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1 CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO Av. Costa e Silva, s/nº - Caixa Postal 549 - CEP 79070-900 / Campo Grande-MS– mestradodireito.fadir@ufms.br MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO 1 ANTEPROJETO DE PESQUISA 1.1 TÍTULO DO ANTEPROJETO: A AFRONTA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DENTRO DOS PRESÍDIOS SUL- MATO-GROSSENSE E O AGRAVAMENTO DA SITUAÇÃO DOS APENADOS PELA PANDEMIA DE CORONAVÍRUS 1.2 LINHA DE PESQUISA: (escolher apenas uma) I . Direitos Humanos, Estado e Fronteira ( ) II . Direitos Fundamentais, Democracia e Desenvolvimento Sustentável ( X ) Para preenchimento da Comissão de Seleção do Programa de Pós-Graduação em Direito Código: Deferido: ( ) Indeferido: ( ) Observações: mailto:mestradodireito.fadir@ufms.br 2 2 RESUMO: O presente projeto de pesquisa tem como objetivo demonstrar a importância do estudo da afronta aos direitos humanos dentro dos presídios brasileiros, no entanto utilizando os presídios no nosso estado, Mato Grosso do Sul como laboratórios, demonstrando como essa realidade agravou-se ainda mais após o fim do ano de 2019 com o surgimento de uma nova doença causada pelo vírus do coronavírus e sua evolução a uma pandemia de nível mundial na área da saúde. Percebe-se que os presídios brasileiros sofrem com graves falhas, tornando- os incapazes de cumprir com a função ressocializadora da pena, devido a problemas como a superlotação, falta de acesso à saúde, educação e profissionalização, o que acaba acarretando em elevados índices de reincidência criminal. Este cenário caótico foi agravado pela crise de saúde causada pela rápida expansão do coronavírus, onde todos os setores da sociedade foram afetados, causando problemas relacionados a atrasos de pedidos de progressão de regime ou saúde de presos do encarceramento, devido à necessidade de implantação de uma nova forma de trabalho dos servidores do Poder Judiciário, impactando diretamente no cotidiano dos detentos. Assim, resta clara a importância de uma análise acerca do impacto real que essa pandemia de COVID-19 causou na realidade experimentadas pelos apenados, demonstrando que além de todos os problemas já vivenciados por esses indivíduos em relação ao respeito a seus direitos e garantias fundamentais, ainda foi possível ter essa realidade agravada devido a essa crise na área da saúde. Palavras-chave: Sistema Prisional; Direitos Humanos; Coronavírus 3 INTRODUÇÃO: Desde muito tempo os presídios do país sofrem graves problemas dos mais variados tipos, sendo os mais recorrentes a superlotação e a falta de acesso à educação e profissionalização por parte dos apenados. Essas deficiências do sistema prisional ensejam em ambientes insalubres, onde os detentos não possuem saneamento básico, acarretando na proliferação de doenças e outros problemas relacionados a saúde individual e do grupo detido em conjunto. Isso demonstra a afronta a diversos direitos fundamentais individuais, como a inobservância do Princípio da Dignidade Humana (BRITO; AZEVEDO, 2020). Juntamente com todos esses problemas já presentes nos presídios brasileiros, no final do ano de 2019 o mundo teve conhecimento de uma grave doença altamente contagiosa que decorre do coronavírus. O Covid-19, como foi chamada, trata-se de uma séria infecção, se aparentando muito a uma gripe comum, mas possuindo um índice de mortalidade muito superior a esta doença comum. A rápida propagação da doença acabou fazendo desta uma pandemia de proporções mundiais, colapsando os sistemas de saúde mais bem preparados, e distanciando socialmente as pessoas. 