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AULA 2 CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL Prof. Gabriel N. Coelho 2 CONVERSA INICIAL Ao se analisar a história, os registros indicam que a ciência contábil praticamente surgiu com o advento da civilização; com a capacidade do homem de armazenar bens, nasceu a necessidade de controle deles. Há evidências históricas de registros contábeis nas civilizações dos sumérios, babilônios, assírios, egípcios, hebreus, gregos etc. (Padoveze, 2008). A importância desse ramo da contabilidade para o avanço dos negócios, seja no setor público, seja no privado, é fundamental. A contabilidade possui ramificações, e quando aplicada a segmento específico recebe denominação própria. Existem vários tipos, como contabilidade financeira, contabilidade fiscal, contabilidade rural, contabilidade internacional, contabilidade bancária, contabilidade imobiliária, auditoria contábil, perícia contábil, contabilidade gerencial etc. O escopo de nosso estudo é a contabilidade pública, uma das ramificações da contabilidade que se ocupa do registro das alterações ocorridas no orçamento e no patrimônio das entidades públicas. Esse ramo, atualmente, vem passando por grandes transformações, apresentando assim características que o tornam mais complexo. Em virtude das recentes normas vigentes e da emissão da nova edição do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), válido a partir de 2019, muitos dos conceitos apresentados são extraídos desse material e dos novos regulamentos. Alguns temas e conceitos presentes no documento podem ser mais bem explorados por meio de consulta às fontes originais registradas nas referências. Avançando no conteúdo, iremos conhecer quais são os princípios contábeis sob a perspectiva do setor público, os regimes contábeis aplicados, as características qualitativas da informação contábil, os elementos das demonstrações contábeis e os critérios de reconhecimento. Saiba mais Para conhecer a respeito da origem da contabilidade e os fatos mais importantes de sua trajetória, uma boa sugestão é assistir ao vídeo “A história da Contabilidade”, produzido pela Fundação Brasileira de Contabilidade. O material está disponível no seguinte endereço eletrônico: <https://www.youtube.com/watch?v=yW-2SRWpnGg>. https://www.youtube.com/watch?v=yW-2SRWpnGg 3 TEMA 1 – PRINCÍPIOS APLICADOS À CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL As práticas contábeis do setor público decorrem de leis, decretos e portarias. Contudo, apesar do peso da legislação, a contabilidade é uma ciência. Como tal, aplica, no processo gerador de informações, princípios, normas e técnicas contábeis objetivando a divulgação das variações do património das entidades, refletindo a essência das transações governamentais, e não meramente o cumprimento dos aspectos legais e formais. Assim salienta a Resolução n. 1.111/2007 do Conselho Federal de Contabilidade: “O ponto de partida para qualquer área do conhecimento humano deve ser sempre os princípios que a sustentam. Esses princípios espelham a ideologia de determinado sistema, seus postulados básicos e seus fins” (CFC, 2007). Os princípios contabilísticos representam o núcleo central da contabilidade, servindo como “vigas mestras” na construção de uma ciência. São válidos em qualquer conjuntura, com os atributos de veracidade e universalidade, pois referem-se sempre, por definição, à Ciência da Contabilidade de forma holística (CFC, 2008). A Resolução CFC n. 750/1993 (hoje revogada, como veremos no próximo tópico) dispõe sobre os princípios contábeis que devem ser observados no exercício da profissão contábil no Brasil. Posteriormente, em 2007, o mesmo Conselho editou a Resolução n. 1.111, que apresenta a adequada interpretação para os princípios contábeis sob a perspectiva do setor público, conforme indicado no Quadro 1. 4 Quadro 1 – Princípios contábeis sob a perspectiva do setor público Princípio Perspectiva do setor público Entidade “O Princípio da Entidade se afirma, para o ente público, pela autonomia e responsabilização do patrimônio a ele pertencente. A autonomia patrimonial tem origem na destinação social do patrimônio e a responsabilização pela obrigatoriedade da prestação de contas pelos agentes públicos”. Continuidade “No âmbito da entidade pública, a continuidade está vinculada ao estrito cumprimento da destinação social do seu património, ou seja, a continuidade da entidade se dá enquanto perdurar sua finalidade”. Oportunidade “O Princípio da Oportunidade é base indispensável à integridade e à fidedignidade dos processos de reconhecimento, mensuração e evidenciação da informação