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@enf.studies.br Vírus Os vírus são as menores partículas infecciosas, variando em diâmetro de 18 a 600 nanôme- tros (a maioria dos vírus mede < 200 nm e não pode ser visualizada ao microscópio óptico). Os vírus contêm tipicamente ácido desoxirribonu- cleico (DNA) ou ácido ribonucleico (RNA), mas não os dois; entretanto, algumas partículas se- melhantes aos vírus não contêm ácido nu- cleico detectável (p.ex., príons), enquanto o re- cém-descoberto mimivírus contém ambos, RNA e DNA. Os ácidos nucleicos virais requeri- dos para a replicação estão contidos em um capsídeo proteico com ou sem um envelope lipídico. Os vírus são parasitas verdadeiros, pois dependem da célula hospedeira para a replica- ção. As células que eles infectam e a resposta do hospedeiro à infecção ditam a natureza das manifestações clínicas. Bactérias As bactérias apresentam uma estrutura relati- vamente simples. São organismos procario- tos — organismos unicelulares simples, que não apresentam membrana nuclear, mitocôn- dria, complexo de Golgi ou retículo endoplas- mático — que se reproduzem por divisão as- sexuada. A parede bacteriana é complexa, con- sistindo em uma ou duas formas básicas: em bactérias Gram-positivas, uma parede celular com uma camada espessa de peptidoglicano; em bactérias Gram-negativas, uma parede ce- lular com uma camada fina de peptidoglicano e uma membrana externa sobreposta. Algumas bactérias não apresentam essa estrutura de parede celular e compensam sua falta sobrevivendo apenas no interior da célula hos- pedeira ou em um ambiente hipertônico. O ta- manho (1 a 20 μm ou maior), a forma (esferas, bastões, espirais) e o arranjo espacial (células únicas, cadeias, grupos/agrupamentos) das cé- lulas são utilizados para a classificação prelimi- nar das bactérias, e as propriedades fenotípicas e genotípicas constituem a base para a classi- ficação definitiva. O corpo humano é habitado por milhares de diferentes espécies bacteria- nas — algumas vivendo de forma transitória, outras em uma relação parasitária permanente. Do mesmo modo, as bactérias estão presen- tes no ambiente que nos cerca, incluindo o ar que respiramos, a água que bebemos e a co- mida que comemos, sendo que muitas dessas bactérias são relativamente não virulentas, mas outras são capazes de causar doenças que ameaçam a vida. A doença pode resultar do efeito tóxico de produtos bacterianos (p.ex., to- xinas) ou quando a bactéria invade tecidos e fluidos anatômicos que são, em geral, estéreis. Fungos Ao contrário das bactérias, a estrutura celular dos fungos é mais complexa. Os fungos são organismos eucariotos que contêm um núcleo bem-definido, mitocôndria, complexo de Golgi e retículo endoplasmático. Os fungos podem existir em forma unicelular (levedura), que se replica assexuadamente, ou em uma forma fi- lamentosa (fungo filamentoso), que pode se re- plicar sexuada e assexuadamente. A maioria dos fungos existe como leveduras ou bolores; entretanto, alguns podem assumir ambas as morfologias. Estes últimos são conhecidos @enf.studies.br como fungos dimórficos e incluem organismos como Histoplasma, Blastomyces e Coccidioides. Parasitas Os parasitas são os micróbios mais comple- xos. Embora todos os parasitas sejam classifica- dos como eucariotos, alguns são unicelulares e outros multicelulares. Eles variam em tamanho desde protozoários minúsculos, medindo de 4 a 5 μm em diâmetro (o tamanho de algumas bactérias), até tênias, que chegam a 10 metros de comprimento, e artrópodes. Classificação quanto ao grau de orga- nização celular Procariontes: do grego “núcleo primitivo”. Todas são unicelulares. Exemplo: bactéria, arquibactéria. Eucariontes: do grego “núcleo verdadeiro”. Pode ser unicelular ou pluricelulares. Exemplo: algas, fungos e