Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Luiza de Oliveira Soares Turma 01 FITS Esclerose Múltipla Definição ➔ Uma doença autoimune, de caráter desmielinizante, crônica e evolutiva que atinge a substância branca do sistema nervoso central (SNC). ➔ Autoimunidade representa o processo de agressão à bainha de mielina do SNC por uma resposta inflamatória (macrófagos, linfócitos T, B e outras células do sistema imune) exacerbada e contínua. ➔ O curso clínico ocorre com eventos recorrentes e períodos de remissão, fato que determina o padrão sintomatológico e grau de incapacitação dos pacientes. Epidemiologia ➔ A forma surto e remissão (EMSR) representa a maioria dos casos, cerca de 90%, sendo mais frequente em mulheres e com o tempo pode evoluir para a forma progressiva secundária (EMPS). ➔ Já a forma progressiva primária (EMPP), apresenta incidência semelhante em ambos os sexos e início por volta dos 40 anos, acometendo principalmente tratos longos, sendo o motor e o cerebelar os mais degenerados. ➔ Mais comum em mulheres brancas (2:1) na faixa etária de 35-50 anos. ➔ Depois do trauma, é a segunda maior causa de incapacidade neurológica em pessoas jovens. ➔ Existe a possibilidade de haver diferenças raciais dentre os quadros de esclerose múltipla. O tipo asiático ou oriental têm maior comprometimento do nervo óptico e da medula espinhal, maior idade de início e menor número de lesões observadas na ressonância nuclear magnética. ➔ Também são apontadas diferenças no grupo de pacientes com início dos sintomas após 50 anos, chamado de esclerose múltipla de início tardio. Os pacientes apresentaram comprometimento motor mais acentuado e progressão mais rápida ➔ Predomina em regiões temperadas e frias. Quanto maior a distância da linha do equador maior a probabilidade de acometimento. Por isso, é evidenciado mais no sul e sudeste do Brasil. ➔ A EM é a segunda causa de incapacitação por origem jovem não traumática em adultos jovens. Por isso, seu manejo em fases iniciais é essencial Fatores de Risco ➔ Fatores genéticos associados ao HLA-DR2 e polimorfismo do gene IL-7R ➔ Os fatores de risco mais comuns englobam fatores ambientais, fatores genéticos, baixa exposição no sol (Vitamina D), infecção por vírus (Epstein- Barr e herpes), tabagismo e obesidade na adolescência, contato com solvente orgânico ➔ FATORES QUE PREDISPÕEM À INFLAMAÇÃO NA EM: -A ação de alguns fatores como fatores ambientais de natureza viral, exposição aos raios UV e menor produção da vitamina D, interferem indiretamente no sistema imunológico, contribuindo para o aparecimento de condições favoráveis para a ativação da linhagem linfocitária de função Th1. Maria Luiza de Oliveira Soares Turma 01 FITS Fisiopatologia ➔ Agressão inflamatória autoimune (geralmente linfócitos T) sobre a bainha de mielina dos axônios do SNC... ● Lembre-se de que quem sintetiza mielina no SNC são os oligodendrócitos, enquanto a síntese de mielina no sistema nervoso periférico fica a cargo das células de Schwann! ➔ A perda da mielina envolve perda de fatores tróficos produzidos por essa camada protetora, levando à degeneração axonal permanente (o que explica porque após alguns anos as sequelas da EM acabam se tornando irreversíveis). ➔ A autoimunidade representa o processo de agressão à bainha de mielina do SNC por uma resposta inflamatória exacerbada e contínua. ➔ Por uma autorreação do sistema imune, gerando processos inflamatórios recorrentes que alteram o funcionamento normal da bainha de mielina por perda de suas partes constituintes, fenômeno denominado desmielinização. ➔ Assim, há prejuízo na condução dos impulsos nervosos e são evidenciadas manifestações clínicas características. ➔ A perda de função durante o surto ocorre tanto pelo processo inflamatório agudo quanto pelos efeitos diretos da desmielinização. ➔ É possível ainda que o processo inflamatório inicial seja autolimitado e com resolução do processo agudo exista recuperação de função durante as fases de remissão da doença. ➔ Ocorrem áreas localizadas de desmielinização (placas), com destruição da oligodendróglia, inflamação perivascular e alterações químicas nos constituintes lipídicos e