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MATEMÁTICA SIGNIFICATIVA Autora: Sheila Dalmonico Krueger Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Reitor: Prof. Dr. Malcon Anderson Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profa. Marizoli Regueira Schneider Revisão Gramatical: Profa. Marli Helena Faust Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © UNIASSELVI 2009 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 510 K941m Krueger, Sheila Dalmonico. Matemática Significatica / Sheila Dalmonico Krueger. Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial : Grupo UNIASSELVI, 2009.x; 87 p.: il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-241-2 1. Matemática 2. Matemática Significativa I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2009 Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Sheila Dalmonico Krueger Possui graduação em Matemática – Licenciatura, pela Universidade Regional de Blumenau (1996), especialização em Didática e Metodologia de Ensino (2000), pela Faculdade de Filosofi a e Letras de Registro, e em Psicopedagogia (2002), pelo Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG) e Mestra pelo Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Educação da Universidade Regional de Blumenau. Atua como professora de Estatística em cursos de graduação da Uniasselvi e também na Rede Estadual de Ensino – SC. Na Pós-Graduação, em nível de especialização, leciona as disciplinas de Didática da Matemática, Ciências, Tecnologia e o Ensino de Matemática, Estatística Aplicada e Alfabetização Matemática em cursos de Matemática e Psicopedagogia. Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Evolução HiStórica da matEmática no BraSil .............................. 9 CAPÍTULO 2 concEpçõES dE matEmática ....................................................... 33 CAPÍTULO 3 matEmática crítica ................................................................... 49 CAPÍTULO 4 matEmática Significativa E SuaS pErSpEctivaS para o futuro ........................................................................... 67 7 APRESENTAÇÃO Prezado(a) pós-graduando(a), seja bem-vindo à disciplina Matemática Significativa. Este caderno de estudos se propõe a apresentar para você um fragmento de diferentes análises sobre a matemática na escola e na vida. No primeiro capítulo você viajará pela história da matemática no Brasil, conhecendo aspectos relevantes de como se deu o início das escolas e o conhecimento matemático em nosso país. Também conhecerá quais foram os matemáticos renomados e as publicações dos primeiros livros de matemática conforme cada fase da história. A grande relevância do capítulo dois está no fato de você poder conhecer como a matemática foi e é entendida por professores, alunos e pelos filósofos e pensadores. Afinal, o que é matemática? A resposta será apresentada pelos diferentes olhares sobre a construção dessa área do conhecimento. O capítulo três fará você refletir sobre o que está por trás do conhecimento matemático na sua utilização no mundo atual, analisando verdades e/ou ideologias que perpassam o conhecimento matemático na vida, por meio da tecnologia, nos planos governamentais, ou até mesmo numa simples eleição. Nesse aspecto, poderemos perceber, como é dito popularmente, apenas a ponta do iceberg, fazendo-se necessário compreender o todo. É com esse intuito que a matemática crítica será apresentada nesse capítulo. O quarto e último capítulo tratará a matemática por meio da complexidade da vida, dos sonhos, das emoções e das esperanças. Apresentará, como proposta, uma atividade desenvolvida pela autora, e diferentes reflexões que objetivam o repensar dos seus conhecimentos, de suas verdades, em prol da vida. Bons estudos! A autora. CAPÍTULO 1 Evolução HiStórica da matEmática no BraSil A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender a evolução histórica da matemática no Brasil. Associar a história com a atual visão que se tem da matemática no Brasil. 11 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 contEXtualiZação Caro(a) estudante, para iniciarmos nossa conversa, neste capítulo, é importante que você responda a si próprio às seguintes indagações: o que fez você ser o que é, ter a estatura que tem, ter escolhido esta pós-graduação em Metodologia do Ensino da Matemática do Grupo Uniasselvi, gostar mais de uma cor em detrimento de outra, ter preferência por um determinado alimento, preferir praia ou campo para passar as férias, ouvir Beethoven, Rock, Forró, Axé, ou outro estilo musical? Para compreender suas próprias respostas, bastaria visitar seu passado e perceber as infl uências da sua cultura, dependendo da região em que cresceu ou mora, das pessoas que conviveram e convivem com você, das tradições da sua família, seja ela de origem indígena, italiana, japonesa ou outra. Para compreendermos melhor uma determinada área do conhecimento e o porquê de seguirmos algumas tendências, também se faz necessário revisitar o passado, conhecer os acontecimentos que marcaram momentos e que foram registrados pelas memórias, pelos livros, pela história. Neste primeiro capítulo, será apresentada a história da matemática no Brasil, com o objetivo de expor aspectos relevantes de diferentes momentos da história, que servirão de embasamento para a compreensão da matemática, no contexto em que ela se insere na atualidade. Ao conhecer a história, tornar-se-á fácil você associar o que faz, por exemplo, com que hoje tenhamos, no currículo escolar, quatro aulas de matemática semanalmente e outras disciplinas escolares terem somente uma ou duas. Para tanto, convido você a percorrer os caminhos que nos levam à compreensão, de maneira restrita, da História da Matemática no Brasil, com base na cronologia da história da matemática no Brasil, sugerida pelo professor Ubiratan D’ Ambrósio, como você verá no primeiro tópico. a dificuldadE dE uma HiStória da matEmática no BraSil Caro(a) estudante, com a vinda dos Portugueses à Ilha de Santa Cruz, primeiro nome dado ao nosso país, mudanças signifi cativas ocorreram com a cultura que aqui existia. Sabemos que cada povo tem o seu saber, e da mesma forma, os indígenas tinham seus costumes e tradições. Com a colonização e posteriormente com a catequização, pelos jesuítas, o que predominou foi a cultura do ‘homem branco’. Apesar de a cultura europeia se estabelecer no país, 12 Matemática Signifi cativa 12 não há neutralidade cultural, pois uma cultura infl uencia a outra. Em consonância com D’Ambrósio (2008, p. 15), “os modos de fazer e de saber originários dos grandes impérios europeus dos séculos XVI, XVII e XVIII foram transmitidos, absorvidos e transformados nas colônias [...] tornando-se diferentes do que vinha acontecendo nas metrópoles”. Segundo D’Ambrósio (2008), na matemática, o movimento de transferência desse período é pouco notado e demonstra uma predominância total desta área do conhecimento, originada das metrópoles. Em outras palavras, signifi ca dizer quea matemática era ‘desenvolvida’ em Portugal, na França e em outros países europeus, denominados metrópoles e, posteriormente, trazida ao Brasil, independentemente do contexto cultural aqui já estabelecido. Dessa forma, o resultado da produção matemática nas colônias (no Brasil) teve pouca atenção e poucos registros no ambiente acadêmico das metrópoles, difi cultando a inserção no contexto mundial de outras formas de saber e de fazer. Atividade de Estudos: Antes de dar continuidade à sua leitura, pare um instante e responda: 1) Como se faz história? 2) Quem conta a história? 3) Você já parou para pensar ou analisar, nos livros de história das escolas em que estudou ou trabalhou, de quem é a história contada? 4) Quais fatos você conhece, ou não, sobre a história da matemática no Brasil? Registre suas respostas no espaço que segue. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Os modos de fazer e de saber originários dos grandes impérios europeus dos séculos XVI, XVII e XVIII foram transmitidos, absorvidos e transformados nas colônias [...] tornando-se diferentes do que vinha acontecendo nas metrópoles. 13 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Após suas respostas, caro(a) estudante, há que se pensar no fato de que a história que se conta, na maior parte das vezes, é a do colonizador e não a do colonizado; em outras palavras, quem faz a história é quem tem poder. Mas você deve ter clareza de que esta não é uma característica ou realidade única do Brasil, ela ocorre com todos os povos e países que foram dominados, demonstrando, assim, a complexidade de se fazer história e, no nosso caso, história da matemática no Brasil. Para D’Ambrósio (2008), uma das difi culdades de uma história da matemática no Brasil se dá pela própria complexidade da era colonial, pelo fato de a maioria dos países da América Latina, e não somente o Brasil, terem sido colonizados por países como Portugal e Espanha, que se tornavam marginais, isto é, que fi caram à margem e até ‘excluídos’, sem contribuições signifi cativas no grande desenvolvimento das ciências e da matemática no século XVI, revelando desvantagens e difi culdades que até hoje se fazem presentes. Portanto, [...] para se fazer História da Matemática no Brasil é necessário reformular os atuais parâmetros historiográfi cos. Particularmente na cronologia e no conceito de fontes. [...] é importante distinguir as peculiaridades das populações nativas do Brasil e da ocupação do território, bem como do movimento de independência e das suas consequências no século XIX e grande parte do século XX. (D’AMBRÓSIO, 2008, p. 16). Veja como D’Ambrósio (2008, p. 19) propõe uma nova cronologia para a história da matemática no Brasil, à qual chama de periodização: • Pré-Colombo/Cabral: os primeiros povoamentos, a partir da pré- história; • Conquista e Colônia (1500-1822); • Império (1822-1889); • Primeira República (1889-1916) e a entrada na modernidade (1916-1933); A história que se conta, na maior parte das vezes, é a do colonizador e não a do colonizado; AXem outras palavras, quem faz a história é quem tem poder. 