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Brasília-DF. 
Técnicas, DiagnósTicos e 
acompanhamenTos no Trabalho com 
VíTimas De Violência DomésTica
Elaboração
Rogério de Moraes Silva
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção .................................................................................................................................. 4
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................... 5
introdução ..................................................................................................................................... 7
unidAdE ÚniCA
TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA .. 9
CAPÍtuLo 1
APOIO PSICOSSOCIAL ............................................................................................................ 9
CAPÍtuLo 2
PREVENçãO E TRATAMENTO .................................................................................................. 14
CAPÍtuLo 3
REDE NACIONAL DE ATENçãO INTEGRAL ............................................................................... 28
CAPÍtuLo 4
ATENDIMENTO EM SISTEMA PRISIONAL .................................................................................... 35
CAPÍtuLo 5
ATENçãO PSICOSSOCIAL ...................................................................................................... 48
CAPÍtuLo 6
ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS................................................................................................... 59
PArA (não) FinALizAr ...................................................................................................................... 64
rEFErênCiAS .................................................................................................................................... 65
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem 
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela 
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade 
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos 
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma 
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para 
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar 
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a 
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de 
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões 
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao 
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e 
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos 
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
introdução
O assistente social, no exercício de suas atribuições, possui a necessidade do conhecimento na área 
do acompanhamento nos trabalhos com vítimas de violência doméstica.
Por isso, torna-se relevante a obtenção de informações sobre apoio e atenção psicossocial, aspectos 
éticos e legais, prevenção e tratamento de vítimas de violência doméstica. 
Este Caderno de Estudos, portanto, proporciona informações acerca de Técnicas, Diagnósticos 
e Acompanhamentos no Trabalho com Vítimas de Violência Doméstica, com o compromisso de 
orientar os profissionais da área de Serviço Social, para que possam desempenhar suas atividades 
com eficiência e eficácia.
objetivos
 » Levantar técnicas de trabalho com vítimas de violência doméstica.
 » Conhecer as noções fundamentais sobre apoio e atenção psicossocial.
 » Identificar característica de prevenção e tratamento.
 » Conhecer noções relevantes sobre aspectos éticos e legais.
8
9
unidAdE 
ÚniCA
tÉCniCAS, diAgnÓStiCoS 
E ACoMPAnHAMEntoS 
no trABALHo CoM 
VÍtiMAS dE VioLênCiA 
doMÉStiCA
CAPÍtuLo 1
Apoio psicossocial
Em 2004, foi publicada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, elaborada pelo 
Ministério da Saúde, tendo entre seus temas prioritários a atenção a mulheres e adolescentes em 
situação de violência.
Visando a alcançar esse tema específico, a política objetiva organizar redes integradas de atenção para 
mulheres e adolescentes em risco de violência doméstica e sexual, buscando ações de prevenção às 
DSTs/Aids e às hepatites, promovendo o empoderamento feminino e a não repetição desses casos.
O Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 
publicado em dezembro de 2004, corroborou para o enfrentamento das desigualdades de gênero e 
da garantia da atenção integrada e humanizada a mulheres e adolescentes em situação de violência 
doméstica e sexual.
Para o desenvolvimento da atenção integrada para mulheres e adolescentes em situação de violência 
doméstica e sexual, de forma a atender as especificidades de cada município, o Ministério da Saúde 
propõe as seguintes estratégias.
I. Articulação para a formação de redes de atenção integral no âmbito dos governos 
estaduais e municipais, com a participação de organizações não governamentais, 
compreendendo as especificidades e incluindo grupos populacionais discriminados 
por questões de gênero, raça, etnia e idade, a exemplo de remanescentes de 
quilombos, indígenas e profissionais do sexo.
II. Gestão de redes e sistemas de atenção à saúde, visando à prevenção e à atenção 
integrada nos âmbitosfederal, estadual e municipal com as organizações não 
governamentais nas localidades selecionadas.
III. Implantação das normatizações e legislações brasileiras no que se refere aos direitos 
humanos, aos direitos sexuais e reprodutivos, à prevenção e ao tratamento dos 
10
UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
agravos resultantes da violência sexual cometida contra mulheres e adolescentes e, 
ainda, no que se refere à atenção humanizada ao abortamento.
Conceitos
O Ministério da Saúde conceitua a violência como um fenômeno complexo, polissêmico 
e controverso. 
Uma definição de violência:
uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça contra si 
próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que 
resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, 
deficiência de desenvolvimento ou privação de liberdade. (1o Relatório 
Mundial sobre Violência e Saúde – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA 
SAÚDE, 2002)
Em 1980, a violência contra a mulher é conhecida como violência doméstica e, em 1990, como 
violência de gênero.
A Convenção de Belém do Pará (1994) define a violência contra a mulher como:
qualquer ato ou conduta baseada no gênero que cause morte, dano ou 
sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública 
quanto privada. (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar 
a Violência contra a Mulher – ASSEMBLEIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO DOS 
ESTADOS AMERICANOS, 1994) 
A violência é sofrida em todas as fases da vida da mulher, iniciando-se ainda na infância. 
Breve histórico
O Brasil é signatário de tratados e documentos internacionais que definem medidas para a eliminação 
da violência contra a mulher. 
Esses instrumentos dependem do governo e da sociedade, no conhecimento específico e nas 
tecnologias diferenciadas para profissionais que atuam diretamente na atenção à saúde, integrados 
a outras iniciativas, possibilitando a formação de redes de atenção para mulheres, adolescentes e 
crianças em situação de violência doméstica e sexual. 
Como conquistas regionais, podemos citar que a Organização dos Estados Americanos (OEA) 
elaborou a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, 
ratificada pelo Brasil, em 1997. 
As conquistas nacionais ou locais precisam do apoio do legislativo para a aprovação de leis que 
reconhecem as situações de violência contra a mulher:
11
TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
 » a Lei no 10.778/2003 (BRASIL, 2003) estabelece a notificação compulsória em 
casos de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos 
ou privados; e
 » a Lei no 10.886/2004 (BRASIL, 2004) tipifica a violência doméstica no Código 
Penal Brasileiro e traz a definição jurídica do que é o crime de violência doméstica, 
bem como as penas previstas para o agressor. 
Segundo a lógica da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher e o cumprimento da 
meta da promoção à atenção integral para mulheres e adolescentes em situação de violência, a Área 
Técnica de Saúde da Mulher objetiva aumentar o número de serviços de atenção à violência nos 
municípios-polo de microrregiões, apoiando-se na organização de redes integradas, que devem se 
constituir em ações voltadas à população.
Essa demanda, pleiteada por estados e municípios, reforça a necessidade de uma metodologia 
multissetorial de ensino que venha a se tornar subsídio para processos de qualificação dos profissionais 
que atuam nos diversos programas e serviços da área de atenção integral nessa temática.
Segundo a Pan American Health Organization (2004):
a violência está associada a altas taxas de transtornos mentais em mulheres 
indígenas, o que inclui ansiedade, traumas e suicídio, visto que impõe a tais 
pessoas traumas não somente físicos, mas psicológicos.
