Buscar

livro-do-curso-competncias-profissionais-emocionais-e-tecnolgicas-para-tempos-de-mudana

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Nesta disciplina, você terá oportunidade de estudar os conceitos teóricos e fundamentos do processo grupal para compreensão reflexiva e crítica da realidade social e os contextos envolvidos. Apresentamos as contribuições para o curso de Psicologia, identificando a gênese de grupos, ressaltando as áreas de atuação e o papel profissional nos diversos contextos, junto à equipe multi ou interdisciplinar.
Assim sendo, a presente disciplina tem como objetivos específicos:
- Reconhecer processos psicológicos e comportamentais no contexto grupal.
- Compreender a natureza dos grupos pelos processos psicológicos inerentes a cada contexto.
- Compreender os pressupostos filosóficos, históricos e sociais que subsidiam as práticas com grupos em sua atuação profissional.
Percebemos a relevância da disciplina Processos Grupais para as diversas áreas profissionais que lidam com pessoas. Mas, neste momento você pode estar se perguntando: qual a relação desta disciplina com o meu curso? O que posso aplicar do conhecimento sobre grupos estando no papel de psicólogo?
Sem dúvida, a disciplina colabora substancialmente para os objetivos do curso, com a finalidade de formar profissionais que atuem no escopo social, que sejam competentes e compromissados eticamente com o planejamento, a implementação, a coordenação e a avaliação de políticas e projetos junto a grupos, comunidades e instituições. Como profissional indispensável ao atendimento dos grandes desafios da atualidade brasileira, a formação de um psicólogo implica essencialmente na compreensão crítica dos problemas sociais e no domínio de um conjunto de teorias, métodos e procedimentos para ação transformadora nos processos sociais.
O material poderá ser utilizado como orientação para seu estudo e como complemento das atividades realizadas nas aulas presenciais.
O programa da disciplina está distribuído em 8 módulos, que devem ser estudados ao longo do semestre letivo. Alguns tópicos serão objeto de avaliação na NP1 (Módulos 1 a 4) e outros serão avaliados na NP2 (Módulos 5 a 8).
Sugerimos que você siga a ordem abaixo apresentada, ao planejar seu estudo, uma vez que os temas mantém entre si uma relação lógica.
 
Módulo 1: O PROCESSO GRUPAL
O conceito de grupo e o processo grupal
A instituição do grupo
Módulo 2: A DINÂMICA GRUPAL E SEUS FUNDAMENTOS
A dinâmica grupal
Fundamentos teóricos em Dinâmica de Grupo: Kurt Lewin
Módulo 3: ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GRUPOS-1
Contribuições teóricas: Moreno, Piaget e Pichón-Revière
Módulo 4: ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GRUPOS-2
Contribuições teóricas: Schutz
Avaliação dos fenômenos da interação humana em grupos: Bales.
Módulo 5: CONTRIBUIÇÕES CONTEMPORÂNEAS NO CONTEXTO GRUPAL
Correntes contemporâneas em dinâmica de grupos e os diversos contextos de ação do psicólogo junto às relações grupais.
O Ciclo de Aprendizagem Vivencial
Módulo 6: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS GRUPAIS
Os grupos operativos
Módulo 7: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS GRUPAIS
Oficina de Dinâmica de Grupo
Módulo 8: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS GRUPAIS
Intervenção e Acompanhamento Psicossocial
Em cada um dos módulos, haverá uma breve apresentação do assunto, indicação de material para leitura, atividades de estudo e exercícios de verificação da aprendizagem. Lembre-se que a mera realização dos exercícios não permitirá a aprendizagem dos temas. É imprescindível que você realize todas as atividades descritas em cada módulo.
O presente conteúdo, por se tratar da apresentação do curso, não inclui exercícios. 
Bibliografia:
A Bibliografia apresentada a seguir relaciona as obras consideradas importantes para o estudo dos temas. Em cada módulo, serão indicados os trechos específicos que devem ser lidos.
Bibliografia Básica:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. São Paulo: Duas Cidades, 1991.
MINICUCCI, A.Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
Bibliografia Complementar:
AFONSO, M.L.M.Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
BOOG, G. Manual de Treinamento e Desenvolvimento. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007, Vol. 2.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
SOLER, R. 202 Jogos Cooperativos Para Desenvolver a Confiança. São Paulo: Sprint, 2009.
Além destas referências, é desejável que você recorra a outras fontes, caso queira se aprofundar em algum tópico específico do programa. É importante que, em sua pesquisa, você recorra a fontes confiáveis. Indicamos a seguir alguns endereços eletrônicos cuja consulta é recomendada:
Linha do Tempo da Psicologia no Brasil: http://www.crpsp.org.br/linha/linha_do_tempo/memoria/home.htm 
BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES (USP)
- http://www.teses.usp.br/
PEPSIC – PERIÓDICOS ELETRÔNICOS EM PSICOLOGIA
- http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE (BVS) - www.bvs-psi.org.br
PERIÓDICOS CAPES - www.periodicos.capes.gov.br
Se você necessitar de informações adicionais para ampliar seus conhecimentos, solicite-as do professor, nas aulas presenciais.
Módulo 1: O PROCESSO GRUPAL
 
Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
Leitura para Aprofundamento:
 
BOCK, A. M. B. (Org.). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999
LANE, S.M. O processo grupal. In: LANE, S.M.; CODO, W. (Orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1986.
LE BON, G. Psicologia das multidões. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. Petrópolis: Vozes, 2013.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
 
 
O conceito de grupo e o processo grupal
 
Todos nós pertencemos a grupos. Determinadas concepções da Psicologia Social chegam a afirmar que só “somos”, efetivamente, em grupo. E você? Consegue se ver “sendo” a partir dos grupos, ou seria suficiente dizer que “somos” singulares, únicos, autônomos e, então, podemos pertencer a grupos humanos, especialmente aqueles dos quais escolhemos participar?
Sabemos que ninguém vive isolado e, ainda, que não se pode compreender o comportamento do indivíduo sem considerar a influência de outras pessoas. Estabelecemos relações onde há, naturalmente, uma intenção particular de cada uma das pessoas envolvidas. A nossa formação individual depende então, necessariamente, desse relacionamento, seja ele em qualquer tipo de grupo ao qual pertencemos, família, trabalho, clube, futebol, entre outros. A identidade historicamente construída tem como um de seus elementos mais importantes a ligação a grupos sociais.
Se pensarmos sobre a origem da palavra grupo, observamos que ela remonta a um termo técnico italiano das Artes Plásticas (groppo, gruppo), que designa vários indivíduos, pintados ou esculpidos, compondo um tema (ANZIEU; MARTIN, 1975). Somente no século XVIII, a palavra grupo vai designar um ajuntamento de pessoas. Além da “novidade” do conceito, Anzieu e Martin (1975), ao apresentarem diferentes concepções sobre grupos, indicam também que, até há pouco tempo, nas Ciências Sociais, havia um preconceito bem-estabelecido contra a ideia do grupo, do pequeno grupo. Esse mal-estar em relação ao conceito estaria presente porque seria entendido como categoria para o entendimento do social, e esta supostamente comportaria a negação do indivíduo. Para outros, esse incômodo se estenderia ao próprio fenômeno grupo, como perturbador da personalidade – os grupos de jovens e os grupos partidários, por exemplo.
Contemporaneamente, podemos reconhecer grupos definidos a partir de uma metáfora biológica (o grupo-organismo) ou mecânica (o grupo-maquina), ou simplesmente pelo ajuntamento de pessoas, nas multidões, nos bandos, nas aglomerações.A ideia de grupo também está presente em grupos nos quais os indivíduos se encontram face a face, os pequenos grupos sociais, ou nas organizações das quais todos participamos e por meio das quais temos um papel no jogo social.
Para discutir qual ou quais os sentidos de um grupo social e tentar traçar uma dinâmica dos grupos, isto é, o movimento de uns em relação a outros, é necessário descrever algo da história dos estudos sobre grupos a partir das maneiras como eles têm sido definidos. Algumas das referências para essas definições tem sido a quantidade de membros (se são pequenos grupos, categorias sociais, a “massa”), a medida da sua organização (aglomerados, categorias sociais, grupos estruturados, organizações, instituições) ou a medida do relacionamento entre seus membros (face a face ou não).
Bock (1999) explica que a instituição consiste em um valor ou regra social que reproduzimos em nosso cotidiano, enquanto um guia básico de comportamento e de padrão ético. Ela atravessa de forma sutil as nossas relações sociais (organização social e grupo social). Organização consiste na base concreta da sociedade, um aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. Podemos identifica-la em um complexo organizacional (ministério da saúde ou igreja católica, por exemplo); uma grande empresa (como a Volkswagen do Brasil) ou mesmo em uma pequena creche. Percebemos que as instituições sociais serão mantidas e reproduzidas nas organizações. Por fim:
 
“O elemento que completa a dinâmica de construção da realidade é o grupo – o lugar onde a instituição se realiza. Se a instituição constitui o campo de valores e das regras (portanto, um campo abstrato) e se a organização é a forma de materialização destas regras (portanto, um campo abstrato), e se a organização é forma de materialização destas regras através da produção social, o grupo, por sua vez, realiza as regras e promove valores. O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras. É também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade – ora controlado, submetido de forma crítica a essas regras e valores, ora sujeito da transformação, da rebeldia, da produção do novo.” (BOCK, 1999, p.217)
 