14 Matemática Signifi cativa 14 • Tempos Modernos (1933-1957); • Desenvolvimentos contemporâneos (a partir de1957); Em virtude do que foi mencionado, há muito que se pesquisar acerca da história da matemática no Brasil, principalmente no que se refere às noções e conhecimentos de matemática utilizados pelos povos que aqui habitavam. Pesquisas de etnomatemática já foram desenvolvidas, com o objetivo de resgatar os conhecimentos matemáticos dos povos indígenas dos primeiros tempos do Brasil, mas muito ainda há que se fazer. Quando você puder e quiser ampliar seus conhecimentos acerca desse tópico, é interessante ler o livro de D’Ambrósio, cujo nome é “Uma história concisa da matemática no Brasil”, incluído nas referências, no fi nal desse capítulo. o princípio da HiStória da matEmática no BraSil Será que no Brasil, no período do descobrimento, a matemática tinha a relevância que lhe é dada hoje? Neste tópico você terá, de forma restrita, um fragmento da história da matemática no Brasil, cujo objetivo é demonstrar a relevância que foi dada a essa área do conhecimento, no período do descobrimento. A história da educação brasileira teve seu início com o modelo europeu, anos após o descobrimento, com a chegada dos missionários da Companhia de Jesus. Dentre os que aqui chegaram, o Padre Manuel da Nóbrega foi quem tomou as providências para a criação da primeira escola no Brasil. Em 15 de abril de 1549, na Bahia, foram dadas as primeiras aulas de alfabetização – ler e escrever – pelo jesuíta Vicente Rijo Rodrigues, que se tornou o primeiro mestre-escola do Brasil. No entanto, nessas aulas não havia matemática (SILVA, 1992). Conforme sustenta Miorim (1998), o estudo da matemática não era visto com bons olhos pelos jesuítas. Os estudos das relações Os estudos das relações entre números e letras, pela geometria, ou a busca por relações abstratas, não eram relevantes para o “ser”, mas sim, encarados como ciência vã. 15 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 entre números e letras, pela geometria, ou a busca por relações abstratas, não eram relevantes para o ‘ser’, mas sim, encarados como ciência vã. A citação de Dainville (apud VALENTE, 1999, p. 332, grifo meu) corrobora esse fato. Segundo esse autor, para os jesuítas: [...] o estudo das ciências especulativas como a geometria, a astronomia e a física é um divertimento vão. Todos esses conhecimentos estéreis e infrutíferos são inúteis por eles mesmos. Os homens não nascem para medir linhas, para examinar a relação entre ângulos e para empregar todo seu tempo em considerar os diversos movimentos da matéria. Seu espírito é muito grande, a vida muito curta, seu tempo muito precioso para se ocupar de tão pequenas coisas; [...]. Caro(a) estudante, uma das personalidades que contribuiu de maneira signifi cativa para o desenvolvimento do ensino de matemática no Brasil foi o padre Christofher Clavius, que capacitou jovens para ministrarem aulas, uma vez que, nessa época, a escassez de professores para esta área era considerável (VALENTE, 1999). O padre Christofher Clavius, que era astrônomo e matemático, considerava relevante o estudo de matemática, que nesse momento histórico, no Brasil, era compreendido somente pelas operações básicas: adição, subtração, multiplicação e divisão. Em 1572, surgiu na Bahia o primeiro curso de Artes – ou ciências naturais – cuja duração era de três anos e os estudos eram de Matemática, Física, Lógica, Metafísica e Ética. O curso de Artes era também conhecido como curso de fi losofi a (SILVA, 1999). Muitos foram os colégios inaugurados pelos padres jesuítas, expandindo conhecimentos, com ointuito de preparar novos jovens para a ordem jesuítica. “Os alunos eram oriundos das classes mais abastadas, a saber, senhores de engenhos e de grandes fazendas, funcionários públicos, e outras classes, consideradas abastadas”. (SILVA, 1992, p. 33). Atividade de Estudos: 1) Depois de ter lido esse tópico, gostaria que você respondesse ao questionamento que lhe fi z no primeiro parágrafo desse mesmo tópico. Anote sua resposta aqui, comparando-a com a visão que se tem da matemática nos dias atuais. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 16 Matemática Signifi cativa 16 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ No próximo tópico veremos a história da matemática perpassando o período da Colônia a Reino Unido e Império, na qual você poderá conhecer imagens dos primeiros livros de matemática escritos no Brasil e saber por quanto tempo as escolas jesuíticas contribuíram com seus ensinamentos. É importante lembrar que os ensinamentos das escolas jesuíticas não se limitavam ou se direcionavam ao ensino da matemática no período do descobrimento, no entanto, foram fundamentais no desenvolvimento da educação escolar em nosso país. Em suma, destacar-se-ão os principais acontecimentos sobre a história da matemática no Brasil. a matEmática pErpaSSando a colÔnia, o rEino unido E o impÉrio No tópico anterior tivemos as primeiras noções da história da matemática no tempo da Colônia, na qual você pode perceber a pouca relevância dada pelos jesuítas a esse conhecimento. A seguir daremos continuidade aos fatos históricos que marcaram o ensino da matemática no Brasil até meados do ano de 1889. Em uma das falas sobre o colégio da Bahia, o Padre Anchieta (apud CASTRO, 1992, p. 12) em 1585, disse que essa escola era “[...] de ler, escrever e algarismo, [na qual já se tinha] duas classes [cujo curso era] de humanidades, deram-se [...] cursos de artes, em que se fi zeram alguns mestres de casa e de fora [isto é, já haviam sido formados alunos] [...]”. Em consonância com Valente (1999), o início do ensino da matemática no Brasil se deu para a fortifi cação e para a guerra, que aconteceu nas primeiras aulas de artilharia, restritas aos ofi ciais militares. Em 1647 são contratados estrangeiros especializados, para virem ao Brasil dar as primeiras aulas e capacitar pessoal para trabalhos de fortifi cação para a guerra. Em 1699 é criada a Aula de Fortifi cações, no Rio de Janeiro, com o objetivo de proteger e defender suas terras ultramarinas. Tal aula, apesar de instituída, em 1710 ainda não tinha iniciado por falta de materiais, como compassos, livros e O colégio da Bahia, em 1585, era escola de ler, escrever e algarismo. O primeiro livro didático de matemática escrito no Brasil foi ‘Exame de artilheiro’, em 1744, pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim e em 1748 seguiu- se outra obra do mesmo autor, o ‘Exame de bombeiro’. 17 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 outros instrumentos necessários para aprender a desenhar e fortifi car. A partir de 1738, torna-se obrigatório o ensino militar a todos os militares que quisessem ser promovidos ou nomeados para diferentes cargos. O primeiro livro didático de matemática escrito no Brasil foi ‘Exame de artilheiros’ (fi gura 1), em 1744, pelo grande engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim, cuja experiência pedagógica acumulada foi de vastos anos, e em 1748 seguiu-se outra obra do mesmo autor, o Exame de bombeiro (fi gura 2), de acordo com D’ambrósio, (2008) e Valente (1999). Veja na sequência a imagem dos primeiros livros: Fonte: D’Ambrósio (2008, p. 44). Fonte: D’Ambrósio (2008, p. 45). Se fi zermos uma breve análise da história das guerras, desde antes de Cristo, com as catapultas de Arquimedes, até os dias atuais, com o armamento bélico, como tanques de guerra, mísseis, ou ainda a proteção territorial de países, com radares que se utilizam de sistemas computacionais, poderemos verifi car que, na estrutura de todo esse desenvolvimento, a matemática é uma ferramenta fundamental. Segundo D’ Ambrosio (2009), faz parte das aulas de muitos professores, e até mesmo de livros didáticos, exemplo em que é possível estabelecer a trajetória de um projétil de canhão por meio de um trinômio do 2° grau. Além disso, o autor Figura 1 – Primeiro livro didático de matemática escrito no Brasil Figura 2 – Livro de matemática escrito no Brasil em 1748 18 Matemática Signifi cativa 18 lembra que “passamos o ano 2000 com grandes festividades, fomos ameaçados pelo bug do milênio, produto de poderosos vírus construídos com sofi sticada matemática computacional, escapamos desse bug graças