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Planejamento estratégico

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Planejamento Estratégico 
na Gestão Pública
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Planejamento Estratégico na Gestão Pública
Autor: José Antonio da Costa Fernandes
Como citar este documento: FERNANDES, José Antonio da Costa. Planejamento Estratégico na 
Gestão Pública.. Valinhos: 2014.
Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: A construção da sociedade e do estado brasileiro 04
Assista a suas aulas 25
Unidade 2: Cultura, política e estado no Brasil 33
Assista a suas aulas 59
Unidade 3: Planejamento estratégico, estado e globalização 67
Assista a suas aulas 95
Unidade 4: Planejamento estratégico e os modelos de gestão pública 104
Assista a suas aulas 131
2/137
3/137
Apresentação da Disciplina
A disciplina de Planejamento Estratégico 
na Gestão Pública procura compreender 
a formação histórica, a definição e a 
organização da sociedade e do estado. Há 
para a análise desta realidade algumas 
teorias que procuram compreender a 
organização das pessoas e do Estado. 
Iremos perceber como o processo de 
formação histórico delineou nossa 
sociedade e o nosso estado e como ele 
se estabelece na atualidade. A definição 
de planejamento estratégico e da gestão 
pública serão analisados considerando-
se os modelos modernos de sua tipologia. 
Ao longo das aulas iremos perceber a 
complexidade das definições de poder e 
das organizações sociais e estatais e de que 
forma se constituem as políticas públicas 
que interferem em nosso cotidiano. Assim, 
será possível compreender as mudanças 
nos modelos de administração pública 
e avaliar que hoje há o privilégios de 
modelos em que o estabelecimento de 
estratégias de médio e longo prazo são 
imprescindíveis. 
4/137
Unidade 1
A construção da sociedade e do estado brasileiro.
Objetivos
Esta aula tem como objetivo oferecer um panorama 
histórico da formação da nossa sociedade e do 
estado brasileiro. Neste sentido, a abordagem 
utilizada teve como preocupação o delineamento 
do estado brasileiro até a introdução do 
planejamento racional na administração pública 
brasileira, iniciado a partir de 1930. 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro5/137
1. Introdução
Ao definir o significado de planejamento 
estratégico poderíamos resumir que seria 
o processo de definição de um plano a ser 
adotado para uma organização. Porém 
essa organização tem um histórico que se 
vincula, em grande medida a definições 
que ocorreram na sociedade e no estado. 
Assim, devemos analisar a organização ou 
o estado sob vários ângulos e a definição 
de que rumos serão adotados a curto, 
médio e longo prazo, dependem de uma 
análise mais ampla. Para uma melhor 
aplicação de um plano estratégico, 
então é necessário conhecer o histórico 
desta organização, da sociedade que a 
envolve, das relações políticas e do tipo de 
estado. Planos estratégicos são adotados 
por diversos países, principalmente 
em países que adotaram modelos de 
regulação do capitalismo, denominados 
também de países de bem-estar social. 
Esse planejamento estatal também será 
analisado ao longo das aulas. 
2. Conceitos básicos das Ciên-
cias Sociais. 
As Ciências sociais e, principalmente, 
a Ciência Política dão as bases para a 
compreensão da formação do estado, das 
relações sociais e disputas pelo poder. 
Vários são os conceitos que estabelecem 
o entendimento da realidade histórica e 
da formação e das formulações do estado 
moderno.
Pensar o estado significa compreender 
questões que envolvem o passado e as 
definições da política contemporânea, e 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro6/137
mesmo da necessidade do estado. Assim, 
somos obrigados a retornar a Hobbes, 
pois foi um dos primeiros elaboradores 
da Teoria Política, principalmente quando 
visualizou que a substituição do estado 
de natureza por um estado de leis era 
uma necessidade da humanidade. Assim, 
o estado torna-se uma necessidade, um 
impositivo para os homens, pois só ele era 
capaz de impor a ordem, ou seja, o homem 
sai de uma situação de “anarquia”, sem 
governo, para uma situação de “arquia”, 
com governo. O estado, então, e somente 
ele, é capaz de garantir um governo com 
regras comuns a partir da imposição da 
ordem por meio das leis. Da concepção 
geral de Hobbes, passando por Locke 
e outros autores clássicos da Política, 
chegamos à confirmação da necessidade 
do Estado, e com Montesquieu da ideia 
da separação dos poderes. Segundo 
Montesquieu, o poder não deveria ficar 
concentrado em uma única pessoa, 
nem tampouco deveria deter um poder 
absoluto. Assim, estabeleceu a necessidade 
da divisão dos poderes e a configuração 
de um Estado moderno disciplinado pela 
coerência entre eles, mas com funções 
fundamentais e delimitadas em três 
esferas: executivo, judiciário e legislativo.
A delimitação destes poderes é definida 
aqui segundo uma conceituação 
básica. Assim, o poder Legislativo tem 
a prerrogativa de instituir as leis, que 
conferem o ordenamento jurídico 
necessário, e que deve regular as relações 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro7/137
dos cidadãos entre sim, bem como definir 
os papéis das empresas e do estado. 
Já o Poder Executivo fica responsável 
pelo “gerenciamento” da máquina 
administrativa e deverá realizar 
as contratações necessárias para 
este funcionamento em respeito e 
cumprimento as leis. As ações ocorrem por 
meio de ministérios, secretaria e outras 
entidades e órgãos de apoio.
O poder judiciário é composto pelos 
membros da magistratura com seus 
órgãos, conselhos e outras entidades de 
apoio na perspectiva de garantir justiça 
por meio de julgamentos conforme o 
ordenamento jurídico estabelecido.
2.1 As Ciências Sociais, funda-
mentos dos estados e adminis-
tração pública.
Já para compreender determinadas 
condicionantes da nossa atualidade 
significa entender o processo formador das 
sociedades. Neste sentido, dois autores 
básicos se impõem: Karl Marx e Max Weber. 
Vejam que aqui não cabem determinações 
de fundo ideológico, mas sim de conceitos 
que procuram elucidar determinados 
acontecimentos históricos e mesmo 
a realidade de determinadas cidades, 
regiões, países e sistemas econômicos e 
políticos. 
O pensamento de Max Weber estabeleceu 
uma definição tipológica para a 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro8/137
compreensão da dominação política 
exercida, considerando-se uma abordagem 
histórica que prevê a possibilidade 
de um tipo ideal baseado na ideia da 
racionalidade, legalidade e democracia. 
Assim, o autor denominou que o mundo da 
política é exercido por tipos de dominação 
e que poderíamos definir em três modelos 
básicos: dominação racional legal, 
dominação pelo carisma e dominação 
tradicional.
Já o pensamento de Karl Marx estabelece 
como princípio básico na formação das 
sociedades a ideia do conflito de interesses 
e, portanto o contraditório é base e, por 
conseguinte, a ideia da luta de classes. O 
estado surge como representação de um 
modelo de dominação representado por 
uma classe social que tem determinado 
grupo que pode ser representante desta 
no Estado. Assim, como exemplo, podemos 
definir que uma sociedade escravocrata 
tem no poder do estado, representantes 
eleitos ou escolhidos, da classe dirigente, 
ou seja, os senhores de escravos.
Para saber mais
As obras clássicas de Karl Marx e Max Weber 
podem ser acessadas nos originais em alemão 
no portal público no link abaixo. O portal 
contém diversos livros em e-books. Disponível 
em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/PesquisaObraForm.do>. Acesso em: 
24 fev. 2014
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro9/137
Ao longo desta aula e da próxima, 
as definições e conceitos políticos 
acompanham o desenvolvimento da 
história brasileira e procuram elucidar 
por que há situações tão díspares no país, 
comcidades tão diferentes do ponto de 
vista do desenvolvimento econômico, 
social ou político. A análise desenvolvida 
procura dar base para o entendimento 
da administração pública brasileira 
considerando-se nosso passado e as bases 
da formulação do nosso sistema político. 
Assim, determinados valores do liberalismo 
europeu, desenvolvidos após as revoluções 
industrial e francesa, não encontraram 
guarida no Brasil ou foram tardiamente 
aplicados, ou seja, são valores que 
muito tempo depois da proclamação da 
república, em muitas regiões e cidades 
do Brasil ainda não encontraram terreno 
fértil para o seu desenvolvimento, 
mesmo contando na atualidade com 
diversas leis. Dessa forma, ainda é 
possível ver governadores e prefeitos 
que não estabelecem a democracia no 
desenvolvimento do planejamento como 
elemento central de suas plataformas 
políticas, e nem tampouco na formulação 
delas estabeleçam a democracia, e de 
certa forma descumprem as leis que 
garantem o exercício de planejamentos 
com participação popular, por meio de 
audiências públicas como o é ocaso do 
Plano Plurianual - PPA.