Geralmente, quando falamos em grupos, pensamos nos pequenos, aqueles dentro dos quais seus membros tem contato face a face, grupos que são estruturados, organizados por regras e com objetivos definidos, cuja ação está delimitada no espaço – por uma sala, um campo, uma instituição. Menos comum é chamarmos de grupos os agregados mais ou menos numerosos de indivíduos que não tem propriamente nenhum contato entre si, os amontoados percebidos por Sartre numa fila a espera do ônibus (uma serie) que não estão sujeitos a normas claras de comportamento comum, conjuntos que compreendem meros aglomerados ou categorias sociais que indicam um relacionamento de ordem simplesmente distributiva.
Estes últimos são aqueles das nacionalidades, da cor da pele, dos matizes ideológicos, do sexo ou da opção sexual. Contudo, mesmo nessa outra ordem de agrupamentos que se constitui a partir de sua simples nomeação, por um critério burocrático, filosófico, político e mesmo biológico ou étnico, tendemos a dizer dos indivíduos a eles pertencentes que se “comportam como um grupo”.
Ao nos referirmos a grupos, sabemos que a Psicologia Social tem ampla contribuição no tema, por iniciar os estudos nesta área. Os primeiros estudos sobre grupos foram iniciados no século XIX (“Psicologia de Massas”, por Gustav Le Bon, por exemplo), em que muitos pesquisadores foram influenciados pela revolução francesa. Nesta época se perguntava no campo da Psicologia: o que levaria uma multidão a seguir a um líder mesmo com risco a sua própria vida?.
No debate sobre a Psicologia dos Grupos, a literatura psicológica e sociológica trata dos grandes conjuntos humanos nas sociedades contemporâneas como “massa”, isto é, um agregado informe de indivíduos que não se conhecem pessoalmente, sem vínculos, sem objetivos comuns, entre os quais não se pode reconhecer autonomia, mas apenas a sujeição a ideias e opiniões produzidas em outros lugares e impostas a esses conjuntos, usualmente, pela mídia. De fato, quando falamos “massa”, normalmente tratamos dela com desdém – afinal, nesse caso, as pessoas não têm nomes nem ligações e, ainda mais, são necessariamente dominadas, controladas.
Seu comportamento, segundo cientistas sociais como Le Bon (2008), pode ser entendido como o de uma “manada”, sujeita a interferências sem a mediação da razão. A multidão reunida em grandes eventos ou em situações cotidianas nas ruas, nos terminais de transporte público ou nos estádios de futebol, por exemplo, teria comportamento imprevisível, que se caracterizaria pela possibilidade de os indivíduos realizarem atos de que, em outras situações, sem a presença da multidão, não seriam capazes. A violência de um quebra-quebra e de um linchamento seria a marca desse comportamento coletivo marcado pela diminuição do funcionamento intelectual, a razão, e pela ampliação da afetividade.
Freud, em Psicologia das Massas e Análise do Ego (2011), entra nesse debate a partir da discussão sobre a obra de Le Bon. Para ele, a psicologia individual não poderia ser separada da social, e toda psicologia é, num certo sentido, social, na medida em que se verificam nos indivíduos os traços recolhidos das suas relações sociais. Freud também considera entre os seres humanos um instinto gregário, chave para algo como uma mente grupal, cujo estudo da razão que sustenta o funcionamento dos grupos e parte desse trabalho. Reconhece também como as massas são influenciadas pela presença “fascinante”, hipnotizante, de um líder. As dimensões inconscientes envolvidas na constituição do grupo e sua incidência no indivíduo ajudam a compreender fenômenos já descritos por Le Bon, como a potência do indivíduo quando se vê pertencente ao grupo, ou mesmo a submissão, no grupo, a entendimentos até mesmo contrários às crenças individuais.
A suposição fundamental de Freud formulada nesse texto é de que as relações amorosas (laços emocionais) constituem a essência da mente grupal, e é nesse suporte que está, por exemplo, a importância do líder.
Você pode perceber a diversidade de conceitos e a complexidade que existe na literatura com relação a grupos.
Neste sentido, parece haver concordância entre alguns dos diversos autores quanto a haver um objetivo comum para duas ou mais pessoas. As concepções tradicionais sobre grupos usualmente os caracterizam como um conjunto de pessoas que compartilham um objetivo comum. Entretanto, numa perspectiva social critica, a melhor definição do processo grupal corresponde à sua inevitável sujeição à passagem do tempo e a inserção social.
Vale aqui indicar o entendimento de Lane (1986) sobre os grupos, para os quais ela reivindica a mesma preocupação quanto à importância da história na sua instituição. Lane (1986) insiste em tratar o grupo como processo ao caracterizá-lo como uma unidade que não se faz como permanente, que se constitui fundamentalmente de pessoas e relações e que está inserida num determinado contexto histórico e social. Ora, tudo isso que irá compor a concepção e a materialidade dos grupos é sujeito a passagem do tempo, isto é, muda, transforma-se, por conta dessa passagem. É por isso que se poderá, assim, falar em processo, porque o grupo só existe sendo; não é coisa que possa ser abstraída de sua condição histórica.
Assim, é importante considerar que a ideia de grupo dá conta de uma variedade importante de conjuntos de indivíduos. Se ela se presta a caracterização de uma categoria social que compreende determinada identidade profissional (o grupo de psicólogos, por exemplo), a ideia de grupo também estará presente quando falamos de pequenos grupos, quando os indivíduos estão face a face, envolvidos em uma pratica social determinada, como numa empresa (os funcionários da empresa X), na escola (os alunos ou os professores) ou em umaação de assistência social (educadores, técnicos, gestores).
 
Dentre os diferentes entendimentos sobre os grupos e as tradições históricas e filosóficas as quais estão vinculados, uma chave para sua apresentação é percorrer a incidência do imaginário nesses universos. Destacamos, inicialmente, a Psicologia dos Grupos voltada para as questões individuais, marcadamente ideológicas, de ordem funcionalista, uma Psicologia Social dos pequenos grupos naturais. Esta se verifica mais intensamente no âmbito da Psicologia Social americana, com autores como Lewin, Newcomb, Asch, Stoessel e Maisonnave, e é voltada para os problemas de produção e de eficiência, seja num grupo de soldados ou de operários, seja num grupo terapêutico, estudando os relacionamentos intragrupo, a liderança e a motivação.
Na outra ponta, na Psicologia Social das categorias sociais, estão os estudos sobre grupos que colocam em jogo os elementos da história e da cultura nas quais os grupos estão inseridos. Alinhados a Psicologia Social “sociológica”, que veio se desenvolvendo principalmente na Europa do Pós-guerra, esses estudos que privilegiam os fatores históricos, ideológicos e políticos identificam a Psicologia Social europeia e os trabalhos de autores como Tajfel, Doise e Moscovici.
Numa posição intermediaria em relação a essas duas vertentes, no que diz respeito aos estudos sobre grupos, estariam os trabalhos sobre Psicoterapia de Grupo, sejam ou não de inspiração freudiana, mais ou menos próximos da vertente americana, como Moreno, ou da vertente europeia, como Guattari, e os desenvolvidos por psicólogos sociais sul-americanos, como Baremblitt, Bauleo, Bleger e Pichon-Riviere.
Em qualquer das vertentes da Psicologia Social – a Psicologia Social dos pequenos grupos naturais, a Psicoterapia de Grupo ou a Psicologia Social das categorias sociais –, a presença do imaginário como elemento para identificação e mediação entre os grupos traz, de maneira indiscutível, a tensão entre a ordem e a desordem no âmbito dos grupos.
É importante ressaltar que a representação que se tem de um grupo social compreende aquilo que se “vê” e o que se espera dele numa determinada circunstância. Assim, é preciso estar atento não apenas ao que está sendo representado e em qual contexto, mas também a quem representa, para se poder compreender, na história das ideias sobre grupo, as explicações que se oferecem a como e por que os indivíduos se associam, classificam e categorizam uns aos outros, assim como os efeitos dessas associações nos relacionamentos que ocorrem dentro dos grupos e entre eles.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as abordagens e etapas históricas definidas pelos autores e sua relação com os conceitos de grupo.
2) A partir da leitura, procure elaborar um quadro, estabelecendo as diferenças entre os diversos conceitos de grupo.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Na perspectiva da Psicologia Social sócio histórica, o grupo é compreendido a partir de sua inserção no espaço e no tempo, o que o caracteriza como processo ao invés de “coisa”. Nestas condições, as relações entre os membros do grupo devem ser estudadas porque:
(a) definem lugares pré-estabelecidos e prontos;
(b) explicam o porquê do comportamento dos indivíduos;
(c) estão submetidas a mudanças com o passar do tempo;
(d) organizam as funções dentro do grupo;
(e) são perturbadoras do bom funcionamento do grupo.
 
