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68 Unidade II SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 Unidade II 5 AS DEMANDAS E AS RESPOSTAS DA CATEGORIA PROFISSIONAL AOS PROJETOS SOCIETÁRIOS Para dar continuidade aos conteúdos tratados até agora, sobre a nossa prática e as perspectivas de intervenção profissional, realizaremos reflexões sobre as demandas profissionais apresentadas aos assistentes sociais no âmbito das relações firmadas entre o Estado e a sociedade civil. Esses conteúdos serão tratados no subtópico 5.1. Também refletiremos sobre as condições de trabalho e as respostas profissionais que são conferidas pelos assistentes sociais às questões laborais. Esse conteúdo será apresentado no subtópico 5.2. Vale observar que serão feitas algumas considerações com recorrência a Iamamoto (2004) e a outros teóricos contemporâneos que têm discutido o assunto no âmbito da profissão. Contudo, antes de iniciarmos essas colocações, cabe apenas uma pergunta: o que podemos entender como projetos societários? Aqui cabe a resposta: são projetos de determinada classe social. Assim, recorrendo mais uma vez à teoria marxista, constatamos que na atualidade identificamos duas classes sociais: a classe burguesa e a classe operária, tal como elencamos na Unidade I, logo no início de nossas considerações. Cada classe social possui um projeto societário (de sociedade) que se espera construir. Assim, o que a autora pretende colocar é que nós, como assistentes sociais, estaremos sempre na mediação dessas relações entre as classes sociais. Ela ainda destaca o fato de que, em nosso fazer profissional, estaremos em contato com os diferentes projetos societários que são defendidos por cada uma delas. Diante dessa constatação, Iamamoto (2004) dá seguimento a suas considerações, destacando as demandas profissionais dos assistentes sociais. Na sequência, daremos continuidade aos conteúdos tratados. Mantenha-se atento aos debates aqui introduzidos, pois são fundamentais ao seu processo formativo. Lembrete Projetos societários: projetos de cada classe social. 69 SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL 5.1 As demandas profissionais no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade Vamos então entender melhor os conceitos das demandas profissionais. Quanto a essa questão, Iamamoto (2000) assevera que, para compreendê-la, precisamos entender três premissas básicas: desvelar a prática profissional, considerar o primado da produção social e levar em conta o privilégio da História. A autora segue argumentando que, para desvelar a prática profissional, é necessário que a analisemos com recorrência às relações sociais estabelecidas na sociedade capitalista madura e consolidada. Assim, Iamamoto (2004) chama a nossa atenção para essa questão e nos remete essencialmente a compreender a relação existente entre as classes sociais. Quando a autora começa a refletir sobre esse conceito, pontua que a mediação que nós, assistentes sociais, realizamos não é algo “tranquilo”, e sim um processo complexo em que a desigualdade existente entre as classes torna-se facilmente perceptível. Além disso, torna-se um fator de difícil administração, tanto que ela denomina esse processo de “jogo tenso das relações entre as classes sociais”. Essa compreensão é tão importante para Iamamoto (2004) que a autora chega até a apontar que, se o profissional não realizar essa leitura das relações sociais e da prática profissional atrelada a elas, estará fadado a não entender a prática do assistente social em sua totalidade. No tocante a essas relações, Iamamoto (2004) destaca que, além de compreender as classes sociais, é fundamental entender o papel do Estado, que figura, do ponto de vista da autora, como um representante da classe burguesa, mas que é um ator fundamental na compreensão de nossa prática profissional, das demandas de nossa profissão, assim como sumariaremos. Assim, desvendar a prática profissional cotidiana supõe inseri-la no quadro das relações sociais fundamentais da sociedade, ou seja, entendê-la no jogo tenso das relações entre as classes sociais, suas frações e das relações destas com o Estado brasileiro (IAMAMOTO, 2004, p. 150-1). Isso posto, precisamos considerar que essas relações entre as classes e destas com o aparato estatal oferecerá influências às demandas apresentadas ao Serviço Social, mas, como dissemos, não é a única premissa a ser considerada para uma compreensão dessas demandas e das respostas da categoria profissional. Dando seguimento ao assunto, passamos ao estudo do primado da produção social. Quanto a esse assunto, Iamamoto (2004) coloca que precisamos compreender a relevância que possui o trabalho nessa sociedade. Na verdade, é a única forma de ter acesso à satisfação das necessidades. Quando o trabalho se torna precário, informal ou, sobretudo, quando assistimos à grande perda dos postos de trabalho, precisamos saber que essas mudanças irão provocar alterações nas expressões da Questão Social, que, conforme pudemos observar, é o nosso objeto de trabalho, a matéria-prima de nossa intervenção. 