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RECURSOS FISIOTEUTICOS NA UTI EDUCAÇÃO ESPECIAL E OS DIFERENTES TIPOS DE NECESSIDADES ESPECIAIS Faculdade de Minas 2 Sumário FACULESTE ............................................................................................................. 3 1. EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO ............................................................ 4 1.1 Monitoramento da Educação Especial ...................................................6 1.2 Censo Demográfico e deficiência ...........................................................9 1.3 Educação Especial e Acesso Escolar ...................................................12 1.4 Indicadores Complementares da educação especial ...........................13 2. NECESSIDADES ESPECIAIS ....................................................................... 14 2.1 Alunos em risco educacional .............................................................15 2.2 Alunos Supertodatos ..........................................................................15 2.3 NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS (NEE) ........................17 3. A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MUNDO E NO BRASIL ........................ 17 4. A TECNOLOGIA ASSISTIVA ......................................................................... 18 4.1 Utilizando a Tecnologia Assistiva em Ambiente Computacional ........20 5. CURRÍCULO ESCOLAR ................................................................................ 26 5.1 Adequações Curriculares .................................................................................. 27 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 30 Faculdade de Minas 3 FACULESTE A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A FACULESTE tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 1. EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO Na maioria dos países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento, diferentes paradigmas definiram a educação das pessoas com deficiência: a segregação, a integração e a inclusão. A segregação, cuja ênfase é a diferença, caracteriza-se pela separação de crianças com deficiências para o ensino em instituições especializadas, escolas e classes especiais, substitutivas ao ensino comum. Já a integração reflete algum grau de aceitação desses alunos, uma vez que lhes é permitido frequentar escolas regulares, desde que possam se ajustar ao sistema educacional padrão. A inclusão fundamenta-se no reconhecimento do direito à educação, sendo as escolas responsáveis pelo ensino de cada aluno e por realizar os ajustes necessários ao seu aprendizado (Unesco, 2009). O termo educação inclusiva define o processo educacional que visa a desenvolver, em cada cidadão, consciência solidária e atitudes concretas que o tornem um agente social compromissado com a qualidade de vida de quem está ao seu lado (Brasil. Inep, 2016). Isso significa acolher todas as pessoas no sistema de ensino, independentemente de cor, classe social e condições físicas e psicológicas. Conforme Mantoan (1997), esse é Faculdade de Minas 5 o termo que se encontrou para definir uma sociedade que considera todos os seus membros como cidadãos legítimos, uma vez que a diferença é inerente ao ser humano. A segregação definiu historicamente a condução da educação especial no Brasil. O próprio termo inclusão traz implícita a ideia de exclusão, uma vez que só é possível reintegrar alguém que foi previamente desintegrado do contexto social (Mantoan, 1997). No âmbito da educação especial, a proposta inclusiva se revelou inicialmente na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1961, que indicava a matrícula de pessoas com deficiência preferencialmente na rede regular de ensino. Conforme apontado por Lourenço Filho (1929 apud Kassar, 2011), podem ser considerados impulsionadores dessa ação: a adesão do País a acordos internacionais pós-1948; os movimentos internos de luta pela educação das pessoas com deficiências; e a disseminação dos preceitos da Escola Nova, um conjunto de princípios voltados para a revisão das formas tradicionais de ensino. Anteriores ao atual PNE, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 garantem a educação especial inclusiva, assegurando o AEE às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. A premissa de que a escola deve se reconstruir para atender a toda a comunidade, não cabendo mais ao aluno se adaptar a ela tal como foi construída, deu origem às Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Brasil, 2001). Buscando nortear a inclusão do público-alvo dessa modalidade, o documento definiu que “os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos” (Brasil, 2001). Portanto, na perspectiva da inclusão escolar, o foco não é a deficiência, e sim os espaços, os ambientes e os recursos que devem ser acessíveis e adequados à especificidade de cada aluno, devendo a escola estar em constante transformação e enriquecimento pela diversidade. Dando sequência ao movimento inclusivo, a Resolução nº 4/2009 instituiu diretrizes operacionais para o AEE. Definiu-se que as atividades fossem realizadas prioritariamente em salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos (Brasil, 2009). Nesses espaços, devem ser assegurados aos alunos mobiliários, materiais didáticos, recursos pedagógicos de acessibilidade e equipamentos específicos. O AEE não é substitutivo às classes comuns e deve ocorrer no turno inverso ao da escolarização, Faculdade de Minas 6 sendo o financiamento da matrícula no AEE condicionado à matrícula no ensino regular da rede pública, conforme registro no Censo Escolar do ano anterior (Brasil, 2009). Requisita-se que o professor do AEE possua formação específica para a educação especial, além de formação inicial que o habilite para o exercício da docência (Brasil, 2009). Assim, de forma sinérgica, a inclusão em classes comuns do ensino regular possibilita a vivência de situações diferenciadas por crianças com e sem deficiência, favorecendo a construção mútua de conhecimentos, enquanto o AEE complementar busca eliminar as dificuldades encontradas pelo públicoalvo da educação especial e/ou ampliar sua escolarização. Segundo o IBGE, em 2010 cerca de 45,6 milhões de pessoas se declararam portadoras de alguma deficiência, o que correspondia a 23,9% da população brasileira. A deficiência visual era a de maior incidência, atingindo35,8 milhões de pessoas, seguida pelas deficiências motora (13,3 milhões), auditiva (9,7 milhões) e intelectual (2,6 milhões). Vários são os desafios para o monitoramento educacional dessa população, conforme será visto a seguir. 