3 Neste sentido, o presente projeto de pesquisa objetiva verificar a eficiência das políticas elaboradas e implementadas pelo Governo Federal e qual a aplicabilidade efetiva das providencias tomadas pelo Governo Sul-mato-grossense, com o objetivo de frear o avanço do Covid-19 dentro dos presídios, buscando verificar a possibilidade de contenção da pandemia desta doença dentro dos presídios, uma vez que são ambientes extremamente nocivos, verificando quais direitos fundamentais foram atingidos com medidas implantadas, considerando que muito apenados tiveram limitações que impediram por exemplo a progressão de regime, mantendo por mais tempo em situação de cárcere. Inicialmente, a pesquisa buscará demonstrar os problemas presentes nos presídios Estaduais, tendo em vista o estado caótico em que se encontra o sistema prisional brasileiro, além de apresentar as formas com as quais os órgãos públicos responsáveis tentam solucionar tais problemas, ou ao menos amenizar seus impactos no cotidiano dos detentos. Além disso, busca respaldo na Lei de Execuções Penais, Constituição Federal de 1988 e também em Tratados e Convenções Internacionais acerca dos direitos dos apenados promulgadas pelo Brasil, para demonstrar como tal situação se apresenta como uma espécie de vilipêndio aos direitos individuais dos detentos. Seguindo em seu desenvolvimento, a pesquisa tratará do coronavírus, apresentando sua definição e principais características do COVID-19, que foi capaz de colapsar a saúde pública no país, sempre pautando-se pelo entendimento de especialistas no assunto, e demonstrar como essa doença impactou negativamente o sistema carcerário. Serão demonstradas também quais medidas os órgãos internacionais estão tomando para diminuírem o impacto do coronavírus nos mais variados setores da sociedade, como por exemplo, as recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) acerca de como tratar a pandemia dentro dos presídios, além de analisar ações do Estado que possam ter um efeito negativo ou positivo no avanço dessa doença em um ambiente tão precário como é um presídio brasileiro. Por fim, a pesquisa buscará expor os resultados das políticas elaboradas pelo Governo Federal, e sua real efetividade no âmbito estadual, considerando os índices de quando a doença chegou até os presídios, e como se deu a variação de infectados durante o tempo de pandemia. Além de discutir o Estado de Coisas Inconstitucional que é a realidade do sistema prisional do Brasil, em especial com o agravamento por conta do coronavírus. 4 4 JUSTIFICATIVA: De acordo com os dados obtidos pelo Conselho Nacional do Ministério Público, através do Sistema Prisional em Números, o Brasil sofre de um problema bastante grave dentro de seus presídios, que é a superlotação. Segundo tais informações, no ano de 2019, o país sofreu com uma taxa de ocupação 61,45% acima de sua capacidade, ou seja, o sistema carcerário brasileiro tem capacidade para receber 446.320 detentos, mas contava com 720.585 detentos, sendo o cenário mais grave sendo observado na Região Centro-Oeste, com capacidade para 36.402 presos, mas possuía um total de 71.512 indivíduos cumprindo pena em seus presídios. Destaca-se ainda que em todo o Brasil, houve um total de 1.393 mortes dentro dos presídios brasileiros (BRASIL, 2019). 1 Neste sentido, Júlio Fabbrini Mirabete (2008) esclarece que a falência do sistema prisional brasileiro é um dos grandes problemas do modelo penal repressivo utilizado pelo país que, sob a justificativa de ressocializar um agente criminoso, o trancafia em instituições com um ambiente de convívio degradante, e ao final de sua pena, devolve este indivíduo à sociedade muitas das vezes pior do que quando cometeu seu crime, conduzindo-o à prática de novos delitos, cada vez mais violentos. Muitos são os problemas advindos da situação precária que se encontram os presídios do país e que impactam diretamente na sociedade, como por exemplo, os índices elevados de reincidência criminal, tendo em vista que os detentos, após o cumprimento de suas penas, acabam por cometeremcrimes ainda mais graves do que pelos quais foram detidos. O problema é tão grave, que um a cada quatro ex-apenados voltam a delinquir após a saída da prisão (BRASIL, 2015). 2 Entretanto, os maiores problemas estão realmente dentro dos presídios, onde os apenados não possuem oportunidades de estudo, trabalho e profissionalização, uma vez que o cárcere tornou-se um depósito de indivíduos delinquentes, que são ignorados pelo Estado que 1 Conforme dados obtidos em: BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. 2019. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros. Acesso em: 09 de fev. de 2021. 2 Conforme dados obtidos em: BRASIL. Instituto de Pesquisa Aplicada Econômica Aplicada: Reincidência Criminal no Brasil. 2015. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp- content/uploads/2011/02/716becd8421643340f61dfa8677e1538.pdf. Acesso em: 09 de fev. de 2021. 5 não utiliza recursos adequados para elaboração e implementação de políticas públicas para solucionar esses problemas, vilipendiando as determinações da Constituição Federal de 1988, da Lei de Execuções Penais e outros Tratados Internacionais acerca dos direitos dos apenados (MACHADO; GUIMARÃES. 2014). Neste sentido, a Constituição Federal de 1988 preceitua, em seu artigo 6º, que é um direito de todos os cidadãos o acesso à saúde, nos termos da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde da população. No que diz respeito ao sistema carcerário, esse direito é assegurado pela Lei de Execuções Penais, em seus artigos 11, inciso II e 14: Art. 11. A assistência será: [...] II - à saúde; [...] Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico. (BRASIL, 1984) Percebe-se então que o dever de prestar assistência à saúde do apenado é um dever do Estado, garantindo-lhe condições para seu retorno à sociedade apto ao convívio social. Entretanto, não é essa a realidade observada nos presídios brasileiros, onde, de acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público, quase um terço de todas as instituições prisionais do país não possuem assistência médica, colocando a saúde dos detentos em risco (BRASIL, 2019). 3 Neste cenário nocivo em que se encontram os presídios brasileiros, sofrendo com superlotação e falta de acesso à saúde, higiene e outros direitos fundamentais do indivíduo apenado, as instituições prisionais se apresentam como um local propício para a proliferação de doenças, colocando em risco a vida dos detentos (LIMA, 2020). E é diante desta realidade que no final do ano de 2019 o mundo conheceu uma nova doença, que seria responsável por uma das maiores crises da área da saúde de todos os tempos. Causada por um vírus com grande poder de contágio, o coronavírus – COVID-19 – possui como sintomas a tosse, febre, dores de garganta e causa sérios problemas respiratórios, podendo levar a morte em casos mais graves (BRITO; AZEVEDO, 2020). Para se ter ideia da gravidade da doença, em todo o mundo, já são mais de 100 milhões de infectados, sendo que desse total, foram mais de 2 milhões de mortes. 3 Conforme dados obtidos em: BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. 2019. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros. Acesso em: 09 de fev. de 2021. 6 Especificamente no Brasil, o número de infectados passa de 9,5 milhões de pessoas, com mais de 230 mil mortos (OMS, 2021). 4 Com o objetivo de diminuir o impacto do avanço da doença no mundo, a Organização Mundial da Saúde passou a publicar recomendações acerca do distanciamento (isolamento) social para diminuir a circulação de pessoas por áreas comuns, evitando aglomerações, aliado à utilização de máscaras, higienização constante das mãos com álcool em gel. Especificamente no Brasil, foi editada a Lei nº 13.979, de fevereiro de 2020, que trata acerca das medidas par ao enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus. É difícil visualizar que tais medidas de distanciamento e higienização possam ser aplicadas dentro dos presídios brasileiros, devido a superlotação e condições precárias de higiene do sistema carcerário brasileiro, tornando os ambientes prisionais locais propícios para a propagação rápida da doença. Além disso, todo o Poder Judiciário (como todos os outros setores do país) sofreu com o impacto da nova doença, com a implementação do trabalho remoto (home office) e outras medidas para evitar o avanço do contágio pelo COVID-19. Isso fez com que muitas requisições relacionadas a progressão de regime, ou liberação de presos fossem prejudicadas e atrasadas (BRITO; AZEVEDO, 2020).. Importante ressaltar que essa é a realidade dentro das instituições prisionais do país, onde o Estado assume a responsabilidade de buscar a ressocialização do apenado, para que este retorne à sociedade ao final do cumprimento de sua pena e, consequentemente, diminua os índices de reincidência criminal, mas na verdade, acaba deixando que os indivíduos encarcerados vivam em situações degradantes e que em nada cumprem as determinações dos direitos e garantias fundamentais dos apenados. E neste sentido, o presente projeto de pesquisa se justifica no fato de ser necessário aprofundar-se na realidade vivenciada pelos detentos brasileiros, especialmente com o agravamento de sua situação devido à pandemia de coronavírus. 