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1 Fábio Duarte – Medicina – p3 TUTORIA 3 – UC7 – CRESCIMENTO INFANTIL ENTENDER A FISIOLOGIA DO CRESCIMENTO Ao longo da vida, quatro períodos são críticos para o crescimento somático (final) do indivíduo: Período embrionário Maior taxa de crescimento de toda a vida. Nessa fase, os hormônios responsáveis pelo crescimento são diferentes dos hormônios pós- natal. Primeiros anos após o nascimento Ocorre uma diminuição gradativa da velocidade de crescimento. Infância Com pico de crescimento por volta dos 6-7 anos. Estirão da puberdade Recebe forte influência dos esteroides sexuais e posterior fusão de cartilagens de crescimento. Também é importante salientar o balanço gordura-massa magra durante as idades. A tendência é que o bebê tenha mais gordura e esses níveis de gordura diminuam com o passar do tempo, ao passo que a massa muscular aumenta. Por fim, nota-se que os meninos possuem mais massa magra que as meninas. Crescimento intrauterino e seus hormônios Diversos fatores influenciam no crescimento do feto, desde nutrição à tabagismo. Os hormônios produzidos pela placenta também influenciam no metabolismo materno e no seu comportamento. Alguns dos fatores que contribuem para a formação da placenta são: a invasão do trofoblasto placentário (células endodérmicas) e o aumento do fluxo sanguíneo. Esses são essenciais para que haja a produção de hormônios. Além disso, a placenta também mantém o equilíbrio de glicocorticoides entre a mãe e o feto. Eixo hormônio de crescimento IGF intrauterino Estudos indicam que o GH não tem suma importância no crescimento intrauterino. O crescimento durante a vida intrauterina se dá devido a influência das somatomedinas (fatores de crescimento semelhantes a insulina). Duas somatomedinas são importantíssimas: Somatomedina A ou IGF2 = possui mais influência no período pré-natal. Não é totalmente regulado pelo GH, pois sofre influência de outros fatores de crescimento. Somatomedina C ou IGF1 = destaca-se principalmente no período pós-natal. Sua síntese é regulada pelo GH. Insulina Fetal A influencia da insulina no crescimento fetal é diretamente proporcional. Isso é nítido quando a mãe é hiperglicêmica e, em resposta a isso, o feto produz muita insulina. O resultado final é um crescimento exacerbado. Da mesma forma que 2 Fábio Duarte – Medicina – p3 um déficit de produção insulinêmica gera diminuição do crescimento. Hormonios tireoidianos A tiroxina (T4) é o principal hormonio secretado pela tireóide, mas a triiodotironina (T3) é a forma ativa, originando-se, principalmente, da retirada de um iodo da molécula de tiroxina nos tecidos- alvo. Os hormonios tireoidianos agem no metabolismo, sendo necessários para o desenvolvimento intrauterino normal do SNC e do esqueleto (mas não para crescimento corpóreo). Glicocorticoides São essenciais para o desenvolvimento dos órgãos fetais e apresentam efeito dose- dependente, ou seja, em altas concentrações pode causar efeitos deletérios no feto. Dessa forma, como em grávidas a concentração de cortisol é de 5-10 vezes maior (em relação ao feto) existe uma enzima especial que evita sua transposição pela barreira placentária, o nome dela é 11-beta-HSD. Crescimento pós-natal Hipotálamo regulador O hipotálamo é o principal centro regulador hormonal do nosso corpo, ele regula a produção/inibição de certos hormônios através dos fatores de estimulação/inibição, por exemplo: fator de liberação do hormônio de crescimento hipotalâmico (GHRF), que estimula a secreção de GH. Destaca-se também os neurotransmissores, produzidos na porção basal mediana do hipotálamo: norepinefrina, dopamina e serotonina. Os neurônios que contêm norepinefrina e dopamina estimulam a síntese de GHRF, promovendo a produção de GH. Dessa forma, o funcionamento do hipotálamo é