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1 TGD SÍNDROME DE ASPERGER, RETT E AUTISMO 1 Sumário 1. INTRODUÇÃO AOS TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO ....................................................................................... 3 2. SÍNDROME DE ASPERGER.......................................................... 4 2.1 Sintomas .................................................................................. 8 2.2 Critérios para diagnóstico......................................................... 9 2.3 Causas ................................................................................... 10 2.4 Intervenções e tratamento ......................................................... 12 3. AUTISMO ..................................................................................... 13 3.1 Conceito ................................................................................. 14 3.2 Causas ................................................................................... 16 3.3 Diagnóstico ............................................................................ 17 3.4 Indicadores da Presença do TEA .......................................... 18 3.4.1 Motores ............................................................................. 18 3.4.2 Sensoriais ............................................................................ 18 3.4.3 Fala ..................................................................................... 19 3.4.4 Expressividade .................................................................... 20 3.5 Diretrizes Diagnósticas dos TEA ............................................ 20 3.5.1 Entrevista com os Pais ou Cuidadores ................................... 21 3.5.2 Observação Direta do Comportamento ................................... 21 3.6 Tratamento ................................................................................. 24 3.6.1 Treinamento e Educação dos Pais ...................................... 26 3.6.2 Treinamento das habilidades sociais e Fonoaudiologia ...... 27 3.6.7 Terapia Comportamental Cognitiva ..................................... 27 3.6.8 Análise Comportamental Aplicada (ABA) ............................ 28 3.6.9 Integração Sensorial / Terapia Ocupacional ........................ 29 3.6.10 Medicação ......................................................................... 29 2 5.SINDROME DE RETT ..................................................................... 30 5.1 Causas ....................................................................................... 30 5.2 Estágios da Síndrome de Rett ................................................... 32 5.3 Diagnóstico ................................................................................ 33 5.4.Prognóstico ................................................................................ 34 5.5 Tratamento ................................................................................. 34 REFERÊNCIAS ................................................................................ 35 3 1. INTRODUÇÃO AOS TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO Os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) caracterizam-se por um comprometimento grave e global em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação ou presença de estereotipias de comportamento, interesses e atividades (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 2002, p.98). Os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) representam uma categoria na qual estão agrupados transtornos que têm em comum as funções do desenvolvimento afetadas (BRASIL, 2010). Posto isso, é importante compreender que nem todos os estudantes diagnosticados com algum tipo de transtorno mental são estudantes da Educação Especial – área dos Transtornos Globais do Desenvolvimento. A categoria TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO, conforme o DSM-IV, inclui: ■ Síndrome de Rett; ■ Autismo; ■ Síndrome de Asperger; ■Transtorno Desintegrativo da Infância; ■Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. 4 Na área TGD é habitual depararmo-nos com os termos síndrome e/ou transtorno. Assim, é importante esclarecer que a nomenclatura síndrome se refere a um conjunto de sintomas, não restrito a uma só doença, que ocorre no indivíduo; e transtorno é aplicado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos que ocorrem no transcorrer da infância, com um comprometimento ou atraso no desenvolvimento e maturação do sistema nervoso central. O transtorno não se desenrola de traumatismo ou doença cerebral adquirida; ele denuncia uma desordem neurológica e origina-se de anormalidades no processo cognitivo derivados de disfunção biológica (FRANZIN, 2014). Os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), por se tratarem de um conjunto de sintomas e comportamentos que transcorrem na infância, com comprometimento ou atraso no desenvolvimento, apresentam, entre a síndrome e os transtornos que os compõem, uma sucessão de características que serão detalhadas a seguir. 2. SÍNDROME DE ASPERGER Hans Asperger e Leo Kanner, que descreveu o autismo em 1943, nasceram ambos na Áustria e estudaram em Viena, mas nunca se encontraram. Asperger que era dez anos mais jovem que Kanner especializou-se em pediatria enquanto Kanner estudou psiquiatria. Asperger acreditava que para estas crianças educação e terapia eram a mesma coisa e que apesar de suas dificuldades elas eram capazes de adaptar-se desde que tivessem um programa educacional apropriado. As observações sobre Asperger, publicadas em alemão, não eram completamente conhecidas até 1981, quando uma médica inglesa, chamada Lorna Wing publicou uma série de estudos de casos de 5 crianças apresentando sintomas semelhantes, os quais ela chamou de Síndrome de "Asperger". Os trabalhos de WIng foram completamente publicados e popularizados. Em 1992, SA tornou-se uma condição distinta e diagnosticada, quando foi incluída na décima edição publicada do World Health Organization’s Diagnostic Manual [Manual de Diagnóstico da Organização Mundial da Saúde], International Classification of Diseases (ICD-10) [Classificação Internacional de Doenças (CID-10)] e em 1994, ela foi adicionada a quarta edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV) [Manual de Diagnóstico e Estatistica de Desordens Mentais (DSM-IV)], livro de referência diagnóstica da American Psychiatric Association’s [Sociedade Americana de Psiquiatria] Indivíduos que são diagnosticados com autismo ou com transtorno do espectro do autismo, que têm habilidades cognitivas normais, e passaram por atrasos insignificantes na aquisição de habilidades de linguagem, são muito semelhantes