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Crescimento Infantil - Pediatria

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1 Fábio Duarte – Medicina – p3 
 TUTORIA 3 – UC7 – CRESCIMENTO INFANTIL 
 
ENTENDER A FISIOLOGIA DO CRESCIMENTO
Ao longo da vida, quatro períodos são críticos 
para o crescimento somático (final) do indivíduo: 
 Período embrionário 
 Maior taxa de crescimento de toda a vida. 
Nessa fase, os hormônios responsáveis pelo 
crescimento são diferentes dos hormônios pós-
natal. 
 Primeiros anos após o nascimento 
 Ocorre uma diminuição gradativa da 
velocidade de crescimento. 
 Infância 
 Com pico de crescimento por volta dos 6-7 
anos. 
 Estirão da puberdade 
 Recebe forte influência dos esteroides sexuais 
e posterior fusão de cartilagens de crescimento. 
Também é importante salientar o balanço 
gordura-massa magra durante as idades. A 
tendência é que o bebê tenha mais gordura e 
esses níveis de gordura diminuam com o passar 
do tempo, ao passo que a massa muscular 
aumenta. Por fim, nota-se que os meninos 
possuem mais massa magra que as meninas. 
Crescimento intrauterino e seus hormônios 
Diversos fatores influenciam no crescimento do 
feto, desde nutrição à tabagismo. 
Os hormônios produzidos pela placenta também 
influenciam no metabolismo materno e no seu 
comportamento. Alguns dos fatores que 
contribuem para a formação da placenta são: a 
invasão do trofoblasto placentário (células 
endodérmicas) e o aumento do fluxo sanguíneo. 
Esses são essenciais para que haja a produção de 
hormônios. Além disso, a placenta também 
mantém o equilíbrio de glicocorticoides entre a 
mãe e o feto. 
Eixo hormônio de crescimento IGF intrauterino 
Estudos indicam que o GH não tem suma 
importância no crescimento intrauterino. O 
crescimento durante a vida intrauterina se dá 
devido a influência das somatomedinas (fatores 
de crescimento semelhantes a insulina). 
Duas somatomedinas são importantíssimas: 
Somatomedina A ou IGF2 = possui mais 
influência no período pré-natal. Não é 
totalmente regulado pelo GH, pois sofre 
influência de outros fatores de crescimento. 
Somatomedina C ou IGF1 = destaca-se 
principalmente no período pós-natal. Sua síntese 
é regulada pelo GH. 
Insulina Fetal 
A influencia da insulina no crescimento fetal é 
diretamente proporcional. Isso é nítido quando a 
mãe é hiperglicêmica e, em resposta a isso, o 
feto produz muita insulina. O resultado final é um 
crescimento exacerbado. Da mesma forma que 
 2 Fábio Duarte – Medicina – p3 
um déficit de produção insulinêmica gera 
diminuição do crescimento. 
Hormonios tireoidianos 
A tiroxina (T4) é o principal hormonio secretado 
pela tireóide, mas a triiodotironina (T3) é a forma 
ativa, originando-se, principalmente, da retirada 
de um iodo da molécula de tiroxina nos tecidos-
alvo. Os hormonios tireoidianos agem no 
metabolismo, sendo necessários para o 
desenvolvimento intrauterino normal do SNC e 
do esqueleto (mas não para crescimento 
corpóreo). 
Glicocorticoides 
São essenciais para o desenvolvimento dos 
órgãos fetais e apresentam efeito dose-
dependente, ou seja, em altas concentrações 
pode causar efeitos deletérios no feto. Dessa 
forma, como em grávidas a concentração de 
cortisol é de 5-10 vezes maior (em relação ao 
feto) existe uma enzima especial que evita sua 
transposição pela barreira placentária, o nome 
dela é 11-beta-HSD. 
Crescimento pós-natal 
Hipotálamo regulador 
 O hipotálamo é o principal centro regulador 
hormonal do nosso corpo, ele regula a 
produção/inibição de certos hormônios através 
dos fatores de estimulação/inibição, por 
exemplo: fator de liberação do hormônio de 
crescimento hipotalâmico (GHRF), que estimula 
a secreção de GH. 
 Destaca-se também os neurotransmissores, 
produzidos na porção basal mediana do 
hipotálamo: norepinefrina, dopamina e 
serotonina. Os neurônios que contêm 
norepinefrina e dopamina estimulam a síntese de 
GHRF, promovendo a produção de GH. 
