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Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 1 MENINGITE É uma doença que resulta de um processo inflamatório das meninges, podendo ser de várias etiologias, como bacteriana, viral, fúngica e parasitária (mais rara). Algumas etiologias podem cursar com alta letalidade, ou com evolução para quadros hemorrágicos (podem se confundir com dengue, por exemplo). p.s.: encefalite é a infecção do parênquima cerebral. Ela afeta a função cerebral. Paciente pode ter processo meningoencefalite (tem as duas manifestações). Pode ter cuasa virar e bacteriana (m. tuberculosis). • Sinais de disfunção cerebral difusa: alteração da consciência (letargia, confusão e obnubilação), incoordenação, confulsoes, febre, cefaleia, vômitos • Principais responsáveis pelos surtos e epidemias? Vírus e bactéria Neisseria meningitidis (meningococo) o Meningite meningocócica tem alta morbidade e letalidade o Meningite viral é mais frequente que bacteriana → geralmente quadros benignos e autolimitados o Meningite está na lista de doenças de notificação compulsória → casos precisam ser notificados • O que é meningite asséptica? É a síndrome clinica de infecção meníngea em que não há crescimento bacteriano no líquor → processo inflamatório que compromete as meninges, sem evidencias de infecção bacteriana piogênica na cultura ou coloração gram. o Causas: infecções virais e não virais, fármacos, câncer, doenças reumatológicas e metástases tumorais o Meningite asséptica é tudo que não é bacteriana (é a meningite que não vamos tratar com ATB) → evidencias clinicas e laboratoriais de meningite, com culturas negativas para bactéria o Maioria causada por meningite viral → melhora espontâne Acontece pelo contato com secreções respiratórias do portador do agente → inalação de gotículas de secreção de VIA. Precisa ter um contato íntimo (ex. moradores da mesma casa). Meningites virais geralmente são transmitidas via fecal-oral. O período de incubação é, em geral, de 2 a 10 dias com média de 3 a 4 dias. ETIOLOGIAS: Bacteriana: Principais: Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo), Haemophilus influenzae. Viral: Em geral, têm evolução benigna, baixa letalidade e menos risco de sequelas. Frequentemente associadas à ocorrência de surtos. Fúngica: Principais são do gênero Cryptococus → C. neoformans e C. gati. Meningite criptocócica tem característica muito oportunista → acomete principalmente indivíduos com sistema imunológico comprometido (mas a espécie C. gattii pode acometer imunocompetentes, residentes em áreas tropicais e subtropicais, com caráter epidêmico). Geralmente, cursa com comprometimento neurológico importante, com evolução grave. Tem um elevado risco de complicações, como hipertensão intracraniana e de sequelas, como hidrocefalia e déficit ognitivo. Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS GERAIS: • Febre de início súbito • Cefaleia • Prostração • Náuseas • Vômitos hiporexia • Rigidez de nuca • Mialgia • Agitação • Fotofobia • Sinais meníngeos o Irritação menígea: ▪ Rigidez nucal: incapacidade de tocar o queixo no tórax. Flexão passiva ou ativa. ▪ Sinal de Kernig: flexão passiva da coxa sobre a bacia, em ângulo reto, com dor e resistência à extensão do joelho ▪ Sinal de Brudzinski: flexão involuntária da perna ao se tentar fletir a cabeça do paciente o Fazer logo o exame neurológico. Prestar atenção nos possíveis sinais focais (podem ser edema, oclusão vascular, congestão) Em lactentes: irritabilidade, baixa aceitação a dieta, hipertonia/hipotonia, febre, convulsões, choque séptico, abaulamento de fontanela, grito meníngeo. Rigidez de nuca quase nunca presente. Sinais de gravidade: • Piora da cefaleia • Rabaixamento do nível de consciência • Torpor Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 3 • Convulsões • Déficit neurológico focal • Confusão mental • Transtornos pupilares • Turvação visual • Paralisias de nervos cranianos