aos indivíduos com Síndrome de Asperger. O Transtorno do Espectro do Autismo de Alta Funcionalidade (HFA) e a Síndrome de Asperger compartilham sintomas semelhantes e são ajudadas por abordagens de tratamentos semelhantes. O National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS), parte do National Institute of Health, define como a Síndrome de Asperger Uma desordem do desenvolvimento que se caracteriza por: • rotinas repetitivas ou rituais, • peculiaridades na fala e linguagem, tais como falar de forma excessivamente formal ou de forma monótona, ou usando literalmente, figuras de expressão, • comportamento social e emocional inadequados e a incapacidade de interagir de forma bem sucedida com os colegas, • problemas com a comunicação não-verbal, incluindo o uso restrito de gesticulações, expressões faciais limitadas ou inadequadas ou um peculiar, olhar fixo, • falta de jeito e movimentos motores descoordenados. Tentativas de codificar osescritos de Asperger em uma definição categorial da condição foram realizadas por alguns pesquisadores influentes na Europa e na América do Norte. A psiquiatra Lorna Wing (1981) publicou um 6 estudo sistematizando o quadro clínico, chamando-o de Síndrome de Asperger. No entanto, nenhuma definição consensual se revelou até o advento da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e do Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mental (DSM-IV - 1994). A Síndrome de Asperger é classificada como um transtorno invasivo de desenvolvimento. Crianças com esta síndrome podem ter inteligência normal e tipicamente apresentarem inteligência verbal maior que a não verbal. Embora as habilidades verbais dessas crianças não apresentem os prejuízos encontrados nas crianças autistas, elas frequentemente apresentam profundas dificuldades sociais e de semâtica. Teixeira (2006) afirma que o desenvolvimento inicial da criança parece normal, contudo, no decorrer dos anos, seu discurso se torna diferente, monótono, peculiar e há, com frequência, a presença de preocupações obsessivas. É um transtorno de múltiplas funções do psiquismo, com afetação principal nas áreas do relacionamento interpessoal e da comunicação, embora a fala seja relativamente normal. A interação da criança com Síndrome de Asperger com outras crianças se torna difícil, pois demonstra pouca empatia e apresenta comportamento excêntrico; sua vestimenta pode se apresentar 7 estranhamente alinhada e a dificuldade de socialização pode torná-la solitária. É inflexível, ou seja, tem dificuldades de lidar com mudanças. É emocionalmente vulnerável e instável, ingênua e eminentemente carente de senso comum. Há prejuízo na coordenação motora e na percepção visoespacial. Frequentemente apresenta interesses peculiares, em determinadas áreas do conhecimento, podendo passar horas assistindo ao canal da previsão do tempo na televisão ou estudando exaustivamente sobre temas ou assuntos preferidos, como dinossauros, Egito, carros, aviões, mapas de ruas, planetas, missões espaciais, entre outros. 8 2.1 Sintomas Devido ao desenvolvimento regular das habilidades linguísticas, nas fases iniciais, os sintomas da SA podem ser difíceis de ser diferenciados dos outros problemas comportamentais como o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Consequentemente, seu filho pode ter sido previamente diagnosticado com desordens como ADHD até que os problemas pareçam ser causados mais por uma incapacidade em socializar do que uma incapacidade em concentrar. A seguir, uma lista de sintomas que as crianças com Síndrome de Asperger podem apresentar: • interações sociais impróprias ou muito raras • fala repetitiva ou "robótica" • habilidades de comunicação não-verbal na média ou abaixo da média, porém, habilidade de comunicação verbal na média ou acima da média • tendência a discutir alto • incapacidade de compreender problemas ou frases que são consideradas "senso comum" • falta de contato visual ou conversação recíproca • obsessão com temas únicos e específicos • conversas unilaterais • movimentos e/ou modos desajeitados Outro sintoma da Síndrome de Asperger é uma incapacidade de compreender as ações, palavras ou comportamentos de outras pessoas. Os indivíduos com SA muitas vezes não entendem o temperamento, as implicações de frases específicas, ou ações de outras pessoas. Gestos discretos ou expressões, como um sorriso, um olhar de reprovação ou um gesto de "vem aqui" podem não sincronizar as crianças com AS porque elas são incapazes de perceber a relação entre estes métodos de comunicação não-verbais e os métodos verbais, como fala e linguagem. Devido ao fato de muitas vezes serem incapazes de compreender estas “gracinhas” não-verbais, o mundo social pode parecer 9 muito confuso e opressivo para estes indivíduos. Para piorar o problema, as pessoas com Síndrome de Asperger têm dificuldade em ver as coisas pelo ponto de vista de outra pessoa. Esta impotência os deixa incapazes de prever ou compreender as ações das outras pessoas. Embora não seja um fato generalizado, é comum as pessoas com SA apresentarem dificuldade em regular as suas emoções. 2.2 Critérios para diagnóstico Assim como no autismo, não existem exames clínicos que identifiquem, a Síndrome de Asperger e o diagnóstico é feito através da observação dos comportamentos. Os critérios do diagnóstico oficial da Síndrome de Asperger estão enumerados no DSM-IV. Alguns pesquisadores acreditam que Sindrome de Asperger seja a mesma coisa que autismo de alto funcionamento, isto é, com inteligência preservada. Outros acreditam que no autismo de alto funcionamento há atraso na aquisição da fala, e na Síndrome de Asperger, não. Colocamos em anexo uma lista de critérios diagnósticos da Síndrome de Asperger elaborada pelo pesquisador sueco Christopher Gillberg. Muitas pessoas acreditam que a importância da diferenciação entre Síndrome de Asperger e Autismo de Alto Funcionamento seja mais de cunho jurídico do que propriamente para escolhas relacionadas ao trata- mento. Por um lado para algumas pessoas dizer que alguém é portador de Síndrome de Asperger parece mais leve e menos grave do que ser por- tador de autismo, mesmo que de alto funcionamento – embora isto seja provavelmente uma ilusão. 10 Por outro lado, associações de autismo em todo o mundo alegam que esta divisão em duas patologias diferentes enfraquece um movimento que necessita de tanto apoio como o dos que trabalham pelo autismo. 