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GERENCIAMENTO DE FAIXAS COMO ESTRATÉGIA ALTERNATIVA PARA ATENDER À DEMANDA SAZONAL DE VERÃO DA BR-290/RS Felipe Caleffi Helena Beatriz Bettella Cybis Laboratório de Sistema de Transportes – LASTRAN Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS RESUMO Estratégias como o gerenciamento de faixas vêm sendo cada vez mais usadas em rodovias, pois permitem diminuir a necessidade de intervenções físicas na infraestrutura, enquanto reduzem os impactos negativos dos congestionamentos. Este artigo tem o objetivo de apresentar alternativas para atender à demanda sazonal de verão futuras da BR-290/RS, trazendo uma avaliação das condições operacionais da rodovia, e apresentando soluções alternativas como o gerenciamento de faixas para atender as condições de uso futuro da rodovia. Através de modelagem de tráfego, são testadas diferentes estratégias de gerenciamento de faixas, como faixas reversíveis segregadas e faixas com barreiras móveis (road zipper). A modelagem é realizada para um trecho de 70 km da rodovia. Resultados de simulação apontam um significativo aumento de capacidade com as estratégias testadas. Além do aumento de capacidade, houve também redução dos tempos médios de viagem em cerca de 20 a 30%, bem como um aumento nas velocidades médias. Palavras-chave: Gerenciamento de faixas; Faixas reversíveis; Road zipper; Simulação de tráfego; BR-290/RS. 1. INTRODUÇÃO O constante aumento no número de veículos nas vias urbanas e rodovias têm acarretado congestionamentos recorrentes. A intensificação deste fenômeno eleva os custos sociais e ambientais associados aos atrasos, à poluição sonora e ambiental. Diferentes alternativas são propostas para solucionar estes problemas associados ao aumento do tráfego, como ampliação da infraestrutura existente, o uso de gerenciamento de tráfego e a promoção de modos alternativos de transporte. Cada uma destas estratégias possui custos significativos, além de alterar a lógica de utilização e financiamento das viagens particulares para os usuários (Wolshon e Lambert, 2006). Investimentos se fazem necessários para atender adequadamente a demanda crescente de viagens. Entretanto, os custos das obras de infraestrutura são normalmente muito altos, nem sempre existe espaço disponível para as necessárias ampliações viárias, e o perfil do fluxo em muitas rodovias apresenta volumes altos em períodos limitados de tempo – condições que muitas vezes inviabilizam economicamente a construção de novas vias. Por motivos como estes, observa-se uma crescente utilização de um conjunto de estratégias que permitem diminuir a necessidade de intervenções físicas na infraestrutura para atingir resultados eficientes, contando com o apoio de ações operacionais. Essas estratégias são normalmente classificadas como “gerenciamento de faixas”. A técnica agrupa uma família de estratégias destinadas a reduzir os impactos negativos causados pelas altas demandas (FHWA, 2011). Este artigo apresenta uma avaliação das condições operacionais da BR-290/RS (conhecida como Freeway) para o atendimento do intenso fluxo sazonal de verão. O artigo apresenta também uma análise de estratégias alternativas para futuro da rodovia, baseado no gerenciamento de faixas. Estas análises são realizadas através de um simulador de microssimulação de tráfego. O trecho da BR-290/RS, foco deste estudo, apresenta características de fluxo bastante particulares, com uma demanda sazonal no período de verão altamente desbalanceada. Os volumes observados na Freeway nos finais de semana de verão excedem em muito a capacidade, e os impactos dos congestionamentos têm uma repercussão econômica e social significativa em todo o estado. A demanda sazonal observada no período de verão é crescente, com volumes de tráfego observados nos período de verão, em particular nos finais de semana, crescendo anualmente. Considerando que a Freeway apresenta grandes variações de demanda entre as condições médias e os picos registrados nos grande feriados e finais de semana de verão, é importante identificar medidas que sejam econômica e operacionalmente adequadas a estas características de tráfego. 