Dessa forma, o funcionamento do hipotálamo é 
fundamental para o crescimento, tanto é que 
anormalidades nessa estrutura levam a 
patologias. Tais como: hipotireoidismo 
hipotalâmico, puberdade precoce/atrasada, 
hipogonadismo, baixa estatura, etc. 
GH e IGFs 
 A produção do GH ocorre na hipófise anterior 
de forma pulsátil, principalmente à noite e 
durante o sono. Alguns fatores interferem na sua 
produção, tais como: prática de esportes, sono, 
alimentação, nutrição e esteroides sexuais. 
 O GH exerce seu efeito através dos fatores de 
crescimento insulina-smile (IGF), principalmente 
IGF1 e IGF2 (proteínas-hormônios). Esses fatores 
circulam no plasma acoplados a proteínas séricas 
chamadas IGFBP. Os IGFs são sintetizados no 
fígado, sob estímulo do GH, ou seja, GH está 
sendo secretado  receptores estimulam a 
produção dos IGFs no fígado. Por isso desordens 
hepáticas podem afetar o crescimento da 
criança. 
Obs: o IGF1 está diretamente ligado com o GH. 
o IGF2 diminui com a diminuição do GH, porém não 
aumenta com seu aumento. 
 O crescimento linear pós-natal é resultado da 
ação do GH e do IGF-1. O IGF1 atua na placa de 
crescimento levando a proliferação e hipertrofia. 
Enquanto o GH atua na diferenciação celular. 
Hormônios tireoidianos 
 Vale salientar que os hormônios tireoidianos 
são importantíssimos, uma vez que atuam na 
estimulação do GH e sobre a epífise, 
proporcionando sua diferenciação. Além disso, 
aumentam a mineralização óssea e maturação 
do SNC. O hipotireoidismo é a principal causa de 
baixa estatura de origem endócrina. 
Glicocorticoides 
 Os glicocorticoides estimulam o crescimento 
de modo agudo, porém a exposição prolongada a 
esses hormônios diminui a produção do GH e a 
sensibilidade dos órgãos efetores a ele. 
 3 Fábio Duarte – Medicina – p3 
Insulina 
 As ações da insulina vão além de estimular o 
influxo de glicose. A insulina é o hormônio mais 
anabólico do corpo humano, com efeitos 
importantes na síntese proteica e na estimulação 
da síntese de macromoléculas em tecidos como 
cartilagens e ossos. 
 A insulina também pode promover o 
crescimento por diminuir os níveis de IGFBP-1 e 
estimular a produção de triiodotironina (T3) e 
IGF1, aumentando os níveis de IGF1 livre. 
Esteroides sexuais 
 Os esteroides sexuais (androgênios e 
estrogênios) também atuam de modo duplo: 
atuam diretamente no GH e agem diretamente 
na placa de crescimento. O fechamento das 
epífises é por ação do estrogênio. 
 A testosterona é o principal andrógeno 
circulante. Ela promove o estirão, pois é um 
potente agente anabólico que acelera o 
crescimento linear e o ganho de peso, 
estimulando a síntese proteica muscular. 
Considerações finais 
 Conclui-se que, no período pós-natal, o GH e 
os hormônios tireoidianos são fundamentais para 
o crescimento linear. No entanto, o principal 
hormônio efetor do crescimento pós-natal é o IGF1. 
 Cuidado com a pegadinha: o GH e o hormônio 
tireoidiano produzido pelo feto NÃO influência 
no seu crescimento. 
-- Tem um estudo bem legal feito em ratos 
hipofisectomizados e pancreatectomizados que 
mostra a associação entre insulina e o GH 
promovendo o crescimento, ao passo que 
individualmente o crescimento não é 
significativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 Fábio Duarte – Medicina – p3 
 
CONHECER OS ESTÁGIOS PUBERAIS A PARTIR DOS CRITÉRIOS DE TURNER 
Na avaliação dos adolescentes, durante a puberdade, deve-se observar o aparecimento de pelos e o 
crescimento da genitália. A puberdade pode se iniciar dos 9 aos 14 anos e alguns aspectos devem ser 
observados, tais como: 
Meninos: 
  A primeira manifestação da 
puberdade no sexo masculino é o 
aumento do volume testicular, 
em média aos 10 anos e 9 meses. 
O saco escrotal torna-se mais 
baixo e alongado, mais solto e 
enrugado e mede cerca de 3cc. 
