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A Segunda Reforma A IGREJA DO NOVO TESTAMENTO r NO SECULO XXI WILLIAM A. BECKHAM MINISTtRIO IGREJA EM CÉLULAS Publicado em português por: Ministério Igreja em Células no Brasil Rua Vereador Antônio Carnasciali, 1661 81670-420 Curitiba - PR Copyright © 1995, 1996, 1997 por William A. Beckham Título em inglês: The Second Reformation Coordenação geral: Robert Michael Lay Coordenação de produção: Harry Kasdorf Tradução: Haroldo Janzen Revisão: Valdemar Kroker Diagramação: Cecilia Neufeld de Lima Capa: Inventiva Comunicação CIP-Brasil Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ B356s Beckham, William A. A Segunda Reforma: A Igreja do Novo Testamento no Século XXI I William A. Beckham; tradução Haroldo Janzen - Curitiba, PR: Ministério Igreja em Células no Brasil, 2007. il. Tradução de: The Second Reformation Apêndice Inclui bibliografia ISBN 978-85-87194-46-6 I. Igreja - Crescimento. 2. Renovação da Igreja. 3. Missão da Igreja. 4. Igreja- Administração. 5. Liderança cristã. 6. Trabalho de grupo na Igreja. 7. Grupos pequenos - Aspectos religiosos - Cristianismo. I. Ministério Igreja em Células. 11.Título. II 07-0411. COO: 262.0017 COU: 262 07.02.07 12.02.07 000411 I." Edição em português: 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, fotocópias, gravação ou outro qualquer, sem a permissão por escrito dos editores. Os textos bíblicos usados neste livro são da Nova Versão Internacional, Editora Vida, salvo outra indicação. r DEDICATORIA Para os teólogos, filósofos e profetas da Segunda Reforma deDeus e da revolução do século XXI. Seus escritos e seu pensa-mento criativo são o fundamento da minha peregrinação na igre- ja. Representantes desse grupo são: Dietrich Bonhoeffer, que mesmo na prisão viveu vida em comunhão. Elton Trueblood, o apóstolo da convivência da comunidade comprometida. Robert Coleman, que nos mos- trou o plano mestre da liderança do Novo Testamento. Francis Schaeffer, que levou a igreja a entender o significado da "fuga da razão ". Ray Stedman, que nos ensinou o significado da vida no corpo. Howard A. Snyder, que descreve os odres velhos e novos de vinho do reino. David (anteriormente Paul) Yonggi Cho, que nos ensinou a respeito de células bem-suce- didas nas casas. Ralph W. Neigbour Jr., uma voz profética que nos mostra para onde devemos ir. o movimento moderno da igreja em células é o fruto da sua fideli- dade na visão da igreja que Deus colocou em seus corações. • L r INDICE Prefácio 9 Introdução à edição em português 11 Introdução 21 Parte I Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Parte II Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Parte III Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Conclusão Apêndice Por que uma Segunda Reforma? Desentupindo o ralo da banheira 27 A igreja de duas asas 37 Larry: Um paradigma de liderança 45 Eddie: Um paradigma dos bancos da igreja 55 Teresa: Um paradigma apocalíptico 67 Perguntas acerca da igreja de duas asas 77 Os benefícios da igreja de duas asas 87 Fundamentos para uma Segunda Reforma A estrutura da igreja reflete a natureza de Deus 103 A transcendência e a imanência de Cristo 115 Áqui la e Prisci la - Comun idade do Novo Testamento 127 A teologia de Lutero, Spener e Wesley 137 O cristianismo do pescoço para cima 145 o projeto revolucionário de Jesus para a igreja A pedra fundamental de Jesus 157 O sistema revolucionário de Jesus 165 O COI1I;lIl1l11l1 de Jesus 171 O protótipo de Jesus 179 Os fatores do protótipo de Jesus 187 A estratégia de liderança de Jesus 201 A rede de apoio de Jesus 217 O remanescente da congregação-base de Jesus 225 A "massa crítica" de Jesus 237 Os componentes da "massa crítica" de Jesus 245 A doutrina da revolução 257 Elementos de comunidade: a mão 269 I I LISTA DE FIGURAS Figura I Explosão populacional 69 Figura 2 Escala da transcendência e imanência 105 Figura 3 Medidor da verdade 148 Figura 4 O retrato distorcido 150 Figura 5 Grade contínua 173 Figura 6 A estrutura de liderança de Jesus 203 Figura 7 Usando o triângulo 206 Figura 8 A estrutura da Igreja em Células 211 Figura 9 Desenvolvendo a infra-estrutura 213 Figura lO Estratégia de transição 230 Figura 1I Os cinco sistemas da célula 270 PREFÁCIO Jesus é o Salvador do mundo. Será que ele também é o Senhor daigreja? Nós realmente cremos nisso? Hebreus 11.10 diz que Deusé o "arquiteto e edificador" principal. A igreja muitas: vezes negli- gencia ou ignora o projeto básico revelado para nós nas EScrituras. Nós louvamos o Cabeça mas falhamos em edificar o corpo. A maioria das nossas tradições de igreja tem a forma Piresbiteriana, episcopal ou congregacional. Isto é, essas formas destacam a importân- cia dos presbíteros ou anciões, dos bispos e pastores qual ificados ou da comunidade local de crentes. Cada uma dessas ênfases tern a sua base no Novo Testamento; cada forma preserva percepções bíblicas. Mas nenhuma incorpora plenamente a dinâmica bíblica da igreja. Quaiquer que seja a nossa visão acerca da filosofia de igreja, a pergunta básica hoje é: Será que as nossas igrejas realmente são a encarna~ão do evan- gelho de Jesus Cristo? Temos dado a devida atenção à eclesiologia bí- blica básica, independente das nossas tradições pessoais? De maneira significativa, os autores dos mais diversos espectros ecles iásticos têm argumentado a favor de uma nova reforma. E muitas vez~s chegam a conclusões semelhantes acerca da natureza orgânica e celular da igreja quando examinam os escritos do Novo Testamento. Eu tenho ouvido um clamor por uma Nova Reforma em nossa igreja por mais de vinte anos - uma que renovaria a forma e a vida da igreja, tornando-a fiel e eficiente. E Deus tem trabalhado nesses anos. A Segun- da Reforma é um sinal disso. Mais do que um apelo para uma renovação 9 lO -.1 5,'eg li nda R cforma I I na igreja. este livro aponta o caminho ú frente - especialmente em relação ú natureza orgânica c celular do Corpo de Cristo. Valendo-se de uma extensa experiência corno missionário. plantador de igreja. pastor e mestre. Bill Bcckharn reúne percepções bíblicas. aná- lise histórica e teológica e um sentido comum prático neste importante livro. LIe participa do coro crescente de líderes interessados em levar () povo de volta ao modelo bíblico - para serem fiéis em seus dias a uma sociedade emergente globaliznda. A Seg/ll/da Reforma é lima argumen- tação informada e sustentada a favor do padrão do Novo Testamento acerca da celebração !lO grUDO gran:k~iado ao discinulado.no gnlpo p~_CL~ Podemos aprender da história. Minha própria pesquisa me con- venceu que sempre que Deus renova a igreja, elementos-chave são uma redescoberta de uma comunidade intimamente ligada e o ministério de lodos os crentes. Como Beckharn nos lembra, a "Igreja de duas asas" realmente não é nova. A história nos oferece exemplos instrutivos. Nós simplesmente precisamos redescobrir novamente o que a igreja, até cer- to nível, sempre soube. A Segunda Reforma é um apelo à fidelidade bíblica na maneira como planejamos a nossa vida juntos como igreja cristã. É um lembrete do tipo de vida compartilhada que somos chamados a praticar como cristãos. e um guia prático de como encarnar as maravilhosas boas no- vas de Jesus Cristo nessa época da virada do milênio. O livro borbulha de percepções e exemplos. Ele nos mostra como é uma igreja que cele- bra ele forma genuína. I I - Howarel A. Snyder, autor ele Vinho Novo, Odres Novos (São Paulo: ABU, 1l}<)6). Sigll.\ ui lhe .)/nril. How God Resliapes lhe Church (Sinais elo Espírito: Como Deus remodela a igreja), anel Earth Currents: The Slruggle for lhe World \. Soul (Correntes da ter- ra: A luta pela alma elo mundo) INTRODUÇÃO À EDIÇÃO,... EM PORTUGUES PERGUNTAS RELATIVAS AO MOVIMENTO IGREJA EM CÉLULAS"Vocêsjá ficaram bastante tempo nesta tnont anh a. Levantem acampcunento e avancem. " O Senhor a Moisés As verdades de Deus nunca mudam. No entanto, o contexto his-tórico das verdades e as pessoas que apl icarn as verdades deDeus mudam. Por isso, atual izações periód icas de Iivros po- dem ser de grande ajuda. Como uma introdução a esta edição em português de A Segunda Reforma, incluo aqui porções da Introdução e Conclusão de um de meus livros mais recentes, Where (Ire l1'e now? [Onde estamos agora"]. Esse livro é uma avaliação do Movimento de Grupos Pequenos e dos modelos ligados a ele. Espero que esses pensamentos ajudem a colocar as verdades apre- sentadas em A Segunda Reforma na sua perspectiva h istórica, mantendo assim sua relevância para o Movimento Igreja em Células de Deus do século XXI. MOVIMI:NroS ;\ maioria dos movimentos, programas e usos da igreja dura ape- nas pouco tempo. Mas o atual Movimento Igreja em Cé lulasja existe há cerca de cinco décadas. ;\ conclusão poderia ser que o movimento não está funcionando porque levou cinco décadas para chegar até esse ponto. No entanto, a longevidade do moderno Movimento Igreja em JJ 12 A Segunda Reforma Células é realmente muito impressionante. Quando Deus prepara algo grande para fazer, ele leva o seu tempo. A erva cresce em semanas, mas um grande carvalho alcança a maturidade apenas depois d_t!_~éc~:: das." ....