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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL 
UNIDADE UNIVERSITÁRIA HORTÊNSIAS 
CURSO DE BACHARELADO EM GESTÃO AMBIENTAL 
 
 
 
 
 
SAMUEL PRESA RODRIGUES 
 
 
 
 
USO DOS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO 
DE ÁREAS DEGRADADAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO FRANCISCO DE PAULA 
2021 
 
1 
 
SAMUEL PRESA RODRIGUES 
 
 
 
 
 
 
USO DOS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO 
DE ÁREAS DEGRADADAS 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado como requisito parcial para 
obtenção do título de Bacharel em Gestão 
Ambiental na Universidade Estadual do 
Rio Grande do Sul. 
 
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Maisonette 
Duarte 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO FRANCISCO DE PAULA 
2021 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação de publicação na fonte (CIP) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário da Uergs Marcelo Bresolin CRB 10/2136 
 
 
 
 
 
 
 
R696u Rodrigues, Samuel Presa 
 
 Uso dos princípios da agricultura sintrópica na recuperação de 
áreas degradadas/ Samuel Presa Rodrigues. – São Francisco de 
Paula, 2021. 
 
53 f. 
 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade 
Estadual do Rio Grande do Sul, Curso Superior de Bacharelado em 
Gestão Ambiental, Unidade em São Francisco de Paula, 2021. 
 
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Maisonette Duarte 
 
1. Recuperação de Solos. 2. Serviços Ecossistêmicos. 3. 
Sintropia. 4. Monografia. I. Duarte, Marcelo Maisonette. II. 
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Curso Superior de 
Bacharelado em Gestão Ambiental, Unidade em São Francisco de 
Paula, 2021. III. Título. 
 
3 
 
SAMUEL PRESA RODRIGUES 
 
USO DOS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO 
DE ÁREAS DEGRADADAS 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado como requisito parcial para 
obtenção do título de Bacharel em Gestão 
Ambiental na Universidade Estadual do 
Rio Grande do Sul. 
 
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Maisonette 
Duarte 
 
Aprovado em: / / 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_____________________________________________________ 
Orientador - Dr. Marcelo Maisonette Duarte 
UERGS Hortênsias 
 
_____________________________________________________ 
Dr.ª Patrícia Binkowski 
UERGS Hortênsias 
 
_____________________________________________________ 
M.ª Patrícia Pereira Vaz 
Mutirão Agroflorestal-SP 
 
 
 
SÃO FRANCISCO DE PAULA 
2021 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Arthur e Aurora, que intensificaram 
minha vontade de ser melhor e foram 
a minha força nos momentos mais 
difíceis e a Celina Knevitz por todo 
apoio e incentivo, dedico. 
 
 
 
 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço imensamente a oportunidade de poder estudar em uma universidade 
pública, estadual, especializada e plural como a UERGS. Ter a oportunidade de 
aprender durante nove semestres com professores Doutores e Doutoras com largas 
experiências científicas e empíricas, com toda certeza fizeram e farão a diferença em 
minha carreira acadêmica, profissional e social, sou muito grato por isso. Também 
agradeço a todos que fizeram parte dessa jornada e de alguma maneira contribuíram 
para a minha formação, agradeço especialmente ao meu orientador Dr. Marcelo 
Maissonette Duarte, por toda liberdade e encaminhamentos durante o processo de 
construção deste trabalho, a Dr.ª Márcia Berreta, Dr.ª Patrícia Binkowski, Dr. Leonardo 
Beroldt, M.ª Patrícia Vaz e Dr.ª Adriana Lau por todo incentivo e parcerias durante 
essa graduação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Cada ser vivo nasce equipado para realizar 
suas tarefas e cumprir suas funções movidos 
pelo prazer interno, a cooperação mútua e o 
amor incondicional” 
Ernst Götsch 
RESUMO 
 
A degradação de ambientes naturais, principalmente florestas, tornou-se um grave 
problema ecossistêmico no mundo. Segundo a EMBRAPA (2016), estudos apontam 
que 30% dos solos no mundo estão degradados. Nessa perspectiva, os Planos de 
Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs) são ferramentas importantes da gestão 
ambiental, todavia, a grande dificuldade de acertos em sua implementação, além dos 
elevados custos, são fatores que contribuem para a falta de êxito na execução destes 
projetos. Nesse sentido novas metodologias para PRADs são importantes para o 
aumento do êxito destes. A Agricultura Sintrópica (AS) surge no final do século XX 
como uma alternativa ao modelo agrícola dominante, tendo como propulsor o 
pesquisador Suíço Ernst Götsch. Recentemente foram estabelecidos 15 princípios da 
AS, e esses dialogam com a ecologia, agroecologia, botânica, biologia, física, dentre 
outras ciências conhecidas. O presente trabalho visa analisar o referencial teórico 
sobre os princípios da AS e sua possível utilização na otimização de PRADs. Para 
essa finalidade usa abordagem qualitativa e narrativa dos princípios da AS na análise 
bibliográfica de artigos, teses e livros sobre o tema. Como resultado do estudo é 
apresentado os possíveis ganhos ambientais, sociais e econômicos da utilização 
destes princípios em PRADs. Bem como, a discussão sobre a possibilidade de utilizar 
áreas degradadas para reforma agrária. Conclui-se que a AS pode diminuir o tempo 
de transição entre o estado degradado e a floresta consolidada aproveitando a 
evolução temporal da recuperação para obtenção de alimentos e outros recursos. 
 
Palavras-chave: Sistemas Agroflorestais. Recuperação de solos. Serviços 
ecossistêmicos. Sintropia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
 
ABSTRACT 
 
The degradation of natural environments, especially forests, has become a serious 
ecosystem problem in the world. According to EMBRAPA (2016), studies show that 
30% of the world's soils are degraded. In this perspective, the Degraded Areas 
Recovery Plans (PRADs) are important tools for environmental management, 
however, the great difficulty in getting their implementation right, in addition to the high 
costs, are factors that contribute to the lack of success in the execution of these 
projects. In this sense, new methodologies for PRADs are important to increase their 
success. Syntropic Agriculture (AS) emerged at the end of the 20th century as an 
alternative to the dominant agricultural model, with the Swiss researcher Ernst Götsch 
as its driving force. Recently, 15 AS principles were established, and these dialogue 
with ecology, agroecology, botany, biology, physics, among other known sciences. 
This work aims to analyze the theoretical framework on the principles of AS and its 
possible use in the optimization of PRADs. For this purpose, it uses a qualitative 
approach and narratives of the principles of SA in the bibliographic analysis of articles, 
theses and books on the subject. As a result of the study, the possible environmental, 
social and economic gains from the use of these principles in PRADs are presented. 
As well as, the discussion about the possibility of using degraded areas for land reform. 
It is concluded that the AS can decrease the transition time between the degraded 
state and the consolidated forest, taking advantage of the temporal evolution of the 
recovery to obtain food and other resources. 
 
Keywords: Agroforestry Systems. Soil recovery. Ecosystem services. Syntropy.
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................13 
2. OBJETIVOS ........................................................................................................14 
2.1 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................14 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................143. METODOLOGIA .................................................................................................15 
4. REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................16 
4.1 A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................16 
4.1.1 Os custos ambientais, sociais e econômicos da degradação ambiental ........17 
4.2 INSTRUMENTOS LEGAIS E REGULAMENTAÇÃO DO PRAD .......................18 
4.2.1 Novas metodologias para a Recuperação de Áreas Degradadas ..................22 
4.3 A AGRICULTURA SINTRÓPICA (AS) DE ERNST GÖTSCH ...........................23 
4.3.1 Estudos científicos sobre a Agricultura Sintrópica ..........................................24 
4.3.2 Entropia x Sintropia ........................................................................................26 
5. OS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA .........................................30 
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................36 
6.1 A AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS 
DEGRADADAS .......................................................................................................36 
6.2 ÁREAS DEGRADADAS, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E SEGURANÇA 
ALIMENTAR ............................................................................................................44 
6.3 ÁREAS DEGRADADAS E REFORMA AGRÁRIA .............................................46 
7. CONCLUSÕES ...................................................................................................48 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................50 
 
 
PREÂMBULO 
 
Em 2018, tive a honra de participar do primeiro seminário sobre Agricultura Sintrópica 
(Construindo uma Linguagem Comum), realizado no Sítio Semente no Distrito 
Federal. Nessa oportunidade reconhecidos pesquisadores e aperfeiçoadores das 
técnicas agroflorestais estavam presente com a finalidade de dialogar sobre a 
construção dessa linguagem comum para esse modelo agrícola que agora, segundo 
o seu criador Ernst Götsch, passaria a se chamar Agricultura Sintrópica. Foram três 
dias de discussões, ponderações e as considerações de Ernst para com os seus 
“discípulos” sobre o porquê de Agricultura Sintrópica e quais as perspectivas futuras 
em torno disso. Saímos do simpósio confiantes e empolgados com as novas 
fundamentações para as práticas já empregadas pela maioria dos presentes e com a 
certeza que em breve nos seria apresentado um material elaborado pelo próprio Ernst, 
onde esse apresentaria os princípios que estruturam a Agricultura Sintrópica e suas 
ações. Foi então que em setembro de 2019 no mesmo Sítio Semente, onde também 
tive a honra de estar presente, nos foram apresentados os 15 princípios elaborados 
por Ernst que definiriam as bases para as ações e a compreensão desse modelo 
agrícola que ele próprio nomeou de Agricultura Sintrópica. 
13 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Existem muitos motivos pelo qual a academia, os governos e a sociedade 
devem olhar o meio ambiente, e principalmente a de gradação deste, com atenção. A 
degradação ambiental afeta as condições de vida dos indivíduos e comunidades de 
muitas maneiras. Isso, por sua vez, reflete em aumento de custos e sem dúvidas, 
apesar de afetar a todos, são os indivíduos e comunidades mais pobres os maiores 
prejudicados com a degradação ambiental. 
Nesse sentido, a fundamentação científica de novas metodologias para 
Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs) são de suma importância, 
tanto do ponto de vista ambiental, quanto social e econômico. O Gestor Ambiental, 
dentro das suas atribuições e formação multidisciplinar, pode construir projetos com a 
finalidade de integrar as demandas socioambientais às políticas públicas e ao 
cumprimento da legislação e dessa maneira contribuir para a resolução de conflitos. 
Os sistemas agroflorestais tem ganhado notoriedade dentro do cenário 
agrícola tanto no Brasil como no mundo, principalmente entre pequenas propriedades 
rurais, assentamentos da reforma agrária e agricultura familiar. Dentre diversas 
tecnologias Agroecológicas, tanto sociais como de inovação tecnológica, ou mesmo a 
fusão de ambas, a Agricultura Sintrópica (AS) destaca-se por ser uma agricultura 
baseada em processos que tendem a um maior aproveitamento energético e, com 
isso, uma maior quantidade de energia e vida consolidada dentro do sistema. 
A possibilidade de utilização dos princípios da AS em PRADs pode auxiliar no 
êxito desses projetos e diminuir o espaço temporal para o estabelecimento de 
composições florestais. Além, de permitir a produção de alimentos e outras fontes de 
recursos durante e após sua implementação. 
Problemas históricos no Brasil, como desmatamento, distribuição de renda, 
reforma agrária e justiça social parecem conectados entre si pelo contexto do 
ambiente enquanto espaço de vida e principal fonte de recursos para a subsistência 
humana. Por isso, a preservação do meio ambiente e a recuperação de áreas 
degradadas são importantes para a qualidade e manutenção da vida. 
14 
 
