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8ºaula Indução e indutância Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • definir a força eletromotriz induzida e a corrente induzida; • aplicar a lei de Faraday considerando uma variação uniforme do fluxo magnético; • compreender a relação entre o sentido da força eletromotriz e variação do fluxo magnético; • resolver exercícios de indução e indutância, assim como de indutância mútua e autoindutância. Caros(as) alunos(as), Nesta aula 8, inicialmente, foram apresentados dois experimentos para a introdução dos conceitos de força eletromotriz e corrente induzida, determinadas pela variação do fluxo magnético em intervalo de tempo, como expresso pela lei de Faraday, na seção 2, onde também é aplicada a bobinas. Na seção 3, é expressa uma relação direta com a lei de Faraday, por meio da lei de Lenz, em que a força eletromotriz induzida possui sentido contrário a variação do fluxo magnético, trata-se do sinal negativo da lei de Faraday. E, na seção 4, explicaremos o processo de indutância mútua e autoindutância e demonstraremos as expressões para a indutância e a força eletromotriz autoinduzida. Bons estudos! 66Física Teórica e Experimental iii seções de estudo 1 – Força Eletromotriz e Corrente Induzida 2 – Fluxo Magnético e Lei de Faraday 3 – Lei de Lenz 4 – Indutância Mútua e Autoindutância 1 - Força Eletromotriz e Corrente induzida Começaremos a abordar outro importante princípio do eletromagnetismo, intimamente relacionado à disponibilidade das tecnologias atuais. Trata-se da indução, ou seja, a capacidade da variação do campo magnético gerar um campo elétrico, que por sua vez, produz corrente. Estas relações entre o campo magnético e o campo elétrico são explicadas de modo mais apropriada pela lei de Faraday. O funcionamento de guitarras elétricas decorre do princípio da indução, responsáveis por causarem uma revolução na música popular. Outra aplicação é em geradores de energia elétrica, mantendo o funcionamento de equipamentos mesmo em casos de colapsos. Como ilustração de como ocorre o processo de indução, consideremos dois experimentos (HALLIDAY et al., 2008). No primeiro deles, dispomos de um ímã em forma de barra e de uma espira conectada a um amperímetro. N outro experimento, temos duas expiras, sem nenhuma conexão entre elas. A primeira é conectada a um amperímetro e a segunda espira é conectada a um circuito com fonte, uma resistência arbitrária externa a fonte e uma chave. A seguir, analisemos cada um dos experimentos. No primeiro experimento, a aproximação entre o ímã em forma de bastão e a espira (de material condutor) fixa, gera uma leitura no amperímetro, que para de indicar a passagem de corrente quando a aproximação é cessada. O afastamento do ímã também gerará corrente, mas no sentido inverso. Disso, podemos concluir que a corrente somente é detectada com o movimento relativo entre a espira e o ímã; a magnitude da corrente é dependente da frequência deste movimento relativo; se a corrente na espira tem sentido horário com a aproximação do polo norte do ímã, a aproximação do polo sul gera uma corrente no sentido anti-horário e, ao afastar o ímã (em ambos os casos), ocorre a inversão dos sentidos. No segundo experimento, com o arranjo de duas espiras próximas, mas sem conexão entre elas, se promovermos a passagem de corrente por uma delas, por meio do fechamento do circuito com a chave é verificada, neste exato momento, uma leitura de corrente no amperímetro conectado a outra espira. Abrindo a chave novamente, isto é, cessando a corrente, é registrada uma determinada corrente, mas no sentido oposto. Portanto, o que se verifica neste experimento é que somente a variação da corrente em uma das espiras é que poderá gerar corrente na outra. A corrente na espira é denominada corrente induzida. A força eletromotriz induzida corresponde ao trabalho realizado por unidade de carga, para produzir o movimento dos elétrons de condução. A indução refere-se, especificamente, ao processo de geração da corrente e da força eletromotriz. O que foi constato com os experimentos é que ambas as grandezas são geradas pela variação de “algo” nos sistemas propostos, necessitamos, assim, de uma explicação para o que de fato ocorreu nestes experimentos, é o que veremos na próxima seção. 