proteicos da mielina, dentro e ao redor das placas. ➔ Dano axonal é comum, e corpos celulares neuronais também podem ser danificados. ➔ Há desenvolvimento de gliose fibrosa nas placas que são disseminadas pelo sistema nervoso central, principalmente na substância branca, em particular nas colunas laterais e posteriores (especialmente nas regiões cervicais), nervos ópticos e áreas periventriculares. ➔ Os tratos no mesencéfalo, ponte e cerebelo também são afetados. A substância cinzenta no cérebro e na medula espinhal pode ser afetada, mas em extensão muito menor. ➔ Basicamente acontece: - Os linfócitos T ativados no sangue periférico e nos gânglios linfáticos vão ativar linfócitos B e macrófagos, estes por sua vez, vão atravessar a barreira hematoencefálica e alcançar o SNC, gerando focos de inflamação. - Esses focos de inflamação vão causar danos na bainha de mielina que por sua vez, vão prejudicar o isolamento elétrico diminuindo a velocidade de condução do sinal elétrico. - O dano causado na bainha de mielina pode se auto resolver ou levar a degeneração neuronal, quando tem a degeneração neuronal vai ocorrer a proliferação das células da glia no local(astrócitos e oligodendrócitos) que antes era preenchido pelos axônios dos neurônios, com isso, vão se formar placas (região de "cicatrizes") resultando em déficits focais. - Os linfócitos e macrófagos que fazem a desmielinização contêm corpos granulo-gordurosos que são gerados pela degradação da mielina. Maria Luiza de Oliveira Soares Turma 01 FITS Formas Clínicas ● Remitente Recorrente: ➔ É a mais comumente encontrada (80% dos casos), sendo caracterizado por fases de agressão autoimune espaçadis por períodos de remissão da doença. ➔ Inicialmente ocorre uma lesão inflamatória no SNC, súbita e transitória que pode ser autolimitada, sem deixar sequelas, com duração um pouco maior de 24h. ➔ Após a agressão existe o período de remissão, quando não há dano evidente até que ocorra um novo surto de maneira mais agressiva, gerando lesão à bainha de mielina de forma irreversível. ➔ As lesões geradas nos surtos vão se acumulando e ocasionando danos mais graves ao SNC. ➔ Consequentemente, os sintomas tornam-se mais intensos e cumulativos. ● Primariamente progressiva ➔ A terceira forma corresponde a cerca de 10% dos casos, é a forma primariamente progressiva. ➔ Neste caso a doença não é uma evolução da forma remitente recorrente como vimos anteriormente, pois não há períodos de surto bem definidos desde o início da doença. As alterações nessa fase são sempre progressivas! ➔ É possível que em algum momento da evolução clínica haja a evidência de surtos, mas de forma isolada e bem menos evidente do que nas demais formas. ● Secundariamente progressiva ➔ A forma secundariamente progressiva é a evolução da forma remitente recorrente ocorrendo em até 85% dos casos. ➔ Neste caso, inicialmente existem períodos bem definidos de surtos e remissões até que com a progressão da doença as fases de surtos já não são bem identificadas clinicamente. ➔ A doença evolui progressivamente com acúmulo de lesões ao SNC e sequelas crônicas. ➔ É possível que existam novos surtos identificados, mas de forma bem menos intensa do que na fase inicial (remitente recorrente). ➔ Para fixar: a marca dessa fase é a evolução da doença de forma progressiva sem surtos bem definidos clinicamente, mas sempre com história prévia da forma remitente recorrente bem identificada. ➔ PRIMÁRIA PROGRESSIVA: SINTOMAS COMUNS: medulares (56%), piramidais (12,1%), cerebelares (12,1%), óptico (9,7%) e de tronco (9,7%) ➔ SECUNDARIAMENTE PROGRESSIVA: SINTOMAS COMUNS: ópticos (29,2%), medulares (24,3%), piramidais (17%), sensitivos (14,6%). Quadro Clínico ➔ Os sintomas iniciais mais comuns compreendem alterações piramidais, sensitivas e cerebelares, conhecidas como sinais maiores, e manifestações visuaise esfincterianas, ditas menores. ➔ Os sinais piramidais englobam fraqueza, espasticidade, sinais de liberação piramidal (hiperreflexia, sinal de Babinski, clônus uni ou bilateral) ➔ As alterações cerebelares podem ser divididas em comprometimento do equilíbrio e da coordenação. ➔ Parestesias, como sintoma sensitivo, são