Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Norma e fato jurídico APRESENTAÇÃO O Direito é a ciência que estuda a criação, o significado e a execução das normas. Para a ciência jurídica, porém, nem todos os fatos são relevantes, sendo objeto desta apenas os chamados Fatos Jurídicos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará os fatos relevantes para o estudo do Direito, bem como analisará os conceitos de norma, suporte fático e as diversas espécies de fato, seguindo a teoria de Pontes de Miranda e suas repercussões práticas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a norma jurídica nos planos do mundo jurídico.• Analisar e classificar o Fato Jurídico.• Explicar a relação entre Fato Jurídico e Negócio Jurídico.• INFOGRÁFICO Lembre que o Fato Jurídico é a formação válida, existente e eficaz de um fato que corresponde ao suporte fático de uma norma. O Infográfico a seguir representa essa correspondência entre o mundo dos fatos e o mundo jurídico por meio da formação deste conceito. CONTEÚDO DO LIVRO O Fato Jurídico é o resultado da conexão entre um fato ocorrido no mundo real e a previsão de determinada Norma Jurídica (Suporte Fático). Leia mais no capítulo Norma e fato jurídico que faz parte do livro Legislação civil aplicada I e é a base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. Revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna Bacharel em Direito Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional e em Direito Público Mestre em Direito Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito Miguel do Nascimento Costa Bacharel em Ciências Sociais Especialista em Processo Civil Mestre em Direito Público Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147 L514 Legislação civil aplicada I / Patrícia Esteves de Mendonça... [et al.] ; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna, Miguel do Nascimento Costa]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 382 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-426-7 1. Direito civil. I. Mendonça, Patrícia Esteves de. CDU 347 1_Iniciais.indd 2 18/05/2018 17:38:30 U N I D A D E 2 Norma e fato jurídico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a norma jurídica nos planos do mundo jurídico. Analisar e classificar o fato jurídico. Explicar a relação entre fato jurídico e negócio jurídico. Introdução O Direito é a ciência que estuda a criação, o significado e a execução das normas. Para a ciência jurídica, porém, nem todos os fatos são relevantes, sendo objeto desta apenas os chamados fatos jurídicos. Neste capítulo, você verá quando os fatos passam a ser relevantes para o estudo do Direito, bem como analisará os conceitos de norma, suporte fático e as diversas espécies de fato, seguindo a teoria de Pontes de Miranda e as suas repercussões práticas. A norma jurídica nos planos no mundo jurídico A norma jurídica é o resultado de um processo legislativo, da vontade de uma parte ou de mais de uma parte, que submete um ou mais fatos do mundo real aos ditames do mundo jurídico por meio da ligação entre os fatos do cotidiano e o suporte fático correspondente à norma. No caso da legislação, em que o colegiado responsável pela elaboração do projeto de lei o submete ao crivo das câmaras legislativas e à sanção do executivo, a norma jurídica surge do chamado processo legislativo. Já quando a norma jurídica é elaborada pelas partes, ela pode se dar por um ato unilateral, em que a pessoa se obriga a determinadas atividades ou omissões perante a Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 89 18/05/2018 16:07:56 uma coletividade determinada ou geral ou por meio do acordo de uma ou mais partes que figuram um negócio jurídico. É nesse sentido que Nader (2004) sustenta que a sustentação jurídica da sociedade se faz em duas grandes esferas: a do Direito objetivo, que reúne a Constituição Federal e o diversificado elenco das fontes formais, e a dos direitos subjetivos, que é o mundo das relações jurídicas concretas e que forma o patrimônio jurídico de cada pessoa, consubstanciado no seu estado civil, nos seus direitos de personalidade, políticos e de conteúdo econômico. Segundo o autor, o Direito objetivo constitui o ordenamento