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neurodegenerativos que resultam em perda neuronal. Esses dois processos fisiopatológicos interdependentes coexistem na maioria dos pacientes com a predominância variando de acordo com a fase ou fenótipo da doença. A inflamação no SNC causa uma destruição focal da bainha de mielina provocando o aparecimento de sintomas neurológicos agudos nos "surtos" da doença, que variam de acordo com a região cerebral que foi acometida. Os processos neurodegenerativos podem causar distúrbios cognitivos e/ou aumento lento e progressivo da incapacidade neurológica. É possível que o processo inflamatório inicial seja autolimitado e com a resolução do processo agudo exista recuperação de funções durante as fases de remissão da doença. Contudo, com a progressão, recorrência de eventos autoimunes e consequente morte neuronal há formação de placas cicatriciais que variam em diâmetro e localização, determinando as manifestações clínicas em cada fase da doença. É a mais frequente do grupo das doenças desmielinizantes do sistema nervoso central e a sua prevalência vem aumentando em nível mundial. É predominante em adultos jovens, na faixa etária entre 20 e 40 anos de idade, mas não exclui outras faixas etárias. Trata-se da segunda causa de incapacitação por origem não traumática em adultos jovens. É predominante no sexo feminino em uma proporção de 3:1. A incidência e prevalência da doença no mundo variam de acordo com as diferentes áreas geográficas e etnias, predominando em regiões temperadas e frias e em indivíduos caucasianos. No Brasil, de acordo com o Atlas da Esclerose Múltipla (2013) a prevalência foi de 5 a 20 pessoas a cada 100.000 habitantes. Juliana Guiotti | Turma III Esclerose Múltipla (EM)Esclerose Múltipla (EM) DEFINIÇÃO A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurodegenerativa, autoimune, desmielinizante, crônica e evolutiva que atinge a substância branca do sistema nervoso central (SNC). É caracterizada por episódios distintos de déficits neurológicos, separados no tempo, atribuíveis a lesões na substância branca, separadas no espaço, e excluídas outras causas. epidemiologia Relembrando... fisiopatologia 1 A bainha de mielina é constituída por camadas de lipídios e substâncias proteicas que formam uma bainha ao redor dos axônios, propiciando aumento da velocidade de condução do impulso. As células que constroem a mielina são os oligodendrócitos no sistema nervoso central (SNC) e as células de Schwann no sistema nervoso periférico (SNP). Um oligodendrócito mieliniza vários axônios, enquanto a célula de Schwann forma sempre um ÚNICO internódulo de mielina. FATORES DE RISCO Fatores ambientais de natureza viral Exposição aos raios ultravioleta Menor produção de vitamina D Industrialização e poluição Alimentos industrializados e condimentados Os fatores que desencadeiam a EM ainda não são bem explicitados na literatura, entretanto, existem evidências de que, assim como outras doenças autoimunes a EM seja causada por uma combinação de fatores ambientais e genéticos que resultam em perda de tolerância às próprias proteínas (antígenos de mielina). A doença se inicia a partir da ativação desregulada do sistema imune. Ocorre ativação dos linfócitos T periféricos e consequentemente ativação dos linfócitos B e monócitos que atravessam a barreira hematoencefálica e chegam ao SNC provocando reações inflamatórias a partir da produção de citocinas e anticorpos. Essas reações inflamatórias de maneira continua ocasiona um processo inflamatório crônico desmielinizante e processos neurodegenerativos que resultam em perda neuronal. ATENÇÃO!!! Os oligodendrócitos mielinizam vários axônios, enquanto a célula de Schwann mieliniza um único feixe axonal. Assim, uma lesão que atinja um oligodendrócito é mais grave que a causada pela destruição de urna célula de Schwann. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A esclerose múltipla pode envolver qualquer parte do sistema nervoso central, por isso é uma doença heterogênea com manifestações e curso clínico muito variáveis, variando em sintomas sensitivos, motores, visuais e síndromes medulares, além de manifestações gênito-urinárias e psiquiátricas. Existem certos sinais e sintomas neurológicos que se observam com maior frequência e que, em geral, traduzem a localização das lesões. Em contrapartida, outras manifestações são infrequentes e obrigam a considerar um diagnóstico alternativo quando presentes. que não existe nenhuma prova ou biomarcador que permita estabelecer o diagnóstico se utilizam uma série de TUTORIA - UC III - SP4. "CUIDADOS À SAÚDE PODEM SER MUITO CAROS!" - 7ª ETAPA SURTO É caracterizado por perda de funções que podem ser sensitivas, motoras, visuais, síndromes medulares, manifestações gênito-urinárias e psiquiátricas. Sua ocorrência e cessação podem ocorrer de forma súbita ou até mesmo durar alguns dias ou semanas. A perda de função ocorre de maneira transitória e há remissão das manifestações durante certo período de tempo até que um novo surto seja evidenciado. EVOLUÇÃO A evolução da doença após um episódio de surto não ocorre de forma semelhante em todos os indivíduos e não tem um padrão definido de acometimento. Os surtos são espaçados com períodos de melhora, sem sequelas em momentos iniciais e a partir da recorrência de surtos há alterações funcionais importantes pelas marcas cicatriciais e morte neuronal que caracterizam as sequelas neurológicas. SINAIS E SINTOMAS Alterações Sensitivas (são mais proeminente que os motores): hipoestesia (perda ou diminuição de sensibilidade em um determinado segmento corporal) e parestesia (sensação de formigamento e dormência e até mesmo dor de um membro). Alterações Motoras (são percebidas pelo acometimento do primeiro neurônio motor superior): espasticidade, hiperreflexia, clônus (contrações musculares involuntárias devido a um estiramento súbito do músculo) e sinal de Babinski (hiperextensão do hálux e flexão dos outros dedos). Manifestações Visuais (agressão ao nervo óptico, causando neurite óptica - inflamação do nervo óptico): perda parcial da acuidade visual (visão ventral), acometimento unilateral, dor retro-ocular e curso progressivo, podendo se agravar a partir da evolução crônica da doença. Manifestações Genitourinárias: incontinência urinária, polaciúria, urgência urinária e disfunção sexual. Sintomas Neuro-Psíquicos: depressão (pode surgir como consequência da incapacitação progressiva e alterações agressivas no estilo e qualidade de vida) e perda cognitiva gradual e progressiva. FENÔMENO DE UHTHOFF: piora da condição nervosa com o aumento da temperatura corporal (ex: febre ou exposição ao calor ambiental). O paciente torna-se intolerante a elevação de temperaturas cursando com desencadeamento de sintomas e exacerbação de sintomas preexistentes. Tende a ser reversível. SINAL DE LHERMITTE: é uma sensação de “choque elétrico” que desce da região cervical para os membros inferiores, a qual é desencadeada pelos movimentos de flexão-extensão da cabeça. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com doenças da medula cervical, como a siringomielia, a espondilose e a hérnia de disco. BEXIGA NEUROGÊNICA Definição: é o mau funcionamento da bexiga devido a doenças do sistema nervoso central ou nervos periféricos envolvidos no controle da micção, que fazem com que o indivíduo não consiga controlar adequadamente o ato de urinar. Pode ser afetada a musculatura da bexiga ou os seus esfíncteres. A bexiga pode se tornar hipoativa, incapaz de contrair-se voluntariamente (ela se apresentará relaxada e flácida) ou hiperativa, com perda involuntária de urina (estará hipertônica e contraída). Causas: genéticas, doenças neurológicas reversíveis ou irreversíveis, compressão da cauda equina, trauma raquimedular ou doenças neurológicas degenerativas. Fisiopatologia: o trato urinário inferior (TUI) realiza duas funções básicas: (1) enchimento/reservatório de urina e (2) esvaziamento. Para que essas funções possam ocorrer adequadamente, é necessário que ocorra relaxamento da musculatura lisa vesical (detrusor) e aumentocoordenado do tônus esfinctérico uretral durante a fase de enchimento da bexiga, e o oposto durante a micção. A coordenação das atividades da bexiga e do esfincter uretral envolve a interação entre os sistemas nervosos (central e periférico) e fatores regulatórios locais, e é mediada por vários neurotransmissores. Quaisquer condições nervosas ou neurológicas anômalas que alterem a contratilidade dos músculos da parede da bexiga, tornando-os hipotônicos ou hipertônicos e/ou afetando a sinergia entre esses músculos