a poderosos antivírus desenvolvidos graças à mesma matemática.” Essa digressão, caro(a) estudante, é necessária para que você tenha a contextualização panorâmica em que a matemática, desde o início de nossa história até o surgimento da escola pública e dos dias atuais, fi rmou-se como disciplina e ampliou suas aplicações nas mais diferentes áreas do conhecimento. Retornando à matemática dos primeiros séculos de Brasil, observamos que depois de duzentos anos de educação jesuítica em nosso país, acontece a expulsão dos jesuítas do território brasileiro, pelo Marquês de Pombal, com o intento de a educação brasileira servir à política e aos interesses do Estado, ao invés de continuar servindo à fé e aos interesses religiosos. Assim se dá o início de uma educação com a noção de pública, no país. Nessas circunstâncias, como se encontrava a matemática nesse período? A partir de 1772, com a reforma pombalina, foram criadas as aulas régias – de disciplinas isoladas – cujo objetivo era o de preencher a lacuna deixada pela eliminação da estrutura escolar jesuítica. Eram aulas avulsas, dadas em locais diferentes, com o ensino fragmentado e com professores despreparados. O desinteresse dos alunos por essas aulas era signifi cativo, principalmente pelas aulas de matemática, ao ponto de ser instituída, por meio de edital, penalidade àqueles que faltassem a essas aulas. (MIORIM, 1998). Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, novas perspectivas se abrem para a educação brasileira e consequentemente para a matemática. Em 1810 é criada a Academia Real Militar, que a partir do ano seguinte começa a desenvolver o ensino sistemático da matemática superior. (SILVA, 1992). A partir de 1827, as escolas primárias passam a ser gratuitas e acontece uma polêmica com relação aos conteúdos matemáticos que deveriam ser ensinados. A proposta inicial foi de que os alunos deveriam ter conhecimentos do sistema de numeração, das operações aritméticas, das primeiras noções de geometria para medições de terrenos e, por fi m, saber traçar desenhos com régua e compasso. Mas o que acabou sendo decidido para essa fase do ensino foram as quatro operações fundamentais. (VALENTE, 1999). Em 1837, no Rio de Janeiro, foi criada, nos moldes dos colégios franceses, a primeira escola secundária pública, o Colégio Pedro II, no qual as matemáticas Com a reforma pombalina, foram criadas as aulas régias, dadas em locais diferentes, com o ensino fragmentado e com professores despreparados. 19 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 – aritmética, geometria e álgebra – tiveram seu lugar garantido e aparecendo em todas as oito séries do curso. (MIORIM, 1998). É interessante perceber, ao analisarmos esse período, que a matemática começa gradativamente a se destacar no contexto escolar, tornando-secada vez mais ‘necessária’. Quem diria que, ‘de ciência vã’, como já foi citada em outro tópico, passaria a ser de suma importância? Quais foram os matemáticos que se destacaram nesse período? De acordo com Castro (1992), um dos principais matemáticos foi o renomado maranhense Joaquim Gomes de Sousa (fi gura 3), que em 1848 colou grau de doutor em matemática, com a tese ‘Dissertação sobre o modo de indagar novos astros sem o auxílio das observações directas’ (fi gura 4), na Escola Militar, na qual em seguida passa a ser professor. Fonte: D’Ambrósio (2008, p. 49). Fonte: D’Ambrósio (2008, p. 50). ‘Sousinha’, como era chamado, publicou em 1859, na Alemanha, um livro com cerca de 950 páginas, no qual seleciona o que ele considera as melhores poesias da literatura universal, em 17 línguas, e também outro, denominado ‘Mélanges de Calcul Intégral’, em 1882, do qual você pode apreciar a capa na fi gura 5 (D’AMBRÓSIO, 2008). Figura 3 – Joaquim Gomes de Sousa Figura 4 – Dissertação 20 Matemática Signifi cativa 20 Figura 5 – Livro de Joaquim Gomes de Souza Fonte: D’Ambrósio (2008, p. 53). Convém evidenciar que também tivemos padres matemáticos que se destacaram durante o Brasil Colônia e Império, por desenvolverem pesquisas de grande valia, como por exemplo: o Padre Antônio Viera, estudioso de cometas; o Padre Valentin Stancel, com a publicação de um livro que tratava sobre planetas; o Padre Bartolomeu de Gusmão, conhecido como ‘padre voador’, com estudos sobre balões. Além disso, é necessário lembrar os matemáticos que deram grandes contribuições, nesse momento histórico, como: Domenico Capassi, autor de várias publicações, reconhecido internacionalmente; Diogo Soares, que teve obras sobre topografi a; e Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, que fundou a revista “O Patriota”, utilizada também para publicações de textos matemáticos (D’AMBRÓSIO, 2008). Em suma, muitos matemáticos e fatos marcaram a história da matemática no Brasil, durante a colônia e o império, e foram apresentados em parte neste tópico. Vale lembrar que, ainda no império, começamos a ter a infl uência do positivismo no ensino da matemática no Brasil, que é intensifi cado com o advento da república. Mas o que é o positivismo? Siga com a leitura, que você mesmo poderá responder. 21 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Registre, nas linhas que seguem, os fatos marcantes da Colônia ao Reino Unido e Impérios. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ a rEpÚBlica A partir da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, a educação brasileira passa por reformas que a fazem tomar novos rumos. Nesse contexto você verá que a matemática será elevada na hierarquia do conhecimento escolar, pela forte infl uência da tendência fi losófi ca de Augusto Comte, o positivismo. É interessante constatar que matemáticos, cientistas e políticos se tornaram simpatizantes e seguidores da fi losofi a comtiana. Um dos principais seguidores do positivismo foi Benjamim Constant, que era político e professor de matemática e que trouxe transformações para a educação e em especial para a matemática. O positivismo, caro(a) estudante, foi uma tendência fi losófi ca, criada pelo francês Augusto Comte, professor e fi lósofo que enfatiza o conhecimento matemático, vendo-o como fundamento relevante para a ciência, com a qual, por meio da técnica, do método, do objetivo (com dados quantitativos) e da neutralidade, atingir-se-iam os verdadeiros propósitos para a educação científi ca. Além disso, uma das principais marcas na política brasileira, visível até hoje e que é máxima para o positivismo, foi a frase: “Ordem e Progresso’, que consta na nossa bandeira nacional. 22 Matemática Signifi cativa 22 Segundo Valente (2000, p. 2, grifo meu), a reforma de Benjamin Constant trouxe as seguintes mudanças para o ensino da matemática: Pelo Decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890, entra o Brasil na era republicana da educação. O ensino secundário, pensado conforme o colégio modelo da capital, o Ginásio Nacional (Colégio de Pedro II), teve alterado seu programa de estudos. Procurando seguir a orientação comtiana, Benjamin Constant torna-o enciclopédico e inclui todas as ciências da hierarquia positiva. São eliminadas disciplinas como Filosofi a, Retórica e surgem outras, como Astronomia, Sociologia Moral. Às matemáticas fi ca reservada grande parte do currículo: 1° ano: Aritmética e Álgebra elementar; 2° ano: Geometria preliminar, Trigonometria retilínea e Geometria espacial, Desenho; 3° ano: Geometria geral, seu complemento algébrico, Cálculo diferencial e integral, Geometria descritiva, Desenho e 4°, 5°, 6° e 7° anos: Revisão de cálculo e Geometria. É relevante você perceber que, com a eliminação das disciplinas citadas acima, o ‘pensar’ é colocado em segundo plano e o ‘fazer’, por meio da técnica e do método matemático, é ressaltado. Felizmente, houve matemáticos e/ou politécnicos sensatos nesse período, que, com suas pesquisas científi cas, lutaram contra a catequização comtiana, como Otto de Alencar, que participava de cursos e conferências e publicava artigos no Rio de Janeiro, e seus discípulos, Theodoro Ramos, Lélio Gama, Felipe do Santos Reis e o principal deles, Manoel Amoroso Costa. (SILVA, 2006). Em 1908 acontece a primeira participação do Brasil, como convidado e sem direito a voto, nas atividades da Comissão Internacional para o Ensino da Matemática, e não trouxe consequências para esse ensino. Já em 1912, o professor do Colégio Pedro II, Eugênio de Barros Raja Gabaglia, representou o país com sua participação efetiva, junto ao V Congresso Internacional de Matemática, apresentando a adesão brasileira a essa Comissão Internacional, que acabou sendo interrompida com a eclosão da Primeira Guerra mundial, trazendo a modernização do ensino da matemática, muitos anos mais tarde. (MIORIM, 1999). O professor de grande relevância para o ensino de matemática no Brasil, nessa época, foi Euclides Roxo, que em 1914 se forma em engenharia pela Escola Politécnica e em seguida se torna professor assistente no Colégio Pedro II e em 1919, com o falecimento do professor Raja Gabaglia, assume a cátedra da disciplina desse colégio. (MARQUES, 2005). De 1922 até 1929, é utilizado pelo Colégio Pedro II o livro didático escrito por Roxo. A principal diferença entre o manual que era