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BREVE HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA GG GG Ian Haydn Smith Um guia de bolso para os principais gêneros, obras, temas e técnicas www.ggili.com.br Breve história da fotogra� a é uma introdução nova e criativa ao tema da fotogra� a. Inteligentemente elaborado e ricamente ilustrado, o livro explora 50 fotogra� as-chave da história, desde os primeiros experimentos no início do século xix até a fotogra� a digital contemporânea. Prático e conciso, o livro explica como, por que e quando certas fotogra� as realmente mudaram o mundo. Inclui muitas imagens icônicas e revela as diferentes técnicas usadas para criá-las. Desmiti� cando o jargão técnico, o autor demonstra seu profundo conhecimento da história da fotogra- � a, oferecendo aos leitores uma plena apreciação dos eventos e das obras mais marcantes. Ian Haydn Smith é editor das revistas Curzon e BFI Filmmakers. Ele é autor de inúmeros artigos e vídeos sobre � lme e fotogra� a. Primeira capa: Mergulhadores (detalhe), George Hoyningen-Huene. Condé Nast/Getty Images. Quarta capa: Afghan Girl (detalhe), Steve McCurry. Steve McCurry/Magnum Photos. Também podem ser interessantes: Leia isto se quer ter muito sucesso no Instagram Henry Carroll 17 × 17 cm, 128 páginas ISBN: 9788584520992 Mestres da fotogra� a. Técnicas criativas de 100 grandes fotógrafos Paul Lowe 20 × 24 cm, 288 páginas ISBN: 9788584520800 Leia isto se quer tirar fotogra� as incríveis de lugares Henry Carroll 14.4 × 20 cm, 128 páginas ISBN: 9788584520817 Fotogra� a John Ingledew 21.5 × 25.6 cm, 272 páginas ISBN: 9788584520435 Ian H ayd n S m ith B R E V E H IS T Ó R IA D A F O T O G R A F IA GG SMITH Breve historia da fotografia.indd 1 14/11/17 14:27 w w w .g gi li. co m .b r Título original: The Short Story of Photography. Publicado originalmente por Lawrence King Publishing Ltd em 2017 Projeto gráfico: John Round Design Tradução: Edson Furmankiewicz Preparação: Maria Luisa Abreu Lima de Paz Revisão de texto: Grace Mosquera Clemente Qualquer forma de reprodução, distribuição, comunicação pública ou transformação desta obra só pode ser realizada com a autorização expressa de seus titulares, salvo exceção prevista pela lei. Caso seja necessário reproduzir algum trecho desta obra, seja por meio de fotocópia, digitalização ou transcrição, entrar em contato com a Editora. A Editora não se pronuncia, expressa ou implicitamente, a respeito da acuidade das informações contidas neste livro e não assume qualquer responsabilidade legal em caso de erros ou omissões. Os direitos do autor Ian Haydn Smith para esta obra foram registrados de acordo com o Copyright, Design and Patent Act de 1988. © Mark Fletcher, 2018 © da tradução: Edson Furmankiewicz para a edição em português: © Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2018 Impresso na China ISBN: 978-85-8452-113-5 Depósito legal: B. 26547-2017 Editorial Gustavo Gili, SL Via Laietana 47, 2º, 08003 Barcelona, Espanha. Tel. (34) 933228161 Editora G. Gili, Ltda Av. José Maria de Faria, 470, Sala 103, Lapa de Baixo, CEP: 05038-190, São Paulo-SP, Brasil. Tel. (+55) (11) 3611-2443 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Smith, Ian Haydn Breve história da fotografia : um guia de bolso dos principais gêneros, obras, temas e técnicas / Ian Haydn Smith ; [tradução Edson Furmankiewicz]. -- São Paulo : Gustavo Gili, 2018. Título original: The short story of photography. ISBN 978-85-8452-113-5 1. Fotografia 2. Fotografia - História I. Título. 17-09777 CDD-770.9 Índices para catálogo sistemático: 1. Fotografia : História 770.9 Ian Haydn Smithw w w .g gi li. co m .b r Ian Haydn Smith BREVE HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA Um guia de bolso para os principais gêneros, obras, temas e técnicas GG®w w w .g gi li. co m .b r Sumário 6 Introdução 9 Como usar este livro GÊNEROS 12 Monocromático 13 Pictorialismo 14 Fotografia pura 15 Retrato 16 Paisagem 17 Fotografia de rua 18 Cor 19 Nu 20 Natureza-morta 21 Autorretrato 22 Abstração 23 Vanguarda 24 Guerra 25 Propaganda 26 Etnografia 27 Fotojornalismo 28 Documentário 29 Humanismo 30 Ciência 31 Arte 32 Glamour 33 Pop 34 Sociedade 35 Topografia 36 Moda 37 Campanha publicitária 38 Paparazzi 39 Conceitual 40 Encenada 41 Performance 42 Arte contemporânea 43 O selfie AS OBRAS 46 Vista da janela em Le Gras, Nicéphore Niépce 48 Autorretrato, Nadar 50 Natureza-morta com frutas e decantador, Roger Fenton 52 A colheita da morte, Timothy H. O’Sullivan 56 Beatrice, Julia Margaret Cameron 58 Os catadores de lixo da praia de Whitby, Frank Meadow Sutcliffe 60 A terceira classe, Alfred Stieglitz 62 A entrada da pirâmide de Miquerinos, Friedrich Adolf Paneth 64 Mecânico e bomba a vapor, Lewis Hine 66 O violino de Ingres, Man Ray 68 Retrato de mãe, Alexander Rodchenko 70 O garfo, André Kertész 72 Mergulhadores, George Hoyningen- -Huene 74 Pimentão (nº 30), Edward Weston 76 Amantes em um café parisiense, Brassaï 78 Nova York, vista noturna, Berenice Abbott 80 Mãe migrante, Nipomo, Califórnia, Dorothea Lange 82 Lavatório no corredor da casa dos Burroughs, condado de Hale, Alabama, Walker