70 Unidade II SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 Observação Quando não nos apropriamos dessas informações sobre a situação em que se encontra o trabalho na realidade em que atuamos, não conseguimos entender a Questão Social em sua totalidade e, dessa forma, não temos condições de entender nossa demanda em sua amplitude. Assim, cabe considerar “o papel fundamental da produção da vida real, da produção dos indivíduos sociais, que têm, no trabalho, a atividade fundante” (IAMAMOTO, 2004, p. 151), levando em conta que o trabalho não determina “apenas” as condições de sobrevivência de uma determinada classe social, mas funda também sua subjetividade, seu psiquismo, construindo assim os sujeitos sociais com os quais iremos atuar. Por fim, conforme exposto pela autora, ainda precisamos entender a importância do caráter histórico, também outro condicionante das demandas apresentadas aos assistentes sociais. Para a autora é extremamente importante, como a própria expressão sugere, a “compreensão da história”, e tal história está relacionada ao desenvolvimento da história da sociedade brasileira e dos contornos que as mudanças de natureza econômica, política e social conferem às expressões da Questão Social. Também é importante considerar a história por nela estar contida a explicação para o surgimento e a constituição dos problemas sociais de origem estrutural, e ainda pelo fato de esta portar as possibilidades para a superação das deficiências vivenciadas em nosso país. Dessa maneira, na opinião da autora, é necessário atentar para: “[...] o privilégio da história, por ser ela a fonte de nossos problemas e a chave de nossas soluções. Destarte, para efetuar uma análise crítica das demandas profissionais, há que atribuir densidade histórica à nossa problemática” (IAMAMOTO, 2006, p. 151). Assim, podemos sistematizar os conhecimentos até então tratados da seguinte forma: para compreender as demandas que são a nós apresentadas, precisamos entender as relações sociais estabelecidas nessa sociedade capitalista, em que se afigura relevante compreender as classes sociais e o Estado, o que também demanda, essencialmente, entender a importância do trabalho e da história nesse processo. Tais aspectos, tratados por Iamamoto (2004) como “premissas”, precisam ser apreendidos por nós como imprescindíveis para a compreensão de novas demandas, novas expressões da Questão Social com as quais precisaremos atuar. Buscando aindaidentificar as pistas que nos são deixadas pela autora para que conheçamos com profundidade a nossa demanda, é preciso que estejamos atentos aos “temas ocultos” em nosso fazer profissional. A nosso ver, estes são tratados por Iamamoto (2004) como posturas assumidas por nossa profissão e que dificultam entender nossa demanda em sua totalidade. Partindo de tal análise, a autora tanto critica determinadas posturas profissionais como oferece pontos de reflexão para que possamos repensar a prática profissional de uma forma diferenciada, bem como respaldá-la por ações que permitam a apreensão de nossa demanda, de tal forma que possibilitem também colocar em prática os princípios de nosso compromisso ético-político. 71 SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL Iamamoto (2004) destaca que, “para que possamos compreender as relações sociais, precisamos ‘olhar’ também para a sociedade civil”. Nesse caso, a autora coloca que os estudos, as análises e as reflexões dos assistentes sociais têm se orientado mais para uma compreensão do papel do Estado e menos para o entendimento da função da sociedade civil. Assim, segundo essa concepção, pela característica assumida pela profissão no que concerne a realizar análises das políticas sociais, é usual que o olhar seja voltado para a máquina estatal. No entanto, esse privilégio do Estado, em análises de nossa categoria, é algo que precisa ser mudado; não suprimido, mas alterado. Não precisamos abandonar essa forma de analisar e introduzir as compreensões sobre a sociedade civil em nossos estudos. Precisamos “olhar” para