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1 Curso Ênfase © 2019 EXECUÇÃO PENAL – FELIPE ALMEIDA AULA10 - SANÇÕES DISCIPLINARES E PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 1. DIREITO DE EXECUÇÃO PENAL - LEI Nº7.210/1984 (LEI DE EXECUÇÕES PENAIS - LEP) 1.1 PARTE GERAL (CONTINUAÇÃO) a) Dos Deveres, Dos Direitos e da Disciplina do Preso (Capítulo IV): a.1) Dos Deveres do Preso; a.2) Dos Direitos do Preso; a.3) Da Disciplina do Preso (Sistema Disciplinar do Direito de Execução Penal): a.3.1) Disposições Gerais; a.3.2) Sanções Disciplinares: A Lei de Execução Penal traz um rol das sanções disciplinares que são justamente as consequências jurídicas para a prática de faltas disciplinares. Nesse diapasão, colaciona-se o artigo 53 da LEP, sendo: Art. 53. Constituem sanções disciplinares: I - advertência verbal; II - repreensão; III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único); IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei. V - inclusão no regime disciplinar diferenciado. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) Essas sanções disciplinares, previstas no artigo 53 da LEP, são chamadas de "Sanções Principais", ou seja, são as sanções consideradas como as primeiras a serem aplicadas, posto que são autoaplicáveis decorrentes da prática de infração disciplinar. A Legislação Penitenciária costuma trazer, ao tratar da legislação local, são consideradas como principais e obrigatórias, também as chamadas "Sanções Secundárias" que de uma certa forma são comuns a todas as legislações penitenciárias e consistem, por exemplo, na perda de regalias - o indivíduo perde uma visita extraordinária, uma visita íntima ou a possibilidade do aparelho de televisão, de rádio; as regalias estão previstas como recompensas estão previstas no artigo 56 da LEP, veja: Art. 56. São recompensas: I - o elogio; II - a concessão de regalias. Parágrafo único. A legislação local e os regulamentos estabelecerão a natureza e Execução Penal – Felipe Almeida Aula10 - Sanções Disciplinares e Procedimento Administrativo Disciplinar 2 Curso Ênfase © 2019 a forma de concessão de regalias. Portanto, como "sanções secundárias", normalmente impostas pela legislação penitenciária, tem-se a perda de regalia, o rebaixamento do índice comportamental - nesse tanto, ressalta-se que os presos são classificados, até para a aferição do requisito subjetivo, em índices de comportamento, geralmente há: i) o comportamento neutro, ii) o comportamento bom, iii) o comportamento excelente, iv) o comportamento excepcional e, v) o comportamento negativo - sendo assim, quando o preso pratica uma falta disciplinar, ele possui o seu índice de comportamento rebaixado. Com efeito, quando a falta é de natureza grave, o preso tem o seu rebaixamento direto para o comportamento negativo. No entanto, quando há faltas médias e leves o rebaixamento pode cair do excepcional para o excelente, ou do excelente para o bom ou, ainda, do bom para o neutro, mas não alcança o negativo que é justamente o rebaixamento do comportamento decorrente de prática de falta disciplinar de natureza grave. Da mesma forma, pode ocorrer "a transferência a bem da disciplina" que é a transferência do apenado ou do preso provisório também como uma consequência jurídica da prática de falta disciplinar, uma sanção secundária. Assim sendo, todas essas são consideradas sanções secundárias que estão previstas na legislação penitenciária. A LEP trata das chamadas "Sanções Principais" que são justamente essas previstas no artigo 53. Lembrando que existe uma discussão assaz grande em torno de se as faltas disciplinares submetem-se ao instituto da prescrição - possibilidade de prescrição da falta disciplinar. Nesse diapasão, em que pese alguns entendimentos no sentido de que a falta disciplinar prescreve em 1 ano, com base em legislações, por exemplo, civis de estatutos de servidores públicos no qual o PAD em que os funcionário público é submetido tem, por exemplo, a previsão da prescrição em 1 ano. Há o entendimento também de que a prescrição das faltas disciplinares deveria se submeter ao prazo prescricional previsto no artigo 114 do Código Penal, referente à pena de multa, estabelecendo 2 anos de prazo prescricional. Entretanto, o posicionamento relativamente pacífico no STJ é de que a prescrição das faltas disciplinares se submete ao menor prazo