-.as. Durante as últimas cinco décadas, Deus tem desafiado a igreja a restituir os grupos pequenos ao ministério da igreja. Algumas igrejas- chave foram bastante bem-sucedidas em adicionar grupos pequenos a suas estruturas de grupo grande já existentes, enquanto outros líderes fiéis c boas igrejas falharam repetidas vezes. Normalmente, quando um programa novo falha, a igreja não se dispõe a tentar aquele "pro- grama" novamente. Mas algumas igrejas e líderes têm tentado até qua- tro ou cinco vezes fazer com que os grupos funcionem usando o méto- do mais recente de pequenos grupos. Por que existe essa atração por grupos pequenos, apesar de todos os fracassos? Deus colocou uma visão da igreja no coração de líderes, e essa visão inclui os pequenos grupos do Novo Testamento. É como se Deus dissesse: "GruRos~quenos são importantes para mim e você~ gg 10168 rão até que os usem da maneira certa". Na primeira década do século XXI, muitas igrejas estão começando a "fazer da maneira certa" o que diz respeito a grupos pequenos. Entretanto, amigos e inimigos ainda questionam por que isso de- morou tanto. Creio que a razão para o penoso e demorado processo de restauração dos grupos pequenos como sistema de ministério do Novo Testamento se encontra na história da Igreja. A Igreja do Novo Testa- mento estava equilibrada entre a comunidade corporativa e a comuni- dade de célula: entre a expressão do grupo grande e a expressão do grupo pequeno. Mas, durante 1.700 anos, a maioria das igrejas usou apenas a expressão do grupo grande. Essa compreensão desequilibra- da de igreja está agora profundamente enraizada nos valores, na psi- que e cultura dos cristãos que nela nasceram. Consequentemente, mu- dar a percepção de igreja como uma organização de grupo grande em um prédio é incrivelmente difícil. QUARENTA ANOS RODEANDO A MONTANHA Hoje Deus está restaurando o paradigma do equilíbrio por meio de diferentes correntes da igreja que durante décadas estiveram expe- rimentando grupos pequenos. Deus começou essa abordagem eq u iIi- brada na Igreja do Evangelho Pleno Yoido, em Seul, na Coréia do Sul, durante o início da década de 1950. A Igreja do Novo Testamento no século )(){f 13 Em 1997, durante uma conferência em uma igreja na Europa, o pastor me convidou para almoçar com o preletor principal. dr. Paul Yongi Cho, pastor da Igreja do Evangelho Pleno Yoido. Cumprimentei o dr. Cho e imediatamente lhe informei que eu era amigo do dr. Ralph Neighbour. Ele respondeu: "Deus desenvolveu em meu ministério a maior igreja do mundo, mas ele tem usado Ralph Neighbour para via- jar ao redor do mundo e ensinar sobre a Igreja em Células". Enquanto conversávamos, tive uma profunda percepção de h istória. Haviam se passado mais de quarenta anos desde que Deus havia dado a esse ho- mem a visão de uma igreja com seu principal ministério por meio de grupos pequenos. Quarenta anos é o mesmo período que os filhos de Israel cami- nharam pelo deserto antes de entrar na Terra Prometida. Depois de quarenta anos, Deus disse a eles: "Vocês já rodearam bastante tempo esta montanha". Consequenternente, o povo de Deus começou a se mover em direção à visão de Deus. Cada movimento chega finalmente a esse momento decisivo. Ou ele continua rodeando a montanha com suas idéias e cultura antigas ou ele se levanta e se move em direção à promessa. Naquele dia com o dr. Cho, senti que o Movimento Igreja em Células havia chegado ao mes- mo momento decisivo experimentado pelos filhos de Israel. O.M~ rnento Igreja em Células rodeo!l QYf!tnt~º-~C:!!ªi.l~amontanha de con~ ceitos, ldelas e íííõíiêlQL.b.gora, a antiga geração ligada à servidão , instituclõnãtda passado foi sepultada e uma nova geração nasceu. No início do século XXI, o Movimento Igreja em Células está agora vol- tado para a visão prometida de Deus. O tempo que um movimento emprega rodeando a montanha não é de todo perdido. Antigas idéias são descartadas, antigos líderes são sepultados e novos planos de viagem são feitos. E perguntas necessá- rias surgem para definir o destino do movimento. PRIMEIRAS PERGUNTAS SOBRE O MOVIMENTO IGREJA EM CÉLULAS Podemos traçar o desenvolvimento do Movimento Igreja em Cé- lulas considerando as perguntas que têm sido feitas a respeito dele durante os últimos quarenta anos. A primeira pergunta foi: "O que é essa coisa em Seul?" , porque Deus começou o movimento moderno na Coréia, no ministério de Paul 1 fnr II 14 ····.--·-·--·--------------------.;...------"'-'--~-=·----==.i-l;. A Segunda Reforma Yongi Cho. Em retrospecto, é evidente que a Igreja do Evangelho Pleno Yoido não era um modelo de ensino para o movimento, mas um modelo para "chamar a atenção". Na verdade, poucas igrejas foram capazes de copiar a estratégia ou o tamanho do modelo coreano. No entanto, por meio daquela igreja Deus atraiu a atenção de líderes para um modelo de minis- tério mais bem-sucedido. A segunda pergunta também foi a respeito da igreja em Seul. "Posso ser bem~~l!ç~rjjrjg_l!§f!_'!_4.Q!:!estr.!'tura de Seul? ". Muitos pastores ansia- vam pelo mesmo tipo de crescimento do qual ouviram que havia nessa grande igreja em Seul. Alguns foram a Seul, viram o crescimento e chega- ram a uma conclusão óbvia, porém incompleta. Outros chegaram à mesma conclusão permanecendo em casa e lendo a respeito da igreja ou ouvindo aqueles que fizeram a peregrinação. A conclusão foi: "Posso experimentar o crescimento dessa igreja !lsando s"a estrutura", Subseqüentemente, cen- tenâs-de igrejas se reorganizaram com grupos pequenos e experimentaram algum crescimento, enquanto muitas outras fracassaram. Elas continuaram-_ .. ,,,.- ~ no círculo da igreja tradicional e chegaram ao mesmo lugar de onde parti- ~ ramoA razão? N- odemos mudar uma udar um valor. ' Não pode lores e vida. Estamos condenados a continuar rodeando a montanha enquanto traçarmos o nosso curso com estruturas. Essa foi uma lição importante que Deus queria que a igreja do século XX aprendesse. Outra pergunta durante os primeiros dias do movimento surgiu des- ses fracassos com estruturas. "Os grupos pequenos darão certo fora da Coréia? ". Uma resposta simplista e satisfatória a quem a formulava tor- nou-se popular. "Grupos pequenos não darão certo nos Estados Unidos!". E você poderia substituir "Estados Unidos" por "Reino Unido" ou "Amé- rica do Sul" ou muitos outros países. Muitos líderes concluíram que gru- pos pequenos fracassaram ou fracassariam em seu país porque grupos pequenos apenas são eficazes em determinadas culturas. Assim, a conclu- são foi que "grupos pequenos podem dar certo em alguma Terra Prometi- da, mas não darão certo em nosso país querodeia a montanha". Entretan- to, o tipo de grupos pequenos implantado nos Estados Unidos e no Reino Unido naquela época também não daria certo na Coréia. Pessoas e estru- turas que rodeiam a montanha vão continuar se movendo em círculo mes- mo em um novo lugar. Isso não tem nada que ver com o terreno. Atual- mente, grupos pequenos "estão dando certo" em todos os continentes e em muitas culturas diferentes. Isso nos leva a uma nova série de perguntas. A Igreja do Novo Testamento no século XXI 15 PERGUNTAS TEOLÓGICAS "O grupo pequeno é um fenômeno cultural ou teológico? ". Visi- onários como Ralph Neighbour e Carl George, além de outros, busca- ram compreender os valores e a teologia de grupos pequenos e expressá- los em modelos e materiais de implementação prática. Neighbour es- creveu sobre a Igreja em Células e George explicou o movimento como metaigrejas. Bill Hybels começou com dois valores culturais. O pri- meiro valor era que americanos suburbanos ainda buscavam a Deus. O segundo valor era que a comunidade de grupos pequenos era atraente a essas pessoas. Com base nesses dois valores, Deus desenvolveu em Chicago o Modelo Willow Creek para as pessoas que estão a sua pro- cura. Durante o desenvolvimento desses primeiros modelos, com fre- qüência o vinho novo foi severamente influenciado pelas estruturas antigas de grupo grande. Além disso, a cultura antiga de Grupos de Estudo Bíblico, Grupos de Ajuda e de Comunhão dominou as dinâmi- cas e mecanismos dos novos grupos pequenos. Assim como os filhos de Israel, esses primeiros modelos levaram consigo uma grande parte da cultura do Egito para a montanha. E, durante aqueles quarenta anos, desenvolveram as suas próprias estru- turas de rodear-a-montanha. Misturar a cultura de rodear-a-montanha e a nova cultura da Terra Prometida sempre resultará em confusão e indecisão. Então, líderes mais uma vez experimentaram um sucesso um tanto menos que satisfatório com grupos pequenos, e a conseqüen- te frustração suscitou outras perguntas. Quando a dificuldade de fazer a transição para esse tipo de igreja se tornou mais óbvia, fez-se uma nova pergunta. "Os grupos pequenos são apenas um 'modo de vida' da Igreja do Novo Testamento? Os gru- pos pequenos no primeiro século representavam uma estrutura cultu- ralou essencialmente teológica?". A resposta a essa pergunta deu aos pastores uma possibilidade de escapar da pressão de aplicar a teologia de grupos pequenos do Novo Testamento em suas igrejas. Após expe- rimentar dificuldades na aplicação de grupos pequenos, um pastor co- mentou: "Foi assim que eles fizeram no primeiro século. Nós fazemos isso em um grupo grande". Isso significa que a cultura e a estrutura da igreja dependem da montanha que você rodeia. Eu hoje rodeio minha montanha da minha maneira. No Novo Testamento, eles rodeavam a montanha deles da 16 A Segunda Reforma sua maneira. Mas falta a essa abordagem de diferentes montanhas uma direção e ficamos exaustos de circundar até mesmo montanhas pesso- ais. Portanto, essas perguntas sobre os grupos pequenos no Novo Tes- tamento e no século XX levaram à pergunta seguinte. "Qual é a teologia dos grupos pequenos? ". Um movimento cris- tão não pode se sustentar a não ser que se defina teologicamente. Du- rante as últimas décadas, a teologia dos grupos pequenos foi desenvol- vida em torno da verdade fundamental da natureza de Deus. Deus, em sua própria natureza, é comunidade: Pai, Filho e Espírito. Portanto, a Trindade é o principal conceito usado para explicar a teologia de co- munidade e guiar a vida da igreja e de cada cristão. A definição da teologia de comunidade levou o movimento a um novo nível. Agora, líderes não podem mais descartar grupos pequenos como um simples método passageiro. Se a comunidade do grupo pequeno é parte da te- ologia básica da natureza de Deus, então fazer parte da comunidade não é mais simplesmente uma opção prática. Líderes não podem con- tinuar debatendo os méritos dos grupos pequenos, porque o valor dos grupos pequenos agora está estabelecido na própria natureza de Deus. Líderes e igrejas precisam encontrar agora uma maneira de viver em comunidade de grupos pequenos! Nós apenas podemos romper a força