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Aula10 - Sanções Disciplinares e Procedimento Administrativo Disciplinar_bGVzc29uOjIyMzQw

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Curso	Ênfase	©	2019
EXECUÇÃO	PENAL	–	FELIPE	ALMEIDA
AULA10	-	SANÇÕES	DISCIPLINARES	E	PROCEDIMENTO	ADMINISTRATIVO	DISCIPLINAR
1.	DIREITO	DE	EXECUÇÃO	PENAL	-	LEI	Nº7.210/1984	(LEI	DE	EXECUÇÕES	PENAIS	-	LEP)
1.1	PARTE	GERAL	(CONTINUAÇÃO)
a)	Dos	Deveres,	Dos	Direitos	e	da	Disciplina	do	Preso	(Capítulo	IV):
a.1)	Dos	Deveres	do	Preso;
a.2)	Dos	Direitos	do	Preso;
a.3)	Da	Disciplina	do	Preso	(Sistema	Disciplinar	do	Direito	de	Execução	Penal):
a.3.1)	Disposições	Gerais;
a.3.2)	Sanções	Disciplinares:
A	 Lei	 de	 Execução	 Penal	 traz	 um	 rol	 das	 sanções	 disciplinares	 que	 são	 justamente	 as
consequências	jurídicas	para	a	prática	de	faltas	disciplinares.	Nesse	diapasão,	colaciona-se	o	artigo
53	da	LEP,	sendo:
Art.	53.	Constituem	sanções	disciplinares:
I	-	advertência	verbal;
II	-	repreensão;
III	-	suspensão	ou	restrição	de	direitos	(artigo	41,	parágrafo	único);
IV	 -	 isolamento	na	própria	 cela,	ou	em	 local	adequado,	nos	estabelecimentos	que
possuam	alojamento	coletivo,	observado	o	disposto	no	artigo	88	desta	Lei.
V	-	inclusão	no	regime	disciplinar	diferenciado.	(Incluído	pela	Lei	nº	10.792,	de	2003)
Essas	sanções	disciplinares,	previstas	no	artigo	53	da	LEP,	são	chamadas	de	"Sanções
Principais",	ou	seja,	são	as	sanções	consideradas	como	as	primeiras	a	serem	aplicadas,	posto
que	 são	 autoaplicáveis	 decorrentes	 da	 prática	 de	 infração	 disciplinar.	 A	 Legislação	 Penitenciária
costuma	 trazer,	 ao	 tratar	 da	 legislação	 local,	 são	 consideradas	 como	 principais	 e	 obrigatórias,
também	as	chamadas	"Sanções	Secundárias"	que	de	uma	certa	forma	são	comuns	a	todas
as	 legislações	penitenciárias	e	consistem,	por	exemplo,	na	perda	de	regalias	 -	o	 indivíduo	perde
uma	visita	extraordinária,	uma	visita	íntima	ou	a	possibilidade	do	aparelho	de	televisão,	de	rádio;
as	regalias	estão	previstas	como	recompensas	estão	previstas	no	artigo	56	da	LEP,	veja:
Art.	56.	São	recompensas:
I	-	o	elogio;
II	-	a	concessão	de	regalias.
Parágrafo	único.	A	legislação	local	e	os	regulamentos	estabelecerão	a	natureza	e
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a	forma	de	concessão	de	regalias.
Portanto,	 como	 "sanções	 secundárias",	 normalmente	 impostas	 pela	 legislação
penitenciária,	tem-se	a	perda	de	regalia,	o	rebaixamento	do	índice	comportamental	-	nesse	tanto,
ressalta-se	que	os	presos	são	classificados,	até	para	a	aferição	do	requisito	subjetivo,	em	índices
de	comportamento,	geralmente	há:	i)	o	comportamento	neutro,	ii)	o	comportamento	bom,	iii)	o
comportamento	excelente,	iv)	o	comportamento	excepcional	e,	v)	o	comportamento	negativo	-
sendo	 assim,	 quando	 o	 preso	 pratica	 uma	 falta	 disciplinar,	 ele	 possui	 o	 seu	 índice	 de
comportamento	rebaixado.