1.1 Monitoramento da Educação Especial Na sua origem, a palavra monitor(do latimmonitum) significa “aquele que dá conselho, que faz pensar, que adverte, que lembra”. No campo aplicado das políticas públicas, o monitoramento consiste no acompanhamento contínuo do desenvolvimento de programas em relação a seus objetivos e suas metas, bem como subsidia a gestão de programas com informações tempestivas, simples e em quantidade adequada para a tomada de decisões. Para isso, precisa-se de indicadores produzidos com base em diferentes fontes de dados, com suficiente periodicidade, para que os gestores reajam dentro de um ciclo de execução de determinado programa (Vaitsman; Rodrigues; Paes- Sousa, 2006; Jannuzzi, 2005). Esses indicadores apontam em termos operacionais as dimensões sociais de interesse definidas por escolhas teóricas ou políticas realizadas anteriormente (Jannuzzi, 2005). Dessa forma, diversos indicadores são calculados a cada biênio pelo Inep (Brasil. Inep, 2015; 2016), buscando mensurar a efetividade prática do PNE e possibilitando aos gestores a adoção de medidas corretivas para aprimorar sua operacionalização. Embora no Brasil sejam realizados levantamentos estatísticos acerca Faculdade de Minas 7 da educação especial desde 1974 (Meletti; Bueno, 2010), a carência de dados oficiais que ofereçam informações completas ainda dificulta o diagnóstico educacional do público-alvo dessa modalidade de ensino. Atualmente, os maiores bancos de dados nacionais que possuem informações a respeito de pessoas com deficiência são o Censo Demográfico, realizado a cada 10 anos pelo IBGE, e o Censo da Educação Básica, executado anualmente pelo Inep. Entretanto, há divergências entre os dados oficiais existentes (Dias; Silva, 2014), e a legislação que regulamenta a educação especial no País utiliza definições distintas para o conceito de deficiência. Assim, enquanto o Censo Demográfico identifica pessoas com diferentes graus de dificuldade permanente para enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus ou com alguma deficiência mental/intelectual permanente que limite as suas atividades habituais, a LDB, o PNE e o Censo da Educação Básica se referem a pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (Brasil. Inep, 2015). Portanto, a harmonização conceitual dentro da legislação educacional e a articulação entre esta e os institutos de pesquisa nacionais de natureza estatística são fundamentais para sustentar a coerência entre os dados obtidos e as conclusões acerca das metas educacionais. É válido ressaltar que, desde a Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, aprovada em 2004 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em conjunto com a Organização PanAmericana da Saúde (Opas), o termo “deficiência mental” foi substituído por “deficiência intelectual” (OMS, 2004). A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco (2009) expõe a relevância da utilização de definições adequadas para o público-alvo da educação especial e elenca recomendações metodológicas para sua elaboração, salientando a importância da colaboração interministerial nesse processo. Apesar de não ser o foco deste trabalho, não se pode ignorar que a educação especial, garantida por lei, se aplica também a estudantes com altas habilidades ou superdotação (Brasil, 1996; Brasil, 2014). Entretanto, se a dificuldade para a obtenção de dados e o cumprimento de metas para pessoas com deficiência é grande, o desafio é ainda maior quando se trata de superdotados. Como consequência, a falta de informações a respeito desses alunos acaba por favorecer sua segregação social. O documento Diretrizes Nacionais para a Educação Especial (Brasil, 2001) salienta que os superdotados são muitas vezes considerados trabalhosos e indisciplinados, deixando de receber o enriquecimento e o aprofundamento curricular de que necessitam. Outro equívoco comum Faculdade de Minas 8 é a concepção de que tais indivíduos, ao possuírem altas habilidades, são autossuficientes, quando na realidade os professores têm papel fundamental no seu desenvolvimento e aprendizado. Essa falta de estimulação pode acarretar perda dessas habilidades, desinteresse pela escola e evasão escolar (Carvalho, 2012). Assim, é fundamental que as políticas públicas ofereçam sistemas educacionais inclusivos para essa população em todas as etapas, viabilizando o acesso pleno à educação básica, além de meios para seu monitoramento educacional. Neste estudo, utilizou-se o Censo Demográfico, cuja abrangência atinge alunos que estão dentro e fora da escola, apesar da limitação imposta pela coleta decenal. Sabe-se que nessa base de dados ocorre um superdimensionamento das deficiências, causado pela inclusão de pessoas com alguma dificuldade nas categorias enxergar, ouvir e caminhar ou subir degraus, o que pode abranger indivíduos distantes das “condições tradicionais” de deficiência (Garcia, 2014). Além disso, acaba por incluir idosos no universo dos deficientes, já que tais dificuldades tendem a acompanhar o processo de envelhecimento (Neri et al., 2003 apud Garcia, 2014). Somam-se a isso os limites da metodologia utilizada, uma vez que, com exceção da deficiência intelectual, as informações baseiam-se em autoavaliações (IBGE, 2010), afetando sua precisão (Meletti; Bueno, 2010). Consideradas as limitações dos dados disponíveis no Censo Demográfico, a análise pode fornecer algumas informações para nortear as políticas públicas de educação inclusiva. O recorte de faixas etárias específicas nas análises é uma opção para minimizar o superdimensionamento por idosos. Além disso, sugere-se que essas análises priorizem aqueles que declararam total ou grande incapacidade para andar, ouvir ou enxergar, além dos que afirmaram possuir deficiência intelectual (Garcia, 2014). No panorama da inclusão e da educação especial, os indicadores possuem funções que transcendem o significado de taxas e índices, como os de escolarização e os de proficiência. Juntos, esses números revelam a extensão em que pessoas com e sem deficiência vivenciam oportunidades iguais dentro da sociedade. Nesse sentido, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 1993), o cálculo de indicadores que mensuram o aprendizado e a capacidade de aplicação de