2. OBJETIVOS 
 
2.1 OBJETIVO GERAL 
 
Analisar o referencial teórico sobre os princípios da Agricultura Sintrópica de 
Ernest Götsch e sua possível utilização em Projetos de Recuperação de Áreas 
Degradadas. 
 
 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
a) Identificar a viabilidade do uso dos princípios da Agricultura Sintrópica na 
recuperação de solos e áreas florestais degradadas; 
b) Demonstrar teoricamente quais os ganhos econômicos, ambientais e 
sociais deste uso; 
c) Elaborar um modelo de uso desses princípios e discutir sobre seus 
possíveis resultados. 
 
15 
 
3. METODOLOGIA 
 
 
Ao analisar conteúdos como técnica de pesquisa e ao fazer-se tratamento de 
conteúdos expressos de uma comunicação é possível estabelecer estratégias de 
sistematização objetivas, sistemáticas e quantitativas (BERELSON, 1952). No 
entanto, a investigação qualitativa assume importante proposta em abordagens mais 
recentes, principalmente na análise de conteúdos de natureza dialética e etnográfica. 
 
Mesmo tendo sido uma fase de grande produtividade aquela em que esteve 
orientada pelo paradigma positivista, valorizando sobremodo a objetividade e 
a quantificação, esta metodologia de análise de dados está atingindo novas 
e mais desafiadoras possibilidades na medida em que se integra cada vez 
mais na exploração qualitativa de mensagens e informações. Neste sentido, 
ainda que eventualmente não com a denominação de análise de conteúdo, 
se insinua em trabalhos de natureza dialética, fenomenológica e etnográfica, 
além de outras. (MORAES, 1999, p.7). 
 
A revisão narrativa por não utilizar critérios explícitos e sistemáticos para a 
busca e análise crítica da literatura pode não aplicar estratégias de busca sofisticadas 
e exaustivas. Por isso, a seleção dos estudos e a interpretação das informações 
podem estar sujeitas à subjetividade dos autores (UNESP, 2015). 
Para Alves e Mazzotti (2002) a revisão de literatura ou revisão bibliográfica 
pode ter dois propósitos: a construção de uma contextualização para o problema e a 
análise das possibilidades presentes na literatura consultada para a concepção do 
referencial teórico da pesquisa (ALVES; MAZZOTTI, 2002). Esse tipo de produção 
permite que o material coletado pelo levantamento seja obtido em fontes científicas 
(artigos, teses, dissertações) e também fontes de divulgação de ideias (revistas, sites, 
vídeos, etc.) e a partir de sua análise, o pesquisador pode elaborar ensaios que 
favorecem a contextualização, problematização e uma primeira validação do quadro 
teórico a ser utilizado na investigação empreendida (UNESP, 2015). 
O presente trabalho usa uma revisão narrativa de artigos, teses, dissertações, 
livros e sites, bem como,à análise qualitativa de simpósios, vivencias e cursos no 
âmbito da Agricultura Sintrópica. 
 
 
16 
 
4. REFERENCIAL TEÓRICO 
 
4.1 A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL 
 
A degradação de ambientes naturais, principalmente florestas, tornou-se um 
grave problema ecossistêmico no mundo. É evidente que a perda de florestas acelera 
os processos de degradação do planeta Terra, principalmente no que se refere a água, 
solo e biodiversidade. A perda de cobertura vegetal, principalmente as florestas 
nativas é alarmante e exige da academia, governos e sociedade uma postura empírica 
para as questões relacionadas ao meio ambiente. 
Desde o neolítico, quando o gênero Homo deixa de ter sua subsistência 
baseada na coleta e caça passando então a cultivar alimentos e domesticar animais 
para seu uso e consumo, estabelecendo então uma relação de uso e ocupação dos 
solos, a degradação dos ambientes naturais não parou de se intensificar. Essa nova 
postura da espécie H. sapiens levou os ecossistemas naturais a serem modificados 
intensamente por ações antrópicas. Isso, por sua vez, fez com que algumas espécies 
fossem retiradas do seu habitat para que outras fossem inseridas. Hoje, a agricultura 
em larga escala, a pecuária extensiva, aglomerações urbanas e as grandes plantas 
industriais, ocupam porções significativas do espaço terrestre e os modificam (PASINI, 
2017). 
Esses mesmos espaços outrora eram ocupados por ecossistemas naturais 
biodiversos e ricos em recursos ecossistêmicos como ar e água potável de excelente 
qualidade. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) 
estudos apontam que 30% dos solos no mundo estão degradados (EMBRAPA, 2016). 
No Brasil, nas últimas décadas e mais acentuadamente nos últimos anos 
percebemos uma enorme pressão comercial e política sobre os espaços florestais 
nativos. Conforme o ex-diretor do Departamento de Florestas do Ministério do Meio 
Ambiente (MMA) Fernando Tatagiba (2012), estudos estimam que há 140 milhões de 
hectares de áreas degradadas no Brasil. O total de terras nessa situação no país 
corresponde a uma área superior a duas vezes o tamanho da França (AGÊNCIA 
BRASIL, 2012). 
Conter o avanço da destruição das florestas deveria ser uma prioridade 
mundial. A Europa Ocidental já perdeu 99,7% de suas florestas primárias; a Ásia, 94%. 
17 
 
África, 92%; Oceania, 78%; América do Norte, 66%; e América do Sul, 54% 
(GREENPEACE, 2007). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2000), no final da 
década de 1990, o Brasil ainda possuía aproximadamente 5,5 milhões de Km² (550 
milhões de hectares) de florestas nativas, o que corresponde a 65% do território 
nacional. Desses, 2/3 eram de Floresta Amazônica e o restante correspondendo aos 
remanescentes de Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e ecossistemas associados, em 
diferentes estágios de conservação (BRAGA, 2006). 
De um total de, aproximadamente, 1,3 milhão de km² da Mata Atlântica 
primitiva, restam apenas cerca de 50 mil km², menos de 5% da área original. As áreas 
desmatadas da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica e do Cerrado somam 2,5 
milhões de km² (250 milhões de hectares), quase 30% do território brasileiro, ou a 
soma das superfícies formadas pelos Estados das Regiões Nordeste e Sudeste. Os 
técnicos florestais estimam que o desmatamento, em todo o território é superior a 300 
milhões de hectares de matas (IBAMA, 2010). 
Dados de 2020 do Sistema Deter, divulgados pelo Instituto Nacional de 
Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, entre os anos de 2019 e 2020, o 
equivalente a 1.100.000 campos de futebol foram desmatados somente no território 
brasileiro da Amazônia legal. O que significa um aumento de 34% em relação ao 
mesmo período do ano anterior (INPE, 2020). 
 
4.1.1 Os custos ambientais, sociais e econômicos da degradação ambiental 
 
Por sua complexidade, abrangência e interconectividade, é demasiado difícil 
mensurar com precisão os custos ambientais, econômicos e sociais da degradação 
ambiental no Brasil e no mundo, todavia, é fácil evidenciar que a contaminação de 
águas, solos, ar e as perdas florestais impactam a sociedade e o ambiente das mais 
variadas formas. Sabe-se, por exemplo, que a poluição de cursos d’água pela falta de 
saneamento ou mesmo contaminações por agrotóxicos e resíduos industriais 
aumenta sobremaneira os custos com tratamento para a potabilidade das águas. 
Segundo Tundisi (2010) estima-se que o tratamento para produção de água potável 
custa de R$ 200,00 a R$ 300,00 reais por 1.000 m3 de água potável a partir de fontes 
degradadas. O custo para tratar águas pristinas e não contaminadas pode chegar, no 
máximo, a R$ 10,00 reais (TUNDISI, 2010). 
18 
 
Este é um exemplo, mas sabe-se que há outros custos muitas vezes não 
contabilizados como internações por doenças que se propagam pelas águas; horas 
de trabalho perdidas por doenças que têm sua origem em águas contaminadas; 
intoxicações por substâncias tóxicas ou mesmo problemas de saúde relacionados a 
falta de água que é um elemento essencial à vida. O aquecimento global também é 
oneroso haja vista os inúmeros problemas de saúde decorrentes, bem como, uma 
maior dificuldade e custo na produção de alimentos, o que causa elevados prejuízos 
sociais e ambientais, principalmente para os indivíduos em vulnerabilidade social. 
Dessa maneira um ambiente saudável certamente proporciona economia de 
recursos em questões relacionadas à saúde e bem estar (CUNHA; AUGUSTIN, 2014). 
Solos não degradados produzem alimentos mais saudáveis e com menos custos. 
Também a preservação da biodiversidade proporciona que serviços ecossistêmicos 
essenciais à vida possam acontecer permitindo que as condições de qualidade do ar, 
água e clima sejam favoráveis à existência humana e de outras espécies de vida. 
(THOMAZIELLO, 2016). 
Por outro lado, terras degradadas não produzem, ou têm elevados custos de 
produção necessitando de agroquímicos prejudiciais à saúde humana e ao meio 
ambiente. Certamente que modelos de produção sustentáveis acarretariam grande 
economia de recursos financeiros tanto privados quanto públicos o que beneficiaria a 
toda uma cadeia ambiental, social e econômica. Da mesma maneira o custo para 
recuperar uma área totalmente degradada é alto, dessa forma, conciliar a recuperação 
de áreas degradadas com produção de alimentos, madeiras e distribuição de renda 
remete a ganhos socioambientais. 
 