2 - Fluxo Magnético e lei de Faraday O que gerou a corrente induzida e a força eletromotriz induzida nos dois experimentos da seção anterior foi a variação do campo magnético, que em termos quantitativos, é dada pela quantidade de linhas de campo magnético. Faraday descobriu essas relações, realizando uma enunciação conhecida como lei de Faraday, onde considerando a área de uma espira, por exemplo, afirma-se que a força eletromotriz é induzida quando ocorre uma variação da quantidade linha de campo magnético que a atravessam. Com isso, vemos uma relativa dificuldade em mensurar essa variação da quantidade de campo magnético, por isso é mais apropriado introduzir o termo fluxo magnético ( ). Para isso, adotando uma espira de área , contida em um plano e um campo magnético uniforme, o fluxo magnético pode ser mensurado pelo produto escalar entre o vetor campo magnético e o vetor área , veja: Entretanto, quando formos resolver os exemplos ao fim da aula, perceberemos que geralmente o ângulo entre os vetores e é nulo, ou seja, o campo magnético é perpendicular ao plano da espira, o que resulta na expressão: A unidade de fluxo magnético no SI é o tesla- metro quadrado, denominada weber ( ). Logo, . Uma enunciação mais concisa para a lei de Faraday apropria-se do conceito de fluxo magnético. Isto é, a força eletromotriz induzida em uma espira é dada pela variação do fluxo magnético or unidade de tempo ao atravessar uma determinada superfície. A orientação da força eletromotriz induzida é oposta à variação do fluxo, o que é elucidado pelo sinal negativo na seguinte expressão: Assim, pode-se determinar o fluxo magnético e, por conseguinte, a força eletromotriz induzida em uma espira, conhecendo as magnitudes do campo magnético aplicado uniformemente (conforme as expressões que obtemos) em um intervalo de tempo e área da espira. 67 Figura 1 – O campo magnético se torna mais positivo (a), menos positivo (b), mais negativo (c) e menos negativo (d). Fonte: Young e Freedman (2014). No caso de uma bobina em que contenha espiras, a força eletromotriz depende diretamente da quantidade de espiras, onde: A variação do fluxo magnético, buscando uma força eletromotriz com uma magnitude mais elevada, ou inferior, em uma espira, pode ser obtida de três formas: alterando o módulo do campo magnético; alterando a área da bobina, seja aumentando ou diminuindo o seu tamanho (alterando a quantidade de espiras) ou alterando a região atravessada pelo campo magnético; e alterando o ângulo entre o vetor campo magnético e o vetor área , isso comumente realizado fazendo a bobina girar (HALLIDAY et al., 2008). 3 - lei de lenz A lei de Lenz, uma regra proposta por Heinrich Friedrich Lenz, surge como um complemento a lei de Faraday, mas obviamente para a compreensão das propriedades relacionadas à corrente e à força eletromotriz induzida em espiras. A lei de Lenz propõe uma forma de determinar o sentido da corrente induzida. Assim sendo, o sentido da corrente induzida na espira ocorre de forma a se opor ao campo magnético que induziu a corrente. Novamente, a lei de Lenz pode ser melhor compreendida com a introdução de duas situações. Considere, em uma primeira situação, a aproximação entre o polo norte de um ímã em forma de bastão e uma espira condutora. Quando o ímã está distante, não há passagem de campo magnético pela espira, o fluxo magnético é nulo, mas seu valor é aumentado em razão da aproximação, produzindo uma corrente na espira, entretanto, a corrente gerada tem sentido tal que o dipolo magnético induzido ofereça resistência a aproximação do ímã. Aproximandoo polo norte do bastão, surgira um polo norte na espira, de modo a afastá-lo. O mesmo ocorre com a aproximação do polo sul do bastão. Esta orientação do campo magnético originado na espira pode ser deduzida empregando a regra da mão direita. Se afastarmos o ímã da espira, surgirá um campo