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa ao conceito de grupo na perspectiva sócio histórica, assinalou a alternativa c. As afirmações a-b-d-e não partem do princípio de que o grupo é visto como processo, mas como uma unidade estanque e sem considerar sua história. A visão sócio histórica caracteriza o grupo como uma unidade que não se faz como permanente, que se constitui fundamentalmente de pessoas e relações e que está inserida num determinado contexto histórico e social. Ora, tudo isso que irá compor a concepção e a materialidade dos grupos é sujeito a passagem do tempo, isto é, muda, transforma-se, por conta dessa passagem. É por isso que se poderá, assim, falar em processo, porque o grupo só existe sendo; não é coisa que possa ser abstraída de sua condição histórica.
 
 
A instituição do grupo
 
Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
Leitura para Aprofundamento:
 
ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cultrix, 1973.
BOCK, A. M. B. (Org.). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999
LANE, S.M. O processo grupal. In: LANE, S.M.; CODO, W. (Orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1986.
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. Petrópolis: Vozes, 2013.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
 
Você já percebeu que muitas vezes nos colocamos diante de grupos com que não tínhamos nenhum contato? Por exemplo, quando você entrou para a faculdade e passou a fazer parte de uma turma de 40 ou 50 pessoas desconhecidas e teve que realizar atividades em pequenos grupos. A este tipo de convívio podemos chamar de solidariedade mecânica, quando a filiação a algum grupo independe de nossa vontade. No entanto, a solidariedade orgânica consiste no convívio com nossos pares, pessoas escolhidas por nós. É o caso das ditas “panelinhas” da sala de aula. Quando os fenômenos grupais passam a atuar sobre os indivíduos e sobre o grupo, chamamos isto de processo grupal. Neste sentido, a coesão grupal é uma forma que os indivíduos têm para que seus membros sigam as regras estabelecidas e se obtenha a fidelidade dos mesmos. Os grupos podem apresentar maior ou menor coesão, de acordo com suas características, bem como a fidelidade ao grupo dependerá do tipo de pressão exercida. (BOCK,1999).
 
Então, o que faz com que o indivíduo queira se agregar a um grupo? 
Se considerarmos que as pessoas vão gradativamente descobrindo uma forma mais simples e econômica de desempenhar suas atividades cotidianas, começam por estabelecer regularidades comportamentais. Um hábito estabelecido por razões concretas, com o passar do tempo e gerações, transforma-se em tradição, onde as bases estabelecidas não são mais questionadas. Quando a regra social estabelecida após a passagem de gerações perde sua referência de origem, dizemos que ela foi institucionalizada. Na verdade, vivemos imbuídos de instituições. De acordo com Berger e Luckmann (apud BOCK,1999), o processo de institucionalização se inicia com o estabelecimento de regularidades comportamentais.
No entanto, segundo Schutz (apud BERGAMINI, 2006), todo o indivíduo tem três necessidades interpessoais: Inclusão, Controle e Afeição e, ao associar-se a um grupo, cada pessoa passará por diferentes formas de atendimento de suas necessidades.
De acordo com Borges e Albuquerque (apud ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004), o processo de socialização, implica sempre em certo conformismo porque o indivíduo se insere em um contexto de normas e costumes previamente definidos por outros. Realmente, para melhor compreensão do funcionamento dos grupos precisamos entender a natureza da influência social, pois:
 
As pressões para uniformidade se exercem mediante a interação social na qual os membros tentam modificar suas crenças, atitudes e ações de forma mútua (...). Surgem processos similares sempre que um grupo tenta tomar uma decisão sobre metas a escolher ou sobre a maneira de alcançá-las. Coordenar as atividades de grupo exige que a conduta de cada membro se ajuste a dos outros, e se efetue a liderança mediante o processo de influência sobre os demais. (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, p.53)
 
Na maioria das vezes, os grupos são formados de acordo com similaridades naquilo que as pessoas fazem ou produzem. Podem ser agrupadas de acordo com as tarefas que executam – agrupamento por função - ou de acordo com o fluxode trabalho desde o início até a conclusão – agrupamento por fluxo de trabalho.
Neste contexto, Bergamini (2006) distingue dois tipos de pequenos grupos: o sociogrupo – aquele que se organiza e se orienta em função da execução ou cumprimento de uma tarefa; e o psicogrupo – estruturado em função da polarização dos seus próprios membros.
Adorno e Horkheimer (1973) apresentam uma classificação de grupos, diferenciando microgrupos de macrogrupos. Os microgrupos, ou grupos primários, como a família, são importantes para a produção da subjetividade e para a manutenção de ideias e ideais sociais. Sua presença é praticamente universal, porque estes se encontram ao longo de toda a história civilizatória. Esses grupos estão vinculados a aprendizagem de uma “natureza humana”, mais propriamente – o que significa que os microgrupos estão associados a socialização dos indivíduos desde a infância. A ênfase nesses microgrupos justifica-se pela sua função psicossocial: o contato direto entre aqueles que pertencem a tais grupos permite a identificação entre seus membros e com o próprio grupo. Nos microgrupos, os indivíduos têm experiências de si simultaneamente vinculadas às presenças de outras pessoas.
Macrogrupos ou grupos secundários são grupos de outra ordem e não se diferenciam dos microgrupos necessariamente pelo tamanho. Neles, a privacidade dos membros é mais preservada.
Outra fórmula para tentar classificar os grupos é toma-los a partir de alguns elementos básicos. Um grupo pode ser considerado de acordo com a maneira como está organizado, os seus objetivos compartilhados, a quantidade de pessoas que o compõem e o contato e vínculo entre seus participantes, assim como quanto a sua duração.
Vejamos alguns exemplos de grupos conforme essa classificação. Numa extremidade, encontramos nas sociedades contemporâneas grandes conjuntos humanos, formados por milhares ou mesmo milhões de pessoas, que podem ser caracterizados como grupos. Pouco organizados, neles, as pessoas não se conhecem pessoalmente e mal compartilham objetivos comuns; mas, ainda assim, são reconhecidas como possuidoras de uma mesma identidade. Não nos recusamos a prever seus comportamentos, as maneiras pelas quais podem e irão resolver as situações cotidianas. São as categorias sociais, como “as mulheres”, “os psicólogos”, “os playboys”, ou “os moradores da zona leste”.
No outro extremo, estão os pequenos grupos, os grupos de interação face a face, em que todos se conhecem e se relacionam a partir de alguma organização, pelo exercício de determinadas funções dentro do grupo. Uma variável importante no que diz respeito ao seu funcionamento é o vínculo, isto é, as relações simbólicas e afetivas que se constroem ao longo da existência do grupo. O vínculo também é dependente da história e do contexto, atualizado nas posições exercidas dentro do grupo. O psicólogo social Pichon-Riviere (2009) propõe que se deva entender a interação dos membros de um grupo como um vaivém de determinações que ele representa como uma espiral dialética, em que tanto sujeito quanto objeto realimentam-se mutuamente, num processo que pode ser compreendido, por exemplo, nas relações entre profissional e cliente.
 
 Pensando no processo grupal na visão da Psicologia Social Crítica, apesar de haver uma consistente crítica aos modelos teóricos existentes, percebe-se um resguardo dos aspectos funcionais da dinâmica de grupos concordantes com Lewin e uma consideração positiva sobre o enquadramento psicanalítico por levar em conta a dinâmica interna dos grupos. A crítica prevalece sobre a visão a-histórica ou a maneira estática como alguns teóricos enquadram o grupo. (BOCK, 1999).
Na perspectiva sócio histórica da psicologia social (Silvia Lane) chega-se a afirmar que só “somos”, efetivamente, em grupo. Mas este entendimento não é “natural”. Ou ao menos é tão natural quanto dizer exatamente o contrário. Isto é, que “somos” singulares, únicos, autônomos e, então, podemos pertencer a grupos humanos, especialmente àqueles dos quais escolhemos participar.
As concepções tradicionais sobre os grupos usualmente os caracterizam como um conjunto de pessoas que compartilham um objetivo comum. Silvia Lane (1984) ao falar sobre os grupos sociais, reivindica a importância da história e das relações na sua instituição. Assim, numa perspectiva social crítica, se define o processo grupal em função da sua inevitável sujeição à passagem do tempo e à inserção social.
Nesta visão, considera-se fundamental que não existe grupo abstrato mas sim um processo grupal que se reconfigura a cada momento. Assim, Silvia Lane (apud BOCK, 1999, p. 224) detecta 3 categorias de produção grupal:
 
Categoria de produção: a produção das satisfações de necessidades do grupo está diretamente relacionada com a produção das relações grupais. O processo grupal caracteriza-se como atividade produtiva de caráter histórico.
Categoria de dominação: os grupos tendem a reproduzir as formas sociais de dominação. Mesmo um grupo de características democráticas tende a reproduzir certas hierarquias comuns ao modo de produção dominante (no nosso caso, o modo de produção capitalista).
Categoria grupo-sujeito (de acordo com Lourau): trata-se do nível de resistência à mudança apresentada pelo grupo. Grupos com menos resistência à autocrítica e, portanto, com capacidade de crescimento através da mudança, são considerados grupos-sujeitos. Os grupos que se submetem cegamente às normas institucionais e apresentam maior dificuldade para a mudança, são os grupos-sujeitados.
 
