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Anais 2016: 18ª Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes. “A prática interdisciplinar alimentado a Ciência”. 24 a 28 de outubro de 2016. ISSN: 1807-2518 1 Leucopenia Secundária ao Uso de Glicocorticóides Igor Ventura Brandão, e-mail: igorventura_jap@hotmail.com; Anne Caroline Santos Ramos, e-mail: annecaroline.9@hotmail.com; Isana Carla Leal Souza (Orientadora), e-mail: isanacls@hotmail.com. Universidade Tiradentes/Liga Acadêmica de Hematologia – LiAH/Aracaju, SE. 4.00.00.00-1 Ciências da Saúde 4.01.01.05-3 Hematologia RESUMO: O cortisol é um hormônio proteico produzido pela adrenal com a função de estimular a mobilização energética e atuar sobre o sistema imune. Com isso, os corticoesteróides, medicamentos com estrutura química semelhante ao cortisol, são utilizados amplamente na medicina. Embora seus efeitos colaterais sobre o humor, peso, metabolismo e sistema imunológico sejam desagradáveis, seu uso é recorrente em diversas patologias inflamatórias. A ação do corticóide sobre a imunidade reflete no hemograma com leucograma muitas vezes alterado, apresentando neutrofilia e baixa nos demais elementos figurados. O objetivo deste trabalho foi analisar as alterações hematológicas e imunológicas do uso de corticoesteróides, utilizando como referência artigos de bases de dados virtuais. Foi observado que a leucopenia é decorrente da interferência do corticoide sobre a apoptose e liberação medular, já a neutrofilia, por diminuição no tempo entre os ciclos celulares. Palavras-chaves: Alterações hematológicas, Imunossupressão, Glicocorticóides. INTRODUÇÃO Amplamente utilizado em diversos tratamentos de doenças, os glicocorticóides (GC) são conhecidos como as mais potentes drogas anti-inflamatórios conhecidas. De origem esteroidal estes hormônios são utilizados em doses, situações e tempo não padronizado justamente por sua ampla utilidade (BARBOSA e TAVARES-NETO, 2015). Tal não uniformidade possibilita o surgimento de vários efeitos colaterais. Sua produção endógena é realizada pelas glândulas supra-renais mais precisamente na região do córtex adrenal e seu estímulo depende de hormônios precursores como CRH (Hormônio Corticotrófico Hipotalâmico) e ACTH (Hormônio Adeno-Corticotrófico) que correspondem ao eixo hipotálamo-hipófise (YOSHIDA et al., 2016). Tais efeitos vão desde artralgias, soluço, arritmias, hipotensão ou hipertensão com alteração de eletrólitos que podem evoluir para morte súbita. Desse modo a administração de GC sintéticos precisa ser monitorada e estudada constantemente. Alguns outros efeitos são conhecidos como a alta capacidade imunossupressora e anti-inflamatória. No entanto, o que chama atenção é que embora seu efeito seja supressor algumas células sanguíneas passam a aumentar na presença de picos hormonais de GC altos, como no caso dos neutrófilos. Em vista disso, o presente trabalho tem como objetivo discorrer de maneira revisional sobre neutrofilias geradas por uso de glicocorticóides. (DAMIANI, 2001). REVISÃO DE LITERATURA Produzida pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, os glicocorticóides são secretados com base em três mecanismos: Retroalimentação negativa, que corresponde a inibição de hormônios percussores do cortisol em resposta aos níveis séricos elevados do GC; Estresse, que estaria ligado ao aumento do ADH; e ciclo circadiano (WY, 1976; ERRANTE et al., 2014). No organismo, o GC de fração livre associa-se a célula e realiza difusão passiva agindo diretamente no receptor de glicocorticóide citoplasmático, este que por sua vez transporta a molécula até o núcleo onde o hormônio realiza alterações de transcrição de genes ligados a disparos inflamatórios promovendo inibição de fatores como AP1 e NF-B. Em resposta há a redução do exsudato leucocitário, moléculas pró-inflamatórias, fatores estimuladores de crescimento, proteases e outros, além da inibição da COX 2 (Ciclo-Oxigenase 2). E além desse mecanismo, há outro onde a ação genômica é dada através de relações proteína-proteína, sem ligação ao DNA. Nesse caso a ligação no núcleo com os elementos de resposta de glicocorticóides (GREs) não é feita, e os GC ativam o fator AP-1 que acaba inibindo transcrições de citocinas, fosfolipases A-2 e ativadores de plasminogênio (OLIVEIRA et al., 2015). Por esses motivos citados acima o emprego dos GC é feito para doenças autoimunes ou alérgicas graves como Lúpus eritematoso sistêmico, Vasculites e Dermatite de contato. (PEREIRA, 2007) Anais 2016: 18ª Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes. “A prática interdisciplinar alimentado a Ciência”. 24 a 28 de outubro de 2016. ISSN: 1807-2518 2 RESULTADOS E DISCUSSÃO Naturalmente, o cortisol que é o glicocorticóide endógeno responde a um ciclo circadiano, ou seja, possui picos durante as 24 horas do dia onde atinge seu ápice às 8 horas da manhã reduzindo a 50% de seu nível às 16 horas e apresentando seu menor nível ao final das 24 horas (WEITZMAN, 1976). Porém, seu aumento pode mostrar-se alterado em algumas situações como na de estresse corporal na qual o hormônio eleva seus níveis em mais de 80% ou em casos onde o indivíduo apresente irregularidade do sono alterando toda a fisiologia. Sua distribuição pelo organismo é feita em 95% ligada a proteínas (transcortina em doses baixas do hormônio, e albumina em doses altas) (ERRANTE et al., 2014). As respostas a tais ações empregadas pelos glicocorticóides no organismo são claramente de imunossupressão, já que os estimuladores inflamatórios e de crescimento imunocelular estão reduzidos ou inibidos (FAIÇAL e UEHARA, 1998). Dentre os achados hematológicos há eosinopenia, monocitopenia, neutrofilia e linfocitopenia, além de influência mínima na eritropoese aumentando a concentração da hemoglobina e massa eritróide. A ação do hormônio também afeta o aporte leucocitário nas regiões inflamadas reduzindo a resposta inflamatória no disparo de interleucinas, moléculas de adesão, quimoquinas e outras. No caso da linfocitopenia há maior comprometimento dos linfócitos T (LIMA, 2007). Os eosinófilos e monócitos perdem em número e funcionalidade, pois a liberação medular é afetada, a apoptose celular é estimulada e inferindo no recrutamento de macrófagos para sítios inflamatórios. (PEREIRA, 2007). Em contrapartida, a neutrofilia apresentada corresponde a diminuição do ciclo celular, isto é, renovação de neutrófilos circulantes por conta do déficit fagocitário dos macrófagos atrelada a redução da presença marginal ao endotélio onde essas células passam a circular pelos vasos sanguíneos mais centralmente. (ANTI, 2008). Tal quadro é caracterizado como neutrofilia secundária, na qual há maior liberação neutrofílica da medula óssea para circulação periférica associada também a redução de permeabilidade endotelial, anexina e vasoconstricção impedindo processo de diapedese, não há déficit funcional neutrofílico. (INSAUSTI, 2012). A utilização prolongada de corticóides interfere na imunidade contra vírus por alterar as funções das células T helper 1 e 2, diminuindo a imunidade celular. Entretanto, não há prejuízos na imunidade contra bactérias, pois a neutrofilia causada pelo GC mantém a função celular, possibilitando a fagocitose de bactérias durante o uso do medicamento (DAMIANI, SETIAN e DICHTCHEKENIAN, 1984). CONCLUSÕES O tratamento com glicocorticóides mesmo que sendo muito útil contra quadros de doenças graves ou processos alérgicos agressivos, necessita ser avaliado cuidadosamente quanto as suas vantagens e desvantagens. No presente trabalho foram apresentadas apenas alterações hematológicas, mas que são de extrema importância já que uma imunodepressão acentuada aumenta as chances de infecções e ressurgimento de viroses latentes. Portanto, o acompanhamento junto ao laboratório durante o tratamento é essencial para o bom prognóstico do paciente. AGRADECIMENTOS Agradecimentosem especial para a Liga Acadêmica de Hematologia da UNIT pela oportunidade de levantar questionamentos relevantes quanto ao uso de determinados medicamentos. REFERÊNCIAS ANTI, S. M. A.; GIORGI, R. D. N.; CHAHADE, W. H. Anti- inflamatórios hormonais: Glicocorticóides. Revista Albert Einstein. Supl 1:S159-S65. São Paulo, 2008. BARBOSA, C. L. O.; TAVARES-NETO, J. Associação entre aumento da pressão intraocular e corticoterapia inalatória em asmáticos. 2015. 41 p. Trabalhos de conclusão de Graduação – Faculdade de Medicina da Bahia. Universidade Federal da Bahia, 2015. DAMIANI, D.; et al. Corticoterapia e suas repercussões: A relação custo-benefício. Revista de Pediatria (1):71-82. São Paulo, 2001. DAMIANI, D.; SETIAN, N.; DICHTCHEKENIAN, V. Corticoesteróides: Conceitos básicos e aplicações clínicas. Revista de Pediatria, 6: 160-166, 1984. Anais 2016: 18ª Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes. “A prática interdisciplinar alimentado a Ciência”. 24 a 28 de outubro de 2016. ISSN: 1807-2518 3 ERRANTE, P. R.; MENEZES-RODRIGUES, F. S.; TAVARES, J. G. P. et al. Mecanismos de ação e resistência ao uso de glicocorticóides. Revista de Pesquisa e Inovação em Farmacologia, 6 (2): 01-11, 2014. FAIÇAL, S.; UHERARA, M. H. Efeitos sistêmicos e síndrome de retirada em tomadores crônicos de corticosteróides. Revista da Associação Médica Brasileira, 44 (1): 69-74, 1998. INSAUSTI, C. G.; et al. Enfermedades leucocitarias. Medicine. 11 (21): 1259-67. Murcia, Espanha. 2012. LIMA, H. C. Facts and myths about immunomodulators. Anais Brasileiros de Dermatologia, 82 (3): 207-221, 2007. OLIVEIRA, S.; MENDES, B.; BRANCO, J. P. et al. Corticosteroid Injection for Treatment of Shoulder Pain. Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação, 27 (1): 14-21, 2015. PEREIRA, A. L. C.; et al. Uso sistêmico de corticosteroides: Revisão da literatura. Revista de Medicina Cutánea Íbero-Latino-Americana. Rio de Janeiro 2007. WEITZMAN, E. D. Circadian Rhythms and Episodic Hormone Secretion in Man. Annual Review of Medicine, 27: 225-243, 1976. WY, A. U. Cortisol stimulation of parathyroid hormone secretion by rat parathyroid glands in organ culture. Science, 193: 1015-1017, 1976. YOSHIDA, S. Y.; SILVA, A. P. D.; RIBEIRO, A. P. et al. Orientação farmacêutica na prevenção da rinite alérgica. Pesquisa e ação, 2 (1): 1-6, 2016.
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