do passado que nos faz mover em círculos com a força da teologia. A resposta para os filhos de Israel não estava em aprender a rodear me- lhor a montanha. A resposta para eles foi seguir a presença Shekiná de Deus/ ' .' ,I PERGUNTAS RECENTES Durante a última década, uma nova série de perguntas foi feita acerca do movimento. Essas perguntas não se referem à validade do uso de grupos pequenos, mas à natureza dessas igrejas, Essas pergun- tas são formuladas enquanto a Igreja recolhe seus pertences e se pre- para para a jornada, para longe da montanha do passado, "Com que se parece uma Igreja em Células e como funciona? ". O movimento Igreja nas Casas reage contra os fracassos do grupo gran- de e questiona: "O grupo grande é necessário?", Outra pergunta surge a respeito da natureza da Igreja em Células, porque os modelos mais visíveis para o movimento até esse ponto têm sido de igrejas muito grandes, "A estratégia de grupos pequenos é primordialmente um mé- todo de uma igreja grande?", Entretanto, uma grande porcentagem de igrejas no mundo atualmente é de menos de 100 membros adultos ati- A Igreja do Novo Testamento no século XXI 17 vos. Por nenhuma outra razão que seus números, essas pequenas igre- jas são fundamentais para o crescimento do movimento. O Movimen- to da Igreja nas Casas na China também comprova que esse não é ape- nas um fenômeno de uma igreja grande. E perguntas em outras áreas também têm sido feitas. Por exemplo: "Como a implantação de igrejas e os ministérios de apoio se encaixam no movimento?". Diversas perguntas que são discutidas no movimento nesse mo- mento merecem atenção especial nesses parágrafos conclusivos. "Existe apenas um modelo e método?". Essa é uma das pergun- tas recentes mais importantes a respeito do movimento. Essa pergunta foi desenvolvida em razão do grande sucesso do Modelo do Grupo dos Doze em ]3!?g..ot<h..Çolômbia.A história confirma que o Espírito Santo é capaz de usar muitos modelos e métodos diferentes em um movi- mento controlado por ele. Não existe um modelo ou um método ou um .••coneo de materiaLL No Tuturo, o movimento terá outros modelos que parecerão ser "o modelo". Mas esses modelos especiais são ape- nas a maneira de Deus fazer correções de curso e nos lembrar de vj}Jo- re§ eSQuesidos 011 negligenciados que precisam continuar a conduzir o movimento. "É necessário que o movimento seja controlado do topo por lí- deres autorizados?". Essa é uma pergunta que tem sido feita com uma freqüência crescente durante os últimos anos. O fato é que o movi- mento perseverou por cinco décadas tendo somente o Espírito Santo como seu administrador divino. Ele não sobreviverá mais algumas décadas se apóstolos humanos o restringirem a si mesmos, encaixo- tando-o em determinados modelos, codificando sua vida ou se esque- cendo de liderar como servos. Líderes podem ser substantivo ou ver- bo. Líderes-subst'.l_ntivo necessitâm de títulos e posições Líderes- ver- bo lideram pelo exemplo Jjderes-sllbstaotiyo dizem' "Ouca O que eu ç!igo" ~ "Obedeça-me" U@res-verbo dizem' "Siga-Jlle:'~ºeixe-me servi-lo". Um movimento de Deus não sobreviverá muito tempo a lí- deres que demandam títulos, posições e honra especial para si mes- mos. "Os grupos são naturais, feitos pelo homem, ou são células so- brenaturais, feitas por Deus?". Essa é uma pergunta importante para a expansão do movimento no século XXI. Ela atinge o centro da nature- za e o DNA do grupo pequeno. Cristo está de fato no meio de cada grupo com sua presença divina, seu poder da ressurreição e seu propó- sito eterno? O movimento Igreja em Células não sobreviverá como movimento de grupos pequenos, como movimento de implantação de 18 A Segunda Reforma igrejas, como movimento de crescimento de igreja ou como movimen- to de igreja grande. Grupos de Estudo Bíblico, <;!Tuposde Aj~e Grupos de Trabalho também não irão penetrar religiões radicais, trans- formar culturas seculares e mudar sociedades em deterioração. Esse movimento somente continuará se Cristo estiver presente nessas célu- las como ele prometeu. Por isso, essa pergunta a respeito de grupos feitos pelo homem ou células feitas por Deus deve ser respondida acom- panhada dessa paixão e determinação. "Cada unidade básica desse mo- vimento deve funcionar como uma comunidade feita por Deus, habita- da por Cristo e capacitada pelo Espírito." o QUE VAI ACONTECER EM SEGUIDA? Creio que Deus começa agora a fazer e responder a uma nova pergunta sobre a Igreja do século XXI: O que vai acontecer em se- guida? Deus falou a dois profetas do Antigo Testamento no século VII a.C. a respeito do que estava por vir. Em meio a eventos horríveis e desgraça esmagadora, Deus apontou para um tempo no futuro. Deus disse a Habacuque: "Olhem as nações!" "Contemplem-nas! " "Fiquem atônitos!" "Pasmem!" "Pois nos dias de vocês farei algo em que não creriam se lhes fosse contado!" Deus falou a Zacarias a respeito de um evento futuro que seria realmente um tempo de admiração. Assim diz o Senhor dos Exércitos: "Naqueles dias, dez homens de todas as línguas e nações agarrarão firmemente a barra das vestes de um judeu e dirão: 'Nós vamos com você porque ouvimos dizer que Deus está com o seu povo '. " (Zacarias 8.23). Essa é uma profecia sobre o grande poder de atração do evange- lho que ocorreu apenas em situações isoladas no passado, mas que está prometido para um dia no futuro. Teria chegado esse dia? A profecia de Zacarias teria sido planeja- da para o século XXI, para o nosso tempo? Seria o Movimento Igreja em Células o preparo de Deus para o cumprimento dessa profecia? Creio que pode ser estabelecida uma conexão entre a promessa de Deus de uma grande colheita a Zacarias e o Movimento Igreja em Células. A conexão se encontra na razão pelo desejo dos perdidos de todas as A Igreja do Novo Testamento no século XXI 19 línguas e nações de agarrar-se ao povo de Deus. "Ouvimos dizer que Deus está com vocês.". Essa é a conexão entre essa promessa do sécu- lo VII e o que Deus está fazendo hoje no Movimento Igreja em Célu- las. A singularidade do Movimento Igreja em Células é a presença de Deus. O texto bíblico da vida desse movimento é "onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles". O grande mis- tério e esperança desse movimento é "Cristo em você". Por mais de meio século Deus tem transformado gradualmente esse movimento de um movimento de grupos pequenos em um movimento da comunidade encarnada. A teologia dos grupos pequenos agora tem seu foco na presença permanente do Pai, na vida encarnada de Cristo, o Fi lho, e na plena habitação do Espírito Santo na vida de grupo pequeno. Ralph Neighbour pediu que o texto de 1 Coríntios 14.24-25 seja escrito sobre a lápide de seu túmulo. Mas se entrar algum descrente ou não instruído quando todos estiverem profetizando, ele por todos será convencido de que é pecador e por todos será julgado, e os se- gredos do seu coração serão expostos. Assim, ele se prostrará, rosto em terra, e adorará a Deus, exclamando: "Deus realmente está entre ....I"voces .. A presença é a característica mais significativa do Movimento Igreja em Células em nosso ingresso no século XXI. A lição mais im- portante que esse movimento aprendeu é que Cristo está em cada cris- tão e em cada grupo pequeno. Jesus disse: "Quando for levantado da terra, atrairei todos a mim". Imagine Cristo sendo levantado em gru- pos pequenos em todo o mundo. Essa é a esperança da profecia de Zacarias de uma grande atração de perdidos de todas as línguas e na- ções para Cristo. Os perdidos tocarão a barra das vestes do povo de Deus para tocar o Cristo manifestado que é evidente em seu meio. A maior colheita que o mundo e a igreja jamais viram está no horizonte. É uma colheita de admiração c espanto. Será uma colheita diferente das outras. Será uma colheita amadurecida pela presença Shekiná do próprio Deus entre o seu povo. Será uma colheita de santi- dade, porque o povo de Deus vive na sua presença. Será uma colheita de adoração, por causa da sua presença. Será uma colheita de oração, por causa da sua presença. Será uma colheita da Palavra, por causa da sua presença. Será uma colheita de amor, por causa da sua presença. Será uma colheita de ministério, por causa da sua presença. Será uma colheita de poder, por causa da sua presença. 20 A Segunda Reforma Deus está preparando o Movimento Igreja em Células para a co- lheita. Cada vez que um grupo de cristãos experimenta a realidade da presença, do poder e do propósito do Pai, do Filho e do Espírito, estamos um pouco mais perto da colheita de Deus. -1 Bill Beckham Janeiro 2007 -INTRODUÇAO o GRANDE QUADRO DE EZEQUIEL A mão do SENHOR estava sobre mim, e por seu Espírito ele me levou a 11111 vale cheio de ossos. Ele me levou de 11mlado para outro, e pude ver que era enorme o número de ossos no vale, e que os ossos estavam muito secos. Ezequiel 37. /-2 A visão do profeta Ezequiel do vale de ossos secos expressa frus-tração, mas em última análise, esperança, com a nação de Israel.Quando Ezequiel olhou para aquele vale, viu muitos ossos. Uma enorme quantidade de ossos estava espalhada por aquele vale. Mas, será que "esses poderão tornar a viver?". Onde estava a forma, a carne e a "vida em torno dos ossos? Deus instruiu Ezequiel para.erofetjlOr aos ossos. Enquanto profe- tizava, houve um barulho, um som de chocalho, e os ossos se juntaram, osso com osso. Olhei, e os ossosforam cobertos de tendões e de carne, e depois de pele (Ez 37.7-8). Todas as partes foram j untadas e integra- das em um todo. Mas isso ainda não era suficiente: "Não havia o espíri- to neles ... Profetize ao espíri!Q:.. AJorma sem o espírito de Deus continua sendo nada além de ossos secos conectados. Profetizei conforme a ordem recebida, e o espirito ':i/í/"()l/ neles; eles receberam vida e se puseram em pé. fui um exércitu _ e;;:"l"IIle.' © 37.101.. Ossos secos. mortos, desconectados, foram trans- tormaãos em um exército vivo e poderoso. A l'vIACROVISAo Este livro faz parte do diálogo de como a igreja