e os esfíncteres vesicais, provocam a bexiga neurogênica. Geralmente há dessinergia detrusor-esfincteriana ou baixa complacência vesical. Diagnóstico: exame urodinâmico (hiperatividade detrusora e arreflexia detrusora com esvaziamento vesical incompleto ou retenção urinária). Tratamento: segue o padrão de outras doenças neurológicas com acometimento do trato urinário inferior - anticolinérgicos (a contração das fibras musculares lisas da bexiga é mediada pela estimulação colinérgica de receptores muscarínicos pós- ganglionares), injeção de toxina botulínica por via endoscópica (bloqueia seletivamente a liberação da acetilcolina pelas terminações nervosas por meio da inibição do transporte das vesículas pré-sinápticas, causando desnervação funcional) e técnicas invasivas de neuromodulação e/ou de procedimentos cirúrgicos (casos graves). Neurite óptica Acometimento unilateral com perda parcial da acuidade visual (visão central) Dor retro-ocular associada Ausência de exsudados retinianos e hemorragias Mielite aguda Incompleta (mielite transversa completa é incomum) Sintomas sensitivos mais proeminentes que motores Urgência ou incontinência urinária e/ou fecal Fenômeno de Lhermitte (sensação de choque no pescoço e membros ao movimentar a cabeça) Síndromes do tronco encefálico e cerebelo Diplopia, oftalmoplegia internuclear unilateral ou bilateral Incoordenação motora, alteração de equilíbrio e marcha Disartria, distúrbios de deglutição Fenômenos paroxísticos Fenômeno de Uthoff (piora transitória em decorrência de mudanças bruscas de temperatura) dor neuropática, incluindo neuralgia do trigêmeo Espasmos tônicos dolorosos (quadro distônico secundário a lesões medulares) SÍNDROMES CLÍNICAS SUGESTIVAS DE ESCLEROSE MÚLTIPLA (EM) 2 Juliana Guiotti | Turma III Sinais de alerta contra o diagnóstico de esclerose múltipla (EM) Início da doença antes da adolescência ou com idade superior a 50 anos Sintomas ou sinais de instalação súbita (poucas horas) Manifestações sistêmicas associadas Manifestações atípicas para esclerose múltipla (cefaleia intensa, surdez bilateral, perda progressiva de acuidade visual bilateral, sinais de acometimento de SNP, crises epilépticas, transtornos psiquiátricos proeminentes e déficit cognitivo grave em fases iniciais) Sintomas clínicos unifocais recorrentes Imagem por ressonância magnética cerebral e medular normais Resposta inapropriada ao tratamento com corticosteroides na fase aguda FORMAS CLÍNICAS É reconhecida por sua apresentação heterogênea e pode ser dividida em quatro formas clínicas: (1) síndrome clínica isolada, (2) remitente recorrente, (3) secundariamente progressiva e (4) primariamente progressiva. 1- Síndrome Clínica Isolada (clinically isolated syndrome - CIS): É definida como o primeiro episódio clínico sugestivo de um quadro inflamatório desmielinizante que pode ser a primeira manifestação clínica de EM, mas ainda não preenche os critérios para disseminação no tempo. A sintomatologia clinica pode ser qualquer uma das observadas na EM, mas os pacientes frequentemente apresentam neurite óptica, lesões do troco cerebral ou medula espinhal. Nessa fase, é essencial considerar outras doenças desmielinizantes e investigar outras causas que podem mimetizar a EM (procurar diagnósticos diferenciais). 2- Esclerose Múltipla Remitente Recorrente (EM-RR): É a forma mais comum da doença (80% dos casos). É caracterizada por fases de agressões autoimunes espaçados por períodos de remissão da doença. Ocorre inicialmente uma lesão inflamatória no SNC, súbita e transitória que pode ser autolimitada, sem deixar sequelas, com duração um pouco maior que 24 horas. Após essa agressão inicial existe o período de remissão, quando não há dano evidente até que ocorra um novo surto. No momento em que um novo surto ocorre já de maneira mais agressiva é possível gerar lesão à bainha de mielina de forma irreversível. As lesões geradas nos surtos vão se acumulando e ocasionando danos mais graves à bainha de mielina de forma difusa no SNC. Os sintomas tornam-se mais intensos e cumulativos na progressão da doença pela formação das áreas cicatriciais, ou seja, placas desmielinizadas. 