A sequência dos estudos irá, portanto, 
relacionar nosso desenvolvimento 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro10/137
histórico com as definições conceituais 
do sistema político e do planejamento 
governamental. Nesse sentido, podemos 
definir três momentos distintos no processo 
de desenvolvimento da administração pública 
brasileira: o primeiro momento denominado 
de patrimonialista, o segundo, denominado 
burocrático e o terceiro, gerencial.
3. A formação da sociedade e 
do estado brasileiro
Brasil: Um sentido histórico
“Todo povo tem na sua evolução, vista 
à distância, certo sentido” (PRADO 
JÚNIOR, 2000, p. 25). Ao considerar essa 
afirmação a intenção é buscar nossa 
gênese e descortinar nossas matrizes 
de desigualdade e de hierarquização no 
processo de nossa construção histórico-
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro11/137
social. Escrever sobre nossa história não 
é precisamente narrar os fatos desde o 
Período Colonial. Observar a História do 
Brasil significa apreciar certo sentido 
histórico. Essa perspectiva está trilhada na 
compreensão de que nossas desigualdades 
estão alicerçadas em grande parte na 
escravidão, longamente praticada no 
transcorrer de nosso processo formador. 
Independência, abolição e Repúbli-
ca
Compreender o lento processo do fim da 
escravidão significa diagnosticar que, 
principalmente após a proclamação 
da independência, estava em curso 
concomitantemente, a consolidação de 
uma elite agrária no poder político. A 
independência que ocorreu no nosso país 
sofreu um processo de modificação de 
grupos sociais no poder, envolvendo tanto 
os interesses das elites, representados 
pelos setores médios da população 
interessados no fim da escravidão, quanto 
os grandes proprietários e mercadores 
de escravos contrários à abolição. São 
justamente estes que vão ascender à 
autoridade estatal, após a renúncia e, 
consequentemente, saída de D. Pedro I do 
poder em 1831, tornando letra morta o 
acordo que previa o fim do tráfico, assinado 
anteriormente com a Inglaterra. Portanto, 
ao contrário da movimentação rumo à 
abolição, há uma aceleração no processo 
do tráfico de negros para o Brasil e que só 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro12/137
vai declinar no fim do século XIX e deixar de existir um ano antes do fim da monarquia (PRADO 
JÚNIOR, 1988, p. 149).
Para saber mais
Para compreender o sentido da afirmação, “para inglês ver”, definido também na ideia de “letra morta”, 
veja os artigos selecionados. Análise histórica: <http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/
historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_
historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_
VER...._Argemiro_gurgel.pdf>
Uso da formulação para demonstrar a não aplicação de uma ideia, neste caso da ética empresarial.
<http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/3737.pdf>
A escolha da mão de obra negra não se dava apenas por uma circunstância econômica, pois no 
Brasil, mesmo após a independência, a mentalidade senhorial da parcela dirigente do País não 
se ajustava ao trabalho livre e seus reclamos.
http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_VER...._Argemiro_gurgel.pdf
http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_VER...._Argemiro_gurgel.pdf
http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_VER...._Argemiro_gurgel.pdf
http://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-_ARTIGO_UMA_LEI_PARA_INGLxS_VER...._Argemiro_gurgel.pdf
http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/3737.pdf
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro13/137
Eis por que, em pleno século XIX, o Brasil se afirmava como país 
independente e incorporava à sua Constituição as fórmulas liberais 
europeias, ao mesmo tempo em que conservava o regime servil, ligado 
que estava ao passado colonial. Juridicamente, o país era independente, 
novas possibilidades se abriam para a economia, mas a cultura do café 
se organizava ainda nos moldes coloniais, e com ela se prolongava o 
sistema escravista. Herdava-se uma solução econômica: o latifúndio 
exportador escravista, uma tradição cultural: a mentalidade senhorial, um 
hábito a escravidão (COSTA, 1982 (a), p. 12).
Contudo, a produção do café aliada a outros aspectos tem fator decisivo na modificação 
e declínio do sistema escravista no Brasil. No transcorrer do século XIX, com o advento da 
Revolução Industrial e do novo capitalismo, o sistema escravista desaparece no “mundo 
colonial” (COSTA (a), 1982, p. 187). Porém, o sistema de trabalho baseado na escravidão tem no 
Brasil seu último bastão, que virá a declinar de forma lenta no transcorrer do segundo reinado, 
recheado de contradições e próprios de uma elite senhorial que mantinha sua personalidade 
política baseada fundamentalmente na terra e no trabalho escravo. Dessa forma, o declínio do 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro14/137
escravismo no país transcorre de forma 
“moderada”, ou seja, o transcorrer do 
século XIX é palco intenso da contradição 
entre liberalismo e escravidão.
As modificações que ocorreram no âmbito 
da escravidão repercutiram na concepção 
do tipo de posse da terra e, portanto, 
na criação da lei de terras de 1850. Os 
grandes proprietários, beneficiários da 
escravidão, da concentração fundiária, 
temerosos da possibilidade da distribuição 
de terras e de outro destino para a 
economia e a política no país, trilham com 
essa lei o fortalecimento da concentração 
fundiária e da produção monocultural. A 
perspectiva delineada tinha claramente 
o objetivo de não tornar a terra acessível 
aos pequenos proprietários que surgiriam 
com o advento da abolição e da imigração, 
visualizando uma estamentalização da 
sociedade. A lei de terras era clara neste 
objetivo, “[…] decretando que a terra 
pública só poderia agora ser adquirida por 
compra do governo ou por pagamento de 
impostos para regularizar os acordos de 
terra já feitos, dificultando o acesso a terra 
para pequenos proprietários” (SKIDMORE, 
1998, p. 170).
Essa situação permite compreender as 
formulações de Faoro (2000), para quem 
a nossa cultura política foi formada de 
cima para baixo, com uma estrutura 
patrimonialista. Faoro (2000) recuperao pensamento weberiano, e a análise de 
um tipo tradicional de dominação no 
Brasil, definido no patrimonialismo que se 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro15/137
praticou desde o início da colônia e que 
tem como base o tradicionalismo, ou seja, 
“[…] assim é, porque sempre foi.” (FAORO, 
2000, p. 363).
Após o fim da escravidão, as agitações 
republicanas tomaram novo ímpeto, no 
entanto a conquista da República não 
atingiu a totalidade dos republicanos, 
pois a saída encontrada foi um golpe 
militar contra a Monarquia. A população e, 
principalmente, as classes médias que se 
forjaram na luta abolicionista e republicana 
ficaram a observar o novo regime que 
se instaurava: “O povo assistiu a tudo 
bestializado, sem compreender o que se 
passava”, afirmou Aristides Lobo (apud 
SILVA, 2005).
Ao analisarmos as condicionantes de 
nossa república, cumpre enfocar a 
caracterização deste período como uma 
simbiose de liberalismo, estamentalização 
e hierarquização que se desenvolve no 
positivismo, tendo no aparelho estatal 
e no jurídico as marcas deste processo 
republicano. O processo abolicionista 
e republicano, aliado às contradições 
do sistema econômico e às disputas 
regionais, permitiu que o modelo 
federativo previsto na Constituição de 
1891 adotasse o modelo da República 
Federativa; dividindo o Brasil em estados 
organizados numa federação. Os poderes 
foram descentralizados, permitindo 
que os estados adquirissem autonomia 
para obter empréstimos no estrangeiro, 
constituir suas polícias locais, entre outros. 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro16/137
A República inaugurada era constituída de forças e grupos sociais distintos como os militares e 
as elites civis dos principais estados. 
No decorrer dos primeiros anos, os militares foram a principal força, tornando o período 
conhecido como República da Espada. Posteriormente, um civil assume a presidência, mas 
a República continua a mesma nos aspectos sociais e econômicos, ou seja, permanecem o 
patrimonialismo, a hierarquização e estamentalização descritos por Faoro (2000, p. 367), até 
por que:
[...] o patrimonialismo se amolda às transições em caráter flexivelmente 
estabilizador do modelo externo, concentrando no campo estatal os 
mecanismos de intermediação com suas manipulações financeiras, 
monopolistas, de concessão pública de atividade, de controle do crédito, 
de consumo.
Já a Constituição, desse primeiro momento republicana, denominado de primeira fase 
ou república velha, adotou em linhas gerais o modelo dos Estados Unidos da América, em 
que prevalece o presidencialismo, reforçando a manutenção de um sistema hierarquizado 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro17/137
e patrimonialista, como sugere Faoro (2000). Na mesma linha, a cidadania não se efetiva 
nem mesmo no plano eleitoral, até porque o voto continuou a ser permitido apenas aos 
alfabetizados, como no período imperial, e também não era secreto. Não havia fiscalização 
e o voto correspondia muito mais ao “mandonismo clientelista” local do que aos desejos dos 
eleitores, baseado fundamentalmente no coronelismo1.