conhecimentos, fazendo-se a comparação entre pessoas com e sem deficiências, reflete o grau em que os dois grupos possuem oportunidades semelhantes. Ainda que nossas bases de dados sejam limitadas em diversos aspectos, é possível realizar tal comparação. Faculdade de Minas 9 1.2 Censo Demográfico e deficiência Lei Federal nº 7.853 (Brasil, 1989) criou a obrigatoriedade de incluir no Censo Demográfico questões específicas sobre pessoas portadoras de deficiência, com o objetivo de quantificar esse grupo e conhecer sua realidade social e econômica. Para tal, o Censo Demográfico de 2010 utilizou o questionário de amostra (IBGE, 2010 apud Dias; Silva, 2014). Assim, dois questionários foram usados como instrumento de coleta: um que tratava das características básicas do domicílio e dos moradores, aplicado em todas as unidades domiciliares, exceto naquelas selecionadas para amostra; e outro aplicado apenas nas unidades domiciliares selecionadas para a amostra, coletando também características detalhadas dos domicílios e dos moradores, incluindo aspectos econômicos, sociais e demográficos. Seguindo o mesmo padrão de mensuração de deficiências observado no Censo de 2000, conforme descrito por França e Neto (2012), o Censo de 2010 se concentrou nas capacidadesfuncionais dos entrevistados. A Figura 1 revela as variáveis utilizadas pelo IBGE em 2010. Faculdade de Minas 10 Faculdade de Minas 11 O Censo de 2010 classificou as informações levando em consideração os espectros de habilidades funcionais. Essa metodologia se baseia na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), elaborada pela OMS em 2001. A CIF se apoia na integração de dois modelos conceituais: o modelo médico, que compreende a deficiência como condição de saúde caracterizada pela ocorrência de lesão no corpo; e o modelo social, segundo o qual a deficiência ocorre quando o indivíduo é impedido de exercer sua liberdade e de participar da vida social em decorrência da lesão/doença (OMS, 2004; França e Neto, 2012). Conforme a OMS, a CIF busca a consonância dos dois modelos, de modo a oferecer uma visão coerente das diferentes perspectivas de saúde: biológica, individual e social. Notadamente, cada deficiência tem características e necessidades que lhe são próprias e os indivíduos com o mesmo tipo de deficiência possuem singularidades. Tal diversidade ressalta a importância da pedagogia centralizada no aluno no AEE, contemplando suas necessidades específicas. As Faculdade de Minas 12 abordagens incluem desde estratégias para o desenvolvimento de processos mentais, autonomia e mobilidade até atividades para o enriquecimento curricular, o aprofundamento e a expansão nas diversas áreas do conhecimento (Brasil, 2010a, 2010b, 2010c). Nesse contexto, as análises realizadas no presente trabalho levam em conta o tipo de deficiência, de modo a compreender suas especificidades e favorecer o processo de adaptação das escolas aos alunos. 1.3 Educação Especial e Acesso Escolar Seis décadas após o prelúdio de uma visão de educação inclusiva (Brasil, 1961), indaga-se até que ponto a inclusão vem sendo operacionalizada no Brasil. Uma das formas de monitorá-la no contexto escolar se dá em termos de número de matrículas. Segundo a linha de base e o primeiro relatório de monitoramento das metas do PNE, em 2010 o percentual de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos de idade com deficiência que frequentavam a escola estava no patamar de 80,0%, e 77,0% dos jovens nessa faixa etária com deficiência, TGD e altas habilidades ou superdotação estudavam em classes comuns da educação básica – valor que passou para 88,4% em 2015 (Brasil. Inep, 2015; 2016). De forma complementar a esses dados, os resultados apresentados nesta seção revelam as condições de acesso escolar da população com deficiência (pessoas que não conseguem de modo algum ou têm grande dificuldade para enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus ou possuem alguma deficiência intelectual permanente que limita suas atividades habituais). Como não há informações sobre essa população na Pnad anual, o Censo Demográfico se torna imprescindível como fonte de dados. Para facilitar a compreensão do leitor, optou-se por ordenar os indicadores por faixa etária, partindo do início da vida escolar até os 17 anos de idade. O acesso das crianças de 0 a 5 anos de idade à educação infantil (EI), preconizado pela Meta 1 do PNE, refere-se à universalização da pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos e à ampliação do acesso à EI em creches para as crianças de até 3 anos de idade. A análise de tais parâmetros aponta que, no Brasil, 2.575.954 (25,2%) crianças entre 0 e 3 anos de idade com algum tipo de deficiência frequentavam a escola ou creche, enquanto 2.505.942 (23,5%) crianças sem deficiência tinham acesso escolar. A desagregação dos dados por Faculdade de Minas 13 categorias de deficiência revela que o percentual de crianças entre 0 e 3 anos de idade com dificuldades ou incapazes de ouvir ou enxergar nas escolas era superior ao percentual referente às crianças sem deficiência (Figuras 2A e 2B). Nesse contexto, é possível que o número superior de crianças com deficiências na escola seja uma consequência da detecção precoce do comprometimento físico, seguindo a lógica de que a dificuldade na execução de algumas atividades seria detectada com maior facilidade no ambiente escolar. Em contrapartida, a existência de determinada deficiência poderia ser desconhecida pelos familiares da criança que não frequenta a escola. Esse fator poderia estar ainda associado à baixa renda, que é um dos determinantes para o acesso à escola (Brasil. Inep, 2015), o que também atrasaria a detecção de tais deficiências. 