a sociedade civil, para que possamos melhor entendê-la. “No entanto, penso ser imprescindível que olhemos para a sociedade, para o movimento das classes sociais, que têm sido relegados a uma posição de relativa secundariedade no debate do Serviço Social” (IAMAMOTO, 2004, p. 152). Ela ainda comenta que, nesse processo de olhar para a sociedade, é também importante compreender os processos de trabalho, as mudanças no mercado nacional e as consequências de tais alterações junto à força de trabalho brasileira. Como já salientado, essas configurações da força de trabalho, do mercado nacional e dos processos de trabalho constituídos na realidade brasileira oferecem condicionantes às nossas demandas. Como vimos, essas alterações no âmbito da produção e do trabalho colaboram, muitas vezes, para a precarização da vida da classe operária, e essa precarização se expressa de diversas formas, podendo ser necessária a intervenção dos assistentes sociais. Por isso, esse tema não pode mais estar oculto em nossa profissão e precisa ser por nós apropriado e debatido amplamente. Assim, por exemplo, como explicar o processo crescente de pauperização das classes subalternizadas, se não passarmos por uma análise das alterações que vêm ocorrendo nos processos de trabalho e das particularidades do mercado de trabalho urbano e rural, nos quais se inserem (ou deles se veem excluídos) os segmentos populacionais junto aos quais atuamos? (IAMAMOTO, 2004, p. 152). Isso pressupõe que o profissional realize uma análise baseada em informações com recorrência a aspectos econômicos e políticos, visto que os fenômenos relacionados à organização da produção e do trabalho também precisam ser considerados como resultados da organização política vigente no país. Como nos diz a autora: “Na análise das demandas profissionais parece-me indispensável, pois, resguardar uma profunda aliança entre a economia e a política” (IAMAMOTO, 2004, p. 152). Mais uma vez, a nosso ver, é importante que o profissional possua uma formação condizente com esse perfil, pois se esta não oferecer os subsídios necessários, poderá comprometer a realização de uma análise desse porte. Lembrete É necessária a compreensão da realidade, tal como já vimos no decurso deste material. 72 Unidade II SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 Por fim, Iamamoto (2004) destaca que, para compreender de fato nossa demanda profissional, precisamos conhecer melhor a realidade rural. Segundo a concepção da autora, atualmente vivenciamos uma predominância de estudos, pesquisas e intervenções junto às populações residentes na zona urbana, ao passo que a zona rural acaba ficando depreciada nesse processo. Ao discutir a questão da zona rural, ela elenca que o Estado brasileiro tem desenvolvido uma série de ações nesse “espaço”, mas estas, via de regra, buscam privilegiar o grande produtor rural. A autora chama nossa atenção para o fato de que o Estado brasileiro, desde a década de 1970, tem empreendido uma série de projetos para o desenvolvimento agropecuário, e tais projetos traduzem-se em investimentos, fornecimento de empréstimos e outras iniciativas para desenvolver a produção. No entanto, com a inovação tecnológica sendo apropriada por esses produtores, também no âmbito rural, observamos grande expulsão dos trabalhadores da zona rural para o espaço urbano, onde ficam subempregados ou mesmo desempregados. Já os que permanecem no espaço rural nem sempre possuem boas condições de vida. A nosso ver, o que Iamamoto (2004) almeja é que nossa categoria profissional passe a olhar para esse segmento, que está excluído do acesso aos serviços públicos e que não vem recebendo, em nossa atuação, a devida assistência. A apreensão dessa realidade, ou seja, dos aspectos da sociedade civil sobre as configurações assumidas pela produção e pelo trabalho, das peculiaridades dos moradores da zona rural, não é, a nosso ver, uma tarefa fácil, mas algo que precisa ser introduzido no cotidiano de nossas ações profissionais e deve figurar como referência ao considerarmos as “perspectivas de trabalho profissional”. Para isso, Iamamoto (2004) indica a necessidade de dados e informações que devem ser sistematizados por nós. Segundo ela, informações sobre trabalho, renda, organizações políticas e todas mais que possamos coletar servirão para nos mostrar a “ponta do iceberg”, ou seja, servirão de referência inicial para compreendermos a fundo nossa demanda de trabalho, bem como os aspectos da Questão Social sobre os quais iremos atuar. Isso nos remeterá a pensar ainda em novas demandas que serão