2.3 Causas É importante ter em mente que esse conjunto de transtornos do autismo não são transtornos com uma única causa. Em vez disso, o termo representa um grupo de transtornos relacionados com muitas causas diferentes. Na maioria dos casos, SA/HFA é causada por uma combinação de fatores de risco genéticos que podem interagir com os fatores de risco ambientais. Provavelmente, muitos genes contribuem para a ocorrência da Síndrome de Asperger/HFA. Acredita-se que esses genes interajam com os fatores ambientais. Uma grande parte das pesquisas atuais tenta descobrir como fatores de risco genéticos e ambientais contribuem para o autismo. Pode haver alguns equívocos comuns sobre as pessoas com Síndrome de Asperger/HFA. (SA/HFA). Ela não pode ter sido causada pela forma como uma pessoa foi apresentada, pais ruins ou problemas emocionais; uma criança pode ter experimentado em algum momento desde o seu nascimento a Síndrome de Asperger/HFA, que é um transtorno neurobiológico, e não consequência de problemas decorrentes das experiências de vida da mesma. 11 Pontos Fortes Atenção aos detalhes Muitas vezes altamente qualificados em uma determinada área Estudos profundos, resultando em muito conhecimento nas áreas de interesse Tendência para ser lógico (útil na tomada de decisões onde as emoções podem interferir) Menor preocupação com o que os outros possam pensar deles (pode ser um ponto forte e um desafio). Também são conhecidos pelo pensamento independente. Frequentemente resulta em conhecimentos de um panorama romântico, devido às maneiras diferentes de olhar as coisas, ideias e conceitos. Normalmente fazem um processamento visual (pensando em imagens ou vídeos) Frequentemente muito verbal (tendência em dar descrições detalhadas; podem ser úteis para fornecer direções para pessoas perdidas) Comunicação direta Lealdade Honestidade Escuta Imparcial Média de inteligência acima da média Desafios Compreender o panorama Conjunto de habilidades diferentes Dificuldades em desenvolver motivação para estudar áreas que não tem interesse Dificuldade em perceber o estado emocional dos outros Entender as regras não escritas da interação. social. Mas podem aprender estas regrasatravés de instruções diretas e narrativas sociais como fichas de aptidão (Gagnon, 2004) Dificuldade no processamento de modalidades que não são as suas favoritas, como auditiva, propriocepção, etc. 12 Dificuldade em analisar gramaticalmente e resumir informações importantes para uma conversa Problemas de integração sensorial, onde um comentário pode ser registrado de forma irregular, distorcida, e com dificuldade na triagem de um ruído de fundo Generalização de habilidades e conceitos Dificuldade em expressar empatia da maneira que os outros esperam ou compreendem Funcionamento executivo que resultam na dificuldade de planejamento de tarefas em longo prazo. 2.4 Intervenções e tratamento Mesmo considerando que o tratamento é realizado com auxílio de pro- gramas individuais em função da evolução de cada criança, os seguintes aspectos podem ser fundamentais como alvos preferenciais de tratamento em um programa de intervenção precoce com indivíduos com Síndrome de Asperger. Devemos procurar o antes possível desenvolver: - A autonomia e a independência; - A comunicação não-verbal; - Os aspectos sociais como imitação, aprender a esperar a vez e jogos em equipe; - A flexibilização das tendências repetitivas; - As habilidades cognitivas e acadêmicas. Ao mesmo tempo é importante: - Trabalhar na redução dos problemas de comportamento; - Utilizar tratamento farmacológico se necessário; - Que a família receba orientação e informação; - Que os professores recebam assessoria e apoio necessários. 13 3. AUTISMO O autismo foi descrito pela primeira vez em 1943 pelo Dr. Leo Kanner (médico austríaco, residente em Baltimore, nos EUA) em seu histórico artigo escrito originalmente em inglês: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo. Nesse artigo, disponível em português no site da AMA, Kanner descreve 11 casos, dos quais o primeiro, Donald T., chegou até ele em 1938. Em 1944, Hans Asperger, um médico também austríaco e formado na Universidade de Viena - a mesma em que estudou Leo Kanner -, escreve outro artigo com o título Psicopatologia Autística da Infância, descrevendo crianças bastante semelhantes às descritas por Kanner. Ao contrário do artigo de Kanner, o de Asperger levou muitos anos para ser amplamente lido. A razão mais comumente apontada para o desconhecimento do artigo de Asperger é o fato dele ter sido escrito originalmente em alemão. O autismo pode ser classificado em grau leve, moderado ou severo, dependendo do apoio necessário que a pessoa precisa para realizar as atividades do dia a dia. A nomenclatura atual é “Transtorno do Espectro do Autismo” (TEA), por ser um conjunto de comportamentos que afeta cada indivíduo de modo e grau diferente, com uma ampla variedade. Com a evolução das pesquisas das pesquisas científicas, chegaram à conclusão que o autismo não é um distúrbio de contato afetivo, mas sim um distúrbio do desenvolvimento, segundo Kuperstein e Missalglia (2005). 14 Em 1989, Frith resume o autismo como uma “deficiência mental específica, susceptível de ser classificada nas Perturbações Pervasivas do Desenvolvimento, que afeta qualitativamente as interações sociais recíprocas, a comunicação não-verbal e a verbal, a actividade imaginativa e se expressa através de um repertório restrito de atividades e interesses ” (Pereira, 1996, p. 27). Estando assente a ideia de que o autismo é uma perturbação desenvolvimental que afeta a capacidade da pessoa comunicar, entender a linguagem, jogar e interagir com outros, constitui-se, assim, como uma síndrome comportamental por ser definida com base nos padrões de comportamento exibidos (Dunlap, Pierce & Kay, 1999). Estes autores esclarecem ainda que, o autismo não é uma doença, nem tão pouco é contagioso, não havendo indícios de que se adquira através do contato com o meio. 3.1 Conceito Autismo é um distúrbio do desenvolvimento que se caracteriza por alterações presentes desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três 15 anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do desenvolvimento humano como as áreas de comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação. É muito difícil imaginar estes desvios juntos. O autismo não é uma doença, e sim uma condição neurológica, marcada por dificuldades no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e no comportamento social. Classificação na CID F84.0 Autismo infantil Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos, e b) apresentando uma perturbação característica do funci onamento em cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (auto-agressividade). Inclui: autismo infantil, psicose infantil, síndrome de Kanner, transtorno autístico. Exclui: psicopatia autista (F84.5) F84.1 Autismo atípico Transtorno global do desenvolvimento, ocorrendo após a idade de três anos ou que não responde a todos os três grupos de critérios diagnósticos do autismo infantil. Esta categoria deve ser utilizada para 16 classificar um desenvolvimento anormal ou alterado, aparecendo após a idade de três anos, e não apresentando manifestações patológicas suficientes em um ou dois dos três domínios psicopatológicos (interações sociais recíprocas, comunicação, comportamentos limitados, estereotipados ou repetitivos) implicados no autismo infantil; existem sempre anomalias características em um ou em vários destes domínios. O autismo atípico ocorre habitualmente em crianças que apresentam um retardo mental profundo ou um transtorno específico grave do desenvolvimento de linguagem do tipo receptivo. Inclui: psicose infantil atípica, retardo mental com características autísticas (usar código adicional (F70- F79), se necessário, para identificar o retardo mental). 