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Disciplina: Ambientes virtuais de aprendizagem e metodologias ativas Autora: M.e Patricia Affonso Gaspar Revisão de Conteúdos: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Patricia Affonso Gaspar Ambientes virtuais de aprendizagem e metodologias ativas 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Designer Instrucional Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA GASPAR, Patrícia Affonso. Ambientes virtuais de aprendizagem e metodologias ativas / Patrícia Affonso Gaspar. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 66 p. ISBN: 978-85-5475-517-1 1. Avanços Tecnológicos. 2. Didático-pedagógico. 3. Educação a Distância-EaD. Material didático da disciplina de Ambientes virtuais de aprendizagem e metodologias ativas – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio....................................................................................................... 07 Aula 1 – Relações entre Educação e Tecnologia ....................................... 08 Apresentação da aula 1 .............................................................................. 08 1.1 - Breve introdução à ciência e à tecnologia .................................... 08 1.2 - A questão da inclusão digital ....................................................... 10 1.3 - A Educação a Distância (EaD) ..................................................... 13 1.3.1 - Abordagens tecnológicas e pedagógicas da EaD ..................... 17 Conclusão da aula 1 ................................................................................... 20 Aula 2 – Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), conceitos e características ............................................................................................ 21 Apresentação da aula 2 .............................................................................. 21 2.1 - Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) ............................... 22 2.2 - Características e recursos fundamentais de um AVA .................. 23 2.3 - A interatividade na aprendizagem ............................................... 27 2.3.1 - Formas de aprender e formas de ensinar ................................. 28 2.4 - Ambientes Virtuais Imersivos ...................................................... 30 Conclusão da aula 2 ................................................................................... 34 Aula 3 – Abordagens teórico-metodológicas para o design e desenvolvimento de conteúdos para o AVA ............................................... 35 Apresentação da aula 3 .............................................................................. 35 3.1 - Abordagens teórico-metodológicas para o design e desenvolvimento de conteúdo para o AVA ................................................. 35 3.2 - Técnicas de ensino e seleção de recursos de um AVA ................ 39 3.3 - Gestão de EaD baseados em AVA .............................................. 40 3.3.1 - A questão da distância transacional ......................................... 42 3.3.2 - Sentir-se parte de um grupo ..................................................... 44 Conclusão da aula 3 ................................................................................... 46 Aula 4 – O futuro dos ambientes virtuais de aprendizagem ........................ 47 Apresentação da aula 4 .............................................................................. 47 4.1 - O futuro dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem ...................... 48 4.2 - Next Generation Digital Learning Environment (NGDLE) ............ 52 4.2.1 - Dimensões do NGDLE ............................................................. 54 4.2.1.1 - Interoperabilidade e integração ............................................. 55 4.2.1.2 - Personalização ...................................................................... 55 4.2.1.3 - Dados analíticos e avaliação da aprendizagem ..................... 56 6 4.2.1.4 - Colaboração .......................................................................... 58 4.2.1.5 - Acessibilidade e design universal .......................................... 58 4.2.2 - Lego ......................................................................................... 59 Conclusão da aula 4 ................................................................................... 59 Conclusão da disciplina .............................................................................. 61 Índice Remissivo ........................................................................................ 63 Referências ................................................................................................ 65 7 Prefácio Na disciplina de Ambientes virtuais de aprendizagem serão abordadas as relações entre tecnologia e educação, bem como os princípios que orientaram o desenvolvimento da Educação a Distância (EaD) ao longo do século. Também serão abordados os conceitos de AVA, suas características e recursos, e as possibilidades de aprendizagem em Ambientes Virtuais Imersivos, baseados em realidade virtual, simulações, gamificação e jogos. Serão estudadas as abordagens teórico-metodológicas que orientam o design e o desenvolvimento de conteúdo para AVAs, limitações das plataformas atuais e os conceitosde NGDLE, que promete soluções que de fato atendam as novas demandas da educação no ensino superior. 8 Aula 1 – Relações entre educação e tecnologia Apresentação da aula 1 Diante dos avanços tecnológicos das últimas décadas, precisamos pensar o papel da tecnologia na educação, nos processos de aprendizagem e na prática docente. Mais do que somente estudar as modalidades da Educação a Distância e dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, é necessário compreender, de forma crítica, as novas configurações de ensinar e aprender com tecnologias, bem como os desafios decorrentes dessa transformação nas relações de ensino e aprendizagem. Nesta aula serão abordados fatores históricos e teóricos que fundamentam a modalidade EaD. A análise das teorias e tendências pedagógicas é fundamental para que se possa compreender as agências da tecnologia digital na educação, bem como para identificar estratégias para ampliar a qualidade do ensino. 1.1 Breve introdução à ciência e à tecnologia É necessário compreender a tecnologia não somente como artefato, mas como conhecimento científico. A tecnologia e conhecimento científico são termos indissociáveis, já que estão profundamente interligados, sendo necessário também abandonar a visão reducionista de que a tecnologia está descontextualizada da sociedade, como se o desenvolvimento tecnológico fosse autônomo e neutro. Deve-se considerar que todo desenvolvimento tecnológico é precedido de uma série de decisões humanas, que, muitas vezes, tendem a favorecer um grupo em detrimento de outros. Ainda que tenham contribuído para o aumento do bem-estar das pessoas, a ciência e a tecnologia, muitas vezes, são produzidas a partir de visões pouco democráticas, que reproduzem o domínio de alguns grupos sobre os outros. O desenvolvimento tecnológico deve ser democrático para que possa promover o bem-estar de consumidores, trabalhadores e a preservação do meio ambiente. A inclusão democrática de todos os grupos que são impactados pela tecnologia pode ser uma oportunidade para reorientar o desenvolvimento 9 tecnológico na direção da qualidade compartilhada, também conhecida como qualidade social. As novas tecnologias devem conciliar as demandas econômicas, sociais e ambientais, buscando produzir valor para a sociedade como um todo, e não somente para poucos. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Os estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade (habitualmente identificados pelo acrônimo CTS) apresentam-se como uma análise crítica e interdisciplinar da Ciência e da Tecnologia em um contexto social, com o objetivo de compreender os aspectos gerais do fenômeno científico- tecnológico. Leia na integra acessando o link disponível: https://www.oei.es/historico/salactsi/introducaoestudoscts.php Atualmente, a tecnologia assume um papel central na sociedade, estando integrada ao cotidiano das pessoas. A tecnologia também é fundamental para os sistemas de produção, seja no setor primário, secundário, terciário, público ou privado, provocando transformações não somente na economia, mas nos modos de trabalho e nas relações interpessoais. A tecnologia modificou profundamente a forma como as pessoas adquirem informação e conhecimento. Entretanto, nossos sistemas de ensino permanecem voltados para a era industrial, em que os serviços são concebidos para atender às massas e produzir lucros. É necessário retomar o papel social da educação, investindo em qualidade e remodelando o sistema de ensino para a era digital. Estudos recentes na área da educação concluem que não há apenas uma forma de aprender e que diferentes modalidades de comunicação integram a prática pedagógica. Em sala de aula, é necessário abandonar o modelo baseado na comunicação unidirecional e garantir que professores e alunos possam utilizar a tecnologia para potencializar o aspecto científico, objetivo, dialógico e crítico que uma aula deve ter (FANTIN, 2012). 