protozoários. Coloração de Gram A coloração de Gram é um teste rápido, eficaz e fácil que permite aos clínicos diferenciar as duas principais classes de bactérias, desenvol- ver um diagnóstico inicial e começar a tera- pêutica com base nas diferenças inerentes às bactérias. As bactérias são fixadas a quente ou deixadas secar sobre uma lâmina, coradas com cristal violeta, um corante que é precipi- tado com iodo (lugol), e, em seguida, o corante não ligado ou em excesso é removido por la- vagem com descorante à base de acetona e água. Um contracorante vermelho, a safranina, é adicionado para corar as células descoradas. Esse processo leva menos de 10 minutos. Para as bactérias Gram-positivas, que se tor- nam roxas, o corante fica preso em uma es- trutura grossa e emaranhada, a camada de peptidoglicano, que circunda a célula. As bacté- rias Gram-negativas possuem uma fina camada de peptidoglicano que não retém o corante cristal violeta, e então as células são coradas com safranina e tornam-se vermelhas. Formas morfológicas bacterianas @enf.studies.br Estrutura Bacteriana Estruturas Citoplasmáticas O citoplasma da célula bacteriana contém o DNA cromossômico, o RNA mensageiro (RNAm), ribossomos, proteínas e metabólitos. Ao contrário dos eucariotas, a maioria dos cro- mossomos bacterianos é uma fita única circular de cadeia dupla, que não está contida em um núcleo, mas em uma área definida conhecida como nucleoide. Algumas bactérias podem ter dois ou três cromossomos circulares ou até mesmo um único cromossomo linear. As his- tonas não estão presentes para manter a con- formação do DNA, e o DNA não forma nu- cleossomos. Os plasmídeos, que são fragmen- tos extracromossômicos menores de DNA cir- cular, também podem estar presentes. Os plas- mídeos, embora geralmente não sejam essen- ciais para a sobrevivência celular, frequente- mente fornecem uma vantagem seletiva: mui- tos conferem resistência a um ou mais antibió- ticos. A falta de uma membrana nuclear simplifica as necessidades e os mecanismos de controle para a síntese de proteínas. Sem ela, a trans- crição e a tradução são acopladas; em outras palavras, os ribossomos podem ligar-se ao RNAm, e a proteína pode ser produzida ao mesmo tempo que o RNAm está sendo sinte- tizado e ainda ligado ao DNA. O ribossomo bacteriano consiste nas subunida- des 30S + 50S, formando um ribossomo 70S, que é diferente do ribossomo eucariótico 80S (40S + 60S). As proteínas e RNA do ribossomo bacteriano são significativamente diferentes daqueles presentes nos ribossomos eucarióti- cos e são os principais alvos dos antimicrobia- nos. A membrana citoplasmática tem uma estru- tura de bicamada lipídica semelhante à estru- tura das membranas eucarióticas, mas não contém esteroides (p.ex., colesterol); os mico- plasmas são exceção a esta regra. A mem- brana citoplasmática é responsável por muitas das funções atribuídas às organelas nos euca- riotas. Essas tarefas incluem o transporte de elétrons e a produção de energia, que normal- mente são realizados na mitocôndria. Além disso, a membrana contém proteínas de trans- porte que permitem a absorção dos metabó- litos e a liberação de outras substâncias, bomba de íons para manter o potencial de membrana, e enzimas. O interior da membrana está ali- nhado com filamentos de proteínas do tipo ac- tina, que ajudam a determinar a forma das bac- térias e o local de formação do septo para a divisão celular. Esses filamentos determinam a forma em espiral dos treponemas. Parede Celular A estrutura, os componentes e as funções da parede celular distinguem as bactérias Gram- positivas das bactérias Gram-negativas. @enf.studies.br @enf.studies.br @enf.studies.br Bactérias Gram-positivas A bactéria Gram-positiva apresenta uma pa- rede celular espessa, de múltiplas camadas, que consiste