contábil, dos atos e dos fatos que afetam ou possam afetar o patrimônio da entidade pública, observadas as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao Setor Público. A integridade e a fidedignidade dizem respeito à necessidade de as variações serem reconhecidas na sua totalidade, independentemente do cumprimento das formalidades legais para sua ocorrência, visando ao completo atendimento da essência sobre a forma”. Registro pelo valor original “Nos registros dos atos e fatos contábeis será considerado o valor original dos componentes patrimoniais. Valor Original, que ao longo do tempo não se confunde com o custo histórico, corresponde ao valor resultante de consensos de mensuração com agentes internos ou externos, com base em valores de entrada – a exemplo de custo histórico, custo histórico corrigido e custo corrente; ou valores de saída – a exemplo de valor de liquidação, valor de realização, valor presente do fluxo de benefício do ativo e valor justo”. Competência “O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento. Pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas”. O princípio se aplica integralmente ao setor público. Prudência As estimativas de valores que afetam o patrimônio devem refletir a aplicação de procedimentos de mensuração que prefiram montantes, menores para ativos, entre alternativas igualmente válidas, e valores maiores para passivos. A prudência deve ser observada quando, existindo um ativo ou um passivo já escriturado por determinados valores, segundo os Princípios do Valor Original, surgirem possibilidades de novas mensurações”. Fonte: CFC, 2007. 5 Segundo Silva (2011), os princípios contabilísticos, apesar de não serem aprovados por leis primárias, representam verdades doutrinárias básicas e constituem a teoria e as normas provenientes da razão e da experiência acumulada no exercício profissional. 1.1 Considerações sobre a revogação dos princípios contábeis A busca por padrões internacionais na contabilidade governamental (pública) carecia de uma estrutura conceitual que pudesse ampliar os princípios da contabilidade sob a perspectiva do setor público. As primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao Setor Público (NBC TSP), editadas em 2008, buscaram compatibilizar as diretrizes dos princípios de contabilidade com a informação contábil do setor público alinhada aos padrões internacionais. Com o advento da NBC TSP Estrutura Conceitual, os princípios de contabilidade passaram a ser comportados dentro das normas específicas. Diante desses fatos, tornou-se necessária e natural a revogação da Resolução n. 750/1993, que tratava dos princípios, para evitar eventual conflito de referência conceitual. Saiba mais Se você deseja conhecer o posicionamento do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) a respeito dos princípios contábeis, é interessante o artigo escrito por Maristela Girotto intitulado “Revogação da Resolução n. 750/1993: contexto e considerações”. O texto está disponível no seguinte link: <https://cfc.org.br/noticias/revogacao-da-resolucao-no-7501993-contexto-e-consideracoes/>. TEMA 2 – REGIMES CONTÁBEIS APLICADOS À CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL Regime contábil é o critério adotado para o registro das transações de despesas e receitas e o reconhecimento das alterações ocorridas no patrimônio das entidades para apuração do resultado. Conforme observado anteriormente nos princípios contábeis, a contabilidade aplicada ao setor público aplica o regime da competência em sua integralidade. Em outras palavras, os efeitos das transações e outros eventos 6 sobre o patrimônio são reconhecidos quando ocorrem, independentemente de recebimento ou pagamento. Conforme art. 85 da Lei n. 4.320/1964, “os serviços de contabilidade serão organizados de forma a permitirem o acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição patrimonial [...]” (Brasil, 1964, grifo nosso). Para realizar o acompanhamento da execução orçamentária, a área pública adota o regime misto para os registros da receita e despesa orçamentária. A receita segue o regime de caixa e é reconhecida no momento da sua arrecadação, e a despesa, o regime da anualidade orçamentária, sendo reconhecida pelo empenho, conforme descrito no art. 35 da Lei n. 4.320/1964: “Pertencem ao exercício financeiro: I – as receitas nele arrecadadas; II – as despesas nele legalmente empenhadas” (Brasil, 1964). Conforme consta no art. 34 do mesmo dispositivo legal, “o exercício financeiro coincidirá com o ano civil” (Brasil, 1964). Isso significa que o exercício financeiro é o período de 12 meses, contado do dia do início ao dia correspondente no mesmo