Com	efeito,	quando	a	falta	é	de	natureza	grave,	o	preso	tem	o	seu	rebaixamento	direto
para	o	comportamento	negativo.	No	entanto,	quando	há	faltas	médias	e	 leves	o	rebaixamento
pode	cair	do	excepcional	para	o	excelente,	ou	do	excelente	para	o	bom	ou,	ainda,	do	bom	para	o
neutro,	 mas	 não	 alcança	 o	 negativo	 que	 é	 justamente	 o	 rebaixamento	 do	 comportamento
decorrente	de	prática	de	falta	disciplinar	de	natureza	grave.
Da	mesma	forma,	pode	ocorrer	"a	transferência	a	bem	da	disciplina"	que	é	a	transferência
do	apenado	ou	do	preso	provisório	também	como	uma	consequência	jurídica	da	prática	de	falta
disciplinar,	 uma	 sanção	 secundária.	 Assim	 sendo,	 todas	 essas	 são	 consideradas	 sanções
secundárias	que	estão	previstas	na	legislação	penitenciária.	A	LEP	trata	das	chamadas	"Sanções
Principais"	que	são	justamente	essas	previstas	no	artigo	53.
Lembrando	que	existe	uma	discussão	assaz	grande	em	torno	de	se	as	faltas	disciplinares
submetem-se	 ao	 instituto	 da	 prescrição	 -	 possibilidade	 de	 prescrição	 da	 falta	 disciplinar.	 Nesse
diapasão,	em	que	pese	alguns	entendimentos	no	sentido	de	que	a	falta	disciplinar	prescreve	em	1
ano,	com	base	em	legislações,	por	exemplo,	civis	de	estatutos	de	servidores	públicos	no	qual	o
PAD	em	que	os	funcionário	público	é	submetido	tem,	por	exemplo,	a	previsão	da	prescrição	em	1
ano.
Há	 o	 entendimento	 também	 de	 que	 a	 prescrição	 das	 faltas	 disciplinares	 deveria	 se
submeter	 ao	 prazo	 prescricional	 previsto	 no	 artigo	 114	 do	 Código	 Penal,	 referente	 à	 pena	 de
multa,	estabelecendo	2	anos	de	prazo	prescricional.	Entretanto,	o	posicionamento	relativamente
pacífico	 no	 STJ	 é	 de	 que	 a	 prescrição	 das	 faltas	 disciplinares	 se	 submete	 ao	 menor	 prazo
prescricional	previsto	no	Código	Penal.
Contudo,	 o	 STJ	 refere-se	 ao	 menor	 prazo	 prescricional	 referente	 à	 pena	 privativa	 de
liberdade	e	não	à	pena	de	multa,	 portanto,	 o	prazo	 seria	 o	menor	prazo	prescricional	 da	pena
privativa	de	 liberdade,	qual	 seja,	 o	prazo	de	3	anos.	Com	 isso,	 conclui	 o	STJ	 que	o	 instituto	da
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prescrição	 se	 aplica	 às	 faltas	 disciplinares	 e	 que	 justamente	 o	 prazo	 de	 3	 anos	 seria	 o	 prazo
prescricional	para	a	falta	disciplinar	praticada	no	âmbito	prisional.
a.3.3)	Procedimento	Administrativo	Disciplinar:
Destarte,	para	se	chegar	à	conclusão	de	que	o	apenado	ou	o	preso	provisório	 teria	sido
autor	 de	 infração	 disciplinar	 tal	 conclusão,	 necessariamente,	 deverá	 ser	 precedida	 do	 devido
processo	administrativo.	Ou	seja,	o	preso	fica	equiparado,	realmente,	a	uma	situação	de	servidor
público	 que	 é	 submetido,	 diante	 de	 uma	 infração	 funcional,	 ao	 respectivo	 procedimento
administrativo	disciplinar.