10 De forma mais abrangente, as políticas educacionais devem garantir que todas as pessoas possam se apropriar das novas tecnologias de forma crítica, atendendo à necessidade de afluência da educação para a cidadania. Curiosidade A tecnologia é um conhecimento que transforma a vida das pessoas no âmbito educacional, social, econômico, cultural e pessoal, desta forma a ciência e tecnologia estão interligadas. É necessário superar a visão determinista de que a “tecnologia provoca mudanças sociais”, como se não houvesse uma série de negociações e decisões humanas que precedem o desenvolvimento tecnológico, ela não é neutra, na medida em que ela reflete os contextos socioculturais; na maioria das vezes, os arranjos tecnológicos tendem a favorecer determinados grupos em detrimento de outros. 1.2 A questão da inclusão digital Para Luz e Muzi (2014), as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e sua utilização por meio das diferentes mídias como internet, filmes, rádio, televisão, games, entre outros, são ferramentas indispensáveis “para o desenvolvimento da vida intelectual do ser humano, pois elas estimulam a formação de comunidades com um grande potencial cultural, informacional, comercial e educacional a ser explorado”. Resultado da convergência entre as tecnologias da computação com as tecnologias da comunicação, as TICs ampliam a produção e a difusão de informações, criando um novo espaço que concentra ciência e tecnologia. Por outro lado, a intensificação do uso das TICs, a velocidade das inovações tecnológicas e as transformações socioeconômicas que elas produzem vêm ampliando cada vez mais as distâncias entre aqueles que dominam daqueles que não dominam as ferramentas informacionais. Sendo assim, pode-se tratar de tecnologia e exclusão social em que a intensificação do uso das novas ferramentas digitais tende em ampliar as distâncias sociais e econômicas entre as pessoas e as novas tecnologias. A desigualdade de acesso 11 às TICs é um problema central para o isolamento e a exclusão de uma parcela significativa da população mundial, inclusive no Brasil. O smartphone é um aparelho móvel que faz uso de tecnologias que permitem acesso à internet e que comportam a convergência das mídias. Smartphone Fonte: https://pplware.sapo.pt/wp-content/uploads/2018/03/facebook-aplicacoes_conta ctos_Maps_apps-720x405.jpg Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para colher os benefícios que a sociedade da informação e do conhecimento tem a oferecer, e também para enfrentar os possíveis riscos gerados pela revolução digital, o Brasil deve se transformar com dinamismo, competitividade e inclusão. Leia na íntegra, TIC Educação, Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras, acessando o link: https://cetic.br/media/docs/ publicacoes/2/tic_edu_2017_livro_eletronico.pdf De acordo com dados publicados pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL, 2016), o Brasil possui mais de 250 milhões de linhas ativas na telefonia móvel, o que representa 1,2 linhas de celular por habitante. O celular está presente em 93% dos lares brasileiros. Entretanto, o uso do smartphone, que possibilita o acesso à internet ainda não é tão abrangente quanto se imagina. De acordo com a Pesquisa Brasileira e Mídia 12 (PBM), pessoas mais idosas ou que possuem baixa renda familiar e menor grau de instrução são as que menos acessam a Internet. Com relação à utilização das TICs para fins de educação, quanto mais baixo é o nível socioeconômico do aluno, mas ele depende exclusivamente do celular para acessar a Internet. De acordo com os resultados da pesquisa TIC Educação (2017), o celular é o único dispositivo de acesso à Internet para 32% dos estudantes da região Norte; para29% na região Nordeste; para 15% Centro- Oeste; para 14% no Sudeste e 10% na região Sul. Além do problema da desigualdade de renda, há uma forte desigualdade de gênero no acesso às TICs. De acordo com a UNESCO (2014), existem aproximadamente 300 milhões de homens a mais do que mulheres que possuem telefones celulares nos países de baixa renda. Devido às características culturais dos países pobres, os homens têm mais acesso e facilidade para utilizar as tecnologias móveis em comparação às mulheres. Para reduzir as desigualdades, é necessário ampliar e melhorar as opções de conectividade. Na medida em que o acesso à informação está diretamente relacionado ao desenvolvimento econômico, é necessário que o governo construa e amplie a infraestrutura tecnológica, sendo este um elemento central para a aprendizagem móvel. A UNESCO (2014) recomenda que os governos façam um diagnóstico da atual infraestrutura de TIC e tracem metas realistas para melhorá-la. Ainda de acordo com a UNESCO (2014), é necessário baratear o acesso às redes, mesmo que isso signifique fornecer subsídios integrais ou parciais para o acesso a serviços móveis de dados e banda larga. Para reduzir as desigualdades de gênero, os formuladores de políticas públicas devem elaborar estratégias que estimulem as meninas a utilizar telefone celular e outros artefatos tecnológicos. A inclusão digital deve garantir que todas as pessoas possam se utilizar das TICs de forma crítica, para buscar a emancipação e a construção da cidadania. Também deve garantir que todas as pessoas sejam alfabetizadas, em sentido amplo, para desenvolver consciência e compreensão do mundo, dessa forma, poderão atuar com criticidade e autonomia no nosso atual contexto social. Estamos educando nossos alunos para serem produtores da informação e não apenas receptores críticos. A educação para a mídia diz respeito à apropriação crítica das tecnologias e do conteúdo informativo das mídias. Já na educação 13 por intermédio das mídias, os alunos aprendem a usar as TICs para pesquisar, processar, desenvolver e criar um conhecimento alinhado à nossa realidade social, cultural e econômica, exercendo assim a cidadania. “Educar por meio das mídias” em que as TICs são incorporadas à educação para potencializar seu caráter crítico e científico, e a “educação para as mídias” torna-se um requisito para a incorporação das TICs nessa dimensão. As políticas educacionais devem, portanto, garantir o acesso equitativo à conectividade móvel. Um estudante que não pode acessar uma rede móvel, seja por razões econômicas ou geográficas, permanecerá excluído dos novos espaços informacionais que atualmente são fundamentais para a sua formação e o seu futuro profissional (UNESCO, 2014). Curiosidade Evitar que os indivíduos se tornem receptores passivos, sem qualquer capacidade de reflexão ou de julgamento sobre as mensagens que recebem, corresponde ao “educar para as mídias” em que as TICs são utilizadas para possibilitar a análise crítica dos conteúdos informativos das mídias. 1.3 A Educação a Distância (EaD) Para diversos autores, como Ramos (2010), Fragale Filho (2003) e Pereira, Schmitt e Dias (2007), a Educação a Distância (EaD), também conhecida como Ensino a Distância, é uma modalidade de ensino que se caracteriza, principalmente, pela separação física entre professor e aluno. O decreto 5.622/2005, ao regulamentar o artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), define a EaD como: [...] a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL, 2005). 14 Munhoz (2013) apresenta as principais vantagens da modalidade EaD a partir dos argumentos utilizados pelos alunos para justificar a escolha de um curso semipresencial ou não presencial: ➢ Facilita a formação de pessoas que, pelos mais diferentes motivos, não podem desenvolver ou concluir seus estudos por meio do método tradicional; ➢ Permite que o estudante selecione os temas mais diretamente relacionados com sua trajetória acadêmica ou com suas atividades profissionais, mesmo que não existam instituições de ensino presenciais em sua cidade; ➢ Permite que o estudante realize seus estudos sem que seja necessário abrir mão do seu trabalho e de obrigações sociais; ➢ Oferece uma ampla variedade de cursos, entre cursos independentes, estudos de formação complementar, cursos técnicos, cursos de graduação, cursos de pós-graduação, e, normalmente, a preços mais acessíveis; ➢ Permite que o estudante escolha o que, onde, quando e como estudar; há também os cursos que flexibilizam a montagem de currículos de acordo com o interesse do aluno; ➢ Permite que o estudante escolha, a partir de suas necessidades pessoais e estilo de aprendizagem, os meios pelos quais receberá o conteúdo didático; ➢ Possibilita que o estudante trabalhe de forma colaborativa; ➢ De acordo com a proposta, pode oferecer atendimento personalizado por meio de orientações, ou mesmo, adaptação do programa conforme as necessidades individuais de cada aluno. Quanto às características que diferem a EaD da educação presencial, Fragale Filho (2003) explica que enquanto na educação presencial a responsabilidade pedagógica recai predominantemente sobre o professor, na EaD ela é compartilhada de forma mais equilibrada pelo professor e pela instituição de ensino, na medida que cabe a ela congregar outros especialistas 15 para a elaboração do material didático, acompanhamento da aprendizagem e avaliação do aluno. Também é pertinente pontuar as diferenças entre eletronic-learning ou e- learning, blended-learning ou b-learning e mobile-learning ou m-learning. O e- learning é caracterizado