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AULA 1 AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM Prof. Armando Kolbe Júnior 2 CONVERSA INICIAL Na sociedade contemporânea, podemos observar um acelerado desenvolvimento tecnológico. Nesse contexto, precisamos compreender os Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo e Aprendizagem (SGCA) on-line, mais conhecidos como AVA, com um mínimo de conhecimento que permita uma atuação livre de medos e crenças, voltada para aprendizagem aberta. É uma bagagem que deve ser levada em todas as viagens efetuadas pelos agentes educacionais, pelos complexos meandros do ensino e aprendizagem em ambientes virtuais ou nos ambientes tradicionais enriquecidos com a tecnologia. TEMA 1 – ENSINANDO E APRENDENDO EM AMBIENTES VIRTUAIS Seguindo a linha de raciocínio adotada por Saviani (2013), a aplicação de diferentes ideias pedagógicas, nos primórdios da transmissão de conhecimentos entre os seres humanos, teve início no ambiente familiar. Com o aumento da vida social e profissional das pessoas, a educação dos filhos foi entregue para as escolas. O centro de discussões saiu do autoritarismo patriarcal e foi parar nas mãos e mentes de profissionais que estudaram especificamente sobre a educação, dos que agora podem ser mais bem nomeados como “filhos da sociedade”. Essa evolução ocorrida em um passado não muito distante começou a aceitar, ainda que de forma relutante, a intervenção tecnológica. O fator resistência inicial foi grande. Na atualidade, é possível pontuar as modificações das ideias pedagógicas e a sua aplicação como algo inelutavelmente ligado à evolução tecnológica. Essa evolução criou locais de ensinar e aprender estabelecidos em ambientes virtuais. Neles, a atividade educacional pode ocorrer diuturnamente. Ela não é mais restrita pela necessidade de encontros presenciais. Eles podem ocorrer com maior ou menor grau de necessidade, na dependência da área de conhecimento envolvida e das necessidades de aplicação supervisionada da teoria na prática. De acordo com Seeger, Canes e Garcia (2012), foi a partir desse momento que a busca de estratégias tecnológicas se uniu à incessante procura de novas ideias pedagógicas. Esse momento pode ser considerado como um ponto de inflexão importante na diminuição radical do fator resistência pedagógico, até 3 então existente. Os autores consideram importante ressaltar que a simples utilização da tecnologia não garante qualidade ao processo educacional em foco. Essa garantia pode ser assegurada via uma mudança de práxis, tanto docente quanto discente, incentivada pela mudança dos locais tradicionais de ensino e aprendizagem: os ambientes virtuais. É possível somar a essa recomendação a aceitação das novas formas de comunicação exigidas por uma nova geração digital. Segundo Mattar (2017), ela apresenta formas diferenciadas que iniciam uma nova era de comportamento no relacionamento entre professores e alunos. Segundo Miranda (2015), a ligação entre professores e alunos estão em franca decadência, em todos os ambientes, nos quais mudanças não estejam em andamento. Isso acontece em todos os demais ambientes e não apenas nos ambientes presenciais tradicionais. O que está sendo nomeado como novos locais de ensino e aprendizagem são as salas de aula eletrônicas. Elas são estabelecidas nos ambientes virtuais de ensino e aprendizagem. São citadas na bibliografia pertinente como locais de efetivação de momentos não presenciais, que podem ser parciais (no caso da efetivação do blended learning – aprendizagem mista) ou totais (no caso da efetivação do e-learning – aprendizagem eletrônica). Na atualidade, esses locais também são utilizados para ampliação do contato entre professores e alunos, em ambientes tradicionais de ensino e aprendizagem, na convivência da sala eletrônica com a sala de aula presencial. Todos esses ambientes são, então, denominados ambientes de aprendizagem (virtuais ou não) enriquecidos com a tecnologia. As metodologias inovadoras são desenvolvidas tendo em conta que a presença desses ambientes pode incentivar novas formas de ensinar a aprender. Elas são caracterizadas por uma mudança significativa no relacionamento entre instituições de ensino, corpo administrativo, corpo docente e corpo discente das instituições de ensino. São colocadas em marcha iniciativas que recebem um nome genérico: aprendizagens ativas. Das instituições de ensino, é exigido que elas reconheçam que a escola, com a estrutura ainda vigente na atualidade, passa por uma fase de transição profunda, mas na qual não se deve abrir mão de ainda continuar, segundo posição defendida por Luckesi