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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA HORTÊNSIAS CURSO DE BACHARELADO EM GESTÃO AMBIENTAL SAMUEL PRESA RODRIGUES USO DOS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS SÃO FRANCISCO DE PAULA 2021 1 SAMUEL PRESA RODRIGUES USO DOS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Gestão Ambiental na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Maisonette Duarte SÃO FRANCISCO DE PAULA 2021 2 Catalogação de publicação na fonte (CIP) Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário da Uergs Marcelo Bresolin CRB 10/2136 R696u Rodrigues, Samuel Presa Uso dos princípios da agricultura sintrópica na recuperação de áreas degradadas/ Samuel Presa Rodrigues. – São Francisco de Paula, 2021. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Curso Superior de Bacharelado em Gestão Ambiental, Unidade em São Francisco de Paula, 2021. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Maisonette Duarte 1. Recuperação de Solos. 2. Serviços Ecossistêmicos. 3. Sintropia. 4. Monografia. I. Duarte, Marcelo Maisonette. II. Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Curso Superior de Bacharelado em Gestão Ambiental, Unidade em São Francisco de Paula, 2021. III. Título. 3 SAMUEL PRESA RODRIGUES USO DOS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Gestão Ambiental na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Maisonette Duarte Aprovado em: / / BANCA EXAMINADORA _____________________________________________________ Orientador - Dr. Marcelo Maisonette Duarte UERGS Hortênsias _____________________________________________________ Dr.ª Patrícia Binkowski UERGS Hortênsias _____________________________________________________ M.ª Patrícia Pereira Vaz Mutirão Agroflorestal-SP SÃO FRANCISCO DE PAULA 2021 4 A Arthur e Aurora, que intensificaram minha vontade de ser melhor e foram a minha força nos momentos mais difíceis e a Celina Knevitz por todo apoio e incentivo, dedico. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço imensamente a oportunidade de poder estudar em uma universidade pública, estadual, especializada e plural como a UERGS. Ter a oportunidade de aprender durante nove semestres com professores Doutores e Doutoras com largas experiências científicas e empíricas, com toda certeza fizeram e farão a diferença em minha carreira acadêmica, profissional e social, sou muito grato por isso. Também agradeço a todos que fizeram parte dessa jornada e de alguma maneira contribuíram para a minha formação, agradeço especialmente ao meu orientador Dr. Marcelo Maissonette Duarte, por toda liberdade e encaminhamentos durante o processo de construção deste trabalho, a Dr.ª Márcia Berreta, Dr.ª Patrícia Binkowski, Dr. Leonardo Beroldt, M.ª Patrícia Vaz e Dr.ª Adriana Lau por todo incentivo e parcerias durante essa graduação. 6 “Cada ser vivo nasce equipado para realizar suas tarefas e cumprir suas funções movidos pelo prazer interno, a cooperação mútua e o amor incondicional” Ernst Götsch RESUMO A degradação de ambientes naturais, principalmente florestas, tornou-se um grave problema ecossistêmico no mundo. Segundo a EMBRAPA (2016), estudos apontam que 30% dos solos no mundo estão degradados. Nessa perspectiva, os Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs) são ferramentas importantes da gestão ambiental, todavia, a grande dificuldade de acertos em sua implementação, além dos elevados custos, são fatores que contribuem para a falta de êxito na execução destes projetos. Nesse sentido novas metodologias para PRADs são importantes para o aumento do êxito destes. A Agricultura Sintrópica (AS) surge no final do século XX como uma alternativa ao modelo agrícola dominante, tendo como propulsor o pesquisador Suíço Ernst Götsch. Recentemente foram estabelecidos 15 princípios da AS, e esses dialogam com a ecologia, agroecologia, botânica, biologia, física, dentre outras ciências conhecidas. O presente trabalho visa analisar o referencial teórico sobre os princípios da AS e sua possível utilização na otimização de PRADs. Para essa finalidade usa abordagem qualitativa e narrativa dos princípios da AS na análise bibliográfica de artigos, teses e livros sobre o tema. Como resultado do estudo é apresentado os possíveis ganhos ambientais, sociais e econômicos da utilização destes princípios em PRADs. Bem como, a discussão sobre a possibilidade de utilizar áreas degradadas para reforma agrária. Conclui-se que a AS pode diminuir o tempo de transição entre o estado degradado e a floresta consolidada aproveitando a evolução temporal da recuperação para obtenção de alimentos e outros recursos. Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais. Recuperação de solos. Serviços ecossistêmicos. Sintropia. 1 ABSTRACT The degradation of natural environments, especially forests, has become a serious ecosystem problem in the world. According to EMBRAPA (2016), studies show that 30% of the world's soils are degraded. In this perspective, the Degraded Areas Recovery Plans (PRADs) are important tools for environmental management, however, the great difficulty in getting their implementation right, in addition to the high costs, are factors that contribute to the lack of success in the execution of these projects. In this sense, new methodologies for PRADs are important to increase their success. Syntropic Agriculture (AS) emerged at the end of the 20th century as an alternative to the dominant agricultural model, with the Swiss researcher Ernst Götsch as its driving force. Recently, 15 AS principles were established, and these dialogue with ecology, agroecology, botany, biology, physics, among other known sciences. This work aims to analyze the theoretical framework on the principles of AS and its possible use in the optimization of PRADs. For this purpose, it uses a qualitative approach and narratives of the principles of SA in the bibliographic analysis of articles, theses and books on the subject. As a result of the study, the possible environmental, social and economic gains from the use of these principles in PRADs are presented. As well as, the discussion about the possibility of using degraded areas for land reform. It is concluded that the AS can decrease the transition time between the degraded state and the consolidated forest, taking advantage of the temporal evolution of the recovery to obtain food and other resources. Keywords: Agroforestry Systems. Soil recovery. Ecosystem services. Syntropy. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................13 2. OBJETIVOS ........................................................................................................14 2.1 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................14 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................143. METODOLOGIA .................................................................................................15 4. REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................16 4.1 A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................16 4.1.1 Os custos ambientais, sociais e econômicos da degradação ambiental ........17 4.2 INSTRUMENTOS LEGAIS E REGULAMENTAÇÃO DO PRAD .......................18 4.2.1 Novas metodologias para a Recuperação de Áreas Degradadas ..................22 4.3 A AGRICULTURA SINTRÓPICA (AS) DE ERNST GÖTSCH ...........................23 4.3.1 Estudos científicos sobre a Agricultura Sintrópica ..........................................24 4.3.2 Entropia x Sintropia ........................................................................................26 5. OS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA .........................................30 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................36 6.1 A AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS .......................................................................................................36 6.2 ÁREAS DEGRADADAS, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E SEGURANÇA ALIMENTAR ............................................................................................................44 6.3 ÁREAS DEGRADADAS E REFORMA AGRÁRIA .............................................46 7. CONCLUSÕES ...................................................................................................48 REFERÊNCIAS .......................................................................................................50 PREÂMBULO Em 2018, tive a honra de participar do primeiro seminário sobre Agricultura Sintrópica (Construindo uma Linguagem Comum), realizado no Sítio Semente no Distrito Federal. Nessa oportunidade reconhecidos pesquisadores e aperfeiçoadores das técnicas agroflorestais estavam presente com a finalidade de dialogar sobre a construção dessa linguagem comum para esse modelo agrícola que agora, segundo o seu criador Ernst Götsch, passaria a se chamar Agricultura Sintrópica. Foram três dias de discussões, ponderações e as considerações de Ernst para com os seus “discípulos” sobre o porquê de Agricultura Sintrópica e quais as perspectivas futuras em torno disso. Saímos do simpósio confiantes e empolgados com as novas fundamentações para as práticas já empregadas pela maioria dos presentes e com a certeza que em breve nos seria apresentado um material elaborado pelo próprio Ernst, onde esse apresentaria os princípios que estruturam a Agricultura Sintrópica e suas ações. Foi então que em setembro de 2019 no mesmo Sítio Semente, onde também tive a honra de estar presente, nos foram apresentados os 15 princípios elaborados por Ernst que definiriam as bases para as ações e a compreensão desse modelo agrícola que ele próprio nomeou de Agricultura Sintrópica. 