4.2 INSTRUMENTOS LEGAIS E REGULAMENTAÇÃO DO PRAD 
 
Os PRADs são ferramentas importantes da gestão ambiental e instrumentos 
de ação para a reabilitação de áreas que por ações antrópicas tiveram suas funções 
ecológicas modificadas ou interrompidas. E por isso, são indispensáveis e cada vez 
mais necessários visto o grande número de áreas com significativas parcelas de solos, 
florestas e recursos degradados e consequentemente, impossibilitados de prestar 
serviços ecossistêmicos. 
19 
 
O Decreto-lei nº. 97.632/89 - Regulamentou a Lei nº. 6.938/81, e obriga que a 
área degradada seja recuperada como parte do Relatório de Impacto Ambiental 
(RIMA) também instituiu o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), que 
pode ser empregado de forma preventiva ou corretiva (MMA, 2013). A instrução 
normativa nº. 4, de 13 de abril de 2011 - estabelece procedimentos para elaboração 
de Projeto de Recuperação de Área Degradada ou Área Alterada. Esta instrução traz 
como anexos Termos de Referência e distingue dois tipos de PRAD (PRAD e PRAD 
simplificado), aplicados conforme cada caso especificado na norma. Na instrução, é 
determinado que “o PRAD deve reunir informações, diagnósticos, levantamentos e 
estudos que permitam a avaliação da degradação ou alteração e a consequente 
definição de medidas adequadas à recuperação da área”. Este dispositivo proposto 
pelo IBAMA orienta então como elaborar um PRAD para apresentação aos órgãos 
competentes (IBAMA, 2011). 
Apesar de sua importância, existemgrandes dificuldades na execução dos 
PRADs, e entre eles o alto custo de sua implementação e a perda de obtenção de 
recursos econômicos nessas áreas, o que por sua vez pode encontrar barreiras 
sociais e políticas principalmente em áreas onde a obtenção de renda está direta ou 
indiretamente ligada a essas parcelas de terra. 
Para Corrêa (2007), os Planos de Recuperação de Área Degradada 
executados em áreas de Cerrado podem custar até R$ 15.000,00 por hectare 
revegetado. Na Planilha de custos do Ministério do Meio Ambiente, para uma área em 
Goiás, o custo de recuperação de área degradada varia de R$57.048,85 a R$ 
72.154,75 por hectare de área recuperada (MMA, 2013). Na Mata Atlântica o custo 
pode chegar a R$ 40.000 por hectare em área completamente degradada. (ALMEIDA 
et al., 2010). Já com a utilização de técnicas inovadoras, como uma desenvolvida pela 
EMBRAPA por exemplo, é possível um custo de R$ 1.250 por hectare recuperado 
(SANTOS & GOMES, 2012). 
Nesse sentido, a possibilidade de conciliar a recuperação de áreas 
degradadas e consequentemente serviços ecossistêmicos aliados a ganhos 
econômicos e sociais, acelerando o processo de transição entre o estado degradado 
e a terra fértil, tende a encontrar maior apoio social e político. 
As leis com a finalidade de organizar uma política nacional de meio ambiente 
e uma estrutura governamental no nível federal em relação aos assuntos ambientais 
têm início no ano de 1981, com a Lei Federal nº. 6938/81 que estabelece a Política 
20 
 
Nacional de Meio Ambiente e cria o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 
e o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), estes foram posteriormente 
regulamentados pelo Decreto nº. 88.351 de 01 de junho de 1983. Nessa lei, fica 
definido como degradação ambiental qualquer alteração nas características e nos 
elementos que integram o meio ambiente (BRASIL, 1983). 
Em 1985 acontece um grande avanço no que diz respeito às ações relativas 
ao meio ambiente com a possibilidade da participação popular através da Lei Federal 
nº. 7.347/85, que prevê ação civil pública permitindo a defesa do meio ambiente na 
esfera jurídica e também cria instrumentos com a finalidade de viabilizar a 
recuperação de áreas degradadas. Foi criado também um fundo específico para este 
fim além de permitir a licitação para contratação de empresas para recuperação de 
áreas degradadas (BRASIL, 1985). 
Através da Resolução CONAMA nº. 001, de 23 de janeiro de 1986 as 
diretrizes gerais para o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto 
Ambiental (RIMA), passou a exigir a realização prévia do EIA e RIMA para 
determinados empreendimentos sendo necessários diagnósticos e planejamento com 
o objetivo de minimização de impactos e mitigação de possíveis danos ambientais 
(BRASIL, 1986). 
Em 1988 a floresta atlântica passou a ser considerada patrimônio nacional 
pela Constituição Federal e sua utilização ficou restrita à lei que prevê condições que 
assegurem a sua preservação, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. No 
entanto, a Lei nº. 11.428, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa 
do Bioma Mata Atlântica foi estabelecida somente no ano de 2006. A Constituição 
Federal de 1988, no Artigo 225, consolida os instrumentos existentes e a partir dela 
temos a criação de novos instrumentos para a proteção ambiental como: ação 
popular, mandato de segurança e mandato de injunção, além de dar maior respaldo 
para os mecanismos já existentes. Nesta lei fica implícita a necessidade de reparação 
de danos ambientais mesmo com as sanções de multas sobre pessoa física e jurídica 
responsáveis pela degradação (BRASIL, 1988). 
No ano de 1989 com a regulamentação da Lei nº. 6.938/81, a recuperação de 
área degrada passa a ser obrigatória no Relatório de Impacto Ambiental e é instituído 
o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) que deve ser implementado de 
maneira corretiva ou preventiva. Já no ano de 1998 são atribuídas sanções penais e 
21 
 
administrativas para atividades que causem dano ambiental. No art. 23, II, o infrator é 
obrigado a recuperar o ambiente degradado. Essa lei ficou conhecida como Lei dos 
Crimes Ambientais, permitindo processos penais para os crimes ambientais e 
prevendo penalidades como prestação de serviços comunitários, interdição de 
direitos, suspensão de atividades e recolhimento domiciliar, dentre outras 
penalidades. Também é criado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), 
formalizado pelo órgão ambiental através do Ministério Público obrigando o 
cumprimento das ações estipuladas no TAC (BRASIL, 1989; 1998). 
 Em abril de 2000 cria-se o Programa Nacional de Florestas que tem por 
objetivo fomentar a recomposição e restauração de florestas enquadradas como áreas 
de preservação permanente (APP). Já em 2006 através da Resolução do CONAMA 
nº. 387/06, de 27 de dezembro, o licenciamento torna-se obrigatório para 
assentamentos rurais e prevê ações de recuperação de áreas degradadas através da 
elaboração de Plano de Recuperação de Assentamento, nesse plano é previsto a 
recuperação de áreas em APP e reserva legal (CONAMA, 2006). 
Ainda no ano de 2006 ficam estabelecidas as medidas compensatórias para 
casos de supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração, 
definindo que a área de recuperação seja equivalente à área do empreendimento e 
com as mesmas características ecológicas, dentro da mesma bacia hidrográfica e, se 
possível, dentro da mesma microbacia. Essa lei sobre a utilização e proteção da 
vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, Lei Federal nº. 11.428 de dezembro de 
2006, também determina em seu art. 10, que o poder público fomentará o 
enriquecimento ecológico da vegetação do Bioma Mata Atlântica com plantio e 
reflorestamento de espécies nativas (MMA, 2006). 
Em abril de 2011 através de Instrução normativa, são estabelecidos 
procedimentos para elaboração de Projeto de Recuperação de Área Degradada – 
PRAD. Esta instrução cria os Termos de Referência e distingue os planos em PRAD 
e PRAD simplificado. Na instrução, é determinado que “o PRAD deve reunir 
informações, diagnósticos, levantamentos e estudos que permitam a avaliação da 
degradação ou alteração e a consequente definição de medidas adequadas à 
recuperação da área”. Este dispositivo foi proposto pelo IBAMA e orienta como devem 
ser elaborados os PRADs para apresentação aos órgãos competentes (IBAMA 2011). 
Ao avaliarmos as leis, instruções normativas e demais dispositivos legais para 
a recuperação de área degradada no Brasil, percebemos um conjunto estrutural bem 
22 
 
definido e apto a cumprir sua função de regulamentação, fiscalização e recuperação 
de áreas degradadas, no entanto, evidenciam-se grandes dificuldades em sua 
implementação e apesar das leis estima-se que o Brasil hoje tenha 140 milhões de 
hectares de áreas degradadas passíveis de recuperação (AGÊNCIA BRASIL 2012). 
Em projetos de mineração é exigido o Plano de Recuperação de Área 
Degradada para a obtenção da licença ambiental. Porém, estudos apontam que quase 
90% dos PRAD apresentados durante os processos de licenciamento de jazidas no 
Distrito Federal, por exemplo, não foram executados após o fechamento das minas. 
Esse índice é uma amostra do que ocorre em outras regiões do Brasil, onde os PRADs 
não são executados ou executados de modo insatisfatório (LEITE; CASTRO, 2002). 
Na medida em que essas áreas degradadas deixam de ser viáveis do ponto 
de vista econômico, tornando o custo de produção demasiado alto, crescem as 
pressões comerciais e políticas sobre o território ainda preservado e fértil, o que por 
sua vez, faz com que biomas importantes como Pantanal, Cerrado, Amazônia e 
Pampa, tenham suas áreas nativas convertidas em pastagens e extensas 
monoculturas. 
 