Nessa	linha,	como	o	preso	está	submetido	a	um	rol	de	deveres	e	de	consequentes	faltas
disciplinares	 que	 ele	 possa	 vir	 a	 incorrer,	 uma	 vez	 praticadas	 algumas	 dessas	 infrações
disciplinares,	seja	falta	grave,	falta	média	ou	falta	leve,	o	apenado	ou	preso	provisório	deverá	ser
submetido	a	um	procedimento	administrativo	disciplinar.	Essa	previsão	é	encontrada	no	artigo	59
da	LEP,	sendo:
Art.	59.	 Praticada	a	 falta	disciplinar,	 deverá	 ser	 instaurado	o	procedimento	para
sua	apuração,	conforme	regulamento,	assegurado	o	direito	de	defesa.
Parágrafo	único.	A	decisão	será	motivada.
O	Legislador	da	LEP,	ou	seja,	o	Legislador	do	"Direito	de	Execução	Penal"	não	estabeleceu
forma	nem	rito	para	o	procedimento	administrativo	disciplinar.	Em	que	pese	autores	sustentaram
que	 se	 deveria	 ter	 a	 jurisdicionalização	 plena	 e	 que	 deveria	 haver	 a	 jurisdicionalização	 do
procedimento	administrativo	disciplinar,	 ou	 seja,	 deveria	 ser	deflagrado	no	âmbito	da	execução
penal,	no	processo	executivo	sob	o	crivo	do	contraditório	e	da	ampla	defesa.	O	entendimento	que
prevalece,	 sendo	 o	 que	 a	 nossa	 legislação	 determina,	 é	 de	 que	 a	 legislação	 penitenciária	 é
justamente	a	 legislação	que	determinará	o	rito	que	esse	procedimento	administrativo	disciplinar
seguirá.
E,	por	tal	motivo,	o	artigo	59	remete	ao	direito	penitenciário	para	tratar	do	rito,	dos	prazos,
dos	 recursos,	 da	 suspensão,	 ou	 seja,	 de	 todos	 os	 desdobramentos	 que	 o	 procedimento
administrativo	 disciplinar	 seguirá.	 Além	 disso,	 insta	 salientar	 que	 o	 artigo	 59	 destaca	 que	 "é
assegurado	o	direito	de	defesa".	Isto	se	leva	a	admitir	que	haja	no	procedimento	administrativo
disciplinar	 o	 direito	 à	 defesa	 técnica,	 ou	 seja,	 é	 necessário	 que	 haja	 o	 contraditório	 e	 a	 ampla
defesa.	Nesse	contexto,	o	STJ	editou	a	súmula	533,	veja:
Súmula	533	-	Para	o	reconhecimento	da	prática	de	falta	disciplinar	no	âmbito	da
execução	penal,	é	imprescindível	a	instauração	de	procedimento	administrativo	pelo
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diretor	 do	 estabelecimento	 prisional,	 assegurado	 o	 direito	 de	 defesa,	 a	 ser
realizado	 por	 advogado	 constituído	 ou	 defensor	 público	 nomeado.
(Súmula	533,	TERCEIRA	SEÇÃO,	julgado	em	10/06/2015,	DJe	15/06/2015).Nota-se,	portanto,	que	o	STJ	deixa	de	forma	clara,	na	súmula	533	acima	colacionada,	que	é
imprescindível	a	defesa	técnica	no	procedimento	administrativo	disciplinar.	Insta	salientar	que	isso
pode	parecer	 redundante,	 todavia	 foi	 objeto	de	 controvérsias	 na	medida	que	 se	discutiu	 se	no
procedimento	administrativo	disciplinar	era	prescindível,	por	exemplo,	a	apresentação	de	defesa
técnica.	Nesse	tanto,	o	próprio	STJ	tinha,	no	ano	de	2007,	uma	súmula	(súmula	343)	dizendo	que
era	obrigatória	a	presença	do	advogado	em	todas	as	fases	do	procedimento	administrativo	-	o	STJ
havia	 justamente	 editado	 esse	 verbete	 sumular	 porque	 havia	 controvérsias	 se	 nos	 PAD's
(Procedimentos	Administrativos	Disciplinares),	por	força	do	Princípio	da	Inafastabilidade	do	Poder
Judiciário,	haveria	violação	ao	contraditório	e	a	ampla	defesa	caso	não	fosse	realizada	uma	defesa
técnica.