de Novo Testa- mento se relaciona com o mundo do século XX!. Eu não escrevo porque sou um perito no assunto, mas porque o meu coração. como o seu. pulsa L 2/ 22 ;1 Segunda Reforma há décadas por uma igreja que siga os moldes da igreja do Novo Testa- mento. Semelhantemente a Ezequiel, tenho estado parado diante do enor- me vale, examinando os ossos secos da igreja e ansiando ter o poder para profetizar forma e vida para esses ossos. Hoje, presumo que as aborda- gens antigas de "fazer igreja", usadas por 17 séculos, não vão produzir nada além de um "som de chocalho" nesses ossos. Semelhantemente a Israel, a igreja sente a necessidade de um sistema espiritual para transformá- la em um organismo que Deus possa encher com o seu espírito. Este livro visa a apresentar uma macrovisilo da igreja. Macro signi- fica combinar forma em uma perspectiva que é "longa, ampla e expandi- da". Um provérbio comum que expressa o princípio do macro versus o micro diz o scguinte: "Você não consegue ver a floresta por causa das muitas árvores". Muitas vezes não conseguimos "ver a floresta" (macro) "devido às muitas árvores" (micro). ~ temos a tendência de nos perder em detalhes e falham~Q) ver o ql!adro todo. - Para algllIfs,-essa abordagem vai ser frustrante porque detalhes, aspectos específicos, métodos e dados são normalmente vistos como a chave para o sucesso. No entanto, da minha experiência pessoal, como pastor e missionário, percebo que meu problema em implementar uma estratégia normalmente não é o problema micro ou o detalhe, mas o problema macro, ou seja, ter a visão do todo. Quando consigo ver todo o quadro, ~10 ÇQndiçÕes de encaixar os detalhes..nos sem devidos luga- res.- UM QUEBRA-CABEÇAS SEM O QUADRO Como Iíderes de igreja, parece que estamos diante de uma caixa com 5.000 palies de um quebra-cabeças, masnão temos idéia como é o quadro desse quebra-cabeças. Os pedaços obviamente foram projetados para encaixar-se um no outro. Porém, está faltando o quadro necessário para nos ajudar a colocar os pedaços no seu devido lugar. Posso imagi- nar Ezequiel tendo pensamentos semelhantes quando observou o vale dos ossos secos. Esse sentimento de incerteza ocorre com freqüência durante perí- odos de mudanças rápidas. quando padrões aceitáveis de operação têm falhado. mas padrões novos não têm preench ido as lacunas. Copérn ico vivia em uma época de transição como essa. Ele descreveu o estado caótico da astronomia dos seus dias: ··...é como se um artista tivesse de coletar as mãos. pés. cabeça e outros membros para as suas figuras de diversos modelos, cada palie desenhada de maneira esplêndida. mas não A Igreja do Novo Testamento no século XXI 23 relacionada a um único corpo, e visto que eles não combinam de forma alguma umas com as outras, o resultado seria um monstro em vez de um homem ".1 Tanto Ezequiel, como Copérnico e os líderes da igreja atual parti- lham de um problema em comum - nós carecemos de uma estrutura que integre nosso sistema. Diante do quebra-cabeças da igreja, contamos com mais palies do que podemos lidar. E certamente não será muito útil reco- lher todas as peças na caixa a chacoalhá-Ia novamente para obter uma formação diferente! Devemos primeiro encaixar os métodos e os detalhes em uma macrovisão da igreja do Novo Testamento. r hl\ M!\CROVIS.\O PODE SER .\tvlEDRO:'\T;\l)()Ri\ Visualizar a igreja em pinceladas novas e amplas pode ser amedrontador porque nos leva além da nossa zona de conforto. Já não estamos mais no controle. A rnacrovisão da igreja é tão ampla e abrangente quanto o próprio Deus e nos conduz além do nosso tempo limitado e di- mensões de espaço. Ela nos leva muito acima da segurança do nosso mun- do físico lógico para o reino espiritual de fé e visão de Deus. Portanto, este livro realmente trata de você e de mim. Antes que a igreja possa mudar, você e eu precisamos mudar. Simplesmente Illudar materiais, programas e atividades não é suficiente Dev-el~"Wsmudar a nos- -sa cÕ-licepção de igreja, como vemos Deus se expressando no mundo por meio da igreja e como "fazemos igreja". VAMOS "PROFETIZAR" Venha comigo para dentro do vale com todos os ossos e partes da igreja que temos tentado chacoalhar e trazer à vida. Devemos estar fa- miliarizados com esses ossos. Temos andado no meio deles e pisado por cirnn deles por anos. Temos tentado 1I11il C:-':-'CS ossos com nossos progra- mas, e os temos chacoalhado com toda a nossa força administrativa e promocional. Sem dúvida, conhecemos bem esses ossos. No entanto, Deus nos mandou profetizar para os (}SSOS e para () e.lpírilo. Assim, dessa vez, em vez de chacoalhar os ossos com as nossas próprias forças, vamos profetizar as palavras de Deus sobre a igreja. Profetize aos ossos para que recebam forma. Profetize o sopro de ~D~us para que essa forma receba vida como igreja de Cristo, um cxcrc itn vivo e poderoso marchando para a reforma - A Seglll/du Reji)rll/u. PARTE I PORQUE UMA SEGUNDA REFORMA? Hoje, depois de mais de três séculos, podemos, se desejarmos, trocar a marcha novamente. Nossa oportunidade para um grande passo reside em abrir o ministério para o cristão comum de uma maneira semelhante àforma em que os nossos ancestrais abriram a leitura da Bíblia para o cristão comum. Fazer isso significa, em certo sentido, o início de uma nova Reforma, enquanto, em outro sentido, significa o término da Reforma anterior na qual as implicações da posição tomada não foram entendidas plenamente nem seguidas fielmente. - Elton Trueblood 1 DESENTUPINDO O RALO DA BANHEIRA o mudo de pensar que criou os problemas que lemos hoje é insuficiente para resolvê-los, -A/hert Einstein A banheira de Christian Smitb..iicoII entllpida por três djas...,Eleachava que era conseqüência de uma reforma recente. Ele gas-tou uma boa parte dos três dias tentando consertá-Ia e chegou a descer ao porão para "atacar" o cano de esgoto COI11 um fio de metal flcxí- vel para desentupir ralos. Nada funcionava. Não passava um pingo. Ele finalmente "entregou os pontos". Exausto, derrotado e coberto pela sujeira do esgoto acumula- do em vinte anos, sentou-se no canto da banheira e imaginou a vida sem um bom banho. Christian continua sua história, dizendo: "De repente, eu tive um sentimento estranho. Não. Isso não podia ser possível. Eu estendi o braço e tirei a tampa do ralo da banheira. Instantaneamente, a água suja jorrou pelo cano abaixo. Eu tinha esquecido de abrir a tampa para deixar a água sair".' Cluisí iau Smith aplica a sua experiência do raio fechado ú igreja: A moral óbvia do meu fiasco com a banheira foi a seguinte~ importa quão criativo você seja, se \'ocê definiu o problema incorretamente, você não vai encontrar a solução. Em outras ,palavras: mais importante do que dar as respostas certas é fazer as pergllntas celias Ou, quando você Iim ita prematuramente a amplitude das possíveis causas dos seus problemas, você pro- vavelmente vai ficar com a sujeira de esgoto em seu rosto. 28 A Segunda Reforma Para arrumar a minha banheira, eu precisei recuar alguns pas- sos e considerar se o problema poderia ser algo diferente do que acúmulo de cabelo e sujeira. Eu precisava abordar o meu problema de uma perspectiva totalmente diferente, com uma interpretação de evidências radicalmente reordenada. De for- ma semelhante, para arrumar a igreja, também precisamos re- cuar alguns passos, deixar de lado as suposições convencio- nais acerca do que é errado, e abordar o problema com um quadro de referência radicalmente diferente." Nossos quadros de referência, ou paradigmas, mostram como ve- mos e o que pensamos acerca dos eventos ao nosso redor. Nós interpre- tamos nossas experiências e nossos relacionamentos com pessoas, even- tos e estruturas por meio dos nossos paradigmas. Nós também não en- tendemos a igreja a não ser que a enxerguemos por meio do paradigma do Novo Testamento. Este capítulo define e ilustra o pensar paradigmático e mostra sua relevância para o que está acontecendo na igreja atual. A maneira de fazermos igreja está diretamente relacionada à maneira de pensarmos da igreja. FIGURAS DE PARADIGMAS Em seu livro A estrutura da revolução científica (São Paulo: Pers- pectiva, 1996), Thomas Kuhn introduz à nossa geração a palavra paradigma e a frase mudança de paradigma. Ele afirma que cada ruptu- ra significativa no campo da ciência é uma ruptura de formas antigas e tradicionais de pensar. Steven Covey confirma isso ao dar a seguinte definição de paradigma: A palavra paradigma vem do grego paradigma: um modelo ou mapa para entender e explicar certos aspectos da realidade. Embora uma pessoa possa fazer pequenas melhorias ao de- senvolver novas habilidades, grandes avanços no desempe- nho e avanços revolucionários na tecnologia requerem novos mapas, novos paradigmas, novas maneiras de pensar e ver o mundo.' o professor Kuhn cita exemplos de descobertas científicas conhe- cidas que começaram quando um cientista rompeu com o padrão aceito em conceituar um conjunto de fatos. Ele observou grandes saltos na A Igreja do Novo Testamento no século XXI 29 criatividade e no avanço quando cientistas começaram a perceber uma situação de uma maneira nova por causa da mudança de entendimento. A Crase mudança de paradigma foi cunhada para explicar esse processo cxtraord inário. Embora paradigma seja originalmente um termo científico, mui- tos o entendem como um modelo, uma teoria, uma percepção, uma pres- suposição ou um sistema de coordenadas. Hoje, paradigma é um jargão no meio político e empresarial. Líderes cristãos também têm começado a aplicar o conceito à igreja. O pensar paradigmático não é um fenômeno moderno, como pode ser verificado na seguinte carta de Martin Van Buren ao Presidente Andrew Jackson. Ao lermos entre as linhas temos a impressão de que dois paradigmas de transportes provocaram um debate feroz na política americanano início do século XIX. 31 de Janeiro de 1829 Martin Van Buren Governador de Nova York AI- Ao Presidente Jackson: O sistema de canais do nosso país está sendo ameaçado