4.2.1 Novas metodologias para a Recuperação de Áreas Degradadas 
 
Diante do cenário de degradação ambiental, principalmenteem relação às 
composições florestais e recursos hídricos e, tendo conhecimento das graves 
consequências deste, faz-se necessário e urgente que áreas degradadas tenham 
suas funções ecológicas e sociais restabelecidas. Apesar de termos uma legislação 
pertinente e dispormos de técnicas para a recuperação destas áreas, ainda estamos 
longe de solucionar tal demanda. Questões relativas a custos, tempo e engajamento 
para tal finalidade são entraves para estes projetos. 
Em um universo de 140 milhões de hectares de áreas degradadas em solo 
brasileiro, é possível a partir de um passivo ambiental, criar oportunidades de 
crescimento econômico, segurança alimentar, justiça social e recuperação de 
composições florestais. A elaboração de políticas públicas nessa direção pode 
fomentar ações nesse sentido. 
A Agricultura Sintrópica ao proporcionar as técnicas necessárias para acelerar 
os processos ecológicos de recuperação de solos, através do consórcio de espécies 
23 
 
e técnicas de manejo, pode trazer grandes ganhos, uma vez que a eficácia destas 
técnicas já é tanto comprovada de maneira empírica, como estudadas pela academia 
em diversas áreas no Brasil. A criação de assentamentos com a finalidade de 
recuperar áreas degradadas ao mesmo tempo que pode fomentar uma reforma 
agrária em larga escala no país, também pode transformar milhares de hectares que 
hoje estão inférteis e são passivos ambientais em florestas produtivas. 
O apoio e incentivo à pesquisa científica na busca de inovações tecnológicas, 
bem como, o resgate e aprimoramento de tecnologias sociais voltadas a produção de 
alimentos e produtos oriundos de sistemas agroecológicos precisa de políticas 
públicas objetivas que venham ao encontro das necessidades ambientais e sociais 
em nível local, regional e federal. 
 Como complementação da AS, temos também outros modelos de 
agriculturas ecológicas como: Agricultura Orgânica; Agricultura Biodinâmica; 
Agricultura Biológica; Agricultura Natural; Permacultura; Agricultura Alternativa; 
Agroecologia; Sistemas Agroflorestais (SAFs) e em todas essas alternativas os 
princípios da Agricultura Sintrópica podem ser utilizados. 
 
4.3 A AGRICULTURA SINTRÓPICA (AS) DE ERNST GÖTSCH 
 
A Agricultura Sintrópica surge no final do século XX como uma alternativa ao 
modelo dominante de agricultura que se baseia em monoculturas com alto grau de 
impactos negativos oriundos das grandes áreas ocupadas, baixa ou inexistente 
diversidade biológica e uso excessivo de agrotóxicos e fertilizantes químicos. 
O pesquisador Suíço Ernst Götsch, que vive no Brasil desde a década de 
1980, plantou cerca de 500 hectares de floresta em uma região extremamente 
degradada da mata Atlântica. Usando o espaço de sua propriedade como laboratório, 
Ernst passou décadas observando e sistematizando o comportamento e as interações 
micro e macroecológicas dos ecossistemas por ele elaborados e analisados 
(PENEIREIRO, 1999). Os resultados são surpreendentes e desde então suas técnicas 
são utilizadas por diversos agricultores no Brasil e no mundo. Essas técnicas 
recentemente foram organizadas em 15 princípios e esses dialogam com a ecologia, 
agroecologia, botânica, biologia, física, dentre outras ciências conhecidas. 
24 
 
Os resultados dos estudos destas técnicas de agricultura têm se mostrado 
animadores e hoje são embasados por diversos trabalhos acadêmicos tanto de 
graduação como pós-graduação. No entanto, as pesquisas relacionadas a esse 
sistema agrícola ainda estão longe de dialogar com todos os resultados empíricos de 
sua prática. Esses resultados positivos são observados em muitos centros de 
referências no Brasil e no mundo, onde milhares de pessoas têm contato com esta 
tecnologia através de cursos, simpósios e vivências. 
Dentre as muitas características desse modelo de agricultura destaca-se a 
sua capacidade em acelerar os processos energéticos otimizando a fotossíntese. Isso 
se dá pelo plantio adensado, pela estratificação planejada, e as podas de condução. 
Assim, o solo sempre tem cobertura vegetal em diversos níveis, desde as primeiras 
espécies aptas a se desenvolver em solos degradados até chegar a florestas 
estabelecidas em um processo constante de formação de serapilheira e adubação 
verde. 
Estudos comprovam o ganho de fertilidade em solos onde os princípios da 
Agricultura Sintrópica são empregados (REBELLO, 2018). Da mesma maneira, a 
otimização do processo de fotossíntese aproveita muito melhor a energia solar. 
 
4.3.1 Estudos científicos sobre a Agricultura Sintrópica 
 
Se os estudos empíricos oferecem análises de grande valor didático para 
fenômenos ecológicos, ao mesmo, perde-se pela restrição de seu arcabouço 
investigativo. A impossibilidade de se mensurar simultaneamente as tantas 
contingências que influenciam determinado evento ecológico produz grandes 
lacunas contextuais e alimenta formulações de dicotomias científicas simples, 
passíveis de múltiplas interpretações dissonantes entre si. (PASINI, 2017, 
p.18). 
 
Vários centros de referência em Agricultura Sintrópica no Brasil, geridos em 
sua grande maioria por seguidores dos princípios da agricultura de Ernst, e também 
aperfeiçoadores da técnica, como o Sitio Semente em Brasília, DF; Fazenda Ourofino 
em Jaguaquara, BA e a Fazenda de Ernst Götsch em Piraí do Norte, sul da Bahia, por 
exemplo, mostram de maneira empírica que os resultados são excelentes, tanto 
econômica como ambientalmente. No entanto, a dificuldade de metodologias 
científicas que englobem a complexidade que os estudos demandam, contribuem para 
a formação de dicotomias científicas. 
25 
 
As ciências agrárias no Brasil tendem ao desenvolvimento econômico, visto 
que muitas pesquisas são financiadas por grandes empresas, principalmente de 
insumos e agroquímicos agrícolas. Desta forma, nosso sistema de produção tende a 
visar uma maior produtividade combinada a fatores que podem ser acelerados ou 
evitados com a utilização de insumos e agroquímicos existentes ou que possam vir a 
ser produzidos. Todavia, nas últimas décadas pode-se observar um crescente 
movimento na direção de métodos de produção menos danosos aos seres humanos 
e ao ambiente. A implementação de bacharelados e especializações nas áreas da 
Agroecologia, Gestão Ambiental e Engenharia Ambiental, foram ao mesmo tempo 
consequência e motores dessa crescente mudança. 
Apesar dos avanços e a emergência das tecnologias sociais na busca por 
alternativas aos modelos dominantes de uso e ocupação dos solos terem crescido 
nas últimas duas décadas, seu uso é quase incipiente em muitos projetos onde 
poderiam ser utilizados como na agricultura extensiva, sistemas agropastoris, plantas 
industriais, ocupações urbanas e na recuperação de áreas degradadas. Nesse 
contexto, a AS vem ao encontro de um grande problema que tem pressionado 
principalmente os países emergentes que buscam crescimento econômico e social na 
produção de commodities, uma vez que isso quase sempre está atrelado ao uso 
extensivo e exaustivo de recursos naturais importantes como solos, florestas e água. 
Ao analisarmos os elementos naturais em sua totalidade, principalmente no 
que se refere à evolução dos sistemas naturais em suas diversas fases de evolução, 
constata-se que o planeta cria para si um instrumentário inteligente que tem como 
objetivo principal a criação de sistemas florestais partindo do simples para o complexo 
(GÖTSCH, 1995). Nesse sentido, e entendendo que a vocação natural do planeta 
nessa era é a formação de florestas, conhecer e estimular esses processos através 
de intervenções sintrópicas pode acelerar a recuperação de áreas já degradadas, bem 
como, ser um atenuante para áreas que tendem a ser degradadas por atividades 
diversas. A produção científica nessa direção, na busca por metodologias que possam 
alcançar essa complexa interconectividade que “aos olhos nos é nítido” se faz cada 
vezmais necessária. 
Ana Primavesi já alertava para o perigo dos impactos do modelo dominante 
de agricultura e os efeitos da utilização de agrotóxicos sobre o ambiente natural e 
consequentemente os impactos negativos sobre a biodiversidade e da possibilidade 
26 
 
de um manejo ecológico dos solos e seus resultados positivos para a agricultura e o 
meio ambiente (PRIMAVESI, 2002). 
 
4.3.2 Entropia x Sintropia 
 
A compreensão destes termos, Entropia e Sintropia, na dinâmica da Agricultura 
Sintrópica nos ajuda a estabelecer as relações necessárias ao desenvolvimento dessa 
tecnologia, uma vez que, dentro destes dois princípios se estabelecem seus alicerces 
metodológicos. Pois, apesar de à primeira vista serem termos dissonantes, em uma 
análise mais profunda são complementares (quadro 1). 
Essa percepção ocorre quando percebemos que a estrutura organizada e 
complexa dos organismos vivos é obtida por intermédio da desordem externa, a 
energia que tende para a “morte térmica” ao ter uma parte absorvida por sistemas 
abertos (sistemas biológicos) pode ser armazenada nestes e, com isso, gerar 
complexidade, contrariando as Leis da Física. 
 