Da simbiose entre imigrantes e negros, café e comércio, temos o crescimento industrial de 
São Paulo. Se o sistema estatal era condicionado por grupos econômicos e regionais, nossa 
industrialização não é diferente e ocorre de forma organizada por grupos locais. Nas primeiras 
décadas do século XX, o início da industrialização ocorre nas áreas do Nordeste, São Paulo e 
no Sul (FAUSTO, 1995), mas é principalmente em São Paulo em que há uma maior expansão 
industrial e urbana resultante da atividade cafeeira, do comércio e da imigração. O fenômeno 
do desenvolvimento industrial e urbano possibilita o surgimento de um mercado interno para o 
consumo dos produtos industrializados já nas primeiras décadas, tendo maior amplitude 
1 Os pactos políticos deste período, República Velha, necessariamente, não se resumem apenas na aliança entre os estados de São Paulo e 
Minas Gerais, mas também com as oligarquias dos outros estados que nutriam maior aproximação com os grupos políticos de ambos, denominada 
também de “república dos coronéis”. Essa denominação ocorreu em virtude da predominância da figura política do “coronel”, titulação que não 
tem em absoluto nenhum vínculo com o exército e é, na verdade, mais um mecanismo da hierarquia social, fundamentado no poder da posse de 
terra. Esse título foi concedido aos antigos coronéis da Guarda Nacional no período regencial 1832/1840, que contratavam jagunços para controlar 
determinadas áreas do Brasil contra as populações que se rebelavam. Esses títulos permaneceram no transcorrer do II Império e no decorrer da 
República. Esses coronéis arregimentavam a população para votar, 
garantindo o poder político, seja por meio do clientelismo ou simplesmente pelo medo. Situação que ainda persiste no Brasil. 
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro18/137
a partir de 1930. Com o advento da 
Revolução de 30, modificam os grupos 
sociais no poder e a produção industrial 
se amplia e uma nova concepção de 
administração pública baseada nos 
fundamentos racionais e legais previstos 
na concepção weberiana vai ter início no 
país.
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro19/137
Glossário
Elite agrária: O conceito de elite agrária acompanha o pensamento weberiano, que envolve uma camada 
social dirigente que é baseada em um tipo de dominação tradicional vinculada à propriedade da terra.
Liberalismo: Conjunto de ideias estabelecidas no período moderno que estabelecem os princípios da 
igualdade e da liberdade.
Estamento: Podemos definir como uma forma de estratificação social em que haja camadas sociais 
definidas e fechadas o que não possibilita muita mobilidade.
Patrimonialismo: Podemos definir esse conceito pela característica de um estado em que o governante 
confunde o público com o privado, ou seja, não há limites entre o que é privado e o que é publico. Assim, os 
recursos públicos são direcionados para fins privados.
Questão
reflexão
?
para
20/137
Faça uma pesquisa sobre a história da sua cidade 
e verifique se houve casos de governantes que 
“adotaram” o patrimonialismo como forma de 
governo. Veja se houve condenações e faça um texto 
comparativo com o momento atual. 
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Considerações Finais 
 » Formação do estado moderno e dos princípios do liberalismo e da ideia de um 
estado legitimado por um governante.
 » Organização do estado baseado na separação de poderes.
 » Sociedade de classes, tipos de dominação e sociedade colonial no Brasil.
 » Escravidão e patrimonialismo no Brasil: marcas de uma permanência histórica.
Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro22/137
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Unidade 1 • A construção da sociedade e do estado brasileiro24/137
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1999.
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Aula 1 - Tema: Políticas Públicas - Bloco I
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
d1ca14d9eab29dd750ff3ac3b7e148fe>.
Aula 1 - Tema: Estado, Política e Planejamento 
Estratégico - Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
63cf45cdaa6e9c80950f00ad39ad2464>. 
Assista a suas aulas
http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/d1ca14d9eab29dd750ff3ac3b7e148fe
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Aula 1 - Tema: Modelos Analíticos e 
Patrimonialismo no Brasil - Bloco III
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Aula 1 - Tema: O Brasil de Ontem e Hoje: A 
Primeira República - Bloco IV
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1. A necessidade da divisão dos poderes e a configuração de um Estado 
moderno disciplinado pela coerência entre eles, mas com funções 
fundamentais e delimitadas em:
Questão 1
a) Três esferas: executivo, judiciário e legislativo.
b) Três ciclos: executivo, judiciário e legislativo.
c) Três esferas: executivo, judiciário e legislativo acompanhada de outros órgãos similares e 
 de apoio.
d) Quatro esferas: executivo, judiciário, legislativo e representativo.
e) Três situações: executivo, judiciário e legislativo.
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2. A criação da lei de terras de 1850 permitiu para os grandes proprietá-
rios, beneficiários da escravidão e da concentração fundiária:
Questão 2
a) Fortalecimento da concentração fundiária e da produção monocultural.
b) O fim do modelo escravocrata e da concentração fundiária.
c) Declínio concentração fundiária e ampliação da produção monocultural.
d) Início do declínio fim da concentração fundiária e da produção monocultural.
d) Fortalecimento do modelo agrário exportador, baseado na distribuição de terras.
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Questão 3
3. No período getulista, desenvolve-se no país a importância do planeja-
mento a partir do estado:
a) A criação de empresas públicas, que organizam a produção e o aparelhamento do estado 
 é um legado do período, porém só ocorre de forma efetiva na década de 1950.
b) A criação de empresas públicas, que organizam a produção não é uma constante.
c) A criação de empresas semipúblicas, que o aparelhamento do estado é uma constante.
d) A criação de empresas públicas, que organizam a produção e o aparelhamento do estado 
 é uma constante.
e) Não houve a criação de empresas públicas, que organizassem a produção apenas o 
 aparelhamento do estado.
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4. O modelo de desenvolvimento excludente, porém, com planejamento 
estatal como elemento central na aplicação dos recursos do Estado, ba-
seado principalmente na tecnocracia foi desenvolvido em qual período.
Questão 4
a) Ditadura varguista 1937 a 1945
b) Ditadura militar de 1964 a 1984
c) República da espada 1889 a 1930
d) Ditadura militar de 1964 a 1978.
d) Período JK
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5. Com o advento da Revolução de 1930, modificam os grupos sociais no 
poder e a produção industrial se amplia e uma nova concepção de admi-
nistração pública vai ocorrer no país, baseada:
Questão 5
a) Nos fundamentos racionais e legais previstos na concepção marxista.
b) Nos fundamentos racionais e legais previstos na concepção weberiana.
c) Nos fundamentos racionais e legais previstos na concepção da NGP – Nova Gestão Pública.
d) Nos fundamentos racionais e legais previstos na legislação a ser adotada.
e) Nos fundamentos do gerenciamento científico e no fordismo.
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Gabarito
1. Resposta: A
2. Resposta: A
3. Resposta: D
4. Resposta: B
5. Resposta: B
33/137
Unidade 2
Cultura, política e estado no Brasil
Objetivos
O objetivo desta aula é apresentar, a partir dos conceitos 
das ciências sociais, as formulações que são utilizadas para 
a administração pública e que estão vinculadas à própria 
formação cultural do país. Nesse sentido, a abordagem da 
cultura organizacional e da cultura política serão utilizadas para 
uma melhor compreensão do desenvolvimento do estado e da 
administração pública no Brasil. Iremos ver também, de forma 
sucinta, o desenvolvimento da administração pública nos últimos 
50 anos, bem como as estratégias de implantação do modelo 
burocrático legal no Brasil.
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil34/137
1. Introdução
Para maior compreensão da Administração Pública, uma das possibilidades é o resgate da 
cultura, que têm como um dos fundamentos a ciência antropológica. Dentre as subdivisões da 
antropologia existe a cultura política e a cultura organizacional. Iremos discutir a antropologia 
e a questão da cultura e desburocratização sob o ponto de vista organizacional (Nova Gestão 
Pública), uma vez que a primeira (antropologia) atravessa várias ciências e está ligada ao 
aspecto holístico da sociedade. 
O desenvolvimento da administração pública e as noções de planejamento estratégico serão 
aqui analisados considerando-se o momento de sua implantação que advém da própria 
mudança da concepção de estado após a revolução de 1930 com sua modernização e, por 
consequência, da administração pública que irá implantarum modelo racional legal baseado 
em uma nova cultura política e que vai delinear um novo modelo de cultura organizacional nas 
tarefas do estado. 
Assim, compreender o Brasil de ontem e de hoje significa analisar o pensamento político 
da cultura brasileira em uma perspectiva histórica, como o desenvolvido na aula anterior e 
que tem prosseguimento nesta aula. Nas aulas três e quatro iremos retomar e aprofundar os 
conceitos de cultura entrelaçadas a ideia de estratégia para a gestão pública.
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil35/137
2. Cultura organizacional, polí-
tica e as relações com o estado.
A Antropologia, sendo a ciência da 
humanidade e da cultura, tem campo de 
investigação extremamente vasto, pois 
abrange, no espaço, toda terra habitada, 
e, no tempo, pelo menos dois milhões de 
anos e todas as populações socialmente 
organizadas. A Antropologia Cultural, para 
alguns autores é sinônima de antropologia 
social, que focaliza, talvez, o principal 
conceito desta ciência, a cultura. Ao nos 
debruçarmos sobre o estudo das relações 
de poder em sociedades com estado, 
também devemos compreender sua cultura 
política, ou seja, na análise da cultura a 
política não deve ficar de fora. 