por uma nova forma de transporte conhecida como "estradas de ferro". O governo federal deve preservar os canais pelos seguintes motivos: Um. Se as embarcações dos canais forem substituídas pelas "estradas de ferro", isso resultará em sério desemprego. Comandantes de embarcações, cozinheiros, condutores, hos- pedeiros, mecânicos e os homens que trabalham nos estalei- ros ficarão sem o seu sustento, sem mencionar os inúmeros fazendeiros que agora estão ocupados em plantar feno para os cavalos. Dois. Os construtores de embarcações sofreriam e os fabricantes de cordas de rebocadores, roldanas e ferramentas de trabalho ficariam privados do seu trabalho. Três. As embarcações de canais são absolutamente es- senciais para a defesa dos Estados Unidos. No caso de um problema com a Inglaterra, o canal Erie seria o único meio de transportar o suprimento tão vital numa guerra moderna. Como é do seu conhecimento, sr. Presidente, vagões fer- roviários são puxados a uma incrível velocidade de 24 qui- 30 :1 Segunda Reforma lômetros por hora que, além de colocar em perigo a vida dos passageiros, passa rugindo e bufando pelas regiões campes- tres, ateando fogo nas colheitas, amedrontando o gado e as- sustando mulheres e crianças. O Todo-poderoso certamente nunca planejou que as pessoas fossem viajar a uma veloci- dade tão arriscada.4 Qpensamento paradigmático sempre existiu. A primeira pessoa que usou fogo para cozinhar sua refeição ou levou um fardo sobre uma "roda redonda" pensou em forma de paradigmas. Quem foi a primeira pessoa a descascar uma banana e comê-la') Independentemente de quem foi, ele o <-fez porque pensava diferente de todos os outros que haviam passado por aquela bananeira. Recentemente, eu vi o quadro de um mapa que Cristóvão Colombo usou há 500 anos para fazer sua "descoberta" do Novo Mundo. Não é de admirar que ele não chegou à Índia! Seus mapas eram incompletos e suas conclusões errôneas. Colombo descobriu o Novo Mundo por pura sorte ou providência - seus mapas têm pouco que ver com as suas descobertas. O que poderia ter acontecido se os mapas de Colombo substituíssem os nossos mapas modernos? De que maneira isso afetaria a navegação aérea e naval') O impacto seria devastador. Haveria uma nova base de hipóteses e uma estrutura incompleta. Você teria coragem de embarcar num navio ou avião usando os mapas de Colombo? Eu certamente não iria! PENSAMENTO VERTICAL E HORIZONTAL~~~~~~~~~~-- Há várias décadas, Edward DeBono introduziu o conceito de pen- samento vertical e lateral. Ele observou que os padrões típicos de pensa- mento tendiam a cavar um buraco verticalmente, aprofundando-se cada vez mais na maneira cGi1\cl1cicnal de processar 11111 certo tipo de infor- mação. No fundo desse "buraco" estão os peritos que continuam cavan- do cada vez mais fundo nas informações que eles acreditam ser as "cor- retas" para um determinado assunto. É isso que ele chama de pensamen- to vertical. O pensamento lateral ou horizontal ocorre quando um inovador sai do velho buraco de informação e começa a pensar ú luz de um novo cam- po. Novas maneiras de pensar c processar informação surgem porque a informação não é mais restrita e limitada ao contexto da forma antiga de pensar ou aos proccssos antigos. .1l,l',reja do Novo Testamento !lO século X'(I 31 () propósito de pensar ~~tar informações e fazer o melhor t~~O possíwl dela.&. Devido à forma em que a nossa mente furF ciona para criar padrões de conceitos fixos. não podemos fa- zer o melhor uso da nova informação a não ser que tenhamos alguns meios para reestruturar os antigos padrões e atualizá- los. Nossos métodos tradicionais de pensar nos ensinam como refinar esses padrões e estabelecer a sua validade. Mas nós não faremos o melhor uso da informação disponível a não ser que saibamos como criar novos padrões e escapar do domínio dos padrões antigos. O pensamento vertical está preocupado em provar ou desenvolver padrões de conceito. O pensamento lateral está preocupado em reestruturar esses padrões (illsight) e provocar novos padrões (criatividade).' HOLOGRAMAS E JOGOS Um outro exemplo que explica o significado de um paradigma é o holograma, um desenho ou uma palavra que não pode ser visto faci 1_ mente no primeiro instante. Somente depois que o cérebro se ajustou à imagem, o desenho ou palavra pode ser "visto". É claro que o nosso cérebro usa informação antiga para processar dados novos e desco- nhecidos. Os paradigmas são semelhantes a isso. Não basta ver com os nos- sos olhos físicos. Nosso cérebro usa informações e padrões antigos para processar novas experiências. É por isso que muitas vezes nosso cérebro está "morto" para uma inovação. Não podemos processar uma nova idéia até que haja uma mudança de paradigma em nosso pensar acerca do novo conjunto de informações. Umjogo é outro tipo de paradigma. Ele tem suas próprias regras. limites e objetos que determinam o curso de eventos. Sem esses aspec- tos do paradigma. osjogadores não saberiam corno jogar e a atividade se tornaria um caos. Por exemplo. imagine uma equipe de futebol ame- ricano e uma equipe de futebol brasileiro se preparando para jogar "futebol".;\ equipe de futebol americano usaria suas regras e a equipe brasileira jogaria futebol de acordo com as regras que o resto do mun- do adota (que o americano chama de .\occcr). Obviamente. este jogo não iria longe. Aliás. o jogo nem poderia começar porque do is difcrcn- tcs cOlljulltos de regras e equipamentos seriam usados. Uma mudança de paradigma muda as regras. os limites e os objetos associados com as situações existentes. 32 A Segunda Reforma :rFABRICANTES DE R~ PERDERAM A MUDANÇ;\ De acordo com J~I Bar~, um perito em mudanças de paradigma, de 1979 a 1982, o número de empregados na fabricação de relógios suíços caiu de 65.000 trabalhadores para 15.000. A invenção do relógio quartzo ocasionou um colapso inesperado nessa indústria mundial. Como isso acon- teceu? A divisão de pesquisas da indústria de relógios suíços inventou o reló- gio quartzo, e em ~ apresentou o conceito e o primeiro protótipo aos.=--diretores das empresas. Os donos e os administradores não estavam interes- sados! O seu modo de pensar requeria en enagens e molas nos relógios. §.~a noVã a ordagem chama a "quartzo" não ~ encalxav . (paradigma) de um relógio. Leia o que aconteceu naquela reunião: A inflexibilidade dos fabricantes de relógios suíços foi o princi- pal vilão. Eles simplesmente recusaram-se em ajustar-se a uma das maiores mudanças tecnológicas da história, no que diz res- peito ao desenvolvimento do relógio eletrônico. As indústrias suíças estavam tão presas à tec~QIQgiatradiciOl=la.!que elas não podiam ... ou não queriam ... ver as oportunidades oferecidas pela .revolução eletrônica.6 Em um congresso internacional de relógios, duas companhias, a Seiko e a T~ viram os suíços fazer uma demonstração < do rcl6gio'quartzo eletrônico. Essas companhias menores, que eram no- vas no ramo de fabricação de relógios, pensaram lateralmente e viram um potencial na nova idéia. Quando eles começaram a fabricar e lançar o relógio eletrônico no mercado, os suíços foram deixados para trás. O paradigma tinha mudado. Essa il~stração nos ajuda a entender a impor- tância de um paradigma para aqueles que têm "olhos" para ver e aqueles que não têm. ERRO NO CÁLCULO DE UM PARADIGMA ARQUIVOS DE ADVOCACIA MURPHY Caso n° 48732; Ref.: AB-563429 Administradora sra. S. Brown Companhia de Seguros AlIied 347 Worth Street A Igreja do Novo Testamento 110 século XXI Akron, Ohio 43256 Estimada sra. Brown,4- Esta é a resposta ao seu pedido para informações adici- onais acerca do Bloco número 3 do relatório do acidente onde eu coloquei "It.!anejamento insatisfatório" como a causa do meu acidente. A senhora diz na sua carta que eu deveria expli- car mais detalhadamente, e eu espero que os seguintes deta-lhes sejam suficientes. Sou pedreiro por profissão. No dia do acidente, eu esta- va trabalhando sozinho no último andar do prédio novo de seis andares. No final da tarde, quando havia terminado meu trabalho, eu descobri que haviam sobrado cerca de 250 quilos de tijolos. Em vez de levá-los para baixo com as mãos, decidi baixá-los em um barril usando uma roldana que, felizmente, já estava afixada numa viga presa no prédio do último andar. Depois de me assegurar de que a corda estava presa ao nível do chão, eu voltei para o telhado eu enchi o barril com os 250 quilos de tijolos. Então desci novamente e desamarrei a corda e segurei firme para assegurar uma decida lenta e segura do barril de tijolos. A senhora pode ler no Bloco número 1i do formulário de acidente que meu peso é de 61 quilos. Surpreendido por ser arrancado do chão tão repentina- mente, eu não me lembrei de soltar a corda. Talvez seja des- necessário dizer, que a minha subida ao lado do prédio foi rápida. Na altura do terceiro andar, eu me encontrei com o barril que estava descendo. Foi quando quebrei meu braço esquerdo e a clavícula. A velocidade diminuiu levemente, mas então voltei a subir rapidamente, não parando até bater com a cabeça na viga e enfiar os dedos da minha mão direita na rol- dana. A essa altura eu havia recobrado a minha memória, e continuava me segurando firmemente na corda apesar da dor. Aproximadamente no mesmo tempo, o barri I atingiu o chão e o fundo dele se soltou depositando os tijolos em uma pilha disforme. Livre do peso dos tijolos, o barril pesava me- nos de 25 quilos. (Peço que observe o Bloco número 11). Como a senhora já deve ter conjecturado, eu comecei a descer rapi- damente beirando a parede do prédio. Na altura do terceiro andar, eu me encontrei com o barril subindo. Isso causou séri- os danos às minhas pernas e à parte inferior do corpo. O eu- 33 3-1 A Segunda Reforma contro com o barril diminuiu suficientemente a minha veloci- dade para amenizar os meus ferimentos quando caí sobre a pilha de tijolos. Quebrei apenas um tornozelo. Os ferimentos no meu peito e estômago começaram a se intensificar enquanto estava deitado