magnético na espira tendendo a se opor ao movimento do ímã, ou seja, nesse caso o dipolo magnético gerado pela corrente induzida é orientado para tender a aproximação do ímã, o polo norte no bastão gera um polo sul na espira e vice-versa. Esta análise da lei de Lenz utiliza da tendência de oposição a movimento dos polos, ou seja, se estiver aproximando o ímã da espira, há a tendência a afastá-lo, mas ao afastar o ímã, surge a tendência a aproximação. Uma outra análise, em uma segunda situação, envolve o mesmo movimento de aproximação, mas visto sob a perspectiva da variação do fluxo magnético, ao invés da formação dos dipolos. Aproximando o polo norte do ímã, com campo magnético orientado para baixo, em relação a espira, com o aumento do fluxo magnético na espira, surge um campo magnético induzido orientado para cima, se opondo ao movimento do ímã. Neste caso, as orientações dos campos magnéticos do ímã e da espira são opostas, mas promovendo o afastamento do polo norte do ímã, surgira um campo magnético induzido na espira também para baixo, com o objetivo de se opor a este movimento do ímã. 4 - indutância Mútua e autoindutância 4.1 – Transferência de energia Havendo uma força magnética que ofereça resistência ao movimento de um ímã em relação a espira, seja por meio 68Física Teórica e Experimental iii da aproximação ou do afastamento, é conveniente supor a realização de trabalho pela força associada à movimentação do ímã. Contudo, em termos práticos, podemos mensurar essa realização de pela força magnética induzida na espira, o que por sua vez acaba se transformando em energia térmica. Neste caso, trata-se de deduzir uma taxa de transferência de energia, isto é, uma expressão para a potência. Veja uma ilustração deste caso de transferência de energia na figura a seguir, em que um campo magnético uniforme perpendicular ao plano da espira (entrando no papel) gera um fluxo magnético na espira, em razão da realização de trabalho positivo, no sentido de saída da espira da região que contém o campo magnético (HALLIDAY et al., 2008). Observe que a região que contém o campo magnético possui largura , onde a porção do comprimento da espira em que o campo magnético atravessa é denotado por . Impondo uma força , no sentido indicado por , surge uma força magnética oposta a esse movimento, em que as componentes são representadas por , e , para cada seguimento da espira, mas como e têm módulos iguais e sentidos opostos, podem ser cancelados, restando de sentido oposto a , logo . Figura 2 – Deslocamento de uma parcela do comprimento de uma espira de largura em um campo magnético de largura , o que gera uma corrente induzida na espira. Fonte: Halliday et al. (2008). Como os vetores e são perpendiculares, obtemos o módulo de : A área da espira ainda submetida ao campo magnético é dada por , aplicando a lei de Faraday, encontra-se o fluxo magnético : O deslocamento da espira no sentido de diminuir gera uma força eletromotriz induzida , isto é: Não pode ser determinada a diferença de potencial para uma força eletromotriz induzida, assim não pode ser aplicada a regra das malhas para obter o valor absoluta da corrente induzida, mas pode-se empregar: Substituindo a expressão deduzida para : Substituindo a expressão acima para em : Considerando a força exercida sobre a espira para retirá-la do campo magnético e a velocidade adquirida pela mesma, a potência (taxa de realização de trabalho) é: Onde a taxa de geração de energia térmica na espira é exatamente a mesma. Um indutor é um dispositivo que pode ser inserido em um circuito com o objetivo de obter as propriedades mais adequadas (conforme o caso estudado) de um campo magnético. Um exemplo de indutor comum é o solenoide. Dado um solenoide com espiras, ao passar corrente em seu interior, é gerado um fluxo magnético no seu interior. Com isso, tem-se um solenoide com a indutância : Em que o produto é denominado enlaçamento de fluxo magnético. A unidade de indutância no SI é o tesla-metro quadrado por ampère ( ), mas é recorrentemente denominada de Henry ( ), em homenagem ao físico americano Joseph Henry, que