como um processo educativo sem contato presencial. No entanto, o acesso à interface de um ambiente virtual de aprendizagem permite contato ou encontros virtuais com os outros participantes da comunidade virtual de aprendizagem. A plataforma b-learning é um processo educativo que combina encontros presenciais e encontros virtuais por meio dos ambientes virtuais de aprendizagem. Com a difusão de tecnologias portáteis tais como smartphones tablets e notebook, surge o mobile-learning ou m-learning. Nessa modalidade, o processo formativo ocorre em qualquer momento e lugar, na medida em que estudante possui um dispositivo móvel que permite o acesso ao ambiente virtual de aprendizagem para acessar conteúdo ou se comunicar de forma síncrona ou assíncrona com colegas e instrutores. Apesar da separação quase permanente entre os estudantes e os professores, um curso EaD é bem diferente do estudo autodidata, pois há meios tecnológicos, relações pessoais e uma série de orientações para que o aluno possa desenvolver as atividades. Ainda assim, é possível que o aluno se sinta isolado e perca a motivação para continuar os estudos. Para que um curso EaD seja viabilizado, é necessário que haja, em primeiro lugar, uma Comunidade de Aprendizagem Virtual (CAV). Munhoz (2013) define como CAV o conjunto das pessoas que trabalham de forma colaborativa em torno de um processo de ensino e aprendizagem. De acordo com Munhoz (2013) uma CAV normalmente é composta pelos seguintes fatores: ➢ Instituição de ensino; ➢ Secretaria virtual; ➢ Designers ou projetistas pedagógicos; ➢ Designers ou projetistas instrucionais; ➢ Coordenadores de curso; ➢ Professores; ➢ Produtores de materiais; 16 ➢ Gestores de polos presenciais; ➢ Orientadores acadêmicos ou tutores; ➢ Avaliadores do ambiente como estrutura tecnológica; ➢ Avaliadores do ambiente como estrutura pedagógica; ➢ Tecnólogos; ➢ Designersgráficos; ➢ Alunos. Os 13 primeiros fatores trabalham para criar e desenvolver uma estrutura centrada na experiência do aluno. Contudo, apesar da complexidade da infraestrutura demanda por um curso EaD, não faltam críticas a essa modalidade de ensino no que diz respeito à qualidade. Para Munhoz (2013), a qualidade de um curso EaD depende muito mais dos conteúdos, dos orientadores e dos alunos, do que do aporte tecnológico. Além disso, é importante destacar que, durante o século XX, a EaD foi estruturada a partir de princípios organizacionais industriais, em que a tecnologia é empregada para a produção em massa e para concentração do lucro. Por esse motivo, a maioria dos cursos EaD, ainda hoje, se assemelha à produção industrial. É necessário resgatar o papel social da educação e pensar na EaD para que ela seja capaz de atender às necessidades de personalização e inovação da sociedade em rede. Para refletir Um sistema tecnológico é composto não somente por máquinas, processos e informação, mas também de pessoas e organizações. Assim como em qualquer outro sistema tecnológico, a EaD reflete as ideologias predominantes da nossa época. Baseados na lógica capitalista, os atuais sistemas tecnológicos são orientados para a produção em larga escala, que são voltados à redução dos custos para a obtenção do lucro rápido. Muitas instituições de ensino enxergam a EaD como uma oportunidade de ampliar a receita, mesmo que isso signifique prejudicar a qualidade do ensino que é oferecido. 17 Ao longo do século XX, a EaD passou por uma série de mudanças, até que, nos dias de hoje, possibilita a comunicação síncrona e assíncrona entre alunos e professores tanto na modalidade de um para um (um professor e um aluno), um para muitos (um professor e muitos alunos) e muitos para muitos (muitos professores e muitos alunos). Essas mudanças foram possibilitadas pelas transformações sociais e tecnológicas que impactaram tanto as tecnologias de distribuição quanto as abordagens pedagógicas na educação. Atualmente, a maior parte dos sistemas tecnológicos está orientada para a produção em larga escala que depende, basicamente, do aumento quantitativo da produção e da redução dos custos. O favorecimento de determinados grupos de pessoas (por exemplo: empresários) e prejuízo de outros (por exemplo: pessoas adquirem produtos e serviços de menor qualidade, esgotamento dos recursos naturais e prejuízo aos trabalhadores). 1.3.1 Abordagens tecnológicas e pedagógicas da EaD A EaD surgiu no século XVIII com o desenvolvimento de cursos que eram enviados por correspondência. Mas foi na primeira metade do século XX, devido às tecnologias de difusão, como rádio e TV, que a EaD passou a atingir um número maior de pessoas. Nos anos 70, surgiram as primeiras universidades a distância, que passaram a oferecer cursos por meio de videocassete e videoconferências, possibilitando uma interação maior entre professores e alunos. Nos anos 90, a EaD passou a contar com os ambientes virtuais graças à popularização dos computadores pessoais e do acesso à Internet. Saiba Mais De acordo com Lúcia Santaella (2007), o desenvolvimento da tecnologia é marcado por cinco fases: reprodutível, de difusão, disponível, de acesso e de conexão contínua. A tecnologia do reprodutível surge na transição do século XIX para o século XX com recursos eletromecânicos e voltada aos mercados de massa. Exemplos dessa tecnologia são o jornal, a fotografia e o cinema. A tecnologia da difusão surge a partir da década de 1920 com recursos eletrônicos. Essa tecnologia é caracterizada pelos 18 meios de difusão da comunicação em massa, como o rádio e a televisão. A tecnologia do disponível surge a partir do final dos anos 1970 e início dos anos 1980, possibilitando que o usuário selecione a recepção do conteúdo que seja consumir. Exemplos dessa tecnologia são o walkman, o fone de ouvido, a televisão a cabo e o controle remoto. A tecnologia de acesso, dos anos 1990, se caracteriza pelo início da convergência entre os computadores e as telecomunicações: mouse, modem e software. Enquanto as tecnologias da informação envolvem recursos de computação que servem para produzir, armazenar e transmitir informações, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) são um sistema que integra hardwares, softwares, rede e dispositivos móveis para processar a informação e auxiliar a comunicação. A tecnologia de conexão contínua se inicia no final dos anos 1990 e se difunde no início do século XXI, em decorrência da internet de alta velocidade. Essa tecnologia é representada pelos smartphones e tablets. As linguagens que envolvem esses dispositivos móveis de conexão contínua são cada vez mais fluidas e hipertextuais. “O hipertexto é constituído por nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens, sequências musicais etc.) e de links entre esses nós, referências, notas, ponteiros, “botões” indicando a passagem de um nó a outro” (LÉVY, 1999, p 56), conectando usuários a conhecimentos, lugares e culturas de uma forma sem precedente. Atualmente, a educação a distância mediada pelas TICs permite a comunicação síncrona e assíncrona entre alunos e professores tanto na modalidade de um para um (um professor e um aluno), um para muitos (um professor e muitos alunos) e muitos para muitos (muitos professores e muitos alunos). Nas metodologias ativas, as práticas pedagógicas são estruturadas para fazer com que o aprendiz seja o agente da sua própria aprendizagem. De acordo com Anderson, Dron e Mattar (2012), a classificação da EaD não deve ser baseada apenas nas tecnologias de distribuição, mas nas abordagens pedagógicas que lhe servem de suporte. Para esses autores, a EaD é dividida em três períodos: ➢ Pedagogia cognitivo-behaviorista de educação a distância; ➢ Pedagogia socioconstrutivista de educação a distância; 19 ➢ Pedagogia conectivista de educação a distância. A teoria da aprendizagem behaviorista parte do pressuposto de que as mudanças no comportamento podem resultar da resposta do indivíduo a uma série de estímulos. É importante notar que a pedagogia cognitivo-behaviorista de educação a distância prevaleceu em uma época em que a tecnologia favorecia a comunicação um para muitos, não havendo opções que permitissem comunicação muitos para muitos (ANDERSON; DRON; MATTAR, 2012). Com a disseminação das tecnologias de comunicação bidirecional, surgem as pedagogias socioconstrutivistas desenvolvidas por Piaget e Vygotsky. Para a pedagogia socioconstrutivista, o conhecimento pode ser definido como uma construção social realizada a partir das capacidades cognitivas do ser humano e da sua interação com o meio. As relações entre a pessoa e o meio implicam em um processo de construção permanente que resulta na formação de estruturas de pensamento. Em outras palavras, o sujeito constrói seu conhecimento na relação que ele faz entre a informação que ele recebe e sua própria experiência de vida. Para a pedagogia socioconstrutivista, os professores não podem se limitar à mera transmissão do conhecimento; ao invés disso, eles devem buscar ampliar as interações para que os alunos possam construir o conhecimento a partir da própria experiência. Para dar conta dessa mudança, as tecnologias de EaD deveriam abrir mais oportunidades para a interação síncronas e assíncronas entre alunos e professores (ANDERSON; DRON; MATTAR, 2012). A terceira geração de pedagogia da educação a distância é conhecida como conectivismo. O conectivismo foi desenvolvido na era da informação em rede, reconhecendo que não cabe ao aluno “memorizar ou mesmo compreender tudo, mas ter a capacidade de encontrar e aplicar conhecimento quando e onde for necessário” (ANDERSON; DRON; MATTAR, 2012, p. 126-134). O conectivismo é uma teoria que entende que o conhecimentoé descentralizado, sendo compartilhado por meio de uma rede de conexões (SILVA, 2015). É pertinente destacar que os modelos conectivistas baseiam-se em redes que conectam pessoas, artefatos digitais e conteúdo, algo que só se tornou possível com disseminação das tecnologias de conexão contínua como o smarthphone e o tablet, que permitem o acesso à internet onde quer que o usuário esteja. 