mês do ano seguinte (1° de janeiro a 31 de dezembro). Atenção O regime contábil não deve ser confundido com o regime orçamentário! O Quadro 2 apresenta as principais características dos regimes orçamentário e contábil aplicados na contabilidade governamental. Quadro 1 – Regimes da contabilidade governamental Regimes da contabilidade aplicada ao setor público Regime orçamentário Regime contábil (patrimonial) Base normativa: Lei n. 4.320/1964 (art. 35) Base normativa: NBC TSP – Estrutura Conceitual Evento Critério Evento Critério Receita orçamentária Arrecadação Variação Patrimonial Aumentativa Competência Despesa orçamentária Empenho Variação Patrimonial Diminutiva Competência Fonte: Adaptado de Brasil, 2018, p. 102. 7 Por possuir critérios distintos para receitas e despesas, o regime orçamentário é também conhecido como regime misto, ou seja, regime de caixa para as receitas (receitas arrecadadas) e regime de competência para as despesas (despesas empenhadas). Visando entender como essas transações são registradas, o próximo tema faz algumas considerações a respeito das naturezas da informação no registro contábil. 2.1 Considerações sobre as naturezas no registro contábil Os diferentes tipos de regimes (orçamentário e contábil) são registrados contabilmente em naturezas específicas, as quais, presentes no Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP), possuem uma estrutura lógica que separa o aspecto patrimonial do orçamental por meio de registos contábeis dentro de classes de mesma natureza de informação. Dessa forma, os fatos e atos administrativos são registrados conforme a natureza da informação contabilística, conforme mostrado na Figura 1. Figura 1 – Naturezas da informação contábil Fonte: Adaptado de Brasil, 2019c. As naturezas e suas classes serão mais bem abordadas posteriormente. Destaca-se que a parte IV do MCASP é dedicada exclusivamente ao Plano de Contas Aplicado ao Setor Público, no qual a estrutura do plano de contas e a natureza da informação contábil são apresentados. 8 As informações contábeis devem apresentar características específicas para ser reconhecidas como tal, conforme veremos no tema a seguir. TEMA 3 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS As características qualitativas são atributos que tornam a informação útil aos usuários e dão suporte ao cumprimento dos objetivos da informação contábil. São elas: relevância, representação fidedigna, compreensibilidade, tempestividade, comparabilidade e verificabilidade. A Figura 2 as mostra esquematicamente. Figura 2 – Características qualitativas da informação Fonte: Brasil, 2019a. Cada uma das características qualitativas e seus conceitos, bem como as restrições, são apresentados a partir de agora. 3.1 Relevância As informações são relevantes quando capazes de influenciar significativamente o cumprimento dos objetivos da elaboração e da divulgação da informação contábil. Para tanto, devem ter valor confirmatório, preditivo ou ambos (Brasil, 2018, p. 22). As informações que registram fenômenos que existam ou já tenham ocorrido podem servir para embasar previsões ou estimativas. Nesse sentido, possuem valor preditivo ao auxiliar a criar expectativas sobre o futuro. 3.2 Representação fidedigna 9 Para ser útil como informação contábil, esta deve corresponder à representação fidedigna dos fenômenos que pretende representar. A representação fidedigna é alcançada quando a representação do fenômeno é completa, neutra e livre de erro material (Brasil, 2018, p. 23). Uma representação completa implica não omitir informações que possam ser úteis aos usuários; caso necessário maiores explicações sobre um evento, devem ser feitas para que a informação não seja falsa ou enganosa. A neutralidade da informação contábil diz respeito à ausência de viés, ou seja, algo que possa induzir um resultado ou comportamento. A informação neutra representa fielmente os fenômenos econômicos e outros fenômenos que se propõe a representar. Estar livre de erro material não significa exatidão completa em todos os aspectos, e caso não seja possível alcançar a exatidão, a explicação das possíveis distorções deve ser registrada. 3.3 Compreensibilidade A compreensibilidade é a qualidade da informação que permite que os usuários compreendam o seu significado. As demonstrações contábeis devem mostrar os dados de maneira que correspondam às necessidades e à base do conhecimento dos usuários, bem como à natureza do que foi apresentado. A compreensão é aprimorada quando a informação é classificada e disposta de forma clara e sucinta (Brasil, 2018, p. 23). 3.4 Tempestividade Tempestividade significa ter informação disponível aos usuários antes que esta perca a capacidade de ser útil. Ter informação disponível mais rapidamente pode torná-la insumo para processos de avaliação da prestação de contas e responsabilização (accountability) e favorecer a condição de informar e influenciar os processos decisórios. A ausência de tempestividade pode tornar a informação menos útil (Brasil, 2018, p. 23). 3.5 Comparabilidade Comparabilidade é a qualidade da informação que possibilita aos usuários identificarem semelhanças e diferenças entre dois conjuntos de fenômenos. Não 10 se trata de uma qualidade de item individual de informação, mas, antes, da relação entre dois ou mais itens de informação (Brasil, 2018, p. 23). 3.6 Verificabilidade A verificabilidade é a qualidade da informação que ajuda a assegurar aos usuários que o que está contido nas demonstrações contábeis diz respeito fielmente aos fenômenos econômicos ou de outra natureza que se propõe a representar (Brasil, 2018, p. 23). Essa característica implica que dois observadores esclarecidos e independentes podem chegar a um consenso, não necessariamente à concordância completa, de que a informação realmente traduz os fenômenos que pretende representar. 3.7 Restrições inerentes à informação Na prática, talvez não seja possível alcançar todas as características qualitativas aqui descritas, em virtude de algumas restrições. Nesse caso, deve haver um equilíbrio ou compensação entre elas. Abaixo, elencamos considerações sobre as restrições inerentes à informação, quesão a materialidade, o custo-benefício e o alcance do equilíbrio apropriado entre as características qualitativas. Materialidade – a informação é material se a sua omissão ou distorção puderem influenciar as decisões que os usuários tomam. Custo-benefício – os benefícios decorrentes da informação devem exceder o custo de produzi-la. A avaliação dos custos e benefícios é, entretanto, em essência, um exercício de julgamento. Equilíbrio entre as características qualitativas – o equilíbrio entre as características qualitativas é necessário para se alcançarem os objetivos da informação contábil. Todas as características qualitativas apresentadas, bem como suas restrições, são requisitos para que a informação seja registrada e evidenciada nas demonstrações contábeis e nos Relatórios Contábeis de Propósito Geral das Entidades do Setor Público (RCPG’s). TEMA 4 – ELEMENTOS DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 11 Conforme a NBC TSP – Estrutura Conceitual (CFC, 2006), os elementos correspondem às estruturas básicas a partir das quais as demonstrações contábeis são elaboradas. Tais estruturas fornecem um ponto inicial para reconhecer, classificar e agregar dados e atividades econômicas, de maneira a oferecer aos usuários informação que satisfaça aos objetivos e atinja as características qualitativas da informação contábil, levando em consideração as restrições sobre esta. Os elementos das demonstrações contábeis são: ativo, passivo, receita, despesa, contribuição dos proprietários e distribuição aos proprietários (Figura 3). Figura 3 – Elementos das Demonstrações Contábeis Fonte: Adaptado de Brasil, 2019a. Em casos específicos, o recurso ou a obrigação pode não satisfazer a definição de elemento definido na Estrutura Conceitual e precise ser reconhecido nas demonstrações contábeis. Nesses casos, NBCs TSP específicas podem exigir ou permitir que esses recursos ou obrigações sejam reconhecidos como outros recursos ou outras obrigações, os quais são itens adicionais aos elementos definidos na Estrutura Conceitual. Apresentados os elementos das demonstrações contábeis na Figura 3, vamos aprofundar os conceitos e características de cada um deles com base na NBC TSP – Estrutura Conceitual. 4.1 Ativo Ativo é um recurso controlado no presente pela entidade como resultado de evento passado (Brasil, 2018). Essa definição apresenta três características fundamentais para que um item seja considerado como um ativo, identificadas na Figura 4 e explicadas na sequência. 12 Figura 4 – Características do ativo Fonte: Brasil, 2019b. Recurso: é um item com potencial de serviços ou com a capacidade de gerar benefícios econômicos. A forma física não é uma condição necessária para um recurso. Controlado: a entidade deve ter o controle do recurso, ou seja, a capacidade de ela utilizá-lo (ou poder controlá-lo por terceiros). Resultado de Evento Passado: podem existir diversas transações passadas ou outros eventos que resultem no ganho do controle do recurso pela entidade e, por conseguinte, o caracterize como ativo. As entidades podem obter ativos por intermédio da sua compra em transação com contraprestação, bem como pelo seu desenvolvimento. 