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Fundamentos da Farmacologia Aula 1 – Farmacodinâmica – Cibério, 17/08/20 P3 – Maria Antônia Ângelo A Farmacodinâmica é o ramo da farmacologia que estuda a interação entre fármacos e alvos presentes no nosso organismo. Para compreender essa informação, precisamos assimilar que os medicamentos são produtos que contém um ou mais fármacos. O que são fármacos? São moléculas que tem a capacidade de interagir com determinados alvos gerando uma resposta farmacológica. Fármaco é o que chamamos de princípio ativo, são sinônimos. Os fármacos alteram a intensidade de uma determinada resposta celular ou fisiológica, não causando – normalmente – uma nova resposta. Um exemplo disso é o atenolol, que age no controle da pressão arterial sistêmica ao diminuir a frequência cardíaca, diminuindo a resposta fisiológica do organismo. Haverá uma interação entre o fármaco e o alvo, o qual chamamos de receptor. Existem diversos tipos de receptores, que se encontram espalhados pelo nosso organismo. Na maioria das vezes ele é uma proteína, e portanto, o fármaco interage com esse alvo desencadeando um efeito terapêutico ou efeito tóxico. CONCEITOS BÁSICOS Afinidade: capacidade de um fármaco de se ligar ao receptor. Eficácia: quando acontece a afinidade, pode ocasionar uma resposta, gerando efeito eficaz. É a capacidade do fármaco de tornar o receptor ativo quando ligado. Potência: relacionada com a capacidade do fármaco de desencadear uma resposta após ativar determinado receptor, mesmo em concentrações baixas. Os fármacos mais potentes são aqueles que em menor concentração conseguem desencadear uma resposta farmacológica satisfatória. Ex: opióides utilizados no tratamento da dor (tramadol, morfina, fentanil). Alguns são mais potentes que outros. FATORES DETERMINANTES DO EFEITO ➢ Local de expressão do receptor; ➢ Número total de receptores em um tecido; ➢ Potência e seletividade do fármaco pelo receptor. ➢ Exemplos práticos: Antagonista H2 da histamina, como é o caso da ranitidina. O receptor H2 é expresso majoritariamente nas células parietais do estômago, e a histamina é um dos fatores que estimula a produção do ácido clorídrico estomacal. O antagonista liga-se ao receptor impedindo que a histamina o estimule, desencadeando uma resposta de inibição da produção de ácido, com efeito localizado na região estomacal, o que significa que os antagonistas H2 produzem poucos efeitos indesejados devido a sua alta afinidade. Por outro lado, temos o exemplo da adrenalina, que pode ser oriunda do nosso próprio organismo ou produzida como fármaco, que é totalmente não seletiva para os receptores adrenérgicos. Ela ativa diversos tipos de receptores, atuando em vários tecidos diferentes no organismo e desencadeando diferentes respostas. Além disso, também temos o exemplo dos anestésicos locais, que são amplamente utilizados na prática clínica. Se esses anestésicos alcançarem a circulação sanguínea, pode causar efeitos a nível cardíaco, pois os atuam bloqueando o influxo de sódio, afetando o processo de despolarização. ÍNDICE TERAPÊUTICO No gráfico abaixo vemos a concentração plasmática em função do tempo. Quando o paciente faz uso de determinado medicamento pela via oral, sua concentração no sangue vai aumentando ao longo do tempo, de modo que é necessário uma concentração mínima para desencadear a resposta. Essa resposta vai aumentando até chegar no efeito máximo, e em seguida a concentração do medicamento vai diminuindo devido a eliminação do fármaco pelo nosso organismo. Uma nova administração de medicamento é necessária antes que a concentração mínima capaz de desencadear efeito seja atingida, uma vez que os níveis plasmáticos precisam permanecer acima de determinado limiar para que o paciente continue apresentando resposta terapêutica. Se tiver abaixo, isso compromete o efeito do medicamento. Maria Antônia Ângelo – P3 Além disso, o uso errado de determinada dose de medicamento também pode atingir a concentração efetiva mínima capaz de gerar resposta indesejável (reação adversa, efeito tóxico). A distância entre a dose mínima capaz de gerar um efeito terapêutico e a dose mínima capaz de gerar um efeito tóxico é chamada janela terapêutica. Medicamentos com a janela terapêutica classificada como “larga” tendem a ser mais seguros. Ex: a tigoxina, um fármaco da insuficiência cardíaca, apresenta janela terapêutica estreita, onde qualquer problema na dose pode gerar consequências negativas ao paciente. Exemplos de medicamentos com a janela relativamente segura são: ibuprofeno, penicilina, amoxicilina, etc. Sendo assim, a farmacodinâmica representa a base para o uso terapêutico racional dos fármacos. É a partir dela que chegamos a conhecer a eficácia, a segurança, e a potência dos fármacos, além de tornar possível desenvolver novos agentes terapêuticos. Além disso, os efeitos benéficos e indesejáveis podem variar de paciente pra paciente, onde as diferenças genéticas entre cada um de nós podem originar distinções com relação às propriedades farmacocinética e farmacodinâmicas. Os alvos farmacológicos são macromoléculas presentes no organismo com as quais os fármacos irão interagir para produzir resposta celular (alteração). Eles estão presentes na superfície de células, na circulação, no meio intracelular, enzimas, e podem ser: ➢ Canais iônicos (potássio, cálcio, etc); ➢ Receptores metabotrópicos (GPCR - acoplados à proteína G); ➢ Receptores ligados a quinases; ➢ Receptores nucelares ➢ Enzimas ➢ Proteínas transportadoras. Os canais iônicos de sódio são importantes alvos dos anestésicos locais. Os benzodiazepínicos também são amplamente utilizados, onde o diazepam, clonazepam atuam no receptor GABAA, que é um canal iônico permeável ao íon