13 1. INTRODUÇÃO Existem muitos motivos pelo qual a academia, os governos e a sociedade devem olhar o meio ambiente, e principalmente a de gradação deste, com atenção. A degradação ambiental afeta as condições de vida dos indivíduos e comunidades de muitas maneiras. Isso, por sua vez, reflete em aumento de custos e sem dúvidas, apesar de afetar a todos, são os indivíduos e comunidades mais pobres os maiores prejudicados com a degradação ambiental. Nesse sentido, a fundamentação científica de novas metodologias para Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs) são de suma importância, tanto do ponto de vista ambiental, quanto social e econômico. O Gestor Ambiental, dentro das suas atribuições e formação multidisciplinar, pode construir projetos com a finalidade de integrar as demandas socioambientais às políticas públicas e ao cumprimento da legislação e dessa maneira contribuir para a resolução de conflitos. Os sistemas agroflorestais tem ganhado notoriedade dentro do cenário agrícola tanto no Brasil como no mundo, principalmente entre pequenas propriedades rurais, assentamentos da reforma agrária e agricultura familiar. Dentre diversas tecnologias Agroecológicas, tanto sociais como de inovação tecnológica, ou mesmo a fusão de ambas, a Agricultura Sintrópica (AS) destaca-se por ser uma agricultura baseada em processos que tendem a um maior aproveitamento energético e, com isso, uma maior quantidade de energia e vida consolidada dentro do sistema. A possibilidade de utilização dos princípios da AS em PRADs pode auxiliar no êxito desses projetos e diminuir o espaço temporal para o estabelecimento de composições florestais. Além, de permitir a produção de alimentos e outras fontes de recursos durante e após sua implementação. Problemas históricos no Brasil, como desmatamento, distribuição de renda, reforma agrária e justiça social parecem conectados entre si pelo contexto do ambiente enquanto espaço de vida e principal fonte de recursos para a subsistência humana. Por isso, a preservação do meio ambiente e a recuperação de áreas degradadas são importantes para a qualidade e manutenção da vida. 14 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Analisar o referencial teórico sobre os princípios da Agricultura Sintrópica de Ernest Götsch e sua possível utilização em Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Identificar a viabilidade do uso dos princípios da Agricultura Sintrópica na recuperação de solos e áreas florestais degradadas; b) Demonstrar teoricamente quais os ganhos econômicos, ambientais e sociais deste uso; c) Elaborar um modelo de uso desses princípios e discutir sobre seus possíveis resultados. 15 3. METODOLOGIA Ao analisar conteúdos como técnica de pesquisa e ao fazer-se tratamento de conteúdos expressos de uma comunicação é possível estabelecer estratégias de sistematização objetivas, sistemáticas e quantitativas (BERELSON, 1952). No entanto, a investigação qualitativa assume importante proposta em abordagens mais recentes, principalmente na análise de conteúdos de natureza dialética e etnográfica. Mesmo tendo sido uma fase de grande produtividade aquela em que esteve orientada pelo paradigma positivista, valorizando sobremodo a objetividade e a quantificação, esta metodologia de análise de dados está atingindo novas e mais desafiadoras possibilidades na medida em que se integra cada vez mais na exploração qualitativa de mensagens e informações. Neste sentido, ainda que eventualmente não com a denominação de análise de conteúdo, se insinua em trabalhos de natureza dialética, fenomenológica e etnográfica, além de outras. (MORAES, 1999, p.7). A revisão narrativa por não utilizar critérios explícitos e sistemáticos para a busca e análise crítica da literatura pode não aplicar estratégias de busca sofisticadas e exaustivas. Por isso, a seleção dos estudos e a interpretação das informações podem estar sujeitas à subjetividade dos autores (UNESP, 2015). Para Alves e Mazzotti (2002) a revisão de literatura ou revisão bibliográfica pode ter dois propósitos: a construção de uma contextualização para o problema e a análise das possibilidades presentes na literatura consultada para a concepção do referencial teórico da pesquisa (ALVES; MAZZOTTI, 2002). Esse tipo de produção permite que o material coletado pelo levantamento seja obtido em fontes científicas (artigos, teses, dissertações) e também fontes de divulgação de ideias (revistas, sites, vídeos, etc.) e a partir de sua análise, o pesquisador pode elaborar ensaios que favorecem a contextualização, problematização e uma primeira validação do quadro teórico a ser utilizado na investigação empreendida (UNESP, 2015). O presente trabalho usa uma revisão narrativa de artigos, teses, dissertações, livros e sites, bem como,à análise qualitativa de simpósios, vivencias e cursos no âmbito da Agricultura Sintrópica. 16 4. REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL A degradação de ambientes naturais, principalmente florestas, tornou-se um grave problema ecossistêmico no mundo. É evidente que a perda de florestas acelera os processos de degradação do planeta Terra, principalmente no que se refere a água, solo e biodiversidade. A perda de cobertura vegetal, principalmente as florestas nativas é alarmante e exige da academia, governos e sociedade uma postura empírica para as questões relacionadas ao meio ambiente. Desde o neolítico, quando o gênero Homo deixa de ter sua subsistência baseada na coleta e caça passando então a cultivar alimentos e domesticar animais para seu uso e consumo, estabelecendo então uma relação de uso e ocupação dos solos, a degradação dos ambientes naturais não parou de se intensificar. Essa nova postura da espécie H. sapiens levou os ecossistemas naturais a serem modificados intensamente por ações antrópicas. Isso, por sua vez, fez com que algumas espécies fossem retiradas do seu habitat para que outras fossem inseridas. Hoje, a agricultura em larga escala, a pecuária extensiva, aglomerações urbanas e as grandes plantas industriais, ocupam porções significativas do espaço terrestre e os modificam (PASINI, 2017). Esses mesmos espaços outrora eram ocupados por ecossistemas naturais biodiversos e ricos em recursos ecossistêmicos como ar e água potável de excelente qualidade. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) estudos apontam que 30% dos solos no mundo estão degradados (EMBRAPA, 2016). No Brasil, nas últimas décadas e mais acentuadamente nos últimos anos percebemos uma enorme pressão comercial e política sobre os espaços florestais nativos. Conforme o ex-diretor do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) Fernando Tatagiba (2012), estudos estimam que há 140 milhões de hectares de áreas degradadas no Brasil. O total de terras nessa situação no país corresponde a uma área superior a duas vezes o tamanho da França (AGÊNCIA BRASIL, 2012). Conter o avanço da destruição das florestas deveria ser uma prioridade mundial. A Europa Ocidental já perdeu 99,7% de suas florestas primárias; a Ásia, 94%. 17 África, 92%; Oceania, 78%; América do Norte, 66%; e América do Sul, 54% (GREENPEACE, 2007). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2000), no final da década de 1990, o Brasil ainda possuía aproximadamente 5,5 milhões de Km² (550 milhões de hectares) de florestas nativas, o que corresponde a 65% do território nacional. Desses, 2/3 eram de Floresta Amazônica e o restante correspondendo aos remanescentes de Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e ecossistemas associados, em diferentes estágios de conservação (BRAGA, 2006). De um total de, aproximadamente, 1,3 milhão de km² da Mata Atlântica primitiva, restam apenas cerca de 50 mil km², menos de 5% da área original. As áreas desmatadas da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica e do Cerrado somam 2,5 milhões de km² (250 milhões de hectares), quase 30% do território brasileiro, ou a soma das superfícies formadas pelos Estados das Regiões Nordeste e Sudeste. Os técnicos florestais estimam que o desmatamento, em todo o território é superior a 300 milhões de hectares de matas (IBAMA, 2010). Dados de 2020 do Sistema Deter, divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, entre os anos de 2019 e 2020, o equivalente a 1.100.000 campos de futebol foram desmatados somente no território brasileiro da Amazônia legal. O que significa um aumento de 34% em relação ao mesmo período do ano anterior (INPE, 2020). 4.1.1 Os custos ambientais, sociais e econômicos da degradação ambiental Por sua complexidade, abrangência e interconectividade, é demasiado difícil mensurar com precisão os custos ambientais, econômicos e sociais da degradação ambiental no Brasil e no mundo, todavia, é fácil evidenciar que a contaminação de águas, solos, ar e as perdas florestais impactam a sociedade e o ambiente das mais variadas formas. Sabe-se, por exemplo, que a poluição de cursos d’água pela falta de saneamento ou mesmo contaminações por agrotóxicos e resíduos industriais aumenta sobremaneira os custos com tratamento para a potabilidade das águas. Segundo Tundisi (2010) estima-se que o tratamento para produção de água potável custa de R$ 200,00 a R$ 300,00 reais por 1.000 m3 de água potável a partir de fontes degradadas. O custo para tratar águas pristinas e não contaminadas pode chegar, no máximo, a R$ 10,00 reais (TUNDISI, 2010). 