1.4 Indicadores Complementares da educação especial Nesta seção são apresentadas as taxas de escolarização, alfabetização, analfabetismo e conclusão do ensino fundamental, considerando as pessoas com deficiência. É válido lembrar que a análise dos dados deve ponderar as fragilidades do Censo Demográfico, tratadas anteriormente neste texto. Ainda, conforme Lenzi (2012), os dados sobre pessoas com deficiência no Brasil são oriundos de organizações e/ou recortes distintos, o que dificulta análises comparativas. Com os objetivos de superar o analfabetismo e reduzir a taxa de analfabetismo funcional, a Meta 9 do PNE se foca na elevação da taxa de alfabetização da população a partir dos 15 anos de idade. Em 2010, a taxa de alfabetização para pessoas com 15 anos ou mais de idade que possuíam algum tipo de deficiência era de 81,7%, enquanto para as pessoas sem deficiência na mesma faixa etária esse valor era de 94,2%. Além da universalização do acesso ao ensino fundamental, a Meta 2 do PNE tem como objetivo a conclusão dessa etapa na idade recomendada. Assim, um dos indicadores de monitoramento da meta se refere ao percentual da população de 16 anos com pelo menos o ensino fundamental concluído. No cenário da educação especial, a presença de uma equipe multidisciplinar é fundamental para garantir maior eficiência das ações (Brasil, 2008). Como a educação especial se encontra na interface entre a educação e a saúde, faz-se necessária a Faculdade de Minas 14 articulação entre profissionais dessas áreas (Brasil, 2001). A identificação precoce das deficiências é de extrema importância e, a exemplo disso, a privação sensorial da audição nos primeiros anos de vida provoca atraso na aquisição da linguagem, o que interfere no desenvolvimento linguístico, educacional e psicossocial da criança (Araujo et al., 2002). No sistema americano, a triagem auditiva é obrigatória na rede escolar desde 1927 (Reis, 2016). Contudo, no Brasil, a definição de papéis no planejamento e na execução de programas de saúde escolar ainda é debatida. Segundo Casemiro, Fonseca e Secco (2014), a compartimentalização das políticas públicas, deixando de contemplar muitas vezes as complexas necessidades da população, aponta para a urgência de mudanças nas áreas de planejamento e de gestão. Outra lacuna a ser preenchida no sistema educacional brasileiro é a consolidação de programas de triagem e prevenção, que consistem na aplicação de medidas rápidas a um grande número de indivíduos, identificando a probabilidade de alterações na função testada, não devendo ser confundidos com diagnóstico (Northern; Downs, 1989). Com base na identificação, os pais são orientados a realizar a avaliação completa com um profissional da saúde. Não se trata, portanto, de retomar o modelo médico da educação para pessoas com deficiência, mas da sua efetiva inclusão, por meio da detecção das suas necessidades específicas, de forma a permitir que exerçam sua liberdade e participação na vida social. 2. NECESSIDADES ESPECIAIS Segundo Correia (2008c), podemos distribuir os alunos com necessidades especiais em 3 grupos: • Risco educacional • Superdotação • Necessidades Educativas Especiais (NEE) Faculdade de Minas 15 2.1 Alunos em risco educacional “Os alunosem risco educacional são aqueles que, devido a um conjunto de fatores tal como o álcool, drogas, gravidez na adolescência, negligência, abusos, ambientes socioeconómicos e socioemocionais mais desfavoráveis, entre outros, podem vir a experimentar insucesso escolar. Estes fatores, que de uma maneira geral não resultam de imediato numa “discapacidade” ou problemas de aprendizagem, caso não mudem ou sejam atendidos através de uma intervenção adequada, podem constituir um sério risco para o aluno, em termos académicos e sociais.” (Correia, 2008c). 2.2 Alunos Supertodatos Faculdade de Minas 16 “As crianças e os adolescentes sobredotados/superdotados são aqueles identificados por pessoas qualificadas profissionalmente que, devido a um conjunto de aptidões excepcionais, são capazes de atingir um alto rendimento. Essas crianças e adolescentes requerem programas e/ou serviços educativos específicos, dentro da designada “Educação para a sobredotação”, diferentes daqueles que os programas escolares normais proporcionam, para que lhes seja possível maximizar o seu potencial no sentido de virem a prestar uma contribuição significativa, quer em relação a si mesmos, quer em relação à sociedade em que se inserem.” (Correia, 2008c) • Uma capacidade mental superior à média • Uma grande força de vontade traduzida por um superior envolvimento na tarefa (motivação) • Uma capacidade criativa elevada que permita ao indivíduo produzir, visualizar, dramatizar ou ilustrar superiormente uma ideia. Faculdade de Minas 17 2.3 NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS (NEE) Uma das definições de NEE, Correia (1997), comummente usada no nosso país, diz-nos o seguinte: “Os alunos com necessidades educativas especiais são aqueles que, por exibirem determinadas condições específicas, podem necessitar de apoio de serviços de educação especial durante todo ou parte do seu percurso escolar, de forma a facilitar o seu desenvolvimento académico, pessoal e socioemocional.” Ainda na ótica do mesmo autor, por condições específicas entende-se: “O conjunto de problemáticas relacionadas com autismo, surdocegueira, deficiência auditiva, deficiência visual, deficiência mental, deficiência motora, perturbações emocionais graves, problemas de comportamento, dificuldades de aprendizagem, problemas de comunicação, traumatismo craniano, multideficiência e outros problemas de saúde. As condições específicas são identificadas através de uma avaliação compreensiva, feita por uma equipa multidisciplinar, também por nós designada por equipa de programação educativa individualizada (EPEI).” 3. A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MUNDO E NO BRASIL A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 10% da população mundial sejam constituídos de pessoas com algum tipo de deficiência. No Brasil, o censo do ano 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incorporou, pela primeira vez, perguntas específicas sobre deficiência. O resultado foi, no mínimo, surpreendente. Existem 24,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no país, ou seja, 14,5% da população nacional. Desse total, 48,1% possuem deficiência visual; 22,9% deficiência motora; 16,7% apresentam deficiência auditiva; 8,3% deficiência mental e 4,1% deficiência física1 . O Nordeste é a região que concentra a maior proporção de pessoas com deficiência: 16,7% em relação a 12,9% na região Sudeste, 13,7%, na região Sul, 14,1% na região Centro-Oeste e 16,1% na região Norte . É no Nordeste que também se Faculdade de Minas 18 encontra o maior número de pessoas cegas. Pessoas com deficiência constam ainda em maior proporção na população negra, na indígena, entre as mulheres, nas pessoas idosas... De maneira geral, há uma relação direta e recíproca entre deficiência e pobreza. A pobreza contribui diretamente para o aumento do número de pessoas com deficiência. As pessoas com deficiência, por sua vez, encontram difícil acesso à educação, à saúde e notadamente ao trabalho, o que contribui para sua permanência na condição de pobres, excluídas e, no melhor dos casos, assistidas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 82% das pessoas com deficiência vivem abaixo da linha de pobreza, e cerca de 400 milhões de pessoas com deficiência vivem em condições precárias em países em desenvolvimento . 