Evans 84 Fotograma, Lázló Moholy-Nagy 86 Matador de policial, Weegee 90 Linhas de transmissão no deserto de Mojave, Ansel Adams 92 Soldados americanos desembarcando na praia de Omaha, Dia D, Normandia, França, 6 de junho de 1944, Robert Capa 94 A libertação de Buchenwald, Margaret Bourke-White 96 O beijo no Hôtel de Ville, Robert Doisneau 98 Desfile, Hoboken, Nova Jersey, Robert Frank 100 Estados Unidos, Califórnia, Elliott Erwitt 102 Os reis de Hollywood, Slim Aarons 104 Che Guevara, Alberto Korda 106 Malcolm X, Eve Arnold 108 Jack Ruby assassinando Lee Harvey Oswald, Robert H. Jackson 110 Nascer da Terra, William Anders 114 Algiers, Louisiana, William Eggleston 116 Phan Th.i Kim Phúc, Nick Ut w w w .g gi li. co m .b r 118 Tarde de domingo ensolarada, Whitby, Inglaterra, Ian Berry 120 Autorretrato travestido, Andy Warhol 122 Sem título nº 96, Cindy Sherman 124 Cookie em Tin Pan Alley, Nan Goldin 126 New Brighton, Inglaterra, Martin Parr 130 Cristo imerso em urina, Andres Serrano 132 Louvre 1, Paris, 1989, Thomas Struth 134 Lutz & Alex sentados nas árvores, Wolfgang Tillmans 136 Trabalho pela paz mundial da série Cartazes que dizem o que você quer que eles digam e não Cartazes que dizem o que alguém quer que você diga, Gillian Wearing 138 Hilton Head Island, SC, EUA, 24 de junho de 1992, Rineke Dijkstra 140 Mar Báltico, Rügen, Hiroshi Sugimoto 142 Rondó de flor, Nobuyoshi Araki 144 O homem caindo, Richard Drew 146 Viaduto, Jeff Wall 148 Por baixo das rosas, Gregory Crewdson 150 Amazon, Andreas Gursky 152 Deserto de sal nº 13, Edward Burtynsky TEMAS 156 Clima 157 Arquitetura 158 Beleza 159 Amor 160 Religião 161 Movimento 162 O surreal 163 Natureza 164 Animais 165 Morte 166 Iconografia 167 Celebridade 168 Paisagem urbana 169 Consumismo 170 Classe 171 Pobreza 172 Política 173 Pessoas 174 O momento decisivo 175 Tecnologia 176 Modernidade 177 Textura 178 Gênero 179 Idade 180 Poder 181 Crime 182 Família 183 Vernáculo 184 Esporte 185 Música 186 Cultura jovem 187 Apropriação TÉCNICAS 190 Câmera escura 191 Daguerreótipo 192 Calótipo 193 Cianotipia 194 Colódio úmido 195 Papel albuminado 196 Prata coloidal 197 Platinotipia 198 Colorização manual 199 Cor 200 Dupla exposição 201 Fotograma 202 Luz artificial 203 Fotografia aérea 204 Corte 205 Solarização 206 Fotografia de alta velocidade 207 Kodachrome 208 SLR 209 Longa exposição 210 Fotografia com flash 211 Polaroid 212 Fotomontagem 213 Manipulação fotográfica 214 Foco suave 215 Fotografia digital 216 Índice 223 Museus 224 Créditos das imagens w w w .g gi li. co m .b r Introdução HENRI CARTIER-BRESSON: “É UMA ILUSÃO PENSAR QUE AS FOTOSSÃO FEITAS COM A CÂMERA... ELAS SÃO FEITAS COM OS OLHOS, O CORAÇÃO E A MENTE.” A fotografia pode ser um espelho do mundo ou se aprofundar, explorando a complexidade da psicologia e das emoções huma- nas. Pode capturar um momento fugaz ou marcar a passagem lenta do tempo. Ao longo de sua existência de quase 200 anos, desenvolveu-se mais rápido do que qualquer outra arte visual. As primeiras câmeras apareceram em um momento de grande mudança industrial. Algumas pessoas abraçaram a fotografia como um complemento para as belas-artes, enquanto outras a consideravam uma ferramenta para capturar a realidade da vida cotidiana. Mas os dois grupos a viram como uma disciplina sé- ria que exigia tempo e atenção. Essa fragmentação precoce das abordagens tornou-se múltipla no início do século xx, quando vários movimentos artísticos e de design abraçaram a fotografia, fazendo experiências com a forma e a técnica. O potencial co- mercial do meio também foi reconhecido, primeiro na venda de jornais, depois nos mundos incipientes da moda e publicidade. Essas várias arenas muitas vezes se cruzaram, já que alguns fo- tógrafos financiaram seu trabalho pessoal por meio de projetos comerciais, e fotógrafos comerciais ou fotojornalistas viram sua obra reconhecida como arte. Este livro apresenta uma breve história da fotografia, des- tacando os gêneros e estilos mais significativos no desenvolvi- mento desse meio. Ele traça os desenvolvimentos tecnológicos que testemunharam a transformação da câmera escura inicial na moderna SLR digital. E destaca 50 obras-chave, desde o pic- torialismo e o fotojornalismo até a abstração e o movimento da straight photography (fotografia pura), que tiveram um impacto indelével sobre o curso que a fotografia tomou. Não é um histó- rico exaustivo, mas destaca a importância da fotografia na com- preensão do mundo que nos rodeia. Gêneros ROBERT CAPA: “SE SUAS FOTOS NÃO ESTÃO BOAS O SUFICIEN- TE, É PORQUE VOCÊ AINDA NÃO ESTÁ PERTO O SUFICIENTE.” Nenhum estilo ou movimento específico dominou completa- mente a história da fotografia. Nos primeiros anos, houve uma divisão significativa entre os interessados em representar com precisão o mundo ao seu redor e os fotógrafos interessados em abraçar os princípios estéticos das belas-artes. Os movimentos subsequentes geralmente enalteciam uma dessas posições ou se 6 w w w .g gi li. co m .b r contrapunham a elas. À medida que os estilos mudaram, muitos fotógrafos associados a um movimento específico mudaram seu foco, como evidenciado pelo trabalho