também contribui para a formulação da lei da indução. No caso de um solenoide, é comum expressar a indutância por unidade de comprimento, que pode ser deduzida a partir de nossa última expressão. Assim sendo: Onde o enlaçamento de fluxo é , em que é o número de espiras por unidade de comprimento do solenoide, é o comprimento de um seguimento próximo de seu centro; e o campo magnético é . Para obter a indutância por unidade de comprimento , simplesmente, evidenciemos : 69 Então, percebemos que a indutância depende apenas da geometria do dispositivo, sendo que a permeabilidade no vácuo também pode ser posta em termos da unidade henry por metro. Assim: 4.2 – indutância mútua A indutância mútua é um caso especial de indução, diferente da seção anterior em que ocorre devido à movimentação das espiras em relação a um campo magnético externo e da seção seguinte, em que trataremos da indução pela variação da corrente no próprio indutor. Neste caso, teremos a indução de uma bobina, por exemplo, devido à variação da corrente em uma outra bobina mantida em suas proximidades. A variação da corrente provoca uma variação do fluxo magnético, que gera uma força eletromotriz , conforme a lei de Faraday. Havendo duas bobinas próximas, há o entrelaçamento do fluxo magnético através de ambas (HALLIDAY et al., 2008). Ligando cada bobina em um circuito com a bobina 1, tem-se um circuito alimentado por uma fonte, em que a corrente varia alterando a resistência ; e com a bobina 2, tem-se conectado um amperímetro. As bobinas podem ser trocadas de circuito, mas, neste caso, teríamos resultados equivalentes. Se variar a corrente no circuito com a bobina, o fluxo magnético através da bobina 2 pode ser denotado por , enquanto a indutância mútua na mesma é representada por , sendo a sua quantidade de espiras. Isso implica na expressão: Se a resistência variar, tem-se uma variação da corrente e do fluxo de corrente, que pode ser avaliada em um intervalor de tempo , o que a partir da expressão acima, tem-se: O membro direito da expressão acima corresponde ao módulo da força eletromotriz na bobina , onde aplicando a lei de Lenz, temos que: Tratar as bobinas de circuito implica na mesma expressão acima, mas com notação inversa. Por isso, sabendo que , são válidas: E: Assim, temos as expressões válidas tanto para o caso em que a corrente é gerada na bobina 1, como quando a corrente é gerada na bobina 2. 4.3 – autoindutância Sabemos como surge a força eletromotriz induzida. A autoindução se baseia no mesmo processo. Variando a corrente que passa pelo indutor, o fluxo magnético também varia, condição suficiente, conforme a lei de Faraday para a formação de uma força eletromotriz induzida . Como este processo não advém de uma agente externo, denomina-se autoindução e a respectiva força eletromotriz é denominada força eletromotriz autoinduzida ( ). Segundo a lei de Faraday para um indutor de espiras: Onde , conforme a definição de indutância, o que implica em : De acordo com o sinal negativo acima (lei de Lenz), a variação da corrente se opõe a autoindução ou a força eletromotriz autoinduzida. Pela variação do fluxo magnético não podemos definir um potencial elétrico, entretanto, podemos obtê-lo a partir de pontos externos ao indutor, em que os campos elétricos estão relacionados à variação de distribuições de carga e potenciais em decorrência da autoindução. Ou, ainda, pode-se determinara diferença de potencial autoinduzida pelos terminais do indutor, cujo valor é igual a força eletromotriz autoinduzida no caso de um indutor ideal, o que não ocorre tratando-se um indutor real. Exemplo 1 Adiante, o campo magnético entre os polos do eletroímã permanece sempre uniforme, porém seu módulo aumenta com uma taxa crescente de . A área da espira condutora imersa no campo é igual a e a resistência total do circuito, incluindo o galvanômetro, é igual a (YOUNG; FREEDMAN, 2014, p. 283). 