4. A TECNOLOGIA ASSISTIVA Conforme o conceito adotado pelo Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência de Portugal (SNRIPD) em seu Catálogo Nacional de Ajudas Técnicas (CNAT) , a tecnologia assistiva, também chamada de ajudas técnicas, é: [...] qualquer produto, instrumento, estratégia, serviço e prática utilizado por pessoas com deficiência e pessoas idosas, especialmente produzido ou geralmente disponível para prevenir, compensar, aliviar ou neutralizar uma deficiência, incapacidade ou desvantagem e melhorar a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos. Em suma, tecnologia assistiva é toda e qualquer ferramenta, recurso ou estratégia e processo desenvolvido e utilizado com a finalidade de proporcionar maior independência e autonomia à pessoa com deficiência. São considerados como tecnologia assistiva, portanto, desde artefatos simples, como uma colher adaptada ou um lápis com uma empunhadura mais grossa para facilitar a preensão, até sofisticados programas especiais de computador que visam à acessibilidade. A Norma Internacional ISO 9999 classifica as ajudas técnicas ou tecnologia assistiva em 10 grupos diferentes: Classe 03 Ajudas para terapia e treinamento Faculdade de Minas 19 Classe 06 Órteses e próteses Classe 09 Ajudas para segurança e proteção pessoal Classe 12 Ajudas para mobilidade pessoal Classe 15 Ajudas para atividades domésticas Classe 18 Mobiliário e adaptações para residências e outros móveis Classe 21 Ajudas para a comunicação, informação e sinalização Classe 24 Ajudas para o manejo de bens e produtos Classe 27 Ajudas e equipamentos para melhorar o ambiente, maquinaria e ferramentas Classe 24 Ajudas para o lazer e tempo livre Hoje em dia é sabido que as tecnologias de informação e comunicação vêm se tornando, de forma crescente, importantes instrumentos de nossa cultura e, sua utilização, meio concreto de inclusão e interação no mundo (LEVY, 1999). Essa constatação é ainda mais evidente e verdadeira quando nos referimos a pessoas com deficiências. Nesses casos, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) podem ser utilizadas ou como tecnologia assistiva, ou por meio de tecnologia assistiva. Utilizam- se as TICs como tecnologia assistiva quando o próprio computador é a ajuda técnica para atingir um determinado objetivo. Por exemplo, o computador utilizado como caderno eletrônico para o indivíduo que não consegue escrever no caderno comum de papel. Por outro lado, as TICs são utilizadas por meio de tecnologia assistiva, quando o objetivo final desejado é a utilização do próprio computador, para o que são necessárias determinadas ajudas técnicas que permitam ou facilitem esta tarefa. Por exemplo, adaptações de teclado, de mouse, software especiais etc. Diferentes pesquisas demonstram a importância dessas tecnologias no processo de construção dos conhecimentos desses alunos (NIEE/UFRGS, NIED/UNICAMP,e, finalmente, pessoas com grave comprometimento motor podem tornarse cidadãs ativas e produtivas, em vários casos garantindo o seu sustento, através do uso das TICs. Com certa freqüência, essas quatro Faculdade de Minas 20 áreas se relacionam entre si, podendo uma mesma pessoa utilizar TICs com finalidades presentes em duas ou mais dessas áreas. É o caso, por exemplo, de uma pessoa com problemas de comunicação e linguagem que utiliza o computador como prótese de comunicaçãoe, ao mesmo tempo, como caderno eletrônico ou em outras atividades de ensino e aprendizagem. 4.1 Utilizando a Tecnologia Assistiva em Ambiente Computacional Busca-se apresentar aqui diferentes adaptações, recursos e formas de utilização da tecnologia assistiva com a finalidade de possibilitar a interação, no computador, para pessoas com diferentes graus de comprometimento motor, sensorial e/ou de comunicação e linguagem. Ou seja, a utilização do computador por meio de tecnologia assistiva. Essas adaptações podem ser de diferentes ordens, como, por exemplo: [...] adaptações especiais como tela sensível ao toque ou ao sopro, detector de ruídos, mouse alavancado à parte do corpo que possui movimento voluntário e varredura automática de itens em velocidade ajustável, permitem seu uso por virtualmente todo portador de paralisia cerebral, qualquer que seja o grau de seu comprometimento motor. Sistematizamos o estudo desses recursos propondo situá-los em três grupos: A) Adaptações físicas ou órteses São todos os aparelhos ou adaptações fixadas e utilizadas no corpo do usuário e que facilitam a interação do mesmo com o computador. B) Adaptações de hardware São todos os aparelhos ou adaptações presentes nos componentes físicos do computador, nos periféricos, ou mesmo quando os próprios periféricos, em suas concepções e construção, são especiais e adaptados. C) Softwares especiais de acessibilidade São os componentes lógicos das TICs quando construídos como tecnologia assistiva, ou seja, são os programas especiais de computador que possibilitam ou facilitam a interação da pessoa com deficiência com a máquina. Analisando melhor cada um desses três grupos e apresentando alguns exemplos práticos: Faculdade de Minas 21 a) Adaptações físicas ou órteses Quando se busca a postura correta para um usuário com deficiência física em sua cadeira adaptada ou de rodas utilizando almofadas, ou faixas para estabilização do tronco, ou velcro etc., antes do trabalho no computador, já se estarão utilizando recursos ou adaptações físicas muitas vezes bem eficazes para auxiliar no processo de aprendizagem dessas pessoas. Uma postura correta é vital e é pré- requisito para um trabalho eficiente no computador. Algumas pessoas com seqüelas de paralisia cerebral têm o tônus muscular flutuante (atetóide), o que faz com que o processo de digitação se torne lento e penoso pela amplitude do movimento dos membros superiores na digitação. Um recurso que pode ser utilizado é a pulseira de pesos, que ajuda a reduzir a amplitude do movimento causado pela flutuação do tônus, tornando a digitação mais rápida e eficiente. Os pesos na pulseira podem ser acrescentados ou diminuídos em função do tamanho, idade e força do usuário. Faculdade de Minas 22 Outra órtese utilizada é o estabilizador de punho e abdutor