 O crescimento peniano 
começa, em geral, um ano após 
o crescimento dos testículos. O início da puberdade antes 
dos 09 anos também pode ser 
motivo de preocupação, pode-se 
tratar de uma puberdade 
precoce e, portanto, deve-se 
sempre referir o adolescente ao 
serviço de referência para melhor 
ser avaliado. 
 Desenvolvimento de genitália. 
 É importante observar que 
deve-se considerar retardo 
puberal em meninos, a ausência 
de qualquer característica sexual 
secundária a partir dos 14 anos 
de idade. 
 Observar que primeiro o pênis 
cresce em tamanho e depois em 
diâmetro. 
 A idade da primeira 
ejaculação, conhecida como 
semenarca ou espermarca, 
ocorre em média aos 12 anos e 8 
meses. 
 Observar que pode aparecer o 
crescimento do broto mamário 
no menino, ginecomastia 
puberal. E essa pode ser de causa 
patológica (por drogas, 
endocrinopatias, tumores ou 
doenças crônicas). 
Meninas: 
 O broto mamário é o primeiro 
sinal puberal na menina, é 
chamado de telarca e pode 
apresentar-se unilateralmente 
sem significado patológico. 
 Caso a puberdade se inicie 
com o aparecimento de pelos 
pubianos e não com o broto 
mamário, deve-se encaminhar 
ao profissional de saúde, pois 
pode se tratar de uma puberdade 
de origem periférica e não 
central (pelo estímulo 
hipofisário-gonadal) podendo se 
tratar de uma causa patológica. 
 É frequente ocorrer um 
corrimento vaginal claro nos 6 
aos 12 meses que antecedem a 
primeira menstruação, fato 
marcante da puberdade 
feminina. 
 É importante observar que se 
deve considerar retardo puberal 
em meninas a ausência de 
qualquer característica sexual 
secundária a partir dos 13 anos 
de idade. 
 
 
 
 
 
 
 5 Fábio Duarte – Medicina – p3 
 Tabela de Turner para meninos e meninas: 
 Lembrando que as letras P (pelos) e G (genitália) entram nessa classificação, ex: g3p2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EXPLICAR OS FATORES QUE INFLUENCIAM NO 
CRESCIMENTO (ALIMENTAÇÃO, ETC) 
Fatores que interferem no crescimento pré-natal 
 Desnutrição materna 
 Por não suprir as demandas nutricionais do 
bebê, corre o risco de ele nascer com baixo peso. 
 Ingestão de álcool 
 Risco de síndrome alcóolica fetal, 
caracterizada por deficiência de crescimento pré 
e pós-natal, microcefalia, retardo mental, etc. 
 Ingestão de anticonvulsivantes 
 Risco de síndrome da hidantoína fetal, 
caracterizada por déficit de crescimento pré e 
pós-natal, entre outras coisas. 
 Ingestão de warfarin 
 Risco de síndrome do warfarin fetal, 
caracterizada por hipoplasia nasal, displasia das 
 
epífises ósseas deformidades de membros e 
problemas respiratórios. E outros sintomas. 
 Ingestão de metotrexate 
 Risco de síndrome de metotrexate fetal, 
caracterizada por déficit de crescimento fetal, 
etc. 
 Ingestão de ácido retinoico 
 Risco de embriopatia pelo ácido retinoico, 
caracterizada por defeitos nos SNC, etc. 
 Hipertermia 
 A hipertermia causada por infecções (febre) 
está relacionada com má formações, 
principalmente no primeiro trimestre da 
gravidez. 
 Tabagismo 
 Risco aumentado de baixo peso ao 
nascimento, baixo comprimento, microcefalia. 
 6 Fábio Duarte – Medicina – p3 
 Cocaína 
 Efeitos neurotóxicos e diminuição do fluxo 
placentário. 
Fatores que interferem no crescimento pós-natal 
Fatores extrínsecos 
Ambientais 
 É muito provável que estímulos ambientais 
diversos exerçam influencia no sistema límbico e 
hipotálamo, alterando a fisiologia da secreção 
hormonal e a sensibilidade dos órgãos efetores. 
Isso fica claro em crianças que sofrem violência 
psicológica/física, pois elas têm uma supressão 
no seu desenvolvimento físico, mental e 
emocional. 
Nutricionais 
 A nutrição balanceada de macronutrientes é 
essencial para o desenvolvimento físico da 
criança. 
 As gorduras, além de fornecerem 9kcal por 
grama, veiculam vitaminas lipossolúveis (A, D, E 
e K) e são responsáveis pela sensação de 
saciedade na dieta. Em uma criança, a gordura 
representa cerca de 12% do peso corporal, sendo 
essencial para formação das membranas 
celulares e para síntese de hormônios esteroides. 