3- Esclerose Múltipla Secundariamente-Progressiva (EM- SP): É a evolução da forma remitente recorrente (ocorre em até 85% dos casos). Inicialmente existem períodos bem definidos de surtos e remissões até que com a progressão da doença as fases de surtos já não são bem identificadas clinicamente. �A marca dessa fase é a evolução da doença de forma progressiva sem surtos bem definidos clinicamente, mas sempre com história prévia da forma remitente recorrente bem identificada. 4- Esclerose Múltipla Primariamente Progressiva (EM-PP): Corresponde a cerca de 10% dos casos. Não há períodos de surto bem definidos desde o início da doença. As alterações nessa fase são sempre progressivas (a doença não é uma evolução da forma remitente recorrente). É possível que em algum momento da evolução clínica haja a evidencia de surtos, mas de forma isolada e bem menos evidente do que nas demais formas. 3 CRITÉRIOS DE SCHUMACHER PARA O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA EM Idade entre 10 e 50 anos Doença localizada na substância branca do SNC Lesões disseminadas no tempo e no espaço (duas ou mais lesões separadas) Anormalidades objetivas no exame neurológico Surtos com duração igual ou superior a 24 horas Intervalo entre os surtos superior a um mês Quadros progressivos com duração igual ou superior a seis meses Não há melhor explicação para os sinais e sintomas (não há outras patologias que explicam os sinais e sintomas) Investigação com uma rotina básica de exames Realização por neurologista conhecedor de neurologia clínica 4 Juliana Guiotti | Turma III DIAGNÓSTICO INVESTIGAÇÃO CLÍNICA O diagnóstico é definido conforme critérios clínicos e pode ser complementado pelos achados radiológicos e laboratoriais. A anamnese detalhada com informação sobre sinais e sintomas e evoluções progressivas dos danos crônicos são os principais determinantes do diagnóstico. Definir se o paciente está no primeiro surto (sem nunca ter apresentado sintomas) ou se o acometimento já é tardio. Em estágios iniciais pode ser complexa a definição diagnóstica e os exames complementares se fazem presente para auxiliar na confirmação. O principal critério é o envolvimento de duas ou mais áreas distintas do SNC, com intervalo ≥ 1 mês entre o surgimento de cada lesão, na ausência de outras explicações para o quadro. Critérios clínicos de Schumacher et al. (1965): elaborados a partir de observações clínicas que serviram de padrão para as demais classificações. Esses critérios deram uma uniformidade aos conceitos de recidiva, duração e intervalo entre os sintomas, localização de lesões distintas na substância branca do SNC com disseminação no tempo e espaço. INVESTIGAÇÃO RADIOLÓGICA A ressonância magnética é o exame indicado para auxiliar na confirmação diagnóstica e pode apresentar padrões diversificados de lesões à substância branca do SNC. Evidencia tanto lesões com indícios de inflamação aguda quanto manifestações crônicas pela formação de placas desmielinizadas. Após lesões agudas ao córtex cerebral e região medular pela inflamação ativa causada por linfócitos e monócitos, são produzidas características clássicas à ressonância magnética, sendo elas: 1- Lesões Ovaladas (ovoides): áreas arredondadas, esbranquiçadas, podendo variar de milímetros a centímetros e que podem tanto ser localizadas quanto disseminadas no SNC odisseminadas no SNC. Essas lesões podem formar uma apresentação típica a ressonância magnética semelhantes a dedos, são os chamados Dedos de Dawson. O sinal dos “dedos de Dawson” corresponde às lesões localizadas na substância branca periventricular, com maior eixo perpendicular ao corpo caloso, com aspecto ovoide, relacionadas a alterações inflamatórias ao redor das veias medulares. 2- Black Holes: lesões crônicas que surgem após a desmielinização da bainha de mielina e são visualizadas em imagem como lesões escurecidas. São lesões hipodensas (enegrecidas) distribuídas na substância branca do SNC que surgem onde as células da glia (astrócitos e oligodendrócitos) substituíram a bainha de mielina destruída envolta nos axônios. Esse processo resulta da agressão crônica pelas células linfoides e citocinas a bainha de mielina e formação de placas cicatriciais. Ocorre após a formação de placas desmielinizadas. INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL A investigação laboratorial é importante para auxiliar a hipótese diagnóstica de forma mais incisiva, principalmente em estágios iniciais, além de fazer diagnóstico diferencial com outras patologias. 