 
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as abordagens e teorias definidas pelos autores quanto a instituição do grupo.
2) A partir da leitura, procure elaborar um quadro, estabelecendo as diferenças entre as diversas abordagens e configurações da instituição de um grupo.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
O ser humano é um ser social que busca satisfazer sua necessidade de relacionar-se, formando ou agregando-se a grupos. Com relação a instituição de um grupo, analise as afirmativas a seguir.
 
I – Há concordância entre vários autores quanto a um grupo ser formado pela união de pessoas que interagem umas com as outras visando objetivos inter-relacionados
II – A interação das pessoas no grupo permite que as pessoas que o compõe não influenciem uns aos outros
III – Os grupos se constituem apenas pela necessidade de compartilhar conhecimentos
 
Sobre grupos podemos afirmar que:
A-Os itens I e III estão incorretos
B-Apenas o item III está incorreto
C-Os itens II e III estão incorretos
D-Os itens I e II estão incorretos
E- Os itens I, II e III estão incorretos
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a instituição de um grupo, assinalou a alternativa c. As afirmações II está incorreta pois as relações sociais pressupõem a influência de uns sobre os outros, bem como a III está incorreta pois as necessidades de afiliação não residem apenas no objetivo de compartilhar conhecimentos mas também de afeição, controle e inclusão, como afirma Schutz (1994) por exemplo. 
Módulo 2: A DINÂMICA GRUPAL E SEUS FUNDAMENTOS
 
Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
Leitura para Aprofundamento:
BOCK, A. M. B. (Org.). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. Petrópolis: Vozes, 2013.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
ZANELLI, J.C.; BORGES-ANDRADE, J.E.; BASTOS, A.V. (Orgs.) Psicologia, Organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre, Artmed, 2004.
 
 
A dinâmica grupal
Neste momento, além de compreender as classificações possíveis de um grupo, você deve estar refletindo sobre como se apresentam os estudos sobre os estágios de um grupo e/ou como pode se apresentar o seu desenvolvimento. Diversos autores apontaram as fases de desenvolvimento de um grupo, tais como Buchanane Huczynski,1985; Greenberg e Baron,1995; Ivancevich e Matteson,1999; Tosi, Rizzo e Carroll,1994, (apud ZANELLI,2004) e Lacoursiere,1980 (apud ROTHMANN e COOPER, 2009)
 
Segundo Scholtes (1992), uma equipe passa por estágios razoavelmente previsíveis:
Estágio 1 – Formação ou iniciação
Fase em que se inicia a formação da equipe, em que seus membros pesquisam as fronteiras do comportamento adequado ao grupo. Estágio da transição da condição de indivíduo para membro.
Estágio 2 - Turbulência ou diferenciação
Fase em que os membros da equipe começam a perceber a quantidade de trabalho que têm à frente e é comum entrarem em estado de pânico. É o estágio mais difícil para a equipe.
Estágio 3 - Normas ou integração
Fase do restabelecimento do propósito central da equipe. À medida que os membros da equipe se acostumam a trabalhar em conjunto, sua resistência inicial vai desaparecendo.
Estágio 4 - Atuação ou maturidade
Neste estágio, a equipe já definiu seu relacionamento e suas expectativas.
 
Entretanto, Albuquerque e Puente-Palacios (2004) se referem aos estágios de desenvolvimento do grupo como sendo: formação, conflito, normatização, desempenho e desintegração. Esta última fase de desenvolvimento dos grupos (desintegração) ocorre quando objetivos que levaram á criação da equipe são atingidos e não há mais motivo para ela continuar a existir. Também é possível que o grupo nunca atinja o estágio final ou faça o possível para não atingi-lo.
A seguir, observamos a Figura 1 com a exemplificação dos diversos estágios de um grupo.
Figura 1: as etapas de desenvolvimento dos grupos e equipes de trabalho
Fonte: ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, p. 374.
E neste momento você deve estar se perguntando: por que é importante identificar tais fases para a psicologia? A importância em identificar tais estágios do desenvolvimento do grupo consiste em reconhecer que certos períodos de turbulência fazem parte do processo grupal, sendo necessário identificar em qual momento será interessante e prudente uma intervenção externa. Os autores ressaltam a importância de reconhecer estas fases consiste justamente em saber quando intervir externamente com prudência, visto que certa turbulência também faz parte do grupo. 
 
Além de analisarem os estágios de um grupo, alguns autores buscam entender em que sentido as formas de comunicação podem influenciar a relação grupal.
 
Wagner e Hollenbeck (1999) citam a estrutura de comunicação de um grupo como fator crucial para a eficácia de um grupo, pois se os membros não conseguem trocar informações entre si, o grupo não consegue funcionar eficazmente. Segundo eles, para uma boa gestão de um grupo é importante conhecer os diferentes tipos de estrutura de comunicação grupal e ser capaz de implementar aqueles que estimulem a maior produtividade do grupo.
Em pesquisas realizadas sobre comunicação e produtividade do grupo, cinco estruturas têm recebido especial atenção: redes de comunicação radiais, em Y, encadeadas, circulares e de conexão total. As três primeiras são mais centralizadas (um membro pode controlar os fluxos de informação no grupo) e nas redes descentralizadas circulares e de conexão total, todos os membros são igualmente capazes de enviar e receber mensagens. A rede de conexão total, por exemplo, coloca cada pessoa do grupo em contato com todas as outras.
Podemos visualizar melhor as redes de comunicação a partir da figura 2 a seguir, a qual apresenta cada uma de acordo com os aspectos de velocidade, precisão, saturação, e satisfação dos membros.
Figura 2: Redes de comunicação e trabalho em equipe
Fonte: Wagner III e Hollenbeck, Comportamento Organizacional, Ed. Saraiva: São Paulo, 1999, p. 225.
 A composição do grupo também pode exercer a influência sobre o mesmo, tanto como grupo homogêneo quanto heterogêneo. Um grupo homogêneo é considerado mais útil para tarefas simples e sequenciais, que exijam cooperação e requeiram rapidez. Um grupo heterogêneo é mais útil para tarefas complexas, coletivas, que exijam criatividade e que não dependam de rapidez (GRIFFIN; MOORHEAD, 2006).
Além da influência da disposição e comunicação do grupo, também existe a influência do tamanho do grupo sobre seu desempenho.
Sobre isto, Griffin e Moorhead (2006) apontam que uma equipe com muitos membros tem mais recursos disponíveis e completa um grande número de tarefas relativamente independentes, com interações e comunicações provavelmente mais formais e, consequentemente, uma grande parcela do tempo é utilizada para questões administrativas. Os autores sugerem que o tamanho mais adequado a um grupo é determinado pela capacidade de seus membros interagirem uns aos outros de modo eficaz.
Entretanto, Robbins (2004) sugere que as equipes mais eficazes são justamente nem muito pequenas e nem muito grandes, com cerca de 4 a 12 pessoas:
 
“As muito pequenas costumam apresentar diversidade de pontos de vista. No entanto, quando possuem mais de 10 ou 12 membros, torna-se difícil realizar alguma coisa. Os membros sentem dificuldade de interagir construtivamente enquanto para chegar a um consenso, e muitas pessoas não conseguem desenvolver a coesão, o comprometimento e a responsabilidade mútua, necessários para um bom desempenho.” (ROBBINS, 2004, p.112).
Considerando os aspectos que influenciam a estrutura de um grupo, também precisamos ressaltar a importância das normas, as quais consistem em padrões de comportamentos e desempenhos tolerados, aceitos e esperados, sustentados pelos membros do grupo. As normas regulamentam e estabelecem o que se pode e o que não se pode fazer, as quais são informalmente estabelecidas pelos membros do grupo. Elas se apresentam mais explícitas do que implícitas, pois é comum que os membros do grupo entendam o que se espera deles, como por exemplo, o tipo de vestimenta ou conduta social de cooperação. Cada grupo desenvolve as normas através da comunicação com os outros e podem evoluir através de um processo interpessoal de negociação, construindo historicamente o que é um comportamento aceitável. (ZANELLI, BORGES-ANDRADE E BASTOS, 2004; GRIFFIN; MOORHEAD, 2006; ROTHMANN e COOPER, 2009).
Diante da diversidade de aspectos pesquisados sobre o processo grupal, consideramos que apesar da Psicologia Social ter surgido com a pesquisa das massas, podemos observar como as pesquisas de grupos menores é que se constitui então seu objeto, particularmente por terem objetivos claramente definidos. Historicamente, foi com as pesquisas de Kurt Lewin (professor alemão refugiado do nazismo) em Massachusetts Institute of Technology – MIT, que se desenvolveu a primeira teoria consistente sobre grupos, principalmente contribuindo para aplicação e estudo das relações humanas no trabalho. (BOCK,1999). 
 