3.2 Causas As causas do autismo são desconhecidas. Acredita-se que a origem do autismo esteja em anormalidades em alguma parte do cérebro ainda não definida de forma conclusiva e, provavelmente, de origem genética. Além disso, admite-se que possa ser causado por problemas relacionados a fatos ocorridos durante a gestação ou no momento do parto. A hipótese de uma origem relacionada à frieza ou rejeição materna já foi descartada, relegada à categoria de mito há décadas. Porém, a despeito de todos os indícios e da retratação pública dos primeiros defensores desta teoria, persistem adeptos desta corrente que ainda a defendem ou defendem teorias aparentemente diferentes, mas derivadas desta. Já que as causas não são totalmente conhecidas, o que pode ser recomendado em termos de prevenção do autismo são os cuidados gerais a todas as gestantes, especialmente cuidados com ingestão de produtos químicos, tais como remédios, álcool ou fumo. 17 3.3 Diagnóstico O diagnóstico de autismo seja feito por um profissional com formação em medicina e experiência clínica de vários anos diagnosticando essa síndrome. O diagnóstico de autismo é feito basicamente através da avaliação do quadro clínico. Não existem testes laboratoriais específicos para a detecção do autismo. Por isso, diz-se que o autismo não apresenta um marcador biológico. Normalmente, o médico solicita exames para investigar condições (possíveis doenças) que têm causas identificáveis e podem apresentar um quadro de autismo infantil, como a síndrome do X-frágil, fenilcetonúria ou esclerose tuberosa. É importante notar, contudo,que nenhuma das condições apresenta os sintomas de autismo infantil em todas as suas ocorrências. Portanto, embora às vezes surjam indícios bastante fortes de autismo por volta dos dezoito meses, raramente o diagnóstico é conclusivo antes dos vinte e quatro meses, e a idade média mais frequente é superior aos trinta meses. Para melhor instrumentalizar e uniformizar o diagnóstico, foram criadas escalas, critérios e questionários. O diagnóstico precoce é importante para poder iniciar a intervenção educacional especializada o mais rapidamente possível. 18 3.4 Indicadores da Presença do TEA Comportamentos incomuns não são bons preditores de TEA, porque várias crianças com TEA não os apresentam e, quando o fazem, costumam demonstrá-los mais tardiamente. Em alguns casos, são observados comportamentos atípicos, repeti ti vos e estereotipados severos, indicando a necessidade de encaminhamento para avaliação diagnóstica de TEA, como descritos abaixo: 3.4.1 Motores • movimentos motores estereotipados: flapping de mãos; “espremer-se”; correr de um lado para o outro; dentre outros; • ações atípicas repetitivas: alinhar/empilhar brinquedos de forma rígida; observar objetos aproximando-se muito deles; prestar atenção exagerada a certos detalhes de um brinquedo; demonstrar obsessão por determinados objetos em movimento (ventiladores, máquinas de lavar roupas etc.). • dificuldade de se aninhar no colo dos cuidadores ou extrema passividade no contato corporal; extrema sensibilidade em momentos de desconforto (ex.: dor); • dissimetrias na motricidade, tais como: maior movimentação dos membros de um lado do corpo; dificuldades de rolamento na idade esperada; movimentos corporais em bloco e não suaves e distribuídos pelo eixo corporal; difi culdade, assimetria ou exagero em retornar membros superiores à linha média; dificuldade de virar o pescoço e a cabeça na direção de quem chama a criança. 3.4.2 Sensoriais • hábito de cheirar e/ou lamber objetos; • sensibilidade exagerada a determinados sons (liquidificador, secador de cabelos, etc.), reagindo de forma exagerada e eles; 19 • insistência visual em objetos que têm luzes que piscam e/ou emitem barulhos, bem como nas partes que giram (ventiladores, máquinas, etc.); • insistência tátil: podem permanecer por muito tempo passando a mão sobre uma determinada textura. Rotinas • tendência a rotinas ritualizadas e rígidas; • dificuldade importante na modificação da alimentação. Algumas crianças, por exemplo, só bebem algo se uti lizarem sempre o mesmo copo; outras, para se alimentarem, exigem que os alimentos estejam dispostos no prato sempre da mesma forma. Sentar- se sempre no mesmo lugar; assisti r apenas a um mesmo DVD; e colocar as coisas sempre no mesmo lugar. Qualquer mudança de rotina pode desencadear acentuadas crises de choro, grito ou intensa manifestação de desagrado. 3.4.3 Fala • repetem palavras que acabaram de ouvir (ecolalia imediata). Outras podem emiti r falas ou “slogans/vinhetas” que ouviram na televisão, sem senti do contextual (ecolalia tardia). Pela repetição da fala do outro, não operam a modificação no uso de pronomes; 20 • podem apresentar características peculiares na entonação e no volume da voz; • a perda de habilidades previamente adquiridas deve ser sempre encarada como sinal de importância. Algumas crianças com TEA deixam de falar e perdem certas habilidades sociais já adquiridas por volta dos 12-24 meses. A perda pode ser gradual ou aparentemente súbita. Caso isso seja observado em uma criança, ao lado de outros possíveis sinais, a hipótese de um TEA deve ser aventada, sem, no entanto, excluir outras possibilidades diagnósticas (por exemplo, doenças progressivas). 3.4.4 Expressividade • expressividade emocional menos frequente e mais limitada; • dificuldade de encontrar formas de expressar as diferentes preferências e vontades, e de responder às tentativas dos adultos em compreendê-las (quando a busca de compreensão está presente na atitude dos adultos) 3.5 Diretrizes Diagnósticas dos TEA Toda pessoa com suspeita de apresentar um dos TEA deve ser encaminhada para avaliação diagnóstica. O diagnóstico é essencialmente clínico e, nesse senti do, não deve prescindir da participação do médico especialista (psiquiatra e/ou neurologista), acompanhado de equipe interdisciplinar capacitada para reconhecer clinicamente tais transtornos. A equipe deverá contar com, no mínimo: médico psiquiatra ou neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo. Cada profissional, dentro de sua área, fará sua observação clínica. Segue abaixo, um modelo sintético de aspectos a serem investigado pelas equipes, proposto por BOSA (1998) e ampliada por FERNANDES (2000); PERISSINOTO (2004) e MARQUES (2010), e que pode orientar os profissionais da saúde. 