geradas, partindo das situações constatadas, ou seja, a partir dos dados colhidos, poderemos identificar demandas com as quais a profissão já atua ou então aquelas que ainda não são de total conhecimento do Serviço Social, mas que serão apropriadas por nossa categoria profissional. Por fim, retomando a importância da história, a autora observa que precisamos considerar que vivenciamos no passado e ainda hoje, na realidade brasileira, o que ela chama de “modernidade tupiniquim”. Esse processo, segundo a autora, poderá ser entendido se estudarmos a História de nosso país, na qual observamos a convivência de formas arcaicas e modernas de trabalho fundando o sistema capitalista desde suas protoformas iniciais. Destaca que essa realidade ainda é observada contemporaneamente, visto que temos a combinação de trabalhos formais, regulamentados e não regulamentados, nas áreas industrial e agrícola, embalando a produção econômica de nosso país. 73 SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL Isso resulta, como sabemos, em um desenvolvimento do sistema capitalista totalmente diferenciado dos sistemas da Europa e dos Estados Unidos, por exemplo. O desenvolvimento capitalista brasileiro não apresenta o elevado padrão de outros países, e isso resulta em alterações na organização econômica, sociale política da sociedade brasileira. Exerce também influências sobre a demanda dos assistentes sociais com a qual iremos atuar. Nesse processo de “modernização tupiniquim”, a autora ainda destaca a necessidade de compreender o papel do Estado brasileiro no que concerne a proporcionar o desenvolvimento econômico do país. Na verdade, um Estado que se propõe mínimo é apenas mínimo para o social, mas máximo para implementar ações visando ao desenvolvimento do grande capital. O capital, no Brasil: “[...] vem contando com o decisivo apoio do Estado via subsídios fiscais, creditícios, e outras formas protecionistas estimuladas com a expansão monopolista, sob a égide do capital financeiro” (IAMAMOTO, 2004, p. 154). Trata-se de uma modernização capitalista que traz no seu bojo a história de um país colonizado sob a ótica da exploração, em que o sistema capitalista trouxe índices precários de desenvolvimento em relação aos dos demais países. Tal sistema contou – e conta ainda hoje – com o Estado como o principal agente executor de medidas para a efetivação das pretensões capitalistas. Entender a realidade brasileira pressupõe, essencialmente, conhecer esses e outros processos de nossa realidade e, a partir disso, rever, revisitar a nossa demanda profissional. Demanda que, não é difícil supor, vive e sobrevive com condições precárias e é representada pela: [...] barbárie na reprodução das condições da vida da população trabalhadora, com a qual nos defrontamos cotidianamente em nosso exercício profissional. É a radicalização da miséria, a impossibilidade de obtenção dos meios de vida por parte dos trabalhadores inteiramente despossuídos das condições necessárias para satisfazer suas necessidades vitais, à medida que se verifica, inclusive, um incremento expressivo do setor informal de trabalho e do desemprego (IAMAMOTO, 2004, p. 154). É a precarização da vida, da sobrevivência ampliando substancialmente nossa demanda profissional. Assim, prezado aluno, essa não é uma tarefa inata. Não nascemos sabendo como olhar para todos esses fatores sociais, mas tal habilidade é passível de aprendizagem. Todos nós precisamos exercitar essa leitura de realidade, incorporando tal prática em nosso cotidiano. Partindo disso, poderemos entender nossa demanda, o projeto societário apresentado por ela e, sobretudo, como mediar esses direitos. Na sequência, concluiremos nossos estudos nesta Unidade para que possamos discutir as condições de trabalho e de exercício profissional, bem como as respostas da categoria às demandas. 74 Unidade II SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 Saiba mais Para um aprofundamento de estudos sobre as demandas do Serviço Social, propomos recorrer a este texto, em que há um enfoque na prática empresarial: Demandas do Serviço Social na área empresarial, de Ana Carolina S. B. de Abreo e Cláudia Renata Fávaro, disponível em: <http:// www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v4n1_demandas.htm>. 6 CONDIÇÕES DE TRABALHO E RESPOSTAS PROFISSIONAIS Chegamos ao fim dos conteúdos desta Unidade. Para concluir nossos estudos, discutiremos agora as condições de trabalho dos assistentes sociais e as respostas profissionais que a categoria confere às demandas apresentadas. Para isso, recorreremos aos conceitos já tratados, ou seja, de que precisamos compreender a realidade de modo integral para que possamos conhecer, de fato, aquela na qual estamos atuando. Saiba mais Recorra ao texto apresentado no 10º. Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (Rio de Janeiro, 2001), que discute a importância das transformações societárias para a nossa prática profissional: Os impactos das transformações societárias para o Serviço Social: um breve balanço da relação de mercado de trabalho, condições de trabalho dos assistentes sociais e projeto ético- político profissional, de Larissa Dahmer Pereira. Disponível em: <http:// www.ts.ucr.ac.cr/eventos/br-cbass-con-10-po.htm>. Para essa questão, Iamamoto (2004) relembra os processos já estudados nesta Unidade e na anterior, especificamente destacando que observamos um fenômeno de relevância caracterizado pela alteração dos processos de produção e pelo papel assumido pelo Estado na contemporaneidade. Nesse caso, observamos que a precarização das relações trabalhistas tem acarretado más relações laborais para grande parte da população brasileira e tem resultado em um crescente desemprego de parcela significativa da população. Diante disso, observamos a ampliação significativa das expressões da Questão Social, que será, como vimos no objeto de trabalho, nossa demanda profissional. Em contrapartida, o Estado, principal responsável por atuar para minimizar essas expressões da Questão Social, vem se retraindo desde a década de 1990, ou seja, vem restringindo suas intervenções nas expressões da Questão Social. 75 SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL Diante dessas mudanças, segundo Iamamoto (2004), notamos alterações na atuação dos assistentes sociais. A primeira observação da autora é que quando são reduzidas as intervenções em política social, junto às expressões da Questão Social, espera-se que o mercado de trabalho dos assistentes sociais também diminua. Como a grande quantidade de postos de trabalho está vinculada às ações empreendidas pelo Estado, quando este reduz suas intervenções, consequentemente o mercado de trabalho também tende a reduzir-se. No entanto, esse não é o único condicionante do trabalho do assistente social, diante de todas essas mudanças evidenciadas. A autora apresenta uma série de fatores que passam a ser observados na prática profissional. Vamos a eles. Ela coloca que, diante da redução de gastos na área das políticas sociais, os assistentes sociais que estão atuando nesses espaços precisam ampliar a seletividade dos atendimentos, sendo nessas ocasiões os responsáveis pelas triagens para avaliar a condição daqueles que poderão ser beneficiados ou não pelos serviços sob sua responsabilidade. A autora chega a comentar em seu livro o caso de um profissional que atuava na prefeitura de uma grande cidade e que, para critério de concessão de cesta básica, observava se o requerente estava desempregado. Nesse caso, com a retração dos recursos e a ampliação da demanda pelo benefício, o assistente social passou a selecionar os mais pobres entre os desempregados, ou, como Iamamoto (2004) coloca, os mais “pauperizados”. Ela nos diz que dessa forma se torna cada vez mais difícil darmos respostas à nossa demanda de acordo com o compromisso ético-político que fora assumido por toda a categoria profissional. Isso pode resultar em uma prática essencialmente burocratizada e ainda em um “vazio profissional”. No caso, o assistente social permanece longos períodos preso à burocracia da instituição, em decorrência das triagens que precisa realizar. O fato de estabelecer uma prática de tal forma resulta no chamado “vazio profissional”, ou seja, aquela sensação de não ter conseguido atingir as finalidades profissionais a que se propôs. Assim, observamos uma grande dificuldade de conferir respostas profissionais à nossa demanda, de cumprir os princípios assumidos por nossa categoria profissional, e uma dificuldade ainda maior de conviver com essa realidade. “Este quadro tem sido fonte de angústias e questionamentos sobre o nosso papel profissional, diante da dificuldade de criar, recriar e implementar respostas de trabalho, podendo estimular a burocratização e o vazio profissional” (IAMAMOTO, 2004, p. 161). No entanto, assim, estaríamos fadados ao fracasso profissional? Não. Iamamoto (2004) nos apresenta algumas alternativaspara a superação dessa realidade que tanto asfixia os profissionais. Uma delas seria superar a perspectiva fatalista de que tudo está perdido e nada mais pode ser feito, bem como evitar posturas idealizadas e que percebem a profissão de uma forma romântica, como se não vivenciássemos esses e outros problemas observados em nossa categoria profissional. 