jurídico do Estado, que se organiza a fim de garantir a proteção da pessoa humana nos seus valores fundamentais. Já os direitos subjetivos estariam ligados a acontecimentos do mundo fático. Na base de cada direito individualizado está o fato, de acordo com Nader (2004) — não qualquer um, mas o que apresenta relevância do ponto de vista social e que por isso é referido no Direito objetivo. Segundo Pontes de Miranda (2012), os planos do mundo jurídico que caracterizam a norma em relação aos fatos do mundo real que originam a sua incidência são a existência, a validade e a eficácia. Para o autor, quando há incidência da norma pela correspondência entre o suporte fático e os fatos ocorridos no mundo real, estamos diante do plano da existência. É nesse sentido que o autor reforça que Pontes de Miranda (2012, p. 153): É de inexistência que se trata, sempre que: a) o ato jurídico exigia declaração de vontade expressa, e essa não se seu; b) o ato jurídico exigia declaração de vontade, e essa não se deu; c) o ato jurídico exigia declaração de vontade ou manifestação de vontade e não se deu aquela, nem essa; d) o fato jurídico exigia qualquer ato humano, e não ocorreu; e) bastaria o ato-fato, e não se deu; f) se ao fato jurídico faltou suporte fático. [...] a questão da existência e da inexistência está, portanto, ligada, à da insuficiência, e não à da deficiência do suporte fático. Dessa forma, (a) havendo uma norma prevista, (b) correspondência entre o conteúdo do suporte fático e (c) um fato ocorrido no mundo, o fato jurídico existe, e, portanto, há incidência da norma. A exceção à existência de uma norma encontra-se na ausência das condicionantes do suporte fático. Norma e fato jurídico 90 Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 90 18/05/2018 16:07:57 Se a norma (Código Civil, Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002) prevê que, por exemplo, “Art. 1.511 O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”, e de fato o par de pessoas disposto a comungar em matrimônio não possui vontade de estabelecer igualdade de direitos e deveres, ou não pretende exercer comunhão na plenitude da vida do casal, não há que se falar no fato jurídico casamento, mas em outra categoria, salvo em caso de pacto antenupcial que é previsto no parágrafo único do art. 1.640 no tocante às questões patrimoniais (BRASIL, 2002, documento on-line). A validade dos fatos jurídicos é ligada aos pressupostos de capacidade, vontade, legitimidade, boa-fé, equidade, licitude, possibilidade, moralidade e adequação aos costumes da sociedade. Assim, mesmo que o fato jurídico seja existente (e, portanto, não incorrendo nas exceções apontadas), pode ser considerado inválido na forma das possibilidades de nulidade do fato jurídico, a saber: erro (art. 138 da Lei nº. 10.406/2002); dolo (art. 145 da Lei nº. 10.406/2002); coação (art. 151 da Lei nº. 10.406/2002); estado de perigo (art.156 da Lei nº. 10.406/2002); lesão (art. 157 da Lei nº. 10.406/2002); fraude contra credores (art. 158 da Lei nº. 10.406/2002). Nessas ocasiões, as ações previstas na norma original são maculadas por circunstâncias alheias ao suporte fático original — nas hipóteses do art. 166 da Lei nº. 10.406/2002, quando, celebrado por incapaz (I), ilícito, impossível ou indeterminado (II), celebrado por motivo ilícito (III), não se revestir da forma legal (IV), inobservância de rito legal (V), se tiver por objeto a fraude imperativa (VI) ou se a lei o declarar nulo. Já o plano da eficácia trata do conjunto entre a incidência da norma e a efetividade dos efeitos desta. Como exemplo, afirma que Pontes (2012, p. 73):A lei, desde que existe, lei é; todavia, raramente a lei começa a incidir e a ser aplicável desde que existe. Se, nela-mesma, publicada a 1º, ou noutra, do dia 1º, se diz que “entrará em vigor no dia 12”, há necessariamente, lapso entre a sua 91Norma e fato jurídico Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 91 18/05/2018 16:07:57 publicação, no dia 1º, e a sua vigência, de modo que surge a distinção conceptual entre existência e incidência da lei. A incidência é eficácia; porém eficácia não é só incidência. A incidência distingue-se da aplicabilidade; e.g. “os negócios jurídicos