MENINGITE VIRAL : Causada principalmente pelo enterovírus, são comuns manifestações gastrintestinais, respiratórias e erupção cutânea. • No exame físico observa-se um bom estado geral associado aos sinais de irritação meníngea. • Tende a ter bom prognóstico e a ser autolimitada. • Infecção enteroviral é disseminada predominantemente pela via fecal-oral e ocasionalmente pela via respiratória O que acontece na meningite viral? Vírus chegam ao SNC por via hematogênica ou neuronal. No LCR: • Pleocitose, principalmente linfocítica • Concentrações normais de glicose • Proteínas ligeiramente elevadas, em geral <150 mg/dL • Nas primeiras 24-48 horas da meningite enteroviral, há predominância de neutrófilos e depois linfócitos MENINGITE BACTERIANA: As bactérias podem ter acesso às meninges ao atravessar a barreira hematoencefálica por acesso direto, contiguidade (otites), via hematogênica ou derivações liquoricas. Pia-máter geralmente impede surgimento de abcesso O que acontece na meningite bacteriana? As bactérias se lisam e liberam suas endotoxinas (gram -), acido teicoico e peptideoglicano (gram +) da parede celular, induzindo a produção de citocinas inflamatórias que aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica → edema vasogênico e hidrocefalia. • Migração de leucócitos resulta em degranulação e liberação de metabólitos tóxicos que geram edema citotóxico, crises epilépticas e até mesmo acidente vascular • Há aumento da pressão intracraniana e pode ocorrer o coma • Transmissão pode acontecer até 24 horas após antibioticoterapia A bacteriana costuma progredir rapidamente para confusão, obnubilação e perda da consciência. A apresentação clínica pode ser de 3 síndromes, que podem acontecer isoladamente ou combinadas (de acordo com o Sanar): • Síndrome toxêmica: o Queda importante do estado geral o Febre alta o Delirium o Quadro confusional o Sinal de Faget (dissociação pulso-temperatura) pode estar presente • Síndrome de hipertensão intracraniana: cefaleia, náuseas e vômitos • Síndrome da irritação meníngea: rigidez nucal, sinal de Kernig e de Brudzinsk e desconforto lombar Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 4 A meningococcemia é um quadro muito agudo. Tem evolução rápida, pois pode dar septicemia. Faz muita vasculite (por isso as purpúras e petéquias). • Febre alta e comprometimento rápido do estado geral • Prostração intensa • Palidez • Sinais de toxemia • Exantema e/ou petéquias, sufusões hemorrágicas • Hipotensão • Rebaixamento do sensório, associados ou não a quadro de meningite, podendo evoluir para choque. • Precisa de tratamento urgente! • Sinais de sepse → alastramento hematogênico da infecção p.s.: presença de lesões cutâneas é bem características da N. meningitidis AULA: a clínica é quase um quarteto: febre de inicio agudo + rigidez de nuca + alteração do estado mental + cefaleia • Febre alta → 38,5 – 40ºC • Paciente geralmente procura logo atendimento médico, porque está muito sintomático • Cefaleia geralmente muito forte e piora quando o paciente mexe a cabeça • Alteração do estado mental, obnubilação, perda de consciência • Vômitos (geralmente em jato), mialgia, astenia • Convulsões, sintomas focais papiledema → complicações tardias o Papiledema é sinal de HIC, iminente de herniação o Não dá para colher liquido • Se o paciente apresentar petéquias e purpuras + sinais de meningite → meningococcemia. Não pode esperar nem um segundo para intervir! • Artralgia e artrite • Costuma poupar outros órgãos → exceto em caso de sepse A meningite bacteriana é uma emergência médica → precisa de diagnóstico imediato e instituição rápida de terapia antimicrobiana. Atraso no tratamento é o fator mais importante na determinação da morbidade e da mortalidade de pacientes com meningite bacteriana. Quandose tem suspeita → hemocultura, cultura do LCR e terapia com ATB empiricamente. Em alta suspeição, não espere todos os sintomas! • Se tiver contra indicação para