e Malanga (2009, p. 15) a “[...] sinalizar os caminhos e compreender a necessidade de mudança, contribuindo com a produção e 4 transmissão do conhecimento para o desenvolvimento econômico, social e cultural da sociedade. Ao corpo administrativo, geralmente ausente do conhecimento da evolução da aprendizagem on-line e de características diferenciadas de atendimento, se coloca como desafio inovar na busca da retenção do aluno e de sua recuperação. Agora cabe a eles desenvolver uma parte interna de atividades de tutoria que, se não entra em contato direto com o aluno, dá elementos voltados para que os professores tutores melhorem a sua ação e prática profissional. Para os professores, são imperativas as necessidades das mudanças dos relacionamentos de poder com os alunos. É preciso também uma mudança na forma de desenvolver sua atividade de ensino, trocada por uma nova forma de agir. Nessa perspectiva, ele abandona a transmissão de conteúdos prontos e acabados e assume uma posição de orientador, que leva os alunos a uma caminhada para a descoberta dos novos conhecimentos. A aceitação da efetivação da aprendizagem adaptativa (Bilic, 2015) e da aprendizagem significativa (Moreira, 2012) se mostram como inadiáveis. Fato que surge quando se tem em mente o aumento da qualidade de ensino, como consequência direta de novos comportamentos adotados pelos agentes educacionais que atuam nos AVA. Todas as providências citadas até o momento perdem grande parte de sua eficácia se o aluno não abandonar o papel de receptor passivo e transformar sua atividade em aprendizagem ativa. É uma atitude que pode o levar a um nível superior de participação nas atividades previstas pelos projetos instrucionais de curso. A manutenção do interesse do aluno, durante todo o desenvolvimento de qualquer processo educacional, está posta como um desafio para a IE, seu quadro administrativo e seu quadro docente. Todos eles são, no objetivo comum, porto para os ambientes centrados no aluno: a obtenção de um elevado nível de satisfação e, consequentemente, a apresentação como resultado uma educação de qualidade. TEMA 2 – REPENSANDO A FORMA DE OFERTA DE CONTEÚDO Um dos primeiros desafios para a IE e para os profissionais que vão trabalhar com atividades de ensino e aprendizagem é uma necessária forma de adequação do conteúdo necessário à linguagem dos meios. Agora, para além da preocupação com o conteúdo, a forma de apresentação se soma para aumentar 5 a complexidade, de forma significativa, da oferta de materiais didáticos diferenciados. A preocupação filosófica e psicológica com a interface entre o ser humano e a máquina (MMI – Man Machine Interface) ocorre em tempos de previsões do surgimento da web 4.0, quando ainda não foi bem compreendido o que é a web 3.0. Essa situação traz o que para muitos representa uma ameaça: o avanço dainteligência artificial (IA) e das questões de web semântica levadas a um ponto nunca imaginado e repudiado por cientistas que trabalham em perspectivas sociais. Essas considerações são, muitas vezes, contrapostas ao interesse e bem- estar do ser humano, como é possível enxergar no discurso das pessoas que trabalham em perspectivas tecnológicas. Elas trabalham na perspectiva de enxergar o elemento humano não mais como protagonista, mas sim como elemento coadjuvante de menor importância. É uma visão que não agrada a muitas pessoas, mas que se torna cada vez mais real. Essa realidade é analisada por Masamune (2018) em sua controversa obra. Antes de seguir adiante, é necessária uma visão da evolução da grande rede. Segundo Nicolas Windpassinger (2017), apresenta-se uma evolução iniciada com a web 1.0, que apresentava as localidades da grande rede em operação com sites corporativos, direcionados por páginas estáticas. A segunda geração apontou no horizonte e marcou o ponto de nascimento dos sites de relacionamento, nos quais usuários se reuniam em comunidade. Surgiram os prossumidores (aqueles que são, ao mesmo tempo, autores e consumidores de informações e conhecimentos). O usuário passa a ter voz ativa. A internet ganha o status de maior fenômeno de comunicações criado pelo ser humano. A terceira geração aprofundou a organização e sistematização das informações. Surgem as primeiras pesquisas e discussões acadêmicas sobre a web semântica. Essa geração ainda se encontra ativa, mas se observa, na atualidade, um tempo de quarta geração. Sua presença ainda não é reconhecida por muitos. A web 4.0 tem como destaque atual a utilização da IoT – Internet of Things, traduzida como Internet das Coisas e ainda não muito bem compreendida na totalidade de suas possibilidades, grande parte ainda inexploradas. A Internet das Coisas é um conceito o qual dispõe que a maioria dos dispositivos que utilizamos diariamente está conectado entre si e pela internet. 