principalmente em peptidoglicano (150 a 500 Å) em torno da membrana citoplasmá- tica. O peptidoglicano é uma malha de exoes- queleto com função semelhante à doexoes- queleto de um inseto. Porém, ao contrário do exoesqueleto dos insetos, o peptidoglicano da célula é suficientemente poroso para permitir a difusão de metabólitos até a membrana plas- mática. Um novo modelo de peptidoglicano su- gere que o glicano se estende para o exterior da membrana plasmática como cerdas que são reticuladas com cadeias curtas de peptídeos. O peptidoglicano é essencial para a estrutura, replicação e sobrevivência em condições nor- malmente hostis nas quais as bactérias cres- cem. O peptidoglicano pode ser degradado pela liso- zima. A lisozima é uma enzima presente nas lágrimas e no muco de seres humanos, mas é também produzida pelas bactérias e outros or- ganismos. A lisozima cliva o esqueleto central de glicano do peptidoglicano. Sem o peptidogli- cano, as bactérias não resistiriam às grandes diferenças de pressão osmótica ao longo da membrana citoplasmática e lisariam. A remo- ção da parede celular produz um proto- plasto que lisa, a menos que seja estabilizado osmoticamente. A parede celular das bactérias Gram-positivas também pode incluir outros componentes, tais como proteínas, ácidos teicoicos e lipoteicoicos e polissacarídeos complexos (geralmente cha- mados de polissacarídeos C). A proteína M dos estreptococos e a proteína A do S. aureus es- tão covalentemente ligadas ao peptidoglicano. Os ácidos teicoicos são polímeros aniônicos de fosfato de poliol hidrossolúveis, os quais estão covalentemente ligados ao peptidoglicano e são essenciais à viabilidade celular. Os ácidos lipoteicoicos possuem um ácido graxo e estão ancorados na membrana citoplasmática. Essas moléculas são antígenos comuns de superfície que distinguem os sorotipos bacterianos e pro- movem a fixação às outras bactérias e aos re- ceptores específicos das superfícies de células de mamíferos (aderência). Ácidos teicoicos são importantes fatores de virulência. Ácidos lipo- teicoicos são liberados no meio e no hospe- deiro e, embora mais fracos, ligam-se a recep- tores-padrão de patógeno e iniciam respostas de defesa inata do hospedeiro, similares à en- dotoxina. Bactérias Gram-negativas A parede celular das bactérias Gram-negativas é mais complexa que a parede das células Gram-positivas, tanto estrutural quanto quimi- camente. Estruturalmente, a parede celular Gram-negativa contém duas camadas externas à membrana citoplasmática. Imediatamente ex- terna à membrana citoplasmática existe uma fina camada de peptidoglicano, que é res- ponsável por apenas 5% a 10% do peso da parede celular das bactérias Gram-negati- vas. Ácidos teicoicos ou lipoteicoicos não estão presentes na parede celular de Gram-negati- vos. Externa à camada de peptidoglicano existe uma membrana externa, que é única para as bactérias Gram-negativas. A área entre a su- perfície externa da membrana citoplasmática e a superfície interna da membrana exterior é denominada de espaço periplasmático. Esse espaço é, na verdade, um compartimento que contém componentes do sistema de trans- porte de ferro, proteínas, açúcares e outros metabólitos, e uma variedade de enzimas hi- drolíticas que são importantes na clivagem de macromoléculas para o metabolismo. Essas en- zimas tipicamente incluem proteases, lipases, fosfatases, nucleases e enzimas de degradação carboidratos. No caso das espécies Gram-ne- gativas patogênicas, muitos dos fatores de vi- rulência, como colagenases, hialuronidases, proteases, e β-lactamases, localizam-se no es- paço periplasmático. @enf.studies.br A parede celular das bactérias Gram-negativas também é atravessada por diferentes sistemas de transporte, incluindo os sistemas de secre- ção dos tipos