4.2 Passivo Passivo é uma obrigação presente, derivada de evento passado, cuja extinção deva resultar na saída de recursos da entidade (Brasil, 2018). Suas características estão ilustradas na Figura 5 e explicadas a seguir. 13 Figura 5 – Características do passivo Fonte: Brasil, 2019b. Obrigação presente – trata-se de uma característica essencial para a existência de um passivo. Ocorre por força de lei (obrigação legal ou obrigação legalmente vinculada) ou não (obrigação não legalmente vinculada), a qual não possa ser evitada pela entidade. Saída de recursos da entidade – um passivo deve envolver uma saída de recursos da entidade para ser extinto. A obrigação que pode ser extinta sem a saída de recursos não é um passivo, como, por exemplo, o perdão de dívidas. Evento passado – para satisfazer a definição de passivo, é necessário que a obrigação presente surja como resultado de um evento passado e necessite da saída de recursos da entidade para ser extinta. 4.3 Receita e despesa As receitas e despesas sob o enfoque patrimonial recebem nomenclaturas específicas. A receita é denominada de Variação Patrimonial Aumentativa (VPA), e a despesa, Variação Patrimonial Diminutiva (VPD). Essas variações patrimoniais podem ser definidas como: Variação Patrimonial Aumentativa (VPA) – corresponde a aumentos na situação patrimonial líquida da entidade não oriundos de contribuições dos proprietários. Como exemplos, podemos citar o recebimento de doação de 14 bem imóvel, receitas de transferências correntes e descontos financeiros obtidos (Brasil, 2018). Variação Patrimonial Diminutiva (VPD) – refere-se a diminuições na situação patrimonial líquida da entidade não oriundas de distribuições aos proprietários. O pagamento de despesas de pessoal ativo, o consumo de material e o pagamento por serviços prestados são alguns exemplos (Brasil, 2018). Um resumo das diferenças entre as características entre VPA e VPD é apresentado no Quadro 3. Quadro 3 – Características das receitas (VPA) e despesas (VPD) Característica Receita (VPA) Despesa (VPD) Benefícios econômicos Aumento Redução Período de apuração Período contábil (exercício) Período contábil (exercício) Relação com entrada / saída de recursos Entrada Saída Possíveis reflexos no ativo Aumento Redução Possíveis reflexos no passivo Redução Aumento Reflexo na situação patrimonial líquida Aumento Redução Relações com os proprietários Não se confundem com contribuições dos proprietários Não se confundem com distribuições aos proprietários Fonte: Adaptado de Brasil, 2019b. É importante distinguir os conceitos de VPA e VPD dos conceitos de distribuição aos proprietários e contribuição dos proprietários, e até mesmo as entradas que estabelecem inicialmente suas participações na entidade. Além do aporte de recursos e do pagamento de dividendos que podem ocorrer, é relativamente comum que ativos e passivos sejam transferidos entre entidades do setor público. Sempre que tais transferências satisfizerem as definições de contribuição dos proprietários ou de distribuição aos proprietários, elas devem ser contabilizadas como tal. Atenção Tendo em vista que no setor público o foco não está no lucro, e sim na prestação de serviços, o confronto entre despesas e receitas não resulta em lucro ou prejuízo. Superávit ou déficit é resultado do confronto entre receitas e despesas: 15 Superávit = ∑Receitas > ∑Despesas Déficit = ∑Receitas < ∑Despesas 4.4 Contribuição dos proprietários Contribuição dos proprietários corresponde à entrada de recursos para a entidade a título de contribuição de partes externas, estabelecendo ou aumentando a participação delas no patrimônio líquido da entidade. Como exemplo desse tipo de transação, temos o aporte inicial de recursos na criação da entidade ou mesmo o subsequente, voltado até para reestruturação (Brasil, 2018). 4.5 Distribuição aos proprietários Distribuição aos proprietários consiste na saída de recursos da entidade a título de distribuição a partes externas; representa retorno sobre a participação ou a redução dessa participação no patrimônio líquido da entidade (Brasil, 2018). A extinção de uma entidade do setor público é um exemplo desse tipo de transação. Conhecer cada um desses elementos é essencial para a compreensão da forma como um item é reconhecido e incorporado as demonstrações contábeis, assunto este abordado no próximo tema. TEMA 5 – CRITÉRIOS PARA RECONHECIMENTO E BASE DE MENSURAÇÃO O reconhecimento é o processo de incorporar e de incluir um item, expresso em valoresa serem demonstrados no corpo da demonstração contábil apropriada, que satisfaça a definição de elemento e possa ser mensurado de maneira