a serão regidos, desde 12 pela lei A, mas a justiça só aplicará a lei A, no ano próximo”. A aplicação, aí está suspensa sem que o esteja a incidência. Se, por exemplo, um tributo é criado pelo Congresso Federal, atendendo aos princípios da anterioridade e da anualidade, somente poderá vigorar a partir do próximo ano fiscal. Dessa forma, se um imposto rege uma relação de consumo (compra e venda de produto entre um fornecedor e um consumidor na forma do Código de Defesa do Consumidor) e essa relação se dá no mesmo ano em que a lei foi aprovada no Congresso, haverá incidência do suporte fático sobre o fato jurídico, muito embora os efeitos dessa norma (tributação) não serão observados, por força da norma não vigorar naquele momento. Portanto, embora o fato jurídico seja existente e válido, a tributação não encontra a eficácia normativa, eis que o tributo não é vigente ao tempo da incidência da norma. Conceituação e classificação do fato jurídico No estudo do Direito, é importante distinguir as fi guras do fato, da norma, do suporte fático e do fato jurídico, defi nindo os limites entre o mundo em que vemos acontecer os fatos e o que a doutrina chama de mundo jurídico. Para tanto, utilizaremos a obra de Pontes de Miranda (2012) e a sua classifi cação. Segundo Pontes de Miranda (2012, p. 59), no seu Tratado de Direito Privado, “A regra jurídica é norma com que o homem, ao querer subordinar os fatos a certa ordem e a certa previsibilidade, procurou distribuir os bens da vida”. Dessa forma, a norma jurídica nada mais é do que uma regra para subordinar ocorrências no campo dos fatos do dia a dia a uma consequência prevista no seu suporte fático e, portanto, ligando o fato ao chamado mundo jurídico. Segundo o autor Pontes de Miranda (2012, p. 59): Quando se fala de fatos, alude-se a algo que ocorreu, ou ocorre, ou vai ocorrer. O mundo mesmo, em que vemos acontecerem os fatos, é a soma de todos os fatos que ocorreram e o campo em que os fatos futuros se vão dar. Por isso mesmo, só se vê o fato como novum no mundo. Temos, porém, no trato do direito, de discernir o mundo jurídico e o que no mundo, não é mundo jurídico. Por falta de atenção aos dois mundos muitos erros se cometem e, o que é mais grave, se priva a inteligência humana de entender, intuir e dominar o direito. Norma e fato jurídico 92 Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 92 18/05/2018 16:07:57 Assim, da mesma forma que nosso mundo é um conjunto de fatos que ocorrem pela ação ou omissão das pessoas e dos seres que o habitam (ou mesmo por ações sofridas por seres inanimados), o mundo jurídico é composto por todos os fatos que possuem um suporte fático previsto em uma norma jurídica. É nesse sentido que alerta o autor que Pontes de Miranda (2012, p. 60): Aliás, é sempre de atender-se a que não é ao suporte fático que corresponde a eficácia. Os elementos do suporte fático são pressupostos do fato jurídico; o fato jurídico é o que entra, do suporte fático, no mundo jurídico, mediante a incidência da regra jurídica sobre o suporte. Só de fatos jurídico provém a eficácia jurídica. Dessa forma, a ligação entre o mundo jurídico e o mundo real, onde ocorrem os fatos de todas as naturezas, dá-se pela incidência da norma, que ocorre quando há correspondência entre o conteúdo de ações previstas na norma (suporte fático) e o fato em si. Por exemplo, se um adulto compra um jornal na banca da esquina, há uma norma jurídica correspondente a esse ato, na forma de um contrato de compra e venda, segundo o art. 418 do Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002, documento on-line): “Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”. Dessa forma, as previsões “obrigar-se”, “transferir o domínio” e “pagar certo preço em dinheiro” compõem o suporte fático da norma que incide sobre a ação de obrigação recíproca entre o vendedor e o adquirente, trans- ferindo o domínio do primeiro ao segundo mediante o pagamento do preço ajustado em dinheiro. Note que, caso a transferência de titularidade não houvesse sido ajustada na forma de dinheiro, por exemplo, a título não oneroso (sem custo), a norma do art. 418 não incidiria, mas a norma do art. 538 da mesma Lei, que trata dos contratos