70Física Teórica e Experimental iii Figura 3 – Espira posicionada entre os polos de um eletroímã, com uma taxa constante da variação do campo magnético uniforme. Fonte: Young e Freedman (2014). (a) Calcule a fem induzida e a corrente induzida no circuito. Solução: Conforme a figura 3, é disposta uma espira entre os polos de um eletroímã, onde há um campo magnético uniforme, com seu módulo crescendo a uma taxa de . Como o campo magnético varia, a variação do fluxo magnético gera uma força eletromotriz induzida na espira, o que por sua vez, gera uma corrente induzida. Para determinar a fem induzida, iremos a calcular a variação do fluxo magnético, enquanto a corrente induzida pode ser encontrada por . Portanto: Onde o fluxo magnético para um campo uniforme é , pois na expressão inicial com produto escala, dado que o ângulo entre os vetores e é nulo. Com e , é encontrado: A corrente induzida pela força eletromotriz pode ser obtida a partir da expressão , veja: A fem e a corrente induzida são e , respectivamente. (b) O que ocorreria com a fem induzida e a corrente induzida no circuito se a espira condutora fosse substituída por uma espira isolante? Solução: Uma espira isolante possui uma resistência significativamente elevada a passagem de corrente. De acordo com a lei de Faraday, a força eletromotriz induzida não é dependente da resistência, assim a fem continuará a mesma. Contudo, a corrente induzida irá diminuir proporcionalmente ao aumento da resistência, isto é, , que poderá ser considerada zero, assumindo que a resistência seja infinita para a espira isolante. Nesse caso, pressupõe-se o comportamento semelhante ao de uma bateria isolada, sem qualquer ligação, onde existe uma fem, mas sem corrente elétrica. Exemplo 2 Na figura a seguir, tem-se uma versão simples de um alternador, um dispositivo que gera uma fem. Fazemos uma espira retangular girar com velocidade angular em torno do eixo indicado. O campo magnético é uniforme e constante. No instante , . Determine a fem induzida (YOUNG; FREEDMAN, 2014, p. 286). Figura 4 – (a) Alternador no qual a espira gira em torno do eixo indicado gerando uma força eletromotriz induzida por meio da escova conectada aos anéis deslizantes. (b) Gráfico da força eletromotriz induzida em função do tempo, onde verifica-se os valores máximos para as posições de e do giro da espira. Fonte: Young e Freedman (2014). Solução: Este é um outro exemplo em que a fem é produzida pela variação do fluxo magnético na espira, mas neste sistema, ocorre pela variação do sentido de , sendo que se mantém constante. Neste exemplo, estudaremos somente o funcionamento e as principais propriedades deste dispositivo, para que possamos ter uma maior compreensão sobre a função das espiras na geração de fem. O vetor pode variar, simplesmente, girando a espira, como pode ser visualizado na figura 4. Quando a espira está nas posições horizontal e vertical de seu giro, tem-se o fluxo magnético máximo negativo e positivo, respectivamente, como visualizado em (b) na referida figura. O ângulo entre o vetor campo magnético e o vetor área é dado por , onde é a velocidade angular da espira. Com isso, o fluxo magnético é: 71 Inserindo o fluxo magnético na expressão para a lei de Faraday, temos a seguinte equação: Por isso, a variação senoidal da fem induzida com o tempo que demonstramos inicialmente. Nos pontos em que o módulo de é máximo, o ângulo é ou e a variação do fluxo magnético é mais rápida. Como pode- se visualizar neste exemplo, a fem induzida não depende da forma da espira, apenas de sua área. A proporcionalidade direta com e é utilizada por dispositivos para a medição da velocidade angular ou do campo magnético. O dispositivo que estudamos é denominado alternador, cuja finalidade é produzir uma fem, sendo que a variação senoidal, provoca a geração de uma corrente alternada. A fem pode ser controlada alterando a velocidade de rotação, o módulo do campo magnético, a área da espira ou a quantidade de espiras. Os alternadores são facilmente encontrados em automóveis, lâmpadas e dispositivos utilizados no entretenimento. Exemplo 3 O solenoide longo representado em corte logo abaixo, possui espiras/ , tem um diâmetro e conduz uma corrente . No centro do solenoide é colocada uma bobina , de enrolamento compacto, com