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1 BASE DE UM ESPAÇO VETORIAL Um conjunto 𝐵 = {𝑣1, 𝑣2, ⋯ , 𝑣𝑛} de vetores de um espaço vetorial V é uma base de V se: i. 𝐵 é LI. ii. 𝐵 gera o espaço vetorial 𝑉, isto é, 𝑉 = [𝐵]. Exemplo Mostre que o conjunto 𝐵 = { 𝑡2 + 1, 𝑡 − 1, 2𝑡 + 2} é uma base do espaço vetorial 𝑃2. Solução: Devemos mostrar que 𝐵 gera 𝑃2 e é LI. Para mostrar que 𝐵 gera 𝑃2, tomamos qualquer vetor em 𝑃2, isto é, um polinômio 𝑎𝑡 2 + 𝑏𝑡 + 𝑐, e devemos encontrar as constantes 𝛼1, 𝛼2 e 𝛼3 tais que 𝑎𝑡2 + 𝑏𝑡 + 𝑐 = 𝜆1(𝑡 2 + 1) + 𝜆2(𝑡 − 1) + 𝜆3(2𝑡 + 2) = 𝜆1𝑡 2 + (𝜆2 + 2𝜆3)𝑡 + (𝜆1 − 𝜆2 + 2𝜆3) Como dois polinômios são iguais para todos os valores de 𝑡 se e somente se os coeficientes das respectivas potências de 𝑡 forem iguais, obtém-se o sistema linear 𝜆1 = 𝑎 𝜆2 + 2𝜆3 = 𝑏 𝜆1 − 𝜆2 + 2𝜆3 = 𝑐 Resolvendo, tem-se 𝜆1 = 𝑎, 𝜆2 = 𝑎 + 𝑏 − 𝑐 2 , 𝜆3 = 𝑐 + 𝑏 − 𝑎 4 . Portanto, 𝐵 gera 𝑃2. Para mostrar que 𝐵 é LI, escreve-se 𝜆1(𝑡 2 + 1) + 𝜆2(𝑡 − 1) + 𝜆3(2𝑡 + 2) = 0. A combinação linear é válida para todos os valores de 𝑡 se e somente se 2 𝜆1 = 0 𝜆2 + 2𝜆3 = 0 𝜆1 − 𝜆2 + 2𝜆3 = 0 A única solução para este sistema homogêneo é 𝜆1 = 𝜆2 = 𝜆3 = 0, o que implica que 𝐵 é linearmente independente. Assim, 𝐵 é uma base para 𝑃2. Exemplo Encontre uma base para o subespaço 𝑊 de 𝑃2 que consiste em todos os polinômios do tipo 𝑎𝑡2 + 𝑏𝑡 + 𝑐, em que 𝑐 = 𝑎 − 𝑏. Solução: Todo vetor em 𝑊 é do tipo 𝑎𝑡2 + 𝑏𝑡 + (𝑎 − 𝑏) que pode ser escrito como 𝑎(𝑡2 + 1) + 𝑏(𝑡 − 1), Portanto, os vetores 𝑡2 + 1 e 𝑡 − 1 geram 𝑊. Além disso, estes vetores são LI pois um não é múltiplo do outro. Outra maneira de mostrar é usar a definição 𝜆1(𝑡 2 + 1) + 𝜆2(𝑡 − 1) = 0 ⇓ 𝑡2𝜆1 + 𝑡𝜆2 + (𝜆1 − 𝜆2) = 0. Como esta equação é válida para todos os valores de 𝑡, devemos ter 𝜆1 = 0 e 𝜆2 = 0. Observação: dim 𝑊 = 2. Teorema Seja 𝑊 um subespaço vetorial de um espaço vetorial de 𝑉.Se dim 𝑉 = 𝑛 então dim 𝑊 ≤ 𝑛. Em particular, se dim 𝑊 = 𝑛 então 𝑊 = 𝑉. Prova: Como 𝑉 tem dimensão 𝑛, quaisquer 𝑛 + 1 ou mais vetores são LD. Além disso, como uma base de 𝑊 consiste de vetores LI, ela não pode conter mais