sobre os tijolos, incapaz de mover-me. Quan- do olhei para o barril, a minha presença de espírito falhou mais uma vez e eu não me lembrei de soltar a corda. Seguindo o conselho do meu médico, estou planejando deixar a minha profissão de assentar tijolos e encontrar uma profissão menos pengosa. A tenc iosamente, Ao ler essa comédia de erros, em que momento você suspeitou que o pedreiro havia cometido um sério erro de paradigma? Seu primeiro erro de parad igma foi achar que com seus 61 qu ilos ele seria capaz de baixar com a corda o barril de tijolos que pesava 250 quilos. O segundo erro foi ficar pendurado na corda, que também parecia uma reação lógi- ca de sobrevivência quando estava suspenso no ar. Houve uma reação em cadeia de acontecimentos decorrentes daquelas decisões aparente- mente inocentes. Essa história fala de um princípio amplo na vida que todos nós experimentamos de uma maneira ou outra: a maioria de nós tem ficado pendurado no seu próprio "barri I de ti joio,!' que era mais pesado do que nós, e temos sofrido as conseqüências, Alguém sugeriu que os eventos descritos na carta acima não ilus- tram uma mudança de paradigma tanto quanto uma estupidez. É claro que depois de ouvir a história, qualquer idéia errada parece estúpida. No entanto, em dado momento, ficar pendurado a uma corda muitas vezes parece perfeitamente lógico, e mesmo astuto. Pergunte aos fabricantes de relógios suíços! SOLTE A CORDA ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS! Uma nova figura da igreja do Novo Testamento está sendo recria- da diante dos nossos olhos. O paradigma da encarnação de Deus (pre- sença, poder e propósito de Deus vivenciados com seu povo) está mais uma vez sendo apl icado ao mundo como o conhecemos. Agora cada igreja vai entrar nesse novo paradigma. Quando a po- eira se assentar na próxima década, algumas igrejas e denominações serão a indústria de fabricantes de relógios suíços do mundo da igreja. A Igreja do Novo Testamento /lO século XXI 35 Deus vai usar outras igrejas e grupos como instrumentos dramáticos de uma nova/antiga revolução espiritual. Aqueles com "a velha maneira de pensar" não vão participar da revolução espiritual que está explodindo por toda parte ao redor deles. A história nos ensina que Deus não fica refém de nenhum grupo, denominação, instituição ou liderança estabelecidos. Como Jesus disse ao religioso Nicodemos: "O vento sopra onde quer ... ". Nenhum homem pode controlá-lo. Deus usa quem ele quer usar, quando ele o quer usar. Se as instituições estabelecidas e reconhecidas não responderem à nova maneira de Deus fazer as coisas, ele sempre encontrará outros que vão fazê-lo. Provavelmente, novos paradigmas vão ofender e parecer não ortodoxos a pessoas como Nicodernos, que ouviu as palavras de Jesus e disse: "Como pode ser isso?" Na verdade, o remanescente de Deus sem- pre parece um tanto estranho e bizarro. À medida que você olha para o parad igma atual da igreja, você deve estar disposto a perguntar-se: "O que não estou disposto a soltar onde Deus está no processo de operar mudanças?". b 2 A IGREJA DE DUAS ASAS Tulv«: a igr.:ja, ':111 muitus áreas, deveria ser menor antes que possa se tornar substancialmente maisforte. I - Elton Trueblood Em 1989, Deus me trouxe de volta da Tailândia para os EstadosUnidos depois de quinze anos implantando igrejas, para "come-çar um tipo diferente de igreja", Depois de um ano de tentativa e erro, acabei indo para Houston trabalhar com o dr. Ralph Neighbour. Por causa da minha ligação com ele, outras almas desesperadas começaram a contatar-me acerca desse novo tipo de igreja. Por alguma razão eles acha- vam que eu sabia mais do que eles, o que era discutível. Um grupo de homens da TexasA & M University (Universidade A & M do Texas) veio falar comigo acerca da igreja. Depois de lhes contar tudo o que sabia, eu continuava me sentindo inadequado ao explicar esse fenômeno do século XX na sua verdadeira simplicidade. Antes deles par- tirem, nos demos as mãos em oração. Esses homens tão jovens, com pou- co mais de 20 anos, tinham uma visão da igreja que somente chegou a mim aos meus 50. Quando eles partiram, Deus me c1euuma história. Eu a comparti lho em cada conferência que ensino porque ela retrata uma macrofigura do que muitos chamam de "igreja em células". A lCiRl:.I!\ DE DUAS I\SAS o Criador um dia criou uma igreja com duas asas: Uma asa era o grupo grande da celebração e a outra asa representava a comunidade do grupo pequeno. Usando as duas asas. a igreja podia voar alto para os céus. entrar na sua presença e fazer a sua vontade em toda a terra. )7.'1 38 A Segunda Reforma Depois de alguns séculos voando por toda a terra, a igreja de duas asas começou a questionar a necessidade da asa do grupo pe- queno. A perversa serpente invejosa que não tinha asa alguma, aplau- diu essa idéia efusivamente. No decorrer dos anos, a asa do grupo pequeno tornou-se cada vez mais fraca por falta de exercício até que virtualmente não tinha mais força alguma. A igreja de duas asas que havia voado até os céus era agora, para todos os propósitos práticos, uma igreja de uma asa só. O Criador da igreja estava muito triste. Ele sabia que o projeto de duas asas tinha permitido que a igreja voasse até a sua presença e fizesse a sua vontade. Agora, com apenas uma asa, conseguir sair do chão exigia uma tremenda energia e esforço. E se a igreja conseguia alçar vôo, estava inclinada a voar em círculos, perder seu senso de direção e não se afastar muito do seu ponto de partida. Ao gastar mais e mais tempo na segurança e conforto do seu habitat, ela aca- bou se satisfazendo com a sua existência presa à terra. De tempo em tempo, a igreja sonhava em voar até a presença do Criador e fazer a sua obra sobre toda a terra. Mas agora, a asa forte do grupo grande controlava cada movimento da igreja e a condenava a uma existência terrena. Na sua compaixão,o Criador finalmente estendeu a sua mão e remodelou a sua igreja para que ela pudesse usar as duas asas. Mais uma vez o Criador possuía uma igreja que podia voar até a sua pre- sença e planar bem alto sobre toda a terra, cumprindo seus propósi- tos e planos. BEM-VINDO À IGREJA EM CÉLULAS Constantemente ouço dois pensamentos de cristãos a respeito da igreja ao redor do mundo: "A igreja como a conhecemos não é a igreja que vemos no Novo Testamento" e: "Grupos pequenos são necessários para que a igreja funcione da maneira correta". Muitos vêem as formas tradicionais de igreja como um odre velho, que já não é capaz de conter o vinho novo do evangelho. Mesmo aqueles que se sentem mais confortá- veis com os padrões da igreja tradicional muitas vezes desejam que ela fosse: • menos isolada do mundo na qual ela está situada; • mais relevante às necessidades da sociedade; • mais compassiva na maneira como ela usa o dinheiro e o poten- A Igreja do Novo Testamento no século XXI 39 cial humano; • mais direcionada a alcançar..pessoas em vez de promover progra- mas melhores; • menos materialista com suas enormes construções e dívidas; • mais redentora e menos política; • e menos influenciada pelo mundo que ela foi chamada para in- fluenciar. Será que existe uma alternativa para o modelo tradicional de igreja? Um número crescente de cristãos está convencido de que Deus está recriando os odres da igreja do Novo Testamento. Essa igreja vive em comunidade e é hoje chamada de "igreja em células". Com que se parece a igreja em células? O dr. Ralph Neighbour incluiu a seguinte definição da igreja em células na Cell Church Ma- gazine (Revista da igreja em células): O corpo humano é composto de milhões de células, a unidade básica de vida. Semelhantemente, as células for- mam a unidade básica da igreja em células. Os crentes pro- curam ativamente relacionamentos com Deus, uns com os outros e com os não crentes em células de cinco a quinze pessoas. Esses relacionamentos estimulam cada membro a alcançar a maturidade !li! adoração, na edificação mútua e no evangelismo. Isso é comunidade ... Com base no princípio de que todos os cristãos são ministros e que a obra do ministério deveria ser realizada por todos os cristãos, a igreja em células procura ativamen- te desenvolver cada discípulo na semelhança de Cristo. As células são o fgruA! para o ministério, treinament;-;-- evangelismo. As células também se encontram para as reuniões se- manais ou quinzenais nas "congregações" e para as "cele- brações". Embora essas reuniões sejam importantes, o foco da igreja está voltado para os encontros semanais das célu- las nas casas. Por qual motivo? Porque é na célula que o amor, a comunidade, os relacionamentos, o ministério e o evangelismo brotam naturalmente e poderosamente. Portan- to, a vida da igreja está nas células, não em um prédio (san- tuário). A igreja é um ser dinâmico, orgânico e espiritual que só pode ser vivenciado na vida dos crentes em comunidade. I 40 A Segunda Reforma SETE TESTES PARA AJUDAR A IDENTIFICAR UMA IGREJA DO Novo TESTAMENTO Em muitas igrejas, os grupos pequenos formados de cinco a quinze ou mais pessoas fazem parte de um dos seus programas. Será que isso os identifica como uma igreja em células? Os seguintes testes ajudam a dife- renciar entre igreja em células e aquelas que podem ter estruturas e termi- nologias similares mas possuem uma dinâmica diferente. 1. O teste jnstituejouaLA igreja é um organismo vivo ou uma orga- nização? Se você tirasse o "santuário" e a reunião dominical, a igreja sobreviveria? Se a igreja consegue sobreviver sem um "santuário" e cul- tos dominicais, ela passa pelo primeiro teste de uma igreja do Novo Testa- mento. 2.-0 teste da célula: Um grupo pequeno (referido neste livro como uma cél~onsiderad; a igreja em sua natureza, propósito e poder? A igreja reconhece o grupo pequeno como a comunidade cristã de base e a unidade essencial da igreja? Se os líderes e o povo "se encolherem" ao referir-se ao grupo pequeno como a igreja, então essa igreja não é uma igreja em células do Novo Testamento. Paulo não tinha problemas em chamar os grupos nas casas de igreja. 