18 Este é um exemplo, mas sabe-se que há outros custos muitas vezes não contabilizados como internações por doenças que se propagam pelas águas; horas de trabalho perdidas por doenças que têm sua origem em águas contaminadas; intoxicações por substâncias tóxicas ou mesmo problemas de saúde relacionados a falta de água que é um elemento essencial à vida. O aquecimento global também é oneroso haja vista os inúmeros problemas de saúde decorrentes, bem como, uma maior dificuldade e custo na produção de alimentos, o que causa elevados prejuízos sociais e ambientais, principalmente para os indivíduos em vulnerabilidade social. Dessa maneira um ambiente saudável certamente proporciona economia de recursos em questões relacionadas à saúde e bem estar (CUNHA; AUGUSTIN, 2014). Solos não degradados produzem alimentos mais saudáveis e com menos custos. Também a preservação da biodiversidade proporciona que serviços ecossistêmicos essenciais à vida possam acontecer permitindo que as condições de qualidade do ar, água e clima sejam favoráveis à existência humana e de outras espécies de vida. (THOMAZIELLO, 2016). Por outro lado, terras degradadas não produzem, ou têm elevados custos de produção necessitando de agroquímicos prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Certamente que modelos de produção sustentáveis acarretariam grande economia de recursos financeiros tanto privados quanto públicos o que beneficiaria a toda uma cadeia ambiental, social e econômica. Da mesma maneira o custo para recuperar uma área totalmente degradada é alto, dessa forma, conciliar a recuperação de áreas degradadas com produção de alimentos, madeiras e distribuição de renda remete a ganhos socioambientais. 4.2 INSTRUMENTOS LEGAIS E REGULAMENTAÇÃO DO PRAD Os PRADs são ferramentas importantes da gestão ambiental e instrumentos de ação para a reabilitação de áreas que por ações antrópicas tiveram suas funções ecológicas modificadas ou interrompidas. E por isso, são indispensáveis e cada vez mais necessários visto o grande número de áreas com significativas parcelas de solos, florestas e recursos degradados e consequentemente, impossibilitados de prestar serviços ecossistêmicos. 19 O Decreto-lei nº. 97.632/89 - Regulamentou a Lei nº. 6.938/81, e obriga que a área degradada seja recuperada como parte do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) também instituiu o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), que pode ser empregado de forma preventiva ou corretiva (MMA, 2013). A instrução normativa nº. 4, de 13 de abril de 2011 - estabelece procedimentos para elaboração de Projeto de Recuperação de Área Degradada ou Área Alterada. Esta instrução traz como anexos Termos de Referência e distingue dois tipos de PRAD (PRAD e PRAD simplificado), aplicados conforme cada caso especificado na norma. Na instrução, é determinado que “o PRAD deve reunir informações, diagnósticos, levantamentos e estudos que permitam a avaliação da degradação ou alteração e a consequente definição de medidas adequadas à recuperação da área”. Este dispositivo proposto pelo IBAMA orienta então como elaborar um PRAD para apresentação aos órgãos competentes (IBAMA, 2011). Apesar de sua importância, existemgrandes dificuldades na execução dos PRADs, e entre eles o alto custo de sua implementação e a perda de obtenção de recursos econômicos nessas áreas, o que por sua vez pode encontrar barreiras sociais e políticas principalmente em áreas onde a obtenção de renda está direta ou indiretamente ligada a essas parcelas de terra. Para Corrêa (2007), os Planos de Recuperação de Área Degradada executados em áreas de Cerrado podem custar até R$ 15.000,00 por hectare revegetado. Na Planilha de custos do Ministério do Meio Ambiente, para uma área em Goiás, o custo de recuperação de área degradada varia de R$57.048,85 a R$ 72.154,75 por hectare de área recuperada (MMA, 2013). Na Mata Atlântica o custo pode chegar a R$ 40.000 por hectare em área completamente degradada. (ALMEIDA et al., 2010). Já com a utilização de técnicas inovadoras, como uma desenvolvida pela EMBRAPA por exemplo, é possível um custo de R$ 1.250 por hectare recuperado (SANTOS & GOMES, 2012). Nesse sentido, a possibilidade de conciliar a recuperação de áreas degradadas e consequentemente serviços ecossistêmicos aliados a ganhos econômicos e sociais, acelerando o processo de transição entre o estado degradado e a terra fértil, tende a encontrar maior apoio social e político. As leis com a finalidade de organizar uma política nacional de meio ambiente e uma estrutura governamental no nível federal em relação aos assuntos ambientais têm início no ano de 1981, com a Lei Federal nº. 6938/81 que estabelece a Política 20 Nacional de Meio Ambiente e cria o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), estes foram posteriormente regulamentados pelo Decreto nº. 88.351 de 01 de junho de 1983. Nessa lei, fica definido como degradação ambiental qualquer alteração nas características e nos elementos que integram o meio ambiente (BRASIL, 1983). Em 1985 acontece um grande avanço no que diz respeito às ações relativas ao meio ambiente com a possibilidade da participação popular através da Lei Federal nº. 7.347/85, que prevê ação civil pública permitindo a defesa do meio ambiente na esfera jurídica e também cria instrumentos com a finalidade de viabilizar a recuperação de áreas degradadas. Foi criado também um fundo específico para este fim além de permitir a licitação para contratação de empresas para recuperação de áreas degradadas (BRASIL, 1985). Através da Resolução CONAMA nº. 001, de 23 de janeiro de 1986 as diretrizes gerais para o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), passou a exigir a realização prévia do EIA e RIMA para determinados empreendimentos sendo necessários diagnósticos e planejamento com o objetivo de minimização de impactos e mitigação de possíveis danos ambientais (BRASIL, 1986). Em 1988 a floresta atlântica passou a ser considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal e sua utilização ficou restrita à lei que prevê condições que assegurem a sua preservação, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. No entanto, a Lei nº. 11.428, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica foi estabelecida somente no ano de 2006. A Constituição Federal de 1988, no Artigo 225, consolida os instrumentos existentes e a partir dela temos a criação de novos instrumentos para a proteção ambiental como: ação popular, mandato de segurança e mandato de injunção, além de dar maior respaldo para os mecanismos já existentes. Nesta lei fica implícita a necessidade de reparação de danos ambientais mesmo com as sanções de multas sobre pessoa física e jurídica responsáveis pela degradação (BRASIL, 1988). No ano de 1989 com a regulamentação da Lei nº. 6.938/81, a recuperação de área degrada passa a ser obrigatória no Relatório de Impacto Ambiental e é instituído o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) que deve ser implementado de maneira corretiva ou preventiva. Já no ano de 1998 são atribuídas sanções penais e 21 administrativas para atividades que causem dano ambiental. No art. 23, II, o infrator é obrigado a recuperar o ambiente degradado. Essa lei ficou conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, permitindo processos penais para os crimes ambientais e prevendo penalidades como prestação de serviços comunitários, interdição de direitos, suspensão de atividades e recolhimento domiciliar, dentre outras penalidades. Também é criado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), formalizado pelo órgão ambiental através do Ministério Público obrigando o cumprimento das ações estipuladas no TAC (BRASIL, 1989; 1998). Em abril de 2000 cria-se o Programa Nacional de Florestas que tem por objetivo fomentar a recomposição e restauração de florestas enquadradas como áreas de preservação permanente (APP). Já em 2006 através da Resolução do CONAMA nº. 387/06, de 27 de dezembro, o licenciamento torna-se obrigatório para assentamentos rurais e prevê ações de recuperação de áreas degradadas através da elaboração de Plano de Recuperação de Assentamento, nesse plano é previsto a recuperação de áreas em APP e reserva legal (CONAMA, 2006). Ainda no ano de 2006 ficam estabelecidas as medidas compensatórias para casos de supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração, definindo que a área de recuperação seja equivalente à área do empreendimento e com as mesmas características ecológicas, dentro da mesma bacia hidrográfica e, se possível, dentro da mesma microbacia. Essa lei sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, Lei Federal nº. 11.428 de dezembro de 2006, também determina em seu art. 10, que o poder público fomentará o enriquecimento ecológico da vegetação do Bioma Mata Atlântica com plantio e reflorestamento de espécies nativas (MMA, 2006). Em abril de 2011 através de Instrução normativa, são estabelecidos procedimentos para elaboração de Projeto de Recuperação de Área Degradada – PRAD. Esta instrução cria os Termos de Referência e distingue os planos em PRAD e PRAD simplificado. Na instrução, é determinado que “o PRAD deve reunir informações, diagnósticos, levantamentos e estudos que permitam a avaliação da degradação ou alteração e a consequente definição de medidas adequadas à recuperação da área”. Este dispositivo foi proposto pelo IBAMA e orienta como devem ser elaborados os PRADs para apresentação aos órgãos competentes (IBAMA 2011). Ao avaliarmos as leis, instruções normativas e demais dispositivos legais para a recuperação de área degradada no Brasil, percebemos um conjunto estrutural bem 22 definido e apto a cumprir sua função de regulamentação, fiscalização e recuperação de áreas degradadas, no entanto, evidenciam-se grandes dificuldades em sua implementação e apesar das leis estima-se que o Brasil hoje tenha 140 milhões de hectares de áreas degradadas passíveis de recuperação (AGÊNCIA BRASIL 2012). Em projetos de mineração é exigido o Plano de Recuperação de Área Degradada para a obtenção da licença ambiental. Porém, estudos apontam que quase 90% dos PRAD apresentados durante os processos de licenciamento de jazidas no Distrito Federal, por exemplo, não foram executados após o fechamento das minas. Esse índice é uma amostra do que ocorre em outras regiões do Brasil, onde os PRADs não são executados ou executados de modo insatisfatório (LEITE; CASTRO, 2002). Na medida em que essas áreas degradadas deixam de ser viáveis do ponto de vista econômico, tornando o custo de produção demasiado alto, crescem as pressões comerciais e políticas sobre o território ainda preservado e fértil, o que por sua vez, faz com que biomas importantes como Pantanal, Cerrado, Amazônia e Pampa, tenham suas áreas nativas convertidas em pastagens e extensas monoculturas. 