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Planejamento Estratégico na Gestão Pública W B A 0 11 0 _ v1 .1 2/137 Planejamento Estratégico na Gestão Pública Autor: José Antonio da Costa Fernandes Como citar este documento: FERNANDES, José Antonio da Costa. Planejamento Estratégico na Gestão Pública.. Valinhos: 2014. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: A construção da sociedade e do estado brasileiro 04 Assista a suas aulas 25 Unidade 2: Cultura, política e estado no Brasil 33 Assista a suas aulas 59 Unidade 3: Planejamento estratégico, estado e globalização 67 Assista a suas aulas 95 Unidade 4: Planejamento estratégico e os modelos de gestão pública 104 Assista a suas aulas 131 2/137 3/137 Apresentação da Disciplina A disciplina de Planejamento Estratégico na Gestão Pública procura compreender a formação histórica, a definição e a organização da sociedade e do estado. Há para a análise desta realidade algumas teorias que procuram compreender a organização das pessoas e do Estado. Iremos perceber como o processo de formação histórico delineou nossa sociedade e o nosso estado e como ele se estabelece na atualidade. A definição de planejamento estratégico e da gestão pública serão analisados considerando- se os modelos modernos de sua tipologia. Ao longo das aulas iremos perceber a complexidade das definições de poder e das organizações sociais e estatais e de que forma se constituem as políticas públicas que interferem em nosso cotidiano. Assim, será possível compreender as mudanças nos modelos de administração pública e avaliar que hoje há o privilégios de modelos em que o estabelecimento de estratégias de médio e longo prazo são imprescindíveis. 4/137 Unidade 1 A construção da sociedade e do estado brasileiro. Objetivos Esta aula tem como objetivo oferecer um panorama histórico da formação da nossa sociedade e do estado brasileiro. Neste sentido, a abordagem utilizada teve como preocupação o delineamento do estado brasileiro até a introdução do planejamento racional na administração pública brasileira, iniciado a partir de 1930. Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro5/137 1. Introdução Ao definir o significado de planejamento estratégico poderíamos resumir que seria o processo de definição de um plano a ser adotado para uma organização. Porém essa organização tem um histórico que se vincula, em grande medida a definições que ocorreram na sociedade e no estado. Assim, devemos analisar a organização ou o estado sob vários ângulos e a definição de que rumos serão adotados a curto, médio e longo prazo, dependem de uma análise mais ampla. Para uma melhor aplicação de um plano estratégico, então é necessário conhecer o histórico desta organização, da sociedade que a envolve, das relações políticas e do tipo de estado. Planos estratégicos são adotados por diversos países, principalmente em países que adotaram modelos de regulação do capitalismo, denominados também de países de bem-estar social. Esse planejamento estatal também será analisado ao longo das aulas. 2. Conceitos básicos das Ciên- cias Sociais. As Ciências sociais e, principalmente, a Ciência Política dão as bases para a compreensão da formação do estado, das relações sociais e disputas pelo poder. Vários são os conceitos que estabelecem o entendimento da realidade histórica e da formação e das formulações do estado moderno. Pensar o estado significa compreender questões que envolvem o passado e as definições da política contemporânea, e Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro6/137 mesmo da necessidade do estado. Assim, somos obrigados a retornar a Hobbes, pois foi um dos primeiros elaboradores da Teoria Política, principalmente quando visualizou que a substituição do estado de natureza por um estado de leis era uma necessidade da humanidade. Assim, o estado torna-se uma necessidade, um impositivo para os homens, pois só ele era capaz de impor a ordem, ou seja, o homem sai de uma situação de “anarquia”, sem governo, para uma situação de “arquia”, com governo. O estado, então, e somente ele, é capaz de garantir um governo com regras comuns a partir da imposição da ordem por meio das leis. Da concepção geral de Hobbes, passando por Locke e outros autores clássicos da Política, chegamos à confirmação da necessidade do Estado, e com Montesquieu da ideia da separação dos poderes. Segundo Montesquieu, o poder não deveria ficar concentrado em uma única pessoa, nem tampouco deveria deter um poder absoluto. Assim, estabeleceu a necessidade da divisão dos poderes e a configuração de um Estado moderno disciplinado pela coerência entre eles, mas com funções fundamentais e delimitadas em três esferas: executivo, judiciário e legislativo. A delimitação destes poderes é definida aqui segundo uma conceituação básica. Assim, o poder Legislativo tem a prerrogativa de instituir as leis, que conferem o ordenamento jurídico necessário, e que deve regular as relações Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro7/137 dos cidadãos entre sim, bem como definir os papéis das empresas e do estado. Já o Poder Executivo fica responsável pelo “gerenciamento” da máquina administrativa e deverá realizar as contratações necessárias para este funcionamento em respeito e cumprimento as leis. As ações ocorrem por meio de ministérios, secretaria e outras entidades e órgãos de apoio. O poder judiciário é composto pelos membros da magistratura com seus órgãos, conselhos e outras entidades de apoio na perspectiva de garantir justiça por meio de julgamentos conforme o ordenamento jurídico estabelecido. 2.1 As Ciências Sociais, funda- mentos dos estados e adminis- tração pública. Já para compreender determinadas condicionantes da nossa atualidade significa entender o processo formador das sociedades. Neste sentido, dois autores básicos se impõem: Karl Marx e Max Weber. Vejam que aqui não cabem determinações de fundo ideológico, mas sim de conceitos que procuram elucidar determinados acontecimentos históricos e mesmo a realidade de determinadas cidades, regiões, países e sistemas econômicos e políticos. O pensamento de Max Weber estabeleceu uma definição tipológica para a Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro8/137 compreensão da dominação política exercida, considerando-se uma abordagem histórica que prevê a possibilidade de um tipo ideal baseado na ideia da racionalidade, legalidade e democracia. Assim, o autor denominou que o mundo da política é exercido por tipos de dominação e que poderíamos definir em três modelos básicos: dominação racional legal, dominação pelo carisma e dominação tradicional. Já o pensamento de Karl Marx estabelece como princípio básico na formação das sociedades a ideia do conflito de interesses e, portanto o contraditório é base e, por conseguinte, a ideia da luta de classes. O estado surge como representação de um modelo de dominação representado por uma classe social que tem determinado grupo que pode ser representante desta no Estado. Assim, como exemplo, podemos definir que uma sociedade escravocrata tem no poder do estado, representantes eleitos ou escolhidos, da classe dirigente, ou seja, os senhores de escravos. Para saber mais As obras clássicas de Karl Marx e Max Weber podem ser acessadas nos originais em alemão no portal público no link abaixo. O portal contém diversos livros em e-books. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/ pesquisa/PesquisaObraForm.do>. Acesso em: 24 fev. 2014 http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro9/137 Ao longo desta aula e da próxima, as definições e conceitos políticos acompanham o desenvolvimento da história brasileira e procuram elucidar por que há situações tão díspares no país, comcidades tão diferentes do ponto de vista do desenvolvimento econômico, social ou político. A análise desenvolvida procura dar base para o entendimento da administração pública brasileira considerando-se nosso passado e as bases da formulação do nosso sistema político. Assim, determinados valores do liberalismo europeu, desenvolvidos após as revoluções industrial e francesa, não encontraram guarida no Brasil ou foram tardiamente aplicados, ou seja, são valores que muito tempo depois da proclamação da república, em muitas regiões e cidades do Brasil ainda não encontraram terreno fértil para o seu desenvolvimento, mesmo contando na atualidade com diversas leis. Dessa forma, ainda é possível ver governadores e prefeitos que não estabelecem a democracia no desenvolvimento do planejamento como elemento central de suas plataformas políticas, e nem tampouco na formulação delas estabeleçam a democracia, e de certa forma descumprem as leis que garantem o exercício de planejamentos com participação popular, por meio de audiências públicas como o é ocaso do Plano Plurianual - PPA. A sequência dos estudos irá, portanto, relacionar nosso desenvolvimento Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro10/137 histórico com as definições conceituais do sistema político e do planejamento governamental. Nesse sentido, podemos definir três momentos distintos no processo de desenvolvimento da administração pública brasileira: o primeiro momento denominado de patrimonialista, o segundo, denominado burocrático e o terceiro, gerencial. 