6 Considera-se que o seu crescimento poderá alterar de forma significativa a forma como as pessoas interagem com diversos elementos tecnológicos de uso comum no seu dia a dia. Em seu contexto, surgem conceitos cada vez menos palpáveis e reais. Eles incluem temas tais como a mobilidade total e ubiquidade. São iniciativas que acabam por transformar a internet em algo diferente, como prometiam os desenvolvedores do sistema operacional experimental denominado Google Brillo, utilizado de forma interna pela sua fabricante. Segundo a visão de Newitz (2015), tudo na rede se transformará em componentes de um grande sistema operacional dinâmico e “inteligente”. Ele será capaz de, por si mesmo, ter condições de interpretar as informações e dados disponíveis, capazes de darem ao público uma nova forma de aceleração na tomada de decisões. Dessa forma, se prevê um aumento ainda maior da velocidade de processamento. A consequência é trazer, ao elemento humano, o receio de sua superação e o ingresso da humanidade na “era das máquinas”, algo repudiado por todos os sociólogos atentos aos efeitos que a tecnologia causa no contexto e nas pessoas. Esse projeto foi inicialmente criado como uma experiência interna de uma das gigantes do setor tecnológico. Na atualidade, ele evolui para outras fronteiras. Grande parte delas foi apresentada na conferência internacional da Google (Goggle I/O). Nela, foram expandidas as visões iniciais e trazidas novidades, algumas das estão com aplicação já iniciada (IoT) ou a iniciar em um futuro bem próximo. Em tal contexto, é fácil compreender porque muitas ações e práticas docentes não têm mais funcionalidade. Isso se deve ao fato de terem sido desenvolvidas em perspectivas que jogam os professores em um século passado, defasados do que acontece na evolução social subjacente. As iniciativas educacionais encontram obstáculos representados pelo desafio de repensar as formas de oferta de conteúdo e do próprio conteúdo. É uma proposta complexa e que traz consigo a exigência da efetivação de novos comportamentos. Somente o diálogo no material didático impresso não é mais suficiente. A conversão desse material para formato impresso, por maiores que sejam os cuidados como dialogicidade e interação, também não se mostram eficazes, como captadores e mantenedores da atenção do aluno. É na concentração multimídia, 7 acompanhadas por atitudes inovadoras, que se antevê uma solução favorável à obtenção da qualidade em iniciativas educacionais. O tratamento individualizado do aluno, que leva até a aprendizagem adaptativa, aparece como uma atitude desejável. Também se mostra necessária uma maior aproximação mercadológica. Ela pode vir a efetivar aprendizagem significativa. Contudo, todas essas medidas somente ganham consistência com as mudanças de comportamento de todos os envolvidos. O engajamento do aluno nas atividades de ensino e aprendizagem é fundamental e necessário, efetivando a aprendizagem ativa. Toda a tecnologia em movimentação representa uma construção complexa que inclui, como apresentado, mudanças extensivas e intensivas. Elas ocorrem de uma forma amplificada no ciberespaço, a designação considerada mais apropriada para a localidade sem tempo e sem espaço na qual os ambientes virtuais de aprendizagem (VLE – Virtual Learning Environments) são criados e se expandem em um processo contínuo. É inegável que essa situação afeta todas as pessoas que neles vão desenvolver a sua ação e prática profissional. É esta complexidade que impõe uma distinção entre as atividades de ensino e aprendizagem tradicionais, consideradas “normais”, daquelas que devem ser desenvolvidas para criação de ambientes virtuais de aprendizagem diferenciados. Eles deixam de serem vistos apenas sob um ponto de vista tecnológico e ensejam a criação e evolução de metodologias didáticas e pedagógicas diferenciadas. TEMA 3 – AMBIENTES VIRTUAIS E A FILOSOFIA DO USO DA TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO Muitos estudos desenvolvidos sobre os ambientes virtuais de aprendizagem não atingem a completude. Esse fato ocorreu devido ao fato de ignorarem a necessidade de um olhar com viés filosófico, mais profundo, sobre a utilização e influência da utilização da tecnologia em iniciativas educacionais. Essa visão é necessária para compreender porque muitos dos fatores de sucesso nessa iniciativa tratam de aspectos cognitivos, mesclados com aspectos que envolvem a psicologia pessoal. Feenberg e Beira (2015) destacam a importância desse tipo de abordagem. 