4.2.1 Novas metodologias para a Recuperação de Áreas Degradadas Diante do cenário de degradação ambiental, principalmenteem relação às composições florestais e recursos hídricos e, tendo conhecimento das graves consequências deste, faz-se necessário e urgente que áreas degradadas tenham suas funções ecológicas e sociais restabelecidas. Apesar de termos uma legislação pertinente e dispormos de técnicas para a recuperação destas áreas, ainda estamos longe de solucionar tal demanda. Questões relativas a custos, tempo e engajamento para tal finalidade são entraves para estes projetos. Em um universo de 140 milhões de hectares de áreas degradadas em solo brasileiro, é possível a partir de um passivo ambiental, criar oportunidades de crescimento econômico, segurança alimentar, justiça social e recuperação de composições florestais. A elaboração de políticas públicas nessa direção pode fomentar ações nesse sentido. A Agricultura Sintrópica ao proporcionar as técnicas necessárias para acelerar os processos ecológicos de recuperação de solos, através do consórcio de espécies 23 e técnicas de manejo, pode trazer grandes ganhos, uma vez que a eficácia destas técnicas já é tanto comprovada de maneira empírica, como estudadas pela academia em diversas áreas no Brasil. A criação de assentamentos com a finalidade de recuperar áreas degradadas ao mesmo tempo que pode fomentar uma reforma agrária em larga escala no país, também pode transformar milhares de hectares que hoje estão inférteis e são passivos ambientais em florestas produtivas. O apoio e incentivo à pesquisa científica na busca de inovações tecnológicas, bem como, o resgate e aprimoramento de tecnologias sociais voltadas a produção de alimentos e produtos oriundos de sistemas agroecológicos precisa de políticas públicas objetivas que venham ao encontro das necessidades ambientais e sociais em nível local, regional e federal. Como complementação da AS, temos também outros modelos de agriculturas ecológicas como: Agricultura Orgânica; Agricultura Biodinâmica; Agricultura Biológica; Agricultura Natural; Permacultura; Agricultura Alternativa; Agroecologia; Sistemas Agroflorestais (SAFs) e em todas essas alternativas os princípios da Agricultura Sintrópica podem ser utilizados. 4.3 A AGRICULTURA SINTRÓPICA (AS) DE ERNST GÖTSCH A Agricultura Sintrópica surge no final do século XX como uma alternativa ao modelo dominante de agricultura que se baseia em monoculturas com alto grau de impactos negativos oriundos das grandes áreas ocupadas, baixa ou inexistente diversidade biológica e uso excessivo de agrotóxicos e fertilizantes químicos. O pesquisador Suíço Ernst Götsch, que vive no Brasil desde a década de 1980, plantou cerca de 500 hectares de floresta em uma região extremamente degradada da mata Atlântica. Usando o espaço de sua propriedade como laboratório, Ernst passou décadas observando e sistematizando o comportamento e as interações micro e macroecológicas dos ecossistemas por ele elaborados e analisados (PENEIREIRO, 1999). Os resultados são surpreendentes e desde então suas técnicas são utilizadas por diversos agricultores no Brasil e no mundo. Essas técnicas recentemente foram organizadas em 15 princípios e esses dialogam com a ecologia, agroecologia, botânica, biologia, física, dentre outras ciências conhecidas. 24 Os resultados dos estudos destas técnicas de agricultura têm se mostrado animadores e hoje são embasados por diversos trabalhos acadêmicos tanto de graduação como pós-graduação. No entanto, as pesquisas relacionadas a esse sistema agrícola ainda estão longe de dialogar com todos os resultados empíricos de sua prática. Esses resultados positivos são observados em muitos centros de referências no Brasil e no mundo, onde milhares de pessoas têm contato com esta tecnologia através de cursos, simpósios e vivências. Dentre as muitas características desse modelo de agricultura destaca-se a sua capacidade em acelerar os processos energéticos otimizando a fotossíntese. Isso se dá pelo plantio adensado, pela estratificação planejada, e as podas de condução. Assim, o solo sempre tem cobertura vegetal em diversos níveis, desde as primeiras espécies aptas a se desenvolver em solos degradados até chegar a florestas estabelecidas em um processo constante de formação de serapilheira e adubação verde. Estudos comprovam o ganho de fertilidade em solos onde os princípios da Agricultura Sintrópica são empregados (REBELLO, 2018). Da mesma maneira, a otimização do processo de fotossíntese aproveita muito melhor a energia solar. 4.3.1 Estudos científicos sobre a Agricultura Sintrópica Se os estudos empíricos oferecem análises de grande valor didático para fenômenos ecológicos, ao mesmo, perde-se pela restrição de seu arcabouço investigativo. A impossibilidade de se mensurar simultaneamente as tantas contingências que influenciam determinado evento ecológico produz grandes lacunas contextuais e alimenta formulações de dicotomias científicas simples, passíveis de múltiplas interpretações dissonantes entre si. (PASINI, 2017, p.18). Vários centros de referência em Agricultura Sintrópica no Brasil, geridos em sua grande maioria por seguidores dos princípios da agricultura de Ernst, e também aperfeiçoadores da técnica, como o Sitio Semente em Brasília, DF; Fazenda Ourofino em Jaguaquara, BA e a Fazenda de Ernst Götsch em Piraí do Norte, sul da Bahia, por exemplo, mostram de maneira empírica que os resultados são excelentes, tanto econômica como ambientalmente. No entanto, a dificuldade de metodologias científicas que englobem a complexidade que os estudos demandam, contribuem para a formação de dicotomias científicas. 25 As ciências agrárias no Brasil tendem ao desenvolvimento econômico, visto que muitas pesquisas são financiadas por grandes empresas, principalmente de insumos e agroquímicos agrícolas. Desta forma, nosso sistema de produção tende a visar uma maior produtividade combinada a fatores que podem ser acelerados ou evitados com a utilização de insumos e agroquímicos existentes ou que possam vir a ser produzidos. Todavia, nas últimas décadas pode-se observar um crescente movimento na direção de métodos de produção menos danosos aos seres humanos e ao ambiente. A implementação de bacharelados e especializações nas áreas da Agroecologia, Gestão Ambiental e Engenharia Ambiental, foram ao mesmo tempo consequência e motores dessa crescente mudança. Apesar dos avanços e a emergência das tecnologias sociais na busca por alternativas aos modelos dominantes de uso e ocupação dos solos terem crescido nas últimas duas décadas, seu uso é quase incipiente em muitos projetos onde poderiam ser utilizados como na agricultura extensiva, sistemas agropastoris, plantas industriais, ocupações urbanas e na recuperação de áreas degradadas. Nesse contexto, a AS vem ao encontro de um grande problema que tem pressionado principalmente os países emergentes que buscam crescimento econômico e social na produção de commodities, uma vez que isso quase sempre está atrelado ao uso extensivo e exaustivo de recursos naturais importantes como solos, florestas e água. Ao analisarmos os elementos naturais em sua totalidade, principalmente no que se refere à evolução dos sistemas naturais em suas diversas fases de evolução, constata-se que o planeta cria para si um instrumentário inteligente que tem como objetivo principal a criação de sistemas florestais partindo do simples para o complexo (GÖTSCH, 1995). Nesse sentido, e entendendo que a vocação natural do planeta nessa era é a formação de florestas, conhecer e estimular esses processos através de intervenções sintrópicas pode acelerar a recuperação de áreas já degradadas, bem como, ser um atenuante para áreas que tendem a ser degradadas por atividades diversas. A produção científica nessa direção, na busca por metodologias que possam alcançar essa complexa interconectividade que “aos olhos nos é nítido” se faz cada vezmais necessária. Ana Primavesi já alertava para o perigo dos impactos do modelo dominante de agricultura e os efeitos da utilização de agrotóxicos sobre o ambiente natural e consequentemente os impactos negativos sobre a biodiversidade e da possibilidade 26 de um manejo ecológico dos solos e seus resultados positivos para a agricultura e o meio ambiente (PRIMAVESI, 2002). 