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1 Clínica Integrada IV – Dr. João Américo EPILEPSIAS O termo epilepsia refere-se a uma condição crônica, compreendendo um grupo de doen- ças que têm em comum crises epilépticas que recorrem na ausência de doença tóxico-meta- bólica ou febril. Crise epiléptica, por sua vez, traduz uma situa- ção onde há descarga excessiva e síncrona de um grupo neuronal. Essa pode surgir esponta- neamente ou ser desencadeada por situações como febre, distúrbio eletrolítico ou intoxica- ções exógenas. DIAGNÓSTICO Anamnese Sintomas Para tanto, a anamnese deve descrever o evento detalhadamente, devendo incluir o lado em que se inicia a clonia, se há presença ou não de alteração de linguagem e quanto tempo dura o períodos pós-ictal (sintomatolo- gia pós-crise). A observação de fala inteligível indica acome- timento do hemisfério dominante (esquerdo, em geral). O período pós-ictal é mais prolon- gado quando a crise origina-se do hemisfério dominante idem. Nas crises de início focal diferem em sua apre- sentação conforme a localização da origem do impulso anormal. As do lobo temporal podem apresentar alterações de olfato (cheiro anor- mal), autonômicas (mal-estar epigástrico) e de memória (estado de sonho, deja vu, jamais vu). Crises de lobo parietal geram alterações sensi- tivas, de lobo frontal motoras e de lobo occipi- tal visuais. Antecedentes Os antecedentes pessoais são de extrema im- portância. É preciso questionar a ocorrência de parada cardiorrespiratória ao nascimento, de- senvolvimento neuropsicomotor inadequado, história de meningite, existência de doenças genética predisponentes (ex.: adenoleucodis- trofia) e história de acidente na infância. De antecedentes familiares, incluem-se histó- ria familiar de epilepsia e antecedentes pré-na- tais (toxoplasmose, outras {HIV, HBV, sífilis} ru- béola, CMV, herpes simples e Zika - ToRCHZ). Exame físico O exame neurológico no período inter-crise geralmente está inalterado. Exames complementares Eletroencefalograma É um exame essencial na investigação de epi- lepsias. O EEG gera um gráfico que capta a ati- vidade elétrica de cada região de escalpo, atra- vés do posicionamento de eletrodos ao logo de sua superfície. O registro dura 30 minutos. Eletrodos colocados na linha média são deno- minados “zero” ou “z” ou ainda “0”. Eletrodos colocados no hemicrânio esquerdo têm núme- ros ímpares, e à direita, têm números pares. As- sim, por exemplo, F4 é frontal direito, F3 frontal esquerdo e Fz é frontal na linha média. 2 A atividade em um local é registrada por mais de um eletrodo sempre e, por isso, a alteração de apenas um é considerada artefato. O EEG é capaz de registrar fenômeno inter-ictal, carac- terizado pela atividade apenas dos neurônios patológicos (“revoltosos”), sem a formação da rede necessária para gerar crise, e ictal (crise). É um exame limitado, pois pode não registrar o evento dentro dos 30 minutos de duração. Para tanto, existe ainda o vídeo EEG, cujo regis- tro é superior a 30 minutos e o evento é fil- mado e relacionado com o gráfico de registro. Outros exames Incluem tomografia computadorizada, resso- nância magnética e SPECT. O SPECT registra o fluxo sanguíneo através da infusão de tecné- cio, diferindo na apresentação dos períodos ic- tal e inter-ictal. O lobo disfuncional com hipo- fluxo fora da crise e com hiperfluxo na crise. EPIDEMIOLOGIA A incidência e prevalência variam muito de- vido ao difícil diagnóstico. A incidência é esti- mada de 11 a 131 a cada 100.000 habitan- tes/ano. A prevalência é de 1,5 a 30 por 1.000 indivíduos. Em São Paulo, é de 11,9 por 1.000 habitantes. Possui apresentação bimodal, com o primeiro pico abaixo de 2 anos e o segundo acima de 65 anos (maior incidência de AVC). ETIOLOGIA Cerca de 70% das epilepsias são idiopáticas ou criptogênicas. As demais 30% são sintomá- tica, podendo decorrer de doenças da substân- cia cinzenta, doenças inflamatória ou áreas de gliose. As causas das epilepsias sintomáticas variam conforme a faixa etária, podendo ser: fatores