2. GERENCIAMENTO DE FAIXAS O conceito definido por Kuhn et al. (2005) aponta que o gerenciamento de faixas aumenta a eficiência de uma rodovia agrupando varias ações operacionais e de planejamento. Operações de gerenciamento de faixas podem ser ajustadas a qualquer momento para responder aos objetivos regionais. O gerenciamento de faixas tem por objetivos manter boas condições de fluxo nas infraestruturas designadas, fornecendo serviços controlados para grupos de veículos. Estes grupos podem variar em função do horário do dia, do sentido do tráfego, ou envolver outros fatores seletivos dependendo da capacidade disponível e das necessidades da comunidade. Do mesmo modo, as estratégias implantadas podem ser fixas ou ajustáveis em tempo real, visando atingir uma melhor eficiência nessas faixas especiais e, consequentemente, na infraestrutura como um todo (FHWA, 2011; Kuhn et al., 2005). Esta estratégia pode ser dividido em duas grandes categorias (Kishore, 2011): (i) gerenciamento ativo de faixas usando Sistemas de Transporte Inteligente (ITS), que envolve operações automáticas que respondem as mudanças nas condições de tráfego em tempo real. Esta categoria agrupa, por exemplo, estratégias como faixas de alta ocupação (HOV), faixas de uso restrito por classes de veículos e faixas pedagiadas (HOT); (ii) gerenciamento tradicional de faixas, que inclui estratégias fixas e predeterminadas visando melhorar a vazão de veículos usando a infraestrutura existente como faixas reversíveis, faixas em contra fluxo, e restrições de tráfego em períodos predeterminados. O gerenciamento de faixas é uma ferramenta complexa, com estratégias diversificadas e as características de cada uma são únicas e especialmente desenvolvidas para cada infraestrutura (Kuhn et al., 2005). Nas próximas seções são definidas algumas destas estratégias, e também serão apresentados os objetivos e as justificativas para implantação dessas estratégias, assim como seus requisitos de implantação. 2.1. Faixas reversíveis Operações de reverter o tráfego são consideradas como um dos métodos mais rentáveis para aumentar a capacidade de uma infraestrutura já existente (Wolshon e Lambert, 2004). Faixas reversíveis são faixas que podem ter seu sentido de tráfego alterado temporariamente. Objetiva-se configurar as faixas da rodovia para que a sua capacidade esteja em adequação com a demanda de tráfego. A capacidade ociosa no sentido de fluxo menor é empregada para aumentar a capacidade necessária ao sentido de fluxo maior, tornando a via mais eficiente sem a necessidade de construir faixas adicionais (Guebert et al., 2010; Wolshon e Lambert, 2004). As soluções de faixas reversíveis podem ser separadas em duas categorias: (i) faixas existentes que mudam de sentido ao longo do dia - faixas operando no contra fluxo com a utilização de barreira móvel; ou (ii) faixas especiais que podem ser adicionadas àquelas normalmente utilizadas como faixas de rolamento de acordo com a intensidade do fluxo (faixas exclusivas separadas). A maioria das faixas reversíveis serve para mitigar os efeitos de um tráfego desbalanceado durante um dos três cenários: horário de pico, tráfego relacionado a eventos ou evacuação de emergência (Guebert et al., 2010; Kishore, 2011). Antes de implantar um sistema de faixas reversíveis, é necessário que a infraestrutura responda a determinados critérios, como (Guebert et al., 2010; Wolshon e Lambert, 2006): (i) a velocidade média de segmentos de autoestrada deve baixar pelo menos 25% durante o congestionamento em comparação a velocidade durante o fluxo livre. No caso urbano, quando interseções semaforizadas estiverem supersaturadas. Em