fundamental para o crescimento, tanto é que anormalidades nessa estrutura levam a patologias. Tais como: hipotireoidismo hipotalâmico, puberdade precoce/atrasada, hipogonadismo, baixa estatura, etc. GH e IGFs A produção do GH ocorre na hipófise anterior de forma pulsátil, principalmente à noite e durante o sono. Alguns fatores interferem na sua produção, tais como: prática de esportes, sono, alimentação, nutrição e esteroides sexuais. O GH exerce seu efeito através dos fatores de crescimento insulina-smile (IGF), principalmente IGF1 e IGF2 (proteínas-hormônios). Esses fatores circulam no plasma acoplados a proteínas séricas chamadas IGFBP. Os IGFs são sintetizados no fígado, sob estímulo do GH, ou seja, GH está sendo secretado receptores estimulam a produção dos IGFs no fígado. Por isso desordens hepáticas podem afetar o crescimento da criança. Obs: o IGF1 está diretamente ligado com o GH. o IGF2 diminui com a diminuição do GH, porém não aumenta com seu aumento. O crescimento linear pós-natal é resultado da ação do GH e do IGF-1. O IGF1 atua na placa de crescimento levando a proliferação e hipertrofia. Enquanto o GH atua na diferenciação celular. Hormônios tireoidianos Vale salientar que os hormônios tireoidianos são importantíssimos, uma vez que atuam na estimulação do GH e sobre a epífise, proporcionando sua diferenciação. Além disso, aumentam a mineralização óssea e maturação do SNC. O hipotireoidismo é a principal causa de baixa estatura de origem endócrina. Glicocorticoides Os glicocorticoides estimulam o crescimento de modo agudo, porém a exposição prolongada a esses hormônios diminui a produção do GH e a sensibilidade dos órgãos efetores a ele. 3 Fábio Duarte – Medicina – p3 Insulina As ações da insulina vão além de estimular o influxo de glicose. A insulina é o hormônio mais anabólico do corpo humano, com efeitos importantes na síntese proteica e na estimulação da síntese de macromoléculas em tecidos como cartilagens e ossos. A insulina também pode promover o crescimento por diminuir os níveis de IGFBP-1 e estimular a produção de triiodotironina (T3) e IGF1, aumentando os níveis de IGF1 livre. Esteroides sexuais Os esteroides sexuais (androgênios e estrogênios) também atuam de modo duplo: atuam diretamente no GH e agem diretamente na placa de crescimento. O fechamento das epífises é por ação do estrogênio. A testosterona é o principal andrógeno circulante. Ela promove o estirão, pois é um potente agente anabólico que acelera o crescimento linear e o ganho de peso, estimulando a síntese proteica muscular. Considerações finais Conclui-se que, no período pós-natal, o GH e os hormônios tireoidianos são fundamentais para o crescimento linear. No entanto, o principal hormônio efetor do crescimento pós-natal é o IGF1. Cuidado com a pegadinha: o GH e o hormônio tireoidiano produzido pelo feto NÃO influência no seu crescimento. -- Tem um estudo bem legal feito em ratos hipofisectomizados e pancreatectomizados que mostra a associação entre insulina e o GH promovendo o crescimento, ao passo que individualmente o crescimento não é significativo. 4 Fábio Duarte – Medicina – p3 CONHECER OS ESTÁGIOS PUBERAIS A PARTIR DOS CRITÉRIOS DE TURNER Na avaliação dos adolescentes, durante a puberdade, deve-se observar o aparecimento de pelos e o crescimento da genitália. A puberdade pode se iniciar dos 9 aos 14 anos e alguns aspectos devem ser observados, tais como: Meninos: A primeira manifestação da puberdade no sexo masculino é o aumento do volume testicular, em média aos 10 anos e 9 meses. O saco escrotal torna-se mais baixo e alongado, mais solto e enrugado e mede cerca de 3cc. O crescimento peniano começa, em geral, um ano após o crescimento dos testículos. O início da puberdade antes dos 09 anos também pode ser motivo de preocupação, pode-se tratar de uma