de doação: “Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra” (BRASIL, 2002, documento on-line). Ainda, caso a compra e venda se desse por parte de uma criança, comprando o jornal a pedido dos seus pais na mesma banca, mediante transferência de 93Norma e fato jurídico Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 93 18/05/2018 16:07:57 dinheiro no local, a norma do art. 418 não incidiria por força do art. 3º da Lei nº. 10.406/2002, que afirma que “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos” (BRASIL, 2002). Dessa forma, estaria tal fato excluído do mundo jurídico, ainda que reproduza efeitos no mundo dos fatos, uma vez que o suporte fático do art. 418 não alcança a possibilidade de realização de um ato da vida civil (contrato) por um menor de idade. Em resumo, para que um fato se relacione com o mundo jurídico, é necessário que este gere uma mudança no estado das coisas, tenha relação com o suporte fático previsto em uma norma jurídica e que os agentes que participaram desse fato possuam a capacidade prevista em lei. Já quanto a sua classificação, o fato jurídico pode ser categorizado pela sua licitude, pela presença ou não de pessoas ou pela presença ou não da vontade dessas pessoas. Assim, os fatos jurídicos podem ser considerados como fatos jurídicos stricto sensu quando não envolvem pessoas — por exemplo, a incidência de caso fortuito ou força maior, ocasião em que a força da natureza ou do acaso acabam interferindo nas relações jurídicas, causando ausência de culpabilidade ou nexo causal na responsabilidade civil entre partes de um negócio jurídico (como contrato de compra e venda de grãos perdidos em um tornado). O art. 393 da Lei nº. 10.406/2002 prevê que “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado” (BRASIL, 2002, documento on-line). Dessa forma, havendo caso fortuito ou força maior, não há que se falar em incidência da norma de perdas e danos do art. 389, uma vez que a irresistibilidade das forças naturais ou do acaso extrapolam a previsibilidade das partes, e, portanto, não podem gerar obrigações. Logo, uma vez que a relação de dano entre as partes é esvaziada pela ineficácia (não ocorrência de efeitos legais), a ocorrência do acaso ou fato natural irresistível possui relevância jurídica, eis que preenche o suporte fático legal; logo, é fato jurídico, em que pese não haja presença de pessoas. Quando há presença de pessoas envolvidas no suporte fático normativo, podem ser classificados em atos jurídicos, atos-fatos ou negócios jurídicos, po- dendo ter objetos lícitos ou ilícitos (permitidos ou não pela legislação vigente). Norma e fato jurídico 94 Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 94 18/05/2018 16:07:57 Assim, se há uma pessoa envolvida, que se obriga perante a uma ou mais pessoas por meio de uma declaração de vontade, esta produz o que se chama de ato jurídico,como é o caso de uma oferta em classificados ou em sites de compras virtuais. No entanto, se essa vinculação independe da vontade da pessoa, como quando da convocação obrigatória para serviço militar a partir dos 18 anos, conforme o arts. 2º e 5º da Lei 4.375, de 17 de agosto de 1964 (BRASIL, 1964), ocorre o fenômeno do ato-fato jurídico, em que a vontade da pessoa é irrelevante para a validade do fato jurídico. Finalmente, se há mais de uma pessoa voluntariamente se vinculando por meio de instrumentos legais, como é o exemplo do contrato de compra e venda, essas pessoas provocam a figura do negócio jurídico. Em suma, os fatos jurídicos podem ser classificados por sua licitude (atos lícitos e ilícitos), pela presença de pessoas na relação (fatos jurídicos stricto sensu ou lato sensu) ou pela ocorrência de vontade nessas relações entre uma ou mais pessoas (atos jurídicos, atos-fatos, negócios jurídicos). Fatos e negócios jurídicos Como visto nas seções anteriores, compõem os fatos jurídicos aqueles fatos que, por corresponderem ao suporte fático de determinada norma jurídica, adentram o mundo jurídico, podendo ser classifi cados como: fatos jurídicos stricto sensu, no caso de não envolverem pessoas; atos jurídicos, se correspondem à vontade de uma ou mais pessoas; atos-fatos, se independem da vontade, mas envolvem pessoas