3. A formação da sociedade e do estado brasileiro Brasil: Um sentido histórico “Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, certo sentido” (PRADO JÚNIOR, 2000, p. 25). Ao considerar essa afirmação a intenção é buscar nossa gênese e descortinar nossas matrizes de desigualdade e de hierarquização no processo de nossa construção histórico- Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro11/137 social. Escrever sobre nossa história não é precisamente narrar os fatos desde o Período Colonial. Observar a História do Brasil significa apreciar certo sentido histórico. Essa perspectiva está trilhada na compreensão de que nossas desigualdades estão alicerçadas em grande parte na escravidão, longamente praticada no transcorrer de nosso processo formador. Independência, abolição e Repúbli- ca Compreender o lento processo do fim da escravidão significa diagnosticar que, principalmente após a proclamação da independência, estava em curso concomitantemente, a consolidação de uma elite agrária no poder político. A independência que ocorreu no nosso país sofreu um processo de modificação de grupos sociais no poder, envolvendo tanto os interesses das elites, representados pelos setores médios da população interessados no fim da escravidão, quanto os grandes proprietários e mercadores de escravos contrários à abolição. São justamente estes que vão ascender à autoridade estatal, após a renúncia e, consequentemente, saída de D. Pedro I do poder em 1831, tornando letra morta o acordo que previa o fim do tráfico, assinado anteriormente com a Inglaterra. Portanto, ao contrário da movimentação rumo à abolição, há uma aceleração no processo do tráfico de negros para o Brasil e que só Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro12/137 vai declinar no fim do século XIX e deixar de existir um ano antes do fim da monarquia (PRADO JÚNIOR, 1988, p. 149). Para saber mais Para compreender o sentido da afirmação, “para inglês ver”, definido também na ideia de “letra morta”, veja os artigos selecionados. Análise histórica: <http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/ historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_ historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_ VER...._Argemiro_gurgel.pdf> Uso da formulação para demonstrar a não aplicação de uma ideia, neste caso da ética empresarial. <http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/3737.pdf> A escolha da mão de obra negra não se dava apenas por uma circunstância econômica, pois no Brasil, mesmo após a independência, a mentalidade senhorial da parcela dirigente do País não se ajustava ao trabalho livre e seus reclamos. http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_VER...._Argemiro_gurgel.pdf http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_VER...._Argemiro_gurgel.pdf http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_VER...._Argemiro_gurgel.pdf http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_VER...._Argemiro_gurgel.pdf http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/3737.pdf Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro13/137 Eis por que, em pleno século XIX, o Brasil se afirmava como país independente e incorporava à sua Constituição as fórmulas liberais europeias, ao mesmo tempo em que conservava o regime servil, ligado que estava ao passado colonial. Juridicamente, o país era independente, novas possibilidades se abriam para a economia, mas a cultura do café se organizava ainda nos moldes coloniais, e com ela se prolongava o sistema escravista. Herdava-se uma solução econômica: o latifúndio exportador escravista, uma tradição cultural: a mentalidade senhorial, um hábito a escravidão (COSTA, 1982 (a), p. 12). Contudo, a produção do café aliada a outros aspectos tem fator decisivo na modificação e declínio do sistema escravista no Brasil. No transcorrer do século XIX, com o advento da Revolução Industrial e do novo capitalismo, o sistema escravista desaparece no “mundo colonial” (COSTA (a), 1982, p. 187). Porém, o sistema de trabalho baseado na escravidão tem no Brasil seu último bastão, que virá a declinar de forma lenta no transcorrer do segundo reinado, recheado de contradições e próprios de uma elite senhorial que mantinha sua personalidade política baseada fundamentalmente na terra e no trabalho escravo. Dessa forma, o declínio do Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro14/137 escravismo no país transcorre de forma “moderada”, ou seja, o transcorrer do século XIX é palco intenso da contradição entre liberalismo e escravidão. As modificações que ocorreram no âmbito da escravidão repercutiram na concepção do tipo de posse da terra e, portanto, na criação da lei de terras de 1850. Os grandes proprietários, beneficiários da escravidão, da concentração fundiária, temerosos da possibilidade da distribuição de terras e de outro destino para a economia e a política no país, trilham com essa lei o fortalecimento da concentração fundiária e da produção monocultural. A perspectiva delineada tinha claramente o objetivo de não tornar a terra acessível aos pequenos proprietários que surgiriam com o advento da abolição e da imigração, visualizando uma estamentalização da sociedade. A lei de terras era clara neste objetivo, “[…] decretando que a terra pública só poderia agora ser adquirida por compra do governo ou por pagamento de impostos para regularizar os acordos de terra já feitos, dificultando o acesso a terra para pequenos proprietários” (SKIDMORE, 1998, p. 170). Essa situação permite compreender as formulações de Faoro (2000), para quem a nossa cultura política foi formada de cima para baixo, com uma estrutura patrimonialista. Faoro (2000) recuperao pensamento weberiano, e a análise de um tipo tradicional de dominação no Brasil, definido no patrimonialismo que se Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro15/137 praticou desde o início da colônia e que tem como base o tradicionalismo, ou seja, “[…] assim é, porque sempre foi.” (FAORO, 2000, p. 363). Após o fim da escravidão, as agitações republicanas tomaram novo ímpeto, no entanto a conquista da República não atingiu a totalidade dos republicanos, pois a saída encontrada foi um golpe militar contra a Monarquia. A população e, principalmente, as classes médias que se forjaram na luta abolicionista e republicana ficaram a observar o novo regime que se instaurava: “O povo assistiu a tudo bestializado, sem compreender o que se passava”, afirmou Aristides Lobo (apud SILVA, 2005). Ao analisarmos as condicionantes de nossa república, cumpre enfocar a caracterização deste período como uma simbiose de liberalismo, estamentalização e hierarquização que se desenvolve no positivismo, tendo no aparelho estatal e no jurídico as marcas deste processo republicano. O processo abolicionista e republicano, aliado às contradições do sistema econômico e às disputas regionais, permitiu que o modelo federativo previsto na Constituição de 1891 adotasse o modelo da República Federativa; dividindo o Brasil em estados organizados numa federação. Os poderes foram descentralizados, permitindo que os estados adquirissem autonomia para obter empréstimos no estrangeiro, constituir suas polícias locais, entre outros. Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro16/137 A República inaugurada era constituída de forças e grupos sociais distintos como os militares e as elites civis dos principais estados. No decorrer dos primeiros anos, os militares foram a principal força, tornando o período conhecido como República da Espada. Posteriormente, um civil assume a presidência, mas a República continua a mesma nos aspectos sociais e econômicos, ou seja, permanecem o patrimonialismo, a hierarquização e estamentalização descritos por Faoro (2000, p. 367), até por que: [...] o patrimonialismo se amolda às transições em caráter flexivelmente estabilizador do modelo externo, concentrando no campo estatal os mecanismos de intermediação com suas manipulações financeiras, monopolistas, de concessão pública de atividade, de controle do crédito, de consumo. Já a Constituição, desse primeiro momento republicana, denominado de primeira fase ou república velha, adotou em linhas gerais o modelo dos Estados Unidos da América, em que prevalece o presidencialismo, reforçando a manutenção de um sistema hierarquizado Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro17/137 e patrimonialista, como sugere Faoro (2000). Na mesma linha, a cidadania não se efetiva nem mesmo no plano eleitoral, até porque o voto continuou a ser permitido apenas aos alfabetizados, como no período imperial, e também não era secreto. Não havia fiscalização e o voto correspondia muito mais ao “mandonismo clientelista” local do que aos desejos dos eleitores, baseado fundamentalmente no coronelismo1. Da simbiose entre imigrantes e negros, café e comércio, temos o crescimento industrial de São Paulo. Se o sistema estatal era condicionado por grupos econômicos e regionais, nossa industrialização não é diferente e ocorre de forma organizada por grupos locais. Nas primeiras décadas do século XX, o início da industrialização ocorre nas áreas do Nordeste, São Paulo e no Sul (FAUSTO, 1995), mas é principalmente em São Paulo em que há uma maior expansão industrial e urbana resultante da atividade cafeeira, do comércio e da imigração. O fenômeno do desenvolvimento industrial e urbano possibilita o surgimento de um mercado interno para o consumo dos produtos industrializados já nas primeiras décadas, tendo maior amplitude 1 Os pactos políticos deste período, República Velha, necessariamente, não se resumem apenas na aliança entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, mas também com as oligarquias dos outros estados que nutriam maior aproximação com os grupos políticos de ambos, denominada também de “república dos coronéis”. Essa denominação ocorreu em virtude da predominância da figura política do “coronel”, titulação que não tem em absoluto nenhum vínculo com o exército e é, na verdade, mais um mecanismo da hierarquia social, fundamentado no poder da posse de terra. Esse título foi concedido aos antigos coronéis da Guarda Nacional no período regencial 1832/1840, que contratavam jagunços para controlar determinadas áreas do Brasil contra as populações que se rebelavam. Esses títulos permaneceram no transcorrer do II Império e no decorrer da República. Esses coronéis arregimentavam a população para votar, garantindo o poder político, seja por meio do clientelismo ou simplesmente pelo medo. Situação que ainda persiste no Brasil. Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro18/137 a partir de 1930. Com o advento da Revolução de 30, modificam os grupos sociais no poder e a produção industrial se amplia e uma nova concepção de administração pública baseada nos fundamentos racionais e legais previstos na concepção weberiana vai ter início no país. Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro19/137 Glossário Elite agrária: O conceito de elite agrária acompanha o pensamento weberiano, que envolve uma camada social dirigente que é baseada em um tipo de dominação tradicional vinculada à propriedade da terra. Liberalismo: Conjunto de ideias estabelecidas no período moderno que estabelecem os princípios da igualdade e da liberdade. Estamento: Podemos definir como uma forma de estratificação social em que haja camadas sociais definidas e fechadas o que não possibilita muita mobilidade. Patrimonialismo: Podemos definir esse conceito pela característica de um estado em que o governante confunde o público com o privado, ou seja, não há limites entre o que é privado e o que é publico. Assim, os recursos públicos são direcionados para fins privados. Questão reflexão ? para 20/137 Faça uma pesquisa sobre a história da sua cidade e verifique se houve casos de governantes que “adotaram” o patrimonialismo como forma de governo. Veja se houve condenações e faça um texto comparativo com o momento atual. 21/137 Considerações Finais » Formação do estado moderno e dos princípios do liberalismo e da ideia de um estado legitimado por um governante. » Organização do estado baseado na separação de poderes. » Sociedade de classes, tipos de dominação e sociedade colonial no Brasil. » Escravidão e patrimonialismo no Brasil: marcas de uma permanência histórica. Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro22/137 Referências CANDIDO, Antonio. Vários escritos. In: Radicalismos 3. ed., rev. e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. ________. Textos de intervenção; seleção apresentação e notas de Vinicius Dantas. “Euclides da Cunha, sociólogo”. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2002. CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2000. FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. v. I e II, 10. ed. São Paulo: Globo; Publifolha, 2000. FREYRE, Gilberto. Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Rio de Janeiro: 3. ed. Schmidt-Editor, 1938. _________. Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Prefácio de Darcy Ribeiro. São Paulo: 32. ed., Brasiliense, 1998. FERNANDES, José Antonio da Costa Fernandes. Imigrantes portugueses e migrantes negros: um olhar sobre novos bairros em São Paulo. 2000. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Pós- graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 14. ed.,1981. Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro23/137 MARX, Karl. A ideologia Alemã. São Paulo: Ed. Global, 1986. RIBEIRO, Darcy. O Processo Civilizatório - etapas da evolução sócio cultural. Rio de Janeiro: Ed. Civilização brasileira, 1968. ________. Gilberto Freyre: uma introdução a Casa Grande e Senzala. Freyre, Gilberto. Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Prefácio de Darcy Ribeiro. São Paulo: 32. ed., Brasiliense, 1998. STARLING, Heloisa Maria Murgel. Travessia: A narrativa da República em grande Sertão: Veredas. Pensar a República. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000. SCWHARZ, Roberto. Que horas são? Ensaios. São Paulo: Cia das Letras, 1987. ___________. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Ed., Duas Cidades, 1977. OLIVEIRA, Francisco. Critica à razão dualista: o ornitorrinco. São Paulo: Boitempo editorial, 2003. PINHEIRO, Paulo Sérgio Pinheiro. Transição política e não estado de direito na Republica. Brasil: um século de transformações. (Org.) Ignacy Sachs, Jorge Willheim e Paulo Sérgio Pinheiro. São Paulo: Cia das Letras, 2001. Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro24/137 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1999. 25/137 Aula 1 - Tema: Políticas Públicas - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ d1ca14d9eab29dd750ff3ac3b7e148fe>. Aula 1 - Tema: Estado, Política e Planejamento Estratégico - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 63cf45cdaa6e9c80950f00ad39ad2464>. Assista a suas aulas http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/d1ca14d9eab29dd750ff3ac3b7e148fe http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/d1ca14d9eab29dd750ff3ac3b7e148fe http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/d1ca14d9eab29dd750ff3ac3b7e148fe http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/63cf45cdaa6e9c80950f00ad39ad2464 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/63cf45cdaa6e9c80950f00ad39ad2464 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/63cf45cdaa6e9c80950f00ad39ad2464 26/137 Aula 1 - Tema: Modelos Analíticos e Patrimonialismo no Brasil - Bloco III Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/586b2d1d6670ab0e8e9786778dc26ad4>. Aula 1 - Tema: O Brasil de Ontem e Hoje: A Primeira República - Bloco IV Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ ce6e09352f28bfad2add6e8e398a2273>. Assista a suas aulas http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/586b2d1d6670ab0e8e9786778dc26ad4 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/586b2d1d6670ab0e8e9786778dc26ad4 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/586b2d1d6670ab0e8e9786778dc26ad4 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ce6e09352f28bfad2add6e8e398a2273 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ce6e09352f28bfad2add6e8e398a2273 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ce6e09352f28bfad2add6e8e398a2273 27/137 1. A necessidade da divisão dos poderes e a configuração de um Estado moderno disciplinado pela coerência entre eles, mas com funções fundamentais e delimitadas em: Questão 1 a) Três esferas: executivo, judiciário e legislativo. b) Três ciclos: executivo, judiciário e legislativo. c) Três esferas: executivo, judiciário e legislativo acompanhada de outros órgãos similares e de apoio. d) Quatro esferas: executivo, judiciário, legislativo e representativo. e) Três situações: executivo, judiciário e legislativo. 28/137 2. A criação da lei de terras de 1850 permitiu para os grandes proprietá- rios, beneficiários da escravidão e da concentração fundiária: Questão 2 a) Fortalecimento da concentração fundiária e da produção monocultural. b) O fim do modelo escravocrata e da concentração fundiária. c) Declínio concentração fundiária e ampliação da produção monocultural. d) Início do declínio fim da concentração fundiária e da produção monocultural. d) Fortalecimento do modelo agrário exportador, baseado na distribuição de terras. 29/137 Questão 3 3. No período getulista, desenvolve-se no país a importância do planeja- mento a partir do estado: a) A criação de empresas públicas, que organizam a produção e o aparelhamento do estado é um legado do período, porém só ocorre de forma efetiva na década de 1950. b) A criação de empresas públicas, que organizam a produção não é uma constante. c) A criação de empresas semipúblicas, que o aparelhamento do estado é uma constante. d) A criação de empresas públicas, que organizam a produção e o aparelhamento do estado é uma constante. e) Não houve a criação de empresas públicas, que organizassem a produção apenas o aparelhamento do estado. 30/137 4. O modelo de desenvolvimento excludente, porém, com planejamento estatal como elemento central na aplicação dos recursos do Estado, ba- seado principalmente na tecnocracia foi desenvolvido em qual período. Questão 4 a) Ditadura varguista 1937 a 1945 b) Ditadura militar de 1964 a 1984 c) República da espada 1889 a 1930 d) Ditadura militar de 1964 a 1978. d) Período JK 31/137 5. Com o advento da Revolução de 1930, modificam os grupos sociais no poder e a produção industrial se amplia e uma nova concepção de admi- nistração pública vai ocorrer no país, baseada: Questão 5 a) Nos fundamentos racionais e legais previstos na concepção marxista. b) Nos fundamentos racionais e legais previstos na concepção weberiana. c) Nos fundamentos racionais e legais previstos na concepção da NGP – Nova Gestão Pública. d) Nos fundamentos racionais e legais previstos na legislação a ser adotada. e) Nos fundamentos do gerenciamento científico e no fordismo. 32/137 Gabarito 1. Resposta: A 2. Resposta: A 3. Resposta: D 4. Resposta: B 5. Resposta: B 33/137 Unidade 2 Cultura, política e estado no Brasil Objetivos O objetivo desta aula é apresentar, a partir dos conceitos das ciências sociais, as formulações que são utilizadas para a administração pública e que estão vinculadas à própria formação cultural do país. Nesse sentido, a abordagem da cultura organizacional e da cultura política serão utilizadas para uma melhor compreensão do desenvolvimento do estado e da administração pública no Brasil. Iremos ver também, de forma sucinta, o desenvolvimento da administração pública nos últimos 50 anos, bem como as estratégias de implantação do modelo burocrático legal no Brasil. Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil34/137 1. Introdução Para maior compreensão da Administração Pública, uma das possibilidades é o resgate da cultura, que têm como um dos fundamentos a ciência antropológica. Dentre as subdivisões da antropologia existe a cultura política e a cultura organizacional. Iremos discutir a antropologia e a questão da cultura e desburocratização sob o ponto de vista organizacional (Nova Gestão Pública), uma vez que a primeira (antropologia) atravessa várias ciências e está ligada ao aspecto holístico da sociedade. O desenvolvimento da administração pública e as noções de planejamento estratégico serão aqui analisados considerando-se o momento de sua implantação que advém da própria mudança da concepção de estado após a revolução de 1930 com sua modernização e, por consequência, da administração pública que irá implantarum modelo racional legal baseado em uma nova cultura política e que vai delinear um novo modelo de cultura organizacional nas tarefas do estado. Assim, compreender o Brasil de ontem e de hoje significa analisar o pensamento político da cultura brasileira em uma perspectiva histórica, como o desenvolvido na aula anterior e que tem prosseguimento nesta aula. Nas aulas três e quatro iremos retomar e aprofundar os conceitos de cultura entrelaçadas a ideia de estratégia para a gestão pública. Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil35/137 2. Cultura organizacional, polí- tica e as relações com o estado. A Antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem campo de investigação extremamente vasto, pois abrange, no espaço, toda terra habitada, e, no tempo, pelo menos dois milhões de anos e todas as populações socialmente organizadas. A Antropologia Cultural, para alguns autores é sinônima de antropologia social, que focaliza, talvez, o principal conceito desta ciência, a cultura. Ao nos debruçarmos sobre o estudo das relações de poder em sociedades com estado, também devemos compreender sua cultura política, ou seja, na análise da cultura a política não deve ficar de fora. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões: o universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, os valores, as crenças, as leis, as relações de parentesco, entre outros. O comportamento humano nas organizações tornou-se, nas últimas décadas, objeto de estudo científico específico, orientado para a busca de melhor compreensão do mesmo e do termo “cultura organizacional”. Assim, a cultura organizacional possui vários elementos como: valores, crenças, rituais e cerimônias, heróis, tabus e normas. A cultura organizacional refere-se sempre a um grupo e espaço específicos, sendo que fazem parte disso os líderes da Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil36/137 organização, a equipe e colaboradores que trabalham nas organizações. Segundo Freitas (2008), o comportamento humano nas organizações tornou-se, nas últimas décadas, objeto de estudo científico específico, orientado para a busca de melhor compreensão do mesmo e do termo “cultura organizacional”. A cultura de uma organização será, pois um conjunto de características que a individualiza e a torna única perante qualquer outra. Assume-se como um sistema de valores, expressos através de rituais, mitos, hábitos e crenças comuns aos membros de uma instituição, que assim produzem normas de comportamento genericamente aceitas por todos. Na administração, tanto pública como privada é trabalhada a cultura organizacional e isso se dá em bases antropológicas. Cada empresa (pública ou privada) tem uma cultura organizacional diferente e esse clima de diferenciação, também traz diferentes formas de soluções aos problemas. Para saber mais Para saber mais sobre cultura organizacional veja os links: <http://biblioteca.univap.br/dados/INIC/cd/ epg/epg6/epg6-1.pdf> <http://www.scielo.br/ scielo.php?pid=S1413- 92511998000200004&script=sci_arttext> http://biblioteca.univap.br/dados/INIC/cd/epg/epg6/epg6-1.pdf http://biblioteca.univap.br/dados/INIC/cd/epg/epg6/epg6-1.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-92511998000200004&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-92511998000200004&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-92511998000200004&script=sci_arttext Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil37/137 Já a ideia de cultura política envolve a concepção das relações de disputa do poder na sociedade e no estado, disputa por interesses muitas vezes conflitantes e que acabam por definir a condução das políticas públicas. Para saber mais Saiba mais sobre cultura Política. Acesse o link: <http://www.anpocs.org.br/portal/ publicacoes/rbcs_00_28/rbcs28_09.htm> 2.1. Brasil e cultura política: que república? Compreender a problemática da cultura e da política do Brasil requer um acompanhamento histórico até porque a compreensão delineada aqui é a de que há correspondência entre um e outro, ou seja, nossa formação cultural interfere em nossa cultura republicana e na definição das políticas públicas a serem adotadas. Assim, abordar as explicações sobre nossas origens e nossa atualidade republicana, necessita de algumas das interpretações realizadas pelos principais autores clássicos e contemporâneos. Dessa forma, a análise pressupõe compreender o processo de construção de nossa sociedade que passa por um momento novo na História, consideração que envolve entender os últimos 30 anos. No entanto, http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_28/rbcs28_09.htm http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_28/rbcs28_09.htm Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil38/137 a história de longa duração, “[…] uma história que se constrói como um processo que reconhece mudanças, mas apresenta persistências”, foi percorrido no sentido de avaliar nossa gênese social e republicana (NOVAIS, 1998, p. 729). Assim, podemos visualizar, conforme a aula anterior que nossa formação tem início, no período colonial ou até mesmo além-mar, em Portugal, como sugere Sérgio Buarque de Holanda (1981, p. 3) ou ainda presos estamos, em nosso processo formador, nos primórdios da dinastia de Avis, como analisa Faoro (2000). Sérgio Buarque de Holanda, ao analisar nossa História e buscando compreender nossas raízes de cultura política, estabeleceu uma compreensão analítica, inter-relacionando a formação histórica, social e estatal fundamentada no contraditório e na postura comparativa. Dessa forma, sem se preocupar em definir se por uma saída positivista e, erroneamente, fazer uma falsa alusão do que seria pretensamente a verdade, prioriza uma análise dialética que visualiza a “cordialidade” como elemento central das relações e, ao mesmo tempo, trabalha numa perspectiva que questiona estes valores1. Neste sentido, a análise pretendida pelo autor não estabelece 1 A indeterminação de Holanda é a própria matriz de seu veio analítico, até porque sua dialética está centrada em “posições de tipo hegeliano”, que priorizam as relações de pares contraditórios, a “negação da negação” ou “práxis social”. A práxis é elemento central da análise crítica marxista, presente prioritariamente na “Ideologia Alemã” (MARX, 1986) e no embasamento teórico de Holanda, como nos demonstra Antônio Cândido no prefácio de “Raízes”. Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil39/137 fatores de determinação unicamente econômicos, mas sim o processo que engendrou nossa formação social e nossa cultura política, vinculada a um conjunto de elementos aparentemente contraditórios, porém intrinsecamente presentes em nosso processo histórico. Sérgio Buarque de Holanda, ao analisar nossas raízes, atentou para o fato de que o nosso processo histórico engendrou um novo tipo social: o homem cordial. (HOLANDA, 1981, p. 107). Esse novo tipo confunde o público e o privado, desritualiza as relações sociais, naturaliza o “equilíbrio”2 das duas pontas da pirâmide, não tendo proximidade com o individualismo liberal, puritano. Nossa 2 A ideia de equilíbrio está presente também em Gilberto Freyre, principalmente na obra Casa Grande & Senzala. cordialidade, nossa “aversão ao ritualismo social” (HOLANDA, 1981, p. 108). Ainda segundo o autor, assenta-se em relações mais familiares, aproximando as relações hierárquicas. Assim, o caso histórico brasileiro não é das relações em que se estabelece o “tipo ideal de capitalismo” (WEBER, 2001), mas o patrimonialismo, ou seja, ocorre o inverso em comparação ao puritanismo e individualismo protestantes das zonas temperadas. Aqui, nos territórios “abaixo da linha do equador”, as relações sociais abarcam certa incompatibilidade entre a razão de estado, o cálculo e a lógica racional, presentesno pensamento de Max Weber e próprios da lógica estrutural do capitalismo (WEBER, 2001). As razões do nosso cotidiano não possibilitaram Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil40/137 o desenvolvimento dessa lógica e isto não significa dizer, segundo Holanda (1981), que o ritualismo das sociedades americanas e europeias sejam imprescindíveis. Em particular a nossa aversão ao ritualismo é explicável, até certo ponto, nesta “terra remissa e algo melancólica” de que falavam os primeiros observadores europeus, por isto que, no fundo, o ritualismo não nos é necessário (HOLANDA, 1981, p. 112). O postulado analítico de Holanda (1981) não se preocupa necessariamente com esse ritualismo das relações sociais que se estabeleceram entre o estado e as sociedades americanas e europeias, ou ainda, se a relação do homem da família (personalista) é preferível às razões de Estado; até porque ele concebe que o Estado e a sociedade são elementos inseparáveis, porém desnuda as implicações entre o público e o privado que, se alargadas, nos levam ao patrimonialismo. Identificar esses elementos significa constatar que nossas raízes históricas, coloniais e republicanas são diferenciadas dos países europeus e dos Estados Unidos da América. Entretanto, não podemos compreender que nossa sociedade seja fundada em valores Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil41/137 totalmente diferenciados, pois a cópia de valores culturais estrangeiros é uma constante em nosso país, o que implica num imbrincamento de valores, tanto de nossas raízes quanto de nossas cópias. Neste sentido, podemos considerar que as relações sociopolíticas estão fundamentadas na ideia de que somos todos amigos de quem está no poder, ao mesmo tempo em que os mandatários são também amigos dos eleitores e, portanto, todas as relações sociopolíticas estão franqueadas no “favor” (HOLANDA, 1981). Assim, a compreensão levada a cabo aqui considera que cultura política e formação social, estão vinculadas as relações étnico-raciais que confere para além de nossa origem histórica ou étnica, o imbrincamento entre nossa formação política – o Estado, e nossa formação social – o Público. Para saber mais Para um aprofundamento do tema e da atualidade do pensamento de autores como Sergio Buarque de Holanda e Raimundo Faoro leiam o artigo de Bresser Pereira: <http://www. bresserpereira.org.br/papers/2000/00-71. RelendoRaizesDoBrasil-Holanda.pdf> Nesse sentido, a análise de Schwarz (2003) sobre nosso liberalismo “fora de lugar”, sobre a incompatibilidade entre capitalismo e escravidão é essencial, até http://www.bresserpereira.org.br/papers/2000/00-71.RelendoRaizesDoBrasil-Holanda.pdf http://www.bresserpereira.org.br/papers/2000/00-71.RelendoRaizesDoBrasil-Holanda.pdf http://www.bresserpereira.org.br/papers/2000/00-71.RelendoRaizesDoBrasil-Holanda.pdf Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil42/137 porque as variáveis (categorias analíticas) do homem cordial e do favor, elementos centrais na análise de Sérgio Buarque de Holanda, estão presentes em capítulo já clássico de Schwarz (2003), “As ideias fora do lugar”, presentes na obra: “Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro”. E por que as ideias estão fora de lugar? A colonização tem como objetivo a europeização do mundo ou reprodução da Europa, mas concretamente o que se deu foi o oposto. A contradição do tipo de colonização, periferia do capitalismo, é a determinação das ideias fora do lugar. A força do artigo de Schwarz (2003) – montagem de um esquema para entender Machado de Assis – está na análise para reconstituir a ideologia de nosso país colonial. Assim, Schwarz (2003) desnuda a abordagem sobre a nossa dependência e nossa inserção periférica no capitalismo mundial, ou seja, uma dualidade que muitos caracterizaram como teoria. Porém, a precisão da análise de Schwarz (2003) encontra-se ao avaliar o liberalismo em nosso país, evidenciando que os preceitos do republicanismo liberal não aconteceram em nossa história ou se apresentaram por meio do “favor”, centrado na obediência e no mando, presentes na ordem escravocrata que se manteve posteriormente. Essas considerações estão também em outros artigos do autor sobre nossa justaposição de valores culturais, franqueados pela cópia de Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil43/137 valores estrangeiros inicialmente portugueses, de franco-ingleses no final do século XIX e no transcorrer de boa parte do século XX e mais recentemente, valores norte-americanos. Assim, para essa concepção, até o momento de quando foi escrita, poderíamos dizer que pouco era a essência do nacional entre nós e que nosso liberalismo político e nosso republicanismo eram tardios. Assim, tardiamente também seria nossa cultura republicana e os ideiais de cidadania. Link Cidadania. Veja mais no link: <http:// jus.com.br/artigos/14512/sobre- o-conceito-de-cidadania-e-sua- aplicacao-ao-caso-brasileiro> No entanto, considerando-se outra perspectiva, na qual o momento em que vivemos nosso postulado teórico, ideológico e mesmo da vida prática, vem constantemente questionando as variáveis denominadas pelos autores acima como elementares do nosso processo político-cultural, que são o patriarcalismo, patrimonialismo2, a democracia racial e nossa cordialidade, ou seja, no período pós-revolução de 1930, com um hiato de vinte anos representado pela ditadura militar, a sequência de nossa história é de avanço dos ideais republicanos e de uma cidadania ampliada, na qual a Administração pública e o atendimento 2 As definições de patrimonialismo e patriarcalismo se encontram na primeira aula. http://jus.com.br/artigos/14512/sobre-o-conceito-de-cidadania-e-sua-aplicacao-ao-caso-brasileiro http://jus.com.br/artigos/14512/sobre-o-conceito-de-cidadania-e-sua-aplicacao-ao-caso-brasileiro http://jus.com.br/artigos/14512/sobre-o-conceito-de-cidadania-e-sua-aplicacao-ao-caso-brasileiro http://jus.com.br/artigos/14512/sobre-o-conceito-de-cidadania-e-sua-aplicacao-ao-caso-brasileiro Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil44/137 aos cidadãos tomaram um novo rumo. 3. A Revolução de 1930: planeja- mento de estado e burocracia O momento pós-1930 deve ser analisado, considerando-se uma nova adequação política e social não apenas no núcleo hegemônico dirigente, mas na própria concepção do que deveria ser o Brasil. Dessa forma, é importante destacar que no transcorrer da História, mesmo que as elites não tenham mudado sobremaneira, devemos considerar alguns períodos de agudização, principalmente em 1930, dos conflitos entre os estratos mais abastados da população, leia-se a burguesia, que surgia da cafeicultura e da industrialização em São Paulo, conjuntamente com as novas classes agrárias do Sul do país, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. A abolição da escravidão e a República são elementos de uma mesma transição que forjam uma nova classe social hegemônica no país: a burguesia industrial. Há, portanto, a transição de uma elite senhorial para uma empresarial e, consequentemente, uma “sociedade senhorial para a empresarial” (COSTA, 1982, p. 459). É dentro dessa disputa pela hegemonia, que surgem os outros grupos sociais para além da oligarquia da Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil45/137 cafeicultura3. A revolução de 1930 enquadra-se num período de muitas transformações históricas na realidade brasileira, desencadeadas principalmente pela alteração da economia financeira internacional, que com a crise de 1929 modificou o panorama internacional. A crise do modelo econômico do capitalismo mundial reflete-se em boa parte nas medidas tomadas pelo governo de Getúlio Vargas, ou seja, suas ações estavam atreladas à crise sistêmica mundial e suas contradições. Getúlio Vargas, como parte deste processo, também vivencia essas incongruências e modifica suas perspectivaspolíticas, passando de um político pertencente ao grupo oligárquico do Rio Grande do Sul e aos quadros tradicionais de carreira gaúcha, para tornar-se um modernizador. Ao assumir a presidência, transforma-se em um personagem centralizador e ao mesmo tempo reformista do Brasil, guiado por medidas autoritárias e populares. Várias mudanças acompanham o novo regime. Na hegemonia do sistema político, por exemplo, verificamos a pulverização dos grupos e a centralização do estado a partir de Vargas. Essa centralização faz com que as oligarquias estaduais percam prestígio e assim, uma nova ordenação 3 Nesse cenário, surgiu Getúlio Vargas, em razão de desavenças entre as elites oligárquicas na sucessão presidencial de 1930. Essa oposição ao nome de Júlio Prestes representava os interesses econômicos de outros grupos sociais que não estavam diretamente vinculados à cafeicultura, ao mesmo tempo em que se colocavam contrários ao processo eleitoral fraudulento e a ausência mínima de democracia. Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil46/137 política acompanha o processo de mudança. A constituinte instalada em três de maio de 1933 enquadra o Brasil num capitalismo moderno e industrial, trazendo profundas modificações no campo da indústria, com nacionalizações e estatizações, e no trabalho, com direitos garantidos; jornada de trabalho, descanso semanal, férias, salários mínimos Para saber mais Para saber mais sobre o período veja link: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/ index.php/face/article/viewFile/8231/5903> regionais e outros. No período getulista, desenvolve-se no país a importância do planejamento a partir do estado. A criação de empresas públicas, que organizam a produção e o aparelhamento do estado é uma constante. Ao longo dos primeiro anos, tinham sido criadas 35 agências estatais; no período compreendido entre 1940 e 1945, surgiram 21 agências, englobando empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações (COSTA, 2008). Até o ano de 1930, havia no país 12 empresas públicas; já no período de 1930 a 1945, foram criadas 13 novas empresas, sendo dez delas do setor produtivo4. 4 O aprofundamento dos modelos de desenvolvimento da administração pública, que foram iniciados no período getulista, será aprofundado nas aulas seguintes. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/viewFile/8231/5903 http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/viewFile/8231/5903 Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil47/137 Ao longo dos anos 1950 e 1960, há uma ampliação do crescimento econômico do país, o que não necessariamente representou distribuição de riqueza, pois era um modelo de desenvolvimento excludente que transcorreu nos anos 1950 a 1980, mas principalmente no período do regime militar, em razão do modelo de industrialização excludente e autoritário, franqueados na ideia de uma “modernização conservadora” (CHAUÍ, 1986, p. 47-49). No entanto, para esclarecer essa perspectiva, é importante destacar os principais elementos que solidificaram a concentração de riqueza e da não distribuição do “bolo” no transcorrer da década de 1960 e 1970. Para saber mais Para saber mais sobre a teoria do bolo de Delfin Neto e distribuição da riqueza nacional, veja o artigo de Carlos Lessa no link: <http://www. ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf> 3.1. Estado empresário, tecno- cracia e classes urbanas As empresas multinacionais, desde a década de 1950 e, principalmente, em 1960 e 1970, se converteram no centro dinâmico da economia e o Estado assumiu a forma de empresário privilegiado (SKIDMORE, 1998, p. 206), baseando seu modelo numa receita inflacionária http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil48/137 com efeito nocivo na sociedade, principalmente porque atingia a massa trabalhadora. Esse procedimento transferia de forma indireta a riqueza da massa assalariada para os empresários, deixando os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Não obstante essa transferência de forma indireta, os trabalhadores ainda foram prejudicados com a priorização do investimento em tecnologia que beneficiava o setor empresarial. Essa circunstância restringiu o aumento de novas vagas, alijando boa parcela da sociedade do setor industrial de ponta ou de transformação, como a indústria automobilística, jogando-os para os setores agrícolas, agropecuários, da indústria extrativa ou então para o setor de comércio e serviço, onde os salários eram mais baixos. Concomitantemente, o subemprego tornou-se inevitável, ocasionando a ampliação do “subproletariado marginal urbano” (SKIDMORE, 1998, p. 206-207). Para saber mais Nas décadas de 1960 e 1970, surge outro tipo de trabalhador: o migrante que desconhecia o mundo da fábrica. Esse setor social, em razão de terem se deslocado de regiões rurais e desconhecerem o mundo urbano iniciam suas tarefas na “cidade grande”, por meio de uma “rede de relações sociais”, possibilitando o ingresso em trabalhos domésticos e de serviços que garantam a vida na cidade; viviam próximos de amigos e familiares, garantindo o trabalho nas Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil49/137 Para saber mais (Continuação) tarefas que se encontram no dia a dia das comunidades dos bairros e no entorno da cidade: jardinagem, costura, venda de recicláveis, serviços hidráulicos, de energia e construção, venda de diversos produtos “porta-a-porta”, entre outros. Eles acabavam por aceitar determinadas atividades em razão da longa espera pela contratação na fábrica, que na maioria das vezes acabava não ocorrendo (SADER, 1995, p. 93). Assim, esses trabalhadores mantinham a reprodução do capitalismo excludente por meio da materialização de um campo regulatório em que os “sem classe” teriam a condição de trabalho vinculada à sua rede de relações sociais, mantendo a condição de não ingresso na sociedade classista industrial, forçados pela contínua vinda de migrantes até o final da década de 1980. Em consequência da escolha dos investimentos, houve o desperdício de altas somas de determinados setores em detrimento de outros, ou seja, houve alta concentração de capital, como é o caso da construção civil, da construção de estradas e sua correspondente especulação mobiliária. Esse modelo excludente e autoritário só piorou a situação dos trabalhadores, mantendo, portanto, um modelo de desenvolvimento excludente, porém, pode-se observar o planejamento estatal como elemento central na aplicação dos recursos do Estado, baseado principalmente na tecnocracia. Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil50/137 Durante o período militar, a industrialização excludente permaneceu como modelo econômico, e a tecnocracia disciplinava os modelos estratégicos para sua implementação. Porém, o modelo ao privilegiar determinados setores na distribuição implica em concentração de riqueza e, assim, nem mesmo no transcorrer do milagre econômico (1970-1973), essa situação inverteu-se, tornou-se menos aguda. Esse período denominado de milagre foi o momento de ampliação do autoritarismo, do “endurecimento do regime” (FAUSTO, 1995). No campo econômico, houve melhoras para a população, no entanto o modelo estava assentado em três pilares: o endividamento externo, com o objetivo de agregar tecnologia externa; a concentração de renda e a criação de um setor social que consumisse os produtos, como uma espécie de fordismo às avessas, ou ainda, um fordismo autoritário. Esse momento dura pouco, pois em 1973, com a crise do petróleo, a economia do país é atingida, desacelerando-a numa espiral inflacionária, colocando o regime em situação de crise e fazendo ressurgir os movimentos sociais, bem como novos personagens5 da luta pela democracia e pelo fim da ditadura no país. A ditadura militar buscoua superação da crise, do período posterior ao milagre 5 O título da obra de Eder Sader é ilustrativo deste novo momento, pois o país verá passar novos movimentos sociais nas décadas de 1970-1980. “Quando novos personagens entraram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo em 1970-80”. Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil51/137 brasileiro, por meio de um programa de estabilização econômica que indicava os instrumentos “clássicos” para este fim: cortes nos gastos públicos, aumento da carga tributária, diminuição do crédito e arrocho salarial. O Brasil, que no início da década de 1960 ocupava o 50º lugar entre as economias capitalistas mundiais, em meados da década de 1970 ocupava o 8º lugar. A imponente classificação encobre as características e contradições de um desenvolvimento capitalista desigual em relação aos países centrais e dá a exata medida do seu significado dentro do país: acumulação acelerada do capital e concentração de renda baseadas no extraordinário crescimento das desigualdades sociais. A década de 1980 caracteriza-se por ser um momento de contestação e de consolidação da governança civil na transição do regime militar que se encerrou em 1984, com a eleição indireta de um civil para a presidência da República. Ao mesmo tempo no campo econômico, sucessivos planos foram criados para combater a inflação, considerado nesta década como o principal vetor da fome, miséria Para saber mais Para saber mais sobre a teoria do bolo de Delfin Neto e distribuição da riqueza nacional, veja o artigo de Carlos Lessa no link: <http://www. ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf> http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil52/137 e desigualdade que ocorria na sociedade brasileira, fenômeno que permaneceu na década de 1990 concomitantemente ao fenômeno da globalização. Na década de 1990, vamos conhecer um novo marco no modelo de planejamento estratégico do estado, tanto na administração pública reconhecida como gerencial, mas também de um enfraquecimento do modelo do estado como regulador da economia. Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil53/137 Glossário Democracia racial: uma sociedade sem contrastes entre grupos étnicos e racialmente diferentes. A ideia de democracia racial no Brasil foi considerada como um mito principalmente a partir da década de 80, ou seja, o país hoje é considerado como um país em que há racismo. Tecnocracia: A Tecnocracia pode ser considerada como uma forma de governo que toma como base a ciência no planejamento estratégico do estado. Questão reflexão ? para 54/137 Leia um dos artigos apontados ao longo desta aula e realize uma reflexão que priorize a ideia de estratégia na administração pública. 55/137 Considerações Finais » A cultura política do país desenvolveu-se baseado em relações patrimonialistas, e que, de certa forma, permanecem em muitos lugares do país. » A Revolução de 1930 foi um marco histórico que possibilitou ao país um novo ordenamento do estado e da administração pública. » Com a Revolução de 1930, o país adota o modelo caracterizado como weberiano, que é o da Administração racional legal, estabelecendo as bases para um modelo estratégico do estado. » O período da ditadura militar amplia a concentração de renda e a desigualdade no país, e, amplia o modelo da administração racional legal para um técnico burocrático (tecnocracia). Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil56/137 Referências CANDIDO, Antonio. Vários escritos. Radicalismos. 3. ed., rev. e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. CANDIDO, Antonio. Textos de intervenção; seleção apresentação e notas de Vinicius Dantas. “Euclides da Cunha, sociólogo”. ed. 34. São Paulo: Duas Cidades, 2002. CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2000. CUNHA, Euclides. Os sertões: campanha de Canudos. 39. ed. Rio de Janeiro: Publifolha, 2000. COLOMBO, Cristóvão. Diários da descoberta da América: as quatro viagens e o testamento. Tradução de Miltom Person, 5. ed. Porto Alegre: L&PM, 1991. FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. v. I e II, 10. ed. São Paulo: Globo; Publifolha, 2000. FREYRE, Gilberto. Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. 3. ed. Rio de Janeiro: Schmidt-Editor, 1938. ______. Gilberto. Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Prefácio de Darcy Ribeiro. 32. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil57/137 FERNANDES, José Antonio da Costa Fernandes. Imigrantes portugueses e migrantes negros: um olhar sobre novos bairros em São Paulo. 2000. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Pós- graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 14. ed., 1981. MARX, Karl. A ideologia Alemã. São Paulo: Ed. Global, 1986. RIBEIRO, Darcy. O Processo Civilizatório - etapas da evolução sócio cultural. Rio de Janeiro: Ed. Civilização brasileira, 1968. RIBEIRO, Darcy. “Gilberto Freyre: uma introdução a Casa Grande e Senzala.” Freyre, Gilberto. Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Prefácio de Darcy Ribeiro. São Paulo: 32a.ed., Brasiliense, 1998. STARLING, Heloisa Maria Murgel. “Travessia: A narrativa da República em grande Sertão: Veredas.” Pensar a República. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000. SCWHARZ, Roberto. Que horas são? Ensaios. São Paulo: Cia das Letras, 1987. ______. Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Ed. Duas Cidades, 1977. Referências Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil58/137 OLIVEIRA , Francisco. Critica à razão dualista: o ornitorrinco. São Paulo: Boitempo editorial, 2003. PINHEIRO, Paulo Sérgio Pinheiro. Transição política e não estado de direito na Republica. Brasil: um século de transformações. (Org.) Ignacy Sachs, Jorge Willheim e Paulo Sérgio Pinheiro. São Paulo: Cia das Letras, 2001. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1999. Referências 59/137 Aula 2 - Tema: Cultura e Cultura Organizacional - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ e1cf064cae59b4997160968910006595>. Aula 2 - Tema: Cultura e Cultura Política - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 73d931f6ee7d210e79435868ce670352>. Assista a suas aulas http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/e1cf064cae59b4997160968910006595 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/e1cf064cae59b4997160968910006595 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/e1cf064cae59b4997160968910006595 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/73d931f6ee7d210e79435868ce670352 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/73d931f6ee7d210e79435868ce670352 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/73d931f6ee7d210e79435868ce670352 60/137 Aula 2 - Tema: Da Sociedade Senhoral para a Empresarial - Bloco III Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 111c8df75b3709778c192c321e6d4b6b>. Aula 2 - Tema: Consolidação da Sociedade Empresarial - Bloco IV Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ bdbbaa115a4b49facdb1129d7d166539>.Assista a suas aulas http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/111c8df75b3709778c192c321e6d4b6b http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/111c8df75b3709778c192c321e6d4b6b http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/111c8df75b3709778c192c321e6d4b6b http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/bdbbaa115a4b49facdb1129d7d166539 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/bdbbaa115a4b49facdb1129d7d166539 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/bdbbaa115a4b49facdb1129d7d166539 61/137 1. A confusão entre o público e o privado que ocorre no Brasil está descrita em obras de autores consagrados como Sérgio Buarque de Holanda e Rai- mundo Faoro. Essa situação está baseada em outra conceituação mais am- pla e baseada no pensamento de Max Weber que é o: Questão 1 a) Patrimonialismo. c) Oligarquismo c) Teocentrismo d) Fisiocracia e) Democratismo 62/137 2. Segundo vários autores que estudaram nossa histórica e que fazem uma reflexão crítica sobre nosso republicanismo afirmando que pouco foi à es- sência do nacional entre nós e de que nosso liberalismo político e nosso republicanismo eram tardios. Assim, tardiamente também seria(m) nossa(s): Questão 2 a) cultura republicana e os ideiais de cidadania. b) cultura política e os ideais socialistas. c) ideias republicanas e os ideais socialistas. d) república de fato e de direitos e os ideais sociais fascistas. e) nossa democracia parlamentar e dos conselhos populares. 63/137 3. No período getulista, desenvolve-se no país a importância do planeja- mento a partir do estado. A partir dessa afirmação, podemos dizer que no período getulista houve: Questão 3 a) pequenas alterações, porém foram criados ministérios para desenvolver o planejamento. b) criação de empresas públicas, para organizar a produção e o aparelhamento do estado. c) criação de empresas socialistas, para organizar a produção e o aparelhamento do estado. d) criação de empresas sociais, que organizavam os trabalhadores a produção por meio do aparelhamento do estado. e) criação de empresas privadas, para organizar a produção e o aparelhamento do estado. 64/137 4. No período do regime militar, pode-se verificar um desenvolvimento econômico excludente, porém pode-se observar também o planejamento estatal como elemento central na aplicação dos recursos do Estado, ba- seado principalmente: Questão 4 a) na tecnocracia. b) na democracia. c) na plutocracia. d) no gerenciamento público. e) nas tecnologias. 65/137 5. A concentração de renda e um capitalismo excludente, principalmente no período militar, devem ser considerados como um dos elementos que atrasou o processo de desenvolvimento: Questão 5 a) de um tipo ideal de sistema conforme o pensamento weberiano, e assim, também de um modelo de administração pública. b) de um tipo ideal de capitalismo conforme o pensamento marxista, e assim, também de um modelo de administração pública legal. c) de um modelo de estado de bem-estar social baseado no pensamento de Marx. d) o processo de desenvolvimento de um tipo ideal de capitalismo conforme o pensamento weberiano, e assim, também de um modelo de administração pública racional legal. e) sociedade socialista. 66/137 Gabarito 1. Resposta: A 2. Resposta: A 3. Resposta: B 4. Resposta: A 5. Resposta: D 67/137 Unidade 3 Planejamento estratégico, estado e globalização. Objetivos O objetivo desta aula é avaliar o planejamento estratégico e o papel do estado na sua implementação. Nesse sentido, serão abordadas análises que avaliam o neoliberalismo, a globalização e os modelos de gerenciamento público. Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.68/137 1. Introdução A ideia de países e estados foram formulados a partir do pensamento liberal europeu ao longo do período moderno. O Estado, no século XX, principalmente em razão das formulações keynesianas, tornou-se o garantidor dos bens públicos, vistos como modos da interpretação legítima da vontade geral e garantia do bem-estar coletivo. Segundo Santos (2002), os bens públicos que o Estado moderno se propôs garantir e fornecer são: a legitimidade da governança, o bem-estar econômico e social, a segurança e a identidade nacional. Pensar o planejamento estratégico na gestão pública significa reconhecer a disputa por recursos públicos e, portanto, pela gestão pública orientada para a sociedade e suas representações. 2. O estado moderno e o estado de bem-estar social Pensar o planejamento estratégico de uma organização social, principalmente da administração pública envolve estabelecer uma dinâmica que reconheça as disputas por políticas públicas. Assim, as vontades coletivas estabelecidas na ideia do contrato social, e reconhecidas no estado, delimitador das vontades gerais, não está isento de relações contraditórias até porque a ‘vontade comum’ não é percebida de igual forma por todos os Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.69/137 indivíduos, nem por todos os segmentos sociais, classes ou grupos, de um mesmo espaço-tempo nacional, por muito ‘homogeneizado’ que tenha sido pela ideologia constitutiva do contrato. A autonomia do cidadão, que se corporifica, sobretudo nos direitos individuais civis e políticos, e os bens comuns que se traduzem pelos direitos sociais e econômicos, digladiam-se dentro do estado moderno desde a sua origem. A tensão entre a justiça social e irredutibilidade do indivíduo ao grupo, trouxe para dentro deste contrato lutas e resistências que produziram instituições e corpos normativos que determinam os modos e as condições de inclusão e exclusão. Esses processos de regulação estatal são mais ou menos poderosos, submetem- se ou articulam-se com os outros dois princípios do contrato social moderno: a comunidade e o mercado. A socialização da economia, a nacionalização da identidade e a politização do Estado são as formas institucionais que essas tensões foram produzindo. O Estado- Providência nos países centrais e o Estado- Desenvolvimentista na periferia e na semi periferia são talvez as concretudes mais explícitas dessa institucionalidade e normatividade nascida no seio do conflito dos diferentes interesses e tensões, dentro do estado-nação moderno que repercutem nos modelos estratégicos definidos pelos estados e pelas organizações (SANTOS, Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.70/137 2002, p. 11-12). Na atualidade, as questões que envolvem a globalização e o modelo neoliberal de concepção de estado e das relações sociais e políticas definiu um novo sistema mundo ainda em curso. Para uma maior clareza dessa situação e do papel do estado e da administração pública neste novo momento, se faz necessário recuperar o processo histórico e os conceitos que deram origem a ideia de uma Nova Gestão Pública, a reforma gerencial implantada no país, na década de 1990, e as delimitações definidas por meio das novas estratégias na administração pública, bem como do retorno ao planejamento estratégico, após a crise econômica de 2008, definidos a partir das diretrizes definidas pelo estado central, ou seja, no Brasil pelo Governo Federal. 