usado e este está no fato de 23 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 “que o primeiro apresentava e desenvolvia a aritmética quase que exclusivamente com exemplos numéricos e o segundo o fazia utilizando-se de uma notação literal.” (MARQUES, 2005, p. 20). Para lembrar, notação literal é a que se utiliza de letras para representar situações numéricas. Segundo Marques (apud VALENTE, 1999, p. 21): O novo didático de matemática, escrito por Roxo, tinha assim a fi nalidade de objetivar a proposta de modernização do ensino no Brasil. A intenção principal era a reestruturação da sequência de conteúdos a ensinar, visando à fusão dos vários ramos (aritmética, álgebra, geometria) até então separados. Estava nascendo uma nova matemática escolar: a matemática do ginásio e, com ela, um livro para a primeira série desse novo grau de ensino, a ser criado ofi cialmente com a Reforma Francisco Campos, sob a denominação de Curso Fundamental. É importante você saber que, apesarde tantos acontecimentos no Brasil, com os estudos matemáticos, pesquisas, publicações de artigos, formação de engenheiros, militares e visitas de personalidades da ciência mundial, na República o ensino era restrito às classes mais abastadas e havia um alto índice de analfabetismo no país. Convém evidenciar que, em 1916, surge a Sociedade Brasileira de Ciências, fazendo com que a matemática fosse vista com maior seriedade. Nesse contexto é importante você saber que o professor Manuel Amoroso Costa liderou matemáticos nesse período para “[...] discutirem questões básicas da época, a saber, o direcionamento daquela ciência em nosso país, a necessidade da criação de uma Faculdade de Ciências e, principalmente, o combate à danosa infl uência comtiana na matemática brasileira.” (SILVA, 1992, p. 135). Tivemos visitas ilustres em nosso país, que contribuíram para desarticular o positivismo, mesmo este ainda estando em evidência e tendo forte infl uência no ‘fazer’ de muitos matemáticos e estudiosos da época. Uma das visitas foi de Albert Einstein, em 1925, que foi ridicularizado pelos positivistas, por meio da imprensa, o que provocou uma reação da corrente modernizadora, sendo fatal para a corrente positivista, abrindo um novo espaço e uma nova era para a ciência brasileira e, consequentemente, para a matemática (D’ AMBRÓSIO, 2008). A atividade científi ca não teve incentivo do poder nesse momento histórico. Em verdade, caro(a) estudante, a história se repete. Por mais que hoje tenhamos Em 1916, o professor Manuel Amoroso Costa liderou matemáticos para discutirem questões básicas da época, a saber, o direcionamento daquela ciência em nosso país, a necessidade da criação de uma Faculdade de Ciências e, principalmente, o combate à danosa infl uência comteana na matemática brasileira. 24 Matemática Signifi cativa 24 grandes pesquisas científi cas desenvolvidas ou em desenvolvimento no país, ainda é pouco o incentivo por parte do governo, comparado a países desenvolvidos, portanto, estamos aquém do que gostaríamos. Para um professor de matemática ou de outra área do conhecimento fazer uma pós-graduação, hoje, seja em nível de especialização, mestrado ou doutorado, ou se tornar um pesquisador, na maioria das vezes é com muito esforço e grande difi culdade fi nanceira. Mas, como diz um dos importantes lemas do Grupo Uniasselvi, Cada um constrói a sua história, por isso sigamos adiante, com muita vontade e determinação. Atividade de Estudos: 1) Cite alguma mudança ocorrida no ensino da matemática com a Reforma de Benjamin Constant, e diga quem contribuiu para essas mudanças. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ No tópico A nova República, que veremos a seguir, a matemática entra na era da modernização, e são criadas as principais universidades conceituadas do país. Além disso, eclode o golpe militar e um novo governo se estabelece, trazendo mais transformações à educação. Sigamos adiante nos passos da história. a nova rEpÚBlica Com o fi m da primeira República e com o golpe militar que coloca Getúlio Vargas no poder, em 1930, o Brasil entra na era da produção e no mundo do capital. Com o novo governo, Francisco Campos é nomeado Ministro da Educação, função esta que só havia existido em um curto período de tempo, na primeira República. Nesse período tão conturbado da ditadura, acontecem importantes mudanças para a matemática, provindas das Reformas Campos e Capanema. Ainda neste tópico, você também verá como se deu a criação de conceituadas universidades, entre elas a de São Paulo. 25 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 Mas o que foi a Reforma Campos e que mudanças efetivas trouxe à matemática? A Reforma Campos foi criada pelo Ministro da Educação, Francisco Campos, mas elaborada pelo diretor e professor de matemática do Colégio Pedro II, Euclides Roxo. Apesar de Euclides Roxo não simpatizar com o governo Vargas, aceitou o convite de inovar a educação brasileira, nos moldes do que era feito no Colégio Pedro II. A reforma se deu de forma autoritária e Euclides Roxo teve um árduo e solitário trabalho ao elaborá-la. Compreenda que, em vários momentos desse capítulo, você teve a matemática sendo citada nos estudos escolares pelos ramos de abrangência, como aritmética, geometria e álgebra. A partir da Reforma Campos, a matemática nasce como disciplina escolar, unifi cando os ramos da matemática, já citados, e sendo instituída em todas as séries do ensino primário e, a partir desse momento, também no ensino secundário. Vale lembrar que, segundo Marques (2005), a disciplina de matemática existia no interior da escola Colégio Pedro II, fruto da interpretação de Euclides Roxo e do movimento internacional de renovação do ensino da matemática, e que se confi rma com a reforma. Na época, a proposta de mudança gerou muita polêmica e, como tudo que é novo, também muita resistência, nesse caso, por parte dos professores. Marques afi rma que (2005, p. 99) “com a Reforma Campos, as séries subsequentes ao Curso Primário seriam denominadas Curso Secundário, dividido em Curso Fundamental de 5 anos e Curso Complementar de 2 anos”. De acordo com Marques (2005, p. 23), “[...] o mérito da reforma foi o de haver dado estrutura orgânica ao ensino secundário, comercial e superior, pois era a primeira vez que uma reforma atingia profundamente a estrutura do ensino e era imposta a todo o território nacional.” Para sua melhor compreensão, Marques (2005, p. 24-25) esclarece: [...] o curso secundário é composto por dois ciclos, um Fundamental, de cinco anos, e outro Complementar, de dois anos. Dessa forma, o aluno ingressa na 1ª série do curso fundamental com 11 anos, aproximadamente, equivalendo, à 5ª série do Ensino Fundamental dos dias de hoje. [...] o ensino secundário antes da reforma, em geral, não passava de cursos preparatórios de caráter exclusivamente propedêutico. Caro(a) pós-graduando, para o Brasil se proteger em caso de guerra, atender a formação da elite e ao mesmo tempo construir um país, foi imprescindível a formação de militares, engenheiros, advogados e médicos desde os primeiros tempos. Por iguais motivos, perceba que gradativamente a matemática vai tomando uma posição de destaque na hierarquia das disciplinas ensinadas, A partir da Reforma Campos, a matemática nasce como disciplina escolar, unifi cando os ramos da matemática e sendo instituída em todas as séries do ensino primário e, a partir desse momento, também no ensino secundário. 26 Matemática Signifi cativa 26 sempre com o intuito de atender as necessidades de cada momento histórico e também ideológico, para o qual cada reforma apresentou contribuições. Na sequência você verá a criação de grandes instituições de ensino no país, a evolução da matemática nessa época, os professores que infl uenciaram na pesquisa científi ca e na formação de professores, além das alterações para o ensino. modErnidadE E dESEnvolvimEntoS contEmporÂnEoS A Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo foi criada em 1934, e a Faculdade Nacional de Filosofi a, integrante da Universidade Brasil, no ano de 1939, no Rio de Janeiro. Foi a partir da criação dessas universidades “que foram estabelecidos cursos específi cos visando à formação de professores secundários [...] nos cursos de bacharelados e licenciaturas.” (SILVA, 2009, p. 1). Saiba que nesse período o Brasil viabilizou a vinda de professores estrangeiros,como italianos, franceses e poloneses, os quais se estabeleceram principalmente em São Paulo e no Paraná e infl uenciaram as atividades científi cas e o ensino da matemática em nosso país. Vale ressaltar que, por intermédio da infl uência política que o professor e engenheiro Theodoro Ramos tinha junto à Itália, e aliado aos incentivos do governo italiano para que seus cientistas se estabelecessem em São Paulo, veio para o Brasil o professor Luigi Fantappiè, que era reconhecido internacionalmente pelos seus inúmeros trabalhos científi cos publicados. (SILVA, 2009). Fantappiè participou da nossa reforma educacional no fi nal da década de trinta e em 1936 convidou para vir para a Universidade de São Paulo outro matemático italiano, chamado Giacomo Albanese, que foi quem montou a biblioteca