puberdade precoce e, portanto, deve-se sempre referir o adolescente ao serviço de referência para melhor ser avaliado. Desenvolvimento de genitália. É importante observar que deve-se considerar retardo puberal em meninos, a ausência de qualquer característica sexual secundária a partir dos 14 anos de idade. Observar que primeiro o pênis cresce em tamanho e depois em diâmetro. A idade da primeira ejaculação, conhecida como semenarca ou espermarca, ocorre em média aos 12 anos e 8 meses. Observar que pode aparecer o crescimento do broto mamário no menino, ginecomastia puberal. E essa pode ser de causa patológica (por drogas, endocrinopatias, tumores ou doenças crônicas). Meninas: O broto mamário é o primeiro sinal puberal na menina, é chamado de telarca e pode apresentar-se unilateralmente sem significado patológico. Caso a puberdade se inicie com o aparecimento de pelos pubianos e não com o broto mamário, deve-se encaminhar ao profissional de saúde, pois pode se tratar de uma puberdade de origem periférica e não central (pelo estímulo hipofisário-gonadal) podendo se tratar de uma causa patológica. É frequente ocorrer um corrimento vaginal claro nos 6 aos 12 meses que antecedem a primeira menstruação, fato marcante da puberdade feminina. É importante observar que se deve considerar retardo puberal em meninas a ausência de qualquer característica sexual secundária a partir dos 13 anos de idade. 5 Fábio Duarte – Medicina – p3 Tabela de Turner para meninos e meninas: Lembrando que as letras P (pelos) e G (genitália) entram nessa classificação, ex: g3p2 EXPLICAR OS FATORES QUE INFLUENCIAM NO CRESCIMENTO (ALIMENTAÇÃO, ETC) Fatores que interferem no crescimento pré-natal Desnutrição materna Por não suprir as demandas nutricionais do bebê, corre o risco de ele nascer com baixo peso. Ingestão de álcool Risco de síndrome alcóolica fetal, caracterizada por deficiência de crescimento pré e pós-natal, microcefalia, retardo mental, etc. Ingestão de anticonvulsivantes Risco de síndrome da hidantoína fetal, caracterizada por déficit de crescimento pré e pós-natal, entre outras coisas. Ingestão de warfarin Risco de síndrome do warfarin fetal, caracterizada por hipoplasia nasal, displasia das epífises ósseas deformidades de membros e problemas respiratórios. E outros sintomas. Ingestão de metotrexate Risco de síndrome de metotrexate fetal, caracterizada por déficit de crescimento fetal, etc. Ingestão de ácido retinoico Risco de embriopatia pelo ácido retinoico, caracterizada por defeitos nos SNC, etc. Hipertermia A hipertermia causada por infecções (febre) está relacionada com má formações, principalmente no primeiro trimestre da gravidez. Tabagismo Risco aumentado de baixo peso ao nascimento, baixo comprimento, microcefalia. 6 Fábio Duarte – Medicina – p3 Cocaína Efeitos neurotóxicos e diminuição do fluxo placentário. Fatores que interferem no crescimento pós-natal Fatores extrínsecos Ambientais É muito provável que estímulos ambientais diversos exerçam influencia no sistema límbico e hipotálamo, alterando a fisiologia da secreção hormonal e a sensibilidade dos órgãos efetores. Isso fica claro em crianças que sofrem violência psicológica/física, pois elas têm uma supressão no seu desenvolvimento físico, mental e emocional. Nutricionais A nutrição balanceada de macronutrientes é essencial para o desenvolvimento físico da criança. As gorduras, além de fornecerem 9kcal por grama, veiculam vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e são responsáveis pela sensação de saciedade na dieta. Em uma criança, a gordura representa cerca de 12% do peso corporal, sendo essencial para formação das membranas celulares e para síntese de hormônios esteroides. O ácido linoleico, um ácido graxo essencial, é fundamental para o crescimento, uma vez que influencia na composição