prescricional previsto no Código Penal. Contudo, o STJ refere-se ao menor prazo prescricional referente à pena privativa de liberdade e não à pena de multa, portanto, o prazo seria o menor prazo prescricional da pena privativa de liberdade, qual seja, o prazo de 3 anos. Com isso, conclui o STJ que o instituto da Execução Penal – Felipe Almeida Aula10 - Sanções Disciplinares e Procedimento Administrativo Disciplinar 3 Curso Ênfase © 2019 prescrição se aplica às faltas disciplinares e que justamente o prazo de 3 anos seria o prazo prescricional para a falta disciplinar praticada no âmbito prisional. a.3.3) Procedimento Administrativo Disciplinar: Destarte, para se chegar à conclusão de que o apenado ou o preso provisório teria sido autor de infração disciplinar tal conclusão, necessariamente, deverá ser precedida do devido processo administrativo. Ou seja, o preso fica equiparado, realmente, a uma situação de servidor público que é submetido, diante de uma infração funcional, ao respectivo procedimento administrativo disciplinar. Nessa linha, como o preso está submetido a um rol de deveres e de consequentes faltas disciplinares que ele possa vir a incorrer, uma vez praticadas algumas dessas infrações disciplinares, seja falta grave, falta média ou falta leve, o apenado ou preso provisório deverá ser submetido a um procedimento administrativo disciplinar. Essa previsão é encontrada no artigo 59 da LEP, sendo: Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa. Parágrafo único. A decisão será motivada. O Legislador da LEP, ou seja, o Legislador do "Direito de Execução Penal" não estabeleceu forma nem rito para o procedimento administrativo disciplinar. Em que pese autores sustentaram que se deveria ter a jurisdicionalização plena e que deveria haver a jurisdicionalização do procedimento administrativo disciplinar, ou seja, deveria ser deflagrado no âmbito da execução penal, no processo executivo sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. O entendimento que prevalece, sendo o que a nossa legislação determina, é de que a legislação penitenciária é justamente a legislação que determinará o rito que esse procedimento administrativo disciplinar seguirá. E, por tal motivo, o artigo 59 remete ao direito penitenciário para tratar do rito, dos prazos, dos recursos, da suspensão, ou seja, de todos os desdobramentos que o procedimento administrativo disciplinar seguirá. Além disso, insta salientar que o artigo 59 destaca que "é assegurado o direito de defesa". Isto se leva a admitir que haja no procedimento administrativo disciplinar o direito à defesa técnica, ou seja, é necessário que haja o contraditório e a ampla defesa. Nesse contexto, o STJ editou a súmula 533, veja: Súmula 533 - Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo Execução Penal – Felipe Almeida Aula10 - Sanções Disciplinares e Procedimento Administrativo Disciplinar 4 Curso Ênfase © 2019 diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado. (Súmula 533, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2015, DJe 15/06/2015).Nota-se, portanto, que o STJ deixa de forma clara, na súmula 533 acima colacionada, que é imprescindível a defesa técnica no procedimento administrativo disciplinar. Insta salientar que isso pode parecer redundante, todavia foi objeto de controvérsias na medida que se discutiu se no procedimento administrativo disciplinar era prescindível, por exemplo, a apresentação de defesa técnica. Nesse tanto, o próprio STJ tinha, no ano de 2007, uma súmula (súmula 343) dizendo que era obrigatória a presença do advogado em todas as fases do procedimento administrativo - o STJ havia justamente editado esse verbete sumular porque havia controvérsias se nos PAD's (Procedimentos Administrativos Disciplinares), por força do Princípio da Inafastabilidade do Poder Judiciário, haveria violação ao contraditório e a ampla defesa caso não fosse realizada uma defesa técnica. Com efeito, havia o entendimento de que, por força da Inafastabilidade do Poder Judiciário, não haveria ofensa à Constituição uma vez que o sujeito, se sentindo prejudicado, poderia se socorrer no judiciário para ver o seu direito ameaçado, sendo apreciado pelo Poder Judiciário e, com base na súmula 343, à época súmula prevista pelo STJ, entendia-se que era obrigatória a presença do advogado em todas as fases do procedimento administrativo. Contudo, no