20 O papel do professor Fonte: http://www.educture.com.br/wp-content/uploads/2019/04/20180331-ibm-watson- escola-e1556648835402.jpg Críticos do conectivismo afirmam, entretanto, que essa teoria tende a reduzir a importância do docente e a relativizar o conhecimento, como se qualquer fonte de informação tivesse a mesma credibilidade que o conhecimento científico. Portanto, apesar do conectivismo reforçar a ideia de construção dialética do conhecimento, é necessário fazer algumas ressalvas, já que nem todas as fontes de informação podem ser consideradas confiáveis. Aqui, mais uma vez, cabe destacar a importância da Mídia Educação, que tem como objetivo desenvolver competências para a análise crítica do conteúdo informativo das mídias. A teoria entende que o conhecimento é descentralizado, sendo compartilhado por meio de uma rede que conecta pessoas, artefatos digitais e conteúdo; entretanto, nem todas as fontes de informação podem ser consideradas confiáveis. Conclusão da aula 1 Nesta aula, foram discutidas as questões acerca da inclusão digital, bem como os conceitos centrais da Educação a Distância e dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Foi visto que a EaD é uma modalidade de ensino que vem ampliando, cada vez mais, o acesso de pessoas ao ensino superior. Entretanto, cabe lembrar que durante o século XX, a EaD foi estruturada a partir de princípios organizacionais industriais, em que a tecnologia é empregada para a produção em massa e para concentração do lucro. Por esse motivo, a maioria 21 dos cursos EaD, ainda hoje, se assemelha à produção industrial. É necessário resgatar o papel social da educação e pensar a EaD para que ela seja capaz de atender às necessidades de personalização e inovação da sociedade em rede. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) são ferramentas indispensáveis para o desenvolvimento da vida intelectual do ser humano. Entretanto, a desigualdade de acesso às TICs ainda representa um problema central para o isolamento e a exclusão de uma parcela significativa da população brasileira. Quanto mais baixo é o nível socioeconômico do aluno, mais ele depende exclusivamente do celular para acessar a Internet. Além disso, pessoas mais idosas ou que possuem baixa renda familiar e menor grau de instrução são as que menos acessam a Internet. A inclusão digital deve garantir que todas as pessoas possam se utilizar das TICs de forma crítica, para buscar a emancipação e a construção da cidadania. Na medida em que o acesso à informação está diretamente relacionado ao desenvolvimento econômico, é necessário que o governo amplie a infraestrutura tecnológica, sendo este um elemento central para a aprendizagem móvel. Atividade de Aprendizagem Compare a aula que você teve, por EaD, com a última aula presencial que você teve na escola ou em outra instituição de ensino. Quantas tecnologias e mídias foram utilizadas em cada aula e de que forma elas foram utilizadas? Aula 2 – Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), conceitos e características Apresentação da aula 2 Nesta aula, serão abordados os conceitos dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, bem como suas principais características e recursos. Serão 22 comparados modelos de AVA e serão identificadas as atuais necessidades em relação aos softwares. Também serão descritas as escolas pedagógicas que podem orientar o desenvolvimento de um AVA, com destaque para escola construtivista. Veremos que o design e a didática são fundamentais para a qualidade do processo de ensino-aprendizagem em EaD. Por fim, a questão da interatividade na aprendizagem, os estilos de aprendizagem e as oportunidades que se abrem com os ambientes virtuais Imersivos. A aula será encerrada com uma reflexão acerca da contribuição dos games para a educação. 2.1 Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) Os ambientes virtuais que oferecem suporte à realização de cursos semipresenciais ou não presenciais, denominados AVA (Ambientes Virtuais de Aprendizagem) estão sendo cada vez mais utilizados no âmbito acadêmico para atender a demanda da EaD (PEREIRA; SCHMITT; DIAS, 2007). Diante dessa realidade, faz-se necessário buscar uma reflexão crítica sobre os objetivos que orientam o desenvolvimento desses ambientes, bem como as questões tecnológicas e humanas que atravessam esse processo de ensino. Um Ambiente Virtual de Aprendizagem consiste em uma tecnologia de mídia que medeia o processo ensino-aprendizagem a distância. Segundo Schlemmer (2002, 2005), AVA são denominações utilizadas para softwares desenvolvidos para a gestão da aprendizagem via Internet. São sistemas que combinam a funcionalidade de software para a comunicação síncrona ou assíncrona e espaço para a disponibilização do conteúdo didático de cursos on- line. É importante ressaltar que AVAs estão sendo utilizados não somente como suporte para o ensino EaD, mas também como apoio ao ensino presencial. Para Pereira, Schmitt e Dias (2007), a qualidade do processo educativo não depende apenas do AVA, mas do envolvimento dos alunos, da proposta pedagógica, do conteúdo veiculado e da qualidade dos professores, tutores, monitores e equipe técnica. Os termos mais relacionados ao AVA, na literatura nacional, são: aprendizagem baseada na Internet, educação ou aprendizagem on-line, ensino 23 ou educação a distância via Internet e e-learning (PEREIRA; SCHMITT; DIAS, 2007). Na literatura internacional, essa modalidade de ensino corresponde aos termos: Web-based learning, online learning, Learning Management Systems, Virtual Learning Environments, e-learning, entre outros (PEREIRA; SCHMITT; DIAS, 2007). De acordo com Pereira, Schmitt e Dias (2007), todos esses termos implicam nas seguintes características: a distância física entre o estudante e o instrutor; utilização de algum tipo de tecnologia (computador, smartphone, entre outros) para acessar o conteúdo e mediar a interação entre os envolvidos; e disponibilidade de suporte on-line. Aprendizado em AVA Fonte: https://www.blogs.unicamp.br/ensinogeo/wp-content/uploads/sites/36/2017/02/ AVA-600x381.gif Para Munhoz (2013), as instituições que oferecem cursos EaD ou semipresenciais devem disponibilizar um módulo inicial para promover o nivelamento dos conhecimentos necessários para a utilização confortável de AVAs, tanto pelos alunos, quanto para os professores e profissionais do corpo administrativo. 2.2 Características e recursos fundamentais de um AVA De acordo com Pereira, Schmitt e Dias (2007), os recursos tecnológicos básicos oferecidos em AVA podem ser agrupados em quatro eixos: 24 ➢ Informação e documentação: espaço onde são disponibilizadas as informações institucionais do curso, o cronograma de atividades, os conteúdos e materiais didáticos. É necessário um servidor que suporte o upload e o download de diferentes formatos de arquivos (tais como pdf, doc, jpg e vídeos) e que permita o gerenciamento de documentos. Também pode haver uma ferramenta de ajuda como tutoriais, mapa do site e sistemas de buscas; ➢ Ferramentas de comunicação síncrona e assíncrona (e-mails, fóruns e chats): de acordo com Pereira, Schmitt e Dias (2007), as ferramentas do eixo de comunicação têm por objetivo apoiar discussões, debates e a resolução de exercícios e problemas em um ambiente virtual. O maior ou o menor uso dessas ferramentas depende da proposta pedagógicado curso e do perfil dos usuários; ➢ Gerenciamento pedagógico e administrativo: que permite controlar o funcionamento e o andamento do curso. No eixo pedagógico, coordenadores, professores e tutores podem acessar o número de participação do aluno em fóruns e seminários, os grupos de trabalho, as avaliações e o desempenho de cada aluno, entre outros recursos. O eixo administrativo é composto dos seguintes elementos: criação e controle de cursos, sistema de controle para matrículas e pagamentos, sistema para avaliação, publicação de notas e histórico de disciplinas; ➢ Produção: espaço de interação que permite o desenvolvimento de atividades e resoluções de problemas. Esse eixo conta com recursos de digitação e edição para a elaboração colaborativa de textos, tarefas e problemas, e aplicativos específicos da proposta pedagógica do curso. Pereira, Schmitt e Dias (2007) ressaltam que a eficácia de um AVA depende da elaboração de uma proposta pedagógica bem definida e coerente com os objetivos que se pretende atingir. A interface do aluno consiste, basicamente, em uma sala de aula virtual, cujo layout é desenvolvido de acordo com os padrões definidos por cada instituição de ensino. Para Santi et al (2018), essas salas