de Alfred Stieglitz, que, como Henry Peach Robinson, foi um dos pioneiros do pictoria- lismo, mas depois se distanciou dele, abraçando a abstração e um modo modernista de representação e expressão fotográfica. Esse capítulo não se concentra apenas nas abordagens esté- ticas da prática fotográfica, mas também marca o desenvolvi- mento ideológico e comercial do meio –, do fotojornalismo, da fotografia paparazzi e da propaganda à publicidade, moda e po- lítica. Ele acompanha os avanços na ciência e na natureza, bem como a mudança do tema e do estilo na arte do retrato, desde o trabalho pioneiro de Nadar no final do século xix até o apareci- mento do selfie. As obras EVE ARNOLD: “O QUE TENTEI FAZER FOI ENVOLVER AS PESSOAS QUE ESTAVA FOTOGRAFANDO... SE ESTIVESSEM DISPOSTAS A SE MOSTRAR, EU ESTAVA DISPONÍVEL PARA FOTOGRAFÁ-LAS.” Entre as trilhões de fotos tiradas desde a fotografia de Nicépho- re Niépce pela janela da casa de sua família em 1826, algumas imagens se destacam como marcos importantes no desenvol- vimento da fotografia e como representantes de movimentos, estilos, épocas ou momentos específicos. Essas imagens variam do inovador ao icônico. Algumas, como o retrato de Che Gue- vara feito por Alberto Korda (1960), Jack Ruby assassinando Lee Harvey Oswald (1963) de Robert H. Jackson e O homem caindo de Richard Drew (2001), foram feitas no calor da hora. Outras, como Natureza-morta com frutas e decantador de Roger Fenton (1860), Pimentão (nº 30) (1930) de Edward Weston e Por baixo das rosas (2014) de Gregory Crewdson foram meticulosamente elaboradas. Esse capítulo traça o desenvolvimento do retrato desde o Autorretrato (c.1855) de Nadar e Beatrice (1866) de Julia Margaret Cameron até o Autorretrato travestido (1981) de Andy Warhol e Hilton Head Island, SC, EUA, 24 de junho de 1992 (1992) de Rineke Dijkstra, e destaca o papel que certas fotografias têm desempenhado em um contexto cultural, social ou político. A importância estética e cultural dessas fotografias é discu- tida juntamente com as biografias dos fotógrafos, demonstran- do a importância de cada uma na história relativamente curta desse meio. INTRODUÇÃO 7 w w w .g gi li. co m .b r Temas NAN GOLDIN: “PARA MIM, FOTOGRAFAR NÃO É ALGO QUE FAÇO COM DISTANCIAMENTO. É UMA MANEIRA DE TOCAR ALGUÉM – UMA CARÍCIA.” Os temas muitas vezes abrangem uma variedade de gêneros ao longo da história da fotografia, destacando as diferentes aborda- gens tomadas pelos fotógrafos, mas atravessando os diversos esti- los de um determinado período. Eles nos ajudam a compreender como a inovação e o desenvolvimento tecnológico ajudaram o meio e como mudaram as atitudes em relação a determinados assuntos. Fornecem um registro da maneira como percebemos a nós mesmos e ao mundo que nos rodeia, tanto ambientes natu- rais como urbanos. Técnicas ALFRED STIEGLITZ: “ONDE QUER QUE HAJA LUZ, PODE-SE FOTOGRAFAR.” Embora a função de uma câmera permaneça a mesma, existe um vasto oceano entre os primeiros equipamentos fotográficos e a complexidade técnica das câmeras de hoje. Esse capítulo mos- tra o desenvolvimento da câmera, das primeiras encarnações e principais componentes até sua crescente portabilidade e uso sofisticado da luz, e o surgimento da tecnologia que não só gra- va uma imagem, mas também pode manipulá-la a ponto de se tornar irreconhecível. Ele destaca o papel individual dos fotó- grafos e técnicos no desenvolvimento de certos elementos, desde a fotografia em preto e branco e a colorida até os mecanismos do obturador e o aparecimento dos dispositivos de carga acoplada. Cada item remete aos principais gêneros, obras e temas aborda- dos anteriormente, destacando o rico histórico do meio. 8 INTRODUÇÃO w w w .g gi li. co m .b r Como usar este livro Este livro está dividido em quatro capítulos: Gêneros, Obras, Temas e Técnicas. Cada ca- pítulo pode ser lido independentemente dos outros. A parte central do livro – Obras – apresenta 50 imagens de destaque feitas por Fatos marcantes Referências a temas e técnicas Informações gerais sobre o artista Principais artistas Outras obras importantes do artista fotógrafos consagrados. As referências no rodapé de cada página direcionam o leitor de um capítulo para outro, enquanto os blo- cos de informações incluem fatos marcantes ou biografias. Artista, método, dimensões e local Data da obra Referências a movimentos, temas e técnicas 9 w w w .g gi li. co m .b r w w w .g gi li. co m .b r GÊNEROS MONOCROMÁTICO 12 • PICTORIALISMO 13 • FOTOGRAFIA PURA 14 • RETRATO 15 • PAISAGEM 16 • FOTOGRAFIA DE RUA 17 • COR 18 • NU 19 • NATUREZA-MORTA 20 • AUTORRETRATO 21 • ABSTRAÇÃO 22 • VANGUARDA 23 • GUERRA 24 • PROPAGANDA 25 • ETNOGRAFIA 26 • FOTOJORNALISMO 27 • DOCUMENTÁRIO 28 • HUMANISMO 29 • CIÊNCIA 30 • ARTE 31 • GLAMOUR 32 • POP 33 • SOCIEDADE 34 • TOPOGRAFIA 35 • MODA 36 • CAMPANHA PUBLICITÁRIA 37 • PAPARAZZI 38 • CONCEITUAL 39 • ENCENADA 40 • PERFORMANCE 41 • ARTE CONTEMPORÂNEA 42 • O SELFIE 43 w w w .g gi li. co m .b r 12 GÊNEROS Caracterizado por tons de uma única cor, “monocromático” geralmente significa pre- to e branco, que dominava o uso sério do meio fotográfico até a cor começar a atrair