todos os casos, a demanda deve sermaior que a capacidade da rodovia ou avenida; (ii) o congestionamento deve ser periódico e previsível; (iii) o congestionamento deve ser unidirecional com uma proporção próxima de 65/35 durante o período de pico; e (iv) manobras para esquerda devem ser limitadas somente em direção ao corredor principal ou a partir do corredor principal. As faixas reversíveis em contra fluxo são principalmente empregadas em ambiente urbano, onde as velocidades são mais baixas do que nas autoestradas. Este recurso possibilita aumentar temporariamente a capacidade do sentido congestionado em detrimento do sentido subutilizado (Hausknecht et al., 2011). Ao contrário das faixas reversíveis em contra fluxo, o método que usa a tecnologia da barreira móvel é menos flexível e não permite trocas de sentido rápidas. Essa técnica é normalmente aplicada em situações nas quais fluxos desbalanceados acontecem em turnos e sentidos opostos, com percentagens de 70% no sentido congestionado e 30% no sentido contrário. Esse método necessita de equipamento especial para movimentar a barreira. Estes equipamentos tem custo elevado e operam a baixas velocidades, com referências indicando que podem operar a velocidades em torno de 16 km/h (Bhouri et al., 2012). As faixas reversíveis expressas são faixas adicionais às normalmente operadas na via, que podem ser alocadas a um determinado sentido de tráfego em função do congestionamento. Ao contrario dos casos anteriores, não reduzem a capacidade em nenhum dos sentidos do tráfego, apenas agregam capacidade adicional. Elas são geralmente separadas das faixas normais com barreiras de concreto e são situadas no meio das faixas normalmente operadas, para facilitar o uso em ambos os sentidos (Wolshon e Lambert, 2004). 3. CONDIÇÕES OPERACIONAIS DO TRECHO EM ESTUDO O trecho em estudo está situado entre os marcos quilométricos 01 e 70, no trecho entre Osório (litoral) – Porto Alegre. Esta autoestrada é operada pela concessionária da Rodovia Osório Porto Alegre S/A - CONCEPA. Neste trecho, a rodovia possui três faixas de rolamento. Os limites de velocidade são de 110 km/h para veículos leves e 90 km/h para veículos pesados. Contadores automáticos instalados na via, bem como dados de fluxo oriundos das praças de pedágio presentes no trecho permitiram realizar uma caracterização das condições operacionais deste trecho. Estes dados são importantes para a calibração do simular de tráfego responsável pela modelagem de estratégias como a de faixas reversíveis. O trecho estudo apresenta características de fluxo bastante particulares, com uma demanda sazonal no período de verão altamente desbalanceada. Os volumes observados nos finais de semana de verão excedem em muito a capacidade. A demanda sazonal observada no período de verão é crescente, com volumes de tráfego observados nos período de verão, em particular nos finais de semana, crescendo anualmente. A Figura 1 apresenta o histórico do volume mensal da Praça de Santo Antônio da Patrulha (P1), localizada no km 19, sentido Osório – Porto Alegre, de Janeiro de 2007 a Fevereiro de 2015. O gráfico evidencia uma clara tendência de crescimento da demanda nestes anos. Com o objetivo de quantificar esta tendência, foram elaborados modelos através de regressão linear, para os meses de pico e vale de demanda. Em vermelho, é apresentada a linha de tendência para o volume médio dos meses de verão (Dezembro, Janeiro e Fevereiro). As demais linhas indicam as tendências dos meses de pico (Janeiro) e vale. Histórico do volume mensal na praça P1 – Sul (2007 a 2015) Figura 1: As regressões lineares apontam para um crescimento nos picos da demanda registrados no mês de Janeiro, muito maior do que o crescimento do mês de vale. Enquanto os volumes registrados nos meses de Janeiro apresentam crescimento regular, os meses de Dezembro e Fevereiro apresentam grandes variações de volume nos diferentes