descritas como “formigamento” ou “adormecimento”, podem estar acompanhadas de hipoestesia superficial e profunda em um ou mais membros. ➔ Os principais distúrbios visuais são diminuição da acuidade visual, diplopia e escotomas, quase sempre reconhecidos como embaçamento visual. ➔ O comprometimento esfincteriano apresenta-se sob a forma de Maria Luiza de Oliveira Soares Turma 01 FITS incontinência ou retenção urinária e fecal. Além da alteração esfincteriana, observa-se também, disfunção sexual ➔ Embora menos comuns, existem outros sinais e sintomas que podem estar presentes no início da doença: - Sintomas paroxísticos, tais como distonias ou espasmos tônicos, disartria e ataxia, dores paroxísticas (neuralgia do trigêmeo e outras) são as queixas iniciais dos pacientes em pequena porcentagem dos casos, estimados numa média de 3,8% a 17%. - Sintomas raros são as manifestações psiquiátricas. -Fadiga, alterações do sono, alterações cognitivas - A freqüência de epilepsia varia de 1% a 5% entre os pacientes ● Sensitivo: hiperestesia, dor, parestesia ● Motores: fraqueza, espasticidade, hiperreflexia ● Visuais: neurite óptica; pode estar associado com perda/turvação visual, dor retroorbitária, diplopia ● Genitourinárias: incontinência, urgência, polaciúria, disfunção sexual ● Psiquiátricos: depressão e perda cognitiva ➔ O Fenômeno de Uhtho� é caracterizado pela piora da condição nervosa relacionada à elevação da temperatura corporal, por exemplo, por febre ou exposição ao calor ambiental. O paciente torna-se intolerante a elevação de temperaturas cursando com desencadeamento de sintomas exacerbação de sintomas preexistentes. ➔ Outra manifestação é o sinal de Lhermitte que é a sensação de choque iniciada das costas com irradiação para região lombar e membros inferiores após a flexão forçada ou passiva do pescoço. ➔ É essencial perguntar ao paciente se o mesmo teve essa sensação, pois nem sempre é intensa suficiente para apresentar fáscies de dor, então é preciso que seja feita a referência de forma clara. ➔ Lesões sugestivas de EM são encontradas em regiões periventriculares no corpo caloso, no centro semioval, em estruturas profundas da substância branca e nos núcleos da base Diagnóstico ➔ É baseado em Critérios e escalas: ● CRITÉRIOS DE SCHUMACHER: ➔ Critérios a partir de observações clínicas que servirão de padrão para as demais classificações, dando uniformidade aos conceitos de recidiva, duração e intervalo entre os sintomas, localização de lesões distintas na substância branca do SNC com disseminação no tempo e espaço. Maria Luiza de Oliveira Soares Turma 01 FITS ● Critérios de Mc Donald ➔ Para isso é necessário exame de ressonância magnética do encéfalo que demonstrará lesões características de desmielinização como explicadas nos tópicos de exames de imagem; ➔ Devem ser realizados exames laboratoriais que auxiliam na exclusão de outros diagnósticos como (exames de anti-HIV e VDRL e dosagem sérica de vitamina B12); ➔ O exame do líquor também é exigido para afastar outras doenças em caso de dúvida diagnóstica. ➔ Por fim, é utilizado o Potencial Evocado Visual se existirem dúvidas diagnósticas. ● CRITÉRIOS NEDA: A medida NEDA-4 (nenhuma evidência de atividade da doença) é uma forma abrangente de avaliar a atividade da EM com base nos quatro parâmetros considerados fundamentais: surto, lesões de ressonância magnética, atrofia cerebral e progressão da incapacidade. ● A Escala Expandida do Estado de Incapacidade de Kurtzke é um método para quantificar o grau de incapacidade na esclerose múltipla. A escala classifica a incapacidade em oito sistemas funcionais e permite aos neurologistas determinar uma pontuação a cada um deles. ● RM: ➔ A ressonância magnética é o exame indicado para auxiliar na confirmação diagnóstica da EM e pode apresentar padrões diversificados de lesões na substância branca. ➔ As lesões de inflamação aguda mais conhecidas são as lesões ovaladas (ovóides) ou dedos de Dawson, que são áreas arredondadas, esbranquiçadas, que variam de milímetros a centímetros, que podem ser localizadas ou difusas no SNC. ➔ As lesões crônicas que surgem após a desmielinização da bainha de mielina são lesões