4 Conforme dados obtidos em: Organização Mundial da Saúde: Painel de Controle do Coronavírus. 2021. Disponível em: https://covid19.who.int/. Acesso em: 08 de fev. de 2021. 7 5 OBJETIVOS: Objetivo geral Como objetivo geral, o trabalho buscará analisar a inobservância dos direitos fundamentais dos apenados elencados nos diplomas legais pertinentes, bem como estudar como a pandemia de coronavírus agravou os problemas dos presídios do país. Objetivos específicos Apresentar os problemas presentes no sistema penitenciário brasileiro; Verificar como esses problemas podem representar uma afronta aos direitos individuais dos detentos, e quais políticas implementadas pelo Estado na busca por soluções efetivas; Estudar como a pandemia de coronavírus afetou os apenados, e como foi capaz de agravar ainda mais a situação fática desses indivíduos. 6 METODOLOGIA Para a elaboração da pesquisa aqui apresentada, será realizada uma análise bibliográfica e documental acerca do assunto, além de um estudo de campo, que terá como objetivo apresentar dados concretos sobre os problemas dos presídios do país, e como o coronavírus foi capaz de impactar negativamente os encarcerados, em especial, em seus direitos fundamentais. Dessa maneira, para que seja possível alcançar os objetivos propostos neste projeto de pesquisa, alguns procedimentos metodológicos devem ser trabalhados, como a seguir: Leitura e assimilação de conteúdo bibliográfico acerca dos problemas do sistema prisional do país; Levantamento, organização e análise de dados obtidos através de buscas em meios oficiais ou por meio da pesquisa de campo sobre a pandemia dentro dos presídios do país, como índices de infectados, mortos e curados; 8 Apresentação das políticas públicas voltadas à contenção do COVID-19 dentro dos presídios, bem como seus níveis de eficiência. 7 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO Ano: 2021 AÇÕES/ETAPAS J F M A M J J A S O N D Revisão bibliográfica sobre o tema. X X X X Levantamento, leitura, compreensão, organização e análise de documentos relacionados aos problemas dos presídios brasileiros.X X X X Levantamento das políticas públicas implementadas pelo Governo Federal na busca pela solução dos problemas identificados. X X Análise e identificação dos direitos fundamentais vilipendiados dentro do sistema carcerário brasileiro. X X Estudo acerca do agravamento da situação dos apenados devido à pandemia de coronavírus. X X X Categorização dos dados obtidos durante a pesquisa. X X X Ano: 2022 AÇÕES/ETAPAS J F M A M J J A S O N D Confrontação e discussão dos dados em consonância com o referencial teórico. X X X X X X Redação da versão para o Exame de Qualificação X X X X X X Redação final para defesa X X 8 REFERÊNCIAS: BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público: Presídios em Números. 2019. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros. Acesso em: 09 de fev. de 2021. 9 ______. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 09 de fev. de 2021. BRITO, Gabriel Serra Ferreira de; AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de. Reflexos da Pandemia do Coronavírus no Sistema Prisional. 2020. Disponível em: https://www.pucrs.br/direito/wp-content/uploads/sites/11/2020/08/gabriel_brito.pdf. Acesso em: 07 de fev. de 2021. LIMA, Lucas Carlos. 2020. É possível restringir direitos humanos em tempos de Covid- 19? Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/e-possivel-restringir- direitos-humanos-em-tempos-de-covid-19-01052020. Acesso em: 08 de fev. de 2021. MACHADO, Nicaela Olímpia; GUIMARÃES, Issac Sabbá. A Realidade do Sistema Prisional Brasileiro e o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 2014. Disponível em: www.univali.br/ricc. Acesso em: 10 de fev. de 2021. MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal. São Paulo: Atlas, 2008. OMS. Organização Mundial da Saúde: Painel de Controle do Coronavírus. 2021. Disponível em: https://covid19.who.int/. Acesso em: 08 de fev. de 2021.