de aula disponibilizam: 25 ➢ Espaço de convivência, na qual os usuários podem conversar livremente por meio de fóruns e chats; ➢ Espaço de interação, que é destinado à realização colaborativa das atividades relacionadas às disciplinas; ➢ Biblioteca, em que são disponibilizados os arquivos com o conteúdo das disciplinas e conteúdo complementar. Os AVAs normalmente suportam arquivos nos mais diferentes formatos, como texto, hipertexto, áudio ou audiovisual. Eixos de um AVA Fonte: acervo do autor (2019), de (PEREIRA; SCHMITT; DIAS, 2007). Os AVAs mais utilizados no Brasil são os gratuitos, como Aula-Net, o Moodle e o TelEduc; entre outros, além de gratuito, possui código aberto (open source), ou seja, possui licenciamento livre para o código-fonte e a redistribuição. De acordo com Paiva (2010), o primeiro AVA gratuito de sucesso foi o Aula-Net. Este AVA é distribuído gratuitamente pelo Laboratório de Engenharia de Software da PUC-Rio. De acordo com os desenvolvedores da plataforma, o Aula-Net é um ambiente organizado para facilitar o trabalho colaborativo (em grupo) e oferece quadro de avisos, agenda, e-mail, fórum, chat e ferramenta de videoconferência. O Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) é um AVA que é constantemente atualizado por profissionais no mundo inteiro. Segundo as informações divulgadas na página do Moodle na web (http://docs.moodle.org/pt_br/), esse AVA possibilita a gestão da aprendizagem 26 e do trabalho colaborativo, permitindo a criação de cursos on-line, páginas de disciplinas e grupos de trabalho. A plataforma funciona em qualquer sistema operacional que suporte à linguagem PHP. Além disso, o Moodle é construído em módulos, o que permite adicionar ou remover recursos. Esse AVA oferece as seguintes ferramentas: página para a criação de perfil dos alunos, fóruns, calendário, gestão de conteúdo, criação de grupos, questionários e pesquisas, blogs, wikis, bancos de dados, chat, glossários, ferramenta para construção de testes, avaliação e diários (PAIVA, 2010). Além desses recursos, há as ferramentas administrativas que permitem configurar o AVA, editar, designar funções, atribuir notas, criar grupos, fazer backup, restaurar, importar, reconfigurar e emitir relatórios (PAIVA, 2010). App Moodle para celular e tablet Fonte: https://aprender.buzzero.com/buzzers/msousa/40977/HotSiteImage.jpg O TelEduc foi desenvolvido pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) da Universidade Estadual de Campinas. Segundo informação disponível em sua página inicial na web (http://www.TeleEduc.org.br), o TeleEduc “foi concebido tendo como alvo o processo de formação de professores para informática educativa, baseado na metodologia de formação contextualizada”. A plataforma conta com diversos recursos para promover a 27 interação entre os participantes: e-mail, grupos de discussão, mural, diário de bordo, chat entre outros (PAIVA, 2010). 2.3 A interatividade na aprendizagem O conhecimento pode ser definido como uma construção social realizada a partir das capacidades cognitivas do ser humano e da sua interação com o meio. As relações entre a pessoa e o meio implicam em um processo de construção permanente que resulta na formação de estruturas de pensamento. Em outras palavras, o sujeito constrói seu conhecimento em interação com o meio a partir de suas próprias ações. Entretanto, as relações entre homem e mundo não ocorrem diretamente, mas são mediadas por instrumentos ou signos fornecidos pela cultura. De acordo com Vygotsky (2000), o sistema simbólico fundamental na mediação sujeito- objeto é a linguagem humana, instrumento de mediação verbal que tem na palavra a sua unidade básica. Para Papert (1985), o conhecimento não é transmissível, mas construído pelo indivíduo, de modo único. Cada indivíduo reconstrói o conhecimento baseado em suas relações com o mundo, com os objetos e em suas experiências. Dessa forma, podemos concluir que a criança não aprende pelo que é dito, transmitido a ela, mas pela relação que ela faz entre aquilo que ela vê, ouve, lê e sua própria experiência com o mundo. Isso nos faz pensar na questão da interatividade. Para Antônio Junior (2015), as características da aprendizagem e o uso da tecnologia são inter-relacionados, são interativos e interdependentes. A interatividade pressupõe uma ação de troca de informações, mensagens e opiniões. Os espaços criados com as novas tecnologias potencializam essa troca, possibilitando múltiplas janelas de comunicação dialógica. Pode beneficiar o aprendizado, na medida em que pressupõe a comunicação bidirecional, dialógica, e não a comunicação unidirecional que separa emissores e receptores. O aprendizado por meio da interatividade adquire força na “era da informação”, na medida em que as TICs fornecem uma interface de diálogo e não somente de recepção de informação. 28 2.3.1 Formas de aprender e formas de ensinar A maneira como cada pessoa compreende, assimila e retém informações diz respeito ao seu tipo de aprendizagem. O planejamento do ensino deve considerar diferentes tipos de aprendizagem para elevar a qualidade dos resultados. Compreender os diferentes estilos de aprendizagem pode ampliar a motivação, a concentração e a retenção do conhecimento. Existem diversas metodologias para identificar os estilos de aprendizagem, a retenção da informação é mais fácil quando está atrelada a um estímulo ou a uma emoção. Tipos de aprendizagem Fonte: https://medicina10blog.wordpress.com/2016/12/15/estilos-de-aprendizagem- descubra-qual-e-o-seu/ Por meio do método VARK, é possível identificar quatro estilos predominantes de aprendizagem: ➢ Visual: quem possui um perfil de aprendizado predominantemente visual prefere absorver imagens, cores, vídeos e livros com gráficos, figuras e um bom layout. Para obter melhores resultados nos estudos, os alunos com essa característica devem utilizar 29 diferentes cores para a memorização, elaborar fluxogramas, gráficos, fazer anotações e desenhar figuras; ➢ Leitura e escrita: quem prefere aprender lendo e escrevendo absorve informações por meio de textos e da exposição oral dos professores. Para obter melhores resultados nos estudos, esses alunos precisam fazer anotações escrever e reescrever o que aprenderam, e formular resumos; ➢ Aural: é a pessoa que memoriza a palavra falada. Esse é um aluno que aprende assistindo à aula, ouvindo a exposição oral dos professores, participando de seminários e discussões, explicando verbalmente oque aprendeu; ➢ Cinestésico: é o aluno que prefere aprender fazendo. Para essas pessoas, as informações adquirem valor quando podem ser vivenciadas em experiências práticas. É preciso fazer, praticar para que se possa compreender. Esses são os quatro perfis identificados pelo questionário Vark. A maioria das pessoas, entretanto, é multimodal, ou seja, prefere aprender somando dois ou mais estilos. De acordo com Mattar (2010), as pessoas mais velhas têm preferência pelo estilo escrita e leitura, enquanto as mais jovens preferem o estilo cinestésico. Conhecer o estilo de aprendizagem predominante do aluno permite ao professor não somente utilizar os recursos certos para potencializar a assimilação e a retenção da informação, mas também estimular o desenvolvimento dos outros estilos de aprendizagem, menos predominantes ou com os quais os alunos possuem maior dificuldade. É importante ressaltar que o aluno pode utilizar estilos diferentes dependendo da situação ou do objeto de estudo. Cabe também lembrar que esses estilos não são a única variável a ser considerada no processo de aprendizagem; não podem, portanto, ser o único elemento a ser considerado no planejamento da educação. 30 Pesquise Para saber mais sobre o seu perfil de aprendizagem, acesse o questionário Vark no link: http://vark-learn.com/questionario/ 2.4 Ambientes Virtuais Imersivos De acordo com Gomes, Piovesan e Wagner (2019), é cada vez maior a utilização de Ambientes Imersivos no campo educacional. Um ambiente imersivo é o termo usado para definir um ambiente do mundo real que é adicionado de elementos virtuais para criar uma realidade mista em tempo real. Um ambiente imersivo conta com um conjunto de dispositivos que acrescentam informação virtual sobre um ambiente real. Os ambientes virtuais imersivos, por sua vez, são uma interface digital que permite ao usuário interagir, por meio de dispositivos, em um espaço tridimensional gerado por computador (GOMES; PIOVESAN; WAGNER, 2019). Esses ambientes tendem a beneficiar alunos que aprendem quando vivenciam a informação em uma experiência prática. Ambientes Virtuais Imersivos Fonte: https://www.casamais360.com.br/wp-content/uploads/2016/11/VR-1-1120x636. jpg 31 O usuário interage no mundo virtual por intermédio da tela do monitor ou pela tela de projeção, ele também pode ser inserido no mundo virtual por meio de óculos ou capacete e dispositivos de interação. Para os autores Gomes, Piovesan e Wagner (2019): [...] os ambientes imersivos permitem ao usuário retratar e interagir com situações imaginárias, como em cenários de ficção, utilizando objetos estáticos ou em movimento. Permitem também reproduzir com fidelidade ambientes da vida real como uma casa, uma universidade ou uma cidade inteira, de forma que o usuário possa interagir com seus recursos de forma natural, utilizando para isso algum aparato tecnológico, como uma luva, um dispositivo apontador (mouse) ou até através da voz (GOMES; PIOVESAN; WAGNER, 2019, p. 2). No campo da educação, o objetivo de um Ambiente Virtual Imersivo é facilitar a aprendizagem, proporcionando uma interação virtual facilitada pelo realismo da simulação do ambiente, da situação e da experiência. A interação do usuário com o ambiente virtual é um dos aspectos centrais da interface, esse aspecto está relacionado com a capacidade do computador de detectar os movimentos do usuário e reagir instantaneamente. Já a interação do usuário com outros participantes ocorre por meio de avatares, que são uma representação virtual das pessoas que participam da CAV. Os alunos têm a oportunidade de aplicar o que estudam. Além disso, as experiências e informações atreladas a uma emoção tendem a ficar mais facilmente retidas na memória. Um ambiente imersivo virtual emula uma série de atividades de cunho educacional, podendo inclusive ser utilizado como treinamento no contexto empresarial. De acordo com Gomes, Piovesan e Wagner (2019), a Embraer possui um projeto de realidade virtual que conta com um centro de RV capaz de desenvolver aplicações para visualização científica, análise de engenharia e gráficos de alto desempenho em tempo real. A Petrobras possui vários centros de RV em que os geólogos e geofísicos analisam propriedades do fundo do oceano e reconhecem com precisão os pontos de perfuração para encontrar petróleo. No campo educacional é cada vez mais comum a utilização de AVAs tridimensionais como o Sloodle, que é o Moodle adicionado de um plugin do Second Life, que trazem benefícios para a aprendizagem colaborativa. 32 Ambiente criado no Sloodle Fonte: https://cdn.elearningindustry.com/wp-content/uploads/2015/09/who-moved-my- sloodle.jpg Os usuários do Sloodle podem frequentar uma sala de aula virtual, na qual podem interagir com os seus colegas de classe. Outros recursos incluem quizes, testes e jogos. De acordo com Santi et al. (2018), a utilização de animações, locuções, jogos, testes, desafios e a ampliação de recursos interativos no AVA buscam intensificar o processo de aprendizagem para que o aluno aprenda os conteúdos de forma eficaz e com fácil assimilação. Quando os alunos têm a oportunidade de aplicar o que estudam e, especialmente, quando é reduzido o tempo entre a descoberta e sua aplicação, as possibilidades de assimilação e retenção se ampliam. Além disso, as experiências e informações atreladas a uma emoção tendem a ficar mais facilmente retidas na memória. É importante destacar que é mais fácil aprender por meio da interatividade do que apenas decorando palavras. A utilização de games também pode representar uma ótima oportunidade para o aprendizado, na medida em que o aluno é estimulado a participar, a discutir e a compartilhar as descobertas com os colegas. Os jogos ajudam os alunos a desenvolverem diversas competências e habilidades essenciais como trabalhar em grupo, compartilhar informações, colaborar, criar, encontrar soluções e tomar decisões. Também ajudam na concentração, pois as situações exigem raciocínio, tomada de decisões e ações. 33 De acordo com Tonéis (2017), há uma importante diferença entre uma atividade gamificada e um game. A base da gamificação está na fun theory, que significa acrescentar aspectos lúdicos ou divertidos a atividades cotidianas. A gamificação corresponde ao uso de mecanismos de jogos aplicados em situações que visam solucionar problemas práticos e engajar pessoas. Tonéis (2017) acredita que a gamificação pode ser aplicada em vários setores e atividades, tais como: saúde, políticas públicas, esportes e como treinamento nas empresas. Nos AVAs, a gamificação pode ser utilizada para produzir experiências que sejam engajadoras, divertidas ou prazerosas, como forma de manter os alunos comprometidos e motivados. O autor alerta que a gamificação deve ser planejada para engajar os alunos e não para condicioná-los. O jogo, por sua vez, é diferente da atividade gamificada. O jogo é um processo e um conjunto específico de ações com metas, regras e sistemas de feedback. O sistema de feedback é necessário para que o jogador entenda o quanto ele está progredindo em relação à meta do jogo. O objetivo desse recurso é manter o jogador motivado e engajado. É importante ressaltar que a participação no jogo deve ser sempre voluntária. Conforme Tonéis (2017) menciona, os games estão repletos de aprendizagens, com descobertas e resoluções de problemas. O autor defende que os alunos podem aprender com o game por meio da sua ação, pelo uso do raciocínio lógico e matemático, e pela avaliação das suas decisões, após receber o feedback do jogo. Além disso, os jogos podem contribuir para a aprendizagem do aluno potencializando e rompendo com o modelo de ensino tradicional, na medida em que dependem da comunicação dialógicae da cooperação entre os participantes, também quando reproduzem lugares ou simulam situações que estimulam as crianças a exercitar a criatividade, o improviso e o raciocínio lógico. A interação com o jogo permite que o aluno explore caminhos, teste hipóteses e experimente possibilidades em situações que talvez ele não tivesse a oportunidade de vivenciar na vida real. Como o autor Tonéis (2017) argumenta, mesmo os jogos digitais que não possuem objetivos educativos também podem fornecer muitos elementos para reflexão e produção de conhecimentos. Há inclusive jogos roteirizados a partir de eventos históricos e que reproduzem lugares reais com uma incrível riqueza de detalhes. 34 Já os games educativos (ou educacionais) são aqueles que possuem uma proposta pedagógica. Normalmente, a proposta pedagógica é multidisciplinar, aproximando os alunos do conhecimento científico e simulando a vivência de situações que exigem raciocínio e tomada de decisões. Nesses casos, os alunos aprendem a lidar com regras que, muitas vezes, são baseadas em conhecimentos compartilhados socialmente. Conclusão da aula 2 Nesta aula foram abordados os conceitos dos Ambientes Virtuais de aprendizagem, bem como suas principais características e recursos. Um AVA consiste em uma tecnologia de mídia que medeia o processo ensino- aprendizagem a distância. AVAs são ambientes virtuais que oferecem suporte à realização de cursos semipresenciais ou não presenciais. A aula também abordou a importância da interatividade na educação e analisou os quatro estilos de aprendizagem: visual, leitura e escrita, aural e cinestésico. O estilo de aprendizagem se refere à maneira como cada pessoa compreende, assimila e retém informações. A maioria das pessoas é multimodal, ou seja, prefere aprender somando dois ou mais estilos. A aula também abordou a utilização de ambientes virtuais imersivos, que consistem em uma interface digital que permite ao usuário interagir, por meio de dispositivos, em um espaço tridimensional gerado por computador. Por fim, foram trazidas as contribuições dos jogos para o ambiente educacional. Atividade de Aprendizagem Os nativos digitais estão cada vez menos satisfeitos com o modelo tradicional de ensino, que se baseia na transmissão e na repetição da informação. Explique de qual(is) forma(s) os AVAs poderiam romper com esse modelo. 35 Aula 3 – Abordagens teórico-metodológicas para o design e desenvolvimento de conteúdos para o AVA Apresentação da aula 3 Nesta aula serão abordadas as escolas pedagógicas que podem orientar o desenvolvimento de um AVA. Serão comparadas as escolas Comportamentalista, Cognitivista e Construtivista, Sociointeracionista que orientam o design e desenvolvimento de conteúdos para um curso oferecido em AVA. Para romper com um modelo de ensino já desgastado, foram trazidas as contribuições de autores que elencam as características de um AVA construído para as metodologias ativas, sob uma abordagem construtivista. Nesta aula também serão abordadas as técnicas de ensino e seleção de recursos de um AVA, e aspectos de gestão de EaD em AVA, considerando o problema da distância transacional. 3.1 Abordagens teórico-metodológicas para o design e desenvolvimento de conteúdos para o AVA Em curso EaD, o processo de elaboração do material didático difere do que ocorre no ensino presencial. Enquanto que nos cursos presenciais o material didático é um recurso de apoio, que pode ou não ser utilizado pelo professor, em um curso EaD, o material didático adquire mais centralidade, à medida que, devido à distância, torna-se o principal recurso de estudo para o aluno (PEREIRA; SCHMITT; DIAS, 2007). Curiosidade A aprendizagem em rede, muitas vezes, segue uma trajetória não linear para a construção do conhecimento. Um AVA que busca atender a esse tipo de aprendizagem deve disponibilizar acesso a livros, artigos com hipertextos, vídeos e outros conteúdos midiáticos que permitam ao aluno concatenar a informação com o conteúdo didático. 