I, II, III, IV, V. Os sistemas de trans- porte fornecem mecanismos para a captação e liberação de diferentes metabólitos e outros compostos. A produção de sistemas de secre- ção pode ser induzida durante a infecção e contribuir para a virulência do micro-organismo, transportando moléculas que facilitam a adesão bacteriana ou o crescimento intracelular. O sis- tema de secreção do tipo III é o principal fator de virulência para algumas bactérias, com uma estrutura complexa que atravessa tanto a membrana interna quanto a membrana ex- terna, e pode agir como uma seringa para in- jetar proteínas em outras células. Como mencionado, as membranas externas são exclusivas das bactérias Gram-negativas. A membrana externa é como um saco de lona rígida em torno das bactérias que mantém a estrutura bacteriana e funciona como uma bar- reira de permeabilidade a grandes molécu- las (p.ex., proteínas, como a lisozima) e molécu- las hidrofóbicas (p.ex., alguns antimicrobianos). Ela também proporciona proteção contra as condições ambientais adversas, como o sis- tema digestivo do hospedeiro (importante para os organismos da família Enterobacteriaceae). A membrana externa apresenta uma estrutura em bicamada assimétrica que difere de qual- quer outra membrana biológica na estrutura da monocamada exterior da membrana. A mono- camada interna contém fosfolipídios normal- mente encontrados nas membranas bacteria- nas. No entanto, a monocamada externa é composta principalmente de lipopolissacarídeos (LPS). Exceto para as moléculas de LPS em processo de síntese, a monocamada exterior da membrana externa é o único local em que as moléculas de LPS são encontradas. O LPS é também chamado de endotoxina, um potente estimulador das respostas imune e inata. O LPS é liberado pelas bactérias no hos- pedeiro. O LPS se liga a receptores-padrão de patógeno, ativa as células B e induz macrófa- gos, células dendríticas e outras células, a libe- rar interleucina (IL)-1, IL-6, fator de necrose tu- moral (TNF) e outros fatores. O LPS induz fe- bre e pode causar choque. A reação de Shwartzman (coagulação intravascular dissemi- nada) ocorre após a liberação de grandes quantidades de endotoxina na circulação san- guínea. As Neisserias liberam grandes quantida- des de uma molécula relacionada, lipoligossaca- rídeo (LOS), resultando em febre e sintomas graves. A variedade de proteínas que se encontram presentes nas membranas externas Gram-ne- gativas é limitada, mas várias das proteínas es- tão presentes em concentrações elevadas, re- sultando em um conteúdo de proteína total maior que o da membrana citoplasmática. Mui- tas dessas proteínas se localizam de forma transversal na bicamada lipídica e são, portanto, denominadas de proteínas transmembranares. Um grupo dessas proteínas é conhecido como porinas, porque formam poros que per- mitem a difusão de moléculas hidrofílicas me- nores de 700 Da de massa através da mem- brana. Os canais de porinas permitem a passa- gem de metabólitos e moléculas pequenas de antimicrobianos hidrofílicos. A membrana exte- rior também contém proteínas estruturais, moléculas receptoras de bacteriófagos e ou- tros ligantes e componentes dos sistemas de transporte e de secreção. A membrana externa é conectada à mem- brana citoplasmática em pontos de adesão e é unida ao peptidoglicano através da lipoproteína. A lipoproteína é covalentemente ligada ao peptidoglicano e é ancorada na membrana ex- terna. Os locais de adesão proporcionam uma rota membranosa para a liberação de compo- nentes da membrana externa recém-sintetiza- dos para a membrana externa. A membrana externa é mantida unida por liga- ções de cátions divalentes (Mg+2 e Ca+2) entre os fosfatos das moléculas de LPS e as intera- ções hidrofóbicas entre o LPS e as proteínas. @enf.studies.br Essas interações produzem