8 Na atualidade, vivemos um tempo de superação das dúvidas colocadas sobre a utilização da tecnologia em educação. Inicialmente, o fator resistência atrasou em muito a necessidade que a IE acompanhasse o mercado de trabalho. Dessa forma, foi criada uma defasagem entre o profissional egresso da academia e o profissional desejado pelo mercado. Sem esse obstáculo, se torna mais facilitada a atividade de reflexão, em termos de analisar de forma mais profunda os efeitos que a adoção dessa proposta tem em comportamentos e atitudes dos agentes educacionais. Um dos primeiros destaques é a necessidade de uma mudança na perspectiva da formação de professores. Quando observamos e comparamos as grades curriculares de diferentes cursos de formação de pedagogos, vemos que ainda há um tratamento inexistente ou superficial, sobre as formas de utilização das tecnologias. Esse fato retira de muitos bons professores a capacidade de desenvolver conteúdo adaptado à linguagem dos meios. Essa incapacidade inicial se estende à ausência de uma expertise necessária para que os professores possamdesenvolver atividades de utilização de um vasto ferramental, hoje colocado à sua disposição em ambientes virtuais de aprendizagem. Esse fato faz com que alguns professores, para evitar o constrangimento do enfrentamento de alunos mais capacitados tecnologicamente, acabem por omitir a utilização das tecnologias existentes. É um procedimento que desconsidera os benefícios didáticos e pedagógicos que poderiam advir em benefício do aumento da qualidade das atividades de ensino e aprendizagem em ambientes enriquecidos com a tecnologia. Barbosa Filho (2015) considera que a ligação existente entre a tecnologia e crescimento econômico destaca ainda mais o erro dessa abordagem. Segundo o autor, o relacionamento da IE com o mercado corporativo se mostra como uma necessidade inadiável, pois ela ainda pode ser considerada como o local em que há maiores possibilidades de aquisição de conhecimentos, afastado de fatores de dominação política. Do exposto pelo autor, decorre que quanto maior a utilização correta dos ambientes virtuais de aprendizagem, maior e mais qualitativo o conhecimento adquirido e a evolução econômica, na busca do bem-estar social (Welfare State). Felizmente, na visão do autor, há aumento da colaboração da tecnologia da informação. Quando ela é aplicada à aquisição de novos conhecimentos, pode 9 ser considerada como tecnologia educacional. Sua meta é colaborar na melhoria da qualidade e no aumento do volume de transferência de tecnologia, com maior disseminação de conhecimentos nos países em desenvolvimento. A expectativa de retorno é obter uma diminuição sensível do abismo tecnológico que ainda é possível perceber no contexto da sociedade contemporânea. Voltando aos estudos de Feenberg e Beira (2017), é importante reconhecer a colocação dos autores, quando colocam a tecnologia educacional como parte integrante do estudo da filosofia da ciência e orientam no sentido de que ela pode ser vista a partir de diferentes ângulos. O que mais interessa nesse nosso estudo é o destaque dado a uma visão utilitária, maior que a preocupação com a busca da verdade, ou com seus efeitos políticos, mesmo que seja aceita a posição de que a tecnologia não é neutra. Os autores consideram que a preocupação maior da tecnologia é com a utilidade do resultado que pode ser obtido com a aplicação de um ferramental tecnológico diferenciado. Esse “divórcio”, se aceito, não diminui o resultado dos estudos ao prescindir de incluir aspectos políticos e sociais no resultado. Essa visão representa o aprofundamento filosófico necessário no estudo dos ambientes virtuais de aprendizagem enriquecidos com a tecnologia. Esse posicionamento permite focar a busca na capacidade que deve ter a interface proposta para motivar e manter aceso o interesse do aluno, durante todo o percurso de alguma iniciativa educacional. A usabilidade ganha lugar de destaque e é um dos principais fatores de valorização de uma boa interface entre o ser humano e a máquina. Questões de ergonomia cognitiva podem, então, serem enfocadas em localizar como os processos mentais, relacionados com a percepção, memória, raciocínio e resposta motora, podem afetar em maior ou menor grau as interações entre o ser humano e as máquinas. Aspectos políticos, sociais e relacionados com crenças, são deixados de lado, sem que se reflitam na qualidade do resultado, quando se tem em mente a utilidade do resultado, conforme foi destacado anteriormente. Não se descarta a consideração de tais aspectos em outros tipos de estudo