1- Análise do líquor: é útil para avaliar e descrever modificações que acontecem na relação entre citologia e proteínas. Em 75% dos pacientes, a avaliação liquórica revela elevação de gamaglobulinas e imunoglobulina G (indica proliferação de anticorpos pela reação inflamatória) e elevação de células de origem linfoide (ocorre durante o surto, na vigência da fase inflamatória e agressão aguda). 2- Exames laboratoriais para auxiliar na exclusão de outros diagnósticos: hemograma completo, VHS e proteína C reativa, dosagem de vitamina B12, TSH e T4 livre, VDRL, anti-HIV e sorologias. Devido às particularidades da doença e necessidade de sistematização para permitir um diagnóstico breve e assertivo, foram criados critérios clínicos, radiológicos e laboratoriais que em conjunto auxiliam na confirmação diagnóstica, são os critérios de Mc Donald. Eles foram criados em 2001 e atualizados em 2017. CRITÉRIOS DE MC DONALD: APRESENTAÇÃO CLÍNICA DADOS PARA DIAGNÓSTICO A) 2 ou mais surtos + evidência clínica de 2 ou mais lesões Apenas 1 ou 2 lesões sugestivas de EM à RM B) 2 ou mais surtos + evidência clínica de 1 lesão Disseminação no espaço, demonstrada por RM com critérios de Barkhoff, presença de pelo menos 3 das 4 características a seguir: (a) pelo menos 1 lesão impregnada pelo gadolínio ou pelo menos 9 lesões supratentoriais em T2, (b) pelo menos 3 lesões periventriculares, (c) pelo menos 1 lesão justacortical e (d) pelo menos 1 lesão infratentorial; OU RM com 2 lesões típicas e presença de bandas oligoclonais ao exame do líquor; OU aguardar novo surto. C) 1 surto + evidência clínica de 2 lesões Disseminação no tempo, demonstrada por RM após 3 meses com novas lesões ou pelo menos 1 das antigas impregnada pelo gadolínio; OU aguardar novo surto. D) 1 surto mais evidência clínica de 1 lesão Disseminação no espaço, demonstrada por RM com Critérios de Barkhoff ou RM com 2 lesões típicas e presença de bandas oligoclonais no exame do líquor E Disseminação no tempo, demonstrada por RM após 3 meses com novas lesões ou pelo menos 1 das antigas impregnada pelo gadolínio; OU aguardar novo surto. INVESTIGAÇÃO ADICIONAL 1- Testes Urodinâmicos: diário miccional (registro mínimo de 2 a 3 dias), cistometria (quantifica a função de armazenamento) e eletromiografia (aferição semiquantitativa da atividade do assoalho pélvico. Achados urodinâmicos de portadores de EM tendem a se modificar com evolução da doença. Por essa razão, deve ser repetido a cada 2 anos ou sempre que houver alteração no quadro clínico ou dos sintomas urinários. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 1- Doenças autoimunes: neuromielite óptica (NMO), encefalomielite disseminada aguda (ADEM), síndrome de Sjõgren, lúpus eritematoso sistêmico, doença de Behçet, neurosarcoidose, síndrome antifosfolipide e vasculites do SNC. neurosarcoidose, síndrome antifosfolipide e vasculites do SNC. 2- Transtornos metabólicos: deficiência de vitamina B12, deficiência de cobre, vitamina E, síndrome desmielinizante osmótica (mielinólise pontioa) e adreooleucodistrofia. 3. Infecções: mielopatias associadas a HIN e HTLV- 1, doença de Lyme, neurosífilis (VDRL), leucoencefalopatia multifocal progressiva e doença de Whipple. 4. Transtornos vasculares: fístula arteriovenosa da dura- máter espinhal, hemangioma cavernoso e arteriopatia cerebral autossômica dominante com infartos subcorticais e leucoencefalopatia. 5. Doenças do neurônio motor: esclerose lateral primária. 5 Juliana Guiotti | Turma III tratamento O tratamento tem por objetivo tanto reduzir a intensidade e duração dos sintomas com uso de medicamentos sintomáticos quanto atuar como modificador de doença. TRATAMENTO DO SURTO: 1ª OPÇÃO: metilprednisolona em pulsoterapia 500mg a 1g IV por 3 a 5 dias. OUTRAS OPÇÕES: dexametasona, via oral, 16mg/dia por 5 dias OU plasmaferese ou imunoglobulina EV, dose de 400mg/kg/dia por 5 dias. ***Obs: na abordagem aguda suspender todos os demais medicamentos!!! ATENÇÃO!!! É imprescindível afastar presença de infecção para iniciar uso do corticoide, pois em caso de infecção ativa a mesma pode se disseminar e agravar o quadro do paciente. TRATAMENTO MODIFICADOR DA DOENÇA: TRATAMENTO REGIME TERAPÊUTICO OBSERVAÇÕES FASE AGUDA (ATAQUE/SURTO) Imunomoduladores de 1ª linha Reações cutâneas no local de aplicação, quadro pseudogripal e alterações hematológicas e hepáticas Linfopenia severa, distúrbios da condução cardíaca (bradicardia) nas primeiras doses ou no reinício da droga 6 Juliana Guiotti | Turma III 1ª LINHA: interferon-beta-1a (avonex ou rebif), interferon-beta-1b (betaseron) ou acetato de glatiramer (copaxone) 40mg, 3 vezes na semana. 