uma membrana forte e rígida que só pode ser rompida por antibióticos (p.ex., polimixina) ou pela remoção dos íons Mg e Ca (quelação com ácido etile- nodiaminotetracético [EDTA] ou tetraciclina). O rompimento da membrana externa enfra- quece as bactérias e permite a permeabilidade de grandes moléculas hidrofóbicas. O rompi- mento da membrana externa pode proporci- onar a entrada de lisozima para produzir esfe- roplastos, que, como os protoplastos, são os- moticamentesensíveis Estruturas Externas Algumas bactérias (Gram-positivas ou Gram- negativas) são envolvidas por polissacarídeos soltos (não fixados à célula) ou por camadas de proteína denominadas de cápsulas, algumas vezes referidas como slime ou glicocálix. Baci- llus anthracis, uma exceção a esta regra, pro- duz uma cápsula polipeptídica. A cápsula é di- ficilmente observada ao microscópio, mas o seu espaço pode ser visualizado, já que não pode ser corado pela tinta da Índia. As cápsulas não são necessárias para o cres- cimento das bactérias, mas são muito impor- tantes para a sua sobrevivência no hospe- deiro. A cápsula é fracamente antigênica e an- tifagocítica e é um importante fator de virulên- cia (p.ex., Streptococcus pneumoniae). A cáp- sula também pode atuar como uma barreira para moléculas hidrofóbicas tóxicas, como os detergentes, e pode promover a adesão a ou- tras bactérias ou superfícies do tecido do hos- pedeiro. Para o Streptococcus mutans, as cáp- sulas de dextrana e levana são os meios pelos quais as bactérias se ligam e se fixam ao es- malte dentário. Cepas bacterianas que não possuem cápsula podem ser originadas du- rante crescimento sob condições laboratoriais, longe das pressões seletivas do hospedeiro e são, portanto, menos virulentas. Algumas bac- térias (p.ex., Pseudomonas aeruginosa e S. au- reus) também podem produzir um biofilme po- lissacarídico, quando um número suficiente (quorum) está presente e em condições que suportam o crescimento. O biofilme contém e protege a comunidade bacteriana dos antibió- ticos e das defesas do hospedeiro. Outro exemplo de biofilme é a placa dentária produ- zida por S. mutans. Os flagelos são estruturas propulsoras tipo hé- lices, compostas de subunidades de proteína helicoidal enrolada (flagelina), que estão ancora- das nas membranas bacterianas, através de um gancho e estruturas do corpo basal, e são ori- entadas por potenciais de membrana. As es- pécies bacterianas podem ter um ou vários flagelos nas suas superfícies, e eles podem es- tar ancorados em várias partes da célula. O po- tencial de membrana dá força ao motor pro- teico, que gira numa hélice na forma de um chicote, composta de várias subunidades de flagelina. Os flagelos promovem a motilidade para as bactérias, permitindo que a célula se movimente (quimiotaxia) na direção de nutri- entes e fique distante de substâncias nocivas. As bactérias se aproximam do nutriente na- dando em linha reta e, depois, desviando (an- dando em cambalhotas) em uma nova direção. O tempo de mobilidade torna-se mais longo à medida que aumenta a concentração do qui- mioatraente. A direção do movimento giratório flagelar determina se a bactéria nada ou anda em cambalhotas. Flagelos expressam determi- nantes antigênicos e de cepas, sendo os ligan- tes para o receptor padrão de patógeno que ativam a proteção inata do hospedeiro. As fímbrias (pili) (do latim, “franjas”) são estru- turas semelhantes a pelos, presentes na super- fície externa das bactérias; elas são compostas de subunidades proteicas (pilina). As fímbrias podem ser distinguidas morfologicamente dos flagelos, pois são menores em diâmetro (3 a 8 nm versus 15 a 20 nm) e geralmente não são estruturas enroladas. Em geral, várias centenas de fímbrias são dispostas em arranjos peritrí- quios (uniformes) sobre toda a superfície