de matemática, com muitos livros de Geometria Algébrica. (SILVA, 2009). Em 1934, o novo Ministro da Educação e Saúde do Brasil, chamado Gustavo Capanema, fez com que a matemática estivesse novamente entre as disciplinas de destaque e numa posição de prestígio. Segundo Marques (2005, p. 40; 43), tivemos, com a Reforma Capanema, alterações no conjunto do sistema educacional brasileiro, como segue: [...] a reestruturação do ensino secundário estabeleceu-se da seguinte forma: 1º ciclo, denominado Ginásio, com 4 séries; 27 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 e 2º ciclo, com três séries, subdividido em clássico e científi co. O Curso Secundário permanecia com duração de 7 anos, mas com uma nova confi guração, que ao invés de 5 anos para Curso Fundamental e 2 anos para Curso Complementar, agora com 4 anos para o Ginásio e 3 anos para o Curso Clássico ou Científi co. [...] ambos os níveis denotavam uma preocupação excessivamente enciclopédica e ausência de distinção notável entre os dois cursos, científi co e clássico. Perceba que, até pouco tempo, a reestruturação da Reforma Capanema ainda se fazia presente em nosso sistema educacional brasileiro. Há poucos anos mudou novamente, isto é, quem entra hoje na primeira série do ensino fundamental fará 4 anos nas séries iniciais, 5 anos considerados de 5ª a 9ª série e mais 3 anos de ensino médio, exceto para os cursos técnicos que, em geral, têm um ano a mais. A matemática, em termos didáticos e metodológicos, nos anos 40 continuava sem grandes alterações, comparada com a dos anos 30. A proposta que Euclides Roxo tinha como um dos pilares para a modernização do ensino da matemática, desde o Colégio Pedro II, a metodologia heurística, a qual tentou implantar com a Reforma Campos, não obtendo êxito, além de enfrentar forte resistência de seus colegas professores. Na Reforma Capanema também não aconteceu a revolucionária ideia de modernização de Euclides e, diante da resistência e pressões da época, Roxo recuou quanto à unifi cação dos ramos da matemática. Os autores seguiram obedientes em seus livros didáticos, apenas com os conteúdos já defi nidos na Reforma Campos. (MARQUES, 2005). “Dessa forma, a disciplina matemática vai se consolidando ao longo dos anos 40 sem a implementação do método heurístico pelos professores e sem o ensino de funções como eixo integrador e unifi cador dos ramos da matemática.” (MARQUES, 2005, p. 47) Metodologia heurística é uma forma de fazer com que o aluno atinja o resultado de um problema ou operação matemática por meio da busca por tentativas ou aproximações, sem seguir a maneira formal, por meio dos algoritmos tradicionais. Para resolver uma simples multiplicação, por exemplo, 3 x 21, sem que o aluno conhecesse o tradicional algoritmo, seriam possíveis vários caminhos: um aluno poderia resolver fazendo a seguinte soma 20+20+20+1+1+1 e outro poderia fazer 21+21+21 sem a utilização do algoritmo ao lado, que conhecemos como: 21 x3 63 28 Matemática Signifi cativa 28 Perceba, caro(a) pós-graduando(a), como é importante conhecermos a história, neste caso, da matemática, no Brasil, pois só assim é possível termos uma visão geral e ao mesmo tempo uma compreensão específi ca dessa área do conhecimento. Ao ler a história até aqui, você consegue reconhecer alguns aspectos da matemática ou da política atual? Pare um instante e refl ita! Seguindo nossa história, a matemática continua a passar por mudanças signifi cativas de forma a ser cada vez mais valorizada e, simultaneamente, mais simplifi cada. Isso se torna visível com a Portaria de 1951, na qual o Ministro da Educação e Saúde, Simões Filho, institui o programa mínimo para o ensino da matemática, cujas principais ações metodológicas destacam que (MARQUES, 2005, p. 60-61): • Cada assunto deve ser ilustrado com aplicações e exemplos; • A unidade da matemática deverá ser posta em evidência; • O ensino de matemática nos primeiros anos deve ter caráter prático e intuitivo; • Deve-se despertar aos poucos e cuidadosamente o aluno para o método dedutivo; • O rigor deve ser moderado. No período de 1952 tivemos a criação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o IMPA, que é o atual órgão do Conselho Nacional de Pesquisas, CNPq. O apoio ao desenvolvimento científi co e tecnológico, por parte do governo, promoveu “[...] a inserção da pesquisa matemática do Brasil no cenário internacional.” (D’ AMBRÓSIO, 2008, p. 93). Nessa fase pré-moderna acontece, em 1955, o I Congresso Nacional de Ensino da Matemática no Curso Secundário, cujas principais solicitações foram que o programa de matemática do curso secundário deveria ser (MARQUES, 2005, p. 69-70): • Mínimo e exequível integralmente; • De assuntos essencialmente formativos; • Relacionado intimamente com o número de aulas e de exercícios. Apesar das reivindicações citadas anteriormente, Marques (2005) afi rma que os professores que participavam do congresso praticamente não tinham objeção quanto ao programa mínimo de conteúdos, mas sim com o número de aulas semanais: “4 aulas para o ginásio e 5 no de colégio” (MARQUES, 2005, p. 29 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 75). O principal interlocutor do congresso foi o professor de matemática Osvaldo Sangiorgi. Anos mais tarde, com o desenvolvimento tecnológico, econômico e com a ampliação dos novos modelos na indústria mundial, após a segunda grande guerra, sente-se a necessidade de uma escola que dê suporte a essa expansão de conhecimentos, aliados à necessidade da técnica. Assim sendo, a escola e seus ensinamentos são repensados nos países europeus e nos Estados Unidos. Com isso, pretende-se uma matemática útil, prática e contextualizada. Assim surge, entre as décadas de 1960 e 1970, o Movimento da Matemática Moderna no Brasil, advindo do grupo de pesquisa francês chamado Bourbaki, que pretendia inovar a matemática na perspectiva da modernidade, fato que gerou controvérsias entre matemáticos da época, no aspecto de ter tido ou não êxito em nosso país. Em comentário sobre essa questão, D’ Ambrósio (2000, p. 57-58) esclarece: Se a matemática não produziu os resultados pretendidos, o movimento serviu para desmistifi car muito do que se fazia no ensino da matemática e mudar – sem dúvida para melhor – o estilo das aulas e das provas e para introduzir muitas coisas novas, sobretudo a linguagem moderna de conjuntos. Claro, houve exageros e incompetência, como em todas as inovações. Mas o saldo foi positivo. Isso se passou, com essas mesmas características, em todo o mundo. Muito se produziu em pesquisa matemática desde a modernidade até os dias atuais, sendo possível destacar a historiografi a da matemática no Brasil, a etnomatemática, a modelagem matemática, cuja produção científi ca já foi e continua sendo apresentada em inúmeros congressos, simpósios e seminários nacionais e internacionais, fazendo com que nossas pesquisas e autores sejam reconhecidos e premiados tanto nacionalmente, quantointernacionalmente. Atividade de Estudos: 1) Recordando algumas das ações que ocorreram e geraram mudanças no ensino, no período da matemática moderna no Brasil, faça um pequeno texto, que contemple as principais ações metodológicas que Simões Filho instituiu como programa mínimo para o ensino da matemática. Cite quais foram as reivindicações feitas no I Congresso Nacional de Ensino da Matemática no Curso Secundário, e conclua seu texto analisando se foi produtivo e/ou importante o movimento da matemática no Brasil, baseando-se na seção estudada, ______________________________________________________ 30 Matemática Signifi cativa 30 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ algumaS conSidEraçõES Neste primeiro capítulo temos um pequeno recorte da história, com o intuito de localizá-lo no espaço-tempo da matemática no Brasil, para que você compreenda o porquê de a matemática ter o valor que tem, na atual conjuntura da educação no país. Vale lembrar que a história contada enfatizou os povos que aqui chegaram, em detrimento dos que aqui já viviam. Muita pesquisa sobre possíveis formas de contagem, de ornamentos com formas geométricas, enfi m, da matemática utilizada pelos índios, ainda há que ser feita, seja pelas heranças trazidas de geração a geração, nas tribos que temos no país hoje, ou por pesquisas documentais, de registros dos que aqui chegaram no início da colonização. Já existem pesquisas sendo realizadas por meio da etnomatemática, mas não tivemos como objetivo abordá-las neste caderno de estudos. Temos uma matemática e uma educação predominantemente europeia, mas a nossa diversidade, nossa condição de país colonizado, possibilitou uma visão diferenciada e peculiar, com grandes pensadores como, por exemplo, Ubiratan D’ Ambrósio, com a etnomatemática, Rodney Carlos Bassanezi, com a modelagem matemática, e Wagner Rodrigues Valente, com a história da matemática no Brasil. Estes e inúmeros outros matemáticos brasileiros desenvolvem pesquisas no Brasil e exportam suas ideias para o mundo por meio de publicações científi cas em congressos internacionais. Da mesma forma, há outras tendências e pesquisadores referenciados internacionalmente, que você verá no terceiro capítulo, ao tratarmos da matemática crítica. O referencial para o próximo capítulo é apresentar as diferentes concepções do que é a matemática. Para tanto, é necessário você conhecer, além da história da matemática no Brasil estudada neste capítulo, também quais foram as concepções 31 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MATEMÁTICA NO BRASIL Capítulo 1 que fi lósofos e matemáticos importantes da história mundial tiveram acerca do que é matemática, até chegarmos aos dias atuais, com as concepções de nossos alunos, professores e matemáticos. Para pensarmos em mudanças, melhorias ou mesmo para compreendermos que caminhos nos fi zeram estar onde estamos, como professores ou pesquisadores é importantíssimo conhecermos o que se pensou desde os tempos remotos, e o que se pensa sobre a matemática na atualidade. rEfErÊnciaS CASTRO, Francisco Mendes de Oliveira. A matemática no Brasil. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. D’ AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. 7. ed. Campinas: Papirus, 2000. ______. Uma história concisa da matemática no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2008. ______. A responsabilidade dos matemáticos na busca da paz. Disponível em: <http://vello.sites.uol.com.br/responsabilidade.htm> Acesso em: 2 set. 2009. MARQUES, Alex Sandro. Tempos pré-modernos: A matemática escolar dos anos 1950. 2005. 161 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/fi cha.do?id=6882274>. Acesso em: 20 jun. 2009. MIORIM, Maria Ângela. Introdução à história da educação matemática. São Paulo: Atual, 1998. SILVA, Circe Mary da. Politécnicos ou matemáticos?. História, Ciências, Saúde- Manguinhos. 2006, v. 13, n. 4, p. 891-908. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702006000400007&lang=pt> Acesso em: 18 jun. 2009. ______. A faculdade de fi losofi a, ciências e letras da USP e a formação de professores de matemática. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/emanped/ paginas/conteudo_producoes/docs_23/faculdade_fi losofi a.pdf> Acesso em: 20 jun. 2009. SILVA, Clóvis Pereira da. A matemática no Brasil: uma história de seu desenvolvimento. Curitiba: UFPR, 1992. 32 Matemática Signifi cativa 32 VALENTE, Wagner Rodrigues. Uma história da matemática escolar no Brasil, 1730-1930. São Paulo: Annablume: FAPESP, 1999. ______. Positivismo e matemática escolar dos livros didáticos no advento da República. Cadernos de Pesquisa. 2000, n.109, p. 201-212. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 15742000000100009&lang=pt.> Acesso em: 18 jun. 2009. CAPÍTULO 2 concEpçõES dE matEmática A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Entender o que é matemática a partir das diferentes concepções. Relacionar as diferentes concepções de matemática com sua prática pedagógica ou de pesquisa. 35 CONCEPÇÕES DE MATEMÁTICA Capítulo 2 contEXtualiZação Ouve-se falar que a matemática está presente em tudo: na vida, na música, na arquitetura dos prédios e casas, nas plantas e em todos os lugares. Pessoas que já passaram pelos bancos da escola e você, que está dando sequência aos seus estudos ou pesquisa, também poderiam contribuir com alguma defi nição para essa área tão abrangente do conhecimento. Algumas das coleções de livros didáticos utilizadas no ensino fundamental e médio, no Brasil, trazem títulos que relacionam a matemática com a vida, com a realidade, com contextos e aplicações, demonstrando sua relação com o cotidiano, com o pensamento, com a imaginação, numa perspectiva dinâmica e prática. Para pensar sobre a matemática em nosso cotidiano, basta analisar um jornal do estado em que moramos. Será que ela está presente nesse jornal? Sim, com índices de infl ação, de emprego e desemprego; com os investimentos em obras que a prefeitura de uma determinada localidade usará para melhorias nos bairros da cidade ou em rodovias; nos classifi cados, com propagandas de compra e venda de veículos (carros, motos, caminhões), imóveis, equipamentos; com os esportes, nos resultados dos jogos de futebol e na previsão do tempo, com as estimativas de temperaturas em regiões do país. Nesses exemplos citados, percebemos a presença da matemática. Mas o que é matemática? A resposta a essa pergunta é o que este capítulo se propõe a apresentar. De forma sucinta, você terá diferentes concepções de matemática, para que possa refl etir e comparar com seu próprio entendimento acerca dessa área tão antiga e importante do conhecimento. concEpçõES dE matEmática Iniciaremos nossa conversa neste capítulo com a seção “Os primeiros dedos de prosa sobre a matemática”, de forma que você terá diferentes defi nições, por exemplo, como a do dicionário, que lhe dará uma primeira impressão do que é matemática. Na seção “De onde vêm os fundamentos de matemática exata, abstrata, objetiva, lógica...?”, serão apresentadas as concepções de fi lósofos e matemáticos, demonstrando a origem de certos conceitos, presentes, de maneira marcante, até os dias atuais. A seção “Escola e a matemática” trará a matemática como disciplinaescolar, tendo, a seguir, uma seção que citará algumas das concepções de professores e alunos e, por fi m, em “A matemática e os padrões”, você a compreenderá a partir da noção de padrões e regularidades. 36 Matemática Signifi cativa 36 Transcrevendo uma pequena parte do poema de Antônio Machado (2009, p. 3), temos: “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar...”, por isso convido você para essa caminhada conceitual. a) Os Primeiros “Dedos de Prosa” sobre a Matemática Temos registros de matemática há milhares de anos, em que foram utilizadas pedras para contagens, marcas em madeiras que representavam números, tábuas numéricas, papiros com problemas numéricos, nós em cordas, intervalos musicais representados por meio de frações e, tudo isso, pela necessidade que temos de explicar, classifi car e contar o mundo que nos cerca. Machado (1994, p.7) apresenta algumas defi nições de matemática: • “O termo matemática é de origem grega: signifi ca o que se pode aprender (mathema quer dizer aprendizagem).” • “Ciência que investiga relações entre entidades defi nidas abstrata e logicamente.” Dicionário Aurélio. • “Ciência que lida com relações e simbolismos de números e grandezas e que inclui operações quantitativas e soluções de problemas quantitativos.” Enciclopédia Britânica. É complexo encontrarmos uma única resposta ou concepção para o que é matemática. Com a defi nição retirada do dicionário poderemos ter uma compreensão inicial. Segundo o dicionário Michaelis (1998, p.1335), a matemática “é a ciência que trata das medidas, propriedades e relações de quantidades e grandezas e que inclui a Aritmética, a Álgebra, a Geometria, a Trigonometria, etc.” De maneira concisa, podemos perceber que nessas defi nições são apresentadas: • A aritmética, que é representada pelos números e pelas operações básicas. • A geometria, pelas formas, a álgebra, que se utiliza do abstrato, pelo seu simbolismo por meio de letras. • E a trigonometria, com as grandezas e razões que são encontradas nas relações entre ângulos e lados de triângulos retângulos. Talvez você já tenha ouvido falar de seus professores, durante sua graduação, A matemática é a ciência que trata das medidas, propriedades e relações de quantidades e grandezas e que inclui a Aritmética, a Álgebra, a Geometria, a Trigonometria, etc. 37 CONCEPÇÕES DE MATEMÁTICA Capítulo 2 lido em livros ou até mesmo ouvido de seus colegas, professores de matemática, sobre a matemática ser de cunho exato, abstrato e objetivo. De onde vem essa noção ou defi nição? Você poderá tirar algumas conclusões que, no próximo tópico, serão expostas por meio de diferentes concepções de alguns fi lósofos e matemáticos, para que se possa compreender a origem de conceitos que estão impregnadas no senso comum, na escola e na sociedade atual. b) De onde vêm os Fundamentos de a Matemática ser Exata, Abstrata, Objetiva, Lógica...? Ao longo da história da humanidade, grandes fi lósofos perceberam a matemática de maneira peculiar, dando ênfase à razão, à lógica, ao abstrato e à objetividade. Para Pitágoras ou para os pitagóricos, “todas as coisas eram números. A matemática explicava a ordenação do Universo, tirava do caos à ordem, fazendo a natureza se render aos seus princípios: os números.” (apud BARALDI, 1999, p.84). Machado (1994) expõe que, para Platão, a matemática refere-se ao mundo das Formas, que só poderia ser captado por meio da razão e que se restringe a duas classes: Matemáticas (aritmética, geométrica) e as Morais (como a ideia de “bem”). Para ele, a matemática refere-se a essas entidades que têm a existência objetiva, fora da mente do matemático, mas que também não se encontram no mundo empírico. É no mundo harmônico, simétrico, de relações puras, absolutas, que o matemático deve atuar. Vale lembrar que, assim como Platão era um fi lósofo racionalista, isto é, compreendia o conhecimento por meio da razão, tivemos outros fi lósofos e matemáticos que viam o conhecimento de maneira igual ou similar, como Descartes e Leibniz. Em outras palavras, “o platonismo considera a Matemática como um corpo de conhecimentos estático, objetivo, neutro, certo e isento de valores.” (GRAÇA; MOREIRA; CABALLERO, 2004, p. 7). Podemos pensar dessa forma, como sendo um conhecimento inquestionável, preciso, exato, que só faz parte do mundo das ideias. Mas o que você pensa acerca dessa afi rmação, a matemática é exata? Um exemplo, demonstrado através da seção científi ca de um jornal diário, na cidade de São Paulo, em 1987, faz repensar a exatidão atribuída à matemática: Se a matemática é uma ciência, por que ela não consegue exprimir uma divisão materialmente possível? Exemplo: Se tenho uma fi ta de 1000 milímetros e a divido em três partes iguais, consigo juntá-las e obter a fi ta original. O platonismo considera a Matemática como um corpo de conhecimentos estático, objetivo, neutro, certo e isento de valores. 