Com	efeito,	havia	o	entendimento	de	que,	por	força	da	Inafastabilidade	do	Poder	Judiciário,
não	 haveria	 ofensa	 à	 Constituição	 uma	 vez	 que	 o	 sujeito,	 se	 sentindo	 prejudicado,	 poderia	 se
socorrer	no	 judiciário	para	ver	o	seu	direito	ameaçado,	sendo	apreciado	pelo	Poder	 Judiciário	e,
com	base	na	 súmula	343,	à	época	súmula	prevista	pelo	STJ,	 entendia-se	que	era	obrigatória	a
presença	do	advogado	em	todas	as	fases	do	procedimento	administrativo.
Contudo,	no	ano	de	2008,	o	Supremo	Tribunal	Federal	-	STF	edita	a	Súmula	Vinculante	nº5
com	a	seguinte	redação:
Súmula	Vinculante	nº5.	 "A	 falta	de	defesa	 técnica	por	advogado	no	processo
administrativo	disciplinar	não	ofende	a	Constituição".	(de	16/5/2008)
A	Súmula	Vinculante	nº5	do	Supremo	Tribunal	Federal	-	STF	vem	em	sentido	contrário	ao
verbete	sumular	343	do	STJ.	E,	com	isso,	surgiu	um	impasse,	visto	que	se	a	súmula	vinculante	nº5
diz	que	não	ofende	à	Constituição	a	ausência	de	defesa	técnica	no	procedimento	administrativo
disciplinar,	 significa	 que	 o	 preso	 poderá	 vir	 a	 ser	 submetido	 a	 um	procedimento	 administrativo
disciplinar	sem	defesa	técnica.
Destarte,	após	a	edição	da	súmula	vinculante	nº5	o	próprio	STF	foi	instado	a	se	manifestar
sobre	a	necessidade	ou	não	de	defesa	técnica	no	procedimento	administrativo	disciplinar	de	preso,
ou	seja,	no	âmbito	da	execução	da	pena.	Nesse	tanto,	o	STF	afirmou	que	a	súmula	vinculante	nº5
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quando	 determina	 que	 não	 há	 ofensa	 à	 Constituição	 com	 a	 falta	 de	 defesa	 técnica	 no
procedimento	 administrativo	 disciplinar,	 estar-se-á	 referindo-se	 a	 processos,	 somente,	 de
natureza	cível.
Nota-se	que	o	próprio	Supremo	Tribunal	Federal	-	STF	formou	um	entendimento	no	sentido
de	que	a	súmula	vinculante	nº5	não	se	aplica	ao	processo	administrativo	disciplinar	de	preso	no
âmbito	da	execução	penal,	mas	apenas	a	processos	de	natureza	cível.	E,	hoje,	o	entendimento
que	 prevalece	 em	 ambas	 às	 cortes	 (STF	 e	 STJ)	 é	 de	 que	 em	 se	 tratando	 de	 procedimento
administrativo	 disciplinar	 de	 preso	 é	 imprescindível	 (motivo	 pelo	 qual	 o	 STJ	 editou	 essa	 súmula
533)	a	defesa	técnica	elaborada	pelo	pelo	Advogado	ou	pelo	Defensor	Público	nomeado	do	preso.
Sendo	assim,	não	é	possível	a	conclusão	de	um	procedimento	administrativo	disciplinar	de	preso
sem	que	haja	a	defesa	técnica,	sem	que	tenha	sido	assegurado	o	direito	de	defesa.
No	 que	 tange	 à	 competência	 para	 a	 aplicação	 das	 sanções	 disciplinares,	 foi	 visto	 que
compete	ao	diretor	do	estabelecimento	prisional	(artigos	47	e	48,	ambos	da	LEP),	com	exceção
do	RDD	-	Regime	Disciplinar	Diferenciado	cuja	competência	recai	apenas	ao	juiz	da	execução	penal
(artigo	54	da	LEP).