atenção crítica nos anos 1970. O fato de só conseguirem capturar o mundo em preto e branco não constituiu um obstáculo para o público fascinado pelas primeiras fotografias. O tomde uma ima- gem diferia em cada processo, do daguerreó- tipo ao calótipo (ver pp.191 e 192), enquanto a cianotipia apresentava uma tonalidade azul (p.193), e a platinotipia (p.197), como esse retrato de Aubrey Beardsley feito por Frederick H. Evans (1853-1943), adiciona- va brilho. No início do século xx, o preto e branco convencional tornou-se a regra, com a proliferação de jornais estabelecendo-o como representação confiável da realidade. A fotografia séria, desde o fotojornalis- mo e os trabalhos documentais até obras com inclinações mais artísticas, ignorava os avanços em filme colorido em sua maior parte. Com o tempo, as revistas começaram a usar cor, mas a notícia “real” permane- ceu em preto e branco. Somente na déca- da de 1970, com o trabalho de fotógrafos como William Eggleston e Joel Meyerowitz (n.1938) é que a crítica estabelecida aceitou a cor como equivalente ao monocromático. VISTA DA JANELA EM LE GRAS p.46 A TERCEIRA CLASSE p.60 FOTOGRAMA p.84 MATADOR DE POLICIAL p.86 O MOMENTO DECISIVO p.174 DAGUERREÓTIPO p.191 CALÓTIPO p.192 Monocromático PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: NICÉPHORE NIÉPCE • ALFRED STIEGLITZ • EDWARD WESTON DOROTHEA LANGE • WEEGEE • SEBASTIÃO SALGADO Portrait of Aubrey Beardsley, Frederick H. Evans, 1894, cópia em prata coloidal, 14,9 × 10,8 cm, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles FATOS RELEVANTES Uma pequena variação no preto e branco convencional foi obtida no século xx com o processo de colorização, que era comumente produzido por meio do uso de papéis de impressão tingidos. Utilizava-se uma única cor, visível nas áreas claras e nos meios-tons de uma imagem revelada. Papéis albuminados em tons sutis de rosa e azul surgiram a partir da década de 1870, e o malva ou rosa estaria disponível em papéis para cópia em prata coloidal uma década mais tarde. w w w .g gi li. co m .b r GÊNEROS 13 O movimento pictorialista marcou um afas- tamento do documental em direção a uma disciplina em que as fotografias visam atin- gir a qualidade estética da pintura. O movimento, que abrangeu aproxima- damente os anos de 1880 a 1910, teve sua perspectiva teórica delineada no livro Pic- torial Effect in Photography (1869). O autor, Henry Peach Robinson (1830-1901), sugeria que, se um fotógrafo fosse um artista ge- nuíno, a visão do mundo capturada por ele possuiria mais verdade que qualquer fac-sí- mile documental. Robinson tolerava o uso de efeitos ou truques para alcançar essa vi- são. Essa rebelião contra o dogma da maio- ria das sociedades de fotografia resultou em uma série de secessões por parte desses fotó- grafos artistas, que incluíam em suas fileiras Robinson, Frank Meadow Sutcliffe, Alfred Stieglitz, Fred Holland Day (1864-1933), Heinrich Kühn (1866-1944), Clarence H. White (1871-1925) e Edward Steichen (1879- 1973). Uma abordagem artística havia sido adotada por fotógrafos anteriores, como Ju- lia Margaret Cameron, mas os grupos pic- torialistas e secessionistas foram o primeiro movimento coerente a defender a expressão pessoal do meio. Pictorialismo PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: HENRY PEACH ROBINSON • FRANK MEADOW SUTCLIFFE ALFRED STIEGLITZ • EDWARD STEICHEN • PAUL STRAND • CLARENCE H. WHITE BEATRICE p.56 OS CATADORES DE LIXO DA PRAIA DE WHITBY p.58 CLIMA p.156 BELEZA p.158 PLATINOTIPIA p.197 FATOS RELEVANTES Alfred Stieglitz desempenhou um papel significativo no movimento pictorialista dos Estados Unidos. Em 1902, ele supervisionou a criação da Photo- Secession e trabalhou diretamente com Edward Steichen para promovê-la. Entretanto, mais tarde se afastaria do movimento. Quando o trabalho do dia está feito, Henry Peach Robinson, 1877, cópia em papel albuminado e prata, 56 x 74,5 cm, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles w w w .g gi li. co m .b r 14 GÊNEROS A imagem mais antiga existente é um exem- plo da fotografia pura, termo que assumiu um significado maior quando foi adotado por um grupo que reagiu contra o pictorialismo. Foi o crítico japonês criado por alemães Sadakichi Hartmann quem inventou o termo “straight photography”. Embora não fosse um fotógrafo praticante, ele despre- zava aqueles que procuravam equiparar o meio à pintura em vez de aceitá-lo em seus próprios termos. Essa mudança ocorreu à medida que o modernismo ganhava impul- so em todas as formas de arte. Nos Estados Unidos, Alfred Stieglitz, seguido pelos an- tigos pictorialistas Edward Steichen e Paul Strand (1890-1976), avançou em direção a um estilo documental que também abraçou a abstração. Depois de alguns anos, essa nova tendência produziu as obras seminais A terceira classe (p.60), Wall Street, Nova York (1921) e, mais tarde, Rodas (1939), de Charles Sheeler (1883-1965). Na Califórnia, Edward Weston e outros fundaram o Grupo f/64, que promovia a aplicação da fotografia pura, empregando câmeras de grande for- mato sem qualquer efeito e obtendo cópias nítidas e focalizadas. Sua série de pimentões exaltava a beleza e a pureza das formas por meio da abstração (ver p.22). A TERCEIRA CLASSE p.60 PIMENTÃO (Nº 30) p.74 LINHAS DE TRANSMISSÃO NO DESERTO DE MOJAVE p.90 MODERNIDADE p.176 Fotografia pura PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: ALFRED STIEGLITZ • PAUL STRAND • ANSEL ADAMS EDWARD WESTON • WILLARD VAN DYKE • IMOGEN CUNNINGHAM FATOS RELEVANTES O Grupo f/64 era mais do que um coletivo de fotógrafos com ideias afins. Formado no apartamento-galeria de Willard Van Dyke (1906- 1986) em Oakland, Califórnia, ele assumiu uma posição política para promover uma estética modernista. A primeira exposição do grupo foi realizada em 15 de novembro de 1932 e apresentou o trabalho dos fundadores Ansel Adams, Imogen Cunningham (1883-1976), John Paul Edwards (1884-1968), Sonya Noskowiak (1900-1975), Henry Swift (1891-1962), Edward Weston e Van Dyke. Olhando para o lago em direção às montanhas, “Fim de tarde, Lago McDonald, Glacier National Park”, Montana, Ansel Adams, 1941-1942, Arquivo Nacional, Washington D.C. w w w .g gi li. co m .b r GÊNEROS 15 Um ano depois que Louis Daguerre (1787- 1851) produzu uma imagem de uma avenida parisiense, os retratos fotográficos começa- ram a aparecer, embora exigissem muita paciência por parte da pessoa fotografada. Em outubro de 1839, Robert Cornelius (1809-1893) fez um autorretrato. Logo foi seguido por John William Draper (1811- 1882), que produziu um retrato de sua irmã. As duas fotos exigiam que o modelo perma- necesse absolutamente imóvel por mais de um minuto. À medida que as objetivas se tornavam mais sofisticadas e o tempo de ex- posição diminuía, a qualidade dos retratos melhorava. Julia Margaret Cameron usava uma câmera de grande formato para pro- duzir retratos evocativos que anunciavam o estilo pictorialista. Contemporâneos criti- caram suas gafes técnicas, em forte contras- te com o trabalho de Nadar, que fez avançar significativamente o potencial do retrato capturando aspectos da personalidade de seus modelos e evitando a postura rígida dos retratos anteriores. A rainha Vitória foi regularmente fotografada. A fotografia foi usada por Hollywood para promover as es- trelas de cinema e suas vidas aparentemente glamourosas, e se tornou um elemento bá- sico da indústria da moda; ela é agora uma prática diária nas mídias sociais. Retrato PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: NADAR • CECIL BEATON • YOUSUF KARSH • ARNOLD NEWMAN EVE ARNOLD BEATRICE p.56 RETRATO DE MÃE p.68 MÃE MIGRANTE, NIPOMO, CALIFÓRNIA p.80 MALCOLM X p.106 CELEBRIDADE p.167 PODER p.180 Abraham Lincoln, retrato em três quartos, sentado e segurando seus óculos e um lápis, Alexander Gardner, 1865, Biblioteca do Congresso, Washington D.C. FATOS RELEVANTES Esse retrato de Abraham Lincoln feito em 1865 por Alexander Gardner (1821-1882) não foi a primeira fotografia de um presidente dos Estados Unidos em exercício, mas continua a ser uma das mais icônicas.Gardner fotografou Lincoln em sete ocasiões, incluindo seu funeral. Também foi o autor dos dois volumes de Gardner’s Photographic Sketch Book of the War (1866; ver p.52). w w w .g gi li. co m .b r 16 GÊNEROS Depois de refletir inicialmente o romantis- mo da pintura do século xix, a fotografia de paisagem se diversificou para englobar o estudo científico das formações terrestres e o impacto humano sobre o meio ambiente. Tanto J.M.W. Turner (1775-1851) como John Constable (1776-1837) estavam vivos nos primórdios da fotografia, e o modo como abordaram a paisagem se reflete nas técnicas pictóricas dos primeiros fotógrafos que se propuseram a capturar o mundo na- tural. Se os pictorialistas estavam interessa- dos em adotar elementos das belas-artes em seus trabalhos, muitos fotógrafos documen- tais norte-americanos da década de 1860 procuravam capturar uma visão precisa da vasta paisagem do país. Em 1861, Carleton Watkins (1829-1916) fotografou o parque Yosemite, e assim definiu o padrão. Du- rante a década seguinte, foi produzido um extraordinário corpo de trabalho, boa parte a partir de estudos geológicos que tinham como destaque as fotografias de William Henry Jackson e Timothy H. O’Sullivan. A incorporação da abstração na obra de Alfred Stieglitz e Edward Weston adicionou ambi- guidade à forma e ao volume, e junto com os pioneiros do século xix estabeleceu o padrão para a fotografia de paisagem. LINHAS DE TRANSMISSÃO NO DESERTO DE MOJAVE p.90 DESERTO DE SAL Nº 13 p.152 CLIMA p.156 NATUREZA p.163 FOTOGRAFIA AÉREA p.203 Paisagem PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: CARLETON WATKINS • WILLIAM HENRY JACKSON TIMOTHY H. O’SULLIVAN • EDWARD WESTON • ANSEL ADAMS FATOS RELEVANTES A intenção de William Henry Jackson em suas fotografias de Yellowstone era persuadir o Congresso dos Estados Unidos a preservar a área para as gerações futuras, o que aconteceu em 1872, tornando a área o primeiro parque nacional do país. O trabalho de Jackson foi continuado por uma longa lista de fotógrafos norte-americanos preocupados com o impacto da humanidade sobre o meio ambiente. Em 1861, Carleton Watkins (1829-1916) realizou um vasto estudo do parque Yosemite, empregando uma câmera enorme