Para o saber antropológico o conceito 
de cultura abarca diversas dimensões: o 
universo psíquico, os mitos, os costumes 
e rituais, suas histórias peculiares, a 
linguagem, os valores, as crenças, as leis, as 
relações de parentesco, entre outros. 
O comportamento humano nas 
organizações tornou-se, nas últimas 
décadas, objeto de estudo científico 
específico, orientado para a busca de 
melhor compreensão do mesmo e do 
termo “cultura organizacional”. Assim, 
a cultura organizacional possui vários 
elementos como: valores, crenças, rituais 
e cerimônias, heróis, tabus e normas. A 
cultura organizacional refere-se sempre 
a um grupo e espaço específicos, sendo 
que fazem parte disso os líderes da 
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil36/137
organização, a equipe e colaboradores 
que trabalham nas organizações. Segundo 
Freitas (2008), o comportamento humano 
nas organizações tornou-se, nas últimas 
décadas, objeto de estudo científico 
específico, orientado para a busca de 
melhor compreensão do mesmo e do 
termo “cultura organizacional”. A cultura 
de uma organização será, pois um conjunto 
de características que a individualiza e 
a torna única perante qualquer outra. 
Assume-se como um sistema de valores, 
expressos através de rituais, mitos, hábitos 
e crenças comuns aos membros de uma 
instituição, que assim produzem normas 
de comportamento genericamente aceitas 
por todos. Na administração, tanto pública 
como privada é trabalhada a cultura 
organizacional e isso se dá em bases 
antropológicas. Cada empresa (pública ou 
privada) tem uma cultura organizacional 
diferente e esse clima de diferenciação, 
também traz diferentes formas de soluções 
aos problemas.
Para saber mais
Para saber mais sobre cultura organizacional veja 
os links:
<http://biblioteca.univap.br/dados/INIC/cd/
epg/epg6/epg6-1.pdf> 
<http://www.scielo.br/
scielo.php?pid=S1413-
92511998000200004&script=sci_arttext>
http://biblioteca.univap.br/dados/INIC/cd/epg/epg6/epg6-1.pdf
http://biblioteca.univap.br/dados/INIC/cd/epg/epg6/epg6-1.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-92511998000200004&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-92511998000200004&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-92511998000200004&script=sci_arttext
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil37/137
Já a ideia de cultura política envolve a 
concepção das relações de disputa do 
poder na sociedade e no estado, disputa 
por interesses muitas vezes conflitantes 
e que acabam por definir a condução das 
políticas públicas.
Para saber mais
Saiba mais sobre cultura Política. Acesse o 
link: <http://www.anpocs.org.br/portal/
publicacoes/rbcs_00_28/rbcs28_09.htm>
2.1. Brasil e cultura política: 
que república?
 
Compreender a problemática da 
cultura e da política do Brasil requer um 
acompanhamento histórico até porque a 
compreensão delineada aqui é a de que 
há correspondência entre um e outro, ou 
seja, nossa formação cultural interfere 
em nossa cultura republicana e na 
definição das políticas públicas a serem 
adotadas. Assim, abordar as explicações 
sobre nossas origens e nossa atualidade 
republicana, necessita de algumas das 
interpretações realizadas pelos principais 
autores clássicos e contemporâneos. Dessa 
forma, a análise pressupõe compreender 
o processo de construção de nossa 
sociedade que passa por um momento 
novo na História, consideração que envolve 
entender os últimos 30 anos. No entanto, 
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_28/rbcs28_09.htm
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_28/rbcs28_09.htm
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil38/137
a história de longa duração, “[…] uma 
história que se constrói como um processo 
que reconhece mudanças, mas apresenta 
persistências”, foi percorrido no sentido de 
avaliar nossa gênese social e republicana 
(NOVAIS, 1998, p. 729). Assim, podemos 
visualizar, conforme a aula anterior que 
nossa formação tem início, no período 
colonial ou até mesmo além-mar, em 
Portugal, como sugere Sérgio Buarque 
de Holanda (1981, p. 3) ou ainda presos 
estamos, em nosso processo formador, 
nos primórdios da dinastia de Avis, como 
analisa Faoro (2000).
 Sérgio Buarque de Holanda, ao 
analisar nossa História e buscando 
compreender nossas raízes de cultura 
política, estabeleceu uma compreensão 
analítica, inter-relacionando a formação 
histórica, social e estatal fundamentada 
no contraditório e na postura comparativa. 
Dessa forma, sem se preocupar em 
definir se por uma saída positivista e, 
erroneamente, fazer uma falsa alusão 
do que seria pretensamente a verdade, 
prioriza uma análise dialética que 
visualiza a “cordialidade” como elemento 
central das relações e, ao mesmo tempo, 
trabalha numa perspectiva que questiona 
estes valores1. Neste sentido, a análise 
pretendida pelo autor não estabelece 
1 A indeterminação de Holanda é a própria matriz de 
seu veio analítico, até porque sua dialética está centrada 
em “posições de tipo hegeliano”, que priorizam as relações 
de pares contraditórios, a “negação da negação” ou “práxis 
social”. A práxis é elemento central da análise crítica marxista, 
presente prioritariamente na “Ideologia Alemã” (MARX, 1986) 
e no embasamento teórico de Holanda, como nos demonstra 
Antônio Cândido no prefácio de “Raízes”.
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil39/137
fatores de determinação unicamente 
econômicos, mas sim o processo que 
engendrou nossa formação social e 
nossa cultura política, vinculada a um 
conjunto de elementos aparentemente 
contraditórios, porém intrinsecamente 
presentes em nosso processo histórico. 
Sérgio Buarque de Holanda, ao analisar 
nossas raízes, atentou para o fato de que 
o nosso processo histórico engendrou 
um novo tipo social: o homem cordial. 
(HOLANDA, 1981, p. 107). Esse novo 
tipo confunde o público e o privado, 
desritualiza as relações sociais, naturaliza 
o “equilíbrio”2 das duas pontas da 
pirâmide, não tendo proximidade com o 
individualismo liberal, puritano. Nossa 
2 A ideia de equilíbrio está presente também em Gilberto 
Freyre, principalmente na obra Casa Grande & Senzala.
cordialidade, nossa “aversão ao ritualismo 
social” (HOLANDA, 1981, p. 108). Ainda 
segundo o autor, assenta-se em relações 
mais familiares, aproximando as relações 
hierárquicas. Assim, o caso histórico 
brasileiro não é das relações em que se 
estabelece o “tipo ideal de capitalismo” 
(WEBER, 2001), mas o patrimonialismo, ou 
seja, ocorre o inverso em comparação ao 
puritanismo e individualismo protestantes 
das zonas temperadas. Aqui, nos territórios 
“abaixo da linha do equador”, as relações 
sociais abarcam certa incompatibilidade 
entre a razão de estado, o cálculo e a lógica 
racional, presentesno pensamento de 
Max Weber e próprios da lógica estrutural 
do capitalismo (WEBER, 2001). As razões 
do nosso cotidiano não possibilitaram 
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil40/137
o desenvolvimento dessa lógica e isto não significa dizer, segundo Holanda (1981), que o 
ritualismo das sociedades americanas e europeias sejam imprescindíveis.
Em particular a nossa aversão ao ritualismo é explicável, até certo ponto, 
nesta “terra remissa e algo melancólica” de que falavam os primeiros 
observadores europeus, por isto que, no fundo, o ritualismo não nos é 
necessário (HOLANDA, 1981, p. 112).
O postulado analítico de Holanda (1981) não se preocupa necessariamente com esse ritualismo 
das relações sociais que se estabeleceram entre o estado e as sociedades americanas e 
europeias, ou ainda, se a relação do homem da família (personalista) é preferível às razões 
de Estado; até porque ele concebe que o Estado e a sociedade são elementos inseparáveis, 
porém desnuda as implicações entre o público e o privado que, se alargadas, nos levam ao 
patrimonialismo.
Identificar esses elementos significa constatar que nossas raízes históricas, coloniais e 
republicanas são diferenciadas dos países europeus e dos Estados Unidos da América. 
Entretanto, não podemos compreender que nossa sociedade seja fundada em valores 
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil41/137
totalmente diferenciados, pois a cópia 
de valores culturais estrangeiros é uma 
constante em nosso país, o que implica 
num imbrincamento de valores, tanto de 
nossas raízes quanto de nossas cópias.
Neste sentido, podemos considerar 
que as relações sociopolíticas estão 
fundamentadas na ideia de que somos 
todos amigos de quem está no poder, ao 
mesmo tempo em que os mandatários 
são também amigos dos eleitores e, 
portanto, todas as relações sociopolíticas 
estão franqueadas no “favor” (HOLANDA, 
1981). Assim, a compreensão levada a 
cabo aqui considera que cultura política 
e formação social, estão vinculadas as 
relações étnico-raciais que confere para 
além de nossa origem histórica ou étnica, 
o imbrincamento entre nossa formação 
política – o Estado, e nossa formação social 
– o Público.