38 Matemática Signifi cativa 38 No entanto, se divido 1000 por três, obtenho 333,333333333 que, juntando as três partes, não resulta 1000, mas 999,999999999. (MACHADO, 1993). Ou ainda, qual será o valor exato de colisões entre veículos, no trânsito de uma cidade populosa como São Paulo, por exemplo, no período vespertino, referente ao dia 26 de abril de 2015? Que equação matemática poderá dar um resultado exato para essa situação? Poderemos encontrar valores aproximados, com análises probabilísticas e estimativas estatísticas, mas não temos como dar um número exato e acabado para esse questionamento. O mesmo poderia ser pensado para o resultado de uma eleição, pois, por mais que um determinado candidato tenha alta probabilidade de ser eleito, ainda assim, não teríamos a certeza e a exatidão dos resultados, uma vez que muitos outros fatores ou variáveis poderiam infl uenciar no resultado fi nal. De acordo com Machado (1994), a matemática, para Aristóteles, era o estudo das abstrações matemáticas elaboradas pelos matemáticos a partir dos objetos do mundo, da percepção sensível, reabilitando o mundo empírico bem como o trabalho matemático. É importante você compreender o signifi cado de “percepção sensível e mundo empírico”, considerado por Aristóteles. Podemos considerar percepção sensível como sendo o mundo material, do visível, das opiniões e mundo empírico como sendo o mundo da experiência, que é passado de geração em geração, de pai para fi lho. Vejamos um exemplo: Quando estamos muito cansados ou estressados com as correrias do cotidiano, ouvimos nossos pais ou amigos dizerem: faça um chá de erva cidreira antes de dormir, que isso o ajudará a se sentir melhor. Apesar de sabermos hoje dos efeitos salutares das ervas medicinais e dos medicamentos fi toterápicos, analisados e desenvolvidos em pesquisas, esse conhecimento, para os chineses, tem tradição milenar. Segundo Machado (1994), Leibniz, fi lósofo e matemático racionalista (que enfatiza a razão), ao imaginar um sistema geral, uma linguagem para fundamentação do raciocínio em todas as ciências, chamou esse sistema de Mathesis Universalis. Mathesis signifi ca aquisição do conhecimento, aprendizagem. Para Leibniz, há duas classes de verdades: verdades da razão e as verdades dos fatos. Exemplos de verdades da razão: meu livro é um livro ou 2 + 3,5 = 5,5; e de verdades dos fatos: meu carro é da cor prata. Na concepção de Kant (apud MACHADO, 1994), a matemática se refere à realidade concreta, cuja base de sustentação fi losófi ca sempre esteve longe de ser inquestionável, tendo servido de ponto de partida para concepções globais antagônicas, como são as do Formalismo e as do Intucionismo. 39 CONCEPÇÕES DE MATEMÁTICA Capítulo 2 Formalismo, Intucionismo, o que é isso? São três as correntes fi losófi cas que têm compreensões diferentes sobre o que é matemática: o Logicismo,o Formalismo e o Intucionismo. Nessas concepções, o conhecimento matemático é entendido como possuidor das verdades absolutas e indiscutíveis, “provadas pelo método dedutivo, e que de forma alguma podem ser validadas – confi rmadas ou refutadas pelos fatos experimentais (empirismo).” (BARALDI, 1999, p. 86). Muitos foram os fi lósofos e matemáticos que deram contribuições para concepções e inventos na matemática, e o que você pode verifi car nessas primeiras concepções é que temos uma herança histórica na forma de compreender a matemática como sendo exata, objetiva, lógica, abstrata e uma linguagem universal. Essa herança também aparece nas concepções de professores e alunos, conforme veremos na seção “d”. c) A Escola e a Matemática Nos dias atuais, ao nos referirmos ao que é matemática, a tendência está em associá-la ao ensino ou à educação como disciplina institucionalizada, como uma matéria escolar que objetiva o ensino de aritmética, grandezas e formas. Machado (1994) demonstra que a compreensão que se tem da matemática como disciplina é distorcida. Desde os primeiros contatos com a matemática como matéria escolar a concepção muito difundida, entre leigos e especialistas, é de que o conhecimento matemático possui características gerais de objetividade, de precisão, de rigor, de neutralidade do ponto de vista ideológico, que o universalizam. Conforme D’Ambrósio (2000, p. 7), a disciplina de matemática é compreendida “como uma estratégia desenvolvida pela espécie humana ao longo da história para explicar, para entender, para manejar e conviver com a realidade sensível, perceptível, e com o seu imaginário. Naturalmente dentro de um contexto natural e cultural”. Por mais que saibamos da importância de ligarmos os conhecimentos escolares com a vida, o que percebemos é que a escola traz um emaranhado de conhecimentos desconectados da vivência do aluno. Assim, o que está mais presente no ensino da matemática é a razão e a objetividade, tendo em sua base 40 Matemática Signifi cativa 40 o ensino tradicional, dando ênfase ao treino, à memorização e à repetição, de maneira descontextualizada. Dessa forma, a escola torna-se insípida e distante da sua real função. Segundo D’Ambrósio (2000, p. 59), “Os alunos não podem aguentar coisas obsoletas e inúteis, além de desinteressantes para muitos”. De acordo com Luckesi (1994), o ensino tradicional é aquele cujo caminho cultural em direção ao saber é o mesmo para todos os alunos, independentemente de existirem difi culdades de aprendizagem por alguns. Os métodos de ensino baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou demonstração. O professor é o detentor do conhecimento e a autoridade em sala de aula, transmitindo os conteúdos na forma de verdade a ser absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o meio mais efi caz para assegurar a atenção e o silêncio. Observe que Chevallard (2001, p. 45), ao analisar o ensino e a aprendizagem de matemática, afi rma que “a presença da matemática na escola é uma consequência de sua presença na sociedade e, portanto, as necessidades matemáticas que surgem na escola deveriam estar subordinadas às necessidades da vida em sociedade”. Atividade de Estudos: 1) Na escola em que você atua, caso seja professor, ou nas escolas em que você estudou, “as necessidades matemáticas estavam subordinadas às necessidades da vida em sociedade”? Pense como lhe foi ensinado, avaliando se a matemática atendeu/atende as suas necessidades e faça suas anotações aqui: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 41 CONCEPÇÕES DE MATEMÁTICA Capítulo 2 Em suma, a matemática relacionada à escola nos remete à disciplina escolar, à sua ligação com o cotidiano, às necessidades da sociedade, por meio da realidade e da cultura do aluno. Nos capítulos 3 e 4, você perceberá novos entrelaçamentos entre a matemática e a escola, a partir de uma visão crítica, que possibilitará novos olhares, para que a matemática seja signifi cativa. d) Diferentes Concepções que Alunos e Professores têm, sobre o que é Matemática Você acabou de estudar que uma das concepções que se tem da matemática é ela ser uma disciplina escolar, portanto, é relevante também conhecer um pequeno recorte das concepções de alunos e professores. Nos primeiros parágrafos enfatizaremos as concepções de alunos e, logo a seguir, as de professores. Para grande parte dos alunos, a concepção de matemática mais evidente que se estabelece num primeiro momento é a da representação numérica e das operações básicas, que faz parte da aritmética. Dessa forma, matemática é tudo que envolve números e cálculos. Isso pode ser evidenciado, por exemplo, em um dos depoimentos de alunos que terminaram o ensino médio, numa entrevista realizada por Baraldi (1999, p. 90): Para mim, Matemática é um conjunto de números que a gente fi ca meio louco quando se depara com ela... Quais conteúdos são mais importantes para sua vida? Aprender a somar, multiplicar, dividir e subtrair. Apesar do entusiasmo de vários autores e matemáticos renomados no Brasil, sobre a relevância dos conhecimentos matemáticos para a vida, para o desenvolvimento cognitivo, para a sociedade, é comum ouvirmos de nossos alunos comentários antagônicos. De acordo com Santos (2008, p. 3): Expressões frequentemente enunciadas na escola ou fora dela revelam certo pessimismo em contraste com o entusiasmo manifestado anteriormente: ’a matemática é difícil’, ‘a matemática é chata’, ‘eu não consigo entender’, ‘tenho horror à matemática’, ’é o bicho papão da escola’. Além disso, os alunos relacionam a matemática