É	 importante	 ressaltar,	 também,	que	na	hipótese	da	percepção,	da	conclusão	de	que	o
preso	 praticou	 a	 falta	 disciplinar	 deverá	 ser	 observado,	 no	 momento	 da	 aplicação	 da	 sanção,
artigo	57	que	é	um	dispositivo	análogo	aquele	previsto	no	artigo	59	do	Código	Penal	que	trata	das
circunstâncias	judiciais,	in	verbis:
Art.	57.	Na	aplicação	das	sanções	disciplinares,	 levar-se-ão	em	conta	a	natureza,
os	motivos,	as	circunstâncias	e	as	conseqüências	do	fato,	bem	como	a	pessoa	do
faltoso	e	seu	tempo	de	prisão.	(Redação	dada	pela	Lei	nº	10.792,	de	2003)
Parágrafo	único.	Nas	faltas	graves,	aplicam-se	as	sanções	previstas	nos	incisos	III
a	V	do	art.	53	desta	Lei.	(Redação	dada	pela	Lei	nº	10.792,	de	2003)
Sendo	 assim,	 são	 circunstâncias	 judiciais,	 de	 certa	 forma,	 que	 serão	 levadas	 em
consideração	pelo	diretor	do	estabelecimento	prisional	no	momento	da	aplicação	da	sanção.
•	"Limitações	Materiais	às	Sanções	Disciplinares"	(denominadas	assim	pela
Doutrina)	-	ligadas	ao	Princípio	da	Legalidade:
Com	efeito,	 foi	visto	que	o	artigo	45,	caput,	 da	 LEP	 traz	 expressamente	a	previsão	do
Princípio	 da	 Legalidade.	 Todavia,	 nos	 parágrafos	 do	 artigo	 45	 da	 LEP	 encontram-se	 o	 que	 a
doutrina	chama	de	"Limitações	Materiais	às	Sanções	Disciplinares",	 isto	é,	são	vedações
existentes	nos	parágrafos	1º,	2º	e	3º	do	artigo	45	da	LEP,	in	verbis:
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Art.	45.	Não	haverá	falta	nem	sanção	disciplinar	sem	expressa	e	anterior	previsão
legal	ou	regulamentar.
§1º	 As	 sanções	 não	 poderão	 colocar	 em	 perigo	 a	 integridade	 física	 e
moral	do	condenado.
§2º	É	vedado	o	emprego	de	cela	escura.	-	(a	famosa	"CELA	SURDA"	que	no
passado	 já	 foi	utilizada	como	método	de	sanção	disciplinar	 -	na	atualidade	não	se
pode	mais	e	também	não	se	confunde	com	a	CELA	DE	ISOLAMENTO,	nem	com	a
CELA	DESTINADA	AO	SEGURO).
§3º	São	vedadas	as	sanções	coletivas.
Normalmente	as	unidades	prisionais	possuem	uma	"Cela	de	Isolamento"	-	que	é	aquela
em	que	o	sujeito	cumpre	a	sanção	disciplinar	de	isolamento,	seja	ela	preventiva	de	10	dias,	seja	as
de	30	dias	que	é	o	prazo	máximo	de	duração	(será	visto	mais	à	frente).	Além	disso,	uma	"Cela
destinada	ao	Seguro"	que	são	destinadas	aqueles	presos	que	não	tem	condições	de	conviver
com	os	demais	presos	daquela	unidade	prisional	 e	 eles	assinam	o	que	 se	denomina	na	prática
penitenciária	 de	 "termo	 de	 seguro"	 e,	 com	 isso,	 o	 preso	 é	 retirado	 do	 convívio	 daquelas	 celas
sendo	colocado	em	uma	cela	de	seguro	no	qual	ele	não	tem	contato	com	outros	presos	até	que	a
sua	transferência	seja	efetivada.
Tais	 situações	 acima	 mencionadas	 ("Cela	 de	 Isolamento"	 e	 "Cela	 destinada	 ao
Seguro")	 não	 se	 confundem	 com	 a	 "Cela	 Escura"	 que	 é	 aquela	 "Cela	 Surda",	 que	 foi
vedada	pelo	legislador,	que	é	justamente	aquela	cela	no	qual	não	há	condições	de	aeração,	de
condicionamento	 térmico,	não	 tem	 luminosidade	e	acaba	sendo	considerada	como	uma	sanção
que	viola	a	dignidade	da	pessoa	humana,	é	uma	sanção	de	caráter	degradante.	E,	por	tal	motivo,
não	é	admitida	pelo	ordenamento	jurídico.