36 Diante da importância do design instrucional e didático para a qualidade do processo de ensino-aprendizagem em EaD, serão discutidas as escolas pedagógicas que podem orientar o desenvolvimento de um AVA. De acordo com Silva (2015), o design instrucional pode seguir um mapa de estruturação composto por cinco fases, denominado ADDIE (análise, design, desenvolvimento, implementação e avaliação). Saiba Mais Design Instrucional, também conhecido como DI ou desenho instrucional, que, segundo Filatro (2008), é um termo surgido na segunda Guerra Mundial como nomenclatura de uma ferramenta para resolução de problemas e tomadas de decisão. Para saber mais sobre o DI, acesse o link: http://www.ead.unimontes.br/nasala/design-instrucional- significado/ A aplicação do ADDIE deve levar em consideração as seguintes etapas (SILVA, 2015, p. 65): ➢ Levantamento de necessidades; ➢ Garantia de que as necessidades poderão ser atendidas pelas soluções propostas; ➢ Definição dos objetivos de aprendizagem; ➢ Elaboração de critérios para avaliar os procedimentos adotados; ➢ Identificação dos resultados esperados; ➢ Avaliação das habilidades prévias dos alunos; ➢ Desenvolvimento de testes; ➢ Seleção das estratégias de ensino; ➢ Teste do projeto piloto; ➢ Acompanhamento por meio de avaliação de aprendizagem. Para Maciel (2018), ao desenvolver um ambiente de aprendizagem e seu conteúdo didático, é necessário decidir uma abordagem teórico-metodológica devendo orientar não somente o desenvolvimento do AVA, mas também a 37 elaboração do conteúdo didático, tendo uma visão de homem, de ciência, de trabalho e de mundo. De acordo com Pereira, Schmitt e Dias (2007), diversas escolas pedagógicas podem fundamentar o desenvolvimento do material didático para um curso EaD, havendo uma incoerência que ocorre com frequência. Entretanto, ainda a maioria das instituições orienta seus docentes a desenvolver conteúdo a partir de perspectivas socioconstrutivistas, enquanto seus AVAs são estruturados a partir das perspectivas do comportamentalismo e do cognitivismo. A seguir serão comparadas as escolas Comportamentalista, Cognitivista e Construtivista, Sociointeracionista que orientam o design e o desenvolvimento de conteúdos para um curso oferecido em AVA. Diretrizes de design para cursos em AVA. Fonte: acervo do autor (2019), (ALLY, 2004). Comportamentalismo Cognitivismo Construtivismo/ Sociointeracionismo Conteúdos São de caráter sequencial que vão do simples para o complexo; do conhecido para o desconhecido São orgaizados por tópicos por unidade de conteúdo; são apresentados de forma linear, hierárquica ou em teia; utilizam formatos multi- sensoriais; preocupam- se com a apresentação, arquitetura de informação e ergonomia de interfaces; podem se adequar aos diferentes níveis de aprendizagem e estilos cognitivos Conteúdos multicontextualizados para que o aluno construa seus próprios significados; são organizados de forma multi-sequencial, de forma linear, hierárquica ou em teia; técnicas para intensificar a interatividade e a interação Atividades Aplicadas no final das aulas para fixar e reforçar a informação Aplicados durante o processo de ensino- aprendizagem, problemas e casos reais para análise, síntese; possibilitam a construção do conhecimento Uso de técnicas colaborativas e cooperativas por meio de trabalho em grupo; senso de pertença e de comunidade; desenvolvimento de projetos baseados em situações reais Avaliação Testes e provas com resultados explícitos, mediante feedback Auto-avaliação, avaliação de desempenho durante o processo de ensino- aprendizagem; projetos baseados em situações reais Auto-avaliação, avaliaçãode desempenho durante o processo de ensino-aprendizagem; reflexão para internalização das novas informações Professor Detentor e distribuidor do conhecimento Facilitador e orientador Facilitador e orientador 38 Sob o ponto de vista da aprendizagem, os métodos de ensino podem ser classificados em dois tipos: transmissivos e ativos. No primeiro, o conhecimento é algo que deve ser transmitido do professor para o aluno, por meio de uma comunicação unidirecional. Nas metodologias ativas, as práticas pedagógicas são estruturadas para fazer com que o aprendiz seja o principal agente da sua aprendizagem. Cabe ao aluno escolher o modo como irá processar a informação e construir seu conhecimento (SILVA, 2015). As metodologias ativas também estimulam a resolução de problemas práticos, contribuindo para o desenvolvimento de competências. As metodologias ativas se relacionam com as perspectivas socioconstrutivistas, na medida em que buscam criar aprendizagens significativas, desenvolver o pensamento crítico e estimular o trabalho cooperativo e colaborativo. Sendo assim, é importante que os alunos sejam incentivados a conduzir as atividades e construir seus próprios percursos de aprendizagem. Construção do conhecimento Fonte: https://lehliimarslp.files.wordpress.com/2014/08/conhecimento-compartilhado. jpg?w=300&h=240 Para Maciel (2018), a materialização de uma abordagem construtivista na EaD depende de um AVA que disponibilize recursos que proporcionem uma 39 relação dialógica substantiva. Ela também recomenda que seja elaborada uma cartografia com universos integrados de estudo e pesquisa. Para essa autora, essa cartografia deve ser reorganizada e alimentada de conteúdos constantemente. Para romper com o modelo da homogeneização e hierarquização, Maciel (2018, p. 4) recomenda que o AVA esteja adequado à abordagem socioconstrutivista, sendo necessário disponibilizar: ➢ Conteúdos de aprendizagem em diferentes abordagens teóricas e disciplinares; ➢ Diversas ferramentas de comunicação síncrona e assíncrona; ➢ Roteiros de entrada e diferentes trajetos que possibilitem a aprendizagem; ➢ Atividades de aprendizagem em diferentes níveis de complexidade; ➢ Propostas de pesquisa; ➢ Roteiros para autoavaliação e avaliação da aprendizagem. Para essa autora, é necessário buscar interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, criando possibilidades de articulação e de cooperação entre as disciplinas, e possibilitando a construção do conhecimento em rede. 3.2 Técnicas de ensino e seleção de recursos de um AVA De acordo com Silva (2015), as técnicas de ensino são os procedimentos a serem adotados para que os métodos sejam viabilizados. O método de exposição do professor pode ser viabilizado por diversas técnicas, tais como exposição verbal, demonstração, ilustração, exemplificação. O método do trabalho independente pode ser viabilizado por estudo dirigido, solução de problemas e análise de casos reais. O desenvolvimento colaborativo, por sua vez, pode ser viabilizado por técnicas de debates e seminários. Os recursos digitais que serão disponibilizados em um AVA devem ser cuidadosamente planejados pela equipe de design, levando em consideração o perfil do público-alvo a quem o curso se destina. De acordo com Silva (2015), quando os primeiros AVAs começaram a ser implantados, a principal preocupação dos gestores era de ordem econômica. Por esse motivo, os 40 softwares livres rapidamente passaram a dominar o mercado. Hoje, entretanto, esse autor percebe que há uma preferência maior por softwares que priorizam a qualidade do design, usabilidade, interatividade e interoperabilidade. Para Silva (2015, p. 81), do ponto de vista pedagógico, os educadores têm preferido softwares que: ➢ Viabilizem e materializem as teorias de aprendizagem adotadas por cada curso; ➢ Se alinhem às necessidades e preferências do público-alvo; ➢ Possibilitem a construção individual e coletiva do conhecimento; ➢ Disponibilizem diversas ferramentas de comunicação com diferentes níveis de interatividade; ➢ Permitam a estruturação de processos de avaliação compatíveis com a proposta pedagógica; ➢ Permitam a comunicação externa com outros serviços; ➢ Aceitem a integração com sistemas de gestão de pessoas (RH). Cabe aos gestores/ educadores escolher, entre as opções, as que melhor correspondem às necessidades do público-alvo e aos objetivos dos programas educacionais. Entretanto, percebe-se que cresce, cada vez mais, a demanda por softwares que, assim como um Lego, permitem acrescentar recursos e soluções que melhor se moldam aos objetivos do programa de ensino e ao perfil dos usuários. Na próxima aula serão abordados os conceitos de Next Generation Digital Learning Environment (NGDLE) que surgem para atender essa nova demanda. 3.3 Gestão de EaD baseados em AVA As taxas de evasão em cursos EaD são elevadas, em grande parte, devido às distâncias entre as expectativas do aluno (anteriores à experiência) e suas percepções em relação ao curso que está sendo oferecido. As expectativas dos alunos em relação a um curso EaD são formadas a partir das referências resultantes de experiências anteriores e das informações produzidas pela instituição de ensino, por meio da propaganda. 41 É possível reduzir as taxas de evasão e produzir níveis elevados de satisfação, se a instituição de ensino conseguir administrar as expectativas dos alunos. Estudantes que não tiveram outras experiências com ensino EaD tendem a tomar as experiências com o ensino presencial como referência para a qualidade que eles esperam obter em um curso EaD. Os fatores que influenciam as expectativas dos alunos em relação a um curso EaD são as promessas explícitas e implícitas feitas pela instituição de ensino, tais como propaganda, preço e comunicação boca a boca, como mostra o quadro abaixo: Fatores que influenciam as expectativas dos alunos Fonte: acervo do autor (2019). Além das experiências anteriores, as informações produzidas pela instituição de ensino, por meio da propaganda, também contribuem para a formação das expectativas dos alunos em relação ao curso EaD. Essa distância entre expectativa e percepção é formada pela diferença entre o que a escola promete e a qualidade que, de fato, ela possui competência para oferecer. Para evitar essa lacuna, a instituição de ensino deve evitar propagandas que prometem um nível de qualidade que está além do que ela é capaz de entregar. Também é importante lembrar que as empresas são fontes emissoras de informação em todos os seus pontos de contato com o público. Portanto, além da comunicação produzida pela propaganda, devemos considerar a comunicação produzida pelos representantes da instituição de ensino, pelo design de suas interfaces digitais e, até mesmo, pelo preço cobrado pelo curso. 