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CÂNCER • Regulação anormal do crescimento, proliferação e diferenciação celular. • Neoplasias malignas • A anormalidade característica do fenótipo tumoral é a desregulação do ciclo celular, resultado de anormalidades genéticas adquiridas em genes relacionados à síntese de proteínas reguladoras do ciclo celular. • Os danos ao DNA podem ser de diversas naturezas. • Pode haver falha dos mecanismos de vigilância do genoma. • Tem-se no ciclo celular barreiras fisiológicas para impedir a “sobrevivência” de fenótipos anômalos → check points: o Controle interno o Controle externo • Alvos de mutações: o Genes envolvidos na regulação do ciclo celular o Genes que controlam o tempo de vida celular o Genes que controlam a apoptose o Genes relacionados aos mecanismos de reparo do DNA NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS • Doenças oncológicas causadas por mutações nas células da hematopoese e/ou tecidos linfoides. • Estas mutações levam a anormalidades da diferenciação celular e conferem vantagem proliferativa às células acometidas. • Estas mutações podem acometer setores específicos e ocorrer em diversos momentos da hematopoese (síndromes clínicas distintas) • Exemplos: o Leucemia mieloide aguda (LMA) X Leucemia Linfoide Aguda (LLA) o Leucemia linfoide aguda (LLA) → neoplasia de células linfoides percussoras. o Leucemia linfoide crônica (LLC) → neoplasia de células linfoides maduras. LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA (LMC) • É uma doença mieloproliferativa crônica, assim como: o Policitemia vera o Trombocitemia essencial o Mielofibrose • Neoplasia da Célula Progenitora Hematopoiética caracterizada pela presença do Cromossomo Philadelphia, produto da translocação t (9;22) • Primeira doença com associação entre uma mutação e uma doença oncológica • Esta translocação gera um gene de fusão BCR-ABL, que interfere nos mecanismos de proliferação e diferenciação celular. • A t(9;22) (cromossomo Philadelphia) é uma translocação recíproca entre os braços longos dos dois cromossomos. • Ocorre a transposição do oncogene c-ABL do cromossomo 9(9q34) para o cromossomo 22 (22q11), em uma região chamada de BCR (breakpoint Cluster region) • A translocação resulta no gene de fusão BCR-ABL • O BCR-ABL codifica uma proteína híbrida (quimérica) diretamente responsável pelas anormalidades da proliferação e diferenciação celular características da doença. • A proteína híbrida (quimérica) acomoda uma molécula de ATP em um “sítio”, e um fosfato do ATP é transferido para uma TIROSINA do substrato, que é então fosforilada e ativada. • Essa proteína anormal (quimérica) tem atividade Tirosina Cinase fosforilando vários substratos citoplasmáticos e afetando vias de sinalização, causando: o Aumento da proliferação e diferenciação celular o Redução da apoptose o Desregulação da citoadesão celular o Anormalidades da angiogênese o Aumento da instabilidade genética • Tirosina-cinases → catalisam a fosforilação de proteínas pela transferência de moléculas de ATP, desencadeando estímulos intra e extracelulares relacionados ao controle e regulação da proliferação celular. • O cromossomo Philadelphia está presente em 95% das LMCs pela citogenética clássica e quase 100% por técnicas de biologia molecular (RT-PCR e FISH) • A atividade da proteína quimérica resultante, BCR-ABL é necessária e suficiente para a atividade oncogênica inicial da doença • Menor resposta aos sinais reguladores do crescimento (citocinas e microambiente medular) • Mecanismo indutor da translocação não está claro. • Os eventos moleculares citados vão se traduzir clínica e laboratorialmente por: o Hiperplasia mieloide com leucocitose às custas de granulócitos o Basofilia e eosinofilia o São encontradas células mieloides mais imaturas circulantes (escalonamento maturativo) o Inicialmente a capacidade maturativa é preservada. Com a evolução há bloqueio da diferenciação e acúmulo de células imaturas (blastos) não funcionais. (blastos são as células maiores não segmentadas) (direita: acúmulo de blastos → Leucemia) CROMOSSOMO PHILADELPHIA (LMC) • Há 3 pontos de quebra do BCR, gerando 3 proteínas de fusão com diferentes pesos moleculares: o 210kDa (p210) → típica da LMC o 190 kDa (p190) → encontrada na LLA (leucemia linfoide aguda) o 230kDa (p230) → leucemia neutrofílica crônica (outra entidade) • Pode haver anormalidades clonais adicionais: o 10 a 30% em fase crônica → sem impacto prognóstico o 80% na crise blástica o Podem ocorrer ao longo da evolução da doença e têm impacto prognóstico. EPIDEMIOLOGIA • 15 a 20% das leucemias do adulto • 3% das neoplasias do adulto • 1-2/100.000 hab/ano • Mediana diagnóstico 53 anos → Brasil 47 anos. • Mais frequente em homens que em mulheres (3/1) • Sem agentes causais definitivamente implicados. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Dependem da fase e volume da doença • A LMC se caracteriza por 3 fases geralmente evolutivas: o Fase crônica o Fase acelerada o Crise blástica • Pacientes em fase crônica em geral assintomáticos ou oligossintomáticos • Paciente assintomático em exame de rotina → 20 a 30% • 80% dos pacientes quando fazem diagnóstico já tem ESPLENOMEGALIA → saciedade precoce e desconforto abdominal • Hiperleucocitose habitualmente não causa leucostase (granulócitos maduros) → diferente da Leucemia Aguda • Fadiga, adinamia, sudorese noturna, dor óssea, perda de peso podem aparecer • Febre é RARA. • Hiperviscosidade incomum → priapismo, distúrbios visuais, etc • Sintomas pronunciados em fase acelerada ou crise blástica. • Na crise blástica há acúmulo de blastos (células imaturas) e pode haver insuficiência medular. O comportamento pode ser semelhante ao de uma leucemia aguda → insuficiência medular FASE CRÔNICA • Paciente assintomático em exame de rotina (20 a 30%) • Evolução em 3 a 5 anos, sem tratamento • Sintomas leves a moderados, inespecíficos (adinamia, perda de peso...) • Expansão de progenitores mieloides em vários estágios de maturação, que mantém a capacidade de diferenciação, mas são precocemente liberados no sangue periférico. • Menor resposta aos sinais reguladores do crescimento (citocinas e microambiente medular). • Quando suspeitar? o Leucocitose > 25mil/mm3, com desvio escalonado à esquerda na ausência de infecções o Mielograma hipercelular com predomínio de elementos maduros • Tratamento sempre necessário, mesmo no paciente assintomático. FASE ACELERADA • Alguns meses vai progredir para a crise blástica • Perda progressiva da capacidade de diferenciação • Resistência à terapêutica citoredutora • Aumento da esplenomegalia, leucocitose e basofilia • Aumento de células imaturas (blastos) • Anemia e plaquetopenia (insuficiência medular) • Ajuste no tratamento é necessário • Antecede a crise blástica, por isso é necessário intervir logo • Pode ser a apresentação inicial em pacientes virgens de tratamento. CRISE BLÁSTICA • Presença maior ou igual a 20% de blastos na medula óssea ou sangue periférico • Leucemia aguda que decorre de LMC é de péssimo prognóstica, tem uma vantagem proliferativa muito grande. • Nem toda LMC quando entra em crise blástica evolui para crise blástica mieloide: o 50% crise blástica mieloide o 25% crise blástica linfoide o 25% crise blástica bifenotípica ou indiferenciadas • Em alguns casos pode voltar à fase crônica quando adequadamente tratada. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL • HEMOGRAMA • Leucocitose neutrofílica com desvio escalonado à esquerda o Estágios de maturação granulocítica (metamielócitos, mielócitos, promielócitos). Mieloblastos < 2% • 50% dos pacientes vai ter mais de 100mil leucócitos ao diagnóstico ▪ Eosinofilia e basofilia (critérios para progressão) • Anemia (aproximadamente 50% dos pacientes) → raramente eritrocitose, ou seja, excesso de hemácias (diagnóstico diferencial com PolicitemiaVera). • Trombocitose (15 a 35% > 700mil). Pode ser isolada (diagnóstico diferencial com Trombocitemia Essencial) • Mielograma → hipercelular com extenso predomínio de setor granulocítico, com variáveis percentuais de eosinófilos, basófilos, promielócitos e blastos. • Biópsia da medula óssea → hipercelular as custas do setor granulocítico, com variáveis percentuais de células imaturas. Pode evidenciar fibrose medular. • Cariótipo de medula óssea → translocação t(9;22) → cromossomo Philadelphia. o Menos sensível, mas detecta outras anormalidades citogenéticas associadas • FISH ou PCR para BCR-ABL → sondas específicas o Mais sensíveis, mas só detectam BCR-ABL • Gerais → LDH elevados, hiperuricemia. • Mielograma e biópsia de medula tem achados inespecíficos • Diagnóstico requer a identificação do cromossomo Filadélfia por: o T(9;22) ao cariótipo o BCR-ABL ao RT-PCR ou FISH DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Demais doenças mieloproliferativa: o Alguns casos com leucocitose, eritrocitose e trombocitose o Policitemia vera (predomínio de setor eritroide) o Trombocitemia essencial (predomínio de megacariócitos/ setor plaquetário) o Mielofibrose → hepatoesplenomegalia por Metaplasia Mieloide Agnogênica (hematopoese extramedular), fibrose medular, baço volumoso, citopenias frequentes. o Sempre incluir pesquisa de Cromossomo Philadelphia (citogenética clássica + FISH ou RT-PCR por BCR-ABL) o t(9;22) só é encontrada na LMC (entre as doenças mieloproliferativa crônicas) o Reação leucemóide → leucocitoses com desvio escalonado em pacientes com quadro clínico de infecção grave o Reação leucoeritroblástica → leucocitoses com desvio escalonado e eritroblastos circulantes em pacientes com hemorragias recentes ou sob condições que requeiram resposta medular aumentada (hemólise) ou com infiltração medular por tumores sólidos. o Síndromes mielodisplásicas tipo Leucemia Mielomonocítica Crônica, Leucemia Neutrofílica Crônica. CRITÉRIOS DE RESPOSTA AO TRATAMENTO • Resposta hematológica → normalização do hemograma • Resposta citogenética → de acordo com a presença/ausência do Cromossomo Philadelphia na citogenética clássica o Pode haver níveis de resposta citogenética completa ou parcial (% de redução) • Resposta molecular → de acordo com a presença/ausência do cromossomo Philadelphia no RT-PCR o Pode haver níveis de resposta molecular completa ou parcial (% de redução). o É mais sensível que a citogenética TRATAMENTO • Hidroxiureia → terapia citostática, não interfere no curso natural da doença. Leva a respostas hematológicas. • Alfa-interferon → 90% resposta hematológica completa e 30% de resposta citogenética maior • Transplante alogênico de medula óssea → terapia curativa década de 80 em diante. Atualmente reservada aos casos refratários ao tratamento com inibidores de tirosina cinase. • Inibidores de tirosina-cinases (TKIs) o As primeiras drogas alvo da medicina foram estes, utilizados para tratar LMC no final dos anos 90. o Drogas usadas: ▪ Imatinib → primeira linha ▪ Dasatinib e Nilotinib → TKIs segunda geração ▪ 93% de sobrevida global dos pacientes após 8 anos de tratamento, sem transplante de medula o Agem como inibidores competitivos do ATP, ligando-se ao sítio de fosforilação do BRC-ABL, bloqueando a atividade da Tirocina-kinase e inibindo a proliferação de células mieloides anômalas. o Uso vitalício, oral o Controle com RT-PCR periódico o Há drogas de 2ª linha para casos de perda de resposta ao Imatinib (primeira linha). CONDUTAS INICIAIS (ANTES DO ESPECIALISTA) • Baseadas no risco imediato que o paciente está correndo • Diagnóstico diferencial com reações leucemóides e infecções • Manuseio de dor esplênica e sintomas abdominais • Descartar leucostase (Rara), Síndrome de Lise Tumoral Espontânea (rara) • Observar plaquetopenia e anemia (risco maior de crise blástica ou leucemia aguda → avaliação cuidadosa da distensão de sangue) • Na ausência de complicações, paciente deve ser prontamente encaminhado para serviço especializado em regime ambulatorial.
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