de polegar com ponteira para digitação, principalmente para pessoas com paralisia cerebral que apresentam essas necessidades (estabilização de punho e abdução de polegar). Além dessas adaptações físicas e órteses, existem várias outras que também podem ser úteis, dependendo das necessidades específicas de cada pessoa, como os ponteiros de cabeça , ou hastes fixadas na boca ou no queixo, quando existe o controle da cabeça, entre outras. b) Adaptações de Hardware Quando são necessárias adaptações nos periféricos, na parte física do computador, as adaptações de Hardware, antes de se buscar comprar acionadores especiais (switches) ou mesmo periféricos especiais, é fundamental procurar viabilizar, quando possível, soluções que utilizem os próprios “acionadores naturais” do computador, que são o teclado, o mouse e o microfone. Desta maneira, com muita freqüência são encontradas soluções de baixíssimo custo, ou mesmo gratuitas, mas de alta funcionalidade. Um dos recursos mais simples e eficientes para a adaptação de hardware é a máscara de teclado ou colméia. Trata-se de uma placa de plástico ou acrílico com um furo correspondente a cada botão do teclado, que é fixada sobre o aparelho, a uma pequena distância, com a finalidade de evitar que o usuário com dificuldade de coordenação motora pressione, involuntariamente, mais de uma tecla ao mesmo tempo. Essa pessoa deverá procurar o furo correspondente à tecla que deseja pressionar. Pessoas com dificuldade de coordenação motora associada a deficiência intelectual também podem utilizar a máscara de teclado junto com “tampões” de papelão ou cartolina que deixam à mostra somente as teclas que serão necessárias para o trabalho em função do software que será utilizado. Desta maneira, será diminuído o número de estímulos visuais (muitas teclas), que podem tornar o trabalho muito difícil e confuso para algumas delas devido a dificuldades pessoais de abstração ou concentração. Vários tampões podem ser construídos, disponibilizando diferentes conjuntos de teclas, de acordo com o programa a ser utilizado. Outras adaptações simples que podem ser utilizadas dizem respeito ao próprio posicionamento do equipamento. Por exemplo, um determinado usuário que digitava Faculdade de Minas 23 utilizando apenas uma das mãos, em certa etapa de seu trabalho com um programa que exigia que ele pressionasse duas teclas simultaneamente, descobriu, por si mesmo que, se ele colocasse o teclado em seu colo, na cadeira de rodas, poderia utilizar também uma mão para apertar uma tecla (Ctrl), enquanto pressionava outra tecla com a outra mão. Outro usuário está conseguindo agora usar o mouse para pequenos movimentos (utilização combinada com um simulador de teclado) com a finalidade de escrever no computador, pondo o mouse sobre suas pernas, em cima de um livro de capa dura ou de uma pequena tábua. Outra solução empregada é reposicionar o teclado perto do chão para digitação com o pé, recurso utilizado por uma usuária que não pode digitar com as mãos. E assim, diversas variações podem ser feitas no posicionamento dos periféricos para facilitar o trabalho da pessoa com deficiência, sempre, é claro, em função de suas necessidades específicas. As pesquisas desenvolvidas desde 1993 pelo Programa InfoEsp, em Salvador, revelam que a imensa maioria das necessidades dos seus alunos são resolvidas com recursos de baixo custo. Ou seja, é quebrada certa convicção generalizada, certo tabu, de que falar de adaptações e tecnologia assistiva para o uso do computador por pessoas com deficiência significa falar de aparelhos sofisticados, inacessíveis e de custos altíssimos. As pesquisas e a prática desmentem essa convicção e demonstram que, na maioria dos casos, dificuldades e barreiras até bastante complexas podem ser atenuadas ou eliminadas com recursos de custo muito baixo, mas de grande funcionalidade. Além das adaptações de hardware apresentadas anteriormente, existem muitas outras que podem ser encontradas em empresas especializadas, como acionadores especiais, mouses adaptados, teclados especiais, afora dispositivos especiais como impressoras Braille, monitores com telas sensíveis ao toque etc. (Cf. os endereços eletrônicos de alguns fornecedores no final deste texto). c) Softwares Especiais de Acessibilidade Alguns dos recursos mais úteis e mais facilmente disponíveis, mas muitas vezes ainda desconhecidos, são as “opções de acessibilidade” que já acompanham os sistemas operacionais. Por meio desses recursos, diversas modificações podem ser feitas nas configurações do computador, adaptando-o a Faculdade de Minas 24 diferentes necessidades dos alunos. Por exemplo, uma pessoa que, por dificuldades de coordenação motora, não consegue utilizar o mouse, mas pode digitar no teclado - o que ocorre com muita freqüência - tem a possibilidade de solucionar seu problema ao configurar o computador, por intermédio das Opções de Acessibilidade do Windows,para que a parte numérica à direita do teclado realize todos os mesmos comandos realizados pelo mouse. Além do mouse, outras configurações podem ser feitas, como a das “teclas de aderência”, a opção de “alto contraste na tela” para pessoas com baixa visão, e outras opções. Outros exemplos de Softwares Especiais de Acessibilidade são os simuladores de teclado e os simuladores de mouse. Todas as opções do teclado ou as opções de comando e movimento do mouse podem ser exibidas na tela e selecionadas, de forma direta ou por meio de varredura automática que o programa realiza sobre todas as opções. Na internet existe, por exemplo, o site do técnico espanhol Jordi Lagares , no qual são dis ponibilizados para download diversos programas gratuitos por ele desenvolvidos. Trata-se de simuladores que podem ser operados de forma bem simples, além de serem programas muito “leves”. Por meio desse simulador de teclado e do simulador de mouse, um aluno do Programa InfoEsp, por exemplo, de 37 anos, pôde começar a trabalhar no computador e, agora, expressa melhor todo o seu potencial cognitivo, começando a aprender a ler e a escrever. Esse aluno, que é tetraplégico, só consegue utilizar o computador por meio desses simuladores, que lhe possibilitam transmitir seus comandos ao computador somente por meio de sopros em um microfone. Isto lhe tem permitido, pela primeira vez na vida, escrever, desenhar, jogar e realizar diversas atividades que antes eram-lhe impossíveis. Ou seja, por meio de simples sopros, horizontes totalmente novos se abriram para