76 Unidade II SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 Partindo disso, a autora coloca ainda que a mudança na relação do Estado com a Questão Social não é um objetivo apenas do Serviço Social, apenas de nossa categoria. Ela recomenda que realizemos uniões a outros segmentos, categorias que partilhem dos princípios ético-políticos defendidos por nossa categoria profissional como um todo. Assim, a construção de respostas às demandas que nos têm sido apresentadas passa pela compreensão da realidade como um condicionante, e não como um impeditivo de nossas ações. Pressupõe ainda o estabelecimento de outras parcerias com categorias, segmentos e usuários que partilham dos mesmos princípios que são defendidos pelos assistentes sociais. Esperamos que você tenha conseguido ampliar seus conhecimentos sobre os assuntos tratados, mas queremos – mais do que isso, esperamos – a reflexão crítica sobre a importância que essa profissão assume na contemporaneidade e sobre como uma prática competente é sinônimo de posicionamento, de atitude. No final desta Unidade, você encontrará os exercícios para avaliar a aprendizagem até agora proporcionada. Despedimo-nos, no entanto, com um trecho para sua reflexão: O momento que vivemos é um momento pleno de desafios. Mais do que nunca é preciso ter coragem, é preciso ter esperanças para enfrentar o presente. É preciso resistir e sonhar. É necessário alimentar os sonhos e concretizá-los dia a dia nos horizontes de novos tempos mais humanos, mais justos, mais solidários (IAMAMOTO, 2004, p. 17). Bons estudos! Resumo Nesta unidade, demos prosseguimento aos estudos empreendidos, orientando a análise para você compreender as demandas de nossa categoria, bem como as respostas conferidas por nossa profissão a elas. Nos termos propostos, estudamos as premissas necessárias para compreendermos, de fato, nossas demandas, dentre as quais observamos a importância da produção social, da história e das relações sociais nesse processo. Segundo nosso estudo, essas seriam as premissas que deveriam ser consideradas para realizar uma análise tanto da demanda como das formas de enfrentamento por nós identificadas. Também estudamos a importância dos “temas que estão ocultos” em nossa profissão, sendo destacados como tais: a ausência de reflexão sobre 77 SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL a sociedade civil; a escassez de análises sobre a realidade da zona rural; a ausência de análises que privilegiem aspectos da economia e da política, dentre outros. Observamos, derivando dessas colocações, que esses são temas que precisam ser mais apropriados por nossa profissão. A partir dessas colocações, conseguimos ainda discutir a importância do projeto ético-político de nossa profissão para dar respostas a nossas demandas de maneira competente e de forma que efetive os direitos sociais da população usuária. Discutimos ainda as mudanças que são processadas em nosso espaço de trabalho, visto que observamos uma ampliação das expressões da Questão Social e um retraimento do Estado no trato conferido a elas. Verificamos que, com isso, há uma ampliação dos espaços de trabalho na iniciativa privada e uma mudança na prática do assistente social nos serviços mantidos pela esfera estatal. Nesses termos, os assistentes precisam, constantemente, rever sua prática profissional, de modo que deem respostas positivas para sua população. Pudemos concluir que Iamamoto (2004) nos apresenta a realidade de nossa atuação profissional, indicando todos os aspectos nocivos do nosso cotidiano. Porém, também observamos que a autora indica todas as pistas e orientações que são necessárias para a superação das deficiências com as quais iremos conviver. Exercícios Questão 1 (FADESP – 2011). Os debates em torno das demandas contemporâneas apresentadas ao assistente social nos colocam a reflexão de que, sob a perspectiva crítica, há o rompimento com atividades burocráticas que reduzem sua intervenção a mero emprego. Hoje, a exigência impõe ao profissional ser propositivo, e não só executivo. Isso quer dizer que o assistente social: A) Deve ser um profissional que proponha ações eficientes e eficazes diante das situações que impõem riscos sociais aos usuários. B) É um profissional que tem como base o conhecimento técnico-operativo, a fim de intervir de forma inteligente na realidade dos indivíduos. C) Deve desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade, a fim de construir propostas criativas de efetivação de direitos sociais a partir de demandas do cotidiano. D) Assegura, por meio de seu contato com a população, propostas individuais que sirvam de base para as transformações societárias e sirvam de motivação para o rompimento de práticas tradicionais. 