LCR? Hemocultura, ATB empírico e TC de crânio • São 2 hemoculturas DIAGNÓSTICO DA MENINGITE BACTERIANA : O diagnóstico de meningite bacteriana é pela análise do LCR, principalmente pelo quimiocitológico e cultura. Alguns sinais e sintomas indicam a realização de uma tomografia computadorizada antes da punção lombar. Se tiver piodermite no local, a punção está contra-indicada. • Não devemos esperar o quadro clínico completo para pensar em meningite bacteriana, pois ela é uma emergência medica • Hemograma pode ser muito inespecífico • Coleta de LCR → fundamental para diagnóstico de meningite bacteriana o Contraindicações: ▪ Paciente imunocomprometido ▪ História de doença em SNC (massa, AVE, infecção) Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 5 ▪ Papiledema ▪ Alteração do nível de consciência ▪ Sinais focais No exame do LCR: • Avaliar aspecto do líquor: líquor saudável é cristalino o LCR turvo → inflamação o LCR avermelhado → hemorragia no SNC ou acidente de punção • Pressão inicial em geral moderadamente elevada (200 a 300 mm H2 H2O em adultos) • >450 mm H2O acontece em edema cerebral agudo • Achados sugestivos de meningite bacteriana: o Predomínio de neutrófilos e polimorfonucleado o Celularidade: 1000-5000 leucócitos/mcL o Proteína > 200 mg/dL ▪ Proteína aumenta o Glicose <40 mg/dL (relação <0,4) ▪ É importante para diferenciarmos meningite bacteriana de virais ou de infecções parameníngeas ▪ Valor normal de glicose não exclui diagnóstico de meningite bacteriana ▪ Hipoglicorraquia pela infecção piogênica porque há um uso aumentado de glicose pelas células polimorfonucleares do hospedeiro durante a fagócitose ⎯ Bactéria consome glicose Bacterioscopia com GRAM: sugere a etiologia dias antes da cultura • Grande quantidade de bactérias no LCR • Diplococos gram positivos → pneumococo • Diplococos gram negativos → meningococo o Neisseria meningitidis • Cocobacilos gram negativos → H. influenzae PCR: • Pode diagnosticar a meningite bacteriana em pacientes nos quais a terapia antimicrobiana tenha começado antes da punção lombar ou quando culturas forem negativas ou quando tiver suspeita de infecção bacteriana Bioquímica: • Hemograma geralmente é inespecífico • Normal: o Proteína <50 mg?dL o Celularidade: <5 células brancas/microL (todos mononucleares) o Relação glicose LCR/soro: >0,6 o Lactato: <3,5 mEq/L Hemocultura: • Realizadas rotineiramente em pacientes com suspeita de meningite bacteriana Exames radiológicos: • TC e RM de crânio inicial não são indicados para a maioria dos pacientes com meningite bacteriana • O que pode ser observado na TC e RM: o Edema cerebral Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 6 o Aumento do espaço subaracnoide o Intensificação de contraste das leptomeninges e epêndima o Áreas focais de densidade diminuída por causa de cerebrite e necrose associadas o Empiema ou coleções subdurais estéreis Diquinha: existe sobreposição entre valores de meningite bacteriana e viral, então se o paciente vier com Gram negativo e leucócitos alto (principalmente predomínio de polimorfo) → presumir que é bacteriana, mas não deu para achar bactéria. Podemos confirmar meningite bacteriana, mas excluir é muito difícil → nenhum outro parâmetro pode excluir com segurança etiologia bacteriana. MENINGITE TUBERCULOSA: Tem 3 estágios: I. Duração de 1 a 2 semanas. Sintomas inespecíficos II. Surgimento de evidencias de dano cerebral, aparecimento de paresias, plegias, estrabismo, ptose palpebral, irritação meníngea e HIC. Podem ter sintomas de encefalite. III. Déficit neurológico focal, rigidez de nuca, alterações do ritmo cardíaco Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 7 p.s.: caso não tenha contraindicação, a punção lombar e coleta de sangue para cultura devem ser feitos antes da antibioticoterapia. (sanar) TRATAMENTO: Medidas iniciais: • Hospitalização em casos suspeitos • Precaução respiratória para gotículas durante as primeiras 24 horas de antibioticoterapia • Coleta de sangue • Medidas de suporte • Antibioticoterapia o quanto antes, preferencialmente após a punção lombar e coleta de sangue o Cecil: ATB deve ser iniciado o quanto antes o Crianças maiores e em adultos, é indicada terapia com vancomicina e uma cefalosporina de terceira geração, como a cefotaxima ou a ceftriaxona o Adultos com mais de 50 anos de idade e em grupos de alto risco, à vancomicina também é acrescentada ampicilina, por causa dos pneumococos resistentes à penicilina, do aumento da frequência de bacilos aeróbicos Gram-negativos na meningite hospitalar e na meningite em pacientes imunocomprometidos o Em meningite pneumocócica → penicilina ▪ Vancomicina ou cloranfenicol em pacientes alérgicos à penicilina • Notificação para a secretaria de saúde Fazer quimioprofilaxia dos contatos mais próximos (indivíduos que frequentemente dormiram e comeram na mesma casa com o paciente, namorada ou namorado). Somente o pessoal hospitalar que esteve em contato estreito com um paciente (ressuscitação boca a boca, exame inicial antes da instituição de precauções respiratórias) está em risco especial. • Frequentemente, é usada rifampicina por via oral para profilaxia em adultos, menos em mulheres gravidas • AULA: Contato com meningococo ou H. influenzae → nessas situações, fazer quimioprofilaxia pós- exposição. Para o pneumococo não tem. o Meningoco: para contatos próximos, desde 7 dias antes até 1 dia antes do aparecimento dos sintomas. Iniciar profilaxia assim que possível o H. influenzae: para contatos próximos, crianças não vacinadas e adultos que sejam contactantes de crianças não vacinadas ▪ Rifampcina 20mg/kg/dia por 4 dias Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 8 MANEJO DA MENINGITE AGUDA : • Não atrasar antibioticoterapia e dexametasona • Terapia é empírica: não esperamos resultados! o Usar drogas bactericidas que atravessem a barreira hematoencefálica o Começamos pensando em meningococo, pneumococo, H. influenzae e, a depender da idade, streptococo Meningite adquirida na comunidade: • Pneumococo, menincoco, H. influenzae, streptococcos do grupo B (criança) • O básico é: o Vanco ta ai para ajudar a cobrir o pneumococ Geralmente não começamos só com ATC, também começa corticoide, especificamente a dexametasona. Por que? Reduzir complicações, sequelas neurológicas e morte, em casos de meningite por Pneumococo. • Isso seria só para o pneumococo, mas, como na hora ainda não se sabe a etiologia, começa mesmo assim o Pneumococo causa uma inflamação muito grave, que pode deixar as sequelas, por isso a dexametasona → resposta imunológica é boa, mas não quando é exacerbada. • Começa logo antes ou concomitante com a primeira dose de ATB • Se o gram e cultura indicarem que é pneumococo, continua com dexa Quando repetir o LCR? Não tem indicação, a não ser quando há ausência de melhora em 48 horas ou quando a resposta é incompleta ou persistência de febre. Qual a duração do tratamento? • Pneumococo: 10-14 dias • Meningococo: mínimo de 7 dias (7-10 dias) • H. influenzae: mínimo de 7 dias (7-10 dias) • Listeria monocytogenes: 21 dias p.s.: se sabemos que é bacteriana, mas não sabe qual, tratar por 14 dias. Se for paciente > 50 anos, tratar por 21 dias. Quando retirar o ATB? Se o liquor for muito sugestivo de meningite asséptica, gram veio negativo, cultura veio negativa, e paciente teve melhora clínica, estamos autorizados a suspender o ATB → mas, na realidade, ninguém suspende, porque dá medinho. O melhor é prevenir → vacina! Pneumococo e meningococo têm vacina para todos. H. influnzae não tem para todos os grupos no SUS. COMPLICAÇÕES:• Choque → geralmente manifestação da bacteremia intensa, como na meningococcemia fulminante • Distúrbios da coagulação • Complicações épticas: endocardite, artrite piogênica, febre prolongada Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 9 Luana Villafuerte – Sanar, Cecil e aula 10
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