do que 𝑛 elementos. Consequentemente, dim 𝑊 ≤ 𝑛. 3 Em particular, se 𝐵 = {𝑤1, 𝑤2, ⋯ , 𝑤𝑛} é uma base de 𝑊, então, como 𝐵 é um conjunto LI com 𝑛 elementos, é também uma base de 𝑉. Assim, 𝑊 = 𝑉 quando dim 𝑊 = 𝑛. ∎ Exemplo Seja 𝑊 um subespaço vetorial real do espaço vetorial 𝑅3. Ora, dim 𝑅3 = 3. Logo pelo teorema anterior, a dimensão de 𝑊 só pode ser 0, 1, 2 ou 3. Valem os seguintes casos: i. dim 𝑊 = 0 então 𝑊 = {0}; ii. dim 𝑊 = 1 então 𝑊 é uma reta que passa pela origem; iii. dim 𝑊 = 2 então 𝑊 é um plano que passa pela origem; iv. dim 𝑊 = 3 então 𝑊 é todo o espaço 𝑅3. Teorema se 𝐵 = {𝑣1, 𝑣2, ⋯ , 𝑣𝑛} é uma base de 𝑉 então todo vetor em 𝑉 pode ser escrito de uma e apenas uma maneira como uma combinação linear dos vetores de 𝐵. Prova: Todo vetor 𝑣 ∈ 𝑉 pode ser escrito como uma combinação linear dos vetores em 𝐵, pois 𝐵 gera 𝑉. Suponha que 𝑣 possa ser escrito como combinação linear de 𝑣1, 𝑣2, ⋯ , 𝑣𝑛 de duas maneiras distintas 𝑣 = 𝛼1𝑣1 + 𝛼2𝑣2 + ⋯ + 𝛼𝑛𝑣𝑛 (1) e 𝑣 = 𝛽1𝑣1 + 𝛽2𝑣2 + ⋯ + 𝛽𝑛𝑣𝑛 (2) Subtraindo (2) de (1), obtem-se 0 = (𝛼1 − 𝛽1)𝑣1 + (𝛼2 − 𝛽2)𝑣2 + ⋯ + (𝛼𝑛 − 𝛽𝑛)𝑣𝑛 . Como 𝐵 é LI, segue que 𝛼𝑖 − 𝛽𝑖 = 0, 1 ≤ 𝑖 ≤ 𝑛, logo 𝛼𝑖 = 𝛽𝑖 , 1 ≤ 𝑖 ≤ 𝑛. Portanto, há apenas uma maneira de expressar 𝑣 como uma combinação linear dos vetores de 𝐵. ∎ 4 PROCEDIMENTO PARA ENCONTRAR UMA BASE PARA UM SUBESPAÇO Seja 𝑉 = 𝑅𝑛 e 𝑆 = {𝑣1, 𝑣2, ⋯ , 𝑣𝑚} um conjunto de vetores não nulos em 𝑉. O procedimento para encontrar um subconjunto de 𝑆 que seja uma base para 𝑊 = [𝑆] é mostrado a seguir: Passo 1. Faça a combinação linear 𝛼1𝑣1 + 𝛼2𝑣2 + ⋯ + 𝛼𝑛𝑣𝑛 = 0. Passo 2. Construa a matriz aumentada associada ao sistema homogêneo e transforme-a na forma escalonada reduzida por linhas. Passo 3. Os vetores correspondentes às colunas que contêm o primeiro elemento não nulo de cada linha, que é, 1, formam uma base para 𝑊 = [𝑆]. Exemplo Seja 𝑆 = {𝑣1, 𝑣2, 𝑣3, 𝑣4, 𝑣5} um conjunto de vetores em 𝑅 4, em que 𝑣1 = (2,1,1, −1), 𝑣2 = (−3, 0, −4,3), 𝑣3 = (2,1,1, −1), 𝑣4 = (−3,3, −9,6) e 𝑣5 = (9,3,7, −6). Encontre um subconjunto de 𝑆 que seja uma base para 𝑊 = [𝑆]. Solução: Passo 1: Faça a combinação linear 𝛼1(1,2, −2,1) + 𝛼2(−3,0, −4,3) + 𝛼3(2,1,1, −1) + 𝛼4(−3,3,9,6) + 𝛼5(9,3,7, −6) = (0,0,0,0) Passo 2: Igualando as componentes correspondentes, obtém-se o sistema homogêneo 𝛼1 − 3𝛼2 + 2𝛼3 − 3𝛼4 + 9𝛼5 = 0 2𝛼1 + 𝛼3 + 3 𝛼4 + 3 𝛼5 = 0 −2𝛼1 − 4𝛼2 + 𝛼3 − 9𝛼4 + 7𝛼5 = 0 𝛼1 + 3𝛼2 − 𝛼3 + 6𝛼4 − 6𝛼5 = 0 A forma escalonada reduzida por linhas da matriz aumentada associada é 5 [ 1 0 1/2 3/2 3/2 0 0 1 −1/2 3/2 −5/2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ] Passo 3. Os primeiros elementos não-nulos das linhas aparecem nas colunas 1 e 2, logo {𝑣1, 𝑣2} é uma base de 𝑊 = [𝑆]. Exemplo Encontre uma base do 𝑅4 que contenha os vetores 𝑣1 = (1,0,1,0) e 𝑣2 = (−1,1, −1,0). Solução: Seja {𝑒1, 𝑒2, 𝑒3, 𝑒4} a base canônica do 𝑅 4, em que 𝑒1 = (1,0,0,0), 𝑒2 = (0,1,0,0), 𝑒3 = (0,0,1,0) e 𝑒4 = (0,0,0,1). Considere o conjunto 𝑆 = {𝑣1, 𝑣2, 𝑒1, 𝑒2, 𝑒3, 𝑒4}. Como {𝑒1, 𝑒2, 𝑒3, 𝑒4} gera 𝑅 4, 𝑆 também gera 𝑅4. Faça a combinação linear 𝛿1𝑣1 + 𝛿2𝑣2 + 𝛿3𝑒1 + 𝛿4𝑒2 + 𝛿5𝑒3 + 𝛿6𝑒4 = 0 que nos leva ao sistema homogêneo 𝛿1 − 𝛿2 + 𝛿3 = 0 −𝛿2 + 𝛿4 = 0 + 𝛿5 = 0 + 𝛿6 = 0 Escalonando a matriz aumentada, obtemos [ 1 0 0 1 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 −1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 ] 6 Como os primeiros elementos não nulos das linhas aparecem nas colunas 1,2,3 e 6, conclui-se que {𝑣1, 𝑣2, 𝑒1, 𝑒4} é uma base do 𝑅 4 que contém 𝑣1 e 𝑣2. COORDENADAS DE UM VETOR Seja 𝑉 é um espaço vetorial de dimensão n. Se 𝐵 = {𝑣1, 𝑣2, ⋯ , 𝑣𝑛} é uma base ordenada do espaço V. então todo vetor 𝑣 em 𝑉 pode ser expresso de maneira única na forma 𝑣 = 𝛼1𝑣1 + 𝛼2𝑣2 + ⋯ + 𝛼𝑛𝑣𝑛 em que 𝛼1, 𝛼2, ⋯ , 𝛼𝑛 são números reais. Então 𝛼1, 𝛼2, ⋯ , 𝛼𝑛 são as de coordenadas de 𝑣 em relação à base 𝐵. Representamos 𝑣 por seu vetor coluna das coordenadas, denotado por [𝑣]𝐵 = ( 𝛼1 𝛼2 ⋮ 𝛼𝑛 ) = (𝛼1, 𝛼2, ⋯ , 𝛼𝑛) 𝑡 Exemplo Encontre o vetor das coordenadas de (1,0) em relação à base ordenada 𝐵 = {(1,1), (−1,2)}. Temos que encontrar 𝛼 e 𝛽 tais que 𝛼(1,1) + 𝛽(−1,2) = (1,0) Resolvendo a equação obtém-se 𝛼 − 𝛽 = 1 𝛼 + 2𝛽 = 0 cuja solução é 𝛼 = 2 3 e 𝛽 = − 1 3 Logo o vetor das coordenadas de (1,0) em relação à base 𝐵 é [(1,0)]𝐵 = [ 2 3 − 1 3 ]. 7 Exemplo Seja 𝑉 o espaço vetorial 𝑃1 de todos os polinômios de grau ≤ 1, e sejam 𝐵1 = {𝑣1, 𝑣2} e 𝐵2 = {𝑤1, 𝑤2} duas bases de 𝑃1 em que 𝑣1 = 𝑡, 𝑣2 = 1, 𝑤1 = 𝑡 + 1, 𝑤2 = 𝑡 − 1. Seja 𝑣 = 𝑝(𝑡) = 5𝑡 − 2. a) Calcule [𝑣]𝐵1 b) Calcule [𝑣]𝐵2 Solução: a) Como 𝐵1 é base canônica para 𝑃1, temos 5𝑡 − 2 = 5𝑡 + (−2)(1). Portanto [𝑣]𝐵1 = [ 5 −2 ]. b) Para calcular [𝑣]𝐵2, devemos escrever 𝑣 como uma combinação linear de 𝑤1 e 𝑤2. Assim, 5𝑡 − 2 = 𝛼1(𝑡 + 1) + 𝛼2(𝑡 − 1) ou 5𝑡 − 2 = (𝛼1 + 𝛼2)𝑡 + (𝛼1 − 𝛼2). Comparando os coeficientes de mesma potência de t, obtém-se o sistema linear 𝛼1 + 𝛼2 = 5 𝛼1 − 𝛼2 = −2 cuja solução é 𝛼1 = 3 2 e 𝛼2 = 7 2 . Portanto, o vetor das coordenadas de 𝑣 = 𝑝(𝑡) = 5𝑡 − 2 em relação a base 𝐵2 [𝑣]𝐵2 = [ 3 2 7 2 ]. 8 MUDANCA DE BASE Sejam 𝛽 = {𝑢1, 𝑢2, ⋯ , 𝑢𝑛} e 𝛽 ′ = {𝑤1, 𝑤2, ⋯ , 𝑤𝑛} duas bases ordenadasde um mesmo espaço vetorial 𝑉. Dado um vetor 𝑣 ∈ 𝑉, podemos escrevê- lo como 𝑣 = 𝑥1𝑢1 + 𝑥2𝑢2 + ⋯ + 𝑥𝑛𝑢𝑛 𝑣 = 𝑦1𝑤1 + 𝑦2𝑤2 + ⋯ + 𝑦𝑛𝑤𝑛 (1) Como podemos relacionar as coordenadas de 𝑣 em relação à base 𝛽, [𝑣]𝛽 = ( 𝑥1 𝑥2 ⋮ 𝑥𝑛 ) com as coordenadas do mesmo vetor 𝑣 em relação à base 𝛽′ [𝑣]𝛽′ = ( 𝑦1 𝑦2 ⋮ 𝑦𝑛 ) já que {𝑢1, 𝑢2, ⋯ , 𝑢𝑛} é base e 𝑉, podemos escrever os vetores𝑤𝑖 como combinação linear da base 𝛽, isto e, (2) { 𝑤1 = 𝑎11𝑢1 + 𝑎21𝑢2 + ⋯ + 𝑎𝑛1𝑢𝑛 𝑤2 = 𝑎12𝑢1 + 𝑎22𝑢2 + ⋯ + 𝑎𝑛2𝑢𝑛 ⋮ = ⋮ + ⋮ + ⋯ + ⋮ 𝑤𝑛 = 𝑎1𝑛𝑢1 + 𝑎2𝑛𝑢2 + ⋯ + 𝑎𝑛𝑛𝑢𝑛 Substituindo (2) em (1) temos: 𝑣 = 𝑦1𝑤1 + ⋯ + 𝑦𝑛𝑤𝑛 = 𝑦1(𝑎11𝑢1 + ⋯ + 𝑎𝑛1𝑢𝑛) + ⋯ + 𝑦𝑛(𝑎1𝑛𝑢1 + ⋯ + 𝑎𝑛𝑛𝑢𝑛) = (𝑎11𝑦1 + ⋯ + 𝑎1𝑛𝑦𝑛)𝑢1 + ⋯ + (𝑎𝑛1𝑦1 + ⋯ + 𝑎𝑛𝑛𝑦𝑛)𝑢𝑛 Mas 𝑣 = 𝑥1𝑢1 + 𝑥2𝑢2 + ⋯ + 𝑥𝑛𝑢𝑛 e como as coordenadas em relação a uma base são únicas temos: 9 𝑎11𝑦1 + 𝑎12𝑦2 + ⋯ + 𝑎1𝑛𝑦𝑛 = 𝑥1 𝑎21𝑦1 + 𝑎22𝑦2 + ⋯ + 𝑎2𝑛𝑦𝑛 = 𝑥2 ⋮ + ⋮ + ⋯ + ⋮ = ⋮ 𝑎𝑛1𝑦1 + 𝑎𝑛2𝑦2 + ⋯ + 𝑎𝑛𝑛𝑦𝑛 = 𝑥𝑛 Em forma matricial [ 𝑥1 ⋮ 𝑥𝑛 ] = [ 𝑎11 ⋯ 𝑎1𝑛 ⋮ ⋱ ⋮ 𝑎𝑛1 ⋯ 𝑎𝑛𝑛 ] [ 𝑦1 ⋮ 𝑦𝑛 ] Isto é, denotando [𝐼]𝛽 𝛽′ = [ 𝑎11 ⋯ 𝑎1𝑛 ⋮ ⋱ ⋮ 𝑎𝑛1 ⋯ 𝑎𝑛𝑛 ] [𝐼]𝛽 𝛽′ e chamada matriz de mudança de base da base 𝛽′ para a base 𝛽. [𝑣]𝛽= [𝐼]𝛽 𝛽′ [𝑣]𝛽′
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