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando os aspectos que influenciam o funcionamento de grupos.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Para Wagner III e Hollenbeck apud Fiorelli (2000, p.41) “grupo é um conjunto de duas ou mais pessoas que interagem entre si de tal forma que cada uma influencia e é influenciada pela outra”. Nesta relação social ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS (2004) apresentam a existência de fases no caminho de um grupo. Indique a alternativa incorreta quanto as etapas de desenvolvimento de grupos:
a) Iniciação ou Formação
b) Diferenciação ou Conflito
c) Integração ou Normatização
d) Incorporação ou anexação
e) Maturidade ou desempenho.
 
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a etapas de desenvolvimento de um grupo, assinalou a alternativa d. As demais alternativas correspondem as etapas descritas por ZANELLI et al (2204): formação, conflito, normatização, desempenho e desintegração. A alternativa (d) não corresponde a uma das fases apontadas pelos autores pois não se percebe uma fase específica em que exista a incorporação ou anexação do grupo a outro grupo ou de um indivíduo ao grupo.
Fundamentos teóricos em Dinâmica de Grupo: Kurt Lewin.
Kurt Lewin tem comouma das principais contribuições de sua Psicologia Social as investigações sobre a solução de conflitos nos pequenos grupos, por elaborar conceitos e uma metodologia que pudesse ampliar o entendimento dos pequenos grupos para também intervir nos grupos sociais.
Os estudos sobre a dinâmica dos pequenos grupos realizados por Lewin buscariam responder a duas perguntas relativas ao funcionamento dos grupos sociais nesse contexto tão decisivo da nossa história: como se pode produzir o nazismo como fenômeno psicológico? Qual a prevenção psicológica contra ele? Temas de seu grande interesse – ele próprio judeu e egresso da Europa durante a guerra.
De acordo com BOCK (1999) a teoria dos grupos desenvolvida por Lewin abordou temas como coesão do grupo (condições necessárias para a sua manutenção); pressões e padrão do grupo (argumentos reais ou imaginários, manifestos ou velados utilizados para garantia de fidelidade); motivos individuais e objetivos do grupo; liderança e realização do grupo e, por fim, as propriedades estruturais dos grupos (forma de comunicação, papéis, dentre outros).
Kurt Lewin (apud BERGAMINI, 2006) considera que a dinâmica do grupo é determinada pelo conjunto de interações existentes no interior de um espaço psicossocial. O comportamento dos indivíduos ocorre em função dessa dinâmica grupal, independente das vontades individuais. Portanto, foram por ele elaborados quatro pressupostos:
• A interação do indivíduo no grupo depende de uma clara definição de sua participação no seu espaço vital;
• O indivíduo utiliza-se do grupo para satisfazer às suas necessidades próprias;
• Nenhum membro de um grupo deixa de sofrer o impacto do grupo e não escapa à sua totalidade;
• O grupo é considerado como um dos elementos do espaço vital do indivíduo.
 
O espeço vital psicológico ou espaço de vida corresponde a um conceito desenvolvido por Kurt Lewin que designa “a totalidade de fatos que determinam o comportamento de um indivíduo em um certo momento” (Lewin,1973, p.28). O autor se refere a totalidade de fatos como situação e, portanto, o comportamento do indivíduo é determinado em função da situação.
Nas pesquisas com grupos de crianças em que se variava o clima das relações com um monitor (autoritário, democrático, laissez-faire), ele procurou identificar o efeito do ambiente político e de suas mudanças sobre a capacidade dos indivíduos de realizarem tarefas, assim como suas repercussões sobre a satisfação e a agressividade.
Com relação ao desempenho de um grupo, observa-se que apresenta características situacionais, dinâmicas e evolutivas, modificando suas estratégias e comportamentos para ajustá-los às circunstâncias. Por exemplo, uma orquestra sinfônica possui certas características no momento de desempenho perante a plateia e outras bem diferentes durante os ensaios. Mais do que isso, a orquestra muda o comportamento dependendo da plateia.
A importância alcançada por Lewin na Psicologia Social americana pode também ser encontrada no seu linguajar físico, ao tratar do confronto de forças intragrupos e intergrupos, o que conferiria um maior reconhecimento cientifico as suas teorias. Com seu interesse aumentado pelo fascínio que o desenvolvimento de tecnologia, inclusive para a manipulação de seres humanos, produziu a partir das Grandes Guerras, como “arma” contra literalmente quaisquer problemas, inclusive os sociais, as teorias de Lewin viriam a reafirmar as concepções sobre pequenos grupos, que, desenvolvidos em ambiente de guerra, serviriam para a otimização de seus comportamentos. É importante reconhecer que Lewin foi inovador ao abordar aspectos da personalidade como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia, dando status cientifico a essas considerações. Também é importante considerar o contexto em que são feitas suas pesquisas: em meio as Grandes Guerras, num ambiente em que parecia ser preciso marcar a diferença entre o “povo alemão” e o “povo americano” – de sua nova pátria. Ainda assim, mesmo reconhecendo os aspectos históricos dos fenômenos grupais, herança notável de sua formação cientifica europeia, Lewin elabora nessa mesma tradição um entendimento sobre grupos tratando daquilo que e “visível”, ainda que seja seu efeito, como as forças de atração e de repulsão interindividuais. Nas suas considerações, em que pese a importância da valoração dos grupos e de suas diferenças, elementos essencialmente simbólicos, o grupo continua mantendo uma existência natural. Portanto, não são consideradas as dimensões imaginarias (isto é, afetivas, sócio históricas) nos fenômenos grupais, as quais poderiam auxiliar na explicação do que produz e sustenta essas valorações e diferenças.
 
Como você pode perceber, o ideário de Kurt Lewin torna-se referência indispensável nos estudos relacionados a dinâmica de grupo, pois suas pesquisas praticamente marcaram o aparecimento desse campo. Foi a partir desta referência que vários pesquisadores puderam contribuir para a construção desse saber, tais como Moreno, Piaget, Bales, Mucchielli, entre outros. Moreno trouxe uma abordagem baseada em uma conotação psicanalítica, criando os grupos de psicodrama, sociograma, role-playing e outras técnicas. Piaget criou a corrente da epistemologia genética, na psicologia do desenvolvimento, enfatizando o grupo como elemento fundamental na educação do pensamento lógico. Bales, na comunicação no grupo, desenvolveu um referencial acerca do chamado grupo de trabalho. Nestes referenciais, as definições de relações humanas estão ligadas à experiência vivencial dos indivíduos, que se desempenham dentro dos roles correspondentes a seus agrupamentos biológicos (sexo, idade), e a sua adaptação social, adquirida através de seu crescimento e capacitação. (MINICUCCI, 2001).
 
“Os acontecimentos mais significativos para a vida dos indivíduos e dos grupos estão vinculados ao esclarecimento dessas diferenças funcionais e biológicas, referentes a cada ser humano. As comparações, imitações, rivalidades, satisfações e desilusões de cada um constituem o drama dos seres humanos, que convivem e que se empenham em encontrar a maneira de manter sua posição individual num mundo que pertence aos demais. As inter-relações existentes dos grandes e dos pequenos, dos jovens e dos velhos, dos homens e das mulheres satisfazem a esta descrição universal das diferenças possíveis com uma significação dinâmica para cada ser humano.” Fonte: https://psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/dinamica-de-grupo-e-sua-contribuicao-para-a-qualidade-de-vida-na-terceira-idade © Psicologado.com, acessado em 01/02/2016
É importante reconhecer que Lewin foi inovador ao abordar aspectos da personalidade como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia, dando status científico a essas considerações. Mesmo reconhecendo os aspectos históricos dos fenômenos grupais, herança de sua formação científica europeia, Lewin elabora dentro dessa mesma tradição um entendimento sobre grupos tratando daquilo que é “visível”, ainda que seja seu efeito, como as forças de atração e de repulsão interindividuais.
Assim, na perspectiva sócio histórica, a teoria de Lewin não considera as dimensões afetivas e sócio históricas nos fenômenos grupais, as quais poderiam auxiliar na explicação do que produz e sustenta essas valorações e diferenças.
 
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as origens históricas dos estudos sobre grupos e a relevância do escopo teórico desenvolvido por Kurt Lewin.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A proposta de trabalho com grupos de Kurt Lewin, a partir da compreensão e intervenção sobre sua dinâmica, abre uma nova frente de atuação para a psicologia. A novidade desta proposta pode ser reconhecida:
(a) na compreensão do grupo como lugar de forças e interações;
(b) na concepção de grupos numa perspectiva positivista;
(c) na tentativa de construirum teoria psicológica de forte concepção matemática e física;
(d) no desafio às concepções humanistas em psicologia;
(e) na submissão de Lewin aos fundamentos da psicologia social americana.
Se você compreendeu adequadamente a proposta teórica apresentada por Kurt Lewin, assinalou a alternativa a. As demais alternativas não correspondem ao arcabouço teórico proposto por Lewin pois o autor não corresponde a uma corrente positivista e, apesar de ter se utilizado de conceitos da matemática e física, não se constituiu o foco da construção de sua teoria. Apesar de Lewin dar um status científico a essas considerações, tão pouco elaborou uma teoria especificamente para contrapor as concepções humanistas ou foi submisso a psicologia social americana, visto seu caráter inovador, ao abordar aspectos da personalidade como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia.
Módulo 3: ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GRUPOS-1
 
Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
 
Leitura para Aprofundamento:
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. Petrópolis: Vozes, 2013.
PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1994. (Capítulo 13)
 
Neste momento vamos identificar algumas das principais abordagens teóricas que estudaram e desenvolveram um compêndio teórico e prático sobre a dinâmica grupal.
Dentre eles, nos ateremos neste módulo a: Moreno, Piaget e Pichón-Revière.
 