4.3.2 Entropia x Sintropia A compreensão destes termos, Entropia e Sintropia, na dinâmica da Agricultura Sintrópica nos ajuda a estabelecer as relações necessárias ao desenvolvimento dessa tecnologia, uma vez que, dentro destes dois princípios se estabelecem seus alicerces metodológicos. Pois, apesar de à primeira vista serem termos dissonantes, em uma análise mais profunda são complementares (quadro 1). Essa percepção ocorre quando percebemos que a estrutura organizada e complexa dos organismos vivos é obtida por intermédio da desordem externa, a energia que tende para a “morte térmica” ao ter uma parte absorvida por sistemas abertos (sistemas biológicos) pode ser armazenada nestes e, com isso, gerar complexidade, contrariando as Leis da Física. Quadro 1 - Entropia x Sintropia Fonte: Agenda Götsch (2019) O conceito entropia é utilizado em muitas áreas do conhecimento, mas é na Segunda Lei da Termodinâmica que temos sua definição mais conhecida, onde está relacionada com a desordem do sistema e associada com a perda de energia. Dessa 27 maneira, quanto maior for a entropia mais desorganizado o sistema e maior a dissipação de energia. A definição de energia como a capacidade de produzir trabalho é definida pela primeira Lei da Termodinâmica. A mesma Lei afirma que a energia pode ser transformada de um tipo em outro, mas não pode ser criada ou destruída (ANACLETO, 2009). Já a segunda Lei da termodinâmica afirma que: Nenhum processo de transformação de energia ocorrerá espontaneamente a menos que haja um processo de degradação de energia de uma forma concentrada para uma forma dispersa. A compreensão deste conceito mostra que o aproveitamento de energia dispersa, calor por exemplo, nunca é 100% eficaz (ODUM, 1988). Isso nos faz entender que dentro de um sistema fechado a uma enorme quantidade de energia sendo desperdiçada continuamente - Entropia. Já sistemas biológicos (abertos) funcionam como uma negação da entropia (Neguentropia), onde a organização interna (do organismo ou do ecossistema) é conseguida através da desordem externa. A respiração é isso, consome energia que é dissipada como calor. Apesar desta definição de entropia estar relacionada à termodinâmica (Equilíbrio de Processos Irreversíveis), também é possível observá-la em outras áreas do conhecimento: Mecânica Estatística, Matemática, Fisiologia e Ecologia, por exemplo. Todas traduzindo esse conceito físico para as condições específicas de seus respectivos domínios (ANDRADE, 2016; PASINI, 2017). No caso da floresta, quando a sucessão natural ocorre, aumenta a diversidade e, principalmente, existe um ganho de acumulo de energia do próprio sistema, ainda que nele ocorram processos entrópicos – respiração- e processos sintrópicos – fotossíntese, etc. Mas o saldo final no sistema é o ganho de energia dentro dele (Neguentropia), dentro da biomassa. Não há como discordar, pois sabe-se que uma floresta queima muito mais do que um pasto. Quanto mais biomassa, complexidade de tecidos como madeira e lignina, maior o poder calórico. Ou seja, o sistema tem mais energia guardada nele. Então, é importante observar que, apesar de existir imensa perda de energia solar, um sistema vivo é capaz de absorver e estocar energia. O resultado desse saldo positivo é, então, sintropia (VAZ, 2002, ANDRADE, 2019). Na “Teoria das Estruturas Dissipativas” que deu a Ilya Prigogine o Prêmio Nobel de Química de 1977, a entropia, em relação a organismos ganha uma nova 28 perspectiva pois as flutuações estocásticas promoveriam a ordem e o aumento da complexidade em um dado sistema e com isso distanciando-se do equilíbrio termodinâmico. Isso no âmbito de estudos de sistemas vivos é imprescindível, pois quando os considerarmos como sistemas abertos também consideramos sua consequente capacidade de reduzir a entropia (PRIGOGINE; STENGERS, 1984). Organismos comportam-se como sistemas abertos que superam a tendência ao aumento da entropia por meio da conversão dos recursos ambientais (alimento, oxigênio, água) em crescimento e reprodução. Essa capacidade que sistemas biológicos possuem reflete-se em níveis organizacionais hierarquicamente mais amplos ao longo do processo evolutivo como, por exemplo, na modificação e adaptação de linhagens a um ambiente eternamente em mudança. Esse processo culminou no surgimento de estruturas de organização biológica complexas no planeta Terra – e, inclusive, nada impede que um processo idêntico ou equivalente tenha ocorrido em outros planetas com características similares ao nosso. (ANDRADE, 2016, p.36). Existem vários movimentos em busca de conceituações com a finalidade de uma definição universal para a entropia. Dentre eles alguns apontam para a necessidade de uma nova terminologia a fim de descrever uma tendência diversa à entropia como a “entropia negativa” de Erwin Schrödinger e a “sintropia” de Luigi Fantappiè e Ulisse Di Corpo. Muitos foram e ainda hoje são os esforços para buscar uma conceituação que dê conta de abarcar uma definição universal para esse fenômeno que parece estar intimamente ligado à vida (PASINI, 2017). O conceito de sintropia para Ernst, mesmo tendo pontos de convergência com alguns autores, tende, no entanto, a nomear um processo lógico que este observou na natureza e em suas experiências no manejo agroflorestal. E esse é o próprio fundamento metodológico de suas práticas na medida em que busca a convergência, o equilíbrio, o aumento da organização, da complexidade e com isso um aumento de recursos e consequentemente no aumento de energia no sistema, indo no caminho oposto à entropia: Sintropia (VAZ, 2002). Fenômenos ecológicos como a formação de sistemas florestais evidenciam essa dinâmica da entropia e sintropia uma vez que nesses sistemas os resíduos entrópicos são transformados em nutrientes que servem de estímulo para a formação de sistemas que, na medida em que evoluem, tornam-se cada vez mais complexos se auto abastecendo e aumentando cada vez mais a energia dentro do sistema. Isso ocorre pelo aumento de quantidade e qualidade de vida consolidada. (VAZ, 2002; ANDRADE, 2016; PASINI, 2017). 29 Esse processo que ocorre naturalmente, em todo lugar, é inerente ao planeta e por isso, Sintropia e entropia são processos dialéticos e complementares, vistos de uma escala restrita ao processo (respiração ou fotossíntese), mas o organismo que engloba ambos também pode ter uma direção, seja sintrópica ou entrópica. Assim, apesar de no planeta Terra termos processos entrópicos (por exemplo, respiração) e sintrópicos (por exemplo, fotossíntese), o saldo total do planeta é um aumento de energia. Ampliando um pouco mais a escala, vemos que essa energia que o planeta Terra acumula é uma parte pequeníssima da energia que o Sol emite, graças a um processo entrópico da estrela. Compreendendo isso percebe-se que entropia e sintropia são constantes recíprocas cuja dialética corresponde ao seno/cosseno, ou à expiração/inspiração, ou ainda ao ato de morrer/de nascer (ANDRADE, 2016). Em seu artigo publicado em 1995: “Homem e Natureza – cultura na agricultura” Ernst traz uma reflexão sobre a origem do termo agricultura – cultura, e compreendendo a sintropia como o pulso da vida, a coloca como ato de cultivar a vida, ou bem cuidar, e nisso a associa à mesma lógica da natureza. Então ele sugere que devemos “sincronizar essa atividade humana com a leis que regem os processos naturais” e complementa: “Paraconseguirmos isto, é preciso que haja em nós mesmos uma mudança fundamental, uma mudança na nossa compreensão da vida.” Ou seja, temos de ser sintrópicos (GÖTSCH, 1995). Figura 2 - Funcionamento da Vida segundo Ernst, do simples para o complexo. Fonte: Agenda Götsch (2019) 30 5. OS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA Em 2018, no primeiro simpósio sobre agricultura Sintrópica (AGRICULTURA SINTRÓPICA E A CONSTRUÇÃO DE UMA LINGUAGEM COMUM), realizado no Sítio Semente no Distrito Federal, conhecidos nomes dessa técnica que até então era conhecida como AGROFLORESTA SUCESSSIONAL, participaram e contribuíram para a construção de uma nova abordagem desse modelo de produção agrícola que agora, segundo seu criador o suíço Ernst Götsch, separava-se dos modelos até então conhecidos como sistemas agroflorestais para definir-se como Agricultura Sintrópica. Na oportunidade, evidenciou-se o incômodo de Ernst com a generalização de suas técnicas e um certo descontentamento em relação a estar tudo dentro de um mesmo “pacote” o que por sua vez todos chamavam de sistema agroflorestal. Mas o que de fato diferencia a AS dos sistemas agroflorestais? Entendendo os princípios da Agricultura Sintrópica estabelecidos por Ernst, fica mais fácil identificar essas diferenças, uma vez que, se há um consórcio entre verduras e árvores já pode ser caracterizado como agrofloresta. Já para a Agricultura Sintrópica a sintropia de um sistema está para além de um simples consórcio de plantas, na sintropia, é preciso haver aumento da quantidade e qualidade de vida consolidada e uma cooperação mútua entre os organismos que compõem determinado ambiente afim de que um favoreça o desenvolvimento do outro. A sintropia no sistema se caracteriza pelo aumento de quantidade e qualidade de vida consolidada, pois é aí que reside o aumento de energia dentro do sistema. Isso só é conseguido com a complexificação – aumento de funções, de nichos – e estas diferentes funções precisam estar em total sintonia, orquestradas, em total colaboração mútua para que o organismo/sistema se desenvolva. Todo o “trabalho”, de cada elemento, é em prol do organismo/sistema do qual fazem parte. Dessa maneira a AS é um conjunto de técnicas que tem por objetivo reproduzir padrões pré-existentes em sistemas naturalmente concebidos, onde cada elemento do sistema