ano de 2008, o Supremo Tribunal Federal - STF edita a Súmula Vinculante nº5 com a seguinte redação: Súmula Vinculante nº5. "A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição". (de 16/5/2008) A Súmula Vinculante nº5 do Supremo Tribunal Federal - STF vem em sentido contrário ao verbete sumular 343 do STJ. E, com isso, surgiu um impasse, visto que se a súmula vinculante nº5 diz que não ofende à Constituição a ausência de defesa técnica no procedimento administrativo disciplinar, significa que o preso poderá vir a ser submetido a um procedimento administrativo disciplinar sem defesa técnica. Destarte, após a edição da súmula vinculante nº5 o próprio STF foi instado a se manifestar sobre a necessidade ou não de defesa técnica no procedimento administrativo disciplinar de preso, ou seja, no âmbito da execução da pena. Nesse tanto, o STF afirmou que a súmula vinculante nº5 Execução Penal – Felipe Almeida Aula10 - Sanções Disciplinares e Procedimento Administrativo Disciplinar 5 Curso Ênfase © 2019 quando determina que não há ofensa à Constituição com a falta de defesa técnica no procedimento administrativo disciplinar, estar-se-á referindo-se a processos, somente, de natureza cível. Nota-se que o próprio Supremo Tribunal Federal - STF formou um entendimento no sentido de que a súmula vinculante nº5 não se aplica ao processo administrativo disciplinar de preso no âmbito da execução penal, mas apenas a processos de natureza cível. E, hoje, o entendimento que prevalece em ambas às cortes (STF e STJ) é de que em se tratando de procedimento administrativo disciplinar de preso é imprescindível (motivo pelo qual o STJ editou essa súmula 533) a defesa técnica elaborada pelo pelo Advogado ou pelo Defensor Público nomeado do preso. Sendo assim, não é possível a conclusão de um procedimento administrativo disciplinar de preso sem que haja a defesa técnica, sem que tenha sido assegurado o direito de defesa. No que tange à competência para a aplicação das sanções disciplinares, foi visto que compete ao diretor do estabelecimento prisional (artigos 47 e 48, ambos da LEP), com exceção do RDD - Regime Disciplinar Diferenciado cuja competência recai apenas ao juiz da execução penal (artigo 54 da LEP). É importante ressaltar, também, que na hipótese da percepção, da conclusão de que o preso praticou a falta disciplinar deverá ser observado, no momento da aplicação da sanção, artigo 57 que é um dispositivo análogo aquele previsto no artigo 59 do Código Penal que trata das circunstâncias judiciais, in verbis: Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003) Parágrafo único. Nas faltas graves, aplicam-se as sanções previstas nos incisos III a V do art. 53 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003) Sendo assim, são circunstâncias judiciais, de certa forma, que serão levadas em consideração pelo diretor do estabelecimento prisional no momento da aplicação da sanção. • "Limitações Materiais às Sanções Disciplinares" (denominadas assim pela Doutrina) - ligadas ao Princípio da Legalidade: Com efeito, foi visto que o artigo 45, caput, da LEP traz expressamente a previsão do Princípio da Legalidade. Todavia, nos parágrafos do artigo 45 da LEP encontram-se o que a doutrina chama de "Limitações Materiais às Sanções Disciplinares", isto é, são vedações existentes nos parágrafos 1º, 2º e 3º do artigo 45 da LEP, in verbis: Execução Penal – Felipe Almeida Aula10 - Sanções Disciplinares e Procedimento Administrativo Disciplinar 6 Curso Ênfase © 2019 Art. 45. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar. §1º As sanções não poderão colocar em perigo a integridade física e moral do condenado. §2º É vedado o emprego de cela escura. - (a famosa "CELA SURDA" que no passado já foi utilizada como método de sanção disciplinar - na atualidade não se pode mais e também não se confunde com a CELA DE ISOLAMENTO, nem com a CELA DESTINADA AO SEGURO). §3º São vedadas as sanções coletivas. Normalmente as unidades prisionais possuem uma "Cela de Isolamento" - que é aquela em que o sujeito cumpre a sanção disciplinar de isolamento, seja ela preventiva de 10 dias, seja as de 30 dias que é o prazo máximo de duração (será visto mais à frente). Além disso, uma "Cela destinada ao Seguro" que são destinadas aqueles presos que não tem condições de conviver com os demais presos daquela unidade prisional e eles