desenvolvidos. Essa racionalidade, diretamente relacionada com a utilidade da interface, deve estar dosada no sentido de evitar um desvio de consideração da tecnologia como predominante sobre qualquer outro aspecto. Essa não é a proposta de focar o estudo dos ambientes virtuais, além de ser prejudicial ao adotar um tecnicismo 10 indesejável que em nada contribui com o propósito de evitar, a todo o custo, que estudos que incluem a tecnologia, venham a desviar para a tecnocracia. O fato de o estudo estar inserido em uma sociedade de base tecnológica, aumenta a importância das considerações que estão sendo efetuadas. Elas são tidas como consequência de uma abordagem mais aprofundada do tema escolhido, de acordo com princípios relacionados com o método científico, mas sem ceder à utilização exclusiva de uma visão positivista nem submissão a algum sistema de crenças. É importante, então, saber escolher a forma mais correta de analisar os efeitos da tecnologia no trato educacional, exatamente o que exige uma visão mais aprofundada sobre o tema. Uma proposta com essas características facilita a obtenção de ideias inovadoras. Seu estudo, como objeto de um estudo filosófico mais aprofundado, apresenta resultados mais favoráveis para a obtenção de sucesso ao definir os componentes que devem apresentar um ambiente virtual de aprendizagem e quais as ações mais eficazes resultantes de um planejamento estratégico mais detalhado e analisado em suas consequências. TEMA 4 – CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO APOIADO NA INTERNET A evolução da internet e seu estabelecimento como maior fenômeno na área de comunicações em toda a história da evolução humana sugeriu a sua utilização como possíveis locais nos quais seria possível a construção do conhecimento. Dessa forma, a grande rede passou a integrar o elenco de sistemas baseados no conhecimento, praticamente todos eles apoiados em tecnologias exponenciais que, segundo Serrate (2017), são aquelas que superam a limitação do pensamento linear, tais como inteligência artificial, robótica, biologia sintética e nano materiais. Há um reconhecimento tácito da comunidade que, com a tecnologia de ponta na qual está imersa, a grande rede, abrangendo diferentes técnicas, metodologias e estabelecimento de paradigmas a cada inovação que surge, se reafirma como um local adequado para criação de novos conhecimentos. Um dos exemplos mais citados no campo da educação são os tutores inteligentes on-line (TIO), que baseiam a sua ação e resposta apoiados nos fundamentos da inteligência artificial. 11 Há diversos outros exemplos que podem ser citados. Para além da indústria voltada para atividades educativas, diversos outros campos podem ser beneficiados com o elevado barateamento dos custos que ela apresenta, principalmente no caso de aplicações massivas em todas as áreas do conhecimento, independentemente do grau de individualização exigido pelos clientes. Outra área de grande interesse, focada no mercado corporativo, são os sistemas de apoio à decisão, apoiados em sistemas cada vez mais elaborados e que tratam da indústria big data, fazendo da profissão de analista de dados uma das mais promissoras em termos de ganhos financeiros na área da tecnologia da informação. Ganham os sistemas de informações gerenciais a ponto de somente poderem ser efetuadas previsões de curto prazo, sobre a sua evolução. Os exemplos se sucedem e as estatísticas assustam. Aquelas que levantam o montante de dados na grande rede apontam que ele dobra a cada 20 meses. Outros dados levantados pelo instituto Big Data Business Hakima (2017) são impressionantes. Há outras linhas de pesquisa que analisam um direcionamento do mercado de trabalho em direção ao home working, que cria novas formas de relacionamento entre patrões e empregados, trazendo aumento significativo na economia informal. A combinação dos elementos de destaque, analisados pelo relatório citado (internet, inteligência artificial, robótica, biologia sintética e nano materiais) é explosiva e apresenta muito a oferecer em nível de aumento de conhecimentos.Cada vez mais a internet se mostra imprevisível e um campo fértil para que os escritores de ficção científica liberem a sua criatividade, com sugestões que podem se tornar realidades nunca antes imaginadas. A pesquisa de dados (data mining), a consequente atividade de armazenamento (data warehousing), com analistas de um volume de informações nunca processada (Data Analisys). O volume de dados coletados traz, sem paralelo e de forma global, um crescimento acelerado na atividade do aprender pela pesquisa. Essa é uma linha metodológica inovadora, postulada por muitos pesquisadores como uma das formas mais eficientes de aprender a aprender. O aluno busca fontes confiáveis, recolhe os dados relevantes e passa a ter condições de processamento de um elevado volume de informações que se transformam em novos conhecimentos. 