21 3.5.1 Entrevista com os Pais ou Cuidadores Além dos dados que já constam no prontuário é importante registrar os tipos de atendimentos (data de início, frequência, etc.) e obter informações sobre: • História de problemas de desenvolvimento dos pais, irmãos e outros familiares (desenvolvimento físico, problemas emocionais, problemas de aprendizagem na escola – leitura/ escrita) e se houve necessidade de tratamento. • Quando surgiram os primeiros sintomas e em que área do desenvolvimento. • Problemas no sono (dificuldades para conciliar o sono ou sono agitado; medos) e na alimentação (mastigação; apetite ausente ou excessivamente voraz); particularidades em relação à comida (exigências sobre certos tipos de comida; temperatura da comida; etc.) de forma rígida. • Problemas na conduta: agressividade, hiperatividade, comportamento destrutivo, autoagressão. • Registrar tipos de atendimentos (data de início, frequência, etc.) 3.5.2 Observação Direta do Comportamento Atenção Compartilhada • Observar se tenta dirigir a atenção do examinador para brinquedos/eventos de interesse próprio, de forma espontânea. Pode ser manifestado por meio de gestos (mostrar, apontar, trazer objetos para o parceiro) e/ou verbalizações (comentários sobre as propriedades físicas dos objetos/eventos; perguntas para esclarecimento de dúvidas ou obtenção de informação em relação a estes objetos/eventos, por curiosidade). No caso desse comportamento estar presente, deve-se considerar o comportamento coordenado com o olhar. Além disso, observar se o comportamento de atenção compartilhada aparece em uma variedade de situações ou somente em atividades repetitivas (estereotipadas). • Observar também se segue os gestos indicativos de outras pessoas: olha para onde estes estão olhando, etc. 22 Não inclui fazer gestos ou falar para pedir ajuda (para alcançar ou fazer funcionar um brinquedo, etc.). Busca de Assistência • Neste item deve-se considerar se utiliza gestos (mostrar, apontar, trazer objetos para o examinador) com a finalidade de buscar assistência (ex.: abrir a tampa de uma caixa, fazer funcionar um brinquedo) e, ainda, se são coordenados com o olhar. Responsividade Social • Observar a aceitação/receptividade das iniciativas do examinador (ex.: convites, propostas) para engajá-la em brincadeiras, bem como a frequência em que o comportamento aparece. • Imitação motora ou “social” estão presentes? • Observar se reproduz os gestos ou atividades iniciadas pelo examinador e com que frequência isso ocorre; se canta ou dança. Sorriso • Neste item deve-se observar se apresenta sorriso dirigido ao outro e com motivo aparente; se a direção do sorriso é difusa e sem motivo identificável, ou se não sorri. Considerar também se o sorriso é acompanhado pelo olhar e adequado ao contexto social. Outras Expressões Afetivas Identificáveis pelo Observador • Observar a gama de expressões faciais afetivas (ex.: alegria,tristeza, frustração, acanhamento, surpresa, medo) manifestadas durante a avaliação. Considerar se estas expressões seriam esperadas em uma determinada situação (ex.: mediante um brinquedo que não funciona como gostaria, se expressa frustração) ou se se apresentam “desorganizadas” (ex.: chora ou grita sem motivo aparente, não direcionado a alguém em particular). Linguagem • Qual é o meio de comunicação prioritário e suas características? Fala? Gestos? Sons? 23 • Refere-se à linguagem mediada por diferentes recursos (exclusivos ou complementares) como sons, gestos, palavras, frases, leitura/escrita ou uso de figuras, a fim de iniciar e/ou manter um diálogo; comentar e/ou relatar e narrar eventos; ponderar e argumentar frente às situações e os diversos interlocutores. Responde à fala da outra pessoa? Precisa de apoio para a resposta? Qual(is)? • Inicia um diálogo? Para que? o Refere-se à habilidade em demandar a atenção da outra pessoa e pode ser realizada para chamar a atenção para um objeto e/ou evento; pedir um objeto ou ação (ex.: pegar algo, abrir porta, etc.). Observar se sua expressão depende sempre da iniciativa da outra pessoa. • Mantém o mesmo foco em um assunto? o Refere-se à seleção de seu foco de interesse e da habilidade de ampliar a maneira de aborda-lo, a partir da participação da outra pessoa. Ao abordar seu foco de interesse, sua expressão mostra coerência? • Partilha do assunto proposto pela outra pessoa? Precisa de ajuda para dirigir sua atenção/interesse e mantê-la? o Refere-se à habilidade de partilhar o que a outra pessoa apresenta, isto é, se participa do tema com pergunta ou comentário sobre o objeto ou evento apresentado pela outra pessoa. Observe se considera as justificativas uti lizadas pela outra pessoa, isto, é, se considera o ponto de vista do interlocutor ou personagem de estória. Relata ou narra fatos ou histórias? Qual a participação da outra pessoa? o Refere-se à habilidade de fazer relatos/narrativas de fatos e/ou de situações imaginárias. Observar se depende exclusivamente da participação direcionadora da outra pessoa (ex.: perguntas, repetições, retomadas). • Expõe sua opinião? Usa elementos de justificativa? o Refere-se ao uso da linguagem para explicar e/ ou mudar sua opinião e argumentar sobre um ponto de vista. E, também, às habilidades de expressar seus pontos de vista acerca das situações, e de mostrar tentativas de explicação para eventos ou atitudes (ex.: causas físicas ou intenções das pessoas). Observar se depende exclusivamente da participação direcionadora (perguntas, repeti ções, retomadas). • Há variabilidade da melodia de fala? 24 o Refere-se à melodia de fala (prosódia) como fator comunicativo. Isto é, considere se a prosódia de fala da pessoa com suspeita de TEA carrega informação (ex.: expressão de pergunta, de resposta, negação, exclamação, etc.), também, se a carga comunicativa da variação melódica da outra pessoa é motivadora da atenção da pessoa com TEA. Relata ou narra fatos ou histórias? Qual a participação da outra pessoa? o Refere-se à habilidade de fazer relatos/narrativa de fatos e/ou de situações imaginárias. Observar se depende exclusivamente da participação direcionadora da outra pessoa (ex.: perguntas, repetições, retomadas). • Expõe sua opinião? Usa elementos de justificativa? o Refere-se ao uso da linguagem para explicar