está ali para cumprir determinada função, ou seja, é um instrumentário com finalidades especificas (PENEIREIRO, 1999; VAZ, 2002; HOFFMANN, 2013; ANDRES et. al., 2016; PASINI, 2017; ANDRADE, 2019). E o resultado desse manejo é uma alta taxa de fotossíntese dentro do sistema, resultando em um excelente 31 aproveitamento energético. Isso por sua vez, acelera muito o desenvolvimento da área plantada resultando em um sistema sadio pois potencializa a capacidade de cada elemento em se desenvolver. Segundo Ernst, ao observar o comportamento da vida na terra e suas interações, é possível perceber que existe um instrumentário que trabalha para otimizar os processos necessários à vida no planeta e praticamente tudo que nele existe, exceto o homem moderno, passa a existir para cumprir sua função. Dessa forma olha-se o planeta como um macroorganismo (hipótese Gaia; James Lovelock, 2006) em constante transformação e adaptação e cada vez mais complexo e interdependente. Como ele complementa em seu segundo princípio e talvez esta seja a base mais sólida da Agricultura Sintrópica, pois, temos nele a compreensão de que cada indivíduo que surge, surge equipado para cumprir uma função no sistema do qual faz parte por intermédio das ações desse individuo todo o sistema se complexifica na medida que evolui, dando as condições para que o próximo sistema seja ainda mais complexo. Então, enquanto o sistema está pobre em energia, em complexidade, em vida, os indivíduos são resistentes a essa pouca vida. Mas como trabalham para que o sistema aumente sua energia interna, os próximos indivíduos que entram e que estarão trabalhando nesse sistema estarão equipados para absorver mais energia, mas demandam aquela já ali consolidada pelo “consórcio” anterior. Em resumo, são mais exigentes em vida. Em geral, os sistemas com mais vida são capazes de sustentar indivíduos maiores, mas também agregam espécies pequenas, como vírus e bactérias, fungos, etc. Existem os mais diversos tamanhos e tipos de indivíduos em termos de complexidade dos organismos. Entretanto, o mais importante é o sistema como um todo ser formado pelo maior número de funções e de processos naturais possíveis. Nisso, entende-se a importância da biodiversidade nos ecossistemas naturais e da mesma maneira, na recuperação de uma área degradada, é imprescindível criar as condições para o restabelecimento da biodiversidade. No Simpósio foram apresentados os seguintes princípios elaborados por Ernst (Agenda Götsch/Life in Syntropy, 2019): I - Estudando o funcionamento e o comportamento da vida neste planeta, e também a vida em suas interações com - e em sua relação com o Planeta Terra, e este último, visto como um macroorganismo, podemos claramente 32 atribuir-lhe características funcionais, digamos, propriedades ‘instrumentais’ e, assim sendo, como parte integral de um ‘instrumentário’, que o Planeta Terra criou para si mesmo, a fim de realizar sua estratégia sintrópica ‘complexificadora’. II - Percebendo a vida da maneira supra descrita, observaremos o conceito instrumental e funcional na existência de todas as espécies que já apareceram, bem como nas que possam vir a existir: cada espécie que aparece, o faz para realizar suas tarefas específicas e para cumprir sua função. III - Cada indivíduo, de cada geração, de cada espécie aparece pré- condicionado pelo que o precedeu. Com sua chegada, por meio de seu metabolismo, modifica seu entorno e co-codefine, e nesse sentido compartilha, faz parte da definição daquilo que o irá suceder. IV - O aparecimento de novos genótipos de espécies já existentes acontece por alteração nas condições de vida com as quais precisou lidar. O surgimento de novas espécies é necessário quando surgem tarefas cujas realizações ainda não estejam codificadas (não está incluída no código potencial das espécies existentes (AGENDA GÖTSCH/LIFE IN SYNTROPY, 2019). Dessa maneira, podemos olhar para a evolução da vida nesse planeta e constatar que todos os organismos que existiram, existem e virão a existir o fazem para cumprir determinada função necessária a vocação natural do macroorganismo Terra nessa Era que na medida que evolui traz à existência organismos com maior complexidade para executar tarefas ainda mais complexas e com isso se adapta e passa informações para os próximos organismos que virão. Esse princípio serve de base para a sucessão natural (HARPER; BEGON; TOWNSEND, 2010), nesse caso para a formação de florestas, também nele identificamos o porquê da necessidade de se iniciar um sistema agroflorestal, ou mesmo a recuperação de uma área degradada, criando as bases (placenta) para que espécies mais exigentes possam ser inseridas o que por sua vez garante maior efetividade e sucesso do desenvolvimento do sistema. Nesses princípios podemos compreender por exemplo, que em um solo totalmente degradado o macroorganismo Terra irá providenciar para essa função organismos próprios para retomar as condições de fertilidade desse solo, uma terra exposta e compactada não é capaz de abrigar muitos organismos, no entanto, algumas espécies de gramíneas por exemplo, poderão crescer ali. Sem competição provavelmente elas tomarão conta da superfície destas áreas e serão consideradas pragas, mas para Ernst, elas são instrumentos desse macroorganismo para cumprir sua tarefa complexificadora, neste caso, criar as condições de recuperação desta 33 área. Após o estabelecimento desses primeiros organismos, serão criadasas condições para que outros surjam e dessa maneira, gradativamente outros irão surgir para novas funções, como insetos, pequenos invertebrados e fungos, a chegada desses novos organismos modifica o meio e cria condições para que novos organismos mais exigentes em vida surjam, ele classifica isto como sistema de colonização. Segundo Ernst, a vocação dessa Era no planeta é a formação de sistemas florestais, dessa maneira a instrumentalidade do planeta se mantém na mesma direção: a formação de composições florestais. Isso é facilmente observado ao deixarmos uma área sem interferência humana por determinado tempo, logo, os primeiros organismos aparecerão, gramíneas, fungos, minhocas, cupins, formigas, aranhas, arbustos, pequenos répteis, anfíbios, depois árvores, pássaros, pequenos mamíferos e consequentemente após algum tempo, teremos o início de uma formação florestal estabelecida e com isso uma grande rede interconectada e interdependente necessitando de um instrumentário altamente complexo para o seu funcionamento, incluindo mamíferos de grande porte. Essa conexão e interdependência são a base do que chamamos de interações ecológicas (HARPER; BEGON; TOWNSEND, 2010), nisso está a importância da biodiversidade para a manutenção de sistemas ecológicos já estabelecidos, bem como, para a criação ou recuperação destes. Compreendendo esta interdependência e a conhecendo, podemos preservar as condições para que sistemas ecológicos não entrem em colapso e também para que áreas degradadas possam ser regeneradas. Nestes princípios também observamos uma oposição ao modelo dominante de agricultura que elimina toda a biodiversidade de uma área a fim de introduzir ali somente uma espécie a ser cultivada, esse modelo conhecido como monocultura baseado em insumos químicos vai em oposição ao sistema natural uma vez que não é capaz de acumular por si só a energia necessária ao seu desenvolvimento, que também é interrompido. Também é possível compreender nesses conceitos que não existem pragas, a proliferação em demasiado de determinada espécie é um indicador de que as condições daquele ambiente especifico necessitam da intervenção do instrumentário do planeta para corrigir determinada demanda. Desta maneira entende-se que aquela espécie é necessária e na medida que se estabelece em uma área que somente ela pode se desenvolver cumpre a sua função antecedendo as 34 próximas espécies pertencentes a sistemas mais complexos, e por isso mais exigentes, que a irão suceder. V - A instrumentalidade da vida com relação ao macroorganismo Terra se mantém a mesma; as tarefas a serem realizadas, no entanto, estão sujeitas a constantes mudanças devido às incessantes alterações nas condições de vida. Essas mudanças são causadas por fatores endógenos e bem como exógenos. VI - A regeneração periódica dos ecossistemas, bem como a criação de novos, acontecem, sendo realizadas fragmento por fragmento, onde este último são comparáveis às peças constituintes de um quebra-cabeças. Esse processo segue padrões equivalentes à reprodução generativa no nível do indivíduo. No nível do ecossistema esse processo é chamado de ‘sucessão natural das espécies’ que, por sua vez, é o meio pelo qual a vida se move no tempo e no espaço. VII - A vida como um todo no nosso planeta constitui um grande macroorganismo. Todo o seu funcionamento corresponde ao de um organismo: tudo está conectado e é interdependente. VIII - A grande rede de conexões fúngicas, proliferando nas camadas superficiais de solo rico em matéria orgânica e coberto por serapilheira abundante cria as pré-condições para um forte sistema imunológico do solo que influencia grandemente, fortifica a saúde e o vigor das plantas. IX - ‘Pestes’ e doenças, bem como os predadores, são integrantes do, digamos, ‘departamento de otimização dos processos de vida’. O critério que usam para intervir é a otimização dos processos de vida realizada pelo objeto (potencial presa) confiado aos cuidados deles (os predadores) por parte do ecossistema no qual aquela presa interage. X - O apetite e a fome são meios, usados por todos os seres vivos para transformar (também) aquele ato na realização de