3. O teste da fotocópia: Quando o modelo é reproduzido, a nova igreja é tão clara e viva quanto a igreja original? O modelo pode ser trans- ferido? Se a igreja somente pode ser duplicada por uma versão obscura, então não é uma igreja em células do Novo Testamento. Este não é um teste numérico, mas um teste da natureza e vida. Ela reproduz de forma completa a dinâmica do original? 4. O teste da simplicidade: A igreja é fragmentada e complexa? À medida que ela cresce, a igreja se torna mais complexa ou menos comple- xa? É necessário um "diretor executivo" para realizar o trabalho? Uma igreja em células vai continuar a operar por meio da sua estrutura de lide- rança da célula simples mesmo se a estrutura administrativa e governa- mental desaparecer. Mesmo com a presença de um grande número de membros e líderes, a igreja em células vai continuar operando de maneira simples. 5. O leste da multiplicação: A igreja tem esperança de multiplicar- se? Existe uma estrutura por meio da qual um crescimento dinâmico po- deria ocorrer? Ou a estratégia está baseada no acréscimo de novos mem- bros? Uma igreja em células pode sistematicamente multiplicar-se porque o ponto de crescimento ocorre no nível da célula integrada, não por meio A Igreja do Novo Testamento no século XXI 41 de programas múltiplos compartimentalizados. 6. O teste de conversões de adultos: A igreja alcança novos con- vertidos adultos, ou ela é sustentada pelo crescimento por transferência de outras igrejas e crescimento biológico ao batizar os seus filhos? Uma it.;reja em células funcional vai alcançar novos convertidos adultos. ~ . 7. O teste da perseguição: A igreja vai sobrevier se ela for forçada a tornar-se "subterrânea"? Será que o tipo de grupos pequenos vinculados aos nossos programas de igreja sobreviveriam a uma perseguição sem a "almofada institucional"? A igreja em células vai sobreviver com suas células neo-testamentárias não importa o que aconteça politicamente, so- cialmente, economicamente ou internamente. ETIÓPIA ~ Uma igreja que passou por esses testes foi fundada pela Igreja Menonita da América na Etiópia. Na década de 1970 os missionários ocidentais haviam voltado para casa, deixando uma igreja nacional nativa de 5.000 membros. Em .1982, os comunistas derrubaram o governo da_. ---- Etiópia e iniciaram uma perseguição à igreja. As igrejas Menonitas tive- ram todas as suas construções confiscadas. Muitos dos seus líderes foram aprisionados e muitos membros foram proibidos de se reunir. A igreja tornou-se "subterrânea", sem líderes, sem construções, sem a oportunida- de de reunir-se publicamente ou de realizar qualquer tipo de programa público. Enquanto a igreja era "subterrânea", os membros não podiam cantar em voz alta com medo de alguém denunciá-los às autoridades. Dez anos mais tarde, em 1m o governo comunista foi destituído, permitindo que essa igreja saísse do seu "anonimato". Os líderes da igreja decidiram reunir todos os membros remanescentes para os cultos. É des- necessário dizer que eles ficaram surpresos ao descobrir que o~ membros tinham crescido para mais de 50.000 nesse período de dez anos!----Essa história ilustra o poder da célula. Cristo projetou a igreja para sobreviver na sua forma mais básica. Isso ocorreu na igreja do primeiro século e está ocorrendo na igreja atual. Em todos os lugares em que a igreja tem sido forçada a tornar-se "subterrânea" e tem adotado uma estrutura de grupos pequenos, ela tem sobrevivido, e na maioria das vezes crescido. Será que a igreja vai adotar a estrutura de grupos pequenos semelhantes aos grupos do Novo Testamento somente em [?aís~munistas..e em tem;....- ~e perseguição? Pode até parecer que este seja o caso. No entanto. em nosso período histórico atual, Deus está restaurando a célula como a estru- tura principal da igreja mesmo em países onde não existe perseguição.42 A Segunda Reforma UMA "ESPIADA" NA IGREJA DE DUAS ASAS Reuni mais de vinte características-chave para explicar a estrutura e a dinâmica da igreja em células. Essa lista não é exaustiva, mas junto com outras definições deste capítulo, vai oferecer a você um quadro mais completo da natureza das igrejas em células. Embora normalmente seja o caso, nem todas as características podem ser encontradas em cada igreja em células. Da mesma forma, algumas igrejas tradicionais podem apre- sentar uma combinação dessas características. x .A igreja em células Que Jesus projetou opera-como ignya não só rillomingo, mas-também no~ OlJtros ~eis dias.dasemana. ~. ',~rsja elll células podeter uma con§!.!:.ução,I~ construção é \ JUllciOnóllg)lãp safirada. 'li- • O crescimento da igreja não depende de quantos metros quadra- 1f\. dos podem ser financiados e adquiridos. A fórmula de constru- ção da igreja em células é: ~ e eJ.:ltão9003tl\@.- ... f . As células ou grupos pequenos de cristãos se encontram nas ca- sas durante a semana e são a unidade básica da igreja. y" Essas células agem como um "sistema de entrega" da igreja por , meio do qual os membros das células vivenciam o evangelho no mundo.+ .Cada membro da igreja recebe treinamento Era a obra do minis- tério nesses grupos pequenos ..,---...+-. O culto de celebração no domingo é um transbordar da vida do corpo que ocorreu durante a semana na vida dos membros. q::. • Os membros prestam contas uns aos outros. ('. A igreja em células produz um grande número de líderes servos que possibilitam a obra do ministério no nível básico da célula. i--0 Nos grupos pequenos, os membros tiram as suas máscaras e re- cebem edificação e cura. Ocorre a verdadeira comunhão do Novo Testamento . • Os textos dos "uns aos outros" encontrados no Novo Testamento encontram um contexto no qual podem ser experimentados. '1--.' A igreja centralizada em células nas casas é projetada para so- breviver à perseguição . • Os perdidos são alcançados por meio do evangelismo por amiza- r- de nas células. .: Os dons espirituais essenciais para a edificação, treinamento e , evangelismo são liberados em um ambiente natural das células. A Igreja do Novo Testamento no século XXI 43 evangelismo são liberados em um ambiente natural das células. • Líderes de tempo integral são separados para oração e para bus- car a face de Deus em favor do corpo . • Ocorre uma constante multiplicação das células, dos converti- dos, dos discípulos e dos líderes . • Igrejas em células têm um impacto dramático sobre a sociedade. Seus grupos pequenos tocam as machucaduras e necessidades no mundo ao seu redor. • Os líderes e pastores provêem supervisão, visão e prestação de contas aos líderes das células. • Existe mais dinheiro disponível para o ministério e missões à medida que cada membro amadurece em sua compreensão da mordomia como um estilo de vida. • A comunidade das células é um lugar de cura para o indivíduo e a família. • A administração da igreja é simplificada ao redor da unidade bá- sica da célula. Isso reduz significativamente os múltiplos progra- mas necessários para que uma igreja tradicional funcione . • Os cuidados fundamentais para os membros são providos no ní- vel da célula em vez de no nível de obreiros profissionais . • Efésios 4.12 funciona! Os Iíderes preparam "os santos para a obra do ministério". A DEFINIÇÃO NO NÍVEL DA CÉLULA A chave para a compreensão da igreja em células é a própria célula e o que Robert 8anks chama de o caráter "característico de igreja" das comunidades de base. (O capítulo 13 explora a natureza da célula em maiores detalhes). O teólogo brasileiro J. 8. Libanio faz a seguinte des- crição da célula ou da comunidade de base. Elas não são um movimento, uma associação ou uma congre- gação religiosa [...] Elas não são um método (ou o único mé- todo) de edificar a igreja: elas são a própria igreja. Elas não são uma receita milagrosa para todas as doenças da sociedade e da igreja. Elas são a renovação da igreja [...] Elas não são uma utopia; elas são um sinal do reino, embora elas não sejam o reino [...] Elas não são messiânicas, mas podem ser proféti- cas e formar profetas como a igreja deveria formar. Elas não são uma comunidade [...] natural [...] identificada com uma 44 A Segunda Reforma raça, língua, povo, família [...] Elas são a igreja [...] Elas não são um grupo de protesto, embora sua vida seja um protesto contra a mediocridade, a indolência e a falta de autenticidade de muitos [...] Elas não são um grupo especial para pessoas especiais. Elas são a igreja comprometida com o homem co- mum, com o pobre, com aqueles que sofrem injustiça [...] Elas não são fechadas: elas são abertas ao diálogo com todos. Elas não são uma reforma da obra pastoral: elas são uma opção pas- toral decisiva, preparada para construir uma nova imagem da igreja.' Se você quer entender e identificar uma igreja em células, olhe para as células. O grupo pequeno define uma igreja em células. Tudo que acontece em uma igreja em células - as celebrações semanais, os eventos de colheita, o treinamento e preparo para os retiros, os retiros, as reuniões para supervisão - existe para apoiar as células. Tudo está relacionado com a comunidade básica da célula. COMA A BANANA Corno o gosto de uma banana pode ser descrito para uma pessoa ~ IÍ"lI1cayiu uma banana? Para realmente sentir o gosto de uma bana- na, em algum ponto as descrições devem tornar-se experimentais. A melhor coisa a fazer é descascar a banana, dá-Ia à pessoa e dizer: "Aqui está. Experimente você mesmo". Mesmo com essas definições e ilustrações, você pode continuar perguntando-se como a igreja em células realmente funciona. Isso é nor- mal porque, como o sabor de uma banana, a igreja é algo que só pode- mos conhecer ao experimentá-la. Não importa o nosso conhecimento teológico e acadêmico da igreja, o que melhor entende a definição de lima "igreja em células" é aquele que está mais empenhado em experimentá-Ia. A igreja em células não é algo que podemos simples- mente estudar e analisar. A certa altura, nossa definição de igreja deve ser experimentada e vivenciada. 