anos analisados. Os coeficientes das equações indicam uma tendência de aumento anual de demanda em torno de 35 mil veículos mensais no mês de janeiro, 28 mil veículos em média para os três meses de verão, e cerca de 17 mil veículos mensais por ano nos meses de vale. 4. CONCEPÇÃO DE CENÁRIOS FUTUROS DE OPERAÇÃO Um objetivo importante deste artigo é a concepção e análise de desempenho de cenários de operação da Freeway para atender demandas futuras. Com este objetivo, foram concebidos diversos cenários envolvendo ampliação da rodovia e operação de faixas reversíveis. O desempenho destes cenários foi simulado, através do software VISSIM. Desta forma foram testados: (i) diferentes cenários de demanda (cenário atual e cenários futuros); (ii) diferentes configurações da rodovia (configuração atual, ampliação simples de faixas e alternativas de operação de faixas reversíveis) (iii) diferentes níveis de demanda de uso das faixas reversíveis. Para a ampliação simples de faixas, foram modeladas a Freeway com 4 e 5 faixas de tráfego. A configuração de layout de 4 faixas por sentido é semelhante à já utilizada na Freeway, na região metropolitana de Porto Alegre, entre os marcos quilométricos 75 a 96. A configuração de 5 faixas por sentido caracteriza a operação de faixas reversíveis através da técnica de barreira móvel – Road Zipper (3 faixas atuais + 2 faixas reversíveis). Para o cenário de faixas reversíveis, foi modelada a inclusão de duas faixas reversíveis segregadas no canteiro central da autoestrada. O cenário atual da Freeway é apresentado na Figura 2, destacando-se o canteiro central, onde as faixas reversíveis poderiam ser implantadas. Configuração atual da Freeway (Fonte: Triunfo Concepa) Figura 2: Entre os cenários de demanda, foram modelados o cenário atual da Freeway (com as demandas referentes ao verão de 2014/2015), bem como cenários de demanda futura. Para estes cenários futuros, foram assumidas as taxas de crescimento anual para o período sazonal do verão, em que a Freeway recebe os maiores volumes durante o ano. Esta taxa de crescimento foi estimada em 12% ao ano. De acordo com (FHWA, 2011; Guebert et al., 2010), para freeways com configuração semelhante a BR-290/RS (3 faixas de tráfego e projeção para 2 faixas reversíveis), a demanda de tráfego observada em faixas reversíveis expressas são de 15 a 20% do tráfego total. Isso significa que as 3 faixas de tráfego normais da rodovia recebem um volume de tráfego 15 a 20% menor. Considerando a falta de referências brasileiras sobre demanda em faixas reversíveis, adotou-se neste trabalho referências da literatura. Para os cenários testados no modelo de simulação, foi admitido o nível de demanda nas faixas reversíveis de 20% do volume total da rodovia trafegando nas faixas reversíveis. Um elemento crítico para o bom desempenho de faixas reversíveis envolve a configuração do inicio e termino destas estruturas. É importante que os ganhos de fluidez do tráfego não sejam prejudicados por conflitos mal resolvidos nos locais de entrada e saída destas estruturas. A configuração empregada na modelagem das faixas reversíveis têm as faixas segregadas operando em todo o trecho em estudo (km 01 a 70), sem entradas e saídas intermediárias, para evitar perturbações no tráfego da via principal. Apenas na praça de pedágio presente no trecho, no sentido Porto Alegre – Osório, os veículos reingressam na via principal. Ao final da praça, há novamente a segregação do tráfego. Para o sentido oposto, os veículos não pagam pedágio, e consequentemente, não há necessidade de paradas. Assim, o tráfego flui normalmente. 