genéticos ou perinatais, doenças infecciosas, trauma, distúrbios vasculares, doenças dege- nerativas ou doenças inflamatórias. CLASSIFICAÇÃO CRISES EPILÉPTICAS As crises epilépticas são inicialmente catego- rizadas por tipo de início. Crises de início focal são definidas como “inici- adas em redes neurais limitadas a um hemis- fério, podendo ser bem localizadas ou mais di- fusamente distribuídas”. Também podem ori- ginar-se em estruturas subcorticais. Crises de início generalizado são definidas como “crises iniciadas em algum local de uma rede neuronal com rápido envolvimento de re- des distribuídas bilateralmente”. 3 Focais A classificação adicional é opcional. O próximo nível de classificação das crises focais é de acordo com a percepção. Percepção é operaci- onalmente definida como conhecimento de si mesmo e do ambiente. Perceptivas Durante uma crise focal perceptiva, a consci- ência estará intacta. Percepção especifica- mente refere-se a consciência durante a crise, e não ao fato do paciente ter ou não percebido a ocorrência da crise. Disperceptivas Se a percepção do evento está comprometida em qualquer parte da crise, então a crise deve ser classificada como crise focal com compro- metimento da percepção ou disperceptiva. Evolução para generalizada O tipo de crise “focal evoluindo para tônico- clônica bilateral” fica em uma categoria espe- cial por conta da sua ocorrência comum e im- portância, apesar de refletir mais um padrão ic- tal de propagação que um tipo específico de crise Generalizadas Crises de início generalizado são divididas em crises motoras e não motoras (ausência). O grau de percepção não é utilizado como clas- sificador para crises generalizadas, pois a mai- oria está associada a alteração dessa. De ausência Crises de ausência apresentam-se com súbita parada da atividade e da percepção. Tendem a ocorrer em indivíduos jovens, seu início e final são mais abruptos, duração de até 30 segun- dos, e geralmente são acompanhadas de au- tomatismos menos complexos do que aque- les observados nas crises focais dispercepti- vas. Num paciente com suspeita de crises de au- sência, a não observação da crise clássica du- rante a hiperpneia de 3 a 5 minutos deve colo- car em dúvida este diagnóstico. Ausências atípicas Nestas crises, o comprometimento da consci- ência é menor, bem como a duração da crise, com início e términos não abruptos e fre- quente alteração do tônus muscular. Geral- mente, vêm associadas a crises tônicas ou atô- nicas, sua duração costuma ser inferior a 15 se- gundos e não são desencadeadas pela hiper- pneia. Mioclônicas Mioclonias são contrações musculares súbi- tas, que se assemelham a choques, ocorrendo de forma isolada ou repetida. Frequentemente ocorrem ao despertar ou ao adormecer e po- dem ser exacerbadas por movimentos volun- tários (mioclonia de ação). Clônicas Ocorrem abalos rítmicos focais (contratura se- guida de relaxamento) de curta duração com comprometimento da consciência. 4 Tônica Apresentam contratura focal sustentada, du- rando de 10 a 20 segundos, e podem compro- meter apenas a musculatura axial ou então a rizomélica ou então o corpo todo (crise tônica global). Tônico-clônicas (CTCG) Também chamadas de “grande mal”, rara- mente são primárias, ou seja, a grande maioria são crises focais evoluindo para tônico-clônica bilateral. Porém, entre as crises generalizadas, são as mais frequentes. Há perda da consciência e contração tônica da musculatura, inicialmente axial com expulsão do ar através da glote espasmótica, levando ao grito epiléptico, cianose, eventualmente, mor- dedura de língua. Os membros são inicial- mente fletidos e depois estendidos. A duração da fase tônica é de cerca de 20 segundos. Tem início então a fase clônica, durando cerca de 30 segundos. Atônicas Caracterizam-se por uma rápida alteração da consciência associada à diminuição do tônus da mandíbula ou dos membros, causando queda e traumatismos, particularmente na face. SÍNDROMES EPILÉPTICAS São chamadas idiopáticas aquelas em que não se demonstram lesões estruturais do