ele, possibilitando que sua inteligência, anteriormente aprisionada em um corpo extremamente limitado, encontrasse novos canais de expressão e desenvolvimento. Entretanto, algumas pessoas têm dificuldades na articulação ou na sincronia exigidas para a emissão desses sons ou ruídos no microfone. A solução encontrada foi acoplar ao microfone, por meio de fitas adesivas, um daqueles pequenos brinquedos infantis de borracha que produzem sons quando são pressionados. Desta maneira, o usuário pode comandar a varredura pressionando o brinquedo com a parte do corpo sobre a qual exerça maior controle (mão ou pé, joelho ou cabeça etc.). Com a pressão, o brinquedo emitirá som no microfone, o que acionará a varredura. Faculdade de Minas 25 Esses simuladores podem ser acionados por intermédio de sopros, pequenos ruídos ou de pequenos movimentos voluntários feitos por diversas partes do corpo e até mesmo por piscadelas ou movimento dos olhos, utilizandose outros acionadores. Outros recursos bem simples, porém bastante úteis, foram desenvolvidos pela equipe do Programa InfoEsp. Por exemplo, adaptações nos mouses comuns, com a instalação de plugues laterais, disponibilizando, por meio desses pinos, uma extensão do terminal de acionamento do botão esquerdo do mouse (foto 19). Com freqüência, um simples clique no botão esquerdo do mouse é suficiente para que o usuário possa desenvolver qualquer atividade no computador, comandando a varredura automática de um software, tal como escrever, desenhar, navegar na internet, mandar mensagens por e-mail etc. Para que isto seja possível, também são desen volvidos diferentes acionadores (switches) para serem conectados nesses plugues dos mouses e, assim, poder-se efetuar o comando correspondente ao clique no botão esquerdo com a parte do corpo de que a pessoa tiver o controle voluntário (braços, pernas, pés, cabeça etc.). Tais acionadores são construídos até mesmo com sucata de computador, aproveitando-se os botões de liga/desliga dessas máquinas, às vezes para serem presos nos próprios dedos dos alunos ou para acionamento com a cabeça. São soluções simples, de custo praticamente nulo, porém de alta funcionalidade, e que se tornam para algumas pessoas com deficiência a diferença entre poder ou não utilizar o computador. Normalmente os softwares especiais de acessibilidade que funcionam com varredura automática aceitam o teclado, o mouse e/ou o microfone como acionadores (controladores) dessa varredura. Como exemplo, temos os softwares simuladores de teclado, os simuladores de mouse e os programas para a construção de pranchas de comunicação alternativa. O problema é que diversas pessoas com deficiência não conseguem utilizar nem o mouse, nem o teclado e nem o microfone se estes não forem, de alguma forma, modificados ou adaptados. Dar um clique no botão esquerdo do mouse, por exemplo, pode ser uma tarefa muito difícil ou mesmo impossível para alguns usuários em função de suas dificuldades de coordenação motora fina, ou por causa de alterações anatômicas em seus membros superiores que impedem a execução dessa tarefa. Outra sugestão aqui apresentada possibilita ampliar a área de acionamento do botão esquerdo do mouse para uma superfície bem maior, com o mesmo efeito de um simples clique no botão. Trata-se de uma caixa comum de fita de vídeo VHS, dessas onde se guardam as Faculdade de Minas 26 fitas, dentro e no centro da qual é introduzido e fixado, com uma tira de velcro, um mouse qualquer. Na capa dessa caixa é colada uma borracha comum de apagar lápis, na altura exata onde se encontra o botão esquerdo do mouse. Essa capa da caixa deve ficar entreaberta, podendo ser utilizadas pequenas faixas de velcro para mantê-la nessa posição. Colocando-se esse dispositivo na frente do usuário, quando ele pressionar qualquer lugar na capa da caixa, a borracha em relevo no interior da mesma entrará em contato com o botão esquerdo do mouse, e o efeito será o acionamento do clique nesse botão. Existem diversos sites na internet que disponibilizam gratuitamente outros simuladores e programas especiais de acessibilidade.. Para pessoas com deficiência visual, existem os programas que “fazem o computador falar”: Também os cegos já podem utilizar sistemas que fazem a leitura da tela e de arquivos por meio de um alto- falante, teclados especiais que têm pinos metálicos que se levantam formando caracteres sensíveis ao tato e que “traduzem” as informações que estão na tela ou que estão sendo digitadas e impressoras que imprimem caracteres em Braille (FREIRE, 2000). 5. CURRÍCULO ESCOLAR A aprendizagem escolar está diretamente vinculada ao currículo, organizado para orientar, dentre outros, os diversos níveis de ensino e as ações docentes. O conceito de currículo é difÌcil de estabelecer, em face dos diversos ‚ângulos envolvidos. … É central para a escola e associa-se a própria identidade da instituição escolar, sua organização e funcionamento e ao papel que exerce ou deveria exercer a partir das aspirações e expectativas da sociedade e da cultura em que se insere. Contém as experiÍncias, bem como a sua planificação no ‚âmbito da escola, colocada à disposição dos alunos visando a potencializar o seu desenvolvimento integral, a sua aprendizagem e a capacidade de conviver de forma produtiva e construtiva na sociedade. Essas experiências representam, em sentido mais amplo, o que o currÌculo exprime e buscam concretizar as intenções dos sistemas educacionais e o plano cultural que eles personalizam (no âmbito das instituições escolares) como modelo ideal de escola defendido pela sociedade. Nessa concepção o currículo é contruído a partir do projeto pedagógica da escola e viabiliza a Faculdade de Minas 27 sua operacionalização, orientando as atividades educativas, as formas de executá-las e definindo suas finalidades. Assim, pode ser visto como um guia sugerido sobre o que, quando e como ensinar; o que, como e quando avaliar. A concepção de currÌculo inclui, portanto, desde os aspectos básicos que envolvem os fundamentos filosóficos e sociopolÌticos da educação até os marcos teóricos e referenciais técnicos e tecnológicos que a concretizam na sala de aula. Relaciona princípios e operacionalização, teoria e prática, planejamento eação. O projeto pedagógico da escola, como ponto de referência para definir a prática escolar, deve orientar a operacionalização do currículo, como um recurso para promover o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos, considerando-se os seguintes aspectos: • A atitude favorável da escola para diversificar e flexibilizar o processo de ensino- aprendizagem, de modo a atender as diferenças individuais dos alunos; • A identificação das necessidades educacionais especiais para justificar a priorização de recursos e meios favoráveis e sua educação; • A adoção de currículos abertos e propostas curriculares diversificadas, em lugar de uma concepção uniforme e homogeneizadora de currículo; • A flexibilidade quanto a organização e ao funcionamento da escola, para atender a demanda diversificada dos alunos; • A possibilidade de incluir professores especializados, serviços de apoio e outros, não convencionais, para favorecer o processo educacional. 