assinam o que se denomina na prática penitenciária de "termo de seguro" e, com isso, o preso é retirado do convívio daquelas celas sendo colocado em uma cela de seguro no qual ele não tem contato com outros presos até que a sua transferência seja efetivada. Tais situações acima mencionadas ("Cela de Isolamento" e "Cela destinada ao Seguro") não se confundem com a "Cela Escura" que é aquela "Cela Surda", que foi vedada pelo legislador, que é justamente aquela cela no qual não há condições de aeração, de condicionamento térmico, não tem luminosidade e acaba sendo considerada como uma sanção que viola a dignidade da pessoa humana, é uma sanção de caráter degradante. E, por tal motivo, não é admitida pelo ordenamento jurídico. Com efeito, frisa-se que as chamadas "Sanções Coletivas" (previsão no art. 45, §3º, da LEP - acima transcrito) também são vedadas. Nesse tanto, a doutrina diz que é vedada a Sanção Coletiva por haver a violação de diversos princípios, principalmente o Princípio da Culpabilidade - a responsabilidade penal é sempre subjetiva, não se pode admitir, no direito penal, uma responsabilização penal objetiva, um retrocesso ao "versari in re illicita", ou seja, uma responsabilização penal sem que o agente tenha agido com dolo ou com culpa. Destarte, é sabido que no direito de execução penal não é diferente, ou seja, a responsabilização é sempre subjetiva cuja a doutrina costuma apresentar o artigo 19 do Código Penal que trata do delito qualificado pelo resultado dizendo que somente pode responder pelo resultado qualificador aquele que agiu com dolo ou culpa e, no direito de execução penal tem-se a mesma lógica, ou seja, somente pode ser responsabilizado aquele que agiu com dolo ou culpa. Execução Penal – Felipe Almeida Aula10 - Sanções Disciplinares e ProcedimentoAdministrativo Disciplinar 7 Curso Ênfase © 2019 Com efeito, ao se tratar da sanção coletiva, tem-se a violação do princípio da culpabilidade e, mais ainda, a violação da própria ampla defesa e do contraditório, tem-se uma deturpação de todo o sistema visto que a sanção coletiva nada mais é do que "a não identificação da autoria da infração e, por tal motivo, puni-se coletivamente, puni-se a todos". Exemplo: Agente Penitenciário que, ao adentrar em uma cela coletiva, ao fazer a revista na cela, arrecada em áreas de uso comum dos presos (exemplos de áreas comuns: solário, chuveiro, o boi - é o aparelho sanitário turco, é o buraco onde o preso faz as suas necessidades - são todas áreas de uso comum dos presos). Portanto, se nesses locais de área de uso comum for arrecadado, por exemplo, aparelho telefônico, rádio ou similar ou, ainda, material entorpecente, drogas sem que se possa identificar a autoria. Nota-se que não será possível que o diretor, a autoridade administrativa possa imputar a todos os internos que estão alocados naquelas celas a prática da falta disciplinar, seja do fato definido como crime doloso, que é falta grave (artigo 52 da LEP) que seria a hipótese do delito de tráfico, em tese. A posse ou uso do aparelho telefônico, rádio ou similar imputando-o a todos os presos que estão alocados naquelas celas. Assim sendo, percebe-se que é justamente isso, justamente tal situação, que o legislador quer vedar quando aduz que são vedadas as sanções coletivas, pois é imperioso que se individualize a conduta, que se defina a autoria e, na hipótese de não ser possível atribuir a um interno autoria, ou se nenhum interno se apresenta como sendo o proprietário daquele material arrecadado, não se pode punir coletivamente, sob pena de violar o princípio da legalidade, sob pena de violar o princípio da culpabilidade e imputar de forma objetiva uma falta disciplinar sem que se tenha verificado corretamente quem é o autor da falta. É vedada a sanção coletiva, no entanto, na prática, essa é a hipótese mais comum que ocorre de violação às limitações materiais da sanção disciplinar. • Duração das Sanções Disciplinares: A Lei de Execução Penal - LEP, no seu artigo 58, trata justamente da duração das sanções disciplinares, in verbis: Art. 58. O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não poderão exceder a trinta dias, ressalvada a hipótese do regime disciplinar diferenciado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003) Parágrafo único. O isolamento será sempre comunicado ao Juiz da execução. Execução Penal – Felipe