suas tarefas e cumprimento de suas funções, ligado – direta ou indiretamente – ao ato de comer – ingerir – ou absorver sua ‘comida’, para eles um evento apaziguante e atrativo. XI - Cada indivíduo, de cada geração de todas as espécies aparece equipado para realizar sua(s) tarefa(s)e cumprir sua(s) função(ões) movidos pelo prazer interno e também equipado para se comunicar com todos os outros membros constituintes, ‘células’ do macroorganismo ‘VIDA’ do qual faz parte. XII - As relações inter e intraespecíficas - com a exceção do ser humano moderno e da maioria dos animais domesticados por ele adotados e deformados – são baseadas nos princípios do amor incondicional e da cooperação (AGENDA GÖTSCH/LIFE IN SYNTROPY, 2019). Para Ernst, as relações inter e intraespecíficas que ocorrem - com a exceção do ser humano moderno e da maioria dos animais domesticados por ele e com isso deformados – são baseadas nos princípios do amor incondicional e da cooperação mútua. Nisso, o ato de florescer, polinizar, reproduzir, frutificar e cada movimento dos seres em suas condições naturais são para cumprir suas funções como 35 instrumentos de manutenção do equilíbrio do macrossistema terra, e isso ocorre pela motivação do prazer interno de cada organismo e o amor incondicional em cumprir sua função. O ser humano moderno, assim como os animais por ele domesticados, perderam essa conexão e a capacidade de comunicar-se com os demais agentes desse macrossistema. Ao acontecer isso tornam-se inoportunos, entrópicos e os resultados dessa desconexão podemos observar hoje pelo alto grau de degradação ambiental no mundo e a extinção de “instrumentos” importantes à manutenção da vida neste planeta. XIII - Todas as espécies - com a exceção do ser humano moderno e da maioria dos animais domesticados por ele adotados – agem baseadas nos princípios do “Imperativo Categórico”, formulado por Immanuel Kant (1724- 1804) que diz: ‘Aja de modo que você gostaria que os princípios, submetidos a suas interações sejam elevados imediatamente a princípios de leis universais’. (Ou seja, que sejam aplicados a você mesmo). XIV - ‘As leis que regem o macroorganismo, do qual você faz parte, são dadas’ (pré-estabelecidas). ‘Nem a nós, Deuses do Olimpo, nos é incumbido fazer ou modificar essas leis”. (Esopos 700 a.C, em Cronos falando ao homem em uma de suas parábolas). XV - A interferência não harmônica de alguma, ou qualquer, das entidades que juntas constituem o macroorganismo, induz a modificações neste último que, por sua vez, terão como resultado que a presença do emissor daquelas interferências não harmoniosas se tornará inoportuna (AGENDA GÖTSCH/LIFE IN SYNTROPY, 2019). Ao analisarmos esses princípios e reconhecermos a sintropia implícita na dinâmica da vida neste planeta, compreendendo a importância das interações micro e macroecológicas como sendo tudo parte de um macrossistema e este último embrião de todas as formas de vida, faz-se necessária uma auto reflexão sobre nossa função dentro desse complexo organismo chamado Terra. 36 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 A AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Para a conclusão desse trabalho tomaremos como exemplo a hipótese de uma área degradada de 10,000 m² (1 ha) oriunda de monocultura de soja que usada intensivamente degradou-se ao ponto de se tornar improdutiva. Essas condições de degradação são ocasionadas pelo uso exaustivo do solo e intensa utilização de insumos agrícolas como herbicidas, fungicidas e fertilizantes químicos. Esse tipo de utilização “irracional” do solo ao longo do tempo tende a deixar o solo esterilizado (sem vida) e como resultado disso temoso seguinte cenário: - Solo totalmente exposto; - Ausência de matéria orgânica no solo; - Ausência de micro-organismos vivos; - Ausência de flora e fauna; - Baixa ou inexistente umidade; - Solo muito compactado; - Acelerado processo de desertificação. Esse cenário apesar de hipotético, é o cenário de muitas áreas degradadas no Brasil, principalmente áreas de mineração, e monoculturas intensivas e extensivas. Nessa hipótese, o cultivo contínuo de hortaliças e legumes por exemplo, teria um elevado custo, inviabilizando no modelo tradicional a utilização agrícola dessa área. O uso agrícola e a mineração, são os maiores causadores de áreas degradadas no Brasil (NETO, ANGELIS; OLIVEIRA, 2004). Ao aplicarmos os princípios da Agricultura Sintrópica para a recuperação desta área nas condições mencionadas acima, daremos início a uma série de atividades que buscam simular o trabalho feito pelos primeiros sistemas vivos que conseguem vicejar em ambientes sem muita vida consolidada, de acordo com a visão de sucessão natural sugerida por Ernst Götsch. Dessa forma, aceleramos esse processo que ocorreria naturalmente ao longo de muito tempo. De maneira geral, 37 providenciaremos as condições iniciais para que a produção se inicie no menor tempo possível e, ao manejarmos o sistema de forma sintrópica, aceleramos sua restauração às condições de fertilidade, conservação de umidade, permeabilidade do solo e retroalimentação. Um sistema de colonização, como o próprio nome sugere é uma etapa de povoamento microbiológico do solo que aqui é a base para o desenvolvimento de espécies vegetais. No entanto, uma das principais causas de solos mortos se dá em decorrência de sua exposição ao sol intenso e com isso a baixa ou inexistente umidade. Nessas condições o desenvolvimento de micro-organismos essenciais à saúde dos solos como fungos, minhocas e outros invertebrados que, presentes em sistemas mais ricos em vida, têm a função de decompor resíduos orgânicos, criar húmus e canais que servirão para uma melhor absorção de umidade por exemplo, ficam comprometidos. Os sistemas de colonização (Figura 3) são instrumentários importantes do organismo Terra para criar ou recondicionar áreas com baixa ou inexistente fertilidade. Ao compreendermos o funcionamento deste processo e então, de forma sintrópica, intervimos a fim de criar as condições necessárias para essa colonização, podemos acelerar esse processo. Nos modelos dominantes de plantio, ainda que se usem diversos métodos para reverter a situação de pouca vida no sistema, como aração, gradagem e adubação, não são criadas condições para que os recursos ali adicionados se perpetuem no sistema, para que se aumente a quantidade e qualidade de vida consolidada, já que o corriqueiro é um cultivo em monocultura e a perpetuação da fase inicial da sucessão natural, mantém-se uma eterna clareira. Ou seja, vários ciclos são interrompidos. Como consequência, ocorre perda de nutrientes e a não consolidação da vida ali inserida. Já para modelos baseados em biodiversidade, mesmo com o uso de insumos externos, revolvimento de solo e maquinário agrícola, o plantio de espécies cumprindo diversas funções no sistema e o manejo adotado permitem que grande parte dos insumos e da energia ali investida permaneça no sistema. A consequência esperada é então o aumento de vida, de biomassa e de diversidade não apenas em espécies, mas principalmente de funções ecofisiológicas, uma vez que se segue o caminho da sucessão natural. 38 Figura 3 - Sistema Colonização em estágio inicial, organismos menores e menos exigentes. Fonte: Agenda Götsch (2019) Para dar condições de produção em solos degradados, deve-se fazer primeiramente a descompactação do solo, para uma área nessa proporção o ideal é uma descompactação mecanizada, ao mesmo tempo que o solo é descompactado deve-se espalhar pó de rocha e esterco bovino e\ou cama de frango. Se possível deve-se trazer o máximo de resíduos orgânicos, como descarte de podas, corte de gramas e casca de arroz por exemplo, para a área (Figura 4). Isso representaria uma grande aceleração no processo de colonização uma vez que não seria necessário esperar um período de tempo para ter aporte de matéria orgânica produzida no próprio sistema (serapilheira). Um fato importante para essa ação é que muitas cidades tem custos para o descarte desses resíduos, a utilização dos mesmos na recuperação de áreas degradadas além de acelerar o processo de recuperação ainda diminuiria custos com a destinação final desse material. Cabe aqui, termos consciência de que todas essas ações são feitas com grande gasto (importação) de energia e visam substituir o que os seres vivos fariam em um ambiente esterilizado, com solo compactado e exposto às intempéries em um tempo muito maior. A subsolagem visa afrouxar o solo em profundidade, como fariam as raízes de diversas gerações de espécies equipadas com fortes raízes que iriam 39 perfurando o solo, criando estruturas, inserindo matéria orgânica em profundidade ao morrerem. Da mesma forma, a importação de matéria orgânica provinda de locais muito menos degradados do que onde está sendo trabalhado e com condições de gerar tal biomassa objetiva simular uma aceleração nos processos naturais, dando ao local esterilizado algumas condições de um sistema bem menos degradado, graças a um investimento energético inominável. Esse investimento energético inclui a combustão de energia fóssil, como petróleo. Da mesma forma, o uso de adubos, mesmo orgânicos, visam reproduzir o trabalho de inúmeras gerações de plantas, animais e microrganismos que seriam capazes de vicejar naquele ambiente esterilizado e solubilizar nutrientes que estão inacessíveis às plantas a serem introduzidas. Figura 4 - Formação de berços em linhas com serapilheira. Fazenda PauD’alho-SP. Jan. 2016. Foto: Felipe Pasini (2019) Após esse processo e escolhido a cultivar de gramínea adequada ao clima e condições do solo deve-se fazer a semeadura. Essa