Segundo Duran (2004):
o rastreamento do abuso e da negligência na infância poderia contribuir para o 
tratamento de indígenas que demandam por cuidados primários de saúde. As 
relações entre a prevalência, os tipos e a severidade do abuso e da negligência 
na infância, bem como a ocorrência de transtornos psiquiátricos na vida dos 
pacientes, foram objetos de estudo (n = 234) em mulheres indígenas, com 
relatos de 75% para algum tipo de abuso ou negligência na infância e mais de 
40% acusando exposição a maus-tratos severos.
A Associação Médica Americana levantou que as vítimas de estupro apresentam o quadro psicológico 
de ansiedade, pesadelos, fantasias catastróficas, sentimentos de alienação e isolamento, além de 
problemas sexuais. 
Como impactos à saúde física, a Associação cita fadiga, cefaleias, distúrbios do sono e dos padrões de 
alimentação e, em especial, o risco de gravidez e de contágio de doenças sexualmente transmissíveis, 
tais como HIV/Aids. Similarmente, a violência sexual também acarreta uma série de agravos à saúde 
física e emocional de mulheres, adolescentes e crianças. 
No Brasil, segundo uma pesquisa do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina 
da Universidade de São Paulo, coordenada pela Organização Mundial da Saúde, os hospitais e os 
centros de saúde aparecem como os principais serviços procurados pelas mulheres em situação de 
violência: 16% na cidade de São Paulo e 11% na Zona da Mata. Tais mulheres apresentaram agravos 
12
UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
à saúde mental, sendo que o estudo relata maior taxa de tentativa de suicídio entre mulheres que 
sofreram violência, assim como maior frequência do uso diário de álcool e problemas relacionados 
à bebida.
O art. 227 da Constituição Brasileira afirma que: 
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança a ao adolescente, 
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, 
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988)
Vários fatores influenciam a violência contra crianças e adolescentes, tendo como fator comum: o 
abuso do poder do mais forte – o adulto – contra o mais fraco – a criança e o adolescente.
Segundo Azevedo; Guerra (1989), a violência praticada pelos próprios pais ou responsáveis é 
extremamente comum, porque (...) [eles] abusam do autoritarismo, uma vez que não veem a criança 
e o adolescente como sujeitos e sim como objetos de dominação.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado pela Lei no 8.069/1990, para proteção de 
crianças e adolescentes da violência infanto-juvenil, que pode ocorrer nos ambientes intra ou 
extrafamiliares. 
Conforme Mendonça (2002), esse Estatuto representa um avanço em relação ao Código de Menores, 
que só admitia a intervenção do Estado quando a criança ou o adolescente estivessem em situação 
tida como irregular, fora dos padrões vigentes pela sociedade.
Morrison e Biehl (2000) afirmam que a América Latina possui a taxa de homicídios mais alta do 
mundo, sendo quase 30 assassinatos por 100 mil habitantes. 
No Brasil, estima-se que 15% da população de crianças e adolescentes de ambos os sexos são vítimas 
de abuso sexual. (AZEVEDO; GUERRA, 1989)
O 1o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde da Organização Mundial da Saúde, datado de 15 
de outubro de 2002, apontou que, na maioria dos países, os meninos apresentam maior risco de 
sofrer castigos físicos mais graves e, as meninas, maior risco para o infanticídio, o abuso sexual, as 
negligências física e nutricional, assim como para a prostituição forçada. (DAY, 2003)
Segundo os dados relacionados, no Brasil, percebe-se que a violência contra crianças e adolescentes 
necessita de uma atenção voltada não só às questões do âmbito familiar,mas também àquelas 
referentes à estrutura socioeconômica.
Apesar do grave impacto da violência à saúde física e mental de mulheres, crianças e adolescentes, 
ainda há resistência e necessidade de maior preparo das diversas categorias profissionais para 
abordar situações de violência de gênero e em lidar com as pessoas vitimizadas no âmbito do sistema 
de saúde. 
O Sistema Único de Saúde (SUS) necessita avançar na proteção de pessoas que sofreram violências.
13
TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
No caso brasileiro, o combate à violência é discriminado por acordos internacionais: a Conferência 
de Cairo (1994), a de Beijing (1995) e a Convenção de Belém do Pará (1994), e por legislações 
nacionais: a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código Penal, a Lei 
Maria da Penha, entre outros.
Definição de violência segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002):
uso intencional de força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si 
próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que 
resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, 
deficiência de desenvolvimento ou privação.
O gênero é uma construção histórica e sociocultural que atribui papéis às mulheres e aos homens, 
como se fossem atributos naturais ou biológicos.
 » Às mulheres: o feminino, a passividade, a fragilidade, a emoção, a submissão.
 » Aos homens: o masculino, a atividade, a força, a racionalidade, a dominação. 
As vulnerabilidades abrangem pessoas idosas, com deficiência mental ou física, mulheres negras, 
indígenas, ciganas, mulheres do campo e da floresta, lésbicas, gays, bissexuais, mulheres e homens 
transexuais ou que vivenciam a transexualidade, travestis, transgêneros, pessoas envolvidas com 
prostituição, tráfico ou exploração sexual, entre outros.
14
CAPÍtuLo 2
Prevenção e tratamento
Deve-se compreender que, geralmente, agressões ou abusos sexuais são acompanhados de chantagens 
e ameaças intimidadoras. 
As estatísticas estimam que cerca de 12 milhões de pessoas são atingidas por violência sexual a cada 
ano, ocasionadas frequentemente por abusos sexuais intrafamiliares – como o incesto e o estupro, 
em especial, e o sexo forçado perpetrado por parceiros íntimos. (OMS, 2002; SCHRAIBER, 2007) 
A violência sexual é traumática fisicamente, com o risco de contaminação por doenças sexualmente 
transmissíveis, entre elas, o HIV, a gravidez indesejada e, mentalmente, com quadros de depressão, 
síndrome do pânico, ansiedade e distúrbios psicossomáticos. 
Procurar o sistema de saúde e (ou) delegacia de polícia já é um agravante da violência sexual. 
O impacto da violência sobrecarrega o sistema de saúde tanto em termos de recursos econômicos 
e humanos quanto em custos sociais, como em decorrência de produtividade perdida em toda a 
sociedade. Segundo estimativas, o Brasil perde 11% de seu PIB em razão da violência, enquanto o 
SUS investe anualmente entre 8% e 11% em formas de atenção à violência e aos acidentes.
A constante luta de segmentos diversos da sociedade civil, ao denunciar a arbitrariedade dos padrões 
de relacionamentos baseados em modelos masculinos, repercutiu no fortalecimento de legislações 
de proteção à mulher em situação de violência. 
Internacionalmente, o Brasil é participante:
 » da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as 
Mulheres (CEDAW);
 » da Convenção de Belém do Pará; e 
 » da Conferência de Beijing e de Cairo, entre outras instituições. 
Desse modo, relativizar crenças e atitudes culturalmente enraizadas também por parte dos 
profissionais é essencial para a condução de uma saúde pública genuinamente integral, universal e 
igualitária.