Com	efeito,	frisa-se	que	as	chamadas	"Sanções	Coletivas"	(previsão	no	art.	45,	§3º,	da
LEP	-	acima	transcrito)	também	são	vedadas.	Nesse	tanto,	a	doutrina	diz	que	é	vedada	a	Sanção
Coletiva	por	haver	a	violação	de	diversos	princípios,	principalmente	o	Princípio	da	Culpabilidade	-	a
responsabilidade	 penal	 é	 sempre	 subjetiva,	 não	 se	 pode	 admitir,	 no	 direito	 penal,	 uma
responsabilização	 penal	 objetiva,	 um	 retrocesso	 ao	 "versari	 in	 re	 illicita",	 ou	 seja,	 uma
responsabilização	penal	sem	que	o	agente	tenha	agido	com	dolo	ou	com	culpa.
Destarte,	 é	 sabido	 que	 no	 direito	 de	 execução	 penal	 não	 é	 diferente,	 ou	 seja,	 a
responsabilização	é	sempre	subjetiva	cuja	a	doutrina	costuma	apresentar	o	artigo	19	do	Código
Penal	 que	 trata	 do	 delito	 qualificado	 pelo	 resultado	 dizendo	 que	 somente	 pode	 responder	 pelo
resultado	qualificador	aquele	que	agiu	com	dolo	ou	culpa	e,	no	direito	de	execução	penal	tem-se	a
mesma	 lógica,	ou	seja,	 somente	pode	ser	 responsabilizado	aquele	que	agiu	com	dolo	ou	culpa.
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Com	efeito,	ao	se	tratar	da	sanção	coletiva,	tem-se	a	violação	do	princípio	da	culpabilidade	e,	mais
ainda,	a	violação	da	própria	ampla	defesa	e	do	contraditório,	tem-se	uma	deturpação	de	todo	o
sistema	visto	que	a	sanção	coletiva	nada	mais	é	do	que	"a	não	identificação	da	autoria	da	infração
e,	por	tal	motivo,	puni-se	coletivamente,	puni-se	a	todos".
Exemplo:
Agente	Penitenciário	que,	ao	adentrar	em	uma	cela	coletiva,	ao	 fazer	a	 revista	na	cela,
arrecada	em	áreas	de	uso	comum	dos	presos	(exemplos	de	áreas	comuns:	solário,	chuveiro,
o	boi	-	é	o	aparelho	sanitário	turco,	é	o	buraco	onde	o	preso	faz	as	suas	necessidades	-	são	todas
áreas	 de	 uso	 comum	 dos	 presos).	 Portanto,	 se	 nesses	 locais	 de	 área	 de	 uso	 comum	 for
arrecadado,	por	exemplo,	aparelho	telefônico,	rádio	ou	similar	ou,	ainda,	material	entorpecente,
drogas	sem	que	se	possa	identificar	a	autoria.
Nota-se	que	não	será	possível	que	o	diretor,	a	autoridade	administrativa	possa	imputar	a
todos	 os	 internos	 que	 estão	 alocados	 naquelas	 celas	 a	 prática	 da	 falta	 disciplinar,	 seja	 do	 fato
definido	como	crime	doloso,	que	é	falta	grave	(artigo	52	da	LEP)	que	seria	a	hipótese	do	delito	de
tráfico,	em	tese.	A	posse	ou	uso	do	aparelho	telefônico,	rádio	ou	similar	imputando-o	a	todos	os
presos	que	estão	alocados	naquelas	celas.