12 Os pesquisadores se tornam a cada momento mais sofisticados. Reconhecimento de fala, o acompanhamento inteligente e recursos multimídia dão aos usuários as ferramentas que antes, devido ao seu alto custo, somente eram utilizadas por pessoas com recursos ou grandes empresas. O nivelamento que ocorre é por cima e todos passam a ter chances igualadas, não mais determinadas pela supremacia financeira. Nesse aspecto, a grande rede revela uma face altamente democratizada. Porém, o fato de a rede em banda larga (alta velocidade) não existir em nível global ainda faz com que muitas dessas promessas não possam ser cumpridas. Vivemos a era dos programas aplicativos, os conhecidos APPs abrem para os telefones celulares inteligentes a posse de um potente computador manual miniaturizado. Diversão, trabalho e compromissos dos mais diferentes teores confirmam a ubiquidade, também relacionada como uma das características da evolução da internet. Com esses pequenos programas aplicativos, os usuários podem rodar localmente todo um conjunto de aplicações colocados à disposição em um nível global. Os antes estreitos domínios de aplicações disponíveis para a internet se abrem em um leque extenso de aplicações, as mais diferenciadas possíveis. A interface entre o ser humano e a máquina passa a ter maior aceitação e despertar o interesse de usuários diminuindo resistências em todas as áreas, tais como, por exemplo, a leitura em meios digitais, cada vez menos rejeitada. Há toda uma série de cuidados recomendáveis para os usuários dos telefones inteligentes Tais precauções não limitam a utilização extensiva desses meios, que trazem a mobilidade total para todas as pessoas que têm acesso a um desses dispositivos móveis e a uma largura de banda que suporte diferentes tipos de aplicações. A queda da privacidade das pessoas, em um nível nunca presenciado, traz novamente a imagem do grande irmão (Orwel, 2009) a lume, por meio da pena dos escritores de ficção científica, para os quais se abre um futuro cada vez mais promissor. Em meio a tantas vantagens, o problema da pirataria aumenta em uma proporção que nunca encontrou terreno tão fértil e a internet equipara atitudes politicamente corretas com atitudes politicamente corretas, em igual peso. Gates (1999) acertou nas previsões e na denominação da internet como a estrada do futuro, pela qual circulariam todas as informações criadas pelo ser humano. Aplicativos e arquivos encontram na “computação em nuvem” recursos de armazenamento e processamento praticamente incomensuráveis. Uma das 13 gigantes da tecnologia coloca à disposição dos usuários um guia de orientação e considera essa tecnologia como sendo o fornecimento de serviços de computação (servidores, armazenamento, bancos de dados, rede, software) colocados à disposição de todo, com ou sem custo na dependência do serviço e seu volume. Ela representa uma grande mudança (uma disrupção no sentido estrito) na forma tradicional de pensar os serviços da tecnologia da informação que são oferecidos para empresas do mercado corporativo e para instituições de ensino. Podem ser consideradas como presentes a diminuição de custos com compra de softwares e com dispositivos de armazenamento: o aumento de velocidade, a racionalização no acesso a dados, sem necessidade de transporte entre diferentes localidades, são as suas grandes atrações. O aumento da largura de banda e o barateamento de serviços e armazenamento, traz a idade do streaming para uma nova realidade. Os dinossauros da tecnologia da informação observam cada vez mais assustados a evolução na oferta de músicas, vídeos, filmes completos, a um baixo custo ou oferecidos como pirataria, indústria que definitivamente se incorpora no panorama social atual. O pagamento por demanda se estabelece como uma nova forma de negociar. O usuário paga apenas por aquilo que ele realmente utiliza. Essa é uma das razões do barateamento de diversos serviços web disponíveis para os usuários. A internet das coisas traz grandes promessas e seu “casamento” com as tecnologias vestíveis e computação móvel promete cuidados médicos e serviços de acompanhamento a distância. Com relação ao segmento educacional, as diferentes formas de efetivação do ensino e aprendizagem a distância ganham consistência e aceitação do mercado. Um pouco menos assustadora que a evolução da inteligência artificial, um dos seus ramos, o conhecimento armazenado por sistemas especialistas apresenta uma evolução sem paralelo em nenhum tempo anterior. Os serviços de raciocínio baseados em casos progridem e grandes bases de dados históricas, com informações facilmente recuperáveis, são colocadas à disposição. Parece não estar distante o tempo de armazenamento digitalizado de todo o conhecimento criado pela humanidade, desde que as informações passaram a ser registradas. 