 
Quadro 1 - Entropia x Sintropia 
 
Fonte: Agenda Götsch (2019) 
 
O conceito entropia é utilizado em muitas áreas do conhecimento, mas é na 
Segunda Lei da Termodinâmica que temos sua definição mais conhecida, onde está 
relacionada com a desordem do sistema e associada com a perda de energia. Dessa 
27 
 
maneira, quanto maior for a entropia mais desorganizado o sistema e maior a 
dissipação de energia. 
A definição de energia como a capacidade de produzir trabalho é definida pela 
primeira Lei da Termodinâmica. A mesma Lei afirma que a energia pode ser 
transformada de um tipo em outro, mas não pode ser criada ou destruída 
(ANACLETO, 2009). 
Já a segunda Lei da termodinâmica afirma que: Nenhum processo de 
transformação de energia ocorrerá espontaneamente a menos que haja um processo 
de degradação de energia de uma forma concentrada para uma forma dispersa. A 
compreensão deste conceito mostra que o aproveitamento de energia dispersa, calor 
por exemplo, nunca é 100% eficaz (ODUM, 1988). 
Isso nos faz entender que dentro de um sistema fechado a uma enorme 
quantidade de energia sendo desperdiçada continuamente - Entropia. Já sistemas 
biológicos (abertos) funcionam como uma negação da entropia (Neguentropia), onde 
a organização interna (do organismo ou do ecossistema) é conseguida através da 
desordem externa. A respiração é isso, consome energia que é dissipada como calor. 
 Apesar desta definição de entropia estar relacionada à termodinâmica 
(Equilíbrio de Processos Irreversíveis), também é possível observá-la em outras áreas 
do conhecimento: Mecânica Estatística, Matemática, Fisiologia e Ecologia, por 
exemplo. Todas traduzindo esse conceito físico para as condições específicas de 
seus respectivos domínios (ANDRADE, 2016; PASINI, 2017). 
No caso da floresta, quando a sucessão natural ocorre, aumenta a diversidade 
e, principalmente, existe um ganho de acumulo de energia do próprio sistema, ainda 
que nele ocorram processos entrópicos – respiração- e processos sintrópicos – 
fotossíntese, etc. Mas o saldo final no sistema é o ganho de energia dentro dele 
(Neguentropia), dentro da biomassa. Não há como discordar, pois sabe-se que uma 
floresta queima muito mais do que um pasto. Quanto mais biomassa, complexidade 
de tecidos como madeira e lignina, maior o poder calórico. Ou seja, o sistema tem 
mais energia guardada nele. Então, é importante observar que, apesar de existir 
imensa perda de energia solar, um sistema vivo é capaz de absorver e estocar 
energia. O resultado desse saldo positivo é, então, sintropia (VAZ, 2002, ANDRADE, 
2019). 
Na “Teoria das Estruturas Dissipativas” que deu a Ilya Prigogine o Prêmio Nobel 
de Química de 1977, a entropia, em relação a organismos ganha uma nova 
28 
 
perspectiva pois as flutuações estocásticas promoveriam a ordem e o aumento da 
complexidade em um dado sistema e com isso distanciando-se do equilíbrio 
termodinâmico. Isso no âmbito de estudos de sistemas vivos é imprescindível, pois 
quando os considerarmos como sistemas abertos também consideramos sua 
consequente capacidade de reduzir a entropia (PRIGOGINE; STENGERS, 1984). 
 
Organismos comportam-se como sistemas abertos que superam a tendência 
ao aumento da entropia por meio da conversão dos recursos ambientais 
(alimento, oxigênio, água) em crescimento e reprodução. Essa capacidade 
que sistemas biológicos possuem reflete-se em níveis organizacionais 
hierarquicamente mais amplos ao longo do processo evolutivo como, por 
exemplo, na modificação e adaptação de linhagens a um ambiente 
eternamente em mudança. Esse processo culminou no surgimento de 
estruturas de organização biológica complexas no planeta Terra – e, 
inclusive, nada impede que um processo idêntico ou equivalente tenha 
ocorrido em outros planetas com características similares ao nosso. 
(ANDRADE, 2016, p.36). 
 
Existem vários movimentos em busca de conceituações com a finalidade de 
uma definição universal para a entropia. Dentre eles alguns apontam para a 
necessidade de uma nova terminologia a fim de descrever uma tendência diversa à 
entropia como a “entropia negativa” de Erwin Schrödinger e a “sintropia” de Luigi 
Fantappiè e Ulisse Di Corpo. Muitos foram e ainda hoje são os esforços para buscar 
uma conceituação que dê conta de abarcar uma definição universal para esse 
fenômeno que parece estar intimamente ligado à vida (PASINI, 2017). 
O conceito de sintropia para Ernst, mesmo tendo pontos de convergência com 
alguns autores, tende, no entanto, a nomear um processo lógico que este observou 
na natureza e em suas experiências no manejo agroflorestal. E esse é o próprio 
fundamento metodológico de suas práticas na medida em que busca a convergência, 
o equilíbrio, o aumento da organização, da complexidade e com isso um aumento de 
recursos e consequentemente no aumento de energia no sistema, indo no caminho 
oposto à entropia: Sintropia (VAZ, 2002). 
Fenômenos ecológicos como a formação de sistemas florestais evidenciam 
essa dinâmica da entropia e sintropia uma vez que nesses sistemas os resíduos 
entrópicos são transformados em nutrientes que servem de estímulo para a formação 
de sistemas que, na medida em que evoluem, tornam-se cada vez mais complexos 
se auto abastecendo e aumentando cada vez mais a energia dentro do sistema. Isso 
ocorre pelo aumento de quantidade e qualidade de vida consolidada. (VAZ, 2002; 
ANDRADE, 2016; PASINI, 2017). 
29 
 
Esse processo que ocorre naturalmente, em todo lugar, é inerente ao planeta 
e por isso, Sintropia e entropia são processos dialéticos e complementares, vistos de 
uma escala restrita ao processo (respiração ou fotossíntese), mas o organismo que 
engloba ambos também pode ter uma direção, seja sintrópica ou entrópica. 
Assim, apesar de no planeta Terra termos processos entrópicos (por exemplo, 
respiração) e sintrópicos (por exemplo, fotossíntese), o saldo total do planeta é um 
aumento de energia. Ampliando um pouco mais a escala, vemos que essa energia 
que o planeta Terra acumula é uma parte pequeníssima da energia que o Sol emite, 
graças a um processo entrópico da estrela. Compreendendo isso percebe-se que 
entropia e sintropia são constantes recíprocas cuja dialética corresponde ao 
seno/cosseno, ou à expiração/inspiração, ou ainda ao ato de morrer/de nascer 
(ANDRADE, 2016). 
Em seu artigo publicado em 1995: “Homem e Natureza – cultura na agricultura” 
Ernst traz uma reflexão sobre a origem do termo agricultura – cultura, e 
compreendendo a sintropia como o pulso da vida, a coloca como ato de cultivar a vida, 
ou bem cuidar, e nisso a associa à mesma lógica da natureza. Então ele sugere que 
devemos “sincronizar essa atividade humana com a leis que regem os processos 
naturais” e complementa: “Paraconseguirmos isto, é preciso que haja em nós 
mesmos uma mudança fundamental, uma mudança na nossa compreensão da vida.” 
Ou seja, temos de ser sintrópicos (GÖTSCH, 1995). 
 
 
Figura 2 - Funcionamento da Vida segundo Ernst, do simples para o complexo. 
 
 Fonte: Agenda Götsch (2019) 
30 
 
 
 
5. OS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA SINTRÓPICA 
 
Em 2018, no primeiro simpósio sobre agricultura Sintrópica (AGRICULTURA 
SINTRÓPICA E A CONSTRUÇÃO DE UMA LINGUAGEM COMUM), realizado no 
Sítio Semente no Distrito Federal, conhecidos nomes dessa técnica que até então era 
conhecida como AGROFLORESTA SUCESSSIONAL, participaram e contribuíram 
para a construção de uma nova abordagem desse modelo de produção agrícola que 
agora, segundo seu criador o suíço Ernst Götsch, separava-se dos modelos até então 
conhecidos como sistemas agroflorestais para definir-se como Agricultura Sintrópica. 
Na oportunidade, evidenciou-se o incômodo de Ernst com a generalização de suas 
técnicas e um certo descontentamento em relação a estar tudo dentro de um mesmo 
“pacote” o que por sua vez todos chamavam de sistema agroflorestal. 
Mas o que de fato diferencia a AS dos sistemas agroflorestais? Entendendo os 
princípios da Agricultura Sintrópica estabelecidos por Ernst, fica mais fácil identificar 
essas diferenças, uma vez que, se há um consórcio entre verduras e árvores já pode 
ser caracterizado como agrofloresta. Já para a Agricultura Sintrópica a sintropia de 
um sistema está para além de um simples consórcio de plantas, na sintropia, é preciso 
haver aumento da quantidade e qualidade de vida consolidada e uma cooperação 
mútua entre os organismos que compõem determinado ambiente afim de que um 
favoreça o desenvolvimento do outro. A sintropia no sistema se caracteriza pelo 
aumento de quantidade e qualidade de vida consolidada, pois é aí que reside o 
aumento de energia dentro do sistema. Isso só é conseguido com a complexificação 
– aumento de funções, de nichos – e estas diferentes funções precisam estar em total 
sintonia, orquestradas, em total colaboração mútua para que o organismo/sistema se 
desenvolva. Todo o “trabalho”, de cada elemento, é em prol do organismo/sistema do 
qual fazem parte. 
 Dessa maneira a AS é um conjunto de técnicas que tem por objetivo reproduzir 
padrões pré-existentes em sistemas naturalmente concebidos, onde cada elemento 
do sistema está ali para cumprir determinada função, ou seja, é um instrumentário 
com finalidades especificas (PENEIREIRO, 1999; VAZ, 2002; HOFFMANN, 2013; 
ANDRES et. al., 2016; PASINI, 2017; ANDRADE, 2019). E o resultado desse manejo 
é uma alta taxa de fotossíntese dentro do sistema, resultando em um excelente 
31 
 