espiras e diâmetro . A corrente no solenoide é reduzida a zero a uma taxa constante em . Qual é o valor absoluto da força eletromotriz induzida na bobina enquanto a corrente no solenoide está variando (HALLIDAY et al., 2008, p. 267)? Figura 5 – Solenoide com uma bobina ao centro, de enrolamento compacto. Fonte: Halliday et al. (2008). Solução: A corrente no solenoide diminui a uma taxa constante, portanto, o fluxo magnético também diminui a uma taxa constante, o que implica na validade de , sem a forma diferencial própria da lei de Faraday, isso significa que precisamos conhecer apenas os valores final e inicial . O fluxo magnético final é nulo, dado que há uma contínua diminuição. Como a bobina possui o diâmetro , a sua área é: O campo elétrico no interior do solenoide depende da corrente e da quantidade de espiras por unidade de comprimento: O fluxo magnético final é , portanto: Para , , e , temos: Assim, a razão entre a variação do fluxo magnético e o intervalo de tempo especificado é: Estamos interessados somente em valores absolutos, desconsiderando o sinal negativo acima, a força eletromotriz induzida é: Onde, o número de espiras é e em termos absolutos, , desse modo: 72Física Teórica e Experimental iii e , respectivamente. Fonte: Halliday et al. (2008). (a) Determine o módulo e o sentido da força eletromotriz induzida na espira pelo campo no instante . Solução: Escrevendo a lei de Faraday considerando que apenas o campo magnético varia com o tempo: O fluxo magnético ocorre apenas em parte da bobina, na semicircunferência, assim a área em que ocorre a variação do fluxo magnético é: Por , entende-se a variação do campo magnético em relação ao tempo dependente de , como implícito no enunciado deste exemplo e não somente dos instantes inicial e final, como havíamos feito até o momento. Logo, a fem induzida com as expressões que dispomos é dada por: Em , para : Em s, a força eletromotriz induzida na espira é de aproximadamente . Em que o sentido do campo elétrico induzido é contrário ao fluxo magnético através da espira apontando para fora do plano do papel, ou seja, é orientado para dentro do papel. Com a regra da mão direita (o polegar aponta para dentro do papel) a corrente induzida tem sentido horário, que é igual ao sentido da fem induzida . (b) Qual é a corrente na espira no instante ? Observe que a fonte no circuito da espira gera uma corrente no sentido anti-horário e a força eletromotriz induzida gera uma corrente no sentido horário, esta com maior magnitude que a corrente gerada pela fonte. Dessa maneira, a força eletromotriz resultante possui sentido, dado que (com maior magnitude) apresenta o sentido horário. Assim, a corrente na espira é a seguinte: Substituindo , e (resistência da espira), é determinando: Em , a corrente na espira é de, aproximadamente, . Exemplo 5 A figura 7 mostra um circuito que contém três resistores iguais de resistência , dois indutores iguais Em termos absolutos, a força eletromotriz induzidana bobina , em razão da variação da corrente no solenoide, é de . Exemplo 4 Abaixo, é mostrada uma espira condutora formada por uma semicircunferência de raio e três fios retilíneos. A semicircunferência está em uma região onde existe um campo magnético uniforme orientado para fora do plano do papel; o módulo do campo em relação ao tempo é dado por , com em teslas e em segundos. Uma fonte ideal com uma força eletromotriz é ligada à espira. A resistência da espira é (HALLIDAY et al., 2008, p. 269). Figura 6 – Espira formada por uma semicircunferência de raio e um segmento horizontal e dois verticais com comprimento 73 de indutância e uma fonte ideal de força eletromotriz (HALLIDAY et al., 2008, p. 283). Figura 7 – Circuito conectando uma fonte a três resistências e dois indutores, por meio de uma chave. Fonte: Halliday et al. (2008). (a) Qual é a corrente que atravessa a fonte no instante em que a chave é fechada? Solução: Antes e imediatamente após o fechamento da chave, não há a passagem de corrente nos indutores. Neste momento, os indutores se comportam como fio interrompidos, isto é, como se não