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS CENÁRIOS MODELADOS A análise do desempenho dos cenários descritos no capitulo anterior foi realizada através de modelos de microssimulação de tráfego. A microssimulação é uma ferramenta capaz de reproduzir diversos cenários reais de tráfego, e é amplamente utilizada na elaboração de estudos e desenvolvimento deprojetos em engenharia de transportes. O software de simulação VISSIM foi selecionado para análise. O processo de calibração do VISSIM para o trecho em estudo é descrito em (Caleffi et al., 2016). As simulações foram desenvolvidas para um período de 8 horas, correspondente ao período mais crítico do dia. O perfil de demanda de entrada dos veículos no modelo representa um dia típico de verão, em que a Freeway recebe elevados volumes de tráfego. Este perfil foi criado e utilizado para ambos os sentidos, uma vez que as demandas, principalmente durante períodos de alto fluxo, são semelhantes nos dois sentidos. O Sentido (Litoral – Porto Alegre) recebe esta demanda nos domingos, enquanto o Sentido (Porto Alegre – Litoral) recebe estas demandas nas sextas-feiras e nos sábados. Portanto, estes perfis de demanda de entrada são equivalentes ao período mais carregado de cada sentido. É importante ressaltar que estes perfis de demanda foram construídos a partir de coletas de fluxo realizadas em campo, através de laços indutivos e contagens realizadas em praças de pedágio. Quando as faixas reversíveis estão em operação, admitiu-se que os veículos que trafegam por ela possuem um perfil de velocidade semelhante ao dos veículos que trafegam na faixa central e esquerda da Freeway. Uma restrição para veículos pesados nestas faixas reversíveis também foi admitida. Para os cenários de demanda futura, foram consideradas as taxas de crescimento anual de demanda para o período sazonal do verão, em que a Freeway recebe os maiores volumes durante o ano. A taxa de crescimento anual utilizada para modelagem foi de 12%. Foram modelados 3 cenários futuros: 1, 5 e 10 anos. Para os cenários futuros, foi modelado apenas a demanda de 20% nas faixas reversíveis. 5.1. Modelagem das faixas reversíveis segregadas A Tabela 1 apresenta uma síntese dos tempos de viagem médios e das velocidades médias para os cenários futuros, comparando com o cenário atual (Sem Faixa Reversível) e com o Ano Base (demanda atual com faixas reversíveis). É possível notar uma significativa diferença nos tempos de viagem quando as faixas reversíveis estão em operação. O tempo de viagem das faixas reversíveis se mostrou sempre inferior ao tempo de viagem da corrente principal de tráfego, e ambas possuem tempos menores do que com o cenário sem nenhuma estratégia. Esses tempos de viagem menores se devem ao fato de que com a estratégia, a Freeway passa a ter 5 faixas de tráfego, aumentando a capacidade e permitindo trafegar em maior velocidade. Uma vez que as faixas reversíveis são expressas e recebem os veículos com as maiores médias de velocidade (veículos que atualmente trafegam nas faixas esquerda e central), é esperado que estas faixas tenham as menores médias do trecho. Tabela 1: Síntese dos tempos de viagem médios e das velocidades médias Tempo [min] Velocidade [Km/h] Período Principal Reversível Principal Reversível POA- Litoral Sem Reversível 70 - 60 - Ano Base 64 53 66 79 1 ano 64 53 66 79 5 anos 65 53 65 79 10 anos 66 53 64 79 Litoral- POA Sem Reversível 68 - 62 - Ano Base 60 44 70 95 1 ano 60 44 70 95 5 anos 64 48 66 88 10 anos 67 58 63 72 Para o Sentido (Litoral – Porto Alegre), é possível notar um aumento nos tempos de viagem à medida que a demanda aumenta nos cenários futuros. Nota-se também que para o cenário futuro do 10º ano, os tempos de viagem se aproximam dos tempos do cenário atual sem a faixa reversível. Portanto, com a adição das faixas reversíveis, este sentido tem capacidade para receber um adicional de demanda (cenários futuros), mantendo os tempos de viagem em patamares menores do que os praticados atualmente com 3 faixas de tráfego. Ainda, os tempos de viagem das faixas segregadas para cenários futuros se mantêm em média 15 a 20 minutos menores. Para o Sentido (Porto Alegre – Litoral), os cenários de demanda futura não possuem