A atenção integral à saúde e a assistência à mulher em situação de violência sexual organiza-se 
mediante:
 » conhecimentos científicos atualizados;
 » bases epidemiológicas sustentáveis; e 
 » tecnologias apropriadas. 
15
TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
São considerados direitos constitucionais:
 » o acesso universal à saúde; e 
 » o respeito às singularidades, sem qualquer tipo de discriminação.
Os profissionais da saúde ajudam na garantia desses direitos, operacionalizando as políticas de saúde, 
que devem estar acessíveis a toda a população, com atendimento de emergência, acompanhamento, 
reabilitação e tratamento da saúde física e mental da mulher. 
É de vital importância que existam mecanismos bem definidos:
 » de detecção dos tipos de violência;
 » dos procedimentos médicos viáveis e regulamentados por lei; e
 » de encaminhamento das mulheres atingidas pela violência sexual. 
Esses mecanismos colaboram para a eficiência dos cuidados de saúde, para que sejam prestados 
rapidamente nas demandas de cada mulher. 
Destaca-se, também, a importância da notificação de qualquer suspeita ou confirmação de violência 
pelos profissionais de saúde que integram a rede de atenção às mulheres e aos adolescentes em 
situação de violência. 
É necessário que exista um maior número possível de unidades de saúde preparadas para atuar de 
imediato nos casos de emergência em violência sexual, oferecendo medidas de proteção como:
 » a anticoncepção de emergência; 
 » as profilaxias das DSTs, hepatite B e HIV; e
 » o abortamento previsto por lei, que além de maiores recursos, necessita de unidades 
de saúde específicas. 
Portanto, compete aos gestores municipais e estaduais implantar, implementar e garantir 
sustentabilidade ao maior número possível de serviços de referência. 
instalação e área física
Para as mulheres que sofreram violência sexual, deve haver um local específico, preferentemente 
fora do espaço físico de atendimento, visando a garantir a privacidade durante a entrevista e os 
exames e gerando um ambiente de confiança, respeito e compreensão da situação. 
O local específico para esse atendimento específico não deve provocar ou produzir constrangimentos 
ou estigmas à mulher, evitando-se um setor destinado a atender vítimas de estupro, e as avaliações 
clínicas e ginecológicas devem ser realizadas em um local correspondente a um consultório.
16
UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
recursos humanos
O atendimento em casos de violência sexual deve ser prestado por equipe interdisciplinar, variando 
com a disponibilidade de recursos humanos nas unidades de saúde. 
É importante que a equipe interdisciplinar seja composta por:
 » médicos;
 » psicólogos;
 » enfermeiros; e 
 » assistentes sociais. 
No entanto, somente a falta do médico inviabilizará o atendimento. 
A capacitação nessa área requer a disponibilidade do profissional em perceber essa problemática 
como um fenômeno social capaz de produzir sérios agravos à saúde das mulheres e dos adolescentes. 
Equipamentos e instrumental
A unidade de saúde deve ser composta de equipamentos e materiais permanentes, que satisfaçam 
as necessidades do atendimento com autonomia e resolutividade. 
Os materiais e equipamentos necessários para o atendimento são os mesmos para um atendimento 
ambulatorial em ginecologia e obstetrícia, mas podem ser incluídos colposcópio, aparelho de 
ultrassonografia e equipamento fotográfico para registro de eventuais lesões físicas. 
Para o abortamento previsto por lei, a unidade de saúde deve contar com equipamentos de um 
centro cirúrgico, além de material para aspiração uterina a vácuo (manual ou elétrica) ou material 
para dilatação e curetagem. Também devem ter disponibilidade de misoprostol, para o abortamento 
medicamentoso ou para o preparo do colo de útero.
Devem ser registrados cuidadosamente nos prontuários de cada mulher:
 » os levantamentos realizados na entrevista, no exame físico e ginecológico;
 » os resultados de exames de exames complementares; e 
 » os relatórios de procedimentos. 
A guardae o manuseio com o prontuário é de extrema importância para a qualidade da atenção em 
saúde e eventuais solicitações da Justiça.
Sensibilização e capacitação
O atendimento às mulheres em casos de violência sexual requer a sensibilização de todos os 
colaboradores do serviço de saúde, com a realização de palestras e reflexões coletivas sobre os temas 
17
TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
específicos, particularmente os sexuais, as dificuldades que as crianças, os adolescentes e as mulheres 
enfrentam para denunciar esse tipo de crime, os direitos legais e a atuação do setor saúde público. 
normas gerais de atendimento
Os hospitais de referência e as unidades de saúde devem gerenciar fluxos de atendimento, com um 
profissional responsável por cada etapa da atenção, tais como a entrevista, o registro do caso, os 
exames clínicos, ginecológicos, complementares e o acompanhamento psicológico. 
A unidade de saúde deve possuir uma boa humanização, com um ambiente acolhedor e de respeito 
à diversidade, livre de quaisquer julgamentos morais, de modo a receber e escutar as mulheres e os 
adolescentes, com respeito e solidariedade, compreendendo suas demandas e expectativas. 
A autonomia das mulheres deve ser respeitada e devem ser informadas dos procedimentos de cada 
etapa do atendimento. 
Deve ser oferecido o atendimento psicológico e medidas de fortalecimento, desde a primeira 
consulta, visando a contribuir para a reestruturação emocional e social da mulher e da adolescente 
vítimas de violência. 
Acesso à rede de atenção
Os profissionais de saúde devem fornecer às mulheres e aos adolescentes informações sobre:
 » direitos da mulher e da adolescente;
 » alternativas à interrupção da gravidez;
 » assistência pré-natal;
 » entrega da criança para adoção;
 » acesso e necessidade da mulher às diferentes possibilidades de apoio familiar e 
social; e
 » questão de abrigos de proteção.
Na ocorrência de severos traumatismos físicos, genitais ou extragenitais, devem-se avaliar as 
medidas clínicas e cirúrgicas que atendam às necessidades da mulher, da criança ou da adolescente. 
Os danos físicos mais frequentes em mulheres são os hematomas e as lacerações genitais.
As lesões vulvo-perineais sem sangramento são tratadas apenas com assepsia local, mas, no caso de 
sangramento, realiza-se a sutura com agulhas não traumáticas e fios flexíveis. 
No caso de hematomas, a utilização de bolsa de gelo pode ser suficiente e, quando instáveis, podem 
ser tratadas por drenagem cirúrgica. 
18
UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Os danos físicos, genitais ou extragenitais devem ser cuidadosamente descritos em prontuário médico. 
Se possível, os traumatismos físicos devem ser fotografados e também anexados ao prontuário. 
Aspectos éticos e legais
A atenção à violência contra a mulher e a adolescente é condição que requer abordagem intersetorial, 
multiprofissional e interdisciplinar, com importante interface com questões de direitos humanos, 
questões policiais, de segurança pública e de justiça. 
Algumas informações legais são fundamentais para os profissionais de saúde que atendam pessoas 
em situação de violência sexual.
A Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, oportuniza mecanismos 
de coibição da violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecendo mudanças na tipificação 
dos crimes e nos procedimentos policiais e jurídicos. 