Assim	sendo,	percebe-se	que	é	justamente	isso,	justamente	tal	situação,	que	o	legislador
quer	 vedar	 quando	 aduz	 que	 são	 vedadas	 as	 sanções	 coletivas,	 pois	 é	 imperioso	 que	 se
individualize	a	conduta,	que	se	defina	a	autoria	e,	na	hipótese	de	não	ser	possível	atribuir	a	um
interno	autoria,	ou	se	nenhum	interno	se	apresenta	como	sendo	o	proprietário	daquele	material
arrecadado,	 não	 se	pode	punir	 coletivamente,	 sob	pena	de	 violar	 o	 princípio	 da	 legalidade,	 sob
pena	de	violar	o	princípio	da	culpabilidade	e	imputar	de	forma	objetiva	uma	falta	disciplinar	sem
que	se	tenha	verificado	corretamente	quem	é	o	autor	da	falta.	É	vedada	a	sanção	coletiva,	no
entanto,	na	prática,	essa	é	a	hipótese	mais	comum	que	ocorre	de	violação	às	limitações	materiais
da	sanção	disciplinar.
•	Duração	das	Sanções	Disciplinares:
A	Lei	de	Execução	Penal	-	LEP,	no	seu	artigo	58,	trata	justamente	da	duração	das	sanções
disciplinares,	in	verbis:
Art.	 58.	 O	 isolamento,	 a	 suspensão	 e	 a	 restrição	 de	 direitos	 não	 poderão
exceder	 a	 trinta	 dias,	 ressalvada	 a	 hipótese	 do	 regime	 disciplinar
diferenciado.		(Redação	dada	pela	Lei	nº	10.792,	de	2003)
Parágrafo	único.	O	isolamento	será	sempre	comunicado	ao	Juiz	da	execução.
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Insta	 salientar	 que	 as	 demais	 sanções	 principais,	 quais	 sejam,	 advertência	 verbal,
repreensão	etc,	não	podem	ter	o	prazo	máximo	de	duração	de	30	dias	uma	vez	que	elas	exaurir-
se-ão	em	uma	única	aplicação,	ou	seja,	o	sujeito	não	será	advertido	durante	30	dias.	Portanto,
essas	sanções	do	inciso	I	e	II	que	normalmente	são	para	faltas	leves	e	faltas	médias	têm	o	seu
esgotamento	na	própria	aplicação,	não	se	submeteram	a	esse	prazo	máximo	de	duração	de	30
dias.
Além	 disso,	 com	 relação	 ao	 isolamento	 tem-se	 a	 figura	 do	 "isolamento	 preventivo".	 O
isolamento	preventivo	está	previsto	no	artigo	60	da	LEP,	veja:
Art.	60.	A	autoridade	administrativa	poderá	decretar	o	 isolamento	preventivo	do
faltoso	 pelo	 prazo	 de	 até	 dez	 dias.	 A	 inclusão	 do	 preso	 no	 regime	 disciplinar
diferenciado,	 no	 interesse	 da	 disciplina	 e	 da	 averiguação	 do	 fato,	 dependerá	 de
despacho	do	juiz	competente.	(Redação	dada	pela	Lei	nº	10.792,	de	2003)
Parágrafo	 único.	 O	 tempo	 de	 isolamento	 ou	 inclusão	 preventiva	 no	 regime
disciplinar	 diferenciado	 será	 computado	 no	 período	 de	 cumprimento	 da	 sanção
disciplinar.	(Redação	dada	pela	Lei	nº	10.792,	de	2003)
Dessa	forma,	praticada	a	falta	disciplinar	pelo	preso	o	diretor	poderá	aplicar	o	isolamento
preventivo	pelo	prazo	de	10	dias.	No	entanto,	terminado	os	10	dias	o	preso	será	liberado	caso	não
tenha	sido	ainda	concluído	o	procedimento	administrativo	disciplinar.	Por	outro	lado,	se	houver	sido
concluído	o	procedimento	com	consequente	decisão	de	prática	de	falta	disciplinar,	por	exemplo,	de
natureza	grave,	nesse	caso,	o	sujeito	cumprirá	os	20	dias	restantes	para	totalizar	os	30	dias.	Se	o
procedimento	for	concluído	em	um	momento	posterior,	como	ele	terá	sido	liberado	do	isolamento
preventivo,	quando	sair	a	decisão	ele	deverá	retornar	para	o	isolamento	para	cumprir	os	20	dias
restantes	até	totalizar	os	30	dias.