14 Os serviços 24 x 7 x 365 também proliferam e garantem disponível e garantidas as informações armazenadas nessa perspectiva. A segurança é o grande problema. Há considerações consistentes que afirmam que nada do que é colocado na grande rede tem defesa. Tudo pode ser pirateado. Apesar das negativas dos fabricantes dos mais diversos produtos da tecnologia da informação, esta parece ser uma realidade inquestionável. TEMA 5 – CIBERPEDAGOGIA OU PEDAGOGIA DIGITAL Os termos ciberpedagogia ou pedagogia digital começaram a ser tratados na virada do século passado, quando a evolução da internet faz com que sua utilização fosse efetivada, de forma extensiva, em diferentes segmentos do conhecimento humano. Até hoje, os termos são utilizados como sinônimos o que nos levou, devido à uma preferência deixada manifesta pelos próprios professores, a tratar o tema com a nomenclatura de menor impacto: pedagogia digital. Para qualquer termo, é possível obter uma definição tão simples quanto se queira; o que vamos fazer com relação ao termo pedagogia digital, deixando o desmonte da complexidade para a evolução do tratamento do conteúdo desse capítulo. Dessa forma, é possível assinalar que a pedagogia digital representa a ciência ou arte de ensinar em ambientes virtuais de aprendizagem enriquecidos com a tecnologia (Aparici, 2009). Os estudos no campo estão concentrados nos métodos que venham a tornar mais racional a utilização de metodologias inovadoras. Essa é a proposta colocada como desafio para os professores (salas de aula invertidas, aprendizagem baseada em problemas, aprender pelo erro, entre outras das denominadas metodologias ativas). O tratamento separado da pedagogia digital, em relação à pedagogia tradicional, é necessário devido a uma maior complexidade, que apresenta o trabalho de ensinar com utilização da mediação tecnológica, do que aquele desenvolvido nos ambientes tradicionaisde ensino e aprendizagem. No início da utilização do termo, apesar do interesse demonstrado por alguns professores, a grande maioria ainda apresentava um grande fator resistência. Era uma consequência devida ao medo do desconhecido e a um insuspeitado e injustificado medo de perda da zona de conforto, na qual muitos 15 docentes trabalhavam, escondidos da utilização da mediação tecnológica. Comentários mais radicais consideravam que professores que tinham medo de perder seu lugar para as metodologias tecnológicas já se encontravam fora do mercado. Ainda assim, muitos sobreviveram e dão continuidade a desenvolver seus trabalhos com utilização das metodologias tradicionais. Essa é uma das situações a ser superada, pois os resultados de tal decisão são prejudiciais sob todos os aspectos, tanto para os professores quanto para os alunos. A utilização da tecnologia em iniciativas educacionais inicia, então, uma escalada que a trouxe até hoje com uma aceitação quase que total no segmento acadêmico. A docência digital representa, ainda que cercada de outras razões e justificativas, a efetivação da mediação diferenciada a ser efetivada pelos professores entre os alunos e o conteúdo, com intervenção da tecnologia. A prática recebeu a designação de comunicação didaticamente guiada. Ela foi uma das primeiras teorias que deu sustentação à efetivação do ensino a distância. Tal fato ocorreu quando foi desenvolvido um estudo com a comunidade europeia por um grupo de pesquisadores (Sewart; Keegan; Holmberg, 2005). O trabalho desenvolvido produziu um referencial teórico sustentável para o setor, que estava sob suspeição de falta de qualidade, sendo relegada a um segundo plano acadêmico. O ensino a distância era tido como ensino por correspondência, processo de qualidade inferior, quando comparado com a formação acadêmica em ambientes tradicionais de ensino e aprendizagem. O ensino a distância atingiu estabilidade no Brasil, como decorrência de um posicionamento dos órgãos reguladores da educação. A principal medida foi a regulação e controle da qualidade nos polos de apoio presenciais, um dos elementos de sustentação da arquitetura EaD, como ela foi criada e é mantida em nosso país. Outro aspecto de vital importância ganhou destaque: a formação diferenciada dos