Para saber mais
Para um aprofundamento do tema e da 
atualidade do pensamento de autores como 
Sergio Buarque de Holanda e Raimundo Faoro 
leiam o artigo de Bresser Pereira: <http://www.
bresserpereira.org.br/papers/2000/00-71.
RelendoRaizesDoBrasil-Holanda.pdf>
Nesse sentido, a análise de Schwarz 
(2003) sobre nosso liberalismo “fora de 
lugar”, sobre a incompatibilidade entre 
capitalismo e escravidão é essencial, até 
http://www.bresserpereira.org.br/papers/2000/00-71.RelendoRaizesDoBrasil-Holanda.pdf
http://www.bresserpereira.org.br/papers/2000/00-71.RelendoRaizesDoBrasil-Holanda.pdf
http://www.bresserpereira.org.br/papers/2000/00-71.RelendoRaizesDoBrasil-Holanda.pdf
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil42/137
porque as variáveis (categorias analíticas) 
do homem cordial e do favor, elementos 
centrais na análise de Sérgio Buarque de 
Holanda, estão presentes em capítulo já 
clássico de Schwarz (2003), “As ideias fora 
do lugar”, presentes na obra: “Ao vencedor 
as batatas: forma literária e processo social 
nos inícios do romance brasileiro”. E por que 
as ideias estão fora de lugar?
A colonização tem como objetivo a 
europeização do mundo ou reprodução 
da Europa, mas concretamente o que se 
deu foi o oposto. A contradição do tipo 
de colonização, periferia do capitalismo, 
é a determinação das ideias fora do lugar. 
A força do artigo de Schwarz (2003) – 
montagem de um esquema para entender 
Machado de Assis – está na análise para 
reconstituir a ideologia de nosso país 
colonial. Assim, Schwarz (2003) desnuda 
a abordagem sobre a nossa dependência 
e nossa inserção periférica no capitalismo 
mundial, ou seja, uma dualidade que 
muitos caracterizaram como teoria. Porém, 
a precisão da análise de Schwarz (2003) 
encontra-se ao avaliar o liberalismo em 
nosso país, evidenciando que os preceitos 
do republicanismo liberal não aconteceram 
em nossa história ou se apresentaram 
por meio do “favor”, centrado na 
obediência e no mando, presentes na 
ordem escravocrata que se manteve 
posteriormente. Essas considerações 
estão também em outros artigos do 
autor sobre nossa justaposição de valores 
culturais, franqueados pela cópia de 
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil43/137
valores estrangeiros inicialmente portugueses, de franco-ingleses no final do século XIX e no 
transcorrer de boa parte do século XX e mais recentemente, valores norte-americanos. Assim, 
para essa concepção, até o momento de quando foi escrita, poderíamos dizer que pouco era a 
essência do nacional entre nós e que nosso liberalismo político e nosso republicanismo eram 
tardios. Assim, tardiamente também seria nossa cultura republicana e os ideiais de cidadania.
Link
Cidadania. Veja mais no link: <http://
jus.com.br/artigos/14512/sobre-
o-conceito-de-cidadania-e-sua-
aplicacao-ao-caso-brasileiro> 
No entanto, considerando-se outra 
perspectiva, na qual o momento em 
que vivemos nosso postulado teórico, 
ideológico e mesmo da vida prática, 
vem constantemente questionando as 
variáveis denominadas pelos autores acima 
como elementares do nosso processo 
político-cultural, que são o patriarcalismo, 
patrimonialismo2, a democracia racial e 
nossa cordialidade, ou seja, no período pós-revolução de 1930, com um hiato de vinte anos 
representado pela ditadura militar, a sequência de nossa história é de avanço dos ideais 
republicanos e de uma cidadania ampliada, na qual a Administração pública e o atendimento 
2 As definições de patrimonialismo e patriarcalismo se encontram na primeira aula.
http://jus.com.br/artigos/14512/sobre-o-conceito-de-cidadania-e-sua-aplicacao-ao-caso-brasileiro
http://jus.com.br/artigos/14512/sobre-o-conceito-de-cidadania-e-sua-aplicacao-ao-caso-brasileiro
http://jus.com.br/artigos/14512/sobre-o-conceito-de-cidadania-e-sua-aplicacao-ao-caso-brasileiro
http://jus.com.br/artigos/14512/sobre-o-conceito-de-cidadania-e-sua-aplicacao-ao-caso-brasileiro
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil44/137
aos cidadãos tomaram um novo rumo.
3. A Revolução de 1930: planeja-
mento de estado e burocracia
O momento pós-1930 deve ser 
analisado, considerando-se uma nova 
adequação política e social não apenas 
no núcleo hegemônico dirigente, mas na 
própria concepção do que deveria ser o 
Brasil.
Dessa forma, é importante destacar que 
no transcorrer da História, mesmo que as 
elites não tenham mudado sobremaneira, 
devemos considerar alguns períodos de 
agudização, principalmente em 1930, dos 
conflitos entre os estratos mais abastados 
da população, leia-se a burguesia, que 
surgia da cafeicultura e da industrialização 
em São Paulo, conjuntamente com as 
novas classes agrárias do Sul do país, de 
Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
A abolição da escravidão e a República 
são elementos de uma mesma transição 
que forjam uma nova classe social 
hegemônica no país: a burguesia 
industrial. Há, portanto, a transição de 
uma elite senhorial para uma empresarial 
e, consequentemente, uma “sociedade 
senhorial para a empresarial” (COSTA, 
1982, p. 459). É dentro dessa disputa 
pela hegemonia, que surgem os outros 
grupos sociais para além da oligarquia da 
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil45/137
cafeicultura3.
A revolução de 1930 enquadra-se num 
período de muitas transformações 
históricas na realidade brasileira, 
desencadeadas principalmente pela 
alteração da economia financeira 
internacional, que com a crise de 1929 
modificou o panorama internacional. A 
crise do modelo econômico do capitalismo 
mundial reflete-se em boa parte nas 
medidas tomadas pelo governo de Getúlio 
Vargas, ou seja, suas ações estavam 
atreladas à crise sistêmica mundial e 
suas contradições. Getúlio Vargas, como 
parte deste processo, também vivencia 
essas incongruências e modifica suas 
perspectivaspolíticas, passando de um 
político pertencente ao grupo oligárquico 
do Rio Grande do Sul e aos quadros 
tradicionais de carreira gaúcha, para 
tornar-se um modernizador. Ao assumir 
a presidência, transforma-se em um 
personagem centralizador e ao mesmo 
tempo reformista do Brasil, guiado por 
medidas autoritárias e populares. 
Várias mudanças acompanham o novo 
regime. Na hegemonia do sistema político, 
por exemplo, verificamos a pulverização 
dos grupos e a centralização do estado 
a partir de Vargas. Essa centralização faz 
com que as oligarquias estaduais percam 
prestígio e assim, uma nova ordenação 
3 Nesse cenário, surgiu Getúlio Vargas, em razão de desavenças entre as 
elites oligárquicas na sucessão presidencial de 1930. Essa oposição ao nome 
de Júlio Prestes representava os interesses econômicos de outros grupos 
sociais que não estavam diretamente vinculados à cafeicultura, ao mesmo 
tempo em que se colocavam contrários ao processo eleitoral fraudulento e 
a ausência mínima de democracia. 
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil46/137
política acompanha o processo de 
mudança. 
A constituinte instalada em três de 
maio de 1933 enquadra o Brasil num 
capitalismo moderno e industrial, 
trazendo profundas modificações 
no campo da indústria, com 
nacionalizações e estatizações, e 
no trabalho, com direitos garantidos; 
jornada de trabalho, descanso 
semanal, férias, salários mínimos 
Para saber mais
Para saber mais sobre o período veja link: 
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/
index.php/face/article/viewFile/8231/5903>
regionais e outros. No período 
getulista, desenvolve-se no país a 
importância do planejamento a partir 
do estado. A criação de empresas 
públicas, que organizam a produção 
e o aparelhamento do estado é uma 
constante. Ao longo dos primeiro 
anos, tinham sido criadas 35 agências 
estatais; no período compreendido entre 
1940 e 1945, surgiram 21 agências, 
englobando empresas públicas, 
sociedades de economia mista e 
fundações (COSTA, 2008). Até o ano 
de 1930, havia no país 12 empresas 
públicas; já no período de 1930 a 1945, 
foram criadas 13 novas empresas, 
sendo dez delas do setor produtivo4. 
4 O aprofundamento dos modelos de desenvolvimento da administração 
pública, que foram iniciados no período getulista, será aprofundado nas 
aulas seguintes.
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/viewFile/8231/5903
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/face/article/viewFile/8231/5903
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil47/137
Ao longo dos anos 1950 e 1960, há 
uma ampliação do crescimento econômico 
do país, o que não necessariamente 
representou distribuição de riqueza, 
pois era um modelo de desenvolvimento 
excludente que transcorreu nos anos 
1950 a 1980, mas principalmente no 
período do regime militar, em razão do 
modelo de industrialização excludente e 
autoritário, franqueados na ideia de uma 
“modernização conservadora” (CHAUÍ, 
1986, p. 47-49).
 No entanto, para esclarecer essa 
perspectiva, é importante destacar os 
principais elementos que solidificaram 
a concentração de riqueza e da não 
distribuição do “bolo” no transcorrer da 
década de 1960 e 1970.
Para saber mais
Para saber mais sobre a teoria do bolo de Delfin 
Neto e distribuição da riqueza nacional, veja o 
artigo de Carlos Lessa no link: <http://www.
ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf>
3.1. Estado empresário, tecno-
cracia e classes urbanas
 As empresas multinacionais, desde 
a década de 1950 e, principalmente, em 
1960 e 1970, se converteram no centro 
dinâmico da economia e o Estado assumiu 
a forma de empresário privilegiado 
(SKIDMORE, 1998, p. 206), baseando 
seu modelo numa receita inflacionária 
http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf
http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil48/137
com efeito nocivo na sociedade, principalmente porque atingia a massa trabalhadora. Esse 
procedimento transferia de forma indireta a riqueza da massa assalariada para os empresários, 
deixando os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Não obstante essa 
transferência de forma indireta, os trabalhadores ainda foram prejudicados com a priorização 
do investimento em tecnologia que beneficiava o setor empresarial. Essa circunstância 
restringiu o aumento de novas vagas, alijando boa parcela da sociedade do setor industrial 
de ponta ou de transformação, como a indústria automobilística, jogando-os para os setores 
agrícolas, agropecuários, da indústria extrativa ou então para o setor de comércio e serviço, 
onde os salários eram mais baixos. Concomitantemente, o subemprego tornou-se inevitável, 
ocasionando a ampliação do “subproletariado marginal urbano” (SKIDMORE, 1998, p. 206-207).
Para saber mais
Nas décadas de 1960 e 1970, surge outro tipo de trabalhador: o migrante que desconhecia 
o mundo da fábrica. Esse setor social, em razão de terem se deslocado de regiões rurais e 
desconhecerem o mundo urbano iniciam suas tarefas na “cidade grande”, por meio de uma 
“rede de relações sociais”, possibilitando o ingresso em trabalhos domésticos e de serviços que 
garantam a vida na cidade; viviam próximos de amigos e familiares, garantindo o trabalho nas 
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil49/137
Para saber mais (Continuação)
tarefas que se encontram no dia a dia das comunidades dos bairros e no entorno da cidade: 
jardinagem, costura, venda de recicláveis, serviços hidráulicos, de energia e construção, venda 
de diversos produtos “porta-a-porta”, entre outros. Eles acabavam por aceitar determinadas 
atividades em razão da longa espera pela contratação na fábrica, que na maioria das vezes 
acabava não ocorrendo (SADER, 1995, p. 93). Assim, esses trabalhadores mantinham a 
reprodução do capitalismo excludente por meio da materialização de um campo regulatório 
em que os “sem classe” teriam a condição de trabalho vinculada à sua rede de relações sociais, 
mantendo a condição de não ingresso na sociedade classista industrial, forçados pela contínua 
vinda de migrantes até o final da década de 1980.
Em consequência da escolha dos 
investimentos, houve o desperdício de 
altas somas de determinados setores em 
detrimento de outros, ou seja, houve alta 
concentração de capital, como é o caso da 
construção civil, da construção de estradas 
e sua correspondente especulação 
mobiliária. Esse modelo excludente e 
autoritário só piorou a situação dos 
trabalhadores, mantendo, portanto, um 
modelo de desenvolvimento excludente, 
porém, pode-se observar o planejamento 
estatal como elemento central na 
aplicação dos recursos do Estado, baseado 
principalmente na tecnocracia.
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil50/137
Durante o período militar, a 
industrialização excludente permaneceu 
como modelo econômico, e a tecnocracia 
disciplinava os modelos estratégicos para 
sua implementação. Porém, o modelo 
ao privilegiar determinados setores na 
distribuição implica em concentração 
de riqueza e, assim, nem mesmo no 
transcorrer do milagre econômico 
(1970-1973), essa situação inverteu-se, 
tornou-se menos aguda. Esse período 
denominado de milagre foi o momento 
de ampliação do autoritarismo, do 
“endurecimento do regime” (FAUSTO, 
1995). No campo econômico, houve 
melhoras para a população, no entanto 
o modelo estava assentado em três 
pilares: o endividamento externo, com o 
objetivo de agregar tecnologia externa; a 
concentração de renda e a criação de um 
setor social que consumisse os produtos, 
como uma espécie de fordismo às avessas, 
ou ainda, um fordismo autoritário. Esse 
momento dura pouco, pois em 1973, 
com a crise do petróleo, a economia 
do país é atingida, desacelerando-a 
numa espiral inflacionária, colocando o 
regime em situação de crise e fazendo 
ressurgir os movimentos sociais, bem 
como novos personagens5 da luta pela 
democracia e pelo fim da ditadura no país. 
A ditadura militar buscoua superação 
da crise, do período posterior ao milagre 
5 O título da obra de Eder Sader é ilustrativo deste novo 
momento, pois o país verá passar novos movimentos sociais 
nas décadas de 1970-1980. “Quando novos personagens 
entraram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores 
da Grande São Paulo em 1970-80”. 
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil51/137
brasileiro, por meio de um programa de 
estabilização econômica que indicava os 
instrumentos “clássicos” para este fim: 
cortes nos gastos públicos, aumento da 
carga tributária, diminuição do crédito 
e arrocho salarial. O Brasil, que no início 
da década de 1960 ocupava o 50º lugar 
entre as economias capitalistas mundiais, 
em meados da década de 1970 ocupava 
o 8º lugar. A imponente classificação 
encobre as características e contradições 
de um desenvolvimento capitalista 
desigual em relação aos países centrais 
e dá a exata medida do seu significado 
dentro do país: acumulação acelerada do 
capital e concentração de renda baseadas 
no extraordinário crescimento das 
desigualdades sociais.
A década de 1980 caracteriza-se por 
ser um momento de contestação e de 
consolidação da governança civil na 
transição do regime militar que se encerrou 
em 1984, com a eleição indireta de um civil 
para a presidência da República. Ao mesmo 
tempo no campo econômico, sucessivos 
planos foram criados para combater 
a inflação, considerado nesta década 
como o principal vetor da fome, miséria 
Para saber mais
Para saber mais sobre a teoria do bolo de Delfin 
Neto e distribuição da riqueza nacional, veja o 
artigo de Carlos Lessa no link: <http://www.
ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf>
http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf
http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/lessa140207.pdf
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil52/137
e desigualdade que ocorria na sociedade 
brasileira, fenômeno que permaneceu na 
década de 1990 concomitantemente ao 
fenômeno da globalização. Na década de 
1990, vamos conhecer um novo marco no 
modelo de planejamento estratégico do 
estado, tanto na administração pública 
reconhecida como gerencial, mas também 
de um enfraquecimento do modelo do 
estado como regulador da economia.
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil53/137
Glossário
Democracia racial: uma sociedade sem contrastes entre grupos étnicos e racialmente diferentes. A ideia 
de democracia racial no Brasil foi considerada como um mito principalmente a partir da década de 80, ou 
seja, o país hoje é considerado como um país em que há racismo. 
Tecnocracia: A Tecnocracia pode ser considerada como uma forma de governo que toma como base a 
ciência no planejamento estratégico do estado.
Questão
reflexão
?
para
54/137
Leia um dos artigos apontados ao longo desta aula e 
realize uma reflexão que priorize a ideia de estratégia 
na administração pública.
55/137
Considerações Finais 
 » A cultura política do país desenvolveu-se baseado em relações 
patrimonialistas, e que, de certa forma, permanecem em muitos lugares 
do país. 
 » A Revolução de 1930 foi um marco histórico que possibilitou ao país um 
novo ordenamento do estado e da administração pública.
 » Com a Revolução de 1930, o país adota o modelo caracterizado como 
weberiano, que é o da Administração racional legal, estabelecendo as 
bases para um modelo estratégico do estado.
 » O período da ditadura militar amplia a concentração de renda e a 
desigualdade no país, e, amplia o modelo da administração racional 
legal para um técnico burocrático (tecnocracia).
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil56/137
Referências 
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. Radicalismos. 3. ed., rev. e ampliada. São Paulo: Duas 
Cidades, 1995.
CANDIDO, Antonio. Textos de intervenção; seleção apresentação e notas de Vinicius Dantas. 
“Euclides da Cunha, sociólogo”. ed. 34. São Paulo: Duas Cidades, 2002. 
CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Ed. Fundação Perseu 
Abramo, 2000.