que observe as características qualitativas, levando em conta as restrições sobre a informação incluída nos RCPG’s. O item deve ser reconhecido nas demonstrações contábeis quando: satisfizer a definição de elemento; puder ser mensurado de maneira que observe as características qualitativas, considerando as restrições sobre a informação. O reconhecimento de um item nas demonstrações contábeis exige que este tenha um valor monetário. Para atribuir um valor a ele, é necessário escolher a base de mensuração apropriada e determinar se a mensuração do item cumpre 16 as características qualitativas. A estrutura conceitual indica bases de mensuração para ativos e passivos, as quais são indicadas no Quadro 4. Quadro 4 – Bases de mensuração para ativos e passivos Bases de mensuração de ativos Bases de mensuração de passivos Base de mensuração Custo histórico Valor de mercado Custo de reposição ou substituição Preço líquido de venda Valor em uso Custo histórico Custo de cumprimento da obrigação Valor de mercado Custo de liberação Preço presumido Fonte: Adaptado de CFC, 2006. Ao se avaliar a incerteza sobre a existência do elemento, os mesmos critérios devem ser utilizados para o desreconhecimento, tais como aqueles empregados no reconhecimento inicial. O desreconhecimento consiste na exclusão do item que foi reconhecido nas demonstrações contábeis, ou seja, baixar ativos ou passivos que, por seus conceitos, não se caracterizam mais como tal (CFC, 2006). FECHAMENTO Nesta aula, abordamos quais são os princípios contábeis sob a perspectiva do setor público. Verificamos que estes deixaram de ter uma resolução exclusiva que trata do seu conteúdo e passaram a ser comportados dentro das normas específicas. Identificamos também os regimes utilizados na contabilidade governamental (orçamentário e contábil) e suas características. As características qualitativas da informação foram apresentadas e seus conceitos explorados. Por fim, tratamos das estruturas básicas a partir das quais as demonstrações contábeis são elaboradas (os elementos delas), bem como detalhamos os critérios de reconhecimento e mensuração dos itens que irão compor essas demonstrações. 17 REFERÊNCIAS A HISTÓRIA da Contabilidade. YouTube, 9 fev. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yW-2SRWpnGg>. Acesso em: 23 out. 2019. BRASIL. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 23 mar. 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm>. Acesso em: 23 out. 2019. BRASIL. Ministério da Fazenda. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. 8. ed. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2018. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/695350/CPU_MCASP+8%C 2%AA%20ed+-+publica%C3%A7%C3%A3o_com+capa_3vs_Errata1/6bb7de01- 39b4-4e79-b909-6b7a8197afc9>. Acesso em: 23 out. 2019. _____. Estrutura Conceitual da CASP – Panorama Geral. Secofem/2019. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2019a. Disponível em: <http://www.tesouro.gov.br/documents/10180/719471/MOD+5_Estrutura+Conceital +-+Partes+I+e+II.pdf/9da70c52-47ba-4e35-9191-70cec0c8b37c>. Acesso em: 23 out. 2019. _____. Estrutura Conceitual da CASP – Elementos das Demonstrações Contábeis. Secofem/2019. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2019b. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/779065/M%C3%B3dulo+5+- +Estrutura+Conceital+-+Parte+II+-+Elementos.pdf/91a84a98-6167-4ad2-ad7b- 7cbd55808bef>. Acesso em: 23 out. 2019. _____. Plano de Contas Aplicado ao Setor Público – PCASP. Secofem/2019. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2019c. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/779065/MOD_+01_Plano+d e+Contas+Aplicado+ao+Setor+P%C3%BAblico+%E2%80%93%20PCASP.pdf/7cb 790ef-e961-48b7-bbb4-77933e84fe0a>. Acesso em: 23 out. 2019. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. NBC TSP – Estrutura Conceitual – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público. Brasília: CFC, 2006. _____. Princípios fundamentais e Normas Brasileiras de Contabilidade. 3. ed. Brasília: CFC, 2008. Disponível em: <http://portalcfc.org.br/wordpress/wp- content/uploads/2013/01/Livro_Principios-e-NBCs.pdf>. Acesso em: 23 out. 2019. 18 _____. Resolução CFC n. 1.111, de 29 de novembro de 2007. Brasília: CFC, 2007. Disponível em: <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2007/0011111>. Acesso em: 23 out. 2019. PADOVEZE, C. L. Manual de Contabilidade Básica. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008. SILVA, L. M. Contabilidade governamental – Um enfoque administrativo da nova contabilidade pública. São Paulo: Atlas, 2011.
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