2ª LINHA: Fumarato de Dimetila e anticorpos monoclonais (Natalizumabe, Fingolimode e Alentuzumabe). ATENÇÃO!!! O natalizumab (tysabri) é um anticorpo monoclonal contra o VLA-4, uma molécula de adesão leucocitária que facilita a entrada de leucócitos autorreativos no SNC. É a droga mais eficaz para o controle da doença (66% de redução nas recidivas), porém, devido a relatos de infecção fulminante (leucoencefalopatia multifocal progressiva) por reativação do vírus JC (presente em estado latente na maioria da população), recomenda-se que o natalizumab seja reservado aos casos refratários à terapia convencional. TRATAMENTO DA ESCLEROSE MÚLTIPLA Metilprednisolona endovenosa 1g/dia IV por 3 a 5 dias Considerar o uso de anti-helmínticos concomitante ao tratamento Plasmaférese 4 a 6 sessões de plasmaférese a cada 2 a 3 dias Hipotensão, hipocalcemia (citrato) e complicações do acesso vascular PREVENÇÃO DE NOVOS ATAQUES/SURTOS Interferon-beta 1b SC Interferon-beta 1a SC 250 mcg subcutâneo dias altemados 22 ou 44 mcg subcutâneo 3x/semana Semelhante ao interferon-beta 1b SC Interferon-beta 1a IM 30 mg intramuscular 1x/semana Semelhante ao interferon-beta 1b SC Acetato de Glatiramer 20 mg subcutâneo diariamente Mal-estar súbito após injeção Imunomoduladores de 2ª linha e anticorpos monoclonais Fingolimode 0,5 mg/dia via oral diariamente Teriflunomida 7 a 14 mg/dia via oral diariamente Teratogenicidade, alterações hepáticas e aumento da pressão arterial Mitoxantrona 12 mg/m2/mês IV, dose cumulativa máxima de 120 mg/m2 Cardiotoxicidade, leucemias e distúrbios hematopoéticos Natalizumabe 300 mg IV a cada 4 semanas Leucoencefalopatia multifocal progressiva Alemtuzummabe 12 mg IV por 5 dias no 1º ciclo de tratamento; a partir do 2º ano, 12 mg IV por 3 dias Desenvolvimento de outras doenças autoimunes (tireoidite de Hashimoto e púrpura trombocitopênica idiopática) Laudo de Medicação Excepcional (LME) Os medicamentos fornecidos por meio das farmácias de alto custo, devem ser solicitados em formulário próprio, no Laudo de Medicamentos Especializados do SUS – LME. A LME deve ser acompanhada da receita médica e a prescrição do médico deve estar de acordo com os protocolosclínicos e diretrizes terapêuticas do Ministério da Saúde. Por meio dos protocolos são estabelecidos os critérios de inclusão e exclusão do tratamento medicamentoso fornecido nas farmácias de alto custo. As farmácias de alto custo, ao receber um pedido de medicamento, conferem a LME, na ocorrência de preenchimento inadequado ou rasuras, a LME e todo processo de solicitação de medicamentos é devolvida e o paciente, somente será incluso no programa de fornecimento de medicamento do Ministério da Saúde, após apresentar a LME e todos os documentos em conformidade com o protocolo para a doença no SUS. As orientações que estão em conformidade com a Portaria de Consolidação nº 2, do COSEMS e com a Nota Técnica nº 003 do Coordenadoria da Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e são válidas em todo o território nacional, são: Todas os campos do formulário LME devem ser preenchidas. O prazo de validade da LME e da receita médica é de 60 dias. O médico deve preencher os campos de 1 a 18 da LME completamente, não podem ser inserida nenhuma informação por outra pessoa, é considerado rasura, a troca de caneta, letra ou preenchimento eletrônico posterior a emissão do médico. Deve ser informado na LME o nome do medicamento e a dose. Deve ser informado a quantidade necessária por mês. Pode ser prescrito até 5 medicamentos para a mesma doença. Se o medicamento prescrito for para doenças diferentes, deve ser preenchido uma nova LME. Não pode ser prescrito medicamentos pelo nome da marca. 7 Juliana Guiotti | Turma III REFERÊNCIAS 1- Clínica Médica USP/vol 06 2- Robbins Patologia Básica/9ª edição 3- Apostila Medcurso de Neurologia/2017 4- Apostila Sanarflix Esclerose Múltipla
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