grandes diferenças nos tempos de viagem. Isso ocorre devido ao fato de que com a adição das faixas reversíveis, a Freeway continua operando abaixo da nova capacidade para estes cenários. Como a Freeway possui capacidade semelhante para ambos os sentidos, estas diferenças no crescimento dos tempos de viagem entre os sentidos pode parecer contra intuitivo. Porém, na praça de pedágio do km 19 – Sentido (Litoral – Porto Alegre), o pedágio não requer parada dos veículos, e com isso eles trafegam com velocidades elevadas nesta Praça. Como o trecho da Praça possui um aumento e posterior redução do número de faixas, o final desta Praça caracteriza-se com um gargalo. Com o aumento da demanda, este gargalo sofre impactos maiores, gerando congestionamentos que, consequentemente, aumentam os tempos de viagem à medida que a demanda cresce nos cenários futuros. 5.2. Modelagem com 4 faixas por sentido Outro cenário testado foi o da operação de 4 faixas por sentido, admitindo que existe apenas uma barreira central separando os sentidos. Este layout já é utilizado na região metropolitana de Porto Alegre. A Tabela 2 apresenta uma síntese dos tempos de viagem médios e das velocidades médias para estas modelagens. Este cenário apresenta uma redução significativa nos tempos de viagem quando as 4 faixas estão em operação. Esta capacidade adicional de uma faixa também permite que os veículos trafeguem com maior liberdade, reduzindo os congestionamentos. Este efeito acontece também para os cenários de demanda futura, onde é possível perceber que os tempos de viagem permanecem nos mesmos patamares para o Sentido (Porto Alegre – Litoral), enquanto que para o Sentido (Litoral – Porto Alegre) os tempos aumentam cerca de 3 minutos em média para os cenários futuros de 5 e 10 anos. Tabela 2: Síntese dos tempos de viagem médios e das velocidades médias POA- Litoral Litoral-POA Período Tempo [min] Velocidade [Km/h] Tempo [min] Velocidade [Km/h] Atual (3 faixas) 70 60 68 62 Ano Base (4 Faixas) 63 67 57 74 1 ano (4 Faixas) 63 67 58 72 5 anos (4 Faixas) 63 67 59 71 10 anos (4 Faixas) 64 66 59 71 5.3. Modelagem com 5 faixas por sentido (Road Zipper) Nesta configuração, foram testados no modelo o layout em que a Freeway opera com 5 faixas de tráfego sem nenhuma segregação (3 faixas atuais + 2 faixas reversíveis). A Tabela 3 apresenta uma síntese dos tempos de viagem médios e das velocidades médias para o layout Road Zipper. Se comparado com a estratégia de faixas reversíveis segregadas, o Road Zipper apresenta tempos de viagem ligeiramente maiores do que nas faixas segregadas. Porém, há um ganho nos tempos de viagem totais da corrente principal de tráfego. Tabela 3: Síntese dos tempos de viagem médios e das velocidades médias (Road Zipper) POA- Litoral Litoral-POA Período Tempo [min] Velocidade [Km/h] Tempo [min] Velocidade [Km/h] Atual (3 faixas) 70 60 68 62 Ano Base (5 faixas) 52 81 54 78 1 ano (5 faixas) 52 81 54 78 5 anos (5 faixas) 52 81 53 79 10 anos (5 faixas) 52 81 53 79 Outro ponto a destacar é que o Road Zipper elimina as barreiras que segregariam o tráfego da faixa reversível com a corrente principal, reduzindo potenciais conflitos físicos. Este cenário apresenta uma redução significativa nos tempos de viagem quando as 5 faixas estão em operação. Esta capacidade adicional de duas faixas permite que os veículos trafeguem com maior liberdade, eliminando os congestionamentos. Este efeito acontece também para os cenários de demanda futura, onde é possível perceber que os tempos de viagem permanecem nos mesmos patamares para o Sentido (Porto Alegre – Litoral), enquanto que para o Sentido (Litoral – Porto Alegre) os tempos aumentam cerca de 3 minutos em média para os cenários futuros de 5 e 10 anos. 5.4. Caracterização das capacidades futuras da Freeway Uma avaliação das capacidades futuras da Freeway foi realizada, uma vez que estes novos layouts de operação considerama adição