aproveitamento energético. Isso por sua vez, acelera muito o desenvolvimento da área 
plantada resultando em um sistema sadio pois potencializa a capacidade de cada 
elemento em se desenvolver. 
Segundo Ernst, ao observar o comportamento da vida na terra e suas 
interações, é possível perceber que existe um instrumentário que trabalha para 
otimizar os processos necessários à vida no planeta e praticamente tudo que nele 
existe, exceto o homem moderno, passa a existir para cumprir sua função. Dessa 
forma olha-se o planeta como um macroorganismo (hipótese Gaia; James Lovelock, 
2006) em constante transformação e adaptação e cada vez mais complexo e 
interdependente. Como ele complementa em seu segundo princípio e talvez esta seja 
a base mais sólida da Agricultura Sintrópica, pois, temos nele a compreensão de que 
cada indivíduo que surge, surge equipado para cumprir uma função no sistema do 
qual faz parte por intermédio das ações desse individuo todo o sistema se complexifica 
na medida que evolui, dando as condições para que o próximo sistema seja ainda 
mais complexo. 
Então, enquanto o sistema está pobre em energia, em complexidade, em vida, 
os indivíduos são resistentes a essa pouca vida. Mas como trabalham para que o 
sistema aumente sua energia interna, os próximos indivíduos que entram e que 
estarão trabalhando nesse sistema estarão equipados para absorver mais energia, 
mas demandam aquela já ali consolidada pelo “consórcio” anterior. 
Em resumo, são mais exigentes em vida. Em geral, os sistemas com mais vida 
são capazes de sustentar indivíduos maiores, mas também agregam espécies 
pequenas, como vírus e bactérias, fungos, etc. Existem os mais diversos tamanhos e 
tipos de indivíduos em termos de complexidade dos organismos. Entretanto, o mais 
importante é o sistema como um todo ser formado pelo maior número de funções e 
de processos naturais possíveis. Nisso, entende-se a importância da biodiversidade 
nos ecossistemas naturais e da mesma maneira, na recuperação de uma área 
degradada, é imprescindível criar as condições para o restabelecimento da 
biodiversidade. 
No Simpósio foram apresentados os seguintes princípios elaborados por Ernst 
(Agenda Götsch/Life in Syntropy, 2019): 
 
I - Estudando o funcionamento e o comportamento da vida neste planeta, e 
também a vida em suas interações com - e em sua relação com o Planeta 
Terra, e este último, visto como um macroorganismo, podemos claramente 
32 
 
atribuir-lhe características funcionais, digamos, propriedades ‘instrumentais’ 
e, assim sendo, como parte integral de um ‘instrumentário’, que o Planeta 
Terra criou para si mesmo, a fim de realizar sua estratégia sintrópica 
‘complexificadora’. 
 
II - Percebendo a vida da maneira supra descrita, observaremos o conceito 
instrumental e funcional na existência de todas as espécies que já 
apareceram, bem como nas que possam vir a existir: cada espécie que 
aparece, o faz para realizar suas tarefas específicas e para cumprir sua 
função. 
 
III - Cada indivíduo, de cada geração, de cada espécie aparece pré-
condicionado pelo que o precedeu. Com sua chegada, por meio de seu 
metabolismo, modifica seu entorno e co-codefine, e nesse sentido 
compartilha, faz parte da definição daquilo que o irá suceder. 
 
IV - O aparecimento de novos genótipos de espécies já existentes acontece 
por alteração nas condições de vida com as quais precisou lidar. O 
surgimento de novas espécies é necessário quando surgem tarefas cujas 
realizações ainda não estejam codificadas (não está incluída no código 
potencial das espécies existentes (AGENDA GÖTSCH/LIFE IN SYNTROPY, 
2019). 
 
Dessa maneira, podemos olhar para a evolução da vida nesse planeta e 
constatar que todos os organismos que existiram, existem e virão a existir o fazem 
para cumprir determinada função necessária a vocação natural do macroorganismo 
Terra nessa Era que na medida que evolui traz à existência organismos com maior 
complexidade para executar tarefas ainda mais complexas e com isso se adapta e 
passa informações para os próximos organismos que virão. Esse princípio serve de 
base para a sucessão natural (HARPER; BEGON; TOWNSEND, 2010), nesse caso 
para a formação de florestas, também nele identificamos o porquê da necessidade de 
se iniciar um sistema agroflorestal, ou mesmo a recuperação de uma área degradada, 
criando as bases (placenta) para que espécies mais exigentes possam ser inseridas 
o que por sua vez garante maior efetividade e sucesso do desenvolvimento do 
sistema. 
Nesses princípios podemos compreender por exemplo, que em um solo 
totalmente degradado o macroorganismo Terra irá providenciar para essa função 
organismos próprios para retomar as condições de fertilidade desse solo, uma terra 
exposta e compactada não é capaz de abrigar muitos organismos, no entanto, 
algumas espécies de gramíneas por exemplo, poderão crescer ali. Sem competição 
provavelmente elas tomarão conta da superfície destas áreas e serão consideradas 
pragas, mas para Ernst, elas são instrumentos desse macroorganismo para cumprir 
sua tarefa complexificadora, neste caso, criar as condições de recuperação desta 
33 
 
área. Após o estabelecimento desses primeiros organismos, serão criadasas 
condições para que outros surjam e dessa maneira, gradativamente outros irão surgir 
para novas funções, como insetos, pequenos invertebrados e fungos, a chegada 
desses novos organismos modifica o meio e cria condições para que novos 
organismos mais exigentes em vida surjam, ele classifica isto como sistema de 
colonização. 
Segundo Ernst, a vocação dessa Era no planeta é a formação de sistemas 
florestais, dessa maneira a instrumentalidade do planeta se mantém na mesma 
direção: a formação de composições florestais. Isso é facilmente observado ao 
deixarmos uma área sem interferência humana por determinado tempo, logo, os 
primeiros organismos aparecerão, gramíneas, fungos, minhocas, cupins, formigas, 
aranhas, arbustos, pequenos répteis, anfíbios, depois árvores, pássaros, pequenos 
mamíferos e consequentemente após algum tempo, teremos o início de uma formação 
florestal estabelecida e com isso uma grande rede interconectada e interdependente 
necessitando de um instrumentário altamente complexo para o seu funcionamento, 
incluindo mamíferos de grande porte. 
 Essa conexão e interdependência são a base do que chamamos de 
interações ecológicas (HARPER; BEGON; TOWNSEND, 2010), nisso está a 
importância da biodiversidade para a manutenção de sistemas ecológicos já 
estabelecidos, bem como, para a criação ou recuperação destes. Compreendendo 
esta interdependência e a conhecendo, podemos preservar as condições para que 
sistemas ecológicos não entrem em colapso e também para que áreas degradadas 
possam ser regeneradas. 
Nestes princípios também observamos uma oposição ao modelo dominante 
de agricultura que elimina toda a biodiversidade de uma área a fim de introduzir ali 
somente uma espécie a ser cultivada, esse modelo conhecido como monocultura 
baseado em insumos químicos vai em oposição ao sistema natural uma vez que não 
é capaz de acumular por si só a energia necessária ao seu desenvolvimento, que 
também é interrompido. Também é possível compreender nesses conceitos que não 
existem pragas, a proliferação em demasiado de determinada espécie é um indicador 
de que as condições daquele ambiente especifico necessitam da intervenção do 
instrumentário do planeta para corrigir determinada demanda. Desta maneira 
entende-se que aquela espécie é necessária e na medida que se estabelece em uma 
área que somente ela pode se desenvolver cumpre a sua função antecedendo as 
34 
 
próximas espécies pertencentes a sistemas mais complexos, e por isso mais 
exigentes, que a irão suceder. 
 
V - A instrumentalidade da vida com relação ao macroorganismo Terra se 
mantém a mesma; as tarefas a serem realizadas, no entanto, estão sujeitas 
a constantes mudanças devido às incessantes alterações nas condições de 
vida. Essas mudanças são causadas por fatores endógenos e bem como 
exógenos. 
 
VI - A regeneração periódica dos ecossistemas, bem como a criação de 
novos, acontecem, sendo realizadas fragmento por fragmento, onde este 
último são comparáveis às peças constituintes de um quebra-cabeças. Esse 
processo segue padrões equivalentes à reprodução generativa no nível do 
indivíduo. No nível do ecossistema esse processo é chamado de ‘sucessão 
natural das espécies’ que, por sua vez, é o meio pelo qual a vida se move no 
tempo e no espaço. 
 
VII - A vida como um todo no nosso planeta constitui um grande 
macroorganismo. Todo o seu funcionamento corresponde ao de um 
organismo: tudo está conectado e é interdependente. 
 
VIII - A grande rede de conexões fúngicas, proliferando nas camadas 
superficiais de solo rico em matéria orgânica e coberto por serapilheira 
abundante cria as pré-condições para um forte sistema imunológico do solo 
que influencia grandemente, fortifica a saúde e o vigor das plantas. 
 
IX - ‘Pestes’ e doenças, bem como os predadores, são integrantes do, 
digamos, ‘departamento de otimização dos processos de vida’. O critério que 
usam para intervir é a otimização dos processos de vida realizada pelo objeto 
(potencial presa) confiado aos cuidados deles (os predadores) por parte do 
ecossistema no qual aquela presa interage. 
 
X - O apetite e a fome são meios, usados por todos os seres vivos para 
transformar (também) aquele ato na realização de suas tarefas e 
cumprimento de suas funções, ligado – direta ou indiretamente – ao ato de 
comer – ingerir – ou absorver sua ‘comida’, para eles um evento apaziguante 
e atrativo. 
 
XI - Cada indivíduo, de cada geração de todas as espécies aparece equipado 
para realizar sua(s) tarefa(s)e cumprir sua(s) função(ões) movidos pelo 
prazer interno e também equipado para se comunicar com todos os outros 
membros constituintes, ‘células’ do macroorganismo ‘VIDA’ do qual faz parte. 
 