sis- tema nervoso, geralmente de evolução be- nigna. As sintomáticas compreendem as com crises frequentes e, algumas vezes, de difícil controle, decorrentes de lesões definidas do sistema nervoso. Síndromes criptogênicas são síndromes sintomáticas, porém sem origem determinável. Focais idiopáticas Epilepsia Benigna da Infância com Pontas Cen- tro-temporais Ocorre de 3 a 13 anos, com pico de incidência aos 9 anos. Apresenta incidência de 21 casos para cada 100.000 indivíduos, sendo a forma mais comum na infância (25%). É prevalente no sexo masculino (60%). Acomete crianças normais com história fami- liar rica, por relacionar-se com gene autossô- mico dominante com penetrância idade-de- pendente. Início somatossensorial seguido de convulsão tônico-clônica, tônica ou clônica, envolvendo face, lábios, língua, músculo da fa- ringe e laringe. As crises podem generalizar e possuem cará- ter mais noturno (ativação pelo sono). Respon- dem bem às drogas antiepilépticas e desapa- recem na 2ª década de vida. E. Benigna da Infância com Pontas Occipitais Ocorre de 15 meses a 17 anos, com pico de in- cidência aos 7 anos. O exame neurológico é 5 normal. Apresenta-se com aura visual, inclu- indo amaurose, hemianopsia, alucinação ou ilusão visual, evoluindo para manifestações motoras ou psicomotoras e cefaleia do tipo mi- granosa no período pós-ictal. Epilepsia primária da leitura Inicia-se na adolescência, com idade média de 17-18 anos, predominando no sexo masculino. As crises são desencadeadas pela leitura ou atividade relacionada (falar, escrever ou ouvir música). Apresenta-se como sensação de enrijeci- mento, fraqueza, formigamento ou movimen- tos anormais nos músculos envolvidos na lei- tura e na fala, sem perda da consciência, po- dendo evoluir com CTCG. Focais sintomáticas ou criptogênicas Os sinais e sintomas nem sempre são revela- dores da região em que são iniciadas. Existem áreas silentes, como o lobo pré-frontal, e elo- quentes, como lobo temporal. Assim, uma crise focal de lobo pré-frontal pode só ser no- tada ao generalizar e alcançar o lobo temporal. Epilepsia do lobo temporal É a mais frequente, representando 60% das epilepsia parciais, e também a que mais mos- tra anormalidades inter-ictais e ictais ao EEG. Apresenta auras viscerais (desconforto epi- gástrico), autonômica (hipus), psíquica (sensa- ção de estranheza, deja vu, jamais vu), seguida de parada comportamental, olhar fixo, automa- tismos (ipsilateral), distonias (contralateral), presença de linguagem (alteração se hemisfé- rio dominante – esquerdo) e generalização. Epilepsia do lobo frontal Corresponde de 20 a 30% das epilepsias par- ciais. Apresenta início e términos súbitos, du- ração curta, ocorrência frequente e confusão pós-crítica breve. Há presença de automatis- mos motores importantes, como debater-se, atirar-se, balançar-se, pedalar e chutar, acom- panhado de vocalização primitiva, como gru- nhidos e gemidos. Generalização é frequente. Epilepsia do lobo parietal Apresenta-se com sensações parestésicas ou disestésicas, principalmente de face e braço, frequentemente seguidas de fenômenos mo- tores. Pode ocorrer marcha jacksoniana, em que os movimentos clônicos iniciam-se na mão, e, de forma progressiva, acometem o an- tebraço, braço e face e podem evoluir com perda de consciência e crise tônico-clônico ge- neralizada. Epilepsia do lobo occipital Crises visuais caracterizam-se por alucinações elementares, como luzes ou cores, embora possa ocorrer perda visual crítica. Mais fre- quentemente apresentam alucinações com- plexas e ilusões visuais, sendo rara a amau- rose. Epilepsia parcial contínua Síndrome de Rasmussen Diagnóstico feito através de biópsia de cére- bro. O tratamento consiste em hemisferecto- mia, a fim de evitar acometimento do outro e consequente declínio progressivo do quadro 6 da criança. Essa deve ser feita de forma pre- coce, para aproveitar alta neuroplasticidade da idade. Epilepsia Rolândica associada a lesão do cór- tex motor A Epilepsia Rolânica é um epilepsia parcial idi- opática que incide principalmente em indiví- duos de 3 a 13 anos e se caracteriza por crises noturnas, orofaciais motoras, podendo se ge- neralizar especialmente em crianças menores que 5 anos. Quando associada a lesão do cór- tex motor, torna-se sintomática (?). Generalizadas idiopáticas Convulsão neonatal benigna Também conhecida como “crise do 5º dia”, sendo mais frequente no sexo masculino. Apresenta-se com crises clônicas, de apneia ou crises parciais, mas nunca do tipo tônico. Estado de mal epiléptico é comum. Convulsão neonatal benigna familiar Ocorre no 2º ou 3º dia de vida em crianças com antecedente familiar positivo para epilepsia. In- cide igualmente em ambos os sexos. Há crises clônicas, apneia e ocasionalmente tônica. Epilepsia mioclônica benigna da infância Ocorre mais no sexo masculino, na idade de 4 meses a 3 anos, compreendendo crises mio- clônicas breves (1 a 3 segundos). Epilepsia de ausência infantil Acomete crianças de 3 a 12 anos, com média de idade de 6 a 7 anos. É a única de maior pre- valência no sexo feminino. Relaciona-se a pre- disposição familiar, apresentando crises de curta duração (2 a 3 segundos) e início e térmi- nos súbitos. O ictus se caracteriza por perda da responsivi- dade, cessação das atividades e olhar vago. Pode ter ou não perda da percepção. Cerca de 40% dos casos se associam a CTCG. Ao EEG, exibe complexo ponta-onda de 3Hz. Possui hi- perventilação como fator facilitador. Epilepsia de ausência juvenil As crises não são tão frequentes quanto na in- fantil. É comum a associação com crises mio- clônicas e CTCG que ocorrem ao despertar. A idade de acometimento é de 10 a 17 anos, não havendo predomínio de um dos sexos. Ao EEG, é mais rápida (3,5 a 4Hz) e irregular que a infantil. São precipitadas por privação de sono e hiperventilação. Epilepsia mioclônica juvenil Acometem a faixa etária de 8 a 26 anos. Qua- dro com abalos mioclônicos irregulares, arrít- micos, únicos ou agrupados, predominando nos membros superiores, bilateralmente, sem perda de consciência. Ocorrem preferencial- mente ao despertar e são ativadas pela priva- ção de sono ou fotoestimulação intermitente (melhor método). Associa-se CTCG e rara- mente com ausência. Costuma ser de muito fácil controle, porém rebelde à retirada de me- dicamento. E. com crises de Grande Mal ao despertar Com CTCG que ocorrem exclusiva ou predo- minantemente ao despertar. Acomete a faixa 7 etária de 9 a 24 anos, sobretudo homens. As- sociam-se a crises ausência e mioclônicas e são precipitadas por privação de sono. Generalizadas sintomáticas ou criptogênicas Encefalopatias epilépticas Nessas síndromes, há tanta descarga anormal que impede-se a formação de circuitos neuro- nais normais fisiológicos. Síndrome de West Caracterizada pela tríade: espasmos infantis, retardo mental (deterioração neuropsicomotor) e hipsarritmia. O pico de idade de início é de 4 a 7 meses e o sexo mais afetado é o mascu- lino. O espasmo infantil é uma contração sú- bita e abrupta (< 2 segundos), usualmente bila- teral e simétrica, de músculos do pescoço, tronco e membros. O prognóstico depende se o quadro for sintomático ou criptogênico. Síndrome de Lennox-Gastaut Podem ocorrer crises de ausência atípica, tôni- cas, atônicas ou mioclônicas. Com a progres- são do quadro, essas crises geram retardo mental e distúrbio de personalidade. Incide em crianças de 3 a 5 anos de idade. O prognóstico é desfavorável. Epilepsia com crises mioclono-astáticas Suas crises podem ser mioclônicas, astáticas ou mioclono-astática, de ausência, CTCG e, ocasionalmente, crises tônicas noturnas. Rela- ciona-se com história familiar positiva e ocor- rência de retardo mental com o início das cri- ses. A idade de acometimento é de 0 a 5 anos e o sexo masculino é 2 vezes mais afetado. Epilepsia com ausência mioclônica Caracterizada por ausência acompanhada por mioclonias bilaterais, durando de 10 a 60 se- gundos. A idade de início costuma ser aos 7 anos e o sexo masculino é mais afetado, Sua evolução é variável. TRATAMENTO O mecanismo de ação dos antiepilépticos en- quadram-se em três categorias principais: 1. Redução das deflagrações repetitivas e persistentes dos neurônios por inativa- ção dos canais de sódio ativados por voltagem 2. Aumento da inibição sináptica pelo GABA – CTC focais ou generalizadas secundariamente 8 3. Inibição dos canais de cálcio ativados por voltagem, responsáveis pelas cor- rentes de cálcio do tipo C – crises de ausência SÍNDROMES FOCAIS Hidantal (fenitoína) - PHT É um ácido orgânico fraco pouco solúvel em água, pertencente ao grupo das hidantoínas. A fenitoína é eficaz em todos os tipos de crises epilépticas focais e tônico-clônicas, porém não nas crises de ausência. Possui atividade anti- convulsivante sem causar depressão do SNC. Age limitando as deflagrações repetitivas dos potenciais de ação provocados por despolari- zação persistente dos neurônios da medula espinhal. Esse efeito é mediado pela diminui- ção da velocidade de recuperação da inativa- ção dos canais de Na+ dependentes de volta- gem. É um dos poucos fármacos cuja taxa de elimi- nação varia em função da sua concentração, isto é, não é linear. Sua meia-vida plasmática varia entre 6 e 24 h com concentrações plas- máticas inferiores a 10 μg/ml, mas aumenta com concentrações maiores. Aula: dizia que meia-vida até 22 horas, com média de 14 horas. A maior parte (95%) é degradada no retículo endoplasmático hepático e seu principal meta- bólito é inativo. Como seu metabolismo é sa- turável, outros fármacos que são metaboliza- dos por essas enzimas podem inibir o metabo- lismo da fenitoína e elevar sua concentração plasmática. Já a taxa de degradação de outros fármacos que são substratos dessas enzimas pode ser inibida por ela, como é o caso da varfarina. Pode ainda aumentar a metabolização de fár- macos metabolizados pelo citocromo P450 por indução e autoindução desse, tal qual são os anticoncepcionais orais, possivelmente re- sultando em gravidez não planejada. Essa in- dução resulta também em efeitos teratogêni- cos. A administração pode ser via oral (3 a 5 mg/kg) ou endovenosa (fosfenitoína), essa última deve ser feita por acesso calibroso (basílica ou cefálica). O uso intramuscular é contraindicado por se tratar de uma droga alcalina (pH 13). A infusão preconizada é de 50 mg/min, uma vez que acima disso, pode haver bloqueio do nó atrioventricular. Na cardiologia, utiliza-se tal efeito no tratamento de intoxicações digitáli- cas. Vale ressaltar que seu período de latência é de cerca de 30 minutos, não sendo útil para resolução da crise (diazepam – 30 a 40s). Efeitos colaterais: sedação, redução do libido, incoordenação, zumbido, dismorfia de pele e fâneros, distúrbios gastrointestinais. Dosa- gens séricas acima de 40ug/ml resultam em atrofia cerebelar. Carbamazepina - CBZ A carbamazepina está relacionada quimica- mente com os antidepressivos tricíclicos. É um derivado do iminoestilbeno, com grupo carba- mila na posição 5, essencial à atividade anti- convulsivante potente. 9 Tal qual a fenitoína, limita as deflagrações re- petitivas dos potenciais de ação provocados por despolarização persistente dos neurônios da medula espinhal. Isto parece ser mediado pelo mesmo mecanismo da fenitoína. Seu me- tabólito também reduz essas deflagrações, su- gerindo ter papel em sua terapêutica. As concentrações plasmáticas de pico geral- mente são observadas 4-8h depois da inges- tão oral (meia-vida de 12h). Cerca de 75% se li- gam às proteínas plasmáticas e suas concen- trações no LCS parecem corresponder à con- centração do fármaco livre no plasma. A formulação CR tem meia-vida maior, de 18 a 24 horas. Também provoca indução e autoin- dução enzimática hepática. A dose é de 10 mg/kg, mas deve ser alcança por acréscimo lento (mal-estar se abrupto). Efeitos colaterais: diplopia, visão borrada, so- nolência, cefaleia, náusea e epigastralgia. Trata-se ainda de um fármaco idiossincrático, podendo gerar supressão da medula óssea, e consequente granulocitose, e rash cutâneo. Desse modo, paciente em uso regular devem ser submetidos a hemogramas semestrais. SÍNDROMES GENERALIZADAS Valproato de sódio (ácido valproico) - VPA O ácido valproico é um ácido carboxílico de ca- deia ramificada simples. É eficaz na inibição das convulsões em diversos modelos. A ação é semelhante à da fenitoína e da carba- mazepina e parece ser mediada pelo mesmo mecanismo. Nos neurônios isolados do gân- glio nodoso, também produz reduções discre- tas das correntes de Ca2+ do tipo T. Embora não exerça efeito sobre a resposta ao GABA, ele aumenta sua quantidade que pode ser re- cuperada do cérebro (aumenta a inibição neu- ronal mediada pelo GABA) É absorvido rápida e completamente após ad- ministração via oral, com pico de concentração 10 plasmática após 1 a 4 horas. Ao contrário das outras drogas citadas, causa inibição do sis- tema enzimático, ou seja, a politerapia au- menta níveis séricos de outras drogas. Toda- via, é a mais teratogênica das drogas epiléti- cas. A dose é de 20 a 50 mg/kg e a meia-vida é de 12 horas (posologia de 3 vezes/dia). Efeitos colaterais: tremores, aumento de peso, perda de cabelo, edema de tornozelo e hepa- totoxicidade. A elevação das transaminases hepáticas ocorre em até 40% dos pacientes e, em geral, não causa sintomas durantes os pri- meiros meses de tratamento. A hepatite fulmi- nante é rara, porém frequentemente fatal. Fenobarbital - PB O fenobarbital integra a classe dos barbitúri- cos, sendo o primeiro anticonvulsivante orgâ- nico eficaz. Possui toxicidade relativamente baixa, custo baixo e ainda é um dos fármacos mais eficazes e amplamente usados. A maioria dos barbitúricos possui ação anti- convulsivante, todavia apenas alguns, como o fenobarbital, a exercem em doses não hipnóti- cas. Sua principal forma de ação é aumento da resposta inibitória ao GABA, por ação no re- ceptor GABAA. Sua absorção é completa, porém um pouco lenta (meia-vida de 36h). As concentrações plasmáticas máximas ocorrem várias horas depois de uma única dose. Cerca de 40 a 60% da dose estão ligados às proteínas plasmáti- cas. Até 25% possuem excreção renal do fár- maco inalterado, o restante é metabolizado no fígado. Também causa indução enzimática he- pática. A dose é de 3 a 5mg/kg 1 vez/dia. Efeitos colaterais: fadiga, falta de concentra- ção, irritabilidade e hipercinesia. A sedação, efeito adverso mais frequente, ocorre em to- dos os pacientes no início do tratamento, mas há tolerância durante o uso crônico. ESTADO DE MAL EPILÉPTICO Trata-se da crise epiléptica com duração igual ou maior que 30 min, ou crises repetitivas sem recuperação da consciência entre elas. O cha- mado estado de mal eminente é a crise com duração acima de alguns segundos, mas que ainda não alcançou 30 minutos de duração. O estado de mal eminente deve ser conduzido como estado de mal epiléptico. TRATAMENTO O tratamento geral consiste em manutenção das vias aéreas (cânula de Guedel se necessá- rio), posicionamento do paciente em decúbito lateral, manutenção dos sinais vitais e estabe- lecimento de acesso venoso com veia cali- brosa. Devem-se colher exames laboratoriais. O tratamento medicamentoso deve ser feito paralelamente. Administra-se diazepam 10 mg (0,2 mg/kg), com infusão em 2 minutos, e feni- toína 20 mg/kg em bólus ou diluído em SF 0,9% (cada 1 ml = 50 mg), com infusão de 50 mg/min. Em caso de nova crise em menos de 30 minu- tos após a administração dos medicamentos, repete-se o diazepam apenas, uma vez que a fenitoína possui latência de cerca de 30 minu- tos. Todavia, se a nova crise ocorrer após esse período, a fenitoína também deve ser refeita. 11 Se a crise persistir mesmo após uso da medi- cação, administra-se fenobarbital 20 mg/kg a 100 mg/mg (latência de 30-40 min). Persis- tindo a crise, caracteriza-se estado de mal re- fratária, no qual lança-se mal de drogas de ter- ceira linha (midazolam, tiopental e propofol). COMPLICAÇÕES Incluem hipotensão arterial, hipoglicemia, aci- dose metabólica, falência renal e edema cere- bral. A falência renal resulta em mioglobinúria, decorrente da rabdomiólise, com consequente piora da hipóxia e da hipotensão.
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