corporal, ou seja, nos teores de gordura corporal e proporção de tecido magro, especialmente em animais jovens em crescimento. O CLA induz a diminuição na deposição de gordura e aumenta a proporção de tecido magro. Pode ser encontrado em carnes, leite, iogurte, etc. As proteínas são essenciais para o crescimento, uma vez que compõem todo nosso corpo. A necessidade é maior nos primeiros meses de vida e diminui ao longo do tempo. Os minerais e elementos mais importantes para o crescimento são: Cálcio, fósforo e magnésio = metabolismo ósseo; Potássio = íon principal do interior das células, importante para processos químicos, ex: bomba do sódio potássio; Ferro = importante na hemoglobinização das hemácias e consequente transporte de oxigênio (a anemia surge como atraso de crescimento); Iodo = importante para função tireoidiana, uma vez que sua dimimuição leva ao atraso de crescimento. O iodo é indispensável para que a glândula tireoide possa sintetizar e liberar na circulação os seus dois hormônios, Tiroxina (T4) e Triiodotironina (T3). Atividade Física A atividade física tem importância no crescimento do tecido ósseo, muscular e adiposo. Parece haver um consenso de que o exercício físico pode contribuir para a saúde futura da criança, em especial na composição corpórea, e, para isso, a atividade física deve ser incorporada desde os primeiros anos de vida. Isso tudo porque ela aumenta a velocidade, flexibilidade, coordenação, concentração, relaxamento e contração muscular, etc. Fatores intrínsecos Genéticos O perfil genético é dividido em dois aspectos: possíveis anormalidades genéticas patológicas que podem acometer a criança e o potencial de crescimento dessa criança. Nessa última, faz-se o alvo genético (cálculo) para saber o potencial de crescimento da criança. Neuroendócrinos O hipotálamo é o principal centro regulador hormonal do nosso corpo, ele regula a produção/inibição de certos hormônios através 7 Fábio Duarte – Medicina – p3 dos fatores de estimulação/inibição, por exemplo: fator de liberação do hormônio de crescimento hipotalâmico (GHRF), que estimula a secreção de GH. Destaca-se também os neurotransmissores, produzidos na porção basal mediana do hipotálamo: norepinefrina, dopamina e serotonina. Os neurônios que contêm norepinefrina e dopamina estimulam a síntese de GHRF, promovendo a produção de GH. Dessa forma, o funcionamento do hipotálamo é fundamental para o crescimento, tanto é que anormalidades nessa estrutura levam a patologias. Tais como: hipotireoidismo hipotalâmico, puberdade precoce/atrasada, hipogonadismo, baixa estatura, etc. A produção do GH ocorre na hipófise anterior de forma pulsátil, principalmente à noite e durante o sono. Alguns fatores interferem na sua produção, tais como: prática de esportes, sono, alimentação, nutrição e esteroides sexuais. O GH exerce seu efeito através dos fatores de crescimento insulina-smile (IGF), principalmente IGF1 e IGF2 (proteínas-hormônios). Esses fatores circulam no plasma acoplados a proteínas séricas chamadas IGFBP. Os IGFs são sintetizados no fígado, sob estímulo do GH, ou seja, GH está sendo secretado receptores estimulam a produção dos IGFs no fígado. Por isso desordens hepáticas podem afetar o crescimento da criança. Obs: o IGF1 está diretamente ligado com o GH. o IGF2 diminui com a diminuição do GH, porém não aumenta com seu aumento. O crescimento linear pós-natal é resultado da ação do GH e do IGF-1. O IGF1 atua na placade crescimento levando a proliferação e hipertrofia. Enquanto o GH atua na diferenciação celular. Vale salientar que os hormônios tireoidianos são importantíssimos, uma vez que atuam na estimulação do GH e sobre a epífise, proporcionando sua diferenciação. O hipotireoidismo é a principal causa de baixa estatura de origem endócrina. Os glicocorticoides estimulam o