professores. A partir daí o termo docência digital ganhou destaque e superou as resistências, se não totalmente, pelo menos para um bom número de professores, felizmente a maioria. Essa necessidade decorre de um meio de campo mais complexo para o ensino a distância do que aquele necessário para o desenvolvimento da docência tradicional. Um dos frutos do trabalho dos pesquisadores, autores desse trabalho, foi a montagem de uma proposta 16 diferenciada de formação, em um curso de pós-graduação que seguirá a grade curricular apresentada na Tabela 1. Tabela 1 – Montagem de proposta de formação diferenciada Unidade Descrição Carga horária 01 A sociedade e a economia do conhecimento 60 horas 02 Novos locais de ensino e aprendizagem 60 horas 03 Aprendizagens e formas de aprender 60 horas 04 Aprendizagens ativas 60 horas 05 Novos papeis docentes na sociedade digital 60 horas 06 Tecnologia educacional 60 horas Trabalho de conclusão de curso Fonte: Sewart; Keegan; Holmberg, 2005. O curso deve ser desenvolvido com suporte de um ambiente de alta tecnologia e, aos alunos, será proposto um processo de imersão total no ambiente virtual enriquecido com a tecnologia, com assistência tutorial desenvolvida na modalidade de aplicação dos fundamentos do coaching educacional, desenvolvido nos mesmos moldes que o coaching executivo, para o qual se espera resultados igualmente positivos. Em termos de metodologia diferenciada, as aprendizagens ativas, também objeto de estudo, serão aplicadas, tornando o estudo reflexivo e autoaplicado, a ser vivenciado pelos alunos como aplicação da teoria que estarão estudando, diretamente na prática e ação desenvolvida na fase de estudos. A aprendizagem baseada em problemas, o incentivo à aprendizagem em grupos e apoio de tecnologia de ponta, completam um quadro que se espera venha a ser favorável em termos de obtenção de um resultado altamente qualitativo ao final do processo de formação proposto. O projeto prevê um nivelamento administrativo, docente e discente na utilização das tecnologias para esses agentes educacionais envolvidos no processo. Com essa proposta, se afasta qualquer receio que o docente venha a enfrentar problemas com relação a alunos que tenham uma formação anterior mais apurada, nos conhecimentos tecnológicos necessários. 17 Tanto esse primeiro módulo quanto o acompanhamento de um trabalho monográfico, não mais obrigatório, mas que pode ser escolhido pelo aluno como uma alternativa à solução de um problema escolhido de forma individual ou por grupos de trabalho, não constam da carga horária obrigatória. Se essa for a opção do aluno, ela será registrada na grade curricular final. A flexibilidade prevista oferecerá ao aluno a possibilidade de escolha da forma que ele deseja ser avaliado (solução do problema, entrega de monografia ou entrega, apresentação com defesa da monografia de conclusão do curso). Ao adotar essa linha de raciocínio, de proporcionar ao corpo administrativo, aos professores e aos alunos, um programa de nivelamento tecnológico, a instituição de ensino atua em uma linha de investimento no seu próprio capital intelectual. É uma das providências que revela, quando ignorada a extensão da falha, que provoca elevadas taxas de evasão em cursos ofertados na modalidade EaD. Elas podem ser observadas independentemente do tamanho que venham a ter as salas de aula eletrônicas, o local de ensino utilizado pelas escolas digitais, tema de estudo de nosso capítulo seguinte. 18 REFERÊNCIAS MATTAR, J. Metodologias ativas para a educação presencial blended e a distância. São Paulo: Artesanato Educacional, 2017. MIRANDA, G. S. S. Tecnologia, interação e interatividade: desafios para o docente em ambientes virtuais de aprendizagem. 121 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, 2015. Disponível em: <http://www.univas.edu.br/me/docs/dissertacoes2/17.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2018. MOREIRA, M. A. O que é afinal a aprendizagem significativa? Qurriculum, La Laguna, 2012. Disponível em: <http://moreira.if.ufrgs.br/oqueeafinal.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2018. MUNHOZ, A. S. O estudo em ambientes virtuais de aprendizagem: um guia prático. Curitiba: InterSaberes, 2013. SAVIANI, D. A história das ideias pedagógicas no Brasil. São Paulo: Autores Associados, 2013. SEEGGER, V.; CANES, S. E.; GARCIA, C. A. X. Estratégias tecnológicas na prática pedagógica. Monografias ambientais, Santa Maria, v. 8, n. 8, p. 1.887-1.899, ago. 2012. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/remoa/article/view/6196/3695>. Acesso em: 3 dez. 2018.
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