CUNHA, Euclides. Os sertões: campanha de Canudos. 39. ed. Rio de Janeiro: Publifolha, 2000.
COLOMBO, Cristóvão. Diários da descoberta da América: as quatro viagens e o testamento. 
Tradução de Miltom Person, 5. ed. Porto Alegre: L&PM, 1991. 
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. v. I e II, 10. ed. 
São Paulo: Globo; Publifolha, 2000.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de 
economia patriarcal. 3. ed. Rio de Janeiro: Schmidt-Editor, 1938.
______. Gilberto. Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de 
economia patriarcal. Prefácio de Darcy Ribeiro. 32. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998.
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil57/137
FERNANDES, José Antonio da Costa Fernandes. Imigrantes portugueses e migrantes negros: um 
olhar sobre novos bairros em São Paulo. 2000. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Pós-
graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. 
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 14. ed., 1981.
MARX, Karl. A ideologia Alemã. São Paulo: Ed. Global, 1986. 
RIBEIRO, Darcy. O Processo Civilizatório - etapas da evolução sócio cultural. Rio de Janeiro: Ed. 
Civilização brasileira, 1968.
RIBEIRO, Darcy. “Gilberto Freyre: uma introdução a Casa Grande e Senzala.” Freyre, Gilberto. 
Casa Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. 
Prefácio de Darcy Ribeiro. São Paulo: 32a.ed., Brasiliense, 1998.
STARLING, Heloisa Maria Murgel. “Travessia: A narrativa da República em grande Sertão: 
Veredas.” Pensar a República. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.
SCWHARZ, Roberto. Que horas são? Ensaios. São Paulo: Cia das Letras, 1987. 
______. Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance 
brasileiro. São Paulo: Ed. Duas Cidades, 1977. 
Referências
Unidade 2 • Cultura, política e estado no Brasil58/137
OLIVEIRA , Francisco. Critica à razão dualista: o ornitorrinco. São Paulo: Boitempo editorial, 2003.
PINHEIRO, Paulo Sérgio Pinheiro. Transição política e não estado de direito na Republica. Brasil: um 
século de transformações. (Org.) Ignacy Sachs, Jorge Willheim e Paulo Sérgio Pinheiro. São Paulo: 
Cia das Letras, 2001.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1999.
Referências
59/137
Aula 2 - Tema: Cultura e Cultura 
Organizacional - Bloco I
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
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Aula 2 - Tema: Cultura e Cultura Política - 
Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
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60/137
Aula 2 - Tema: Da Sociedade Senhoral para a 
Empresarial - Bloco III
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111c8df75b3709778c192c321e6d4b6b>.
Aula 2 - Tema: Consolidação da Sociedade 
Empresarial - Bloco IV
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61/137
1. A confusão entre o público e o privado que ocorre no Brasil está descrita 
em obras de autores consagrados como Sérgio Buarque de Holanda e Rai-
mundo Faoro. Essa situação está baseada em outra conceituação mais am-
pla e baseada no pensamento de Max Weber que é o:
Questão 1
a) Patrimonialismo.
c) Oligarquismo
c) Teocentrismo
d) Fisiocracia
e) Democratismo
62/137
2. Segundo vários autores que estudaram nossa histórica e que fazem uma 
reflexão crítica sobre nosso republicanismo afirmando que pouco foi à es-
sência do nacional entre nós e de que nosso liberalismo político e nosso 
republicanismo eram tardios. Assim, tardiamente também seria(m) nossa(s):
Questão 2
a) cultura republicana e os ideiais de cidadania.
b) cultura política e os ideais socialistas.
c) ideias republicanas e os ideais socialistas.
d) república de fato e de direitos e os ideais sociais fascistas.
e) nossa democracia parlamentar e dos conselhos populares.
63/137
3. No período getulista, desenvolve-se no país a importância do planeja-
mento a partir do estado. A partir dessa afirmação, podemos dizer que no 
período getulista houve:
Questão 3
a) pequenas alterações, porém foram criados ministérios para desenvolver o planejamento.
b) criação de empresas públicas, para organizar a produção e o aparelhamento do estado.
c) criação de empresas socialistas, para organizar a produção e o aparelhamento do estado.
d) criação de empresas sociais, que organizavam os trabalhadores a produção por meio do 
 aparelhamento do estado.
e) criação de empresas privadas, para organizar a produção e o aparelhamento do estado.
64/137
4. No período do regime militar, pode-se verificar um desenvolvimento 
econômico excludente, porém pode-se observar também o planejamento 
estatal como elemento central na aplicação dos recursos do Estado, ba-
seado principalmente:
Questão 4
a) na tecnocracia.
b) na democracia.
c) na plutocracia.
d) no gerenciamento público. 
e) nas tecnologias.
65/137
5. A concentração de renda e um capitalismo excludente, principalmente 
no período militar, devem ser considerados como um dos elementos que 
atrasou o processo de desenvolvimento:
Questão 5
a) de um tipo ideal de sistema conforme o pensamento weberiano, e assim, também de um 
 modelo de administração pública.
b) de um tipo ideal de capitalismo conforme o pensamento marxista, e assim, também de um 
 modelo de administração pública legal.
c) de um modelo de estado de bem-estar social baseado no pensamento de Marx.
d) o processo de desenvolvimento de um tipo ideal de capitalismo conforme o pensamento 
 weberiano, e assim, também de um modelo de administração pública racional legal.
e) sociedade socialista.
66/137
Gabarito
1. Resposta: A
2. Resposta: A
3. Resposta: B
4. Resposta: A
5. Resposta: D
67/137
Unidade 3
Planejamento estratégico, estado e globalização.
Objetivos
O objetivo desta aula é avaliar o planejamento 
estratégico e o papel do estado na sua 
implementação. Nesse sentido, serão 
abordadas análises que avaliam o 
neoliberalismo, a globalização e os modelos de 
gerenciamento público. 
Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.68/137
1. Introdução
A ideia de países e estados foram formulados a partir do pensamento liberal europeu ao 
longo do período moderno. O Estado, no século XX, principalmente em razão das formulações 
keynesianas, tornou-se o garantidor dos bens públicos, vistos como modos da interpretação 
legítima da vontade geral e garantia do bem-estar coletivo. Segundo Santos (2002), os 
bens públicos que o Estado moderno se propôs garantir e fornecer são: a legitimidade da 
governança, o bem-estar econômico e social, a segurança e a identidade nacional. Pensar 
o planejamento estratégico na gestão pública significa reconhecer a disputa por recursos 
públicos e, portanto, pela gestão pública orientada para a sociedade e suas representações. 
2. O estado moderno e o estado de bem-estar social
Pensar o planejamento estratégico de uma organização social, principalmente da 
administração pública envolve estabelecer uma dinâmica que reconheça as disputas por 
políticas públicas. Assim, as vontades coletivas estabelecidas na ideia do contrato social, 
e reconhecidas no estado, delimitador das vontades gerais, não está isento de relações 
contraditórias até porque a ‘vontade comum’ não é percebida de igual forma por todos os 
Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.69/137
indivíduos, nem por todos os segmentos 
sociais, classes ou grupos, de um 
mesmo espaço-tempo nacional, por 
muito ‘homogeneizado’ que tenha 
sido pela ideologia constitutiva do 
contrato. A autonomia do cidadão, que 
se corporifica, sobretudo nos direitos 
individuais civis e políticos, e os bens 
comuns que se traduzem pelos direitos 
sociais e econômicos, digladiam-se 
dentro do estado moderno desde a sua 
origem. A tensão entre a justiça social e 
irredutibilidade do indivíduo ao grupo, 
trouxe para dentro deste contrato lutas e 
resistências que produziram instituições 
e corpos normativos que determinam 
os modos e as condições de inclusão e 
exclusão. 
Esses processos de regulação estatal são 
mais ou menos poderosos, submetem-
se ou articulam-se com os outros dois 
princípios do contrato social moderno: a 
comunidade e o mercado. A socialização 
da economia, a nacionalização da 
identidade e a politização do Estado 
são as formas institucionais que essas 
tensões foram produzindo. O Estado-
Providência nos países centrais e o Estado-
Desenvolvimentista na periferia e na 
semi periferia são talvez as concretudes 
mais explícitas dessa institucionalidade e 
normatividade nascida no seio do conflito 
dos diferentes interesses e tensões, dentro 
do estado-nação moderno que repercutem 
nos modelos estratégicos definidos pelos 
estados e pelas organizações (SANTOS, 
Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.70/137
2002, p. 11-12).
Na atualidade, as questões que envolvem 
a globalização e o modelo neoliberal de 
concepção de estado e das relações sociais 
e políticas definiu um novo sistema mundo 
ainda em curso. Para uma maior clareza 
dessa situação e do papel do estado e 
da administração pública neste novo 
momento, se faz necessário recuperar 
o processo histórico e os conceitos que 
deram origem a ideia de uma Nova Gestão 
Pública, a reforma gerencial implantada no 
país, na década de 1990, e as delimitações 
definidas por meio das novas estratégias 
na administração pública, bem como do 
retorno ao planejamento estratégico, após 
a crise econômica de 2008, definidos a 
partir das diretrizes definidas pelo estado 
central, ou seja, no Brasil pelo Governo 
Federal.