e negócios jurídicos no caso da expressão de vontade de uma ou mais pessoas. Segundo Silva (2004, p. 475): No campo dos fatos humanos, há os que são voluntários e os que independem do querer individual. Os primeiros, caracterizando-se por serem ações resul- tantes da vontade, vão constituir a classe dos atos jurídicos, quando revestirem certas condições impostas pelo direito positivo. Não são todas as que traduzem conformidades com a ordem jurídica, uma vez que as contravenientes às de- terminações legais vão integrar a categoria dos atos ilícitos, de que o direito 95Norma e fato jurídico Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 95 18/05/2018 16:07:57 toma conhecimento, tanto quanto dos atos lícitos, para regular-lhes os efeitos que divergem, entretanto, dos desvios, em que os atos jurídicos produzem resultados consoantes com a vontade do agente, e os e os atos ilícitos sujei- tam a pessoa, que os comete a consequências que a ordem legal lhes impõe (deveres ou penalidades). Na mesma valoração ontológica da lei, como dos atos jurisdicionais, à vontade individual tem o poder de instituir resultados ou gerar efeitos jurídicos, e então, a manifestação volitiva do homem, com o nome genérico de ato jurídico, enquadra-se entre as fontes criadoras de direitos, [...] é a noção de ato jurídico lato sensu que abrange as ações humanas, tanto aquelas que são meramente obedientes à ordem constituída, determinantes de consequências jurídicas ex lege, independentemente de vontade, polarizadas no sentido de uma finalidade, hábeis a produzir efeitos jurídicos queridos. A esta segunda categoria, constituída de uma declaração de vontade dirigida no sentido da obtenção de um resultado é que a doutrina tradicional denominava ato jurídico (stricto sensu) e a moderna denomina negócio jurídico. Assim, como resume Pontes de Miranda (2012, p. 141): O negócio jurídico é o tipo de fato jurídico que o princípio da autonomia da vontade deixou à escolha das pessoas. A pessoa manifesta ou declara à vontade; a lei incide sobre a manifestação ou declaração, ou as manifestações ou declarações de vontade. Pode-se dizer, então, que os negócios jurídicos são tipos da espécie ato jurídico que pertencem ao conjunto maior dos fatos jurídicos. Logo, essas manifestações de vontades expressas por pessoas dependem da contemplação de fatos do mundo real no suporte fático de determinada norma que os reveste de segurança jurídica. Pela sua relação com o fato jurídico, os negócios jurídicos também estão vinculados às noções de existência, validade e eficácia, e, portanto devem ser revestidos de forma legal, partes capazes, objeto lícito e estar de acordo com as normas gerais de conduta da sociedade em que foram formulados (boa-fé, ética, moralidade, etc.); não podem ter vícios de vontade, licitude ou forma e dependem da sua vigência e da observância de requisitos formais (como, por exemplo, registro em cartório, junta comercial ou outro órgão quando a lei exigir) para a geração de efeitos no mundo dos fatos. No entanto, os negócios jurídicos encontram requisitos especiais às demais espécies de fatos jurídicos como a existência de declaração de vontade entre duas ou mais pessoas, um objeto de caráter econômico e contraprestação sinalagmática à prestação pretendida. A forma de negócio jurídico mais comum e que evidencia a importância dessa categoria é o contrato. Ele depende de formalidades como a forma Norma e fato jurídico 96 Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 96 18/05/2018 16:07:57 escrita, a capacidade das partes e a licitude do seu objeto. Porém, o contrato ainda pode definir a totalidade das obrigações positivas e negativas entre as partes desse negócio jurídico, a forma específica de prestação e contraprestação no espaço e no tempo, as obrigações laterais essenciais ao cumprimento das obrigações principais, as condições de resolução do contrato especiais àquelas previstas em lei e mesmo o foro competente para a discussão das questões envolvendo essa relação especial. Em outras palavras, os negócios jurídicos são a forma mais complexa de criação de normas jurídicas específicas para as partes envolvidas em uma negociação, tornando o seu instrumento principal, o contrato, uma figura essencial para concretização da autonomia da vontade das partes. 