existissem, interrompendo a passagem de corrente nestes pontos. Na regra das malhas, o potencial em apenas uma das resistências é considerada, pois no momento do fechamento da chave, os indutores impedem a passagem de corrente nos demais capacitores, o que anula os potenciais correspondentes. Logo: Com e , é obtido: Atravessa uma corrente de pela fonte no momento que a chave é fechada. (b) Qual é a corrente que atravessa a fonte depois que a chave permanece fechada por um longo tempo? Solução: Após um longo tempo com a chave fechada, a corrente gerada pela fonte percorre por todo o circuito e os indutores passam a adquirir o comportamento de fios, de modo que após um longo tempo podemos considerar a ausência de indutores no circuito. Assim, a resistência equivalente é: A corrente que passa pela resistência equivalente é a mesma que atravessa a fonte, então: A corrente de atravessa a fonte após um longo período de tempo com a chave fechada. Exemplo 6 Em uma das versões da bobina de Tesla (um gerador de alta voltagem que talvez você já tenha visto em algum museu de ciência), um solenoide longo, de comprimento e seção reta com área , possui espiras enroladas de modo compacto. Uma bobina com espiras é enrolada em seu centro (veja a figura abaixo). Determine a indutância mútua (YOUNG; FREEDMAN, 2014, p. 318). Figura 8 – Um tipo de bobina tesla na qual um solenoide longo possui uma bobina ao centro. Fonte: Young e Freedman (2014). Solução: O campo magnético gerado no centro do solenoide é proporcional a corrente e ao número de espiras por unidade de comprimento . Assim: Através da seção reta do solenoide o fluxo magnético é , em que sendo um solenoide longo, não é produzido campo magnético em pontos exteriores e o fluxo ocorre através de cada espira da bobina externa. Então, a indutância mútua pode ser expressa por: Substituindo : 74Física Teórica e Experimental iii Uma característica do cálculo da indutância mútua é sempre estar associada ao produto dos números de espiras . A indutância mútua depende, essencialmente, da geometria das bobinas e, não, das correntes através das mesmas. Exemplo 7 Um solenoide toroidal com seção reta de área e um raio médio contém espiras bastante compactadas (veja a figura adiante). Esse toróide está enrolado em torno de um núcleo não-magnético. Determine sua auto-indutância . Suponha que seja uniforme através da área da seção reta (ou seja, despreze a variação de com a distância ao eixo do toróide) (YOUNG; FREEDMAN, 2014, p. 322). Figura 9 – Solenoide com uma bobina ao centro, de enrolamento compacto. Fonte: Young e Freedman (2014). Solução: A autoindutância pode ser determinada a partir do fluxo magnético e da corrente no solenoide ou, ainda, conhecendo a fem autoinduzida e a taxa de variação da corrente. Neste caso, utilizaremos o primeiro método. O campo magnético a uma distância do eixo do toróide é: Com isso, o fluxo magnético através da área da seção reta é dado por: Dessa maneira, define-se a autoindutância : Para espiras, e , obtém-se: Portanto, a autoindutância no solenoide toroidal é de . retomando a aula Chegamos, assim, ao final de nossa aula. Vamos, então, recordar algumas discussões realizadas ao longo das seções? 1 – Força Eletromotriz e Corrente Induzida Nesta seção, tratamos de dois experimentos com conclusões semelhantes. Em um deles, tem-se a aproximação entre o ímã em forma de bastão e a espira (de material condutor) fixa. Disso, foi concluído que a corrente somente é detectada com o movimento relativo entre a espira e o ímã; a magnitude da corrente é dependente da frequência deste movimento relativo; se a corrente na espira tem sentido horário com a aproximação do polo norte do ímã, a aproximação do polo sul gera uma corrente no sentido anti-horário, e ao afastar o ímã (em ambos os casos) ocorre a inversão dos sentidos. Assim, a força eletromotriz induzida corresponde ao trabalho realizado por unidade de carga, para produzir o movimento dos elétrons de condução. E a indução refere-se, especificamente, ao processo de geração da corrente e da força eletromotriz. 