnica Abrange um tipo de capacidade informal e difícil de definir ou habilidades capturadas no termo know-how. Cognitiva Consiste em esquemas, modelos mentais, crenças e percepções. Reflete nossa imagem da realidade (o que é) e nossa visão de futuro (o que deveria ser) e, assim, molda o nosso mundo. Quadro 2. Dimensões do conhecimento tácito Já o conhecimento explícito pode ser processado por um computador, transmitido com facilidade, armazenado em um banco de dados. É formal e sistemático, pode ser representado por números e palavras, pois pode ser facilmente comunicado e compartilhado por meio de dados, informações e modelos. Baseia-se na racionalidade e facilmente é transcrito em livros, apostilas e manuais organizacionais. É benéfico para a organização manter registrado em algum tipo de manual todo o conhecimento organizacional, porém, as empresas passam por desafios quando buscam transformar o conhecimento tácito em explícito, e, mesmo que essa busca possa prejudicar a inovação, engessando o desenvolvimento de novas ideias com burocracias e documentação excessiva, ainda é interessante manter a memória da empresa, de alguma forma, registrada (CARVALHO, 2012). Nonaka e Takeuchi (1997, p. 8) revelam que: “[...] é exatamente durante o tempo em que essa conversão ocorre — de tácito em explícito e, conforme Gestão do conhecimento organizacional10 veremos, novamente em tácito — que o conhecimento organizacional é criado”. O modelo SECI (Socialização, Externalização, Combinação e Internalização) foi criado para evidenciar essa dinâmica, como mostra a Figura 4. Figura 4. Modelo SECI. Fonte: Adaptada de Bitencourt (2010). De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), o modo denominado socia- lização viabiliza o compartilhamento de experiências e modelos mentais, permitindo a interação produtiva. O modo externalização trata do conheci- mento conceitual e enquadra as analogias e metáforas que venham a facilitar o processo de externalizar o conhecimento tácito. O modo combinação é representado pela união do conhecimento recém-criado com o conhecimento preexistente, promovendo a criação de novos produtos e serviços. Por fim, o modo internalização aborda o aprender fazendo. O Quadro 3, a seguir, baseado em Carvalho (2012), apresenta outros elementos que revelam como o modelo SECI pode ser visualizado nas organizações. 11Gestão do conhecimento organizacional Fonte: Adaptado de Carvalho (2012). Modelo de conversão Socialização Externalização Combinação InternalizaçãoDe/para Tácito/Tácito Tácito/Explícito Explícito/ Explícito Explícito/Tácito Fatores criativos Construção do campo de interação Diálogo e re- flexão coletiva significativos Associação dos conhecimentos explícitos Aprender fazendo Conteúdo criativo Conhecimento compartilhado Conhecimento conceitual Conhecimento sistêmico Conhecimento operacional Ferramentas criativas Diálogo, obser- vação, imitação e prática Metáfora, analo- gia e modelo Sistemas de comunicação e banco de dados Treinamentos, simulações, histó- rias de sucesso Resumo Experiência empírica Construção de conceito Decomposição e associação de conceitos Ampliação do conhecimento tácito Entidades criadoras Indivíduo/ Indivíduo Indivíduo/ Grupo Grupo/ Organização Organização/ Indivíduo Quadro 3. Modelo SECI O grande objetivo da gestão do conhecimento é criar, organizar e disseminar o conhecimento de modo que ele venha a agregar valor à competitividade da empresa em relação aos outros players do mercado. O que se observa é que, atualmente, embora haja inúmeros caminhos para encontrar informa- ções, o conhecimento e sua efetiva aplicabilidade ainda não são utilizados de forma estratégica. Muitas vezes, é o excesso de informação que impede um desempenho melhor, por isso, os gestores devem ater-se a esse detalhe, selecionando e fazendo triagens nos materiais que visem proporcionar aumento de conhecimento. É evidente que, nos dias de hoje, temos à disposição muita informação, entretanto, existem momentos em que é um grande desafio para os gestores transformar essa gama de informações em conhecimento. Esse ativo, tão im- Gestão do conhecimento organizacional12 portante para a vantagem competitiva das organizações, passa pela peneira da cultura da empresa, pois é nesse contexto que o conhecimento é efetivamente colocado em prática. Não adianta a empresa oferecer cursos e dar as ferramentas se o agente mais importante — que é o colaborador — não estiver disposto a refletir sobre o que aprendeu, compartilhar, colocar em prática e usar esse aprendizado como base para novos conhecimentos e aplicações. BITENCOURT, C. Gestão contemporânea de pessoas: novas práticas, conceitos tradicionais. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. CARVALHO, F. C. A. Gestão do conhecimento. São Paulo: Pearson, 2012. CAVALCANTI, M. (org.). Gestão estratégica de negócios: evolução, cenários, diagnóstico e ação. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. HITT, M.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. Administração estratégica: competitividade e globalização. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. LOPES, H. C. O modelo estrutura-conduta-desempenho e a teoria evolucionária ne- oschumpeteriana: uma proposta de integração teórica. Revista Economia Contempo- rânea, v. 20, n. 2, ago. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1415-98482016000200336&lng=pt&nrm=iso. Acesso: 27 jun. 2019. NELSON, R.; WINTER, S. Uma teoria evolucionária da mudança econômica. Campinas: Unicamp, 2005. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para a análise da indústria e da concor- rência. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. POSSOLLI, G. E. Gestão da inovação e conhecimento. Curitiba: Intersaberes, 2012. Leituras recomendadas MAGNANI, M. Identificação de fatores críticos de sucesso para formulação de estratégias que minimizem a perda de competência organizacional de um centro de P&D agropecu- ário. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2004. TOFFLER, A. A terceira onda. Rio de Janeiro: Record, 1980. 