crescimento de modo agudo, porém a exposição prolongada a esses hormônios diminui a produção do GH e a sensibilidade dos órgãos efetores a ele. Os esteroides sexuais (androgênios e estrogênios) também atuam de modo duplo: atuam diretamente no GH e agem diretamente na placa de crescimento. O fechamento das epífises é por ação do estrogênio. Conclui-se que, no período pós-natal, o GH e os hormônios tireoidianos são fundamentais para o crescimento linear. No entanto, o principal hormônio efetor do crescimento pós-natal é o IGF1. Cuidado com a pegadinha: o GH e o hormônio tireoidiano produzido pelo feto NÃO influencia no seu crescimento. IDENTIFICAR AS CAUSAS DA OBESIDADE INFANTIL E DA BAIXA ESTATURA Causas da obesidade infantil A obesidade infantil vem se tornando cada vez mais prevalente no mundo, dentre os fatores que promovem isso, temos: Mudança a nível global na dieta das crianças, com aumento da ingestão de alimentos que são ricos em gordura e açúcares, mas pobres em vitaminas, minerais e outros micronutrientes saudáveis. Tendência de diminuição dos níveis de atividade física devido à natureza cada vez mais sedentária das formas de recreação das crianças e das mudanças dos modos de transporte. Cada vez mais as crianças jogam vídeo- games, assistem televisão e se locomovem de carro, caracterizando o sedentarismo. 8 Fábio Duarte – Medicina – p3 Consumo de refrigerantes ou outras bebidas açucaradas. História familiar (fatores genéticos e hábitos de vida da família colaboram para obesidade). Pobreza (comidas de má qualidade são mais baratas). Estresse psicológico. Menor tempo de sono durante a noite. Estudos indicam que o aleitamento materno atua combatendo a obesidade. Um dos mecanismos esclarecidos é o “imprinting” metabólico. O termo imprinting metabólico descreve um fenômeno através do qual uma experiência nutricional precoce, acarretaria um efeito duradouro, persistente ao longo da vida do indivíduo, predispondo a determinadas doenças na fase adulta, tais como a obesidade. Por isso é tão importante manter o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros meses de vida. É basicamente aquele ditado “você colhe o que planta”. Causas fisiológicas de baixa estatura Baixa estatura familiar A baixa estatura familiar/genética é vista nos casos em que a altura se encontra abaixo do percentil 3, mas com o crescimento seguindo a previsão familiar, a puberdade ocorrendo em idade adequada, velocidade de crescimento normal ou baixa e maturação óssea compatível com a idade cronológica. Baixa estatura constitucional Também chamado Retardo Constitucional de Crescimento e Puberdade (RCCP), essa causa de baixa estatura possui relação genética e consiste numa VC mais lenta, atraso de idade óssea e, geralmente, atraso na puberdade. Baixa estatura idiopática A baixa estatura idiopática consiste nos casos em que não há condições evidentes que estejam causando tal problema, sendo um diagnóstico de exclusão. Baixa estatura psicossocial Essa causa de baixa estatura está relacionada a problemas emocionais, muitas vezes ligada à família do paciente. Este é um dos casos em que se vê o psicológico repercutindo negativamente no funcionamento do corpo. Retardo no crescimento intrauterino O retardo no crescimento intrauterino se dá por diversas razões, como uso de drogas lícitas e ilícitas na gestação, desnutrição materna, infecções, entre outros. O resultado é o nascimento de um bebê pequeno para idade gestacional (PIG), com maior predisposição para problemas de saúde durante sua vida, um dos impactos sendo em sua estatura. Causas patológicas de baixa estatura Desnutrição A desnutrição é uma causa comum de problemas no desenvolvimento, seja por falta de alimento, má distribuição alimentar, restrição dietética, síndromes de má absorção ou transtornos alimentares. Uso de