42 Na ausência de outros fatores de comparação, os alunos tendem a tomar o preço elevado como um indicativo de qualidade superior. Dessa forma, as pessoas tendem a nutrir expectativas mais elevadas em relação aos serviços que cobram um preço mais alto. 3.3.1 A questão da distância transacional É necessário que os gestores de cursos EaD busquem estratégias para diminuir as distâncias entre as expectativas e as percepções dos alunos e, dessa forma, reduzir as taxas de evasão. A redução da distância transacional torna-se uma questão crítica nesse processo. De acordo com Maciel (2018), o conceito de distância transacional consiste não na separação geográfica, mas na distância perceptiva e comunicacional entre os participantes de uma comunidade de aprendizagem virtual. É importante notar que, mesmo nas aulas expositivas tradicionais, nas quais prevalece a comunicação unidirecional de um pra muitos, também pode haver uma enorme distânciatransacional entre o professor e os alunos, mesmo que ambos estejam presentes no mesmo tempo e espaço (MACIEL, 2018). Para Silva (2015), a distância transacional depende de três variáveis: estrutura do AVA, possibilidades de diálogo oferecido e autonomia do aluno. A estrutura abrange todo e qualquer recurso que sirva de suporte ao processo de ensino e aprendizagem. Fazem parte da estrutura: os sistemas tecnológicos, o conteúdo e as orientações. Para Jung (2001), apud Ramos (2016), as variáveis de estrutura incluem a adaptabilidade de conteúdo e o layout visual. São características relacionadas à arquitetura e ao design da plataforma. O diálogo se refere à comunicação entre professores e alunos, incluindo a empatia, o respeito mútuo, o posicionamento crítico e as nuances que derivam da personalidade das pessoas envolvidas. Para Jung (2001), apud Ramos (2016), as variáveis de diálogo incluem o diálogo acadêmico, o colaborativo e a interação interpessoal. 43 Quanto maior o diálogo, menor a distância transacional Fonte: https://img1.freepng.es/20180415/ygw/kisspng-speech-language-pathology- spoken-language-informat-dialogue-5ad4191763c2f7.0829041315238494954086.jpg A autonomia do aluno, por fim, se refere à liberdade de escolher o que, onde e quando é a melhor forma de aprender (SILVA, 2015). Para esse autor, é necessário que os gestores não se concentrem somente na estrutura e busquem manter em equilíbrio o “tripé” que inclui a dimensão do diálogo e da autonomia do aluno. Ramos (2016) analisa a relação entre diálogo e estrutura e afirma a distância transacional tende a ser mais baixa em cursos que são ricos em diálogo e que possuem menos estrutura, ou seja, em que há menos obstáculos e mais flexibilidade para os diálogos. A relação ideal entre a distância transacional e a autonomia do aluno deve ser diretamente correlacionada, alunos com menos autonomia precisam de menos distância transacional. Cursos com essas características, ou seja, com um grau reduzido de distância transacional, são mais atraentes para os alunos que possuem menos autonomia e que estão menos seguros quanto à gestão do próprio processo de aprendizagem (RAMOS, 2016). Entretanto, quando um curso possui menos diálogos e menos estrutura, há espaços para mal-entendidos e a distância transacional tende a aumentar. De acordo com Ramos, cursos que dispõem de muita estrutura e menos possibilidade de diálogo são os que apresentam maior distância transacional. 44 Para Moore (1993) apud Ramos (2016), quanto maior a estrutura e menor o diálogo em um programa, maior deve ser a autonomia exigida do aluno. Para Ramos (2016), os alunos que possuem mais autonomia ficam confortáveis com menos diálogo e podem desenvolver suas atividades tranquilamente a partir das instruções recebidas de um curso altamente estruturado. Assim, eles têm mais liberdade para decidir onde, quando e o quanto estudar. Relações entre nível de diálogo e estrutura Fonte: acervo do autor (2019), (RAMOS, 2016). Pode-se concluir, portanto, que a estrutura e o diálogo estão inversamente correlacionados: quanto maior a estrutura, menos a flexibilidade para os diálogos. Por outro lado, a distância transacional e a autonomia estão diretamente correlacionadas: o aumento ou a diminuição em um resulta em aumento ou diminuição no outro. 3.3.2 Sentir-se parte de um grupo Para evitar a evasão, é importante que o aluno sinta que é parte integrante de um grupo. Para Munhoz (2013), o volume de interações entre os participantes é um dos fatores fundamentais para o sucesso dos processos de aprendizagem por meio dos AVAs, pois na medida em que o estudante participa de forma efetiva, colaborativa e afetiva, menores as distâncias transacionais entre ele e os demais membros da comunidade, mesmo que todos estejam separados geograficamente. 45 Conforme Munhoz (2013), é necessário reduzir o tempo de resposta entre alunos e professores, e estimular diálogos síncronos por meio de vídeo. Para esse autor, um dos pontos mais centrais do EaD é a qualidade das relações pessoais entre os participantes de uma CAV. É necessário haver empatia entre a instituição de ensino, seus representantes e seus estudantes, pois quanto mais empatia, maior o sentimento de pertencimento, como menciona o autor: O sentimento de empatia e sensação de pertencer a algo promovem de forma significativa a motivação para aprender. Esses sentimentos são reforçados por abordagens diferenciadas, tais como a orientação, a solução de problemas, o diálogo extensivo e a interação amigável e com retorno imediato entre os estudantes e destes com os orientadores acadêmicos e com os professores especialistas (MUNHOZ, 2013, p. 76). O ambiente virtual deve ser projetado para gerar aproximações e uma convivência tão próxima quanto a presencial (MACIEL, 2018). Na realidade, um dos objetivos dos AVAs é eliminar a distância transacional e propor outros tipos interações que não dependam do contato presencial. A interação entre alunos e docentes deve ser enriquecedora para suprir, total ou parcialmente, a ausência de encontros presenciais (MUNHOZ, 2013). Segundo Munhoz (2013), há uma tendência de não haver mais a dicotomia que separa e contrapõe o ensino presencial do semipresencial e não presencial. Quando o ambiente pedagógico tem como meta criar situações de aprendizagem significativas e alocar pessoas para estabelecer um diálogo permanente com os alunos, os AVAs podem se igualar ou até ultrapassar a quantidade de interações do ensino presencial (MACIEL, 2018). De acordo com Maciel (2018), é possível reduzir as distâncias transacionais entre o professor e o aluno por meio de processos de midiatização, mas não se pode deixar de considerar que o fator mais importante depende tão e somente da atitude e do envolvimento das pessoas que participam de uma CAV. A adaptação ou customização do programa de ensino às necessidades individuais produzem impacto sobre o nível de envolvimento do aluno no próprio processo de aprendizagem como, quanto maior a possibilidade de adaptar o programa de acordo com as necessidades individuais, maior o envolvimento do aluno no processo. Para essa autora, é necessário que todos os envolvidos 46 tomem para si o compromisso de reduzir a distância transacional. De acordo com Munhoz (2013, p.78): ➢ Quanto mais interações, maior o sentimento de pertencimento do aluno em relação à instituição de ensino; ➢ Quanto maior a percepção de que a instituição de ensino está interessada em adaptar o programa conforme os interesses do aluno, maior o nível de envolvimento do estudante; ➢ Quanto maior a percepção do aluno de que existem relações pessoais entre ele a instituição de ensino, maior o seu envolvimento e sua participação no programa; ➢ Quanto maior o sentimento do aluno de que ele está pessoalmente envolvido no objetivo da aprendizagem, maior sua participação no processo. Conclusão da aula 3 Para que o AVA seja eficaz na mediação do processo de ensino- aprendizagem, é fundamental que a instituição de ensino defina previamente os objetivos que se pretende atingir. Além disso, é necessário selecionar a abordagem teórico-metodológica de ensino que orientará todo o processo. Nesta aula, buscou realizar uma comparação entre as escolas Comportamentalista, Cognitivista e Construtivista, Sociointeracionista que orientam o design e desenvolvimento de conteúdos para um curso oferecido em AVA. A partir das perspectivas construtivistas, o AVA deve proporcionar aprendizagens significativas, capazes de envolver os alunos e contribuir para o trabalho cooperativo e colaborativo, além disso, os estudantes devem ser incentivados a conduzir as atividades e construir seus próprios percursos de aprendizagem. 47 Contudo,
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