Contribuições teóricas: Moreno
 
Jacob Levy Moreno, o criador do Psicodrama, nasceu em 6 de maio de 1889, na cidade de Bucareste, na Romênia e morreu em Beacon, em 14 de maio de 1974, aos 85 anos de idade. Era de origem judaica (sefardim) e sua família veio da península ibérica e radicou-se na Romênia na época da Inquisição. Aos cinco anos de idade mudou-se com a família para Viena e foi neste local que vivenciou a brincadeira de ser deus, que ele, com humor, relaciona a sua ideia de espontaneidade como centelha divina que existe em cada um de nós.
Até 1920, Moreno teve uma intensa vida religiosa, fazendo parte de um grupo que fundou a "Religião do Encontro". Eles expressavam sua rebeldia diante dos costumes estabelecidos usando barbas, vivendo pelas ruas à maneira dos mais pobres e procurando novas formas de interação com o povo. Neste período, ele ia aos jardins de Viena e criava jogos de improviso com as crianças, favorecendo-lhes a espontaneidade, e participou, no ano de 1914, em Amspittelberg, juntamente com um médico venereologista e um jornalista, de um trabalho com prostitutas vienenses através do qual, utilizando técnicas grupais, conscientizou-as de sua condição, o que proporcionou que organizassem uma espécie de sindicato. Formou-se em medicina em 1917. Interessou-se pelo Teatro, fundando, em 1921, o Teatro Vienense da Espontaneidade, experiência que constituiu a base de suas ideias da Psicoterapia de Grupo e do Psicodrama. A proposta do Teatro da Espontaneidade consistia na criação de uma representação espontânea, sem texto pronto e decorado, com os atores criando no momento e assim relacionando-se com a plateia. A partir daí ele criou o "jornal vivo", em que dramatizava as notícias do jornal diário junto com o grupo participante, lançando naquele momento as raízes do Sociodrama. Ao trabalhar com os pacientes do hospital psiquiátrico usando o "Teatro da Espontaneidade", criou o Teatro Terapêutico, que depois foi chamado "Psicodrama Terapêutico". Em 1925 emigrou para os EUA, onde, dois anos depois, fez a primeira apresentação do Psicodrama fora da Europa. Em 1931 introduziu o termo Psicoterapia de Grupo e este ficou sendo considerado o ano verdadeiro do início da Psicoterapia de Grupo científica, embora as fundamentações e experiências tenham iniciado em Viena. (ALMEIDA, GONÇALVES e WOLFF, 1988)
 
A palavra "Drama" significa "ação" em grego e, neste sentido, o. Psicodrama pode ser definido como uma via de investigação da alma humana mediante a ação. O Psicodrama consiste em um método de pesquisa e intervenção nas relações interpessoais, nos grupos, entre grupos ou de uma pessoa consigo mesma. O objetivo se relaciona a mobilizar para vivenciar a realidade a partir do reconhecimento das diferenças e dos conflitos e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado, expandindo os recursos disponíveis. Tem sido amplamente utilizado na educação, nas empresas, nos hospitais, na clínica, nas comunidades.
 
O Psicodrama é uma parte de uma construção muito mais ampla, criada por Jacob Levy Moreno, a Socionomia. Na verdade, a denominação da parte foi estendida para o todo e, quando as pessoas usam o termo Psicodrama, estão, geralmente, se referindo à Socionomia - ciência das leis sociais e das relações, que se caracteriza fundamentalmente por seu foco na intersecção do mundo subjetivo, psicológico e do mundo objetivo, social, contextualizando o indivíduo em relação às suas circunstâncias. Divide-se em três ramos: a Sociometria, a Sociodinâmica e a Sociatria, que guardam em comum a ação dramática como recurso para facilitar a expressão da realidade implícita nas relações interpessoais ou para a investigação e reflexão sobre determinado tema.
 A Sociometria, através do teste sociométrico, mensura as escolhas dos indivíduos e expressa-as através de gráficos representativos das relações interpessoais, possibilitando a compreensão da estrutura grupal.
 A Sociodinâmica investiga a dinâmica do grupo, as redes de vínculos entre os componentes dos grupos.
 A Sociatria propõe-se à transformação social, à terapia da sociedade.
 
A Sociodinâmica e a Sociatria têm objetivos complementares e utilizam-se das mesmas técnicas: o Psicodrama, o Sociodrama, o Role Playing, o Teatro Espontâneo, a Psicoterapia de Grupo. Enquanto técnicas, a diferença entre o Psicodrama e o Sociodrama consiste em que no primeiro o trabalho dramático focaliza o indivíduo - embora sempre visto como um ser em relação - e no segundo focaliza o próprio grupo.
 
De acordo com a FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama (http://www.febrap.org.br, 2016), a transformação social e o trabalho com a comunidade era o grande sonho de Moreno. No começo do século XX, ele buscava relacionar-se com crianças e adultos nas praças e ruas de Viena, estimulando-os a descobrirem novas formas de estar no mundo. A filosofia do momento, que embasa a teoria e a prática psicodramática, foi sendo configurada através de sua observação do potencial criativo do ser humano. Desde então, o Psicodrama vem se transformando, desenvolvendo-se como teoria e como prática. Profissionais da área clínica adaptaram-no para o atendimento processual em consultório, muitas vezes num enquadre de psicoterapia individual, trazendo novas contribuições para a teoria psicodramática do desenvolvimento emocional e para a compreensão da psicopatologia, assim como para a configuração de modelos referenciais na compreensão da experiência emocional humana e dos grupos. Neste contexto, mais comumente, a expressão dos impedimentos e conflitos envolve tensão, agressividade e, principalmente, o reconhecimento e acolhimento da dor psíquica.
 
 A prática psicodramática, em suas inúmeras modalidades, começa pelo envolvimento das pessoas com o tema ou com a experiência a ser vivenciada, através de lembranças ou histórias do cotidiano dos indivíduos e/ou das organizações. Cabe ao diretor manejar as técnicas psicodramáticas, como recursos de ação, para garantir o envolvimento do grupo e a escolha da cena protagônica, que refletirá a experiência dos presentes. Ele vai convidando todos para participarem na criação conjunta do enredo, favorecendo a emergência da realidade grupal.
 
Neste sentido, o Psicodrama é facilitador da manifestação das ideias, dos conflitos sobre um tema, dos dilemas morais, impedimentos e possibilidades de expressão em determinadasituação. Fundamentado na teoria do momento e no princípio da espontaneidade, promove a participação livre de todos e estimula a criatividade na produção dramática e na catarse ativa. Finaliza-se com os comentários, inicialmente dos participantes da cena e depois do grande grupo, com a identificação da realidade que acaba de ser vivenciada e com o levantamento de soluções possíveis para as questões abordadas.
 
Nas atividades desenvolvidas no âmbito social, buscam-se soluções práticas e reais para os problemas, contribuindo para a descoberta de alternativas que promovam o desenvolvimento sustentável nas comunidades.
 
O principal objetivo da ação dramática é favorecer aos membros do grupo a descoberta da riqueza inerente em vivenciar plenamente o status nascendi da experiência grupal, participando com a maior honestidade possível no momento. Desta maneira, os participantes recriarão no grupo seus modelos de relacionamento, confrontando e sendo confrontados com as diferenças individuais, condição necessária para apreenderem a distinção entre sua experiência emocional e a dos outros, sendo cada um deles agente transformador dos demais. O Psicodrama vem expandindo suas fronteiras, ampliando a diversidade de experiências de intervenção psicossocial. Acompanhando esta expansão, a produção científica tem procurado aprofundar as questões provocadas por esta prática renovada. (http://www.febrap.org.br/psicodrama/default.aspx?idm=20, acessado em 01/02/2016).
 