de placa de vidro para capturar imagens deslumbrantes da paisagem. Os pioneiros posteriores incluem o eternamente popular Ansel Adams, Eliot Porter (1901-1990), Philip Hyde (1921- 2006), Robert Glenn Ketchum (n.1949) e Edward Burtynsky. Pedra de Agassiz e Cataratas de Yosemite vistas a partir de Union Point, Carleton Watkins, 1878, 54,4 × 39,2 cm, The J. Paul Getty Museum, Los Angelesw w w .g gi li. co m .b r GÊNEROS 17 Os fotógrafos levavam suas câmeras cada vez mais portáteis para as ruas das cidades e vilarejos do mundo para capturar a vida, muitas vezes de forma inesperada. O fluxo de pessoas para áreas metropoli- tanas no final do século xix e início do sécu- lo xx deu aos fotógrafos oportunidades ricas de registrar a ebulição da atividade humana. Limpadores de chaminés andando (1851) de Charles Nègre (1820-1880) é um exemplo inicial, mas sua abordagem prosaica apon- tava para o trabalho posterior de Jacob Riis (1849-1914), Eugène Atget (1857-1927), Ali- ce Austen (1866-1952) e Lewis Hine. Paris foi capturada de dia e de noite por Brassaï, depois por Henri Cartier-Bresson (1908- 2004) e Robert Doisneau, cuja fotografia humanista influenciou as gerações posterio- res. Em Nova York, Saul Leiter (1923-2013) empregou a cor sutilmente, muitas vezes fotografando através de vidro ou com obje- tos desfocados no primeiro plano. O livro de Robert Frank The Americans (1958) trans- formou a fotografia de rua, apresentando uma visão mais pessoal de um mundo. No ano seguinte, Shigeichi Nagano (n.1925) começou a documentar a transformação social e infraestrutural de Tóquio. Gary Wi- nogrand (1928-1984), Diane Arbus (1923- 1971) e Martin Parr se seguiram, atenuando a linha entre fotografia de rua e vernacular. Fotografia de rua PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: JACOB RIIS • EUGÈNE ATGET • BRASSAÏ • HENRI CARTIER-BRESSON VIVIAN MAIER • SAUL LEITER • ROBERT FRANK • DIANE ARBUS • MARTIN PARR O BEIJO NO HÔTEL DE VILLE p.96 DESFILE, HOBOKEN, NOVA JERSEY p.98 NEW BRIGHTON, INGLATERRA p.126 VIADUTO p.146 O MOMENTO DECISIVO p.174 VERNÁCULO p.183 CULTURA JOVEM p.186 SLR p.208 FATOS RELEVANTES Admirado pelo príncipe Albert, Camille-Léon-Louis Silvy (1834-1910) era fotógrafo de retratos e um dos primeiros fotógrafos de rua. Nascido em Paris, ele aprendeu sua arte com o conde Olympe Aguado (1827-1894), um acólito de Gustave Le Gray (1820-1884). Em 1858, Silvy mudou-se para a Inglaterra e criou uma série de imagens que capturavam a vida nas ruas de Londres. Crepúsculo, Camille Silvy, cópia em papel albuminado e prata, 27,4 × 22 cm, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles w w w .g gi li. co m .b r 18 GÊNEROS Inicialmente, a fotografia em cores enfren- tou uma luta árdua contra críticos que não viam nela nenhum valor artístico, até terem sua opinião alterada por uma nova geração de fotógrafos. As primeiras tentativas de fotografia em cores, como a fita tartã de James Clerk Maxwell (1831-1879) ou a vista de Agen, na França, feita por Louis Arthur Ducos du Hauron (1837-1920) em 1877, foram ex- perimentos rudimentares. O autocromo e o Kodachrome perceberam plenamente o potencial do filme colorido, mas o estab- lishment crítico e a maioria dos fotógrafos se recusaram a aceitar a inovação, conside- rando-a uma distração em relação à com- posição de uma imagem e ao uso da luz. Alguns viram nisso pouco mais que um truque, melhor usado pelos turistas que por fotógrafos sérios. Ferenc Berko (1916-2000) discordou e incorporou-o ao seu trabalho. Saul Leiter usou a cor de forma evocativa em suas representações de Nova York nos anos 1950. O surgimento de Marie Cosin- das (1925-2017), Joel Meyerowitz e William Eggleston transformou a opinião crítica, e a fotografia em cores agora está em base de igualdade com o preto e branco. A ENTRADA DA PIRÂMIDE DE MIQUERINOS p.62 ALGIERS, LOUISIANA p.114 SEM TÍTULO Nº 96 p.122 CIANOTIPIA p.193 COLORIZAÇÃO MANUAL p.198 COR p.199 KODACHROME p.207 Cor PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: WILLIAM EGGLESTON • MARIE COSINDAS • JOEL MEYEROWITZ STEVE MCCURRY • MARTIN PARR • ANDRES SERRANO • NOBUYOSHI ARAKI FATOS RELEVANTES Em 1962, Marie Cosindas fez parte do seleto grupo convidado pelo fundador da Polaroid Corporation, Edwin H. Land, para experimentar o novo filme de revelação instantânea da empresa. Anteriormente, a Cosindas tinha utilizado somente preto e branco. Abraçando a nova tecnologia, ela passou a explorar o potencial da cor na fotografia de belas- -artes. Sua exposição individual no MoMA em Nova York, em 1966, foi uma das primeiras exposições de fotografia em cores em um museu. A entrada da pirâmide de Miquerinos, Friedrich Adolf Paneth, 1913, autocromo, Royal Photographic Society, Reino Unido w w w .g gi li. co m .b r GÊNEROS 19 Inspirado na pintura, o nu fotográfico englobou o erotismo, a anatomia e a por- nografia, bem como o estudo da forma e a identidade de gênero. Em nenhuma outra parte a qualidade pictórica do nu fotográfico é mais evidente do que na série de estudos realizados por Eugène Durieu (1800-1874) em 1854 para o pintor Eugène Delacroix (1798-1863), ou em Académie (1900) de Robert