XII - As relações inter e intraespecíficas - com a exceção do ser humano 
moderno e da maioria dos animais domesticados por ele adotados e 
deformados – são baseadas nos princípios do amor incondicional e da 
cooperação (AGENDA GÖTSCH/LIFE IN SYNTROPY, 2019). 
 
Para Ernst, as relações inter e intraespecíficas que ocorrem - com a exceção 
do ser humano moderno e da maioria dos animais domesticados por ele e com isso 
deformados – são baseadas nos princípios do amor incondicional e da cooperação 
mútua. Nisso, o ato de florescer, polinizar, reproduzir, frutificar e cada movimento 
dos seres em suas condições naturais são para cumprir suas funções como 
35 
 
instrumentos de manutenção do equilíbrio do macrossistema terra, e isso ocorre pela 
motivação do prazer interno de cada organismo e o amor incondicional em cumprir 
sua função. O ser humano moderno, assim como os animais por ele domesticados, 
perderam essa conexão e a capacidade de comunicar-se com os demais agentes 
desse macrossistema. Ao acontecer isso tornam-se inoportunos, entrópicos e os 
resultados dessa desconexão podemos observar hoje pelo alto grau de degradação 
ambiental no mundo e a extinção de “instrumentos” importantes à manutenção da 
vida neste planeta. 
 
 
XIII - Todas as espécies - com a exceção do ser humano moderno e da 
maioria dos animais domesticados por ele adotados – agem baseadas nos 
princípios do “Imperativo Categórico”, formulado por Immanuel Kant (1724-
1804) que diz: ‘Aja de modo que você gostaria que os princípios, submetidos 
a suas interações sejam elevados imediatamente a princípios de leis 
universais’. (Ou seja, que sejam aplicados a você mesmo). 
 
XIV - ‘As leis que regem o macroorganismo, do qual você faz parte, são 
dadas’ (pré-estabelecidas). ‘Nem a nós, Deuses do Olimpo, nos é incumbido 
fazer ou modificar essas leis”. (Esopos 700 a.C, em Cronos falando ao 
homem em uma de suas parábolas). 
 
XV - A interferência não harmônica de alguma, ou qualquer, das entidades 
que juntas constituem o macroorganismo, induz a modificações neste último 
que, por sua vez, terão como resultado que a presença do emissor daquelas 
interferências não harmoniosas se tornará inoportuna (AGENDA 
GÖTSCH/LIFE IN SYNTROPY, 2019). 
 
Ao analisarmos esses princípios e reconhecermos a sintropia implícita na 
dinâmica da vida neste planeta, compreendendo a importância das interações micro 
e macroecológicas como sendo tudo parte de um macrossistema e este último 
embrião de todas as formas de vida, faz-se necessária uma auto reflexão sobre nossa 
função dentro desse complexo organismo chamado Terra. 
 
36 
 
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
6.1 A AGRICULTURA SINTRÓPICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS 
DEGRADADAS 
 
Para a conclusão desse trabalho tomaremos como exemplo a hipótese de 
uma área degradada de 10,000 m² (1 ha) oriunda de monocultura de soja que usada 
intensivamente degradou-se ao ponto de se tornar improdutiva. Essas condições de 
degradação são ocasionadas pelo uso exaustivo do solo e intensa utilização de 
insumos agrícolas como herbicidas, fungicidas e fertilizantes químicos. Esse tipo de 
utilização “irracional” do solo ao longo do tempo tende a deixar o solo esterilizado (sem 
vida) e como resultado disso temoso seguinte cenário: 
 
- Solo totalmente exposto; 
- Ausência de matéria orgânica no solo; 
- Ausência de micro-organismos vivos; 
- Ausência de flora e fauna; 
- Baixa ou inexistente umidade; 
- Solo muito compactado; 
- Acelerado processo de desertificação. 
 
Esse cenário apesar de hipotético, é o cenário de muitas áreas degradadas 
no Brasil, principalmente áreas de mineração, e monoculturas intensivas e extensivas. 
Nessa hipótese, o cultivo contínuo de hortaliças e legumes por exemplo, teria um 
elevado custo, inviabilizando no modelo tradicional a utilização agrícola dessa área. 
O uso agrícola e a mineração, são os maiores causadores de áreas degradadas no 
Brasil (NETO, ANGELIS; OLIVEIRA, 2004). 
Ao aplicarmos os princípios da Agricultura Sintrópica para a recuperação 
desta área nas condições mencionadas acima, daremos início a uma série de 
atividades que buscam simular o trabalho feito pelos primeiros sistemas vivos que 
conseguem vicejar em ambientes sem muita vida consolidada, de acordo com a visão 
de sucessão natural sugerida por Ernst Götsch. Dessa forma, aceleramos esse 
processo que ocorreria naturalmente ao longo de muito tempo. De maneira geral, 
37 
 
providenciaremos as condições iniciais para que a produção se inicie no menor tempo 
possível e, ao manejarmos o sistema de forma sintrópica, aceleramos sua restauração 
às condições de fertilidade, conservação de umidade, permeabilidade do solo e 
retroalimentação. Um sistema de colonização, como o próprio nome sugere é uma 
etapa de povoamento microbiológico do solo que aqui é a base para o 
desenvolvimento de espécies vegetais. 
No entanto, uma das principais causas de solos mortos se dá em decorrência 
de sua exposição ao sol intenso e com isso a baixa ou inexistente umidade. Nessas 
condições o desenvolvimento de micro-organismos essenciais à saúde dos solos 
como fungos, minhocas e outros invertebrados que, presentes em sistemas mais ricos 
em vida, têm a função de decompor resíduos orgânicos, criar húmus e canais que 
servirão para uma melhor absorção de umidade por exemplo, ficam comprometidos. 
Os sistemas de colonização (Figura 3) são instrumentários importantes do 
organismo Terra para criar ou recondicionar áreas com baixa ou inexistente fertilidade. 
Ao compreendermos o funcionamento deste processo e então, de forma sintrópica, 
intervimos a fim de criar as condições necessárias para essa colonização, podemos 
acelerar esse processo. Nos modelos dominantes de plantio, ainda que se usem 
diversos métodos para reverter a situação de pouca vida no sistema, como aração, 
gradagem e adubação, não são criadas condições para que os recursos ali 
adicionados se perpetuem no sistema, para que se aumente a quantidade e qualidade 
de vida consolidada, já que o corriqueiro é um cultivo em monocultura e a perpetuação 
da fase inicial da sucessão natural, mantém-se uma eterna clareira. Ou seja, vários 
ciclos são interrompidos. Como consequência, ocorre perda de nutrientes e a não 
consolidação da vida ali inserida. 
Já para modelos baseados em biodiversidade, mesmo com o uso de insumos 
externos, revolvimento de solo e maquinário agrícola, o plantio de espécies cumprindo 
diversas funções no sistema e o manejo adotado permitem que grande parte dos 
insumos e da energia ali investida permaneça no sistema. A consequência esperada 
é então o aumento de vida, de biomassa e de diversidade não apenas em espécies, 
mas principalmente de funções ecofisiológicas, uma vez que se segue o caminho da 
sucessão natural. 
 
38 
 
Figura 3 - Sistema Colonização em estágio inicial, organismos menores e menos 
exigentes. 
 
Fonte: Agenda Götsch (2019) 
 
 
Para dar condições de produção em solos degradados, deve-se fazer 
primeiramente a descompactação do solo, para uma área nessa proporção o ideal é 
uma descompactação mecanizada, ao mesmo tempo que o solo é descompactado 
deve-se espalhar pó de rocha e esterco bovino e\ou cama de frango. Se possível 
deve-se trazer o máximo de resíduos orgânicos, como descarte de podas, corte de 
gramas e casca de arroz por exemplo, para a área (Figura 4). Isso representaria uma 
grande aceleração no processo de colonização uma vez que não seria necessário 
esperar um período de tempo para ter aporte de matéria orgânica produzida no próprio 
sistema (serapilheira). Um fato importante para essa ação é que muitas cidades tem 
custos para o descarte desses resíduos, a utilização dos mesmos na recuperação de 
áreas degradadas além de acelerar o processo de recuperação ainda diminuiria 
custos com a destinação final desse material. 
Cabe aqui, termos consciência de que todas essas ações são feitas com 
grande gasto (importação) de energia e visam substituir o que os seres vivos fariam 
em um ambiente esterilizado, com solo compactado e exposto às intempéries em um 
tempo muito maior. A subsolagem visa afrouxar o solo em profundidade, como fariam 
as raízes de diversas gerações de espécies equipadas com fortes raízes que iriam 
39 
 
perfurando o solo, criando estruturas, inserindo matéria orgânica em profundidade ao 
morrerem. Da mesma forma, a importação de matéria orgânica provinda de locais 
muito menos degradados do que onde está sendo trabalhado e com condições de 
gerar tal biomassa objetiva simular uma aceleração nos processos naturais, dando ao 
local esterilizado algumas condições de um sistema bem menos degradado, graças a 
um investimento energético inominável. 
Esse investimento energético inclui a combustão de energia fóssil, como 
petróleo. Da mesma forma, o uso de adubos, mesmo orgânicos, visam reproduzir o 
trabalho de inúmeras gerações de plantas, animais e microrganismos que seriam 
capazes de vicejar naquele ambiente esterilizado e solubilizar nutrientes que estão 
inacessíveis às plantas a serem introduzidas. 
 
Figura 4 - Formação de berços em linhas com serapilheira. Fazenda PauD’alho-SP. 
Jan. 2016. 
 