escurecidas (hipodensas), denominadas de black holes, que surgem onde células da glia substituíram a bainha de mielina destruída. ●Dados complementares: (1) RNM = envolvimento da substância branca (geralmente periventricular, bilateral e simétrico, além de ser típico o acometimento UNILATERAL do nervo óptico, bem como a presença de “placas” póstero-laterais da medula espinhal); -> Acometimento de SUBSTÂNCIA BRANCA (2) exame de potenciais evocados = pesquisa de condução neuronal alterada em regiões cujo acometimento pela EM é típico, porém não há relato de sintomas (ex.: potenciais evocados no campo visual evidenciam Maria Luiza de Oliveira Soares Turma 01 FITS alterações não antes percebidas pelo paciente); (3) punção lombar = o líquor mostra bandas oligoclonais de IgG, porém esse achado não é sensível e tampouco específico (indica apenas a ocorrência de produção intratecal de anticorpos, o que pode ser observado nas infecções do SNC). A grande utilidade da punção lombar é, portanto, o diagnóstico diferencial com outras condições, Diagnóstico Diferencial ● VARIANTES ➔ Encefalomielite aguda disseminada (ADEM) - A ADEM ocorre após infecção viral ou bacteriana ou após uma vacinação. - Os vírus identificados como responsáveis pela ADEM foram: os vírus da família do herpes, do sarampo, da caxumba, do HIV, da hepatite, da dengue, do enterovírus, entre outros: bactérias Chlamydia, Legionella, Borrelia burgdorferi, Listeria e vacinas da hepatite B, sarampo, caxumba, pólio, tétano etc. - São raros os casos em que há conversão da ADEM para EM. - Seu diagnóstico se caracteriza por um sintoma único de gravidade variável com a evidência do quadro febril ou vacinal precedendo de 1 a 4 semanas a instalação dos sintomas. ➔ Neuromielite Óptica (NMO) -A NMO acomete somente a medula espinhal e o nervo óptico. Para seu diagnóstico, é necessária a presença de lesões na medula espinhal com extensão maior que 3 corpos vertebrais, assim como uma ampla extensão transversal associada a NO, com a ressonância magnética do encéfalo normal. Uma característica da doença recorrente é não apresentar progressão entre as recidivas, elas ocorrem de forma súbita e com somatória da incapacidade. ➔ Mielopatia Aguda Transversa : Doença inflamatória que não tem evolução para EM. Apresenta evolução monofásica, que nem sempre tem sequelas graves. ➔ Doença de Marbug: doença monofásica, com intensa desmielinização com acentuada infiltração de macrófagos, amplas áreas de desaparecimento de mielina, edema e lesão axonal. ➔ Doença de Balo: fenômeno isolado ou que pode proceder o desenvolvimento da EM. Apresenta lamelas concêntricas de substância branca e desmielinização alternadas por lamelas de substância branca mielinizada ou em remielinização (sinal da casca de cebola) ● DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➔ Doenças desmielinizantes com padrão de evolução monofásico: encefalomielite aguda disseminada, mielite transversa aguda e neurite óptica. ➔ Doenças sistêmicas: vasculites, lúpus eritematoso sistêmico, doença de Sjöegren, doença de Behçet e sarcoidose. ➔ Síndromes infecciosas, como sífilis, doença de Lyme, SIDA, mielopatia pelo HTLV-I. ➔ Síndromes paraneoplásicas, quando os sintomas neurológicos precedem o aparecimento da neoplasia, apresentando anticorpos antineuronais (anticélula de Purkinje), anti-Yo na síndrome cerebelar subaguda. ➔ Mielinólise pontina e extrapontina, leucodistrofias (adrenoleucodistrofia), mielopatia pós-radiação. Maria Luiza de Oliveira Soares Turma01 FITS Tratamento ● Surto: -Pulsoterapia com Metilprednisolona EV 500mg a 1g por 3 a 5 dias; -Dexametasona VO 16 mg/dia por 5 dias; -Plasmaferese ou Imunoglobulina EV 400 mg/kg/dia por 5 dias ● Tratamento modificador da doença: Impede que os surtos aconteçam e haja acúmulo de incapacidade Drogas modificadoras da doença Avaliar: adaptação da medicação, progressão da doença e incapacidade funcional - Interferon A e B - menor potência - Acetato de glatinamer - menor potência - Natalizumabe - Fingolimode Se o paciente apresentar 1 surto, apenas tratar se houver alto risco de contraversão Sempre diferenciar um surto de uma progressão da doença
Compartilhar