5.1 Adequações Curriculares As manifestações de dificuldades de aprendizagem na escola apresentam-se como um contÌnuo, desde situações leves e transitórias que podem se resolver espontaneamente no curso do trabalho pedagógico até situações mais graves e persistentes que requerem o uso de recursos especiais para a sua solução. Atender a esse contÌnuo de dificuldades requer respostas educacionais adequadas envolvendo Faculdade de Minas 28 graduais e progressivas adequações do currículo. As adequações curriculares constituem, pois, possibilidades educacionais de atuar frente as dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõe que se realize a adequação do currículo regular, quando necessário, para torna-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos. Nessas circunstâncias, as adequações curriculares implicam a planificação pedagógica e as áreas docentes fundamentadas em critérios que definem: • o que o aluno deve aprender; • como e quando aprender; • que formas de organização do ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem; • como e quando avaliar o aluno. Para que alunos com necessidades educacionais especiais possam participar integralmente em um ambiente rico de oportunidades educacionais com resultados favor·veis, alguns aspectos precisam ser considerados, destacandose entre eles: • a preparação e a dedicação da equipe educacional e dos professores; • o apoio adequado e recursos especializados, quando forem necessários; • as adequações curriculares e de acesso ao currículo. Algumas características curriculares facilitam o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, dentre elas: • atinjam o mesmo grau de abstração ou de conhecimento, num tempo determinado; • desenvolvidas pelos demais colegas, embora não o façam com a mesma intensidade, em necessariamente de igual modo ou com a mesma ação e grau de abstração. As adequações curriculares apoiam-se nesses pressupostos para atender as necessidades educacionais especiais dos alunos, objetivando estabelecer uma relação harmônica entre essas necessidades e a programação curricular. Faculdade de Minas 29 Estão focalizadas, portanto, na interaçãoo entre as necessidades do educando e as respostas educacionais a serem propiciadas. Devem ser destinadas aos que necessitam de serviços e/ou de situações especiais de educação, realizando-se, preferencialmente, em ambiente menos restritivo e pelo menor perÌodo de tempo, de modo a favorecer a promoção do aluno a formas cada vez mais comuns de ensino. As necessidades especiais revelam que tipos de ajuda, diferentes dos usuais, são requeridos, de modo a cumprir as finalidades da educação. As respostas a essas necessidades devem estar previstas e respaldadas no projeto pedagógico da escola, não por meio de um currículo novo, mas, da adequação progressiva do regular, buscando garantir que os alunos com necessidades especiais participem de uma programação tão normal quanto possível, mas considere as especificidades que as suas necessidades possam requerer. O currículo, nessa visão, È um instrumento útil, uma ferramenta que pode ser alterada para beneficiar o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, resultando em alterações que podem ser de maior ou menor expressividade. A maior parte das adequações curriculares realizadas na escola é considerada menos significativa, porque se constituem modificações menores no currÌculo regular e são facilmente realizadas pelo professor no planejamento normal das atividades docentes e constituem pequenos ajustes dentro do contexto normal de sala de aula. Faculdade de Minas 30 REFERÊNCIAS Estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais / coordenação geral: SEESP/MEC ; organização: Maria Salete Fábio Aranha. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2003. 58 p. (Saberes e práticas da inclusãoo ; 4) 1. Inclusão escolar 2. Educação dos portadores de deficiência 3. Currículo I. Brasil. Secretaria de Educação Especial II. Aranha, Maria Salete Fábio III. Série ARAUJO, S. A. et al. Avaliação auditiva em escolares. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, Indianápolis, SP, v. 68, n. 2, p. 263-266, mar./abr. 2002. BATISTA, C. A. M. Educação inclusiva: atendimento educacional especializado para a deficiência mental. Brasília: MEC, Seesp, 2006. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. BRASIL. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 25 out. 1989. Seção 1, p. 19209. BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 27 dez. 1961. Seção 1, p. 11429. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 16 jul. 1990. Seção 1, p. 13563. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 26 jun. 2014. Seção 1, p. 1. BRASIL. Faculdade de Minas 31 Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – ONU/2006. Disponível em: < http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/ convencaopessoascomdeficiencia.pdf> Acesso em: 06 set. 2016. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Plano Nacional de Educação: PNE 2014-2024: linha de base. Brasília: Inep, 2015. Disponível em: . Acesso em: 06 set. 2016. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Relatório do 1º ciclo de monitoramento das metas do PNE: biênio 2014-2016. Brasília: Inep, 2016. Disponível em: < http://download.inep.gov.br/outras_acoes/estudos_pne/2016/relatorio_ pne_2014_a_2016.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2016. BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília: MEC/Seesp, 2001. Disponível em: . Acesso em: 06 set. 2016. BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Sala de recursos multifuncionais: espaços para o atendimento educacional especializado. Brasília: MEC/Seesp, 2006. BRASIL. 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