Demachy (1859- 1936), ao estilo de Degas, em que a expressão aparentemente desinteressada de sua jovem modelo se distancia e atrai a curiosidade do observador ao mesmo tempo. A série “Orfeu” (1907) de Frederick Holland Day (1864-1933) foi o epítome do pictorialismo em sua evocação dos personagens clássicos, um contraste perfeito com os movimentos emergentes no início do século xx que deu uma qualidade totalmente diferente às re- presentações do nu. Man Ray (ver p.66) e AndréKertész fotografavam seus modelos através do prisma do surrealismo, e isso teve continuidade por Bill Brandt (1904-1983) em sua série “Perspectiva de nus” (1961). Na América, Alfred Stieglitz e Edward Weston empregaram a abstração em seus estudos da forma, enquanto Ruth Bernard (1905-2006) se destaca como uma das poucas fotógrafas conhecidas por estudos de nus, explorando a forma feminina a partir de uma perspec- tiva menos sexualizada que a da maioria de seus colegas homens. Nu PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: ROBERT DEMACHY • MAN RAY • ANDRÉ KERTÉSZ ALFRED STIEGLITZ • EDWARD WESTON • RUTH BERNARD • NOBUYOSHI ARAKI O VIOLINO DE INGRES p.66 LUTZ & ALEX SENTADOS NAS ÁRVORES p.134 BELEZA p.158 O SURREAL p.162 CELEBRIDADE p.167 GÊNERO p.178 Depois do banho, mulher secando as costas, Edgar Degas, 1896, cópia em prata coloidal, 16,5 × 12 cm, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles FATOS RELEVANTES No fim do século xix, Edgar Degas (1834-1917) tornou-se um defensor apaixonado da fotografia. A maioria de suas imagens foi feita à noite, muitas vezes depois de um jantar de gala, usando a luz de um lampião para criar a atmosfera e enfatizar o psicológico sobre o físico. Sua paixão pelo meio pode ter sido breve, mas facilitou comparações com seu trabalho em outras formas de arte. w w w .g gi li. co m .b r 20 GÊNEROS Nunca uma mera coleção de objetos, uma natureza-morta podia representar rique- za ou posição social e, ao mesmo tempo, destacar inovações tecnológicas e refletir mudanças de atitude em relação à forma e à representação. Derivada da palavra holandesa stilleven, a natureza-morta é reconhecida como o estudo visual de objetos cotidianos, sejam da natureza ou de um ambiente domésti- co. Roger Fenton, que trabalhava em um catálogo fotográfico do acervo do Museu Britânico, mostrou sua habilidade em ilu- minação e composição na obra Natureza- -morta com frutas e decantador (p.50). Seu trabalho foi equiparado ao dos franceses Charles Aubry (1811-1877), Adolphe Braun (1812-1877) e Louis Ducos du Hauron. O barão Adolf de Meyer (1868-1946) adotou uma abordagem mais pictórica de seus te- mas, como em Vidro e sombras (1905), que rapidamente contrastou com o surgimento de novos movimentos artísticos. No mo- dernismo, os fotógrafos exploram as for- mas por meio da abstração. Jaromír Funke (1896-1945) incorporou essa estética em obras como A espiral (1924), enquanto O garfo de André Kertész (p.70) e Pimentão (nº 30) de Edward Weston (p.74) tornaram objetos comuns estranhos visualizando-os de ângulos incomuns. O GARFO p.70 PIMENTÃO (Nº 30) p.74 AMAZON p.150 O SURREAL p.162 CONSUMISMO p.169 TEXTURA p.177 Natureza-morta PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: ROGER FENTON • LOUIS DUCOS DU HAURON • JAROMÍR FUNKE ANDRÉ KERTÉSZ • EDWARD WESTON • ROBERT MAPPLETHORPE Objetos de Morandi, Garrafas brancas, Joel Meyerowitz, 2015 FATOS RELEVANTES Uma comparação fascinante entre a pintura e a fotografia de natureza-morta pode ser encontrada nos estudos do ateliê de Giorgio Morandi (1890-1964) em Bolonha, feitos pelo pioneiro da fotografia colorida Joel Meyerowitz. O perfeccionismo de Morandi, que passava meses trabalhando em cada pintura, é correspondido nas imagens de Meyerowitz, cuja composição é produzida com atenção a linhas, texturas e sombras. w w w .g gi li. co m .b r GÊNEROS 21 Os fotógrafos, assim como os pintores antes deles, criavam autorretratos. Alguns ajuda- ram a definir o formato, antes que o selfie o tornasse uma atividade cotidiana. Os autorretratos variam do convencio- nal e acidental ao divertido e provocativo. O primeiro retrato fotográfico, um autor- retrato de 1839 feito por Robert Cornelius, é convencional comparado ao trabalho de fotógrafos posteriores como El Lissitzky (1890-1941), cujo estudo a partir de 1924 é uma série complexa de imagens sobrepos- tas que refletem o etos dos construtivistas russos. O melhor exemplo do autorretrato no século xix foi o de Nadar, que se foto- grafou inúmeras vezes, ostentando a moda do dia, vestindo uma série de disfarces ou retratado contra uma variedade de cená- rios. Sua imensa habilidade é evidente em todos eles. Claude Cahun (1894-1954), muitas vezes auxiliado por seu parceiro e colega artista Marcel Moore (1892-1972), também adotou vários papéis na fren- te da câmera. Seu objetivo era explorar as convenções e a identidade de gênero. Cindy Sherman adotou uma abordagem semelhante (ver p.122), enquanto Andy Warhol explorou seu relacionamento com celebridades ao longo de duas décadas de autorretratos. Autorretrato PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: NADAR • EL LISSITZKY • CLAUDE