da célula bacteriana. Elas podem apresentar um @enf.studies.br tamanho de até 15 a 20 μm, ou, muitas vezes, o comprimento da própria célula. As fímbrias promovem a adesão a outras bac- térias ou ao hospedeiro (denominações alter- nativas são adesinas, lectinas, evasinas e agres- sinas). As pontas das fímbrias podem conter proteínas (lectinas) que se ligam a açúcares es- pecíficos (p.ex., manose). Como fator de ade- são (adesina), as fímbrias são um importante fator de virulência para a colonização e infec- ção do trato urinário por E. coli, Neisseria go- norrhoeae e outras bactérias. Os pili F (pili se- xuais) se ligam a outras bactérias e são um ca- nal de transferência de grandes segmentos de cromossomos bacterianos entre bactérias. Es- ses pili são codificados por um plasmídeo (F). Divisão Celular A replicação do cromossomo bacteriano tam- bém desencadeia o início da divisão celular. A produção de duas bactérias-filha requer cres- cimento e extensão dos componentes da pa- rede celular, seguidos da produção de um septo (parede transversa) para dividir as bac- térias-filhas em duas células. O septo consiste em duas membranas separadas por duas ca- madas de peptidoglicano. A formação do septo é iniciada no meio da célula, em um ponto de- finido por complexos proteicos fixados a um anel de filamento proteico que reveste o inte- rior da membrana citoplasmática. O septo cresce a partir de lados opostos em direção ao centro da célula, levando à clivagem das cé- lulas-filhas. Este processo requer transpeptida- ses especiais (PBP) e outras enzimas. Para os estreptococos, a zona de crescimento situa-se a 180 graus uma da outra, produzindo cadeias lineares de bactérias. Em contraste, a zona de crescimento de estafilococos é a 90 graus. A clivagem incompleta do septo pode fazer que as bactérias permaneçam ligadas, formando cadeias (p.ex., estreptococos) ou agregados (p.ex., estafilococos). Esporos Algumas bactérias Gram-positivas, mas nunca as Gram-negativas, tais como os membros dos gêneros Bacillus (p.ex., Bacillus anthracis) e Clos- tridium (p.ex., Clostridium tetani ou botulinum) (bactérias do solo), são formadoras de esporos. Sob condições ambientais adversas, como a privação de requerimento nutricional, essas bactérias podem ser convertidas de um estado vegetativo a um estado dormente, ou esporos. A localização do esporo dentro de uma célula é uma característica das bactérias e pode aju- dar na sua identificação. O esporo é uma estrutura desidratada, de múl- tiplas camadas, que protege e permite que as bactérias sobrevivam em um “estado de ani- mação suspenso”. Ele contém uma cópia com- pleta do cromossomo, concentrações mínimas de proteínas essenciais e ribossomos, e uma elevada concentração de cálcio ligado ao ácido dipicolínico. O esporo possui uma membrana interna, duas camadas de peptidoglicano, e re- vestimento externo de proteína do tipo que- ratina. Os esporos aparecem refringentes (bri- lhantes) no microscópio. A estrutura do esporo protege o DNA genômico do calor intenso, da radiação e do ataque pela maioria das enzimas e agentes químicos. De fato, os esporos bac- terianos são tão resistentes aos fatores ambi- entais que eles podem permanecer viáveis du- rante séculos. Os esporos também são difíceis de descontaminar com desinfetantes padrão ou condições de autoclavagem. @enf.studies.br A depleção de nutrientes específicos (p.ex., ala- nina) a partir do meio de crescimento desen- cadeia uma cascata de eventos genéticos (comparável à diferenciação celular) levando à produção de um esporo. Os RNAm de esporos são transcritos, enquanto outros RNAm são ini- bidos. O ácido dipicolínico é produzido, e anti- bióticos e toxinas são frequentemente excre- tados. Após a duplicação do cromossomo, uma cópia do DNA e dos conteúdos citoplasmáticos (cerne) é circundada pela membrana citoplas- mática, o peptidoglicano e a membrana do septo. Isto envolve o DNA nas duas camadas de membrana e peptidoglicano que normal- mente dividem a célula. Essas duas camadas são envolvidas pelo córtex, que é constituído por uma camada interna delgada de peptido- glicano fortemente reticulada em torno de uma membrana (que costuma ser a mem- brana citoplasmática) e uma camada exterior de peptidoglicano solto. O córtex é envolvido por um resistente revestimento proteico tipo queratina, que protege o esporo. O processo completo requer de 6 a 8 horas. A germinação de esporos para a um estado vegetativo é estimulada pela ruptura do reves- timento externo por estresse mecânico, pH, calor ou outro estressor e requer água e um nutrientedesencadeador (p.ex., alanina). O pro- cesso leva aproximadamente 90 minutos. Após o início do processo de germinação, o esporo absorverá a água, inchará, liberará seus reves- timentos e produzirá uma nova célula vegeta- tiva idêntica à célula vegetativa original, com- pletando assim o ciclo inteiro. Uma vez que a germinação tenha iniciado, o revestimento ex- terno fica comprometido, o esporo é enfra- quecido e fica vulnerável, e pode ser inativado como outras bactérias. Metabolismo Bacteriano Exigência Metabólica O crescimento bacteriano exige uma fonte de energia e as matérias-primas para a produção de proteínas, estruturas e membranas que compõem e fornecem energia para a célula. As bactérias devem obter ou sintetizar os ami- noácidos, carboidratos e lipídios utilizados como componentes básicos da célula. Os requisitos mínimos para o crescimento são: uma fonte de carbono e nitrogênio, uma fonte de energia, água e vários íons. Os elementos essenciais incluem os componentes das prote- ínas, dos lipídios e dos ácidos nucleicos (C, O, H, N, S, P), íons importantes (K, Na, Mg, Ca, Cl), e componentes de enzimas (Fe, Zn, Mn, Mo, Se, Co, Cu, Ni). O ferro é tão importante que muitas bactérias excretam proteínas especiais (sideróforos) para concentrar ferro a partir de soluções diluídas, e, por outro lado, nossos cor- pos sequestram o ferro para reduzir sua dis- ponibilidade como uma forma de proteção. O oxigênio (O2 gasoso), embora essencial ao hospedeiro humano, é, na verdade, um veneno para muitas bactérias. Alguns micro-organismos (p.ex., Clostridium perfringens, que causa gan- grena gasosa) não são capazes de crescer em presença de oxigênio. Tais bactérias são deno- minadas anaeróbios obrigatórios. Outros orga- nismos (p.ex., Mycobacterium tuberculosis, que causa tuberculose) necessitam da presença de oxigênio molecular para seu metabolismo e crescimento, sendo, portanto, denomina- dos aeróbios obrigatórios. A maioria das bacté- rias, no entanto, cresce tanto na presença quanto na ausência de oxigênio. Essas bactérias são denominadas anaeróbios facultativos. Bac- térias aeróbicas produzem as enzimas superó- xido dismutase e catalase, que são capazes de destoxificar o peróxido de hidrogênio e os ra- dicais superóxido, subprodutos tóxicos do me- tabolismo aeróbico. As exigências de crescimento e os subprodu- tos do metabolismo podem ser usados como formas convenientes de classificação de dife- rentes bactérias. Algumas bactérias, como cer- tas cepas de Escherichia coli (um componente da flora intestinal), são capazes de sintetizar to- dos os aminoácidos, nucleotídeos, lipídios e car- boidratos necessários para o seu crescimento @enf.studies.br e divisão, enquanto as exigências de cresci- mento do agente causador da sífilis, Trepo- nema pallidum, são tão complexas que ainda é necessário o desenvolvimento de um meio de cultura capaz de permitir o seu crescimento. Bactérias que dependem exclusivamente de moléculas inorgânicas como fonte de energia e carbono (dióxido de carbono [CO2]) são de- nominadas autotróficas (litotróficas), enquanto muitas bactérias e células animais que necessi- tam de fontes orgânicas de carbono são co- nhecidas como heterotróficas (organotróficas). Laboratórios de microbiologia clínica distin- guem bactérias a partir da sua capacidade de crescer frente a diferentes fontes de carbono (p.ex., lactose) e dos produtos finais de seu me- tabolismo (p.ex., etanol, ácido lático, ácido suc- cínico). O metabolismo das bactérias da flora normal é otimizado para o pH, concentração iônica, e ti- pos de alimento presentes no seu meio ambi- ente, dentro do corpo. Tal como no rúmen de uma vaca, as bactérias do trato gastrintestinal (GI) decompõem os hidratos de carbono com- plexos em compostos simples e produzem ácidos graxos de cadeia curta (p.ex., butirato, propionato, lactato, acetato) como subprodutos da fermentação. O ácido lático e os ácidos gra- xos de cadeia curta que são produzidos po- dem diminuir o pH luminal e são absorvidos e metabolizados mais rapidamente. As alterações na dieta, água, ou saúde, antibióticos e certas drogas podem alterar o ambiente e influenciar o metabolismo e composição dos micróbios no trato GI. Os probióticos são bactérias que po- dem melhorar a função da flora normal. Crescimento Bacteriano A replicação bacteriana é um processo coor- denado no qual duas células-filhas equivalentes são geradas. Para que o crescimento ocorra, devem existir metabólitos suficientes para su- prir a síntese dos componentes bacterianos e, especialmente, dos nucleotídeos para a síntese de DNA. Uma cascata de eventos regulatórios (síntese de proteínas-chave e RNA), semelhan- tes a uma contagem regressiva, deve ocorrer em momentos específicos para iniciar o ciclo de replicação. No entanto, uma vez que seja iniciada, a síntese de DNA deve seguir até o final mesmo que todos os nutrientes tenham sido retirados do meio. A replicação do cromossomo se inicia na membrana celular, e cada cromossomo-filho é ancorado em porções distintas da mem- brana. A membrana bacteriana, a síntese de peptidoglicano e a divisão celular estão conec- tados de tal forma que a inibição da síntese de peptidoglicano provoca a parada da divisão ce- lular. Conforme a membrana bacteriana cresce, os cromossomos-filhos vão se separando. O início da replicação do cromossomo tam- bém inicia o processo de divisão celular, que pode ser visualizado pelo início da formação de um septo entre as células-filhas. Novos eventos de iniciação podem ocorrer mesmo antes da finalização da replicação cromossômica e da divisão celular. Dinâmica Populacional Quando bactérias são adicionadas a um novo meio, elas necessitam de um tempo para se adaptar ao novo ambiente antes de começa- rem a se dividir. Esse hiato é conhecido como fase lag de crescimento. Durante a fase logarítmica (log) ou exponencial, as bactérias crescem e se dividem com um tempo de @enf.studies.br duplicação característico da cepa e determi- nado pelas condições do meio. O número de bactérias crescerá a 2n , em que n é o número de gerações (duplicações). Em um determi- nado momento, a cultura encontra-se sem metabólitos, ou uma substância tóxica aumenta sua concentração no meio; as bactérias param de crescer e entram na fase estacionária, se- guida da fase de morte. Durante a fase de morte, algumas bactérias param de se dividir, mas permanecem viáveis e são muitas vezes insensíveis aos antibióticos. Anotações: _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ ______________________________________________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ @enf.studies.br REFERÊNCIAS MURRAY, Patrick R.; ROSENTHAL, Ken S.; PFALLER, Michael A. Microbiologia médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017 .
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