13Gestão do conhecimento organizacional DICA DO PROFESSOR Esta videoaula apresenta a definição de gestão do conhecimento organizacional, dado, informação e conhecimento, além de conhecimento tácito e explícito. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) (Qconcursos.com - 2014) Uma empresa iniciou seu processo de gestão do conhecimento. Uma das primeiras iniciativas foi levantar, junto aos operadores de máquinas de produção, os procedimentos adotados em caso de pane do maquinário, pois não havia padrões definidos e as soluções para essas situações eram criadas “na hora do problema” pelos operadores mais antigos, muito experientes. A partir desse levantamento, foram elaborados manuais com os procedimentos que seriam, posteriormente, transmitidos em treinamentos para os novos operadores. Esse processo representou a: A) geração de conhecimento tácito e de conhecimento explícito. B) transmissão de conhecimento explícito. C) geração de conhecimento tácito. D) transformação de conhecimento explícito em conhecimento tácito. E) transformação de conhecimento tácito em conhecimento explícito. Quando se fala de gestão do conhecimento, a organização necessita saber a diferença entre dado, informação e conhecimento para que consiga, então, alcançar a sabedoria organizacional. A alternativa que melhor conceitua dado, informação e 2) conhecimento, respectivamente, é: A) O dado é um fato relativo a eventos sem significado, a informação é um dado organizado para descrever uma situação e o conhecimento é a forma como o ser humano interpreta esses dados e informações e os repassa aos demais. B) O dado é um fato sem significado, a informação é um dado organizado para descrever uma situação e o conhecimento é a junção de dados e informações no âmbito corporativo. C) O dado é a informação sem tratamento, a informação é um dado tratado e o conhecimento diz respeito às diversas maneiras que o ser humano encontra para se aperfeiçoar. D) O dado é sempre numérico, a informação é sempre palavra e o conhecimento é sempre abstrato. E) O dado é o começo da informação, a informação é intermediária e o conhecimento é a fase final do processo de gestão do conhecimento. 3) As organizações que aplicam a gestão do conhecimento sabem que os indivíduos que a compõem possuem dois tipos de conhecimento: o tácito e o explícito. Pensando em uma questão prática, imagine que você é recém-chegado em uma empresa e foi colocado para fazer um treinamento com um colaborador que possui mais experiência na parte prática e grande conhecimento, mas não sabe transmiti-lo a você. Em contrapartida, no segundo dia de trabalho, você é colocado junto a outro colaborador que tem bastante facilidade de transmitir aquilo que sabe. Você, inclusive, terminou o treinamento sem nenhuma dúvida sobre os processos aprendidos. No terceiro dia de trabalho, você já conseguiu treinar um novo colaborador sobre os conhecimentos que lhe foram transmitidos no dia anterior. Com base neste texto, os três dias de trabalho relatados configuram situações de aplicação de conhecimentos. São eles, respectivamente: A) Tácito, explícito e tácito. B) Tácito, tácito e explícito. C) Explícito, explícito e tácito. D) Explícito, tácito e tácito. E) Tácito, explícito e explícito. 4) (Qconcursos.com - 2013) Por trás do aumento da importância da gestão do conhecimento, emerge um fato simples: uma quantidade enorme do conhecimento da organização não lhe pertence, mas sim, aos indivíduos que a compõem. Muitas vezes, quando alguém deixa a organização, sua experiência desaparece com ela (conforme David Garvin. Uma nota sobre gestão do conhecimento. Pesquisa no 9-398-031, preparada para Havard Business School e publicada em 26 nov. 1997). No cerne da gestão do conhecimento estão quatro processos, podendo-se afirmar que o processo de: A) organização envolve duas etapas: identificar o conteúdo desejado e fazer as pessoas contribuírem com ideias. B) distribuição, denominado Páginas Amarelas da empresa, consiste na identificação dos conhecimentos disponíveis e de quem os possui. C) geração envolve a inteligência do concorrente: planos, produção, fatia do mercado, preços e processos de venda. D) desenvolvimentocorresponde à seleção e ao refinamento do material para aumentar seu valor para os usuários. E) consolidação diz respeito às lições aprendidas: o check-list do que deu certo ou errado em projetos anteriores. 5) (Qconcursos.com, 2014) - A gestão do conhecimento apoia-se em um conjunto de processos relativos à geração, organização, desenvolvimento e distribuição de conteúdos relevantes a serem disponibilizados. Um dos principais problemas enfrentados, que o processo de desenvolvimento de conteúdos objetiva solucionar, é o(a): A) falta de infraestrutura tecnológica. B) excesso de material disponível. C) resistência psicológica em compartilhar o conhecimento. D) falta de registro de conteúdos confidenciais. E) geração de conhecimento tácito. NA PRÁTICA Veja uma situação prática de gestão do conhecimento organizacional na Buckman Laboratories, empresa americana que fabrica produtos químicos para indústrias de papel, de tratamento de água, de couro e outros. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Gestão do conhecimento por Tiemi Yamashita Sua paixão pelo trabalho pode ser descrito em três verbos: Aprender , criar e ensinar. Hoje, Tiemi disponibiliza seu talento para empresas e ONGs, apoiando projetos de voluntariado, responsabilidade social e desenvolvimento de pessoas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Gestão do conhecimento Vídeo disponibilizado pelo canal Dalton Giovanni a respeito da Gestão do conhecimento. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Gestão do conhecimento - a evolução da sociedade do conhecimento Da invenção do fogo aos dedos nas telas; das inscrições nas cavernas aos dados na nuvem. Muita coisa aconteceu para que pudéssemos hoje nos comunicar com tanta facilidade e com um alcance jamais imaginado. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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