A Lei no 10.778, de 24 de novembro de 2003, estabelece a notificação da violência contra a mulher e 
o atendimento em serviços de saúde públicos ou privados de saúde. 
A notificação das violências é processada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação 
(SINAN) e tem como instrumento de coleta a “Ficha de Notificação/Investigação de Violência 
Doméstica, Sexual e/ou outras Violências” (Anexo no 11), retratando:
 » o perfil das violências;
 » a caracterização das pessoas que sofreram violências; e
 » os prováveis autores de agressão. 
As informações levantadas nessa ficha são importantes para:
 » a construção e implementação de intervenções frente a esse tipo de violência;
 » a elaboração de políticas públicas intersetoriais de atenção; e 
 » a proteção às pessoas vivendo em situações de violências. 
Por meio dessas notificações e do sistema VIVA, é possível revelar a violência doméstica e sexual. 
Esse sistema também permite uma análise mais aprofundada das violências cometidas contra 
mulheres e adolescentes e o monitoramento do perfil epidemiológico das violências. 
Em caso de menores de 18 anos de idade, a suspeita ou a confirmação de abuso sexual deve ser 
obrigatoriamente comunicada ao Conselho Tutelar, à Vara da Infância e da Juventude, ou à Vara de 
Justiça existente no local ou à Delegacia, conforme o art. 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA) – Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. 
Esta medida é de extremo valor para oferecer a necessária e apropriada proteção para crianças 
e adolescentes. 
19
TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
O art. 2o do ECA considera:
 » criança – menor de 12 anos; e 
 » adolescente – maior que 12 e menor de 18 anos. 
Inicia-se a instauração do inquérito e a investigação por meio da abertura do Boletim de Ocorrência 
Policial; o laudo do Instituto Médico Legal (IML) é documento para fazer prova criminal. 
É incorreta e ilegal a exigência dos documentos citados para atendimento nos hospitais e nas 
unidades de saúde. 
O art. 5o da Constituição Federal garante que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra 
e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização material ou moral decorrente de 
sua violação”.
O art. 154 do Código Penal Brasileiro caracteriza como crime “revelar alguém, sem justa causa, 
segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação 
possa produzir dano a outrem”. 
O art. 103 do Código de Ética Médica estabelece que:
é vedado ao médico revelar segredo profissional referente a paciente menor 
de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor 
tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios 
meios para solucioná-los, salvo quando a não revelação possa acarretar 
danos ao paciente. 
O atendimento de crianças e adolescentes em situação de violência sexual também se submete aos 
mesmos fundamentos éticos e legais. A assistência à saúde da menor de 18 anos deve observar ao 
princípio de sua proteção. 
A negociação da quebra de sigilo com as adolescentes poderá evitar os prejuízos; além de ser um 
direito garantido pelo ECA no art. 16, item II, como o direito à liberdade de opinião e expressão, e 
no art. 17, no que diz respeito à autonomia. Entretanto, salienta-se que frente a qualquer suspeita 
ou confirmação de violência contra criança e adolescente, independente do tipo ou natureza da 
violência cometida, a notificação é obrigatória e o profissional de saúde que não o fizer estará 
cometendo negligência no atendimento, estando sujeito às medidas legais e administrativas.
A Lei no 12.015, de 7 de agosto de 2009, alterou a antiga definição de estupro, passando a designá-lo 
como “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar 
ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos”. 
Na nova descrição legal do estupro, a mulher e o homem podem ser vítimas de estupro:
 » quando constrangidos, mediante violência (física);
 » quando sofrerem grave ameaça (psicológica) para praticar conjunção carnal 
(penetração do pênis na vagina); ou
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UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
 » quando sofrerem qualquer outro ato libidinoso (sexo oral ou anal).Segundo a Lei no 12.015, são crimes contra a liberdade sexual:
 » estupro (art. 213); 
 » violação sexual mediante fraude (art. 215); e 
 » assédio sexual (art. 216-A). 
A nova lei criou também um capítulo com a seguinte denominação: “Dos crimes contra vulnerável”, 
em que estão previstas as seguintes figuras penais: 
 » estupro de vulnerável (art. 217-A) – que consiste em “ter conjunção carnal ou 
praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”; 
 » induzimento de menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem (art. 218); 
 » satisfação de lascívia mediante a presença de criança ou adolescente (art. 218-A); e
 » favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável 
(art. 218-B). 
Portanto, todos os crimes previstos no Título VI podem ser considerados como “violência sexual”.
Apoio psicossocial
A violência de gênero, entre elas a violência sexual contra mulheres e adolescentes, resulta em 
grande impacto na vida produtiva e na saúde física e psíquica das vítimas, assim como na de seus 
filhos e demais membros da família. 
Diversos setores da sociedade, além dos da saúde, devem trabalhar juntos para enfrentar o problema 
da violência de gênero, de modo a prevenir e identificar os riscos e atuar mitigando consequências. 
Em casos de violência sexual praticada por pessoas próximas ou familiares, considera-se que as 
vítimas poderão estar mais vulneráveis devido:
 » ao envolvimento emocional;
 » à dependência econômica;
 » à facilidade de acesso do autor da violência em relação à vítima; ou 
 » ao medo. 
Validação das experiências
Inicialmente, o acolhimento é realizado pelo atendente do serviço e depois deve ser estendido 
a toda rede familiar. O acolhimento deve ser um princípio a ser seguido por todos da rede de 
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TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
instituições que recebem a vítima e a família, de modo a se sentirem protegidos e seguros, para 
um bom andamento ao atendimento. 
Portanto, todos os profissionais devem estar sensibilizados e capacitados, mesmo os que não 
atuam diretamente com a pessoa agredida, quanto à importância do sigilo, acolhimento e 
encaminhamento adequados.
Autonomia, individualidade e direitos
A individualidade e os direitos das pessoas em situação de violência sexual devem ser 
obrigatoriamente respeitados. Devem-se resguardar sua identidade e sua integridade moral e 
psicológica, tanto no espaço da instituição quanto no espaço público (por exemplo: com a mídia, a 
comunidade etc.). 
Da mesma forma, deve-se respeitar a vontade da vítima do não compartilhamento da violência com 
familiares e outras pessoas. No caso de crianças e adolescentes, a lei é clara: cabe ao profissional de 
saúde notificar o Conselho Tutelar casos suspeitos ou confirmados (art. 13o ECA). 
Caso a violência sexual seja cometida por parceiro íntimo, os limites devem ser respeitados, uma vez 
que a mulher pode estar traumatizada e emocionalmente ferida. 
Deve-se reconhecer e respeitar o tempo próprio de amadurecimento de cada pessoa para romper a 
situação de violência, e o profissional não pode ter pressa para alcançar resultados imediatos, o que 
pode intimidar ou paralisar a pessoa.
Violência sexual em mulheres que fazem sexo 
com mulheres
Sabe-se que a discriminação e o preconceito por orientação sexual e por identidade de gênero 
determinam formas de adoecimentos e sofrimentos. Assim, é importante que os profissionais de 
saúde estejam aptos a acolher essa população sem discriminação, lembrando que os serviços devem 
seguir o preceito da acessibilidade, universalidade e integralidade da Atenção, não permitindo que 
se coloque qualquer pessoa em situação de violência institucional. A igualdade de direitos à saúde é 
preconizada na Constituição Federal de 1988, o que a torna um direito social.