É	interessante	ressaltar	que	na	atualidade	existe	um	entendimento	que	procura	limitar	o
prazo	máximo	de	duração	não	mais	em	30	dias,	mas	em	15	dias	e	o	faz	com	base	nas	"Regra	de
Mandela",	que	são	as	regras	da	Organização	das	Nações	Unidas	-	ONU	para	aqueles	privados	de
liberdade,	 visto	 que	 há	 previsão	 de	 que	 o	 isolamento,	 por	 ser	 uma	 sanção	 extremamente
gravosa,	deverá	ser	excepcional	e	perdurar	apenas	por	15	dias	-	regras	42	e	43	das	Regras	de
Mandela,	sendo:
Regra	42
As	condições	gerais	de	vida	expressas	nestas	Regras,	incluindo	aquelas	relacionadas
à	 iluminação,	 à	 ventilação,	 à	 temperatura,	 ao	 saneamento,	 à	 nutrição,	 à	 água
potável,	 à	 acessibilidade	 a	 ambientes	 ao	 ar	 livre	 e	 ao	 exercício	 físico,	 à	 higiene
Execução	Penal	–	Felipe	Almeida
Aula10	-	Sanções	Disciplinares	e	Procedimento	Administrativo	Disciplinar
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Curso	Ênfase	©	2019
pessoal,	aos	cuidados	médicos	e	ao	espaço	pessoal	adequado,	devem	ser	aplicadas
a	todos	os	presos,	sem	exceção.
Regra	43
1.	Em	nenhuma	hipótese	devem	as	restrições	ou	sanções	disciplinares	implicar	em
tortura	 ou	 outra	 forma	 de	 tratamento	 ou	 sanções	 cruéis,	 desumanos	 ou
degradantes.	As	seguintes	práticas,	em	particular,	devem	ser	proibidas:
(a)	Confinamento	solitário	indefinido;
(b)	Confinamento	solitário	prolongado;
(c)	Encarceramento	em	cela	escura	ou	constantemente	iluminada;
(d)	Castigos	corporais	ou	redução	da	dieta	ou	água	potável	do	preso;
(e)	Castigos	coletivos.
2.	 Instrumentos	 de	 imobilização	 jamais	 devem	 ser	 utilizados	 como	 sanção	 a
infrações	disciplinares.
3.	 Sanções	 disciplinares	 ou	 medidas	 restritivas	 não	 devem	 incluir	 a	 proibição	 de
contato	 com	 a	 família.	 O	 contato	 familiar	 só	 pode	 ser	 restringido	 por	 um	 prazo
limitado	e	quando	for	estritamente	necessário	para	a	manutenção	da	segurança	e
da	ordem.
Repete-se	 que	 existe	 um	 movimento	 sustentando	 que	 o	 artigo	 58	 da	 LEP	 seja
parametrizado	pelas	Regras	de	Mandela	e	apenas	admitam	um	prazo	máximo	de	isolamento	com
duração	de	15	dias.	No	entanto,	o	Professor	ressalta	que	as	regras	de	Mandela	não	são	tratados
de	Direitos	Humanos	e,	 de	 certa	 forma,	 não	 tem	coercibilidade	para	modificar	 o	 ordenamento
jurídico	interno.	Dessa	forma,	a	jurisprudência	não	vem	aceitando	o	prazo	previsto	nas	Regras	de
Mandela,	todavia	primando	pela	a	aplicação	dos	30	dias	do	artigo	58	da	LEP	no	que	se	refere	ao
isolamento	do	preso.	E,	com	isso,	vem	rechaçando	a	tese	de	que	todas	as	sanções	disciplinares,
com	base	nas	Regras	de	Mandela,	unicamente	poderiam	ter	como	prazo	máximo	de	duração	de
15	dias.
ATENÇÃO:	O	RDD	-	Regime	Disciplinar	Diferenciado	excepciona	a	regra	de	prazo	máximo
de	duração	na	medida	em	que,	como	será	visto	no	próximo	bloco,	ele	pode,	inclusive,	ter	prazo	de
até	360	dias.

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