 Foto: Felipe Pasini (2019) 
 
Após esse processo e escolhido a cultivar de gramínea adequada ao clima e 
condições do solo deve-se fazer a semeadura. Essa gramínea será a primeira 
cobertura viva e tem por objetivo cobrir o solo, criar biomassa e proporcionar as 
condições iniciais para que os primeiros micro-organismos possam se estabelecer 
dando assim início a recuperação biológica dessa área. É pertinente lembrar que na 
agricultura sintrópica, em seus princípios, assim como na vida desse planeta, partimos 
40 
 
do simples para o complexo e nesse caso, nessa área onde estamos iniciando um 
sistema de colonização estamos seguindo o mesmo padrão, dessa maneira partimos 
da gramínea para araucária, do invertebrado para o mamífero, de um solo exposto 
para uma floresta estabelecida. 
Na hipótese de escolha do capim-tupi, Brachiaria humidicola (EMBRAPA 
2011), por se tratar de gramínea bem adaptada a solos pobres em nutrientes, tem um 
ciclo de crescimento rápido e após semeado em cerca de seis meses já teremos uma 
cobertura vegetal densa sobre o solo, parte dessa cobertura será podada para servir 
de adubação verde no próximo passo que é a construção das linhas de plantio. 
 
Figura 5 - Sistema de Acumulação partindo do simples paro o complexo. Presença 
de aves, anfíbios e mamíferos de pequeno porte. 
 
Fonte: Agenda Götsch (2019) 
 
O período de acumulação é aquele em que o sistema depois de colonizado, 
passará a produzir e acumular energia, diversificando o sistema e buscando o 
equilíbrio biológico, criando as condições necessárias à próxima etapa evolutiva que 
é o sistema de abundância (Figuras 6 e 7). O ser humano é um mamífero grande e 
necessita de um sistema com muita vida e energia acumulada para ter água, alimento 
e suas necessidades supridas. É um animal pertencente a sistemas de abundância. 
Em locais onde o ambiente ainda se encontra no nível da acumulação, a 
produção para o ser humano ainda se sustenta com insumos externos adicionadose 
41 
 
gastos energéticos com aeração do solo. Após a construção dos primeiros canteiros 
ou linhas, e já tendo alguma matéria orgânica resultante da poda do capim, serão 
inseridas todas as cultivares do sistema sendo elas: 
- Hortaliças de ciclo curto como alface, rúcula, rabanete, dentre outras 
verduras e temperos. 
Hortaliças, raízes e legumes de ciclo médio, como repolho, brócolis, aipim, 
tomate, dentre outras. 
- Frutíferas nativas 
- Árvores que deverão ocupar os demais estratos previstos para compor esse 
sistema sendo estrato rasteiro, baixo, médio e alto, espécies emergentes, secundárias 
e clímax. 
- Espécies que entrarão no sistema para cumprir determinada função e logo 
posteriormente serão retiradas como Eucalipto, Pinus e a Acácia, por exemplo. Essas 
espécies pouco exigentes, servem para permitir que espécies mais exigentes como 
banana e mamão ou que necessitam de sombra para emergir, como a araucária, a 
erva-mate e as canelas por exemplo, tenham suas condições de desenvolvimento 
facilitadas, além de servirem para a produção de matéria orgânica para adubação das 
demais. Também essas espécies podem ser comercializadas posteriormente para a 
construção civil, ou mesmo como fonte de energia renovável, sendo as frutas para 
alimentação humana e da fauna. (PENEIREIRO, 1999; VAZ, 2002; PASINI, 2017). 
Com o prosseguimento da sucessão natural, mesmo com o uso de espécies 
exóticas, porém procurando-se ocupar as diversas funções ecofisiológicas de um 
sistema vivo, começamos a notar uma maior biodiversidade. O sistema vai sendo cada 
vez mais capaz de produzir biomassa, e o aproveitamento energético deve ser 
intensificado através do manejo adequado, desbaste e poda, de maneira que somente 
as espécies com genótipos mais propensos a se desenvolverem naquele sistema 
permaneçam, nisso a importância do plantio adensado de todas as espécies. 
Centros de referência em Agricultura Sintrópica como o Sitio Semente em 
Brasília, DF; Fazenda Ouro Fino em Jaguaquara, BA e a Fazenda de Ernst Götsch em 
Piraí do Norte, sul da Bahia, por exemplo, demonstram que é possível em uma mesma 
linha de canteiros a produção de hortaliças de ciclo curto por até três anos, após esse 
período as primeiras frutíferas como abacaxi, banana, mamão, limão já estarão 
produzindo, também as espécies emergentes e secundárias já estarão ocupando 
significativamente os canteiros. As podas de condução dessas espécies, na medida 
42 
 
em que se tornam mais substanciais, servirão como adubo para realimentar o sistema 
em um ciclo que dura até o sistema de abundância ser alcançado. 
 
Figura 6 - Sistema de colonização em estágio médio - Fazenda PauD’alho-SP. Nov. 
2016. 
 
Fonte: Felipe Pasini (2019) 
 
 
Figura 7 - Sistema de Acumulação em estágio avançado. Fazenda PauD’alho-SP. 
Ago. 2017. 
 
Fonte: Felipe Pasini (2019) 
 
43 
 
O espaçamento dos sistemas sintrópicos é flexível, no entanto, o 
espaçamento de 3x3m entre árvores e de 4m entre linhas é comumente utilizado. 
Esse espaçamento permite a mecanização do sistema com a utilização de máquinas 
agrícolas além de permitir a produção de capim para alimentação animal e para a 
cobertura das linhas de árvores. 
Por fim, retiradas todas as espécies de ciclo curto do sistema, teremos uma 
floresta em estágio de formação avançado, apta a se auto sustentar sem a 
necessidade de intervenções humanas, no entanto ainda produtiva com a 
possibilidade de produção de frutas, nativas ou não, óleos essenciais e plantas 
medicinais. Bem como, sementes para reflorestamento em outras áreas. Esse 
processo que poderia acontecer naturalmente certamente levaria um tempo maior 
para se consolidar e teria um custo elevado para sua implantação. A utilização das 
técnicas desse estudo reduziria o tempo e os custos. 
Um dos principais objetivos de um sistema de acumulação é armazenar 
energia, criar solido a periódico, complexidade (biodiversidade) e com isso vida 
consolidada para, por fim, se estabelecer um sistema de abundância (figura 8). 
 
Figura 8 - Sistema de Abundância partindo do simples paro o complexo. 
Presença de aves, anfíbios e mamíferos de grande porte. 
 
Fonte: Agenda Götsch, 2019. 
44 
 
6.2 ÁREAS DEGRADADAS, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E SEGURANÇA 
ALIMENTAR 
 
Com a utilização dos princípios da AS é possível produzir alimentos orgânicos 
com qualidade e o sistema de consórcios entre plantas possibilita que sejam em 
quantidades significativas. Depois de construídas as linhas de plantio e estabelecidos 
os berços (cobertura dos canteiros com matéria orgânica proveniente da poda do 
capim plantado no próprio local e\ou trazido de fontes externas para dentro do 
sistema) e realizado o plantio, é possível começar a colher as primeiras cultivares com 
45 dias, que podem ser rabanetes, rúcula, mostarda, cheiro-verde, salsa, dentre 
outras espécies de ciclo rápido. Com 60 dias é possível colher alface, couve, espinafre 
e assim sucessivamente. 
Através de um planejamento ordenado espacial e temporal, é possível 
estabelecer colheitas periódicas que tendem a aumentar em quantidade e valor na 
medida que o sistema de colonização evolui (complexifica), indo de hortaliças, 
temperos e chás, a legumes e frutas. Essa possibilidade de produção de alimentos 
durante o processo de recuperação de áreas degradadas deve servir como fomento 
a iniciativas governamentais e sociais. A parceria entre agentes públicos, 
Organizações da Sociedade Civil e iniciativa privada por exemplo, pode gerar uma 
enorme diminuição dos custos de implementação de PRADs nessas áreas, e em 
muitos casos ainda pode ser possível obter ganhos através da distribuição de renda 
e\ou alimentos a pessoas em vulnerabilidade social. 
A Agricultura Sintrópica propõe um modelo de uso dos recursos naturais que 
tem como centro o Ecossistema (Figura 9) que é essencial à vida neste planeta e sem 
o qual nada pode subsistir em detrimento ao modelo de uso dominante que tem como 
centro o capital econômico (Figura 10). 
Essa mudança de paradigma em relação ao uso dos recursos naturais precisa 
ser incentivada por intermédio de políticas públicas e ações sociais como um dos 
meios para atingir os objetivos da Agenda do Desenvolvimento Sustentável das 
Nações Unidas (Agenda 2030), que é um compromisso firmado pelo Brasil. 
 
 
45 
 
Figura 8 -Modelo Atual de uso dos recursos naturais tendo a economia como centro. 
 
Fonte: Agenda Götsch ( 2019) 
 
 
 
 
Figura 9 - Modelo proposto por Ernst, o Ecossistema como referência para as ações 
em relação ao uso dos recursos naturais. 
 
Fonte: Agenda Götsch (2019) 
 
 
46 
 
6.3 ÁREAS DEGRADADAS E REFORMA AGRÁRIA 
 
É evidente que há no Brasil uma questão agrária. Mas, uma questão agrária 
que parece distanciada das condições históricas de sua solução definitiva, 
porque esta sociedade perdeu as poucas oportunidades históricas que teve 
para resolvê-la (MARTINS, 1999, p. 102). 
 
Para Martins (1999), é preciso ter conhecimento prévio das questões para a 
qual a reforma agrária é uma resposta. Dessa maneira, pode se agregar as questões 
já conhecidas para as quais a reforma agrária é uma resposta, como: Justiça Social, 
Segurança Alimentar, Questões Histórico-Culturais, à necessidade de se recuperar 
áreas ambientalmente degradadas. 
Para o INCRA (2011), são objetivos da reforma agrária promover uma melhor 
distribuição da terra, através de modificações no regime de propriedade e uso, isso 
afim de atender os princípios de justiça social, desenvolvimento rural sustentável e 
segurança alimentar. Conforme o Estatuto da Terra (Lei n 4504/64) essa reforma tem 
que proporcionar: 
 . 
A desconcentração e a democratização da estrutura fundiária; a produção de 
alimentos básicos; a geração de ocupação e renda; o combate à fome e à 
miséria; a diversificação do comércio e dos serviços no meio rural; a 
interiorização dos serviços públicos básicos;

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