 O ácido linoleico, um ácido graxo essencial, é 
fundamental para o crescimento, uma vez que 
influencia na composição corporal, ou seja, nos 
teores de gordura corporal e proporção de tecido 
magro, especialmente em animais jovens em 
crescimento. O CLA induz a diminuição na 
deposição de gordura e aumenta a proporção de 
tecido magro. Pode ser encontrado em carnes, 
leite, iogurte, etc. 
 As proteínas são essenciais para o 
crescimento, uma vez que compõem todo nosso 
corpo. A necessidade é maior nos primeiros 
meses de vida e diminui ao longo do tempo. 
 Os minerais e elementos mais importantes 
para o crescimento são: 
Cálcio, fósforo e magnésio = metabolismo ósseo; 
Potássio = íon principal do interior das células, 
importante para processos químicos, ex: bomba 
do sódio potássio; 
Ferro = importante na hemoglobinização das 
hemácias e consequente transporte de oxigênio 
(a anemia surge como atraso de crescimento); 
Iodo = importante para função tireoidiana, uma 
vez que sua dimimuição leva ao atraso de 
crescimento. O iodo é indispensável para que a 
glândula tireoide possa sintetizar e liberar na 
circulação os seus dois hormônios, Tiroxina (T4) e 
Triiodotironina (T3). 
Atividade Física 
 A atividade física tem importância no 
crescimento do tecido ósseo, muscular e 
adiposo. Parece haver um consenso de que o 
exercício físico pode contribuir para a saúde 
futura da criança, em especial na composição 
corpórea, e, para isso, a atividade física deve ser 
incorporada desde os primeiros anos de vida. Isso 
tudo porque ela aumenta a velocidade, 
flexibilidade, coordenação, concentração, 
relaxamento e contração muscular, etc. 
Fatores intrínsecos 
Genéticos 
 O perfil genético é dividido em dois aspectos: 
possíveis anormalidades genéticas patológicas 
que podem acometer a criança e o potencial de 
crescimento dessa criança. Nessa última, faz-se o 
alvo genético (cálculo) para saber o potencial de 
crescimento da criança. 
Neuroendócrinos 
 O hipotálamo é o principal centro regulador 
hormonal do nosso corpo, ele regula a 
produção/inibição de certos hormônios através 
 7 Fábio Duarte – Medicina – p3 
dos fatores de estimulação/inibição, por 
exemplo: fator de liberação do hormônio de 
crescimento hipotalâmico (GHRF), que estimula 
a secreção de GH. 
 Destaca-se também os neurotransmissores, 
produzidos na porção basal mediana do 
hipotálamo: norepinefrina, dopamina e 
serotonina. Os neurônios que contêm 
norepinefrina e dopamina estimulam a síntese de 
GHRF, promovendo a produção de GH. 
Dessa forma, o funcionamento do hipotálamo é 
fundamental para o crescimento, tanto é que 
anormalidades nessa estrutura levam a 
patologias. Tais como: hipotireoidismo 
hipotalâmico, puberdade precoce/atrasada, 
hipogonadismo, baixa estatura, etc. 
 A produção do GH ocorre na hipófise anterior 
de forma pulsátil, principalmente à noite e 
durante o sono. Alguns fatores interferem na sua 
produção, tais como: prática de esportes, sono, 
alimentação, nutrição e esteroides sexuais. 
 O GH exerce seu efeito através dos fatores de 
crescimento insulina-smile (IGF), principalmente 
IGF1 e IGF2 (proteínas-hormônios). Esses fatores 
circulam no plasma acoplados a proteínas séricas 
chamadas IGFBP. Os IGFs são sintetizados no 
fígado, sob estímulo do GH, ou seja, GH está 
sendo secretado  receptores estimulam a 
produção dos IGFs no fígado. Por isso desordens 
hepáticas podem afetar o crescimento da 
criança. 
Obs: o IGF1 está diretamente ligado com o GH. 
o IGF2 diminui com a diminuição do GH, porém não 
aumenta com seu aumento. 
 O crescimento linear pós-natal é resultado da 
ação do GH e do IGF-1. O IGF1 atua na placade 
crescimento levando a proliferação e hipertrofia. 
Enquanto o GH atua na diferenciação celular. 
 Vale salientar que os hormônios tireoidianos 
são importantíssimos, uma vez que atuam na 
estimulação do GH e sobre a epífise, 
proporcionando sua diferenciação. O 
hipotireoidismo é a principal causa de baixa 
estatura de origem endócrina. 
 Os glicocorticoides estimulam o crescimento 
de modo agudo, porém a exposição prolongada a 
esses hormônios diminui a produção do GH e a 
sensibilidade dos órgãos efetores a ele. 
 Os esteroides sexuais (androgênios e 
estrogênios) também atuam de modo duplo: 
atuam diretamente no GH e agem diretamente 
na placa de crescimento. O fechamento das 
epífises é por ação do estrogênio. 
 Conclui-se que, no período pós-natal, o GH e 
os hormônios tireoidianos são fundamentais para 
o crescimento linear. No entanto, o principal 
hormônio efetor do crescimento pós-natal é o 
IGF1. 
 Cuidado com a pegadinha: o GH e o hormônio 
tireoidiano produzido pelo feto NÃO influencia 
no seu crescimento. 
IDENTIFICAR AS CAUSAS DA OBESIDADE 
INFANTIL E DA BAIXA ESTATURA 
Causas da obesidade infantil 
A obesidade infantil vem se tornando cada vez 
mais prevalente no mundo, dentre os fatores que 
promovem isso, temos: 
 Mudança a nível global na dieta das 
crianças, com aumento da ingestão de 
alimentos que são ricos em gordura e 
açúcares, mas pobres em vitaminas, 
minerais e outros micronutrientes 
saudáveis. 
 Tendência de diminuição dos níveis de 
atividade física devido à natureza cada 
vez mais sedentária das formas de 
recreação das crianças e das mudanças 
dos modos de transporte. 
 Cada vez mais as crianças jogam vídeo-
games, assistem televisão e se 
locomovem de carro, caracterizando o 
sedentarismo. 
 8 Fábio Duarte – Medicina – p3 
 Consumo de refrigerantes ou outras 
bebidas açucaradas. 
 História familiar (fatores genéticos e 
hábitos de vida da família colaboram para 
obesidade). 
 Pobreza (comidas de má qualidade são 
mais baratas). 
 Estresse psicológico. 
 Menor tempo de sono durante a noite. 
Estudos indicam que o aleitamento materno atua 
combatendo a obesidade. 
Um dos mecanismos esclarecidos é o 
“imprinting” metabólico. O termo imprinting 
metabólico descreve um fenômeno através do 
qual uma experiência nutricional precoce, 
acarretaria um efeito duradouro, persistente ao 
longo da vida do indivíduo, predispondo a 
determinadas doenças na fase adulta, tais como 
a obesidade. Por isso é tão importante manter o 
aleitamento materno exclusivo durante os 
primeiros meses de vida. É basicamente aquele 
ditado “você colhe o que planta”. 
Causas fisiológicas de baixa estatura 
 Baixa estatura familiar 
 A baixa estatura familiar/genética é vista nos 
casos em que a altura se encontra abaixo do 
percentil 3, mas com o crescimento seguindo a 
previsão familiar, a puberdade ocorrendo em 
idade adequada, velocidade de crescimento 
normal ou baixa e maturação óssea compatível 
com a idade cronológica. 
 Baixa estatura constitucional 
 Também chamado Retardo Constitucional de 
Crescimento e Puberdade (RCCP), essa causa de 
baixa estatura possui relação genética e consiste 
numa VC mais lenta, atraso de idade óssea e, 
geralmente, atraso na puberdade. 
 Baixa estatura idiopática 
 
 A baixa estatura idiopática consiste nos casos 
em que não há condições evidentes que estejam 
causando tal problema, sendo um diagnóstico de 
exclusão. 
 Baixa estatura psicossocial 
 Essa causa de baixa estatura está relacionada 
a problemas emocionais, muitas vezes ligada à 
família do paciente. Este é um dos casos em que 
se vê o psicológico repercutindo negativamente 
no funcionamento do corpo. 
 Retardo no crescimento intrauterino 
 O retardo no crescimento intrauterino se dá 
por diversas razões, como uso de drogas lícitas e 
ilícitas na gestação, desnutrição materna, 
infecções, entre outros. 
O resultado é o nascimento de um bebê pequeno 
para idade gestacional (PIG), com maior 
predisposição para problemas de saúde durante 
sua vida, um dos impactos sendo em sua 
estatura. 
Causas patológicas de baixa estatura 
 Desnutrição 
 A desnutrição é uma causa comum de 
problemas no desenvolvimento, seja por falta de 
alimento, má distribuição alimentar, restrição 
dietética, síndromes de má absorção ou 
transtornos alimentares. 
 Uso de glicocorticoides e síndrome de 
Cushing 
 Um medicamento utilizado em diversas 
doenças são os glicocorticoides. Nas crianças eles 
são capazes de impactar o desenvolvimento 
físico por diversos mecanismos, como inibição da 
secreção e ação do GH, prejudicando a formação 
óssea e de colágeno, etc. 
Uma doença relacionada a esse uso é a síndrome 
de Cushing, que consiste no excesso de 
 9 Fábio Duarte – Medicina – p3 
glicocorticoides, sejam eles endógenos ou 
exógenos. 
O que acontece é que, pelos glicocorticoides 
excessivos, há uma inibição no eixo hipotálamo-
hipófise (lembrando que o GH é produzido pela 
hipófise). Além disso, os glicocorticoides têm 
uma ação antagônica ao IGF-1, causando retardo 
no crescimento. 
 Doença gastrointestinal 
 Algumas doenças gastrointestinais, como 
doença de Chron e doença celíaca, podem 
repercutir negativamente no desenvolvimento 
das crianças. 
Isso se dá por vários motivos, podendo ser mais 
relacionado ao processo inflamatório decorrente 
da doença, de uma absorção intestinal 
prejudicada (podendo cursar também com 
desnutrição) e até por uso de glicocorticoides 
como forma de tratamento. 
 Doença renal crônica (DRC) 
 Problemas renais podem ser a causa da baixa 
estatura por muitos fatores, como 
desenvolvimento de deficiência de GH, acidose 
metabólica, uremia, dietas restritivas (podendo 
levar a uma má nutrição), uso de glicocorticoides 
no tratamento, entre outros. 
Os pacientes acometidos com a DRC podem 
fazer uso de terapia de reposição com o GH, 
tendo bons resultados. Deve-se também tentar 
atenuar a doença e suas complicações, além do 
uso do GH. 
 Hipotireoidismo 
 Já é bem sabido que uma repercussão do 
hipotireoidismo nas crianças é o retardo no 
crescimento e baixa estatura. O paciente 
geralmente também apresenta idade óssea 
atrasada e, portanto, ao tratar o hipotireoidismo, 
a criança ainda pode crescer praticamente na 
normalidade. 
 Câncer 
 O câncer pode causar baixa estatura por meio 
da fisiopatologia da doença e do tratamento 
utilizado, seja quimioterapia ou radioterapia. Isso 
porque os pacientes ficam com anorexia, náusea, 
vômitos. 
Ademais, crianças que precisaram receber 
radiação na região da cabeça podem apresentar 
problemas no crescimento, devido a danos no 
hipotálamo e, consequentemente, no 
funcionamento da hipófise, que é a glândula que 
produz, entre outros hormônios, o GH e o TSH. 
Após tratamento do câncer há crescimento 
compensatório. 
 Doenças cardíacas 
 A baixa estatura causada pela existência de 
doenças cardíacas se dá pela hipóxia, problemas 
nutricionais e maior gasto de energia pelo corpo 
para as funções básicas. 
 Doenças respiratórias 
 Os mecanismos envolvidos com a baixa 
estatura por doença respiratória são múltiplos, 
como baixa ingesta alimentar, processo 
infeccioso crônico e maior necessidade de 
energia para o funcionamento corporal. 
 Doenças imunológicas 
 Doenças que afetam o sistema imunológico 
também interferem no crescimento das crianças 
acometidas. 
Isso porque esses jovens se encontram mais 
susceptíveis a processos infecciosos severos e 
mais frequentes, com risco de falência de órgãos, 
acarretando um grande gasto de energia e 
prejuízo no crescimento. 
Além de todas essas, temos também as infinitas 
síndromes e doenças metabólicas! 
 10 Fábio Duarte – Medicina – p3 
RECONHECER A INTERPR ETAÇÃO DO ESCORE Z 
E DO PERCENTIL 
Antropometria 
 A antropometria, pela facilidade de 
execuçãoe pelo baixo custo, tem-se revelado o 
método mais utilizado para o diagnóstico do 
estado nutricional. 
A avaliação antropométrica é tradicionalmente 
realizada a partir da comparação das medidas 
obtidas com um dado de referência descrito 
segundo a idade e o gênero. 
 A análise do processo de crescimento por 
meio da interpretação de medidas obtidas em 
um único momento (avaliação transversal) está 
mais sujeita a erro do que a avaliação baseada 
em dados obtidos em vários momentos/idades 
(avaliação longitudinal). “É melhor fazer um filme 
da criança do que tirar uma foto”. 
Índices 
Índices são combinações de medidas que 
permitem uma interpretação clínica. Os mais 
utilizados na criança e no adolescente são: 
 Peso para idade (P/I); 
 O P/I é um índice de massa corporal e sua 
interpretação isolada pode ter pouco valor, exceto 
nos primeiros dois anos de vida, durante os quais 
alterações em curto prazo indicam emagrecimento 
e são significativas, dadas as características do 
crescimento dessa fase. Nessa mesma faixa 
etária, grandes ganhos de peso podem não 
significar obesidade, pois pode ocorrer um 
aumento do tecido adiposo como parte do 
processo de adaptação pós-natal do crescimento 
 Comprimento/estatura para a idade (E/I); 
 Dados de E/I, ou seja, comprimento, altura ou 
estatura para a idade, podem descrever um 
indivíduo normalmente baixo ou parada de 
crescimento, um processo patológico resultante 
de um comprometimento crônico do potencial 
de crescimento linear. Altos índices de E/I são 
menos frequentes e geralmente estão associados 
a doenças cromossômicas, genéticas ou 
hormonais. 
 Peso para comprimento/estatura (P/E); 
 Por outro lado, a relação P/E avalia o peso 
corporal relativo à estatura do próprio indivíduo e 
tem a vantagem de dispensar o conhecimento da 
idade e definir melhor a perda súbita de peso do 
emagrecimento ou perda grave, geralmente 
crônica, primária ou secundária. Altos índices de 
P/E e IMC indicam condições de sobrepeso e 
obesidade. 
 Perímetro cefálico para idade e para 
estatura (este último mais adequado para 
avaliação; 
 Índice de massa corpórea ou IMC (peso 
em quilogramas dividido pela estatura em 
metros quadrados). 
 O IMC já pode ser avaliado desde o 
nascimento. Devido às dificuldades em se medir 
diretamente a gordura corporal, a obesidade 
pode ser estimada por meio do IMC, o qual se 
correlaciona com a quantidade de gordura 
corporal em crianças e adultos. 
A utilização dos índices pode ser útil, sobretudo 
quando não se dispõe do acompanhamento 
longitudinal. 
Dessa forma, esses dados são analisados como 
percentil, Porcentagem da Mediana ou Escore-Z. 
 11 Fábio Duarte – Medicina – p3 
Percentil 
O sistema de percentis quantifica a população 
de referência desde o início até o final da 
distribuição, desde próximo a zero até próximo 
a 100, e é o mais utilizado na prática pela sua 
facilidade de análise direta. 
O Percentil 50 corresponde à mediana, isto é, 
valor acima e abaixo do qual se encontra 50% 
da população. Encontrar-se em um determinado 
percentil significa ocupar uma posição em 
relação à população de referência. Assim, por 
exemplo, estar no Percentil 10 de peso é 
pertencer a 10% da população referência que 
tem o mesmo peso ou menos. 
Na interpretação gráfica, pode ser difícil comparar 
avaliações em valores absolutos no intervalo dos 
grandes percentis (3, 5, 10, 25, 50, 75, 95, 97) e, a 
partir dos extremos (percentis 3 e 97), variações de 
medidas são difíceis de serem observadas e 
valorizadas quanto à gravidade do ganho ou 
perda. 
Sob esse aspecto, a expressão dos índices como 
Escore-Z permite uma compreensão mais precisa 
da posição da criança ou indivíduo em relação à 
população de referência, principalmente na 
discriminação dos valores extremos, sendo o 
sistema de escolha para estudos populacionais. 
Escore Z 
O Escore-Z representa o número de desvios-
padrão a partir do ponto central da população 
referência. Enquanto o Percentil quantifica os 
indivíduos desde o início até o final da 
distribuição (de próximo a zero até próximo a 
100), o Escore-Z quantifica a partir da Mediana ou 
Percentil 50. Um valor negativo de Escore-Z indica 
que a medida está à esquerda da Mediana e abaixo 
do Percentil 50 e não implica posições diferentes. 
Cálculo do Escore-Z = estatura da criança – 
estatura média da população referência 
dividido por desvio-padrão para idade e sexo. 
A tabela abaixo detalha o processo de ganho de peso: 
Ao nascimento Média de 3,4kg ao 
nascer. Há perda de 
10% do peso corporal 
ao nascer. 
1° Trimestre 700g/mês ou 25-
30g/dia. 
2° Trimestre 600g/mês ou 20g/dia. 
3° Trimestre 500g/mês ou 15g/dia. 
4° Trimestre 400g/mês ou 12g/dia. 
Pré-escolar 2kg/ano ou 8-6g/dia. 
Escolar 3-3,5kg/ano. 
 
Os bebês até dois anos ou 16kg deverão ser pesados na 
posição deitada ou sentados na balança mecânica 
pediátrica. 
Em relação a estatura da criança: 
Ao nascimento A média de um recém-
nascido a termo é 50cm. 
Ao nascimento é 35cm. 
1° ano 25cm/ano (15cm no 1° 
trimestre e 10cm no 2° 
trimestre. 
2° ano 12cm/ano. 
2-6 anos de idade 6-7cm/ano. 
6 anos-puberdade 5cm/ano. 
Valores de referência para IMC infantil (até 19 anos) 
Baixo IMC para idade < Percentil 3 
IMC adequado ou 
Eutrófico 
≥ Percentil 3 e < 
Percentil 85 
Sobrepeso ≥ Percentil 85 e < 
Percentil 97 
Obesidade ≥ Percentil 97 
 
 12 Fábio Duarte – Medicina – p3 
DEFINIR AS CAUSAS DA DEFICIÊNCIA DE FERRO 
E SUAS CONSEQUÊNCIAS 
Deficiência de ferro 
 A deficiência de ferro se desenvolve em 
estádios. No primeiro estádio, a necessidade de 
ferro excede sua ingestão, causando depleção 
progressiva dos depósitos de ferro da medula 
óssea. À medida que os estoques diminuem, há 
elevação da absorção dietética de ferro. Durante 
os estádios tardios, a deficiência é grave o 
suficiente para ocasionar insuficiência na síntese 
de eritrócitos, gerando anemia. 
A deficiência de ferro, se for grave e prolongada, 
também pode provocar disfunção no conteúdo de 
ferro nas enzimas celulares. 
Etiologia 
 Perda de sangue 
 A perda de sangue é quase sempre a causa da 
deficiência de ferro. Nos homens e nas mulheres 
na menopausa, a causa mais frequente é o 
sangramento oculto crônico, muitas vezes do 
trato GI (p. ex., doença ulcerosa péptica, câncer, 
hemorroidas). Em mulheres em pré-menopausa, 
a perda menstrual cumulativa de sangue (o que 
significa 0,5 mg ferro/dia) é a causa comum. 
Sangramento intestinal por ancilostomíase é 
uma causa comum nos países em 
desenvolvimento. Causas menos comuns são 
hemorragia pulmonar recorrente (ver 
Hemorragia alveolar difusa) e hemólise 
intravascular crônica quando a quantidade de 
ferro liberada durante a hemólise excede a 
capacidade de ligação à haptoglobina. 
 Aumento da necessidade de ferro 
 Aumento da necessidade de ferro pode 
contribuir para a deficiência de ferro. Do 
nascimento até 2 anos de idade e durante a 
adolescência, quando o rápido crescimento 
requer grande ingestão de ferro, a dieta de ferro, 
muitas vezes, não é adequada. Durante a 
gestação, a necessidade de ferro fetal aumenta a 
necessidade de ferro materno (em média de 0,5 a 
0,8 mg/dia — ver Anemia na gestação) apesar da 
ausência da menstruação. A lactação também 
aumenta a necessidade de ferro (em média 0,4 
mg/dia). 
 Diminuição da absorção do ferro 
A diminuição da absorção de ferro pode resultar 
de gastrectomia ou síndromes disabsortivas 
como doença célica, gastrite atrófica e acloridria. 
Raramente, a absorção diminui pela privação da 
dieta advinda de má nutrição. 
Consequências – Sintomas 
Muitos sintomas de deficiência de ferro são 
decorrentes de anemia. Tais sintomas incluem 
fadiga, perda de estamina, falta de ar, fraqueza, 
tontura e palidez. Outro sintoma comum é a 
síndrome das pernas inquietas (SPI),que é um 
impulso desagradável de mover as pernas 
durante períodos de inatividade. 
Além das manifestações usuais da anemia, 
alguns sintomas incomuns ocorrem na 
deficiência grave de ferro. Os pacientes podem 
apresentar picafagia, um desejo anormal de 
ingerir substâncias (p. ex., gelo, barro, tinta). 
Outros sintomas da deficiência grave são glossite 
(língua), queilose (lábios fissurados/inflamados – 
vitamina b2 geralmente) e unhas côncavas 
(coiloníquia).

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