cloreto, aumentando o influxo de cloreto na célula. A carga negativa do Cl- gera interpolarização na célula, impedindo a transmissão do potencial de ação. Dentre os canais iônicos também podemos citar os receptores nicotínicos de acetilcolina, que causam relaxamento da musculatura. Quando falamos de receptores iônicos, falamos que são proteínas presentes nas membranas das células e que são permeáveis a íons. Um exemplo disso são os nicotínicos, que são permeáveis ao sódio (Na+). Nesse caso, teremos medicamentos que irão atuar nesses receptores bloqueando o influxo de Na+, impedindo a despolarização e o influxo de cálcio (Ca2+), impedindo a contração muscular esquelética. Existem também os benzodiazepínicos, que atuam nos receptores GABAA, aumentando a entrada de Cl- nas células e gerando uma hiperpolarização, o que impede que o potencial de ação seja transmitido, tendo efeito depressor no SNC (utilizado na sedação, controle de convulsões, etc). No caso dos receptores metabotrópicos, temos a informação de que a grande maioria dos fármacos atua nesse nível (adrenalina, muscarínico, muscarínico da ACH). Quanto aos receptores ligados a quinases teremos a insulina, os interferons, envolvidos com a transcrição gênica e a síntese proteica. Nos receptores nucleares teremos os corticoides e os anti-inflamatórios (dexametasona prednisolona), que atuam na região nucelar a nível de transcrição gênica. Por ser um processo mais demorado, isso faz com que o tempo de resposta mude, podendo demandar horas enquanto os metabotrópicos desencadeiam respostas rápidas (em questão de segundos), e os canais iônicos mais rápidos ainda. Os fármacos que atuam em enzimas têm efeito inibidor, como é o caso do captopril, que inibe a enzima conversora de angiotensina. Existem também drogas que atuam inibindo proteínas transportadoras, como é o caso dos diuréticos da alça, que atuam nos túbulos renais (alça de Henle) e que inibem o cotransportador de Na+/ K+/ 2Cl-, desencadeando efeitode diurese e aumentando a excreção de sódio e consequentemente de água. Maria Antônia Ângelo – P3 Existem drogas que não atuam em receptores, como é o caso dos antiácidos, que atuam na redução da acidez gástrica. São drogas básicas (hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio, etc) que se associam ao ácido clorídrico do estômago, levando a um efeito de neutralização. O manitol, fármaco de efeito laxante, também não atua em receptores, uma vez que irá levar água para a região intestinal por osmose, distendendo- a. Assim também agem os antibióticos que atuam em alvos presentes nas bactérias. Os medicamentos são produtos que contém um ou mais fármacos, e estão associados a adjuvantes que dão formato ao medicamento e tem finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. Os fármacos são classificados como sendo agonistas ou antagonistas. Os agonistas são fármacos que se ligam aos receptores ativando-os, simulando e gerando resposta semelhante a substância endógena. Existem fármacos que se ligam ao receptor β1 da adrenalina, gerando efeito semelhante ao da própria adrenalina. Os agonistas podem ser: ➢ Primário: quando se liga no mesmo local da substância endógena, como é o caso betanecol, que se liga no mesmo local da acetilcolina, ativando-o. ➢ Alostérico: atuam em local distinto, como é o caso dos benzodiazepínicos, que não atuam no mesmo local do GABAA, apesar de atuar no mesmo receptor e ativá-lo. Esses agonistas ainda podem ser classificados como plenos ou parciais: ➢ Plenos: quando ligam-se aos receptores e promovem a resposta máxima da célula. ➢ Parcial: quando ligam-se e não promove resposta máxima, sendo menor. É o caso desse exemplo abaixo de efeito analgésico quando comparamos dois opioides. Nesse caso, a morfina seria um exemplo clássico de agonista pleno, gerando eficácia de 100%, enquanto a buprenorfina representa um agonista parcial, com 50% de eficácia. Além dos agonistas, precisamos entender o conceito dos antagonistas. Eles são substâncias que se ligam ao receptor e normalmente não geram uma resposta ou reduzem a ação de um agonista. Desencadeia um efeito, porém não ativa. Ex: betabloquador ligando-se ao receptor β1 cardíaco e impedindo que a adrenalina ative-o, regulando a frequência cardíaca. Os antagonistas podem ser classificados em: ➢ Antagonistas dos receptores: ligação ao sítio ativo ou ligação alostérica (reversível ou irreversível). Sua aplicação prática se dá pelos antagonistas competitivos, como é o caso dos betabloqueadores, que competem com a adrenalina, e pelos antagonistas não competitivos, como é o caso do AAS, que inibe a COX de forma irreversível. ➢ Antagonistas sem receptores: atuam por meio de processos químico ou fisiológicos. Um exemplo de antagonista químico é a protamina, que realiza ligação química com a heparina e a inativa, e um exemplo de antagonista fisiológico é o β- adrenérgico, que reduz a taquicardia em pacientes com hipertireoidismo, Outro fenômeno que precisamos entender é a dessensibilização e a tolerância. Todas dizem respeito à diminuição do efeito de um fármaco, e a diferença reside no tempo de resposta. No caso da dessensibilização e taquifilaxia, isso ocorre em questão de minutos, e na tolerância isso ocorre ao longo de horas, dias ou semanas. Esses processos acontecem por várias explicações: alterações em receptor, translocação de receptor, depleção de medicadores, aumento da degradação do fármaco, adaptação fisiológica... Exemplos clássicos de medicamentos em que isso ocorre são: antagonistas H2, benzodiazepínicos e opioides. Portanto, há a necessidade de aumentar a dose com o passar do tempo, uma vez que o efeito vai diminuindo, caracterizando sua importância clínica.
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