Almeida Aula10 - Sanções Disciplinares e Procedimento Administrativo Disciplinar 8 Curso Ênfase © 2019 Insta salientar que as demais sanções principais, quais sejam, advertência verbal, repreensão etc, não podem ter o prazo máximo de duração de 30 dias uma vez que elas exaurir- se-ão em uma única aplicação, ou seja, o sujeito não será advertido durante 30 dias. Portanto, essas sanções do inciso I e II que normalmente são para faltas leves e faltas médias têm o seu esgotamento na própria aplicação, não se submeteram a esse prazo máximo de duração de 30 dias. Além disso, com relação ao isolamento tem-se a figura do "isolamento preventivo". O isolamento preventivo está previsto no artigo 60 da LEP, veja: Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz competente. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003) Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003) Dessa forma, praticada a falta disciplinar pelo preso o diretor poderá aplicar o isolamento preventivo pelo prazo de 10 dias. No entanto, terminado os 10 dias o preso será liberado caso não tenha sido ainda concluído o procedimento administrativo disciplinar. Por outro lado, se houver sido concluído o procedimento com consequente decisão de prática de falta disciplinar, por exemplo, de natureza grave, nesse caso, o sujeito cumprirá os 20 dias restantes para totalizar os 30 dias. Se o procedimento for concluído em um momento posterior, como ele terá sido liberado do isolamento preventivo, quando sair a decisão ele deverá retornar para o isolamento para cumprir os 20 dias restantes até totalizar os 30 dias. É interessante ressaltar que na atualidade existe um entendimento que procura limitar o prazo máximo de duração não mais em 30 dias, mas em 15 dias e o faz com base nas "Regra de Mandela", que são as regras da Organização das Nações Unidas - ONU para aqueles privados de liberdade, visto que há previsão de que o isolamento, por ser uma sanção extremamente gravosa, deverá ser excepcional e perdurar apenas por 15 dias - regras 42 e 43 das Regras de Mandela, sendo: Regra 42 As condições gerais de vida expressas nestas Regras, incluindo aquelas relacionadas à iluminação, à ventilação, à temperatura, ao saneamento, à nutrição, à água potável, à acessibilidade a ambientes ao ar livre e ao exercício físico, à higiene Execução Penal – Felipe Almeida Aula10 - Sanções Disciplinares e Procedimento Administrativo Disciplinar 9 Curso Ênfase © 2019 pessoal, aos cuidados médicos e ao espaço pessoal adequado, devem ser aplicadas a todos os presos, sem exceção. Regra 43 1. Em nenhuma hipótese devem as restrições ou sanções disciplinares implicar em tortura ou outra forma de tratamento ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes. As seguintes práticas, em particular, devem ser proibidas: (a) Confinamento solitário indefinido; (b) Confinamento solitário prolongado; (c) Encarceramento em cela escura ou constantemente iluminada; (d) Castigos corporais ou redução da dieta ou água potável do preso; (e) Castigos coletivos. 2. Instrumentos de imobilização jamais devem ser utilizados como sanção a infrações disciplinares. 3. Sanções disciplinares ou medidas restritivas não devem incluir a proibição de contato com a família. O contato familiar só pode ser restringido por um prazo limitado e quando for estritamente necessário para a manutenção da segurança e da ordem. Repete-se que existe um movimento sustentando que o artigo 58 da LEP seja parametrizado pelas Regras de Mandela e apenas admitam um prazo máximo de isolamento com duração de 15 dias. No entanto, o Professor ressalta que as regras de Mandela não são tratados de Direitos Humanos e, de certa forma, não tem coercibilidade para modificar o ordenamento jurídico interno. Dessa forma, a jurisprudência não vem aceitando o prazo previsto nas Regras de Mandela, todavia primando pela a aplicação dos 30 dias do artigo 58 da LEP no que se refere ao isolamento do preso. E, com isso, vem rechaçando a tese de que todas as sanções disciplinares, com base nas Regras de Mandela, unicamente poderiam ter como prazo máximo de duração de 15 dias. ATENÇÃO: O RDD - Regime Disciplinar Diferenciado excepciona a regra de prazo máximo de duração na medida em que, como será visto no próximo bloco, ele pode, inclusive, ter prazo de até 360 dias.
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