O seguimento do atendimento clínico, psicológico e laboratorial das mulheres que fazem sexo com 
mulheres e foram vítimas de violência deve ser feito considerando-se que manter relações sexuais 
com pessoas do mesmo sexo não é um problema de saúde e que a violência sexual pode agravar os 
sentimentos de exclusão, humilhação e isolamento que, muitas vezes, permeia a vida das mulheres 
e dos adolescentes por sua orientação sexual.
Sigilo e atendimento
Muitas vezes a primeira oportunidade de revelação de uma situação de violência ocorre em um 
atendimento na rede de saúde. 
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UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
O diagnóstico da situação deve ser valorizado pelo profissional, por meio de perguntas adequadas e 
com a investigação de hipóteses. 
O compromisso de sigilo no atendimento é garantido pela ética dos profissionais e o cuidado com a 
utilização de prontuários, as anotações e a comunicação entre a equipe.
É importante levantar questões específicas de comportamento, tal como – “alguma vez você foi 
forçada a ter relações sexuais contra a sua vontade?” – que possui maior índice de resposta positiva, 
do que questões vagas, melhorando o diagnóstico e evitando constrangimentos a entrevistada. É 
necessário garantir um espaço determinado, que ofereça privacidade para a entrevista, de preferência 
sem a presença de pessoas que possam inibir o relato. 
A humanização implica uma relação sujeito-sujeito e não sujeito-objeto, considerando seus 
sentimentos e valorizando a situação que está vivenciando, as consequências e possibilidades.
Sobre a avaliação dos riscos, esta deverá ser feita junto com a usuária, a fim de elaborar estratégias 
preventivas de atuação. 
No caso violência familiar, deve-se observar:
 » a história da pessoa agredida;
 » o histórico de violência na família; e 
 » a descrição dos atos de violência. 
Os riscos de repetição ou agravamento devem ser avaliados, visando à prevenção de novos episódios. 
Quando se tratar de criança, adolescente ou pessoa dependente do autor da agressão, devem-se 
estabelecer mecanismos de intervenção que atenuem a dependência e a vulnerabilidade.
De modo que deve ser valorizado o apoio da família e dos amigos, a fim de propiciar segurança e 
solidariedade, favorecendo os mecanismos de enfrentamento da situação. 
No caso de crianças e adolescentes, deve-se contatar a escola para evitar a estigmatização, e, no caso 
de adultos, deve-se trabalhar com a família para que a mulher não seja socialmente marginalizada.
Um sistema eficaz de referência e contrarreferência deve abranger os serviços de complexidade 
necessários, integrando-os por meio de informações sobre as necessidades e demandas do caso. 
Deve-se oferecer acompanhamento terapêutico ao casal ou à família, nos casos em que a violência 
ocorra por pessoas da família, para preservação das pessoas envolvidas, bem como o encaminhamento 
para atendimento psicológico individual. 
É igualmente importante apoiar a mulher que deseja fazer o registro policial da agressão e informá-
la sobre o significado dos exames de:
 » corpo de delito; e
 » conjunção carnal. 
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TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
Deve ser sugerido à mulher que compareça aos órgãos responsáveis, como a Delegacia de Polícia 
ou a Delegacia de Proteção à Mulher, responsáveis pela requisição de perícia pelo Instituto Médico 
Legal, sobre seus direitos e a importância de guardar cópia do Boletim de Ocorrência. 
Se existe motivação da mulher para dar andamento ao processo de separação, ela deve ser encaminhada 
aos seguintes serviços jurídicos: 
 » defensoria pública;
 » fórum local;
 » organizações não governamentais de apoio jurídico.
Para que a equipe de saúde esteja sensibilizada e capacitada para assistir à pessoa em situação 
de violência, de modo a melhor enfrentar possíveis dificuldades pessoais ou coletivas, há que se 
promover, sistematicamente:
 » oficinas;
 » grupos de discussão; 
 » cursos;
 » outras atividades de capacitaçãoe atualização dos profissionais. 
rede integrada de atendimento
Os gestores municipais e estaduais têm papel decisivo:
 » na gestão de pessoas das redes integradas de atendimento;
 » na provisão de insumos; e 
 » na divulgação dessa rede para o público em geral. 
A atuação no combate e atendimento à violência é:
 » multiprofissional; 
 » interdisciplinar; e 
 » interinstitucional. 
A equipe de saúde deve buscar identificar as organizações e os serviços disponíveis para assistência, a 
exemplo das Delegacias da Mulher e da Criança e do Adolescente, do Conselho Tutelar, do Conselho 
de Direitos de Crianças e Adolescentes, CRASS, CREAS, do Instituto Médico Legal, do Ministério 
Público, das instituições como casas-abrigo, dos grupos de mulheres, das creches, entre outros. 
O fluxo e os problemas de acesso de manejo dos casos devem ser debatidos periodicamente, visando 
à criação de uma cultura que inclua a construção de instrumentos de avaliação. É imprescindível a 
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UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
sensibilização de gestores e gerentes da área de saúde, propiciando condições para melhor atenção 
às vítimas e aos agressores. 
Portanto, devem-se buscar vínculos entre os setores envolvidos para compor:
 » a rede integrada de atenção a vítimas de violência; 
 » a promoção de atividades de sensibilização;
 » a capacitação de pessoas para humanização da assistência e ampliação da rede de 
atendimento; e
 » a busca de recursos que garantam a supervisão clínica e o apoio às equipes que 
atendem pessoas em situação de violência.
Atenção ao autor da violência sexual
Nesse aspecto, há evidências que apontam para taxas expressivamente menores de reincidência entre 
autores de violência sexual que recebem atenção psiquiátrica e(ou) psicológica adequada durante o 
período de cumprimento de sua pena. A responsabilização do autor da violência sexual, nos limites 
estabelecidos pela lei, é muito importante para a mulher e para a sociedade, nos mais diferentes 
aspectos. No entanto, apenas a privação da liberdade, mesmo aplicada com o rigor estabelecido 
para os crimes hediondos, mostra-se insuficiente para que o autor da violência abandone sua prática 
quando retorna à liberdade. 
Embora tema complexo, a atenção especializada ao autor da violência sexual, ainda que não possa 
garantir mudança de comportamento, não pode ser ignorada. Cabe reconhecer a complexidade 
desse tema, entendendo que esses autores apresentam diagnósticos, condições e motivações muito 
distintas. Considerando-se como inaceitável abdicar da responsabilização, a atenção ao autor da 
violência sexual, fica restrita e vinculada às medidas, aos procedimentos e aos recursos do sistema 
penitenciário e, em algumas circunstâncias, às decisões do Poder Judiciário. Portanto, é raro que os 
serviços de saúde que atendem mulheres, crianças e adolescentes em situação de violência sexual 
recebam autores dessa violência. Em consequência, esses serviços têm pouca oportunidade de 
oferecer ações em saúde mental para o autor, mas que podem ser evitados com a Anticoncepção de 
Emergência (AE). 