3 LARRY: UM PARADIGMA DE LIDERANÇA Uma das tragécjias-IJ!2'!!'Q§§r.!Je/}lpo é q1:fj:.;;.ministro está exausto e improdutivo. - Samuel Miller L arry, um líder de igreja com quarenta e poucos anos, já haviapastoreado várias igrejas bem-sucedidas mas dentro dele estavacrescendo uma desilusão em relação à igreja tradicional no modelo "um dia por semana". Ele ouvia, enquanto outros participantes do congresso compartilhavam o motivo de estarem ali: "Vim para aprender mais acerca da igreja em células". Quando chegou a vez de Larry, ele foi absolutamente sincero. Ele compartilhou sua fome de encontrar respostas a respeito de como a igreja poderia voltar a ser como nos tempos do Novo Testamento. Com um profundo sen- timento de dor, ele revelou: "Se eu não encontrar algumas respos- tas, vou sai r daq u i e pescar". Todos no recinto sabiam instantaneamente o que ele queria dizer e irromperam em uma gargalhada. Larry estava disposto a encontrar uma outra coisa para fazer se a situação não mudasse. Outros, além de Larry,já tinham considerado a mesma possibilida- de. Para cada "Larry" vocal existem inúmeros "Larrys" silencio- sos que estão tentando sobreviver na igreja tradicional com a mes- ma dignidade e honestidade. Larry é um dos milhares de pastores que experimentam a dor de liderar uma igreja que não está à altura do paradigma de igreja que Deus colocou em seu coração. Sua vi- são de igreja nunca se satisfará com o modelo de LIma igreja "um dia por semana". 45 -16 A Segunda Reforma SO B R 1:(.:Á R R I:( iÁ DOS E I !'vII' RO I) ur I V O S Pastorear uma igreja tradicional de uma só asa é uma das "profis- sões" mais difíceis na terra. É claro, existem muitas recompensas tam- bém. Nas três igrejas que pastoreei antes de ir como missionário para a Tailândia, experimentei muita alegria e satisfação interior. De muitas formas é uma grande função - ajudar pessoas,falar a respeito de Jesus, ministrar a pessoas em importantes épocas da sua vida, dar orientação espiritual e moral para a comunidade. No entanto, nos últimos anos, tenho visto em líderes como o Larry uma imagem da igreja que não está à altura do seu ideal, apesar de todas as boas obras e os esforços do pastor. Como pode haver esgotamento e frustração tão grandes atrelados a esse chamado especial? Estou con- vencido de que o sonho c a expectativa nos matam. A visão da igreja em nosso coração não se equipara com a realidade da igreja no mundo. A igreja para a qual nós pregamos no domingo não é igual à igreja acerca da quo/ pregamos no domingo. Bem no fundo nós sabemos que algo está errado. É por isso que o pastor de uma igreja que se reúne basicamente no dom ingo, nas palavras de Samuel M iIler, está ao mesmo tempo "sobre- carregado e improdutivo": Sobrecarregado com as inúmeras tarefas que não têm a menor conexão com rei igião, e improdutivo nos trabalhos extenuan- tes e na séria preocupação em manter uma vida espiritual dis- ciplinada entre homens e mulheres maduros [...] Qualquer que seja o ideal de um ministro - o grande empresário, o vende- dor esperto, o magnata bem-sucedido - continua sendo um enigma por que o ministro deveria tornar-se vítima de ima- gens tão falsas a não ser que ele tenha confundido completa- mente o que ele deveria estar fazendo. I Por que temos essa confusão entre os líderes que são dotados e chamados para pastorear? Eles foram treinados especificamente para esse propósito e são sinceros em seu desejo de servir a Deus. Os líderes mais criativos e visionários da igreja pagam um preço altíssimo porque eles desejam voar e pairar nos ares, mas dirigem igre- jas que estão presas à terra. Deus tem colocado a mesma visão de igreja que ele deu a Paulo em Éfeso no coração dos líderes de cada era. De acordo com Paulo, a igreja é a "plenitude de Deus", o "poder de Deus", A Igreja do Novo Testamento 1/0 século XX! 47 o "corpo de Deus" e a "glória de Deus". Essas não são palavras que a maioria das pessoas associa com a igreja do século XXI. Talvez nós ousaríamos usar essas palavras acerca da igreja que vai ser "arrebatada" para o céu, mas não da igreja "arre- bentada" da qual fazemos parte na terra. A igreja que conhecemos, ape- sar de todas as coisas boas, simplesmente não funciona como o modelo neo-testamentário, e nesse ponto reside a agon ia tanto do pastor como dos membros. MELHOR ABALAR UM SONHO DO 0\11:_ OCULTAR A VERDADE Um museu começou a limpar uma pintura do século ..2\.Vfuuposta- mente pintado por um velho mestre. Durante o processa de limpeza uma partícula de pintura se soltou. E isso se repetiu inúmeras vezes. Os peri- tos observavam horrorizados à medida que uma camada de tinta come- çou a desintegrar-se diante dos seus olhos. Mas debaixo dessa pintura eles descobriram uma outra ainuua Um artista posterior havia tentado níelhorar a obra-prima original. Agora eles viam a verdade. Esse era o original, e era muito mais valioso e importante. A camada exterior que havia sido acrescentada foi cuidadosamente removida até que a pintura original pudesse ser restaurada e exibida em um lugar proeminente no museu. "$ melhor abalar um sonho do qlle oCllltar a verdad~"!2 Pequenas partículas de tinta da única igreja que eu conhecia come- çaram a se desprender muito cedo no meu ministério. De tempo em tempo, algum livro ou programa novo prometia esperança para um tipo diferente de igreja. Eu procurava ansiosamente implantar a nova idéia, mas os resultados nunca chegavam perto de duplicar o espírito ou os resultados da igreja do Novo Testamento. Ao longo dos anos, minha esposa Mary e eu gostávamos de trocar idéias em convenções e outras ocasiões especiais com Max e Katie BrO\vn, amigos especiais da faculdade c do seminário. Nossas discus- sões se transformavam em conceitos novos e inovadores acerca da iurc- ja. Max foi o primeiro a falar a respeito da igreja experimental de Ralph Neighbour em Houston no final da década de 1960. ;\ idéia de alcançar os aflitos e os perdidos do mundo por meio de grupos de ministério de interesse parecia tão neotestamentária, tão correta e tão diferente do que estava acontecendo em nossas igrejas. Infelizmente, quando retornamos para casa depois das nossas con- versas na convenção, voltávamos para o domínio da nossa igreja de uma 48 A Segunda Reforma asa que exigia toda a nossa energia apenas para manter as boas ativida- des e programas em funcionamento. Nosso coração até pertencia à igre- ja do Novo Testamento, mas nosso corpo pertencia ao paradigma da igreja tradicional de uma asa. Em 1972, durante um final de semana de renovação para leigos, eu experimentei pela primeira vez a comunhão do Novo Testamento e a vida no corpo de um grupo pequeno. Equipes de visitação de "pessoas leigas" animadas ficaram nas casas dos nossos membros. O final de semana foi organizado ao redor de encontros em grupos pequenos e muita conversa franca. NOVGScânticos foram cantados para Deus, não acerca de Deus. Vidas foram transformadas e casamentos restaurados. Cristo em nosso meio, operando em poder - essa é a impressão que continua na minha memória acerca daquele final de semana. Aquela experiência foi como um poderoso removedor de tinta da minha velha "imagem" de igreja. Eu já estava vitalmente conectado à igreja por trinta anos antes de ter o primeiro gosto da verdadeira vida no corpo do Novo Testamento. Embora tenha experimentado muitos momentos espirituais significati- vos na igreja, nada era tão genu inarnente neotestamentário "em sabor" como aqueles breves momentos da vida em grupo pequeno. Infelizmente, eu não fazia a menor idéia do que fazer com o fruto daquela experiência. Assim eu derramei essa experiência diretamente no único odre que eu tinha: meu odre da igreja tradicional. Embora aquele final de semana da comunidade do Novo Testamento tivesse um impac- to significativo sobre a vida de várias pessoas, incluindo a mim, ela não teve um impacto tão grande sobre a minha igreja tradicional. Em dado momento essa experiência foi mastigada e cuspida em uma forma que os nossos programas tradicionais pudessem tolerar. .~V' A IGREJA DE UMA ASA EM BANCOC Outras partes da pintura começaram a cair da tela desde o momen- to em que cheguei como missionário inexperiente ao aeroporto de Bancoc em primeiro de janeiro de 1975. Mary, os gêmeos Joey e Jimmy, Matt, Juleigh e eu descemos do avião e fomos recepcionados por um calor e uma umidade indescritíveis, uma poluição tão densa que podia ser vista, e padrões de tráfego que merecem ser chamados de kamika:e . Esse era um mundo completamente novo. Estávamos diante de um choque cultu- ral- o estilo Bancoc! O choque cultural não demorou muito. Nossos filhos se adaptaram A Igreja do Novo Testamento no século XXI 49 rapidamente, e para eles a Tailândia se tornou seu lar com pessoas, luga- res c experiências especiais. Mary e eu aprendemos a comunicar-nos na língua deles, a ler a Bíblia Thai e os sinais de trânsito, a relacionar-nos culturalmente com o povo da Tailândia e a comer algumas das comidas mais apimentadas, mesmo que muito deliciosas do mundo. Sobrevivi ao choque cultural, mas não consegui passar por cima do meu "choque igreja/missão". Deus me chamou para plantar uma igreja em um contexto cultural e me deu a paixão para descobrir a estratégia para reproduzir igrejas neotestarnentárias em ambientes urbanos. Esse zelo logo conflitou com a realidade quando me familiarizei com a igreja na Tailândia. A arquitetura da construção da igreja era diferente, os sinais nas paredes da igreja eram escritos em uma língua estranha, os hinos eram cantados em tons menores e a literatura era produzida em um formato diferente. No entanto, não precisei de muito tempo para perceber que essa igreja não era muito diferente em relação ao tipo e natureza da igreja que eu conheci nos Estados Un idos. Essa era apenas a Primeira Igreja de "qual- quer cidade" dos Estados Unidos transplantada para Bancoc, na Tailândia. Mesmo se
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