gramínea será a primeira cobertura viva e tem por objetivo cobrir o solo, criar biomassa e proporcionar as condições iniciais para que os primeiros micro-organismos possam se estabelecer dando assim início a recuperação biológica dessa área. É pertinente lembrar que na agricultura sintrópica, em seus princípios, assim como na vida desse planeta, partimos 40 do simples para o complexo e nesse caso, nessa área onde estamos iniciando um sistema de colonização estamos seguindo o mesmo padrão, dessa maneira partimos da gramínea para araucária, do invertebrado para o mamífero, de um solo exposto para uma floresta estabelecida. Na hipótese de escolha do capim-tupi, Brachiaria humidicola (EMBRAPA 2011), por se tratar de gramínea bem adaptada a solos pobres em nutrientes, tem um ciclo de crescimento rápido e após semeado em cerca de seis meses já teremos uma cobertura vegetal densa sobre o solo, parte dessa cobertura será podada para servir de adubação verde no próximo passo que é a construção das linhas de plantio. Figura 5 - Sistema de Acumulação partindo do simples paro o complexo. Presença de aves, anfíbios e mamíferos de pequeno porte. Fonte: Agenda Götsch (2019) O período de acumulação é aquele em que o sistema depois de colonizado, passará a produzir e acumular energia, diversificando o sistema e buscando o equilíbrio biológico, criando as condições necessárias à próxima etapa evolutiva que é o sistema de abundância (Figuras 6 e 7). O ser humano é um mamífero grande e necessita de um sistema com muita vida e energia acumulada para ter água, alimento e suas necessidades supridas. É um animal pertencente a sistemas de abundância. Em locais onde o ambiente ainda se encontra no nível da acumulação, a produção para o ser humano ainda se sustenta com insumos externos adicionadose 41 gastos energéticos com aeração do solo. Após a construção dos primeiros canteiros ou linhas, e já tendo alguma matéria orgânica resultante da poda do capim, serão inseridas todas as cultivares do sistema sendo elas: - Hortaliças de ciclo curto como alface, rúcula, rabanete, dentre outras verduras e temperos. Hortaliças, raízes e legumes de ciclo médio, como repolho, brócolis, aipim, tomate, dentre outras. - Frutíferas nativas - Árvores que deverão ocupar os demais estratos previstos para compor esse sistema sendo estrato rasteiro, baixo, médio e alto, espécies emergentes, secundárias e clímax. - Espécies que entrarão no sistema para cumprir determinada função e logo posteriormente serão retiradas como Eucalipto, Pinus e a Acácia, por exemplo. Essas espécies pouco exigentes, servem para permitir que espécies mais exigentes como banana e mamão ou que necessitam de sombra para emergir, como a araucária, a erva-mate e as canelas por exemplo, tenham suas condições de desenvolvimento facilitadas, além de servirem para a produção de matéria orgânica para adubação das demais. Também essas espécies podem ser comercializadas posteriormente para a construção civil, ou mesmo como fonte de energia renovável, sendo as frutas para alimentação humana e da fauna. (PENEIREIRO, 1999; VAZ, 2002; PASINI, 2017). Com o prosseguimento da sucessão natural, mesmo com o uso de espécies exóticas, porém procurando-se ocupar as diversas funções ecofisiológicas de um sistema vivo, começamos a notar uma maior biodiversidade. O sistema vai sendo cada vez mais capaz de produzir biomassa, e o aproveitamento energético deve ser intensificado através do manejo adequado, desbaste e poda, de maneira que somente as espécies com genótipos mais propensos a se desenvolverem naquele sistema permaneçam, nisso a importância do plantio adensado de todas as espécies. Centros de referência em Agricultura Sintrópica como o Sitio Semente em Brasília, DF; Fazenda Ouro Fino em Jaguaquara, BA e a Fazenda de Ernst Götsch em Piraí do Norte, sul da Bahia, por exemplo, demonstram que é possível em uma mesma linha de canteiros a produção de hortaliças de ciclo curto por até três anos, após esse período as primeiras frutíferas como abacaxi, banana, mamão, limão já estarão produzindo, também as espécies emergentes e secundárias já estarão ocupando significativamente os canteiros. As podas de condução dessas espécies, na medida 42 em que se tornam mais substanciais, servirão como adubo para realimentar o sistema em um ciclo que dura até o sistema de abundância ser alcançado. Figura 6 - Sistema de colonização em estágio médio - Fazenda PauD’alho-SP. Nov. 2016. Fonte: Felipe Pasini (2019) Figura 7 - Sistema de Acumulação em estágio avançado. Fazenda PauD’alho-SP. Ago. 2017. Fonte: Felipe Pasini (2019) 43 O espaçamento dos sistemas sintrópicos é flexível, no entanto, o espaçamento de 3x3m entre árvores e de 4m entre linhas é comumente utilizado. Esse espaçamento permite a mecanização do sistema com a utilização de máquinas agrícolas além de permitir a produção de capim para alimentação animal e para a cobertura das linhas de árvores. Por fim, retiradas todas as espécies de ciclo curto do sistema, teremos uma floresta em estágio de formação avançado, apta a se auto sustentar sem a necessidade de intervenções humanas, no entanto ainda produtiva com a possibilidade de produção de frutas, nativas ou não, óleos essenciais e plantas medicinais. Bem como, sementes para reflorestamento em outras áreas. Esse processo que poderia acontecer naturalmente certamente levaria um tempo maior para se consolidar e teria um custo elevado para sua implantação. A utilização das técnicas desse estudo reduziria o tempo e os custos. Um dos principais objetivos de um sistema de acumulação é armazenar energia, criar solido a periódico, complexidade (biodiversidade) e com isso vida consolidada para, por fim, se estabelecer um sistema de abundância (figura 8). Figura 8 - Sistema de Abundância partindo do simples paro o complexo. Presença de aves, anfíbios e mamíferos de grande porte. Fonte: Agenda Götsch, 2019. 44 6.2 ÁREAS DEGRADADAS, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E SEGURANÇA ALIMENTAR Com a utilização dos princípios da AS é possível produzir alimentos orgânicos com qualidade e o sistema de consórcios entre plantas possibilita que sejam em quantidades significativas. Depois de construídas as linhas de plantio e estabelecidos os berços (cobertura dos canteiros com matéria orgânica proveniente da poda do capim plantado no próprio local e\ou trazido de fontes externas para dentro do sistema) e realizado o plantio, é possível começar a colher as primeiras cultivares com 45 dias, que podem ser rabanetes, rúcula, mostarda, cheiro-verde, salsa, dentre outras espécies de ciclo rápido. Com 60 dias é possível colher alface, couve, espinafre e assim sucessivamente. Através de um planejamento ordenado espacial e temporal, é possível estabelecer colheitas periódicas que tendem a aumentar em quantidade e valor na medida que o sistema de colonização evolui (complexifica), indo de hortaliças, temperos e chás, a legumes e frutas. Essa possibilidade de produção de alimentos durante o processo de recuperação de áreas degradadas deve servir como fomento a iniciativas governamentais e sociais. A parceria entre agentes públicos, Organizações da Sociedade Civil e iniciativa privada por exemplo, pode gerar uma enorme diminuição dos custos de implementação de PRADs nessas áreas, e em muitos casos ainda pode ser possível obter ganhos através da distribuição de renda e\ou alimentos a pessoas em vulnerabilidade social. A Agricultura Sintrópica propõe um modelo de uso dos recursos naturais que tem como centro o Ecossistema (Figura 9) que é essencial à vida neste planeta e sem o qual nada pode subsistir em detrimento ao modelo de uso dominante que tem como centro o capital econômico (Figura 10). Essa mudança de paradigma em relação ao uso dos recursos naturais precisa ser incentivada por intermédio de políticas públicas e ações sociais como um dos meios para atingir os objetivos da Agenda do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (Agenda 2030), que é um compromisso firmado pelo Brasil. 45 Figura 8 -Modelo Atual de uso dos recursos naturais tendo a economia como centro. Fonte: Agenda Götsch ( 2019) Figura 9 - Modelo proposto por Ernst, o Ecossistema como referência para as ações em relação ao uso dos recursos naturais. Fonte: Agenda Götsch (2019) 46 6.3 ÁREAS DEGRADADAS E REFORMA AGRÁRIA É evidente que há no Brasil uma questão agrária. Mas, uma questão agrária que parece distanciada das condições históricas de sua solução definitiva, porque esta sociedade perdeu as poucas oportunidades históricas que teve para resolvê-la (MARTINS, 1999, p. 102). Para Martins (1999), é preciso ter conhecimento prévio das questões para a qual a reforma agrária é uma resposta. Dessa maneira, pode se agregar as questões já conhecidas para as quais a reforma agrária é uma resposta, como: Justiça Social, Segurança Alimentar, Questões Histórico-Culturais, à necessidade de se recuperar áreas ambientalmente degradadas. Para o INCRA (2011), são objetivos da reforma agrária promover uma melhor distribuição da terra, através de modificações no regime de propriedade e uso, isso afim de atender os princípios de justiça social, desenvolvimento rural sustentável e segurança alimentar. Conforme o Estatuto da Terra (Lei n 4504/64) essa reforma tem que proporcionar: . A desconcentração e a democratização da estrutura fundiária; a produção de alimentos básicos; a geração de ocupação e renda; o combate à fome e à miséria; a diversificação do comércio e dos serviços no meio rural; a interiorização dos serviços públicos básicos;
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