2 – Fluxo Magnético e Lei de Faraday Como estudado, na lei de Faraday, considerando a área de uma espira, por exemplo, afirma-se que a força eletromotriz é induzida quando ocorre uma variação da quantidade linha de campo magnético que a atravessam. Uma enunciação mais concisa para a lei de Faraday apropria-se do conceito de fluxo magnético. Isto é, a força eletromotriz induzida em uma espira é dada pela variação do fluxo magnético ou unidade de tempo ao atravessar uma determinada superfície. No caso de uma bobina em que contenha espiras, a força eletromotriz depende diretamente da quantidade de espiras. 3 – Lei de Lenz A lei de Lenz propõe uma forma de determinar o sentido da corrente induzida. Assim sendo, o sentido da corrente induzida na espira ocorre de forma a se opor ao campo magnético que induziu a corrente. Uma análise da lei de Lenz utiliza da tendência de oposição a movimento dos polos, ou seja, se aproximar o ímã da espira, há a tendência de afastá-lo, mas ao afastar o ímã, surge a tendência de 75 aproximação. Uma outra análise sob a perspectiva da variação do fluxo magnético, as orientações dos campos magnéticos do ímã e da espira, quanto próximos, são opostas, mas promovendo o afastamento do polo norte do ímã, surgira um campo magnético induzido na espira também para baixo, com o objetivo de se opor a este movimento do ímã. 4 – Indutância Mútua e Autoindutância Um indutor é um dispositivo que pode ser inserido em um circuito com o objetivo de obter as propriedades mais adequadas (conforme o caso estudado) de um campo magnético. Um exemplo de indutor comum é o solenoide. Na indutância mútua teremos a indução de uma bobina, por exemplo, devido à variação da corrente em uma outra bobina mantida em suas proximidades. Havendo duas bobinas próximas, há o entrelaçamento do fluxo magnético através de ambas. Nesta seção, também foi analisado que variando a corrente que passa pelo indutor, o fluxo magnético também varia, gerando uma força eletromotriz induzida. Como este último processo não advém de uma agente externo, denomina-se autoindução e a respectiva força eletromotriz é denominada força eletromotriz autoinduzida. Vale a pena HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física: mecânica. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. TIPLER, Paul A.; MOSCA, Gene; MORS, Paulo Machado. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014. YOUNG, Hugh; FREEDMAN, Roger A. Física III: eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, v. 3, 2014. 402 p. Vale a penaler Lei da indução de Faraday. Disponível em: http://www.ifsc.usp.br/~strontium/ Teaching/Mater ia l2010-2%20FFI0106%20Lab FisicaIII/11-LeideInducaodeFaraday.pdf. Acesso em: 05 maio 2020. Indutores e indutância. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=hhFXr-06G9o. Acesso em: 05 maio 2020. Lei de Faraday – Indução e Lei de Lenz. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_rbpAiO3KGk. Acesso em: 05 maio 2020. Vale a pena acessar Minhas anotações 76Física Teórica e Experimental iii referências BASTOS, J. P. A. Eletromagnetismo e cálculo de campos. 2. ed. Florianópolis: Editora da UF, 1992. BISCÚOLA, G. J.; DOCA, R. H.; VILLAS, N. B. Tópicos de física: eletricidade. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. DOS SANTOS, J. I. C. Conceitos de física: eletricidade. São Paulo: Ática, 1986. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. MARTINS, N. Introdução à teoria da eletricidade e do eletromagnetismo. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1994. NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física básica: eletromagnetismo. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2015. TIPLER, P. A.; MOSCA, G.; MORS, P. M. Física para cientistas e engenheiros: eletricidade e magnetismo, óptica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014. WOLSKI, B. Fundamentos do eletromagnetismo. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2005. YOUNG, H.; FREEDMAN, R. A. Física III: eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. Minhas anotações
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