 
 
Contribuições teóricas: Piaget
 
Jean Piaget nasceu em 1896 e faleceu em 1980, renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio, obtendo com isso um significativo impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia. Piaget aos 11 anos de idade publicou seu primeiro trabalho sobre sua observação de um pardal albino, estudo que é considerado o início de sua brilhante carreira científica. Ele frequentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou Biologia e Filosofia, recebendo seu doutorado em Biologia em 1918, aos 22 anos de idade.
Após formar-se, Piaget foi para Zurich, onde trabalhou como psicólogo experimental. Lá ele frequentou aulas lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clínica, experiências que muito o influenciaram em seu trabalho. Ele passou a combinar a psicologia experimental, que é um estudo formal e sistemático, com métodos informais de psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes. Em 1919, Piaget mudou-se para a França, onde foi convidado a trabalhar no laboratório de Alfred Binet, um famoso psicólogo infantil que desenvolveu testes de inteligência, padronizados para crianças. Piaget notou que crianças francesas da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento lógico se desenvolve gradualmente. Foi então em 1919 que Piaget iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa. Jean Piaget revolucionou as concepções de inteligência e de desenvolvimento cognitivo partindo de pesquisas baseadas na observação e em entrevistas que realizou com crianças. Buscando analisar as relações que se estabelecem entre o sujeito que conhece e o mundo que tenta conhecer, considerou-se um epistemólogo genético porque investigou a natureza e a gênese do conhecimento nos seus processos e estágios de desenvolvimento. Em 1921, Piaget voltou à Suíça e tornou-se diretor de estudos no Instituto J. J. Rousseau da Universidade de Genebra, buscando observar crianças brincando e registrando meticulosamente as palavras, ações e processos de raciocínio delas. As teorias de Piaget foram, em grande parte, baseadas em estudos e observações de seus filhos que ele realizou ao lado de sua esposa. Piaget lecionou em diversas universidades europeias, dentre elas a Universidade de Sorbonne (Paris, França), onde permaneceu de 1952 a 1963. Até a data de seu falecimento, Piaget fundou e dirigiu o Centro Internacional para Epistemologia Genética. Ao longo de sua brilhante carreira, Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos. Piaget desenvolveu diversos campos de estudos científicos: a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e o que veio a ser chamado de epistemologia genética, as quais tinham o objetivo de entender como o conhecimento evolui. Piaget parte do pressuposto de que o conhecimento evolui progressivamente por meio de estruturas de raciocínio que substituem umas às outras por meio de estágios. Isso significa que a lógica e formas de pensar de uma criança são completamente diferentes da lógica dos adultos.
A essência do trabalho de Piaget ensina que ao observarmos cuidadosamente a maneira com que o conhecimento se desenvolve nas crianças, podemos entender melhor a natureza do conhecimento humano. Em sua teoria identifica os quatro estágios de evolução mental de uma criança, sendo que cada estágio é um período onde o pensamento e comportamento infantil é caracterizado por uma forma específica de conhecimento e raciocínio: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.
A capacidade de adaptar-se para Piaget é o processo de funcionamento do organismo a uma nova situação, e como tal, implica a construção contínua do modo como as partes ou elementos se relacionam, e que determina as características ou o funcionamento do todo. Essa adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. De tal forma, indivíduos progridem intelectualmente a partir do ato de exercitar e estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. Ramozzi-Chiarottino citado por Chiabal (1990) diz que o que vale igualmente dizer que a inteligência humana pode ser praticada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades, que passam gradativamente de um estado a outro desde o nível mais primitivo da existência, caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas.
 Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo, sendo caracterizada como uma teoria interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo não somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas. A adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar". Piaget situa o problema epistemológico no âmbito de uma interação entre o sujeito e o objeto. E de acordo com Piaget (1982) essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, e permite seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento.
O construtivismo piagetiano analisa os processos de desenvolvimento e aprendizagem como resultados da atividade do homem na interação com o ambiente. E para explicar tal interação Piaget citado em Goulart (1983) propõe alguns conceitos centrais como: assimilação, acomodação e adaptação.
A assimilação é considerada como a incorporação dos dados da realidade nos esquemas disponíveis no sujeito, ou seja, o indivíduo assimila tudo o que ouve, transformando isso em conhecimento próprio. “No processo de acomodação o sujeito modifica os esquemas para internalizar os elementos novos. Do equilíbrio desses dois processos ocorre umaadaptação ao mundo cada vez mais adequada e uma consequente organização mental”. (GOULART, 1983).
Piaget (1982) apresenta o pressuposto de que a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, negligenciadas. Porém, apesar de tal afirmação, Piaget não se deteve sobre essa questão do papel dos fatores sociais no desenvolvimento humano e sim, das influências e determinações dessa mesma interação sobre a inteligência do ser humano.
 
As observações de Piaget põem em foco as condições intelectuais que tornam a pessoa capaz de cooperar e explicam o efeito da cooperação na formação de sua mente. A estruturação do pensamento em agrupamentos e em grupos móveis permite que cada indivíduo adote múltiplos pontos de vista. Outro tipo de comportamento que a atividade grupal desenvolve, segundo a linha de Piaget, é chamado de reciprocidade. No momento em ocorre contribuições de ajuda mútua, colaboração. O indivíduo raciocina com mais lógica quando discute com os outros, em reciprocidade. (MINICUCCI, 1997). Para o autor o indivíduo raciocina com mais lógica quando discute com outro, pois, frente ao companheiro, a primeira coisa que procura é evitar a contradição. Por outro lado, a objetividade, o desejo de comprovação, a necessidade de dar sentido ás palavras e ás idéias são não só obrigações sociais, como também condições de pensamento operatório. (MINICUCCI, 1997).
 
Mediante experiências em grupo, o indivíduo aprende que, ante algo objetivo, pode - se adotar diferentes pontos de vista correlatos e que as diversas observações extraídas não são contraditórias, mas complementares. O indivíduo que intercambia em grupo suas idéias, com seus semelhantes, tende a organizar de maneira operatória seu próprio pensamento, portanto, o grupo favorece o desenvolvimento do chamado pensamento operatório. (MINICUCCI, 1997).
Considerando estes conceitos centrais, o educador deve tornar a atividade grupal proporcional ao nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, não podendo ir além das suas capacidades, nem deixá-los agindo sozinhos, uma vez que, busca-se que o sujeito seja capaz de formar esquemas conceituais de conteúdos com flexibilidade de pensamento, estimulando-se a reflexão e construção de conceitos e princípios ao interagir com o outro.
 
 
Contribuições teóricas: Pichón-Revière
 
Enrique Pichon Rivière nasceu em Genebra (1907) tendo migrado para Buenos Aires em 1977, sendo um médico psiquiatra e psicanalista suíço, nacionalizado argentino. A técnica dos grupos operativos começou a ser sistematizada por Enrique Pichon-Rivière, a partir de uma experiência no hospital de Las Mercedes, em Buenos Aires, por ocasião de uma greve de enfermeiras. Esta greve inviabilizaria o atendimento aos pacientes portadores de doenças mentais no que diz respeito à medicação e aos cuidados de uma maneira geral. Diante da falta do pessoal de enfermagem, Pichon-Rivière propõe, para os pacientes “menos comprometidos”, uma assistência para com os “mais comprometidos” e a experiência foi muito produtiva para ambos os pacientes, os cuidadores e os cuidados, por ter havido maior identificação entre eles e pôde-se estabelecer uma parceria de trabalho, uma troca de posições e lugares, trazendo melhor integração. Pichon-Rivière começou a trabalhar com grupos na medida em que observava a influência do grupo familiar em seus pacientes. Sua prática psiquiátrica esteve subsidiada principalmente pela psicanálise e pela psicologia social, sendo ele o fundador tanto da Escola Psicanalítica Argentina (1940) como do Instituto Argentino de Estudos Sociais (1953). Para o autor, o objeto de formação do profissional deve instrumentar o sujeito para uma prática de transformação de si, dos outros e do contexto em que estão inseridos, defendendo a ideia de que aprendizagem é sinônimo de mudança, na medida em que deve haver uma relação dialética entre sujeito e objeto e não uma visão unilateral, estereotipada e cristalizada.
 
A aprendizagem centrada nos processos grupais coloca em evidência a possibilidade de uma nova elaboração de conhecimento, de integração e de questionamentos acerca de si e dos outros. A aprendizagem é um processo contínuo em que comunicação e interação são indissociáveis, na medida em que aprendemos a partir da relação com os outros. A técnica de grupo operativo consiste em um trabalho com grupos, cujo objetivo é promover um processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos, através de uma leitura crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações. Neste conceito, a constituição do sujeito é marcada por uma contradição interna: ele precisa, para satisfazer as suas necessidades, entrar em contato com o outro, vincular-se a ele e interagir com o mundo externo. Deste sistema de relações vinculares emerge o sujeito, sujeito predominantemente social, inserido numa cultura, numa trama complexa, por meio da qual internalizará vínculos e relações sociais que vão constituir seu psiquismo.
 
Para Pichon-Rivière (1988), a teoria do vínculo tem um caráter social na medida em que compreende que sempre há figuras internalizadas presentes na relação, quando duas pessoas se relacionam, ou seja, uma estrutura triangular. O vínculo é bi-corporal e tripessoal, isto é, em todo vínculo há uma presença sensorial corpórea dos dois, mas há um personagem que está interferindo sempre em toda relação humana, que é o terceiro. Neste sentido, vínculo é uma estrutura psíquica complexa. O circuito vincular tem direção e sentido, tendo um porquê e um para quê. Quando somos internalizados pelo outro e internalizamos o outro dentro de nós, podemos identificar o estabelecimento do vínculo de mútua representação interna. Considera-se que este vínculo consiste em uma estrutura complexa de relação que vai sendo internalizada e que possibilita ao sujeito construir uma forma de interpretar a realidade própria. Na vivência com os outros nós nos constituímos por meio de uma história vincular que vai se tecendo nessa relação. Assim, o grupo operativo é considerado como uma estrutura operativa que possibilita aos integrantes meios para que eles entendam como se relacionam com os outros (GAYOTTO, [1992]).
 
 
Atividades recomendadas:
 
Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as origens históricas dos estudos de Moreno, Piaget e Pichón-Revière sobre grupos e a relevância do escopo teórico desenvolvido por eles.
Procure identificar as nuances diferenciais entre os autores.
 Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
“Todo conjunto de pessoas, ligadas entre si por constantes de tempo e de espaço e articuladas por sua mútua representação interna, se coloca explícita ou implicitamente na tarefa que constitui sua finalidade”.
Essa síntese constitui um pensamento do autor:
a) Levy Moreno
b) Félix Guattari
c) Pichon-Rivière
d) Jean Piaget
e) Gregorio Baremblit
Se você compreendeu adequadamente a proposta teórica apresentada por Kurt Lewin, assinalou a alternativa c. As demais alternativas não correspondem a definição de grupo apresentada no enunciado. A definição faz menção a tarefa enquanto finalidade do grupo, fator explicitamente ressaltado por Pichón-Revière e não pelos demais autores. 
Módulo 4: ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GRUPOS-2
 
Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
 
Leitura para Aprofundamento:
MINICUCCI, A. Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
 
Neste momento vamos identificar algumas das principais abordagens teóricas que estudaram e desenvolveram um compêndio teórico e prático sobre a dinâmica grupal.
Dentre eles, nos ateremos neste módulo às contribuições teóricas de Schutz e à Avaliação dos fenômenos da interação humana em grupos de Bales.
 
Contribuições teóricas: Schutz
 
Will C. Schutz foi um estudioso das dinâmicasde grupos e desenvolveu ao longo de 30 anos suas pesquisas sistemáticas, realizando novas experiências sobre o fenômeno estudado por Kurt Lewin.
Schutz (1958) destacou as implicações de suas descobertas como a interdependência e a estreita correlação que existe em todo grupo de trabalho entre seu grau de integração e seu nível de criatividade. O autor também considera as dimensões de dependência e interdependência como fatores centrais de compatibilidade de grupo, indicando que o determinante estratégico de compatibilidade é a dosagem específica de orientações para autoridade com orientações para intimidade pessoal. A concepção de compatibilidade de grupo é importante na constituição de equipes de trabalho, que tem metas bem definidas a alcançar, que poderia, ou deveria, funcionar adequadamente pela competência técnica de seus integrantes, mas que, por vezes, não rendem o esperado, certamente pelas dificuldades interpessoais no trabalho grupal.
No desenvolvimento do grupo, portanto, precisam também ser considerados os aspectos de personalidade de seus membros com relação as dimensão de dependência (autoridade) e interdependência (intimidade) além da dimensão tempo e outros fatores, tais como: objetivos do grupo, contexto físico-social, dentre outros. Esta formulação permite a Schutz a elaboração de um teste chamado FIRO (Fundamental Interpessoal Relations Orientations), capaz de medir conflitos e/ou independência em relação a cada uma das dimensões, bem como o grau com que o indivíduo fará sentir os seus pontos de vista ao expressar-se em um grupo. O autor inova o fenômeno grupal com sua teoria das “Necessidades Interpessoais” na formação e desenvolvimento de um grupo, conceito usado para especificar que a integração dos membros de um grupo acontece quando certas necessidades fundamentais são satisfeitas, pois só em grupo e pelo grupo essas necessidades podem ser satisfeitas, sendo fundamentais porque são vivenciadas por todo ser humano em um grupo qualquer.
Schutz (1958) nota 3 zonas de necessidades interpessoais existentes em todos os grupos:
 
· NECESSIDADE DE INCLUSÃO; que significa a necessidade de se sentir considerado pelos outros, de sua existência no grupo ser de interesse para o outros. Cada membro do grupo procura seu lugar através de tentativas para encontrar e estabelecer os limites de sua participação no grupo, o quanto vai dar de si, o quanto espera receber, como se mostrará ou que papel desempenhará primordialmente. É uma fase de introdução do grupo de forma ativa e experimental.
A necessidade de inclusão é o sentir-se aceito, integrado e valorizado totalmente pelo grupo, além de procurar provas de que não é ignorado, isolado ou rejeitado. Em todas as três etapas, a maturidade social (o nível de socialização), e a necessidade de inclusão, condicionarão e determinarão atitudes mais ou menos adultas, evoluídas. Logo, os menos socializados nesta fase, comportam-se como membros infantis, com atitudes de dependência ou como membros da fase típica da revolta adolescente com atitudes de contra-dependência, forçando a inclusão. Esta fase refere-se ao significado que cada pessoa pensa ou sente ter para as outras pessoas que compõem o grupo. Assim, aquelas que se sentem com autoestima baixa comportam-se de maneiras extremadas e ansiosas, sendo sub-social com atitudes retraídas e afastando-se das pessoas, ou ultra social com atitudes extrovertidas, não suportando ficar sozinhas.
 
Os sentimentos inconscientes são iguais tanto no comportamento do sub-social quanto no comportamento do ultra social, mesmo que manifestos e opostos, a técnica sutil utilizada por ambos é de ser querido e poderoso. Os mais socializados podem participar muito ou pouco numa situação de grupo sem sentir-se ansioso, tendo atitudes de autonomia e interdependência e encontram satisfação pelos laços que estabelecem entre os membros do grupo. Para Schutz (1958), somente estes se tornam capazes de dar e receber afeição e estabelecem suas relações em nível autenticamente interpessoal. Os problemas apontados nesta fase de inclusão é o da decisão, ficar dentro ou fora do grupo. As interações de inclusão concentram-se nos encontros e a ansiedade da inclusão é de ser insignificante.
 
 
· NECESSIDADE DE CONTROLE: significa respeito pela competência e responsabilidade dos outros e consideração dos outros pela competência e responsabilidade do indivíduo. Encontrado o seu lugar, cada membro passa a interessar-se pelos procedimentos que levem às decisões, ou seja, pela distribuição do poder no grupo e controle das atividades dos outros. É uma fase de jogo de forças, competição por liderança, discussões sobre metas e métodos, atuação no grupo e formação de normas de conduta dentro do grupo. Cada um busca atingir um lugar satisfatório às suas necessidades de controle, influência e responsabilidade.
A necessidade de controle faz referência ao poder, influência, autoridade, como também os indivíduos definirão para si mesmo suas próprias responsabilidades e as de cada membro dentro do grupo. Surgem então, questões como o grupo está controlado e por de quem? Quem tem autoridade sobre quem, em que momento e por quê? Respostas a estas perguntas trazem segurança para o indivíduo e vai delineando as estruturas do grupo e da autoridade.
A socialização determinará os comportamentos assim como o seu grau, sendo que os menos socializados permanecerão com atitudes infantis e dependentes procurando livrar-se das responsabilidades e passando-as, por exemplo, para aqueles que denominam como mais carismáticos. O desejo de controle varia entre desejo de ser controlado, isentando-se de responsabilidade e o desejo de controlar, que é ter autoridade sobre os outros com objetivo de ter controle sobre o próprio futuro. O comportamento de controle não implica em destacar-se como na inclusão. pois está subjacente à competência, ou seja, sentir-se competente ou sentir-se incapaz. Aqueles que se sentem incapazes têm comportamentos extremados e ansiosos com atitudes autocratas, pois tentam dominar, sendo fanático pelo poder e competidor. Os de atitudes abdicrata afastam-se de posições de poder e responsabilidades. A sensação latente tanto no autocrata quanto no abdicrata é a mesma, a incapacidade de se desincumbir de obrigações; não ser competente. Aqueles que se sentem capazes, denominados como democrata, que teve o seu problema de controle resolvido na infância, sentem-se confiável, dando ou recebendo. Pensa e quer o controle do grupo em termos de responsabilidades partilhadas. O problema do controle é estar por cima ou por baixo. A interação primária do controle é o confronto devido papéis diversificados e as lutas pelo poder. Competição e a influência passam a ter uma importância central e a ansiedade do controle corresponde a de ser incompetente.
 
· NECESSIDADE DE AFETO: significa sentimentos mútuos ou recíprocos de amar os outros e ser amado, ou seja, sentir-se amado. Uma vez resolvidos razoavelmente os problemas de controle, os membros começam a expressar e buscar integração emocional. Surgem abertamente manifestações de hostilidade direta, ciúmes, apoio, afeto e outros sentimentos. Cada um procura conhecer as possibilidades de intercâmbio emocional, estabelecer limites quanto à intensidade e qualidade das trocas afetivas. O clima emocional do grupo pode oscilar entre momentos de grande harmonia e momentos de insatisfação, hostilidade e tensão. A tendência é o estabelecimento de um clima afetivo positivo dentro do grupo e que traz satisfações a todos, mas que não perdura muito tempo, passando ao polo oposto. 
Esta é a fase dos vínculos emocionais que se refere às proximidades pessoais e emocionais entre as pessoas. É a última fase a emergir no desenvolvimento de uma relação humana ou de um grupo. Os indivíduos querem obter provas de serem totalmente valorizados. Desejam ser percebidos como insubstituíveis e aspiram ser respeitados por suas competências, aceitos como seres humanos não apenas pelo que têm,

Continue navegando