78 Unidade II SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 E) Como não possui condições dignas de desenvolver sua ação institucional para a efetivação de seu trabalho, torna-se um profissional criativo e inovador. Reposta correta: alternativa C. Análise das alternativas: A) Alternativa incorreta. Justificativa: ao discutir sobre o perfil do profissional propositivo diante das situações precárias de vida que afetam grande parte de nossa população, bem como sobre as condições de trabalho dos assistentes sociais, Iamamoto (2004) não faz menção à importância de ações eficientes e eficazes. Nesse texto, apesar de não ser feita referência direta a essa autora, é possível perceber que tal concepção foi extraída do texto de sua autoria e, por isso, podemos dizer que o profissional propositivo não é aquele que foca sua intervenção nos aspectos da eficiência e da eficácia. B) Alternativa incorreta. Justificativa: apesar de Iamamoto (2004) destacar a importância de um profissional versado no instrumental técnico-operativo, não apresenta esse conhecimento técnico como uma alternativa à burocratização do trabalho. C) Alternativa correta. Justificativa: de acordo com Iamamoto (2004), o profissional propositivo é aquele que, por meio de sua leitura e compreensão da realidade, consegue construir respostas ou propostas criativas, de modo que possa efetivar os direitos sociais de uma determinada população, ou, conforme ela sempre coloca, os direitos da população mais pauperizada de nossa sociedade e com a qual atuamos. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o profissional propositivo busca construir propostas que atendam uma coletividade, e não a questões individuais. E) Alternativa incorreta. Justificativa: Iamamoto (2004) aponta que muitos profissionais, diante das condições apresentadas, não conseguem desenvolver ações criativas, tampouco conferir respostas à população atendida; para ela, muitos profissionais vivenciam cotidianamente o vazio profissional e o burocratismo. De tal forma, nem todos os que vivenciam situações ruins de trabalho conseguem alterar sua postura profissional. A assertiva também está incorreta porque, ao discorrer sobre as atitudes do profissional propositivo, Iamamoto (2000) elenca outros aspectos, conforme sinalizamos. 79 SS O C - Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am ação : F ab io - 2 8/ 11 /1 2 PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL Questão 2 (UFRB Assistente Social – 2011). Sobre os conteúdos até então tratados, julgue os itens a seguir, atribuindo a eles os valores Verdadeiro ou Falso. I – Segundo Iamamoto, os assistentes sociais atuam, nos vários espaços de trabalho, no planejamento e na execução de políticas públicas, nas áreas de educação, saúde, previdência, assistência social, habitação, meio ambiente, entre outras, movidos pela perspectiva de defesa e ampliação dos direitos da população, sem a necessidade de considerar o Projeto Ético-Político do Serviço Social ( ). II – A produção e a reprodução das relações sociais não constituem preocupações para os profissionais de Serviço Social, no que se refere à construção de relações mais igualitárias ( ). III – A profissão tem olhado menos para a sociedade e mais para o Estado, levando a crer na hipótese de que as reflexões sobre o fazer profissional têm priorizado a análise da intervenção do Estado, via políticas sociais públicas, enquanto o olhar para a sociedade, para o movimento das classes sociais, tem sido relegado a uma posição relativamente secundária no debate do Serviço Social ( ). IV – No processo de reestruturação produtiva e com o Estado mínimo, a Questão Social toma novos contornos, e o Estado lança mão da filantropização, do compartilhamento com a sociedade civil por meio de parcerias mantidas com as organizações não governamentais ( ). V – A competência profissional deve proporcionar que o assistente social, em sua atuação, apresente soluções para as demandas profissionais que lhe são apresentadas ( ). A sequência correta com relação aos valores atribuídos está expressa em: A) V, V, V, V, V. B) V, F, V, V, V. C) F, F, V, F, V. D) F, F, V, V, V. E) F, F, V, V, F. Resolução desta questão na plataforma.
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