1. A incidência da norma depende de: a) conhecimento prévio das normas pelas partes. b) correspondência entre o suporte fático da norma e o fato ocorrido. c) existência de vontade das partes. d) declaração expressa de vontade. e) consideração das partes em relação ao negócio proposto. 2. O negócio jurídico é: a) espécie de ato jurídico bilateral ou multilateral. b) espécie de ato-fato. c) espécie de fato jurídico stricto sensu. d) espécie de ato ilícito. e) espécie de ato jurídico unilateral. 3. A alternativa CORRETA em relação à dimensão do mundo jurídico e o seu efeito correspondente é: a) existência = capacidade. b) validade = suporte fático + fato correspondente. c) eficácia = eficiência da norma. d) validade = conformidade formal, capacidade das partes, licitude e conformidade com as normas sociais e ética locais. e) existência = conformidade formal, capacidade das partes, licitude e conformidade com as normas sociais e ética locais. 4. As espécies de fato são: a) fato natural, fato humano, fato consensual, fato bilateral. b) fato Jurídico, fato jurídico stricto sensu, ato jurídico, ato- fato, negócio jurídico. c) fato ideal, fato idôneo, fato ilícito, ato-fato, ato bilateral. 97Norma e fato jurídico Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 97 18/05/2018 16:07:59 BRASIL. Lei nº. 4.375, de 17 de agosto de 1964. Lei do serviço militar. 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4375.htm>. Acesso em: 13 out. 2017. BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 13 out. 2017. MIRANDA, P. de. Tratado de Direito Privado. São Paulo: RT, 2012. t. 1. NADER, P. Curso de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Leituras recomendadas LARENZ, K. Lehrbuch des Schuldrechts. Berlin: Beck, 1987. MIRAGEM, B. Direito Civil: direito das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2017. PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. v. 1. d) fato real, fato irreal, fato alternativo, fato estrito, Fato Jurídico. e) fato lícito, fato ilícito, fato negocial, fato natural. 5. Os vícios de existência são: a) não conformidade entre o suporte fático e os fatos ocorridos. b)erro, dolo, coação, não conformidade com costumes locais, não observância de forma. c) ausência de expressão de vontade das partes. d) falta de capacidade das partes. e) ilicitude do objeto do acordo. Norma e fato jurídico 98 Legislacao_Civil_Aplicada_I_BOOK.indb 98 18/05/2018 16:08:00 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR Nesta Dica do Professor, veremos as dimensões do mundo jurídico: existência, validade e eficácia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA A análise dos efeitos da existência do Fato Jurídico podem definir uma ação processual, conforme o caso a seguir: No caso acima, a parte ingressante discutira inexistência de dívida para com a outra parte que adquiriu o crédito em questão de parte cedente, tornando-se titular do direito. Uma vez comprovada a existência do débito e da relação entre o crédito e a parte cessionária (que adquiriu o crédito), houve constatação da regularidade da cobrança e inscrição no cadastro de inadimplentes do devedor. Assim, o exame de existência da relação jurídica (Fato Jurídico) pode resolver questões complexas de direito, bem como os demais conceitos aprendidos nesta UA. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Ser ou dever-ser, eis a questão: um resgate da fenomenologia da juridicização Ponteana Trata de uma análise da teoria do Fato Jurídico de acordo com o pensamento de Pontes de Miranda, trazendo mais elementos teóricos para o seu estudo Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Negócios Jurídicos Processuais Com o Novo Código de Processo Civil e a figura dos Negócios Processuais está se tornando cada vez mais importante na prática jurídica; saiba qual a sua relação com esta matéria. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Com quantos gigabytes se faz uma família O presente artigo traz uma aplicação moderna da teoria do fato jurídico através do estudo das relações no mundo da informática. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar