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PROPRIEDADES DOS TECIDOS MOLES: RESPOSTA À IMOBILIZAÇÃO E AO ALONGAMENTO. A capacidade do corpo de mover-se livremente, ou seja, sem restrições e com controle durante atividades funcionais, depende da mobilidade passiva dos tecidos moles e do controle neuromuscular ativo. A mobilidade é necessária para a saúde dos tecidos do corpo. Como já foi mencionado, os tecidos moles que podem se tornar restritos e comprometer a mobilidade são os músculos, com seus elementos contráteis e não contráteis, e vários tipos de tecidos conjuntivos (tendões, ligamentos, cápsulas articulares, fáscias, pele). Na maioria das vezes, é a diminuição da extensibilidade do tecido conjuntivo, e não dos elementos contráteis do músculo, a causa primária da ADM limitada, tanto em pessoas saudáveis quanto em pacientes com comprometimento de mobilidade resultante de lesão, doença ou cirurgia. Normalmente, adaptações morfológicas dos tecidos acompanham a Imobilização. Cada tipo de tecido mole tem propriedades únicas que afetam sua resposta à imobilização e sua capacidade de recuperar a extensibilidade após a Imobilização. Quando são aplicados procedimentos de alongamento a esses tecidos moles, sua resposta e o resultado dos vários programas de alongamento são afetados pela direção, velocidade, Intensidade (magnitude), duração e frequência da força de alongamento, bem como pela temperatura, tensão e rigidez dos vários tipos de tecidos moles. Acredita-se que o ganho de extensibilidade tecidual após o alongamento seja resultado do desconforto percebido no final da ADM. Flexibilidade dinâmica: grau até o qual uma contração muscular ativa move um segmento corporal na ADM disponível (quando ocorre a flexibilidade com movimento ativo). Flexibilidade passiva: grau até o qual uma articulação pode ser movida passivamente na ADM disponível (quando força a flexibilidade com movimento passivo). OBS: Na maioria das vezes, a limitação da ADM se dá por diminuição da extensibilidade do tecido conjuntivo e não de elementos contráteis do músculo. Para alongar um músculo sempre deve ser feito o movimento oposto da ação dele. Quando uma restrição de mobilidade afeta a função e aumenta o risco de lesão, as intervenções por alongamentos se tornam um componente integral do programa de reabilitação. ALONGAMENTO: é indicado para aumentar o comprimento dos componentes contráteis e não contráteis das unidades musculotendíneas e das estruturas periarticulares. ➔ Melhora a extensibilidade dos tecidos moles, melhorando a flexibilidade e ADM. PROPRIEDADES MECÂNICAS DO TECIDO CONTRÁTIL. O músculo é composto de tecidos conjuntivos contráteis e não contráteis. Os elementos contráteis do músculo dão a ele características de contratibilidade e resistência. O tecido conjuntivo não contrátil dentro e ao redor do músculo tem as mesmas propriedades de todos os tecidos conjuntivos, incluindo a capacidade de resistir às forças de deformação. As estruturas de tecido conjuntivo, que agem como "couraça" do músculo, são o endomísio, a camada mais interna que separa fibras musculares individuais e miofibrilas; o perimisio, que envolve feixes de fibras; e o epimisio, a bainha de fáscia que envolve todo o músculo. ELEMENTOS CONTRÁTEIS DO MÚSCULO. Os músculos individualmente são compostos de muitas fibras musculares que ficam paralelas entre si. Uma única fibra muscular é composta de muitas miofibrilas. Cada miofibrila é composta de estruturas ainda menores, chamadas sarcômeros, que ficam em série dentro de uma miofibrila. O sarcômero é a unidade contrátil da mioflbrila e é composto de miofibrilamentos sobrepostos de actina e miosina, que formam pontes cruzadas. O sarcômero dá ao músculo sua capacidade de contrair e relaxar. Quando uma unidade motora estimula um músculo para que se contraia, os filamentos de actina-miosina deslizam juntos e o músculo se encurta de forma ativa. Quando um músculo relaxa, as pontes cruzadas se separam levemente e o músculo retorna ao comprimento de repouso. A estrutura de tecido conjuntivo de um músculo é a fonte primária de sua resistência ao alongamento passivo. Quando se desenvolvem contraturas, ou aderências dentro e entre as fibras de colágeno, essas estruturas resistem ao movimento e o restringem. PROPRIEDADES DOS TECIDOS MOLES AO ALONGAMENTO. Quando o tecido mole é alongado, ocorrem alterações elásticas, viscoelásticas ou plásticas. Tanto os tecidos contráteis quanto os não contráteis tem qualidades plásticas; contudo, somente o tecido conjuntivo não contrátil, e não os elementos contráteis do músculo tem propriedades viscoelásticas. • Elasticidade é a habilidade dos tecidos moles de retomarem ao comprimento de repouso pré- alongamento logo após a remoção da força de alongamento de curta duração. • Viscoelasticidade é uma propriedade tempo-dependente dos tecidos moles que no inicio resistem à deformação quando uma força de alongamento, como uma mudança no comprimento, começa a ser aplicada. Se a força de alongamento é mantida, a viscoelasticidade permite uma mudança no comprimento do tecido possibilitando-o, então, retomar de forma gradual ao estado de pré-alongamento após a remoção da força. • Plasticidade, ou deformação plástica, é a tendência dos tecidos moles de assumirem um comprimento novo e maior após a remoção da força de alongamento. EFEITOS DO ALONGAMENTO. Os efeitos do alongamento podem ser divididos em agudos e crônicos. Os agudos ou imediatos são resultados da flexibilidade do componente elástico da unidade musculotendínea. Já os efeitos crônicos resultam em remodelamento adaptativo da estrutura muscular, explicado pelo acréscimo do número de sarcômeros em série, o que implica em aumento do comprimento muscular. Quando ocorre o alongamento passivo inicial no componente da série elástica (tecido conjuntivo), a tensão aumenta de forma aguda. Quando a força de alongamento é liberada, os sarcômeros individuais retomam ao comprimento de repouso. Como já foi observado, a tendência do músculo de retomar ao comprimento de repouso após um alongamento de curto prazo, é chamada de elasticidade. Quando se deseja aumentos mais duradouros ou permanentes (víscoelásticos ou plásticos) no comprimento, a força de alongamento precisa ser mantida por um período maior. PROPRIEDADES NEUROFISIOLÓGICAS DO TECIDO CONTRÁTIL. As propriedades neurofisiológicas da unidade musculotendínea também influenciam a resposta do músculo ao alongamento e à efetividade das intervenções de alongamento para tomar o músculo mais comprido. Em particular, dois órgãos sensitivos das unidades musculotendíneas: o fuso muscular e o órgão tendinoso de Golgi, são mecanorreceptores que conduzem informações para o sistema nervoso central sobre o que está ocorrendo na unidade musculotendinea e afetam a resposta do músculo ao alongamento. O fuso muscular é o principal órgão sensitivo do músculo e é sensivel ao estiramento rápido e mantido (tônico). Sua principal função é receber e conduzir informações sobre as mudanças no comprimento do músculo e sobre a velocidade com que ocorrem tais mudanças. O órgão tendinoso de Golgi (OTG) é um órgão sensitivo com função de detectar a tensão muscular. É um mecanismo de proteção que inibe a contração do músculo no qual ele está. Portanto, quando se desenvolve tensão excessiva no músculo, o OTG dispara e faz com que o músculo relaxe. - Para minimizar a ativação do reflexo de estiramento que diminui de modo reflexo a capacidade do músculo de contrair-se, o alongamento deve ser de baixa intensidade, aplicado lentamente de forma prolongada. INDICAÇÕES PARA O ALONGAMENTO. • Limitação da ADM por falta de extensibilidade tecidual devido aderências, contraturas e cicatrizes. • Deformidades estruturais, como a escoliose.• Fraqueza muscular que levou a um encurtamento do músculo oposto. • Parte de um programa de preparo físico com objetivo de reduzir lesões. CONTRA-INDICAÇÕES PARA O ALONGAMENTO. • Bloqueio articular. • Fratura recente (consolidação incompleta). • Processo inflamatório agudo ou infeccioso. • Dor aguda após movimento articular ou alongamento articular. • Hematoma local. • Existência de hipermobilidade. • Tecidos encurtados que permitem habilidades funcionais. ALONGAMENTO MANUAL OU MECÂNICO. Força de alongamento externa no final da amplitude de movimento, mantida ou intermitente (com intervalos) aplicada com pressão adicional por meio de contato manual ou dispositivo mecânico movendo a articulação limitada além da ADM disponível. Durante o alongamento manual, um fisioterapeuta, outro profissional ou um cuidador treinado aplica uma força externa para mover o segmento envolvido levemente além do ponto de resistência do tecido e da ADM disponível. Os dispositivos mecânicos para alongamento aplicam uma força de alongamento com intensidade muito baixa (pouca carga), durante um período prolongado, para criar um alongamento mais ou menos permanente nos tecidos moles, como provável consequência da deformação plástica. AUTOLONGAMENTO. O autoalongamento (também chamado de exercício de flexibilidade ou alongamento ativo) é um tipo de procedimento de alongamento que o paciente executa sozinho, após uma instrução cuidadosa e pratica supervisionada. O autoalongamento permite ao paciente manter ou aumentar a ADM obtida como resultado da intervenção direta do fisioterapeuta. Essa forma de alongamento é geralmente um componente integral dos programas de exercícios domiciliares e é necessária para o autocuidado de longo prazo de muitos distúrbios musculoesqueléticos e neuromusculares. DETERMINANTES DA INTERVENÇÃO COM ALONGAMENTO. Intensidade, duração, frequência e modo de alongamento - inter-relações baseadas em evidências e o impacto nos resultados do alongamento. DURAÇÃO MODOS DE ALONGAMENTO: • ALONGAMENTO ESTÁTICO. Alongamento sustentado, mantido ou prolongado. É um método usado no qual os tecidos moles são alongados um pouco além da resistência imposta pelo tecido, e então são mantidos na posição alongada com uma força constante durante certo período de tempo. A duração do alongamento estático é predeterminada ou baseia-se na tolerância do paciente e em sua resposta durante o procedimento. Possui um único ciclo de alongamento com variações entre 5 segundos até 5 minutos. A força de alongamento deve ser aplicada e liberada de forma lenta e gradual. 2X 30” = 6X 10” 3X 10” > 9X 5” 3X 30” ou 3X 1’ = 1X 30” ou 1X 1’ O alongamento estático é bem aceito como uma forma efetiva de alongamento para aumentar a flexibilidade e a ADM. E tem sido considerado, há muitos anos, uma forma de alongamento mais segura do que o alongamento balístico. As pesquisas têm mostrado que a tensão criada no músculo durante o alongamento estático é aproximadamente a metade da criada durante o alongamento balistico. Isso é coerente com nossa compreensão das propriedades viscoelásticas do tecido conjuntivo que se encontra dentro e ao redor dos músculos, assim como as propriedades neurofisiológicas dos elementos contráteis do músculo. Sabe-se que os tecidos moles não contráteis cedem mais prontamente a uma força de alongamento aplicada de forma continua e com baixa intensidade, como a usada no alongamento estático. Alongamento estático progressivo: é outro termo que descreve como o alongamento estático é aplicado para conseguir máxima efetividade. Os tecidos moles encurtados são mantidos em uma posição alongada de modo confortável até que um grau de relaxamento seja sentido pelo paciente ou pelo fisioterapeuta. Então, os tecidos encurtados são alongados um pouco mais e mantidos na nova posição máxima por um tempo adicional. • ALONGAMENTO CÍCLICO (INTERMITENTE). Uma força de alongamento com duração relativamente curta, que é aplicada de modo repetido, porém gradual, então liberada e depois reaplicada, é descrita como alongamento clclico (intermitente). Aplicado em múltiplas repetições (ciclos de alongamento) durante uma única sessão de tratamento. É aplicado com baixa velocidade, de forma controlada e com intensidade relativamente baixa. A diferenciação entre alongamento cíclico e estático, com base na duração da aplicação de cada alongamento, não está definida de forma clara na literatura. De acordo com alguns autores, para o alongamento cíclico, cada ciclo de alongamento é mantido por 5 a 10 segundos. No entanto, pesquisadores de outros estudos referem-se ao alongamento que envolve ciclos de 5 a 10 segundos como alongamento estático. Também não há consenso sobre o número ideal de repetições de alongamento cíclico durante uma sessão de tratamento. Ao contrário, essa determinação normalmente baseia-se na resposta do paciente ao alongamento. Há evidências de que o alongamento cíclico aumenta a flexibilidade de modo tão ou mais efetivo que o alongamento estático. • ALONGAMENTO BALÍSTICO. Um alongamento intermitente rápido e forçado - ou seja, um alongamento com alta velocidade e alta Intensidade - é comumente chamado de alongamento balístico. É caracterizado por movimentos rápidos e em alta velocidade que criam um impulso para conduzir o segmento do corpo pela ADM até alongar as estruturas encurtadas. Embora tenha sido mostrado que o alongamento estático e o balístico aumentam com igualdade a extensibilidade, acredita-se que o alongamento balístico causa um trauma maior aos tecidos alongados e mais dor muscular residual do que o alongamento estático. Por consequência, embora tenha sido mostrado que o alongamento balístico aumenta a ADM com segurança em pessoas jovens e saudáveis que participam de um programa de condicionamento. Este procedimento, em geral, não é recomendado para pessoas idosas ou sedentárias ou para pacientes com patologias musculoesqueléticas ou contraturas crônicas. A base teórica para essa recomendação é: • Tecidos enfraquecidos pela imobilização ou por desuso são facilmente lesionados. • O tecido conjuntivo denso encontrado mi contraturas crônicas não cede com facilidade mediante um alongamento de curta duração e alta intensidade; em vez disso, torna-se mais quebradiço e rompe-se mais prontamente. lmportância de um alongamento aplicado lentamente: Para minimizar a ativação muscular durante o alongamento e reduzir o risco de lesão aos tecidos, assim como a dor muscular pós-alongamento, a velocidade do alongamento deve ser lenta. A força de alongamento deve ser aplicada e liberada de forma gradual. Um alongamento aplicado lentamente tem menor possibilidade de aumentar as sobrecargas tensivas sobre os tecidos conjuntivos ou de ativar o reflexo de estiramento. Vale lembrar que as fibras la do fuso muscular são sensíveis à velocidade do alongamento muscular. Um alongamento lento afeta as propriedades viscoelásticas do tecido conjuntivo, tornando-o mais complacente. Além disso, uma força de alongamento aplicada com baixa velocidade é também mais fácil para o fisioterapeuta ou o paciente controlar e é, portanto, mais segura do que um alongamento de alta velocidade. • ALONGAMENTO COM FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA (FNP). É um tipo de alongamento ativo com contrações musculares. Integram de propósito contrações musculares ativas nas manobras de alongamento para facilitar ou inibir a ativação muscular com o objetivo de relaxamento reflexo dos músculos encurtados durante o alongamento muscular. Também é conhecido como: inibição ativa, alongamento ativoou alongamento facilitado. Tipos de alongamento FNP: Há vários tipos de procedimentos de alongamento FNP e todos resultam na melhora da ADM. Eles incluem: • Manter-relaxar (MR) ou contrair-relaxar (CR). • Contração do agonista (CA). • Manter-relaxar com contração do agonista (MR-CA). 1. Manter-relaxar (MR) ou contrair-relaxar (CR). Com os procedimentos manter-relaxar (MR) e contrair -relaxar (CR) o músculo que limita a amplitude é primeiramente alongado até o ponto da limitação ou até onde é confortável para o paciente, que faz, então, uma contração isométrica no final da amplitude antes do alongamento (durante cerca de 5 segundos), seguida pelo relaxamento voluntário do músculo encurtado. O membro é então movido de forma passiva para a nova amplitude, enquanto o músculo que limita a amplitude é alongado. Alongamento do músculo peitoral maior, encurtado bilateralmente, no qual aumenta a abdução horizontal dos ombros. (Para alongar um músculo sempre deve ser feito um movimento oposto). Alongamento dos músculos isquiotibiais encurtados, no qual aumenta a ADM de flexão de quadril. (Para alongar um músculo sempre deve ser feito um movimento oposto). 2. Contração do agonista (CA). Outra técnica de alongamento FNP é o procedimento de contração do agonista (CA). O termo tem sido usado por vários autores, mas pode ser mal compreendido. "Agonista" refere-se ao músculo oposto ao músculo que limita a amplitude. Desse modo, "antagonista é efetivamente o músculo que está limitando a amplitude. É o músculo encurtado (o antagonista) que impede o movimento completo do movimentador primário (o agonista). Para fazer o procedimento de CA, o paciente contrai concentricamente (encurta) o músculo oposto no que está limitando a amplitude e, então, mantém a posição final por pelo menos alguns segundos. O movimento do membro é controlado de modo independente pelo paciente e é deliberado e lento, não balístico. 3. Manter-relaxar com contração do agonista (MR-CA). Para realizar o procedimento M R-CA, move-se o membro até o ponto em que seja sentida a resistência dos tecidos no músculo encurtado (que está limitando a amplitude); então. faz-se o paciente executar uma contração Isométrica resistida pré-alongamento no músculo que está limitando a amplitude seguida do relaxamento voluntário deste músculo e de uma contração concêntrica imediata do músculo oposto ao que está encurtado. USO DA MOBILIDADE AUMENTADA EM ATIVIDADES FUNCIONAIS. Os ganhos na flexibilidade e na ADM, obtidos como resultado de um programa de alongamento, são transitórios durando apenas cerca de 4 semanas após o término do alongamento. O meio mais efetivo de obter aumentos permanentes na ADM e reduzir as limitações funcionais e integrar atividades funcionais ao programa de alongamento para usar com regularidade a amplitude obtida. O uso de atividades funcionais para manter a mobilidade torna o programa de alongamento mais diverso e interessante. Portanto, os ganhos da ADM devem ser mantidos através de atividades funcionais, como ao fazer a higiene pessoal, ao vestir-se ou quando estender a mão para pegar ou colocar objetos em uma prateleira alta. Os ganhos na ADM induzidos pelo alongamento são usados nas atividades diárias. REFERÊNCIAS: LIVRO: Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas.
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