2.1. Globalização, crise de esta- do e políticas públicas O conceito de Globalização aqui utilizado recupera a conceituação de José Luís Fiori e Boaventura de Souza Santos. Fiori (1997) enfatiza a hegemonia enquanto mecanismo de supremacia político- financeira, destacando os EUA como maior incentivador e beneficiário dessa política (TAVARES; FIORI, 1997, p. 144). Já as formulações de Boaventura de Souza Santos aprofundam o processo de Globalização para além das relações político-financeiras, recuperando Unidade 3 • Planejamentoestratégico, estado e globalização.71/137 as especificidades e particularidades do processo, caracterizando a Globalização em sua pluralidade, ou seja, globalizações. O processo de consolidação de um novo modelo hegemônico no mundo contemporâneo tem início na década de 1970, logo após a crise do petróleo de 1973. Essa crise potencializou um discurso em que o Estado não podia mais ser o grande investidor do desenvolvimento capitalista, pois se encontrava com grandes déficits públicos, balança comercial negativa e inflação. Esse grupo defendia a retirada da economia do Estado, cujo processo é descrito também como crise de regulação fordista, modelo da economia capitalista baseado na sociedade de bem estar e na produção de bens de consumo em larga escala, que entrou em declínio. No transcorrer deste processo, desenvolveu-se outro modelo de regulação denominado Globalização, tornando-se dominante devido a um consenso dentre os principais membros. Este foi denominado de Consenso de Washington ou Consenso Neoliberal, no final da década de 1980 (SANTOS, 2002, p. 27), em que previa a retirada da economia do Estado, a monetarização e a financeirização da economia, a privatização do Estado, entre outros ajustes. Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.72/137 Link Veja mais. Para uma maior compreensão do fenômeno da globalização veja o link: <http:// www.ces.uc.pt/bss/pt/artigos.htm> Se a Globalização, portanto não é uniforme, deve-se considerar o desenvolvimento deste processo e devemos ter em conta a complexidade deste fenômeno. Assim, é necessário compreender a Globalização dentro da modificação de um padrão sistêmico do capital e do trabalho em nível mundial. Ora, essa compreensão leva-nos a verificar que a modificação de padrão do sistema mundial já se apresentava na década de 1970, com a crise do fordismo, o avanço do toyotismo e de novos padrões nas relações de trabalho, tomando uma amplitude maior a partir da década de 19801, quando as empresas transnacionalizam-se. Esse processo se desenvolveu com a economia sendo orquestrada pelo capital financeiro num âmbito global, agregado à flexibilidade da produção em escala internacional, à diminuição dos custos de transporte, ao desenvolvimento tecnológico, à flexibilização das regras econômicas nacionais, à emergência de órgãos financeiros multilaterais globais e à proeminência do capitalismo transacional. 1 Santos (2002, p. 29) ao analisar este processo, cita que as empresas multinacionais gradualmente dimensionam-se a fim de serem os atores centrais deste processo. http://www.ces.uc.pt/bss/pt/artigos.htm http://www.ces.uc.pt/bss/pt/artigos.htm Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.73/137 Esse processo foi baseado regionalmente nos Estados Unidos e em suas relações econômicas no eixo da América, no Japão com a Ásia, a União Europeia e em suas relações com o leste europeu e norte da África (SANTOS, 2002, p. 29). Para saber mais Vários autores consideram que estamos vivendo outro momento denominado de era do conhecimento. Acesse o link e veja o vídeo sobre Sociedade do Conhecimento com a abordagem de Peter Drucker: <https://www.youtube. com/watch?v=fgQSx2Nmwis>. Acesso em: 26 fev. 2014. Esse processo enquadra-se numa lógica em que a exigência do capital financeiro internacional, por meio das agências financeiras multilaterais mundiais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial, organizaram o ajuste ou “(des) ajuste estrutural”, como prefere José Luís Fiori2. Ora, este processo envolve uma considerável e suspeita amarração de poder mundial, em paralelo com os Estados nacionais que, para desenvolvê- la, era necessário um considerável apoio logístico que foi trilhado considerando-se 2 O conceito de Fiori (apud Santos, 2002, p. 12).é título do livro em que o autor analisa as modificações propostas pelo Consenso de Washington, aplicadas no Brasil na década de 1990, no governo Collor, que implicou na privatização do Estado e da sociedade no Brasil. https://www.youtube.com/watch?v=fgQSx2Nmwis https://www.youtube.com/watch?v=fgQSx2Nmwis Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.74/137 o planejamento iniciado de forma mais sistematizada na década de 1980, com o Consenso de Washington. A própria expressão já nos remete à compreensão do significado político em causa, ou seja, o consenso faz parte do processo estruturante em que se desenvolveu o capitalismo nas últimas décadas, alicerçado numa plataforma de ação envolvendo a ciência, o Estado e os grandes grupos transnacionais. Em sua análise da realidade, esse consenso considerou os componentes ideológicos da primazia do indivíduo e do mercado sobre o Estado. A veia analítica dos seus intelectuais estabeleceu um conjunto de iniciativas e prescrições que foram desenvolvidas por diversos países, causando um desajuste na economia dos Estados em todo o mundo, principalmente nos países periféricos e de terceiro mundo. O consenso balizava-se em uma orientação flanqueada na perspectiva de um Estado mínimo, conhecido também por Consenso Neoliberal. Essa consideração implica compreender que para além do sistema financeiro internacional, há uma que envolve a política. Assim, verificamos que as proposições desenvolvidas pelo Consenso de Washington desencadearam um processo liberal que efetivou um novo padrão sistêmico do capital internacionalmente, envolvendo diversos Estados, ou seja, sociedades “interestatais”. Esse novo padrão sistêmico implicou numa considerável modificação do Estado, Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.75/137 da sociedade e também da cultura política. Ora, as modificações que decorreram no final da década de 1980 e no transcorrer da década de 1990, não aconteceram sem resistências e conflitos dentro do campo hegemônico, ou seja, o Consenso de Washington fragilizou-se, como aponta Santos (2002, p. 27). O Estado, mesmo que participe de várias ações globais, não tem hoje o pleno domínio de sua configuração e de suas ações. Assim, não podemos esquecer o peso que as corporações transnacionais têm na geopolítica, na geoeconomia. As corporações dos diversos cantos do globo planejam, diagnosticam e definem suas ações em escala mundial. Essa caracterização nos permite avaliar que a disputa mundial do capital não é conscienciosa, já que o processo de transnacionalização não se faz sem rupturas e questionamentos na órbita mesmo dos seus agentes. Nesse sentido, a ação do capital não pede autorização dos Estados nacionais. Considerar essa premissa significa compreender que há uma onda acelerada de transnacionalização da economia e de suas outras interfaces, tomando âmbito na esfera da política, da cultura e das relações sociais de tal modo que podemos afirmar que nos encontramos em um novo palco. Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.76/137 2.2. Globalização e neolibera- lismo no Brasil A globalização e seu enquadramento no cenário neoliberal brasileiro se deu logo após a subscrição dos “Estados centrais do sistema mundial” ao modelo sugerido pelo consenso de Washington, no final da década de 1980 (SANTOS, 2002, p. 27). Assim, conjuntamente com outros países, o Brasil também se tornou vítima do modelo econômico sugerido por esse consenso. No Brasil, desde os anos 1970, o modelo de Estado Social não se efetivou, mesmo com o crescimento da economia. O Brasil passou da 50ª economia capitalista, no início da década de 1960, para a 8ª posição na década de 1970, e nem mesmo os avanços da Constituição de 1988 permitiram um Estado em que a universalização de bens básicos se efetivasse (JACOBI, 2000, p. 19). 3. Estado de bem-estar social, Planejamento estratégico e a Nova Gestão Pública. Nos países centrais o formato do contrato social proporcionado pelo Estado de bem-estar social, considerado como um plano estratégico na
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