Os gestores de saúde devem garantir a disponibilidade e o acesso adequado ao método anticonceptivo. 
Esquemas de administração
A AE deve ser realizada o quanto antes possível, no limite de cinco dias da violência sexual. 
Outro método anticonceptivo, conhecido como Regime de Yuzpe, é utilizado no planejamento 
familiar, conhecido como “pílula anticoncepcional”. 
O método anticonceptivo AE pode ser utilizado por mulheres e adolescentes, mesmo com 
contraindicação aos AHOC, a não ser no caso de gravidez confirmada. Antecedente de acidente 
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TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
vascular cerebral, tromboembolismo, enxaqueca severa ou diabetes com complicações vasculares 
são classificados na categoria, que recomenda precauções apenas para o método de Yuzpe. Nesses 
casos, a AE deve ser realizada com o levonorgestrel.
Eventos graves, como tromboembolismo e acidente vascular, têm risco pequeno e menor que o 
verificado para usuárias de AHOC. 
Em situações de suspeita não confirmada de gravidez, a AE deve ser obrigatoriamente realizada com 
o levonorgestrel exclusivo. 
No entanto, não é recomendado que o uso da AE esteja condicionado aos testes laboratoriais, exceto 
quando eles estiverem disponíveis e ofereçam resultado em curto intervalo de tempo. 
Eficácia
A AE possui índice de efetividade entre 75% e 80% e índice de falha com cerca de 2%, significando 
dizer que pode evitar, em média, três de quatro gestações após a ocorrência da violência sexual, mas 
sua eficácia dependerá do tempo entre a violência sexual e sua administração. 
A falha do método de Yuzpe varia de 2% (0-24 horas) até 4,7% (49-72 horas). As taxas de falha do 
levonorgestrel variam de 0,4% (0-24 horas) até 2,7% (49-72 horas). 
Entre o 4o e 5o dia da violência sexual, a AE pode oferecer proteção, mas com taxas de falha bem 
maiores. Portanto, a AE deve ser administrada tão rápido quanto possível nos cinco primeiros dias 
da violência sexual.
A mulher deve ser orientada a retornar ao serviço de saúde, assim que possível, se ocorrer atraso 
menstrual, que pode ser indicativo de gravidez, mas, na maioria das vezes, pouca ou nenhuma 
alteração significativa ocorrerá no ciclo menstrual. 
Na maioria das mulheres, a menstruação ocorrerá sem atrasos ou antecipações.
dispositivo intrauterino – diu
A utilização do dispositivo intrauterino (DIU) de cobre, como AE, não é recomendada devido ao 
risco potencial de infecção genital agravado pela violência sexual. 
Além disso, a mulher e a jovem recentemente violentada sexualmente não tolerariam a manipulação 
genital pelo DIU. 
Aspectos éticos e legais
A Lei no 9.263, de 1996, que regulamentou o parágrafo 7o do art. 226 da Constituição Federal, 
determinou o planejamento familiar como parte integrante do conjunto de ações de atenção à 
mulher, ao homem ou ao casal, na visão de atendimento global e integral à saúde. 
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UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Tratando-se de adolescente, o direito à confidencialidade e ao sigilo sobre a atividade sexual e sobre 
a prescrição de métodos anticonceptivos devem ser preservados, conforme os arts. 11, 102 e 103 do 
Código de Ética Médica e reforçados pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança 
e do Adolescente (ECA). 
doenças sexualmente transmissíveis não virais
As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), adquiridas em decorrência da violência sexual, 
podem implicar graves consequências físicas e emocionais. A prevalência de DST em situações de 
violência sexual é alta, sendo que seu risco de infecção depende de diversas variáveis, como o tipo 
de violência sofrida (vaginal, anal ou oral), o número de agressores, o tempo de exposição (única, 
múltipla ou crônica), a ocorrência de traumatismos genitais, a idade e susceptibilidade da mulher, a 
condição himenal, a presença de DST e a forma de constrangimento utilizada pelo agressor. Estudos 
têm mostrado que, entre mulheres que sofreram violência sexual, 16% a 58% delas adquirem pelo 
menos uma doença sexualmente transmissível. 
indicações e cuidados fundamentais
A profilaxia das DSTs não virais em mulheres visa a atender aos agentes de repercussão clínica 
relevante, sendo indicada nas situações de risco, independente da gravidade das lesões físicas e da 
idade da mulher. 
Nos casos de violência sexual em que ocorra exposição intrafamiliar ou durante o uso de preservativo 
durante todo o crime sexual, não se recomenda a profilaxia de DSTs não virais. Entretanto, é 
essencial interromper o ciclo de violência, e o uso da profilaxia deve ser individualizado.
Os esquemas de profilaxia devem considerar a eficácia da medicação, a comodidade posológica, 
a presença de reações adversas e de interações medicamentosas.A eficácia dos esquemas para a 
prevenção de DST, após a violência sexual, não foi avaliada, entretanto, considera-se eficaz a 
utilização de medicações rotineiras para tratamento dessas infecções.
Não é possível estabelecer, com exatidão, o tempo- limite para a profilaxia das DSTs não virais 
nos casos de violência sexual. Ao contrário da profilaxia para a infecção pelo HIV, a prevenção 
das DSTs não virais pode ser postergada a critério do profissional de saúde e da mulher, em 
função das condições de adesão desta ou mesmo para evitar intolerância gástrica, significativa 
com o uso simultâneo de diversas medicações. Essa medida não acarreta, necessariamente, danos 
ao tratamento.
Para evitar o uso concomitante de diversas medicações, que poderia levar a intolerância gástrica 
e a baixa adesão, deve-se optar, preferencialmente, pela via parenteral para administração dos 
antibióticos, os quais devem ser administrados no primeiro dia de atendimento. Assim, é preferível 
adotar o esquema: penicilina benzatina + ceftriaxona + azitromicina. Pelo baixo impacto da 
tricomoníase na saúde da mulher e por apresentar reações adversas e interações medicamentosas 
significativas, a administração profilática do metronidazol é facultativa ou pode ser postergada.
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TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
A coleta de amostras cérvico-vaginais para diagnóstico de infecções pode ser feito no momento do 
exame, porém não deve retardar o início da profilaxia para as DSTs não virais.
Profilaxia para mulheres e adolescentes
O esquema recomendado para mulheres adultas e adolescentes é composto por penicilina benzatina, 
ceftriaxona e azitromicina, conforme posologia indicada. 
A penicilina ainda é a medicação escolhida para sífilis; apresenta excelente relação custo-benefício e 
deve ser dispensada e administrada nas unidades básicas de saúde. A maioria das reações anafiláticas 
à penicilina ocorre em 10-40/100.000 injeções aplicadas, com, aproximadamente, dois óbitos por 
100.000 tratamentos. A Portaria 156, de 19 de janeiro de 2006, do Ministério da Saúde, dispõe 
sobre a utilização da penicilina na atenção básica à saúde e no SUS.
informações importantes
 » A ceftriaxona e a azitromicina estão sendo pesquisadas para a utilização na profilaxia 
da sífilis.