CAHUN • ANDY WARHOL CINDY SHERMAN AUTORRETRATO p.48 AUTORRETRATO TRAVESTIDO p.120 SEM TÍTULO Nº 96 p.122 O SURREAL p.162 CELEBRIDADE p.167 GÊNERO p.178 Autorretrato com entregador de jornal, Lewis W. Hine, 1908, cópia em prata coloidal, 13,8 × 11,8 cm, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles FATOS RELEVANTES Alguns fotógrafos estão presentes em seus trabalhos por meio de um truque de luz ou uso de espelho. Man Ray, Diane Arbus, Nan Goldin, Lee Friedlander (n. 1934), Eve Arnold e Weegee aparecem em autorretratos por meio do uso de espelhos. Sombras também permitem que os fotógrafos estejam presentes em uma foto. Lewis Hine apareceu em sua fotografia de um entregador de jornal em 1908, enquanto Claude Monet (1840-1926) foi registrado somente na parte inferior do quadro em sua obra Sombra no lago de nenúfares (1920). w w w .g gi li. co m .b r 22 GÊNEROS Coincidindo com o surgimento do moder- nismo, a fotografia abstrata enfatizou as formas em relação ao figurativo e foi uma reação contra a tendência pictorialista. As mudanças rápidas ocorridas na virada do século xx resultaram em uma reavaliação da arte e de seu papel na sociedade. Vários fotógrafos importantes que se afastaram do realismo em direção à arte no final do século xx retornaram à fotografia pura para ex- plorar as formas por meio da abstração. Os primeiros experimentos com fotomontagem (ver p.212) brincavam com as formas, mas, na fotografia convencional, a abstração con- solidou-se por meio de obras como Padrões simétricos de formas naturais (1914) de Erwin Quedenfeldt (1869-1948) e Wall Street, Nova York de Paul Strand. A última imagem fez parte da exposição “Paul Strand, por volta de 1916”, um marco na fotografia moder- nista. Artistas tão diversos como László Moholy-Nagy, André Kertész, Curtis Moffat (1887-1949) e Man Ray seguiram o exemplo, enquanto nos Estados Unidos Alfred Stie- glitz examinou formações de nuvens duran- te uma década e Edward Weston explorou a angularidade e a textura em seus estudos de natureza-morta e nus. PIMENTÃO (Nº 30) p.74 FOTOGRAMA p.84 O SURREAL p.162 MODERNIDADE p.176 CIANOTIPIA p.193 FOTOGRAMA p.201 Abstração PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: ALFRED STIEGLITZ • PAUL STRAND • ANDRÉ KERTÉSZ • MAN RAY • LÁSZLÓ MOHOLY-NAGY • EDWARD WESTON • JAN GROOVER Árvore com cachorro, Tina Modotti, 1924, cópia em paládio, 8,3 × 11,9 cm, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles FATOS RELEVANTES O segredo do trabalho de muitos fotógrafos que exploraram a abstração foi o uso da justaposição. Os fotogramas eram eficazes quanto à maneira como cada objeto era disposto no papel sensível à luz, enquanto Óculos e cachimbo de Mondrian (1926) de André Kertész tornou-se uma série de linhas contidas na geometria nítida do canto de uma mesa. O trabalho de Jan Groover (1943- 2012) foi mais longe, muitas vezes negando o espaço visual para identificar os objetos dentro de um quadro. w w w .g gi li. co m .b r GÊNEROS 23 Nas primeiras décadas do século xx, a foto- grafia se dividiu em diferentes movimentos, refletindo as mudanças políticas e culturais nas artes e na sociedade em geral. Se a trajetória da fotografia no século xix esteve sempre a um passodos principais movimentos artísticos da época, ela colidiu com eles a partir do início do século xx. O envolvimento do cubismo com a forma mecânica insinuou o papel que a fotogra- fia logo desempenharia na vanguarda, e os movimentos dadaísta e surrealista viram o potencial desse meio vigoroso. Na República de Weimar, a Staatliches Bauhaus abraçou a fotografia a pedido de László Moholy-Nagy, que dominava a paisagem cultural com seus fotogramas e fotos angulares de paisagens. Na União Soviética, a fotografia estava na vanguarda de um movimento que impul- sionou mudanças radicais na sociedade. Alexander Rodchenko abandonou a pintura para desenvolver um estilo fotográfico que, como o de Moholy-Nagy, abraçou perspecti- vas oblíquas, muitas vezes de cima. Mas seu trabalho, juntamente com o de El Lissitzky, Gustav Klutsis (1895-1938) e Max Penson (1893-1959), que visava capturar o ímpeto da vida moderna, foi comprometido pelo regime brutal de Stálin. Vanguarda PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS: MAN RAY • LÁSZLÓ MOHOLY-NAGY • ALBERT RENGER-PATZSCH ALEXANDER RODCHENKO • EL LISSITZKY • GUSTAV KLUTSIS O VIOLINO DE INGRES p.66 RETRATO DE MÃE p.68 FOTOGRAMA p.84 O SURREAL p.162 MODERNIDADE p.176 FOTOMONTAGEM p.212 Film und Foto (Exposição internacional da Confederação da indústria Alemã em Stuttgart), Willi Ruge, 1929, litografia offset, 84 × 58,5 cm, MoMA, Nova York, EUA FATOS RELEVANTES “Film und Foto” é considerada a primeira grande exposição de fotografia europeia e americana, cujos curadores foram László Moholy-Nagy e Sigfried Giedion (1888-1968). O icônico cartaz do evento foi desenhado por Jan Tschichold (1902-1974), que se tornou o principal defensor do design modernista. Inspirado por uma exposição de 1923 feita pela Bauhaus de Weimar, seu trabalho teve enorme influência no desenvolvimento da tipografia. w w w .g gi li. co m .b r
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