de faixas de rolamento no atual cenário de operação. As Figuras 3, 4 e 5 apresentam as novas capacidades da Freeway para os layouts modelados. Para fins desta avaliação, a capacidade do cenário corresponde ao percentil 99,5% dos volumes registrados. Capacidade para o Cenário Atual x Faixas Reversíveis Segregadas Figura 3: Capacidade para o Cenário Atual x 4 Faixas por Sentido Figura 4: Através da análise do uso temporário do acostamento para uma parte do trecho em estudo, apresentado em (Caleffi et al., 2015), foi possível determinar que com o acostamento operando como faixa de tráfego, a capacidade da Freeway aumentou para 6000 veic/hora. Na modelagem de 4 faixas realizada, a capacidade, como apresenta a Figura 4, foi de 6100 veic/hora. Esta diferença existe porque os veículos trafegando no acostamento tinham limite de velocidade de 70 km/h. Já na modelagem realizada, esta restrição não acontece, pois as 4 faixas são faixas normais de tráfego, e esta modelagem não leva em consideração o acostamento. Capacidade para o Cenário Atual x 5 Faixas por Sentido (Road Zipper) Figura 5: Como esperado, o layout com 5 faixas possuem capacidades semelhantes, porém não iguais. Enquanto a capacidade para o layout com faixas reversíveis segregadas é de 7700 veic/h, a capacidade para as 5 faixas no cenário Road Zipper é ligeiramente mais elevada, com 7900 veic/h. Esta diferença ocorre porque no layout Road Zipper os veículos possuem maior liberdade, não havendo segregação de faixas e, com isso, permitindo uma maior distribuição dos veículos entre as faixas de tráfego. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo teve como objetivo o estudo de alternativas para atender à demanda sazonal de verão futura na Freeway, apresentando uma avaliação das condições operacionais da rodovia, e trazendo soluções alternativas para atender as condições de uso futuro da Freeway. Através de modelagem de tráfego foram testados diferentes cenários de simulação. Os cenários modelados incluíram (i) configuração da rodovia com 2 faixas reversíveis segregadas da corrente de tráfego principal (ii) 2 faixas reversíveis moduladas com barreiras móveis (Road Zipper) (iii) ampliação do trecho para 4 faixas por sentido, semelhante ao layout atual da região metropolitana de Porto Alegre. Simulações foram realizadas para cenários de demanda compatíveis com os perfis atuais e cenários de demanda futuros. Todos os cenários modelados apresentaram significativo aumento de capacidade. Além do aumento de capacidade, um elemento importante mensurado nas simulações foi a redução nos tempos de viagem. Os cenários modelados apresentaram uma redução nos tempos médios por veículo de 20 a 30%, o que equivale a uma redução nos tempos de viagem de 14 a 23 minutos por veículo. As análises de redução dos tempos de viagem foram realizadas como base na demanda atual da rodovia. A demanda testada no cenário atual é equivalente à demanda dos horários de pico do verão, e para estes testes foi de cerca de 35 mil veículos num período de 8 horas. Levando em consideração esta demanda simulada, a economia de tempo total chegou a 19 mil e 600 “veículos x hora” no cenário com Road Zipper. A concepção dos cenários operacionais testados foi baseada em práticas adotadas em rodovias em diversos países do mundo. Faixas expressas reversíveis, assim como faixas reversíveis moduladas por barreiras móveis têm sido crescentemente empregadas em função da restrição de recursos para ampliação de infraestrutura. A operação destas estruturas exige um maior esforço e qualificação da operação, mas se constituem em alternativas que certamente merecem ser consideradas no planejamento futuro desta e de outras rodovias no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BHOURI, N., ARON, M., e KAUPPILA, J. Relevance of Travel Time Reliability Indicators: A Managed Lanes Case Study. 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