e ou mudar sua opinião e argumentar sobre um ponto de vista. E, também, às habilidades de expressar seus pontos de vista acerca das situações, e de mostrar tentativas de explicação para eventos ou atitudes (ex.: causas físicas ou intenções das pessoas). Observar se depende exclusivamente da participação direcionadora (perguntas, repetições, retomadas). • Há variabilidade da melodia de fala? o Refere-se à melodia de fala (prosódia) como fator comunicativo. Isto é, considere se a prosódia de fala da pessoa com suspeita de TEA carrega informação (ex.: expressão de pergunta, de resposta, negação, exclamação, etc.), também, se a carga comunicativa da variação melódica da outra pessoa é motivadora da atenção da pessoa com TEA. 3.6 Tratamento Abordagens em equipe, com plano terapêutico singular. Não há uma abordagem única e insubstituível a ser privilegiada no atendimento de pessoas com transtornos do espectro do autismo. Os técnicos podem escolher entre várias abordagens existentes, considerando, caso a caso, sua efetividade e segurança. Em especial deve-se levar em conta a singularidade de cada caso. Um plano terapêutico singular precisará ser construído, para cada usuário, à medida que ele vai se tornando conhecido da equipe multidisciplinar. O .plano terapêutico visa entender os modos de funcionamento do sujeito, das relações que ele estabelece e os impasses decorrentes. Parte do contexto real 25 do o sujeito, das rotinas que estabelece, de seu cotidiano, do que elege, o que evita. Leva em conta a escuta da família e de outros atores importantes. Visa criar recursos e alternativas para que se ampliem os laços sociais, suas possibilidades de circulação, e seus modos de estar na vida; ampliar suas formas de se expressar e se comunicar, favorecendo a inserção em contextos diversos. Todo projeto terapêutico singular para a pessoa com transtorno do espectro do autismo precisa ser construído com a família e a própria pessoa. Deve envolver uma equipe multiprofissional e estar aberto às proposições que venham a melhorar sua qualidade de vida. No atendimento cotidiano os profissionais geralmente se valem de tratamento clínico de base psicanalítica, de análise do comportamento aplicada, conhecida como ABA, de comunicação suplementar e alternativa (CSA), de integração sensorial, do método de tratamento e educação para crianças com transtornos do espectro do autismo (TEACCH). O método Lovaas, conhecido como Early Intensive Behavioral Intervention (EIBI) ou Intervenção Comportamental Precoce Intensiva, para crianças pequenas, vem sendo estudado e testado quanto às suas aplicações em diversos contextos. É um método norte-americano complexo, que impõe formação, de difícil acesso, aos profissionais que porventura queiram aprender a utilizá-lo. Procedimentos comportamentalistas, de cunho skinneriano, podem ser utilizadas para trabalhar não só comportamentos, mas também a linguagem, pois o autismo gera sistemática aplicação de: (a) reforço do comportamento verbal de mando vocal aversivo (chorar ou gritar, ou outros comportamentos de evitação que podem ser incompatíveis com a aquisição de comportamentos verbais apropriados para a idade); (b) reforço do comportamento verbal de mando gesticulatório e outras formas de mandos não-vocais; (c) antecipação de necessidades da criança e consequente reforçamento de um repertório não-responsivo que impede o fortalecimento de mandos vocais e não-vocais; (d) extinção de comportamentos verbais; (e) Interação entre fatores orgânicos, ou presumidamente orgânicos, e fatores comportamentais; (f) não-supressão de comportamentos disruptivos e insuficiência em estabelecer controle instrucional verbal inicial. Os acompanhantes terapêuticos, 26 voluntários ou contratados pela família, podem ter papel social importantes em alguns casos. Há estudos em andamento no sentido de se utilizar aparelhos de alta tecnologia, como jogos e aplicativos para uso em notebooks, tablets, e até aparelhos celulares, voltados especificamente para o desenvolvimento educacional e sócio relacional de pessoas com TEA. 3.6.1 Treinamento e Educação dos Pais O treinamento dos pais pode ser especialmente benéfico para o progresso das crianças com SA/HFA. Se os cuidadores, como pais, avós, irmãos, babás, etc. estiverem plenamente conscientes e entenderem os pontos fortes e déficits da criança, eles serão capazes de incorporar aspectos dasopções de tratamento bem sucedidos, como o treinamento das habilidades sociais na vida familiar da criança. A maioria das crianças com SA são apresentadas a habilidades sociais e treinamento comportamental, o mais provável é que elas melhorarem seus comportamentos. Pais e outros cuidadores podem aprender como efetivamente implementar mecanismos de tratamento na vida cotidiana da criança O tratamento torna-se então consistente e de rotina para as crianças com SA. 27 3.6.2 Treinamento das habilidades sociais e Fonoaudiologia Crianças com síndrome de Asperger/HFA podem expandir e melhorar suas habilidades sociais através de treinamento e terapia. Embora as crianças com SA possam ter uma forte habilidade linguística, é importante que elas aprendam como expressar seus pensamentos e sentimentos de forma apropriada. Sua capacidade de interação com outras pessoas pode ser melhorada com muita prática e ensino explícito. Terapeutas muitas vezes ensinam habilidades sociais para crianças com SA/HFA utilizando técnicas visuais, como histórias sociais, ou exercícios que envolvem as crianças em diversas situações sociais. Os grupos de habilidades sociais têm-se revelado muito benéfico para as crianças com SA em ensiná-las a interagir com seus colegas. Fonoaudiologia também pode ajudar estas crianças a comunicarem-se melhor. Esta terapia poderia corrigir métodos inadequados de falar como a monotonia e ajudar as crianças a compreender e interpretar melhor os sinais de comunicação dos outros, como humor, contato visual e gesticulações com as mãos. 3.6.7 Terapia Comportamental Cognitiva A Terapia Comportamental Cognitiva (TCC) é usada principalmente para ajudar as pessoas com SA a regular suas emoções, desenvolver controle de impulso, e consequentemente melhorar seu comportamento. Além disso, alguns indivíduos com SA/HFA lutam com o medo e a ansiedade e podem tornar-se deprimidos. A terapia comportamental cognitiva tem se mostrado útil para reduzir sentimentos de ansiedade e depressão e reações, promovendo mudanças em pensamentos e percepções de situações devido a uma mudança na cognição Um elemento essencial da TCC, que a distingue de terapia de comportamento regular está funcionando nessa mudança na cognição, ou como o pensamento é processado. Terapeutas procuram reduzir comportamentos desafiadores, como interrupções, obsessões, colapsos ou explosões de raiva, ao mesmo tempo, ensinando as pessoas como se familiarizar e administrar certos sentimentos que possam surgir. A terapia comportamental cognitiva pode ser individualizada para cada paciente e consequentemente, é muito eficaz em melhorar comportamentos muito específicos e desafios em cada criança ou 28 adulto jovem. Estabilizar as emoções e melhorar o comportamento permite que os portadores da SA se prepararem e respondam mais convenientemente em situações específicas. 3.6.8 Análise Comportamental Aplicada (ABA) Desde o início da década de 1960, Análise Comportamental Aplicada, ou ABA, tem sido usada por centenas de terapeutas para ensinar comunicação, brincadeiras, habilidades sociais, habilidades acadêmicas, cuidados pessoais, habilidades para o trabalho e habilidades da vida em comunidade e para reduzir os comportamentos problemáticos em alunos com autismo. Há agora uma grande quantidade de literatura de pesquisa que demonstra que a ABA é eficaz para melhorar os resultados das crianças, especialmente as suas habilidades cognitivas linguísticas. Ao longo das últimas décadas, surgiram diferentes modelos de terapia que utilizam a ABA, e todos usam a técnica comportamental. Todos eles usam estratégias baseadas no trabalho de B.F. Skinner. O método ABA normalmente é difícil de entender até que você o veja em ação. Pode ser útil começar descrevendo o que todos os métodos diferentes da ABA têm em comum. O método ABA usa o seguinte processo de três etapas para ensinar: • Um antecedente, que é um estímulo verbal ou físico, como uma ordem ou um pedido. Isto pode vir do ambiente ou de outra pessoa, ou estar incluído no assunto; • Um comportamento resultante, que é a reação ou falta de reação do sujeito (neste caso, da criança); • E uma consequência, que depende do comportamento. A consequência pode incluir reforço positivo ao comportamento desejado, ou nenhuma resposta para a reação incorreta. ABA visa à aprendizagem de 29 habilidades e a redução de comportamentos desafiadores. A maioria dos programas da ABA é altamente estruturada. Comportamentos e habilidades específicas baseiam-se em um currículo estabelecido. Cada habilidade é dividida em pequenas etapas, e ensinada utilizando-se comandos, que são gradualmente eliminados conforme as etapas são vencidas. Cada vez que a criança atinge o resultado desejado, ela recebe um reforço positivo, como um elogio verbal ou algo que seja altamente motivador para a criança. Os programas de ABA muitas vezes incluem apoio para a criança no ambiente escolar, com um assistente individual para direcionar a transferência sistêmica de habilidades, para um ambiente escolar normal. As habilidades são divididas em partes manejáveis e construídas gradualmente, para que a criança aprenda a aprender em um ambiente natural. Facilitar as brincadeiras com os coleguinhas muitas vezes é parte da intervenção. O sucesso é medido por observação direta, coleta e análise de dados – todos componentes essenciais da ABA. Se a criança não estiver progredindo satisfatorimente, são realizados alguns ajustes. 3.6.9 Integração Sensorial / Terapia Ocupacional Muitas crianças com SA/HFA têm problemas com habilidades motoras ou problemas com os seus sentidos. Na terapia de integração sensorial, terapeutas ocupacionais trabalham para estabilizar os sentidos e reações aos estímulos externos da criança. Esta terapia pode ajudar as crianças tornarem-se independentes e, dessa forma, pode reduzir a falta de jeito, instabilidade e o controle do movimento do olho com o moimento da mão de forma coordenada. A terapia de integração sensorial também pode reduzir a ansiedade em crianças com SA/HFA, melhorando suas respostas para determinados sons ou toques. Quando as crianças têm melhor controle dos seus sentidos, elas são mais capazes de controlar seus movimentos, timbre e emoções. Isto leva a diminuição do desajeitamento e aperfeiçoamento das habilidades sociais. 3.6.10 Medicação Nenhum medicamento trata especificamente a Síndrome de Asperger. No entanto, algumas crianças com SA apresentam sintomas que podem ser controlados com medicação: depressão, ansiedade, déficit de atenção ou hiperatividade. Embora os sintomas da Síndrome de Asperger só possa ser 30 melhorado através de tratamentos e intervenções, é importante também avaliar e tratar as condições associadas como depressão, ansiedade, e problemas de atenção, como esses sintomas podem muitas vezes ser mais debilitantes do que a SA/HFA propriamente dita. 5.SINDROME DE RETT Descrita pela primeira vez pelo médico austríaco Andreas Rett em 1966. Doença neurológica que acomete principalmente crianças do sexo feminino. Caracteriza-se pela perda progressiva das funções neurológicas e motoras após um período de desenvolvimento aparentemente normal nos primeiros meses de vida. Dos seis a dezoito meses, há uma estagnação do desenvolvimento e a criança perde gradativamente as habilidades até então adquiridas. Prevalência: 1:10.000 e 1: 15.000 em meninas. Quadro genético apresentando mutações no gene MECP2 no cromossomo X (SCHWARTZMAN, 2003). 5.1 Causas Costumava-se considerar que a Síndrome de Rett era uma desordem dominante ligada ao cromossoma X, em que cada caso representaria uma mutação, sendo letal no sexo masculino. Foram observados casos nos quais 31 meninos, irmãos de meninas com a Síndromede Rett, nasciam com uma doença encefalopática com óbito precoce. A causa para a Síndrome de Rett teve sua explicação bem recentemente, quando o gene que origina a síndrome foi descoberto e anunciado por Amir (1999), nos EUA. O gene dominante, ligado ao cromossoma X da origem a uma nova mutação resultando na Síndrome de Rett. O cromossoma X é de origem paterna, ou seja, está presente apenas nas células germinativas masculinas, os espermatozoides, e apenas no gameta que fecundou um determinado óvulo em uma dada gestação. Esta mutação não se repete e apesar de ser genética a Síndrome de Rett não é hereditária. As meninas são as mais atingidas, raros os casos de meninos. As meninas com cariótipo 46XX herdam um cromossoma X do pai que transmite a nova mutação do X e, só afeta às filhas, porque os filhos herdam do pai o cromossoma Y que é o definidor do sexo masculino. Em 1998, foi descrito ocaso de um menino que, na época, tinha dois anos e nove meses de idade, apresentando fenótipo integral da Síndrome de Rett. Esse menino com cariótipo XXY, caracterizando uma associação da Síndrome de Klinefelter com a Síndrome de Rett. Probabilidade de ocorrência da ordem de uma para dez a quinze milhões de nascimentos. A Síndrome de Klinefelter se distingue pelo menino apresentar características femininas tais como: ginecomastia, atrofia testicular e ausência de formação de espermatozoides. 32 5.2 Estágios da Síndrome de Rett Estagnação Precoce: entre os seis e os dezoito meses e se caracteriza pela estagnação no desenvolvimento da criança. Há a desaceleração no crescimento do perímetro encefálico e a redução na interação com as pessoas. Duração: meses. Rapidamente destrutivo: como o nome sugere, há uma rápida regressão no desenvolvimento, sendo que esse estágio ocorre entre um e três anos de idade. Choro imotivado e períodos de extrema irritabilidade, comportamento tipo autista, perda da fala e aparecimento dos movimentos estereotipados das mãos Duração:semanas/meses. Pseudo-Estacionário: ocorre entre os dois e os dez anos de idade. Esse estágio é marcado pela melhora de alguns sintomas da síndrome, como, por exemplo, a interação social. Duração: meses/anos. Deterioração motora tardia: esse último estágio tem início por volta dos dez anos de idade. Presença de escoliose e deficiência mental. Poderá durar anos. Formas atípicas O S.R. clássico ou típico, representa 80% dos casos dentro de um espectro clínico mais amplo, também inclui formas atípicas ou variantes fenótipas (20% restantes). As crianças com características de S.R. e que não preenchem todos os critérios de inclusão para o S.R. clássico são, desta forma casos atípicos. Estes incluem casos de S.R na forma frustrada e menos graves, de meninas que mantêm certo uso das mãos, com menos estereotipias fragmentares ou ausentes, com possibilidade de reter uso da linguagem (por frases gramaticais, frases de duas palavras ou palavras isoladas), chamada variante da forma frustra com linguagem preservada, e sinais adicionais de envolvimento motor central (espasticidade, distonias, escoliose), ou periférico (distúrbios vaso motores e tróficos de extremidades, pés pequenos e frios) observáveis próximo à puberdade (a partir dos dez anos), época em que um diagnóstico do S.R. na forma frustra, pode ser realizado com maior precisão. Esta variante representa cerca de10% ou mais dos casos de S.R. A segunda variante mais comum tem início precoce de epilepsia. No S.R. em geral as manifestações epilépticas, entre 50% a 80% de todos os casos, incidem nas 33 idades médias dos três a quatro anos e meio. Mas em cerca de 6,5% de todos os casos ocorre epilepsia como início do quadro clínico no primeiro ano de vida. Nestas idades precoces as crises (em geral espasmos infantis) inauguram ou precedem em meses um futuro quadro de S.R. Uma outra variante do S.R. é a chamada S.R. congénita e foi descrita para caracterizar casos com desenvolvimento psico-motor muito retardado desde o início, hipotonia e microcefalia congénita e com características do S.R. bem claras a partir de um ano e meio. Finalmente, uma variante tardia, do S.R. com período regressional tardio após os três anos de idade, alguns até com quatro, cinco e seis anos. 5.3 Diagnóstico Avaliação clínica Exame genético O diagnóstico da síndrome de Rett é clínico, observando os sinais e sintomas durante o crescimento e desenvolvimento inicial da criança. É necessária a avaliação contínua do estado físico e neurológico da criança. Exames genéticos para a mutação do MECP2 no cromossomo X (Xq28) são utilizados para complementar o diagnóstico clínico. O National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS) fornece as diretrizes (guidelines) utilizadas para confirmar o diagnóstico clínico da síndrome de Rett. Essas diretrizes dividem os critérios do diagnóstico clínico em principal, de suporte e de exclusão. Os critérios diagnósticos principais incluem perda da totalidade ou parte das habilidades manuais voluntárias, movimentos manais repetitivos (como torcer ou comprimir, entrelaçar ou friccionar as mãos), perda da totalidade ou parte da linguagem falada e anormalidades da marcha, incluindo andar nas pontas dos pés ou marcha instável com a base alargada e pernas rígidas. Os critérios diagnósticos de suporte não são necessários para o diagnóstico da síndrome de Rett, mas podem ocorrer em algumas crianças. Uma criança com critérios de suporte, mas nenhum dos critérios principais, não tem síndrome de Rett. Os critérios de suporte incluem escoliose, ranger de dentes, padrões de sono anormais, mãos e pés pequenos em relação à altura, mãos e 34 pés frios, tônus muscular anormal, comunicação visual intensa, rir ou gritar inapropriado e diminuição da resposta à dor. Os critérios diagnósticos de exclusão incluem a presença de outros distúrbios que causam sintomas semelhantes, incluindo traumatismo cranioencefálico, desenvolvimento psicomotor excessivamente anormal durante os primeiros 6 meses de vida e infecção grave que causa problemas neurológicos. 5.4.Prognóstico A síndrome de Rett é rara, assim há pouca informação sobre o prognóstico a longo prazo e expectativa de vida além de aproximadamente 40 anos de idade. Às vezes, anomalias cardíacas podem predispor as crianças com a síndrome de Rett à morte súbita, mas as crianças geralmente sobrevivem bem até a idade adulta, com apoio de uma equipe multidisciplinar abrangente. 5.5 Tratamento Tratamento dos sintomas Apoio de uma equipe multiprofissional Não há cura para a síndrome de Rett. O tratamento ideal da síndrome de Rett inclui uma abordagem multidisciplinar direcionada para os sinais e sintomas. Um programa de terapia ocupacional, fisioterapia e terapia de comunicação (com um fonoaudiólogo) deve ser fornecido para abordar as habilidades de autoajuda, como os deficits de alimentação e vestimenta, mobilidade limitada, dificuldade na deambulação e deficits de comunicação. Podem ser necessários fármacos para controlar as convulsões, disfunção respiratória ou dificuldades motoras. É necessária reavaliação regular para monitorar a progressão da escoliose e anormalidades cardíacas. Pode ser necessário suporte nutricional para ajudar as crianças afetadas a manter o peso. São necessários programas de educação especial e serviços sociais e de suporte. 35 REFERÊNCIAS https://drive.google.com/file/d/1AMT JGSr8zhW6FZEHv2zqkRN1b9XS0Z- /view(acesso em 13/02/2020) http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/ed_especial/tgd_ unid2.pdf(acesso 13/02/2020) https://www.saude.sc.gov.br/index.php/documentos/atencao- basica/saude-mental/protocolos-da-raps/9209-espectro-autista/file ( acesso 13/12/2020) Autismo : guia prático / Ana Maria S. Ros de Mello ; cola- 7.ed boração :Marialice de Castro Vatavuk. . __ 6.ed. __ São Paulo : AMA ; Brasília : CORDE, 2007 104 p. : il. 21cm. https://www.msdmanuals.com/pt- pt/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e- desenvolvimento/s%C3%ADndrome-de-rett(acesso 13/12/2020) BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Educação Básica. 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