2.1. Globalização, crise de esta-
do e políticas públicas
O conceito de Globalização aqui utilizado 
recupera a conceituação de José Luís 
Fiori e Boaventura de Souza Santos. Fiori 
(1997) enfatiza a hegemonia enquanto 
mecanismo de supremacia político-
financeira, destacando os EUA como 
maior incentivador e beneficiário dessa 
política (TAVARES; FIORI, 1997, p. 144). 
Já as formulações de Boaventura de 
Souza Santos aprofundam o processo 
de Globalização para além das relações 
político-financeiras, recuperando 
Unidade 3 • Planejamentoestratégico, estado e globalização.71/137
as especificidades e particularidades do processo, caracterizando a Globalização em 
sua pluralidade, ou seja, globalizações. O processo de consolidação de um novo modelo 
hegemônico no mundo contemporâneo tem início na década de 1970, logo após a crise do 
petróleo de 1973. Essa crise potencializou um discurso em que o Estado não podia mais ser 
o grande investidor do desenvolvimento capitalista, pois se encontrava com grandes déficits 
públicos, balança comercial negativa e inflação. Esse grupo defendia a retirada da economia 
do Estado, cujo processo é descrito também como crise de regulação fordista, modelo da 
economia capitalista baseado na sociedade de bem estar e na produção de bens de consumo 
em larga escala, que entrou em declínio. No transcorrer deste processo, desenvolveu-se outro 
modelo de regulação denominado Globalização, tornando-se dominante devido a um consenso 
dentre os principais membros. Este foi denominado de Consenso de Washington ou Consenso 
Neoliberal, no final da década de 1980 (SANTOS, 2002, p. 27), em que previa a retirada da 
economia do Estado, a monetarização e a financeirização da economia, a privatização do 
Estado, entre outros ajustes. 
Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.72/137
Link
Veja mais. Para uma maior compreensão do 
fenômeno da globalização veja o link: <http://
www.ces.uc.pt/bss/pt/artigos.htm>
Se a Globalização, portanto não é uniforme, 
deve-se considerar o desenvolvimento 
deste processo e devemos ter em conta a 
complexidade deste fenômeno. Assim, é 
necessário compreender a Globalização 
dentro da modificação de um padrão 
sistêmico do capital e do trabalho em 
nível mundial. Ora, essa compreensão 
leva-nos a verificar que a modificação 
de padrão do sistema mundial já se 
apresentava na década de 1970, com a 
crise do fordismo, o avanço do toyotismo 
e de novos padrões nas relações de 
trabalho, tomando uma amplitude maior 
a partir da década de 19801, quando 
as empresas transnacionalizam-se. 
Esse processo se desenvolveu com a 
economia sendo orquestrada pelo capital 
financeiro num âmbito global, agregado 
à flexibilidade da produção em escala 
internacional, à diminuição dos custos 
de transporte, ao desenvolvimento 
tecnológico, à flexibilização das regras 
econômicas nacionais, à emergência de 
órgãos financeiros multilaterais globais e à 
proeminência do capitalismo transacional. 
1 Santos (2002, p. 29) ao analisar este processo, cita que as 
empresas multinacionais gradualmente dimensionam-se a 
fim de serem os atores centrais deste processo.
http://www.ces.uc.pt/bss/pt/artigos.htm
http://www.ces.uc.pt/bss/pt/artigos.htm
Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.73/137
Esse processo foi baseado regionalmente 
nos Estados Unidos e em suas relações 
econômicas no eixo da América, no Japão 
com a Ásia, a União Europeia e em suas 
relações com o leste europeu e norte da 
África (SANTOS, 2002, p. 29).
Para saber mais
Vários autores consideram que estamos 
vivendo outro momento denominado de era do 
conhecimento. Acesse o link e veja o vídeo sobre 
Sociedade do Conhecimento com a abordagem 
de Peter Drucker: <https://www.youtube.
com/watch?v=fgQSx2Nmwis>. Acesso em: 
26 fev. 2014.
Esse processo enquadra-se numa lógica 
em que a exigência do capital financeiro 
internacional, por meio das agências 
financeiras multilaterais mundiais, como 
o FMI (Fundo Monetário Internacional) e 
Banco Mundial, organizaram o ajuste ou 
“(des) ajuste estrutural”, como prefere José 
Luís Fiori2. 
Ora, este processo envolve uma 
considerável e suspeita amarração de 
poder mundial, em paralelo com os 
Estados nacionais que, para desenvolvê-
la, era necessário um considerável apoio 
logístico que foi trilhado considerando-se 
2 O conceito de Fiori (apud Santos, 2002, p. 12).é título do 
livro em que o autor analisa as modificações propostas pelo 
Consenso de Washington, aplicadas no Brasil na década de 
1990, no governo Collor, que implicou na privatização do 
Estado e da sociedade no Brasil. 
https://www.youtube.com/watch?v=fgQSx2Nmwis
https://www.youtube.com/watch?v=fgQSx2Nmwis
Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.74/137
o planejamento iniciado de forma mais sistematizada na década de 1980, com o Consenso de 
Washington.
 A própria expressão já nos remete à compreensão do significado político em causa, ou seja, o 
consenso faz parte do processo estruturante em que se desenvolveu o capitalismo nas últimas 
décadas, alicerçado numa plataforma de ação envolvendo a ciência, o Estado e os grandes 
grupos transnacionais. 
Em sua análise da realidade, esse consenso considerou os componentes ideológicos da 
primazia do indivíduo e do mercado sobre o Estado. A veia analítica dos seus intelectuais 
estabeleceu um conjunto de iniciativas e prescrições que foram desenvolvidas por diversos 
países, causando um desajuste na economia dos Estados em todo o mundo, principalmente nos 
países periféricos e de terceiro mundo. O consenso balizava-se em uma orientação flanqueada 
na perspectiva de um Estado mínimo, conhecido também por Consenso Neoliberal. 
Essa consideração implica compreender que para além do sistema financeiro internacional, 
há uma que envolve a política. Assim, verificamos que as proposições desenvolvidas pelo 
Consenso de Washington desencadearam um processo liberal que efetivou um novo padrão 
sistêmico do capital internacionalmente, envolvendo diversos Estados, ou seja, sociedades 
“interestatais”. Esse novo padrão sistêmico implicou numa considerável modificação do Estado, 
Unidade 3 • Planejamento estratégico, estado e globalização.75/137
da sociedade e também da cultura política. 
Ora, as modificações que decorreram no 
final da década de 1980 e no transcorrer 
da década de 1990, não aconteceram 
sem resistências e conflitos dentro do 
campo hegemônico, ou seja, o Consenso 
de Washington fragilizou-se, como aponta 
Santos (2002, p. 27).
O Estado, mesmo que participe de várias 
ações globais, não tem hoje o pleno 
domínio de sua configuração e de suas 
ações. Assim, não podemos esquecer o 
peso que as corporações transnacionais 
têm na geopolítica, na geoeconomia. 
As corporações dos diversos cantos 
do globo planejam, diagnosticam e 
definem suas ações em escala mundial. 
Essa caracterização nos permite avaliar 
que a disputa mundial do capital não 
é conscienciosa, já que o processo de 
transnacionalização não se faz sem 
rupturas e questionamentos na órbita 
mesmo dos seus agentes. Nesse sentido, a 
ação do capital não pede autorização dos 
Estados nacionais.
Considerar essa premissa significa 
compreender que há uma onda acelerada 
de transnacionalização da economia e de 
suas outras interfaces, tomando âmbito na 
esfera da política, da cultura e das relações 
sociais de tal modo que podemos afirmar 
que nos encontramos em um novo palco. 
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2.2. Globalização e neolibera-
lismo no Brasil
A globalização e seu enquadramento no 
cenário neoliberal brasileiro se deu logo 
após a subscrição dos “Estados centrais 
do sistema mundial” ao modelo sugerido 
pelo consenso de Washington, no final 
da década de 1980 (SANTOS, 2002, p. 
27). Assim, conjuntamente com outros 
países, o Brasil também se tornou vítima 
do modelo econômico sugerido por esse 
consenso. No Brasil, desde os anos 1970, 
o modelo de Estado Social não se efetivou, 
mesmo com o crescimento da economia. 
O Brasil passou da 50ª economia 
capitalista, no início da década de 1960, 
para a 8ª posição na década de 1970, e 
nem mesmo os avanços da Constituição 
de 1988 permitiram um Estado em que 
a universalização de bens básicos se 
efetivasse (JACOBI, 2000, p. 19). 
3. Estado de bem-estar social, 
Planejamento estratégico e a 
Nova Gestão Pública.
Nos países centrais o formato do contrato 
social proporcionado pelo Estado de 
bem-estar social, considerado como um 
plano estratégico na

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