com questões de exatidão, de rigor e de difi culdades de aprendizagem. Essa visão dos alunos aparece na interpretação da pesquisa realizada por Baraldi (1999, p. 95): [...] percebemos que a Matemática se caracterizou como uma verdade inquestionável, descontextualizada, abstrata e como 42 Matemática Signifi cativa 42 um incessante trabalho com números e fórmulas, que muitas vezes não possuía nenhum signifi cado. Também, caracteriza- se como uma ciência autoritária, impondo sempre aos alunos seus conceitos e constituindo seus professores como donos da verdade, reduzindo os estudantes a meros receptáculos e sem poder de decisão. E você caro(a) pós-graduando(a), já entrevistou seus alunos para saber como defi nem a Matemática e quais conteúdos são os mais importantes para suas vidas? Que tal a ideia? Fica aqui uma sugestão! Para os professores de matemática, as concepções, de forma genérica, estão ligadas ao exato, abstrato, formal, à lógica, ao rigor e à objetividade que lhes são apresentadas e construídas ao longo da vida, desde suas experiências escolares até sua formação em licenciaturas ou bacharelados. Em uma pesquisa realizada por Ardiles (2007), foram apresentadas crenças de professores de matemática sobre o que é matemática, que a autora, em sua análise, dividiu em grupos, que são: Instrumentalista, Platônico e Resolução de problemas. Nas respostas dos professores, cuja análise foi considerada Instrumentalista, você pode perceber que a “ênfase é dada à importância e à utilidade da matemática.” (ARDILES, 2007, p. 152). Veja um exemplo: A matemática é um instrumental ao qual lançamos mão quando nos deparamos com situações do dia a dia. A matemática é muito importante e necessária para o cotidiano de todos. Fazemos uso da matemática e por isso ela é essencial no dia a dia, uma ciência onde aprendemos no cotidiano a ordenar, o tempo, seriação,sequência, fórmulas, cálculos e etc. (ARDILES, 2007, p. 151). Já os professores com visão platônica da matemática “a associam a uma ciência exata, precisa, objetiva, com bastantes regras, inquestionável, e possuindo um alto grau de certeza.” (ARDILES, 2007, p. 154). A seguir, veja uma das respostas: “Matemática é o desenvolvimento e a certeza de raciocínio. É desenvolvimento lógico e ajuda na interpretação e compreensão das coisas [...].” (ARDILES, 2007, p. 155). Você pode observar que os professores cuja resposta está embasada na resolução de problemas “associam a matemática como possibilidade de solucionar 43 CONCEPÇÕES DE MATEMÁTICA Capítulo 2 problemas, tanto com relação a problemas matemáticos ditos escolares, como a problemas que surgem do cotidiano, concebendo-a com um campo da criação humana.” (ARDILES, 2007, p. 156). Exemplo: “A matemática para mim é a busca de solucionar desafi os e problemas do dia a dia. É uma disciplina onde possamos resolver grandes desafi os, problemas...” (ARDILES, 2007, p. 156). Atividade de Estudos: 1) Diante das concepções já expostas, surge a pergunta: o que é matemática para você? Faça suas anotações. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Para fi nalizar esta seção, é importante você perceber que as concepções que temos da matemática estão relacionadas às infl uências da história de cada um e, no nosso caso, da história da educação matemática no Brasil, conforme você já analisou no primeiro capítulo. A sua concepção foi constituída a partir das concepções, opiniões e atitudes de seus professores, de seus colegas, das leituras e vivências que teve, da infl uência da sua cultura, e esta seção apresentou uma pequena parte do que se entende por matemática. Na próxima seção, você terá uma nova perspectiva para a matemática, que está relacionada a padrões. d) A Matemática e os Padrões Depois de conhecer algumas das concepções de matemática, seja na visão de fi lósofos ou de professores e alunos, apresentamos mais um dos conceitos de matemática dos dias atuais, a fi m de complementar seus conhecimentos acerca do que é matemática, que nesta seção será exibida a partir da noção de padrões e regularidades. Nos últimos anos a matemática vem sendo entendida como sendo a ciência dos padrões. Segundo Devlin (2004, p. 94), “matemática é a classifi cação e o estudo de todos os padrões possíveis.” Matemática é a classifi cação e o estudo de todos os padrões possíveis. 44 Matemática Signifi cativa 44 Outra defi nição que vai ao encontro da noção de padrão é a de Andrew Gleason (apud DEVLIN, 2004, p. 95): A matemática é a ciência da ordem. Ordem aqui no sentido de padrão e regularidade. É objetivo da matemática identifi car e descrever as fontes de ordem, tipo de ordem, e as relações entre os diversos tipos de ordem que ocorrem. Para que você compreenda essa defi nição, é necessário, antes, apossar- se do sentido de padrões. Em consonância com o afi rmado por Vale e Pimentel (2005, p. 14), “ao sermos confrontados com o termo padrão, somos levados a pensar em padrões visuais tais como os que se veem nos tecidos e no papel de parede. Esses são padrões geométricos”. Outra defi nição traz para você, de forma genérica, que “padrão é usado quando nos referimos a uma disposição ou arranjo de números, formas, cores ou sons onde se detectam regularidades.” (VALE, 2005, p. 1). Para que você tenha maior clareza com relação à noção de padrões na matemática, veja alguns exemplos, de acordo com Devlin (2004, p. 26): Os padrões estudados pelo matemático podem ser reais ou imaginários, visuais ou mentais, estáticos ou dinâmicos, qualitativos ou quantitativos, utilitários ou recreativos. Eles surgem do mundo à nossa volta, das profundezas do espaço e do tempo, e de funcionamento da mente humana. Diferentes tipos de padrões fazem surgir diferentes áreas da matemática. Por exemplo, a teoria dos números estuda (e a aritmética usa) padrões de números e cálculo numérico; a geometria estuda padrões de formas; o cálculo infi nitesimal nos permite lidar com padrões de movimento; a lógica estuda padrões de raciocínio; a teoria das probabilidades lida com padrões do acaso. Ao refl etirmos sobre quais padrões nos rodeiam em nosso cotidiano, podemos pensar no padrão de beleza exigido por muitas agências de modelos fotográfi cas ou em concurso para Miss, como, por exemplo, a simetria do rosto, que é um dos padrões analisados e de grande relevância. Outro fato é a regularidade do sono que, para a maioria das pessoas, acontece no período noturno. Também podemos verifi car na arquitetura contemporânea, como regularidade ou padrão, as formas geométricas utilizadas nas construções. Nas casas, nos prédios, costumamos ver nas janelas, nas portas, nas paredes e nos pisos, formas quadradas ou retangulares, às vezes circulares. Com relação à mobília - mesas, cadeiras, balcões, roupeiros, camas, etc. - dessas edifi cações, também temos, em sua maioria, os padrões quadrados ou retangulares, em suas faces. O ciclo de vida dos seres humanos tem padrões e regularidades. Você já Os padrões estudados pelo matemático podem ser reais ou imaginários, visuais ou mentais, estáticos ou dinâmicos, qualitativos ou quantitativos, utilitários ou recreativos. Eles surgem do mundo à nossa volta, das profundezas do espaço e do tempo, e de funcionamento da mente humana. 45 CONCEPÇÕES DE MATEMÁTICA Capítulo 2 imaginou como seria o mundo se ninguém mais morresse? No livro “As intermitências da morte”, de José Saramago (2005), esse fato é pensado de maneira séria e simultaneamente hilária, quando o ciclo vital é interrompido com a “não morte” das pessoas e nesse caso o caos se estabelece, pois os hospitais fi cam sem leitos para seus doentes, as seguradoras de vida começam a perder seus clientes, por não fazer mais sentido ser um assegurado, as famílias não sabem como lidar com seus moribundos, alguns princípios fundamentais da igreja são colocados em xeque, enfi m, o novo padrão de ninguém morrer gera muitas polêmicas e um novo padrão de vida. Em suma, a concepção de a matemática ser a ciência dos padrões, faz com que tornemos o invisível, visível, como afi rma Devlin (2004, p. 97), ao expor o seguinte exemplo: “Você precisa de equações de Maxwell, descobertas no século 19, para ver as ondas de rádio, que de outra maneira seriam invisíveis.” Podemos estender esse exemplo à tecnologia utilizada nos celulares, com as ondas via satélite, ou mesmo aos sinais de wireless para os notebooks. Segundo Devlin (2004, p. 99): Você pode pensar nos padrões abstratos dos matemáticos como ’esqueletos’ de coisas do mundo. O matemático pega um aspecto do mundo, digamos uma fl or ou um jogo de pôquer, separa um determinado aspecto da coisa escolhida, e depois descarta todas as características particulares, deixando apenas o esqueleto abstrato. No caso da fl or, esse esqueleto abstrato pode ser sua simetria. Quanto ao jogo de pôquer, pode ser a distribuição das cartas, ou o padrão das apostas. Atividade de Estudos: 1) Sugiro que leia novamente esta seção sobre Padrões e regularidades e faça uma síntese. A seguir, dê exemplos de padrões e regularidades que você identifi ca na escola e nas aulas de matemática. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________
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