glicocorticoides e síndrome de Cushing Um medicamento utilizado em diversas doenças são os glicocorticoides. Nas crianças eles são capazes de impactar o desenvolvimento físico por diversos mecanismos, como inibição da secreção e ação do GH, prejudicando a formação óssea e de colágeno, etc. Uma doença relacionada a esse uso é a síndrome de Cushing, que consiste no excesso de 9 Fábio Duarte – Medicina – p3 glicocorticoides, sejam eles endógenos ou exógenos. O que acontece é que, pelos glicocorticoides excessivos, há uma inibição no eixo hipotálamo- hipófise (lembrando que o GH é produzido pela hipófise). Além disso, os glicocorticoides têm uma ação antagônica ao IGF-1, causando retardo no crescimento. Doença gastrointestinal Algumas doenças gastrointestinais, como doença de Chron e doença celíaca, podem repercutir negativamente no desenvolvimento das crianças. Isso se dá por vários motivos, podendo ser mais relacionado ao processo inflamatório decorrente da doença, de uma absorção intestinal prejudicada (podendo cursar também com desnutrição) e até por uso de glicocorticoides como forma de tratamento. Doença renal crônica (DRC) Problemas renais podem ser a causa da baixa estatura por muitos fatores, como desenvolvimento de deficiência de GH, acidose metabólica, uremia, dietas restritivas (podendo levar a uma má nutrição), uso de glicocorticoides no tratamento, entre outros. Os pacientes acometidos com a DRC podem fazer uso de terapia de reposição com o GH, tendo bons resultados. Deve-se também tentar atenuar a doença e suas complicações, além do uso do GH. Hipotireoidismo Já é bem sabido que uma repercussão do hipotireoidismo nas crianças é o retardo no crescimento e baixa estatura. O paciente geralmente também apresenta idade óssea atrasada e, portanto, ao tratar o hipotireoidismo, a criança ainda pode crescer praticamente na normalidade. Câncer O câncer pode causar baixa estatura por meio da fisiopatologia da doença e do tratamento utilizado, seja quimioterapia ou radioterapia. Isso porque os pacientes ficam com anorexia, náusea, vômitos. Ademais, crianças que precisaram receber radiação na região da cabeça podem apresentar problemas no crescimento, devido a danos no hipotálamo e, consequentemente, no funcionamento da hipófise, que é a glândula que produz, entre outros hormônios, o GH e o TSH. Após tratamento do câncer há crescimento compensatório. Doenças cardíacas A baixa estatura causada pela existência de doenças cardíacas se dá pela hipóxia, problemas nutricionais e maior gasto de energia pelo corpo para as funções básicas. Doenças respiratórias Os mecanismos envolvidos com a baixa estatura por doença respiratória são múltiplos, como baixa ingesta alimentar, processo infeccioso crônico e maior necessidade de energia para o funcionamento corporal. Doenças imunológicas Doenças que afetam o sistema imunológico também interferem no crescimento das crianças acometidas. Isso porque esses jovens se encontram mais susceptíveis a processos infecciosos severos e mais frequentes, com risco de falência de órgãos, acarretando um grande gasto de energia e prejuízo no crescimento. Além de todas essas, temos também as infinitas síndromes e doenças metabólicas! 10 Fábio Duarte – Medicina – p3 RECONHECER A INTERPR ETAÇÃO DO ESCORE Z E DO PERCENTIL Antropometria A antropometria, pela facilidade de execuçãoe pelo baixo custo, tem-se revelado o método mais utilizado para o diagnóstico do estado nutricional. A avaliação antropométrica é tradicionalmente realizada a partir da comparação das medidas obtidas com um dado de referência descrito segundo a idade e o gênero. A análise do processo de crescimento por meio da interpretação de medidas obtidas em um único momento (avaliação transversal) está mais sujeita a erro do que a avaliação baseada em dados obtidos em vários momentos/idades (avaliação longitudinal). “É melhor fazer um filme da criança do que tirar uma foto”. Índices Índices são combinações de medidas que permitem uma interpretação clínica. Os mais utilizados na criança e no adolescente são: Peso para idade (P/I); O P/I é um índice de massa corporal e sua interpretação isolada pode ter pouco valor, exceto nos primeiros dois anos de vida, durante os quais alterações em curto prazo indicam emagrecimento e são significativas, dadas as características do crescimento dessa fase. Nessa mesma faixa etária, grandes ganhos de peso podem não significar obesidade, pois pode ocorrer um aumento do tecido adiposo como parte do processo de adaptação pós-natal do crescimento Comprimento/estatura para a idade (E/I); Dados de E/I, ou seja, comprimento, altura ou estatura para a idade, podem descrever um indivíduo normalmente baixo ou parada de crescimento, um processo patológico resultante de um comprometimento crônico do potencial de crescimento linear. Altos índices de E/I são menos frequentes e geralmente estão associados a doenças cromossômicas, genéticas ou hormonais. Peso para comprimento/estatura (P/E); Por outro lado, a relação P/E avalia o peso corporal relativo à estatura do próprio indivíduo e tem a vantagem de dispensar o conhecimento da idade e definir melhor a perda súbita de peso do emagrecimento ou perda grave, geralmente crônica, primária ou secundária. Altos índices de P/E e IMC indicam condições de sobrepeso e obesidade. Perímetro cefálico para idade e para estatura (este último mais adequado para avaliação; Índice de massa corpórea ou IMC (peso em quilogramas dividido pela estatura em metros quadrados). O IMC já pode ser avaliado desde o nascimento. Devido às dificuldades em se medir diretamente a gordura corporal, a obesidade pode ser estimada por meio do IMC, o qual se correlaciona com a quantidade de gordura corporal em crianças e adultos. A utilização dos índices pode ser útil, sobretudo quando não se dispõe do acompanhamento longitudinal. Dessa forma, esses dados são analisados como percentil, Porcentagem da Mediana ou Escore-Z. 11 Fábio Duarte – Medicina – p3 Percentil O sistema de percentis quantifica a população de referência desde o início até o final da distribuição, desde próximo a zero até próximo a 100, e é o mais utilizado na prática pela sua facilidade de análise direta. O Percentil 50 corresponde à mediana, isto é, valor acima e abaixo do qual se encontra 50% da população. Encontrar-se em um determinado percentil significa ocupar uma posição em relação à população de referência. Assim, por exemplo, estar no Percentil 10 de peso é pertencer a 10% da população referência que tem o mesmo peso ou menos. Na interpretação gráfica, pode ser difícil comparar avaliações em valores absolutos no intervalo dos grandes percentis (3, 5, 10, 25, 50, 75, 95, 97) e, a partir dos extremos (percentis 3 e 97), variações de medidas são difíceis de serem observadas e valorizadas quanto à gravidade do ganho ou perda. Sob esse aspecto, a expressão dos índices como Escore-Z permite uma compreensão mais precisa da posição da criança ou indivíduo em relação à população de referência, principalmente na discriminação dos valores extremos, sendo o sistema de escolha para estudos populacionais. Escore Z O Escore-Z representa o número de desvios- padrão a partir do ponto central da população referência. Enquanto o Percentil quantifica os indivíduos desde o início até o final da distribuição (de próximo a zero até próximo a 100), o Escore-Z quantifica a partir da Mediana ou Percentil 50. Um valor negativo de Escore-Z indica que a medida está à esquerda da Mediana e abaixo do Percentil 50 e não implica posições diferentes. Cálculo do Escore-Z = estatura da criança – estatura média da população referência dividido por desvio-padrão para idade e sexo. A tabela abaixo detalha o processo de ganho de peso: Ao nascimento Média de 3,4kg ao nascer. Há perda de 10% do peso corporal ao nascer. 1° Trimestre 700g/mês ou 25- 30g/dia. 2° Trimestre 600g/mês ou 20g/dia. 3° Trimestre 500g/mês ou 15g/dia. 4° Trimestre 400g/mês ou 12g/dia. Pré-escolar 2kg/ano ou 8-6g/dia. Escolar 3-3,5kg/ano. Os bebês até dois anos ou 16kg deverão ser pesados na posição deitada ou sentados na balança mecânica pediátrica. Em relação a estatura da criança: Ao nascimento A média de um recém- nascido a termo é 50cm. Ao nascimento é 35cm. 1° ano 25cm/ano (15cm no 1° trimestre e 10cm no 2° trimestre. 2° ano 12cm/ano. 2-6 anos de idade 6-7cm/ano. 6 anos-puberdade 5cm/ano. Valores de referência para IMC infantil (até 19 anos) Baixo IMC para idade < Percentil 3 IMC adequado ou Eutrófico ≥ Percentil 3 e < Percentil 85 Sobrepeso ≥ Percentil 85 e < Percentil 97 Obesidade ≥ Percentil 97 12 Fábio Duarte – Medicina – p3 DEFINIR AS CAUSAS DA DEFICIÊNCIA DE FERRO E SUAS CONSEQUÊNCIAS Deficiência de ferro A deficiência de ferro se desenvolve em estádios. No primeiro estádio, a necessidade de ferro excede sua ingestão, causando depleção progressiva dos depósitos de ferro da medula óssea. À medida que os estoques diminuem, há elevação da absorção dietética de ferro. Durante os estádios tardios, a deficiência é grave o suficiente para ocasionar insuficiência na síntese de eritrócitos, gerando anemia. A deficiência de ferro, se for grave e prolongada, também pode provocar disfunção no conteúdo de ferro nas enzimas celulares. Etiologia Perda de sangue A perda de sangue é quase sempre a causa da deficiência de ferro. Nos homens e nas mulheres na menopausa, a causa mais frequente é o sangramento oculto crônico, muitas vezes do trato GI (p. ex., doença ulcerosa péptica, câncer, hemorroidas). Em mulheres em pré-menopausa, a perda menstrual cumulativa de sangue (o que significa 0,5 mg ferro/dia) é a causa comum. Sangramento intestinal por ancilostomíase é uma causa comum nos países em desenvolvimento. Causas menos comuns são hemorragia pulmonar recorrente (ver Hemorragia alveolar difusa) e hemólise intravascular crônica quando a quantidade de ferro liberada durante a hemólise excede a capacidade de ligação à haptoglobina. Aumento da necessidade de ferro Aumento da necessidade de ferro pode contribuir para a deficiência de ferro. Do nascimento até 2 anos de idade e durante a adolescência, quando o rápido crescimento requer grande ingestão de ferro, a dieta de ferro, muitas vezes, não é adequada. Durante a gestação, a necessidade de ferro fetal aumenta a necessidade de ferro materno (em média de 0,5 a 0,8 mg/dia — ver Anemia na gestação) apesar da ausência da menstruação. A lactação também aumenta a necessidade de ferro (em média 0,4 mg/dia). Diminuição da absorção do ferro A diminuição da absorção de ferro pode resultar de gastrectomia ou síndromes disabsortivas como doença célica, gastrite atrófica e acloridria. Raramente, a absorção diminui pela privação da dieta advinda de má nutrição. Consequências – Sintomas Muitos sintomas de deficiência de ferro são decorrentes de anemia. Tais sintomas incluem fadiga, perda de estamina, falta de ar, fraqueza, tontura e palidez. Outro sintoma comum é a síndrome das pernas inquietas (SPI),que é um impulso desagradável de mover as pernas durante períodos de inatividade. Além das manifestações usuais da anemia, alguns sintomas incomuns ocorrem na deficiência grave de ferro. Os pacientes podem apresentar picafagia, um desejo anormal de ingerir substâncias (p. ex., gelo, barro, tinta). Outros sintomas da deficiência grave são glossite (língua), queilose (lábios fissurados/inflamados – vitamina b2 geralmente) e unhas côncavas (coiloníquia).
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