 » A profilaxia pelo metronidazol pode ser postergada em casos de intolerância 
gastrintestinal e quando houver prescrição de contracepção de emergência e de 
profilaxia antirretroviral.
Quando não houver o ceftriaxone, utiliza-se a azitromicina como prevenção da 
gonococcia e da clamídia, embora não seja a primeira escolha. Dessa maneira, na 
falta da ceftriaxone, o uso da penicilina associada à azitromicina já seria razoável, 
principalmente naquelas pacientes com problemas gástricos.
As crianças são as que apresentam maior vulnerabilidade às DSTs, devido à imaturidade anatômica 
e fisiológica da mucosa vaginal, entre outros fatores. O diagnóstico de uma DST em crianças pode 
ser o primeiro sinal de abuso sexual. Contudo, crianças são frequentemente submetidas a tipos de 
abuso diferentes de penetrações vaginal, anal ou oral, que não as expõem ao contato contaminante 
com o agressor. 
Deve-se considerar também que, em grande parte dos casos, a violência sexual na infância é crônica 
e prolongada, perpetrada pelo mesmo agressor, de modo que a profilaxia das DSTs não virais e do 
HIV e da imunoprofilaxia da hepatite B não são recomendadas, porém é essencial que se interrompa 
o ciclo de violência.
28
CAPÍtuLo 3
rede nacional de atenção integral
A Rede Nacional de Atenção Integral para o atendimento a mulheres vítimas de violência é composta 
por governos federal, estaduais e municipais; organizações da sociedade civil; entidades de classes; 
instituições de Ensino Superior; e comunidades, visando ao planejamento de estratégias para o 
enfrentamento da violência contra mulheres.
Redes são conjuntos articulados na sociedade que prestam atenção a pessoas vítimas de violências, 
realizando:
 » o primeiro atendimento;
 » o acompanhamento psicossocial;
 » o auxílio na reinserção no cotidiano;
 » a prevenção;
 » a atenção; e 
 » a recuperação.
A Rede Estadual de Atenção Integral para Mulheres e Adolescentes vítimas de violência possui 
a mesma estrutura da rede nacional e possui a finalidade de organização das referências e 
contrarreferências: 
 » no atendimento;
 » no acompanhamento;
 » na notificação;
 » na defesa de direitos; e
 » na responsabilização de agressores.
“O conceito de rede transformou-se em uma alternativa prática de organização, 
capaz de responder às demandas sociais no mundo contemporâneo.” (MEIRELLES ; 
SILVA, 2007, p.141) 
A violência, como um dos graves problemas de saúde, exige apoio articulado e em rede, baseado na 
solidariedade e na cooperação entre organizações que, por meio da articulação política, negociam e 
partilham recursos de acordo com os interesses e as necessidades. 
A construção de redes pressupõe que as decisões sejam adotadas de forma horizontal nos princípios 
de igualdade, democracia e solidariedade. “Esse método de trabalho permite a troca de informações, 
29
TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
a articulação institucional e até mesmo a formulação de políticas públicas para a implementação de 
projetos comuns.” (MEIRELLES ; SILVA, 2007, p.141) 
As redes são compostas por serviços articulados, que realizam desde a atenção primária à saúde até 
os serviços mais especializados, com o objetivo de garantir a integralidade do cuidado em um dado 
espaço-população. 
Para que uma articulação em rede se fortaleça, é necessário que os atores envolvidos, além de 
trocarem experiências, enfrentem situações concretas que não resolveriam isoladamente. 
Rede é uma articulação política que exige: 
 » reconhecer (que o outro existe e é importante); 
 » conhecer (o que o outro faz); 
 » colaborar (prestar ajuda quando necessário); 
 » cooperar (trocar saberes, ações e poderes); e 
 » associar-se (fortalecer objetivos e projetos). 
Cada município deve estruturar sua rede de saúde com as redes da assistência social, da educação 
e com os sistemas de justiça, de segurança pública, o Ministério Público, a Defensoria Pública, o 
Conselho Tutelar, e de direitos e a sociedade civil de seu território para implementar a rede de 
proteção às crianças e aos adolescentes e suas famílias em situação de violência. 
rede intrasetorial
As especificidades do atendimento nos diferentes níveis da atenção em saúde exigem dos profissionais 
habilidades e conhecimentos diferenciados para o atendimento a cada caso, considerando o serviço 
em que o profissional se encontra e os dispositivos da rede que lhe são oferecidos. 
Serviços da atenção primária à saúde 
Os princípios que orientam o desenvolvimento da atenção básica/primária são os da universalidade, da 
acessibilidade, do primeiro contato com o sistema de saúde, da descrição da clientela, da coordenação 
do cuidado, do vínculo e da continuidade da atenção, da integralidade, da responsabilização, da 
humanização, da equidade e da participação social. 
As equipes da atenção primária/saúde da família devem:
 » realizar o acolhimento; 
 » realizar ações educativas e preventivas, como a prevenção do uso abusivo de álcool 
e outras drogas; 
30
UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
 » garantir o acesso a exames complementares; 
 » fornecer medicamentos básicos; 
 » prestar atendimento e orientar as mães sobre os direitos das crianças e dos 
adolescentes, os direitos reprodutivos dos adolescentes, a saúde sexual e a saúde 
reprodutiva, o acesso aos métodos anticoncepcionais; 
 » acompanhar a evolução de cada caso nas unidades de saúde e nos domicílios; e
 » fortalecer ações preventivas da violência e de cultura de paz com a família, a escola, 
a comunidadee em outros espaços sociais. 
Serviços de atenção especializada, urgência 
e emergência 
Em geral, os serviços de saúde de atenção especializada para atendimento à criança e ao adolescente 
são vinculados a uma unidade de saúde, pública ou conveniada com a rede SUS (Hospital, 
Maternidade, Unidade de Urgência e Emergência e Serviços/Unidade de Saúde-Referência), 
podendo ainda ser prestado por ONG. 
Quando se constituem como primeiro contato, é necessário prestar a atenção integral conforme 
protocolos e fluxos estabelecidos, em linha de cuidado, nas dimensões de acolhimento, atendimento 
(diagnóstico, tratamento e cuidados), notificação e encaminhamento para a rede de proteção social 
constituída no território. 
Serviços de saúde mental 
A rede de atenção psicossocial é constituída por diversos dispositivos assistenciais que possibilitam 
a atenção psicossocial, segundo critérios populacionais e demandas locais dos municípios, 
entre outros. 
Para o atendimento de crianças e adolescentes e suas famílias em situação de violência, bem como 
de seus agressores, destacam-se as seguintes instituições.
 » Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) – serviço extra-hospitalar, de atenção 
diária, de base comunitária, com equipe multiprofissional e atende pessoas que 
sofrem com transtornos mentais e (ou) que apresentam problemas devido ao uso 
abusivo de álcool e outras drogas. 
 » Centro de Atenção Psicossocial infanto-juvenil (CAPSi) – serviço que atende a 
crianças e adolescentes com transtornos mentais graves. Estão incluídos nessa 
categoria os portadores de autismo, de psicoses, de neuroses graves, usuários de 
álcool e outras drogas e todos os impossibilitados de estabelecer laços sociais. 
A inexistência dos CAPS e CAPSi requer a pactuação dos gestores com os serviços 
especializados de outros municípios vizinhos. 
31
TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
 » Centro de Atenção Psicossocial para Usuários de álcool e outras drogas (CAPS ad) 
– oferece atendimento a pacientes que utilizam de maneira prejudicial o álcool e 
outras drogas, com atendimento terapêutico individualizado e de evolução contínua. 
 » Saúde Mental na Atenção Básica 
O trabalho entre a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e a Saúde Mental aumenta a qualidade de 
vida dos indivíduos e da comunidade, propiciando um uso mais eficiente dos recursos e aumentando 
as habilidades e a satisfação dos profissionais. 
Esse trabalho pode ocorrer pelos seguintes apoios:
 » por uma equipe mínima de Saúde Mental;
 » por profissionais dos Núcleos de Apoio a Saúde da Família (NASF). 
Serviços estratégicos de apoio à gestão 
Entre os serviços estratégicos de apoio à gestão, destacam-se os Núcleos de Apoio à Saúde da Família 
(NASF), criados com o objetivo de ampliar a abrangência das ações de atenção primária, mediante 
a assessoria e o apoio à Estratégia de Saúde da Família (ESF) na rede de serviços e no processo de 
territorialização e regionalização. 
O Sistema Único de Saúde (SUS) dialoga com os sistemas de proteção, justiça e direitos humanos, 
segurança pública entre outras políticas, a fim de planejarem, conjuntamente, as ações que melhor 
atendem às necessidades desse público. 
Sistema Único da Assistência Social (SuAS) 
O SUAS é um sistema participativo e descentralizado da assistência social, com ações e serviços 
voltados para o fortalecimento da família, entre eles, dois são fundamentais para o cuidado e a 
proteção social de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências. 
 » Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) 
Unidade pública da política de assistência social, de âmbito municipal, posicionado 
em locais de maior risco social, visando a prestar serviços de proteção social básica 
a famílias e indivíduos. 
 » Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)
Unidade pública e estatal prestadora de serviços especializados a famílias e indivíduos 
em situações de violação de direitos. 
Sistema de justiça e de direitos humanos
São órgãos que atuam na promoção de direitos, proteção e defesa de crianças e adolescentes.
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UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
 » No âmbito federal – o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente 
(CONANDA); e 
 » No âmbito dos estados, dos municípios e do Distrito Federal – os Conselhos de 
Direitos de Crianças e Adolescentes. 
Em 2000, foi criado o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e 
Adolescentes, configurando-se como um instrumento de garantia e defesa de direitos da criança 
e do adolescente. Tem o objetivo de fortalecer e implementar um conjunto articulado de ações e 
metas fundamentais para assegurar a proteção integral à criança e ao adolescente em situação ou 
risco de violência sexual, resultado da articulação entre a sociedade civil e o poder público. Desde 
seu eixo Defesa/Responsabilização, no âmbito da Justiça da Infância e Juventude, vem investindo 
em ações de humanização para atendimento e acolhimento às vítimas. 
Posteriormente, o Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e 
Adolescentes/SNPDCA/SEDH-PR, criado em 2002, surgiu em resposta às demandas do Plano 
para o fomento de políticas públicas formuladas nas diversas esferas de governo e de forma 
articulada entre as diversas áreas responsáveis pela garantia dos direitos fundamentais de crianças 
e adolescentes, tendo com estratégias: 
 » atendimento direto à população, por meio do Disque 100, que recebe denúncias de 
violação de direitos humanos de crianças e adolescentes, além de prestar orientações 
sobre serviços e redes de atendimento estaduais e municipais; 
 » sistematização e disseminação de práticas inovadoras de atendimento humanizado 
e integrado em rede – serviços dos sistemas de segurança e justiça. 
Na Rede de Proteção Social, a comunidade escolar vem sendo chamada para identificar, notificar e 
encaminhar casos de violação de direitos de crianças e adolescentes por meio da legislação, tal como 
consta no Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei no 8069/1990 – e na Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação – Lei no 9394/1996, em seu art. 32, no qual se estabelece no inciso § 5o que:
o currículo do Ensino Fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que 
trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 
8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, 
observada a produção e distribuição de material didático adequado.
Sistema Único de Segurança Pública (SuSP) 
Os estados podem participar do SUSP por meio da assinatura de um protocolo de intenções entre 
governo do Estado e Ministério da Justiça. 
Alguns dos órgãos que compõem este sistema no território. 
 » Delegacia Especial de Proteção à Criança e ao Adolescente
 » Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher
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TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
 » Delegacias de Polícia Civil e Militares
 » Guardas Municipais
 » Instituto Médico Legal (IML) 
Sociedade civil organizada 
A sociedade civil também tem um papel importante na promoção de direitos, defesa e proteção 
social de crianças e adolescentes e deve compor a rede intersetorial. São algumas das instituições 
e entidades: ONGs, Comissão de Direitos Humanos, centros de pesquisa, instituições religiosas, 
lideranças comunitárias, Associação de Moradores, Pastoral da Criança, entre outras. 
Articulação entre as redes intrasetorial e 
intersetorial de cuidado e proteção social
A estruturação da atenção integral à criança, ao adolescente e suas famílias em rede é um passo 
importante para assegurar o cuidado e a proteção social desse público, sendo um trabalho que requer 
a articulação intrasetorial e intersetorial de forma complementar, que visa a integrar políticas e 
açõesgovernamentais e não governamentais no âmbito local. 
Passos da estruturação da rede intrasetorial 
e intersetorial 
 » Mapear todos os serviços que atuam no cuidado integral, na promoção de direitos, 
defesa e proteção social de crianças e adolescentes no território, inclusive serviços 
de atenção ao agressor. 
 » Identificar os serviços “porta de entrada” para atendimento integral à criança, aos 
adolescentes e suas famílias em situação de violência. 
 » Caracterizar serviços/instituições que promovem a atenção integral à criança, 
ao adolescente e suas famílias em situação de violência (composição da equipe 
multiprofissinal; protocolos e articulação da rede – intra e intersetorial –, tipo 
de atendimento prestado; endereço; telefone; e-mail; horário de atendimento; 
entre outros). 
 » Pactuar com os gestores locais (distritais, municipais e estaduais) que compõem 
a rede de cuidado e proteção social de crianças e adolescentes e suas famílias em 
situação de violência. 
 » Normatizar (leis, decretos, portarias, planos de ação, protocolo de intenção, carta 
compromisso e outros). 
 » Construir alianças estratégicas com conselhos tutelares, de direitos, associações 
comunitárias; meios de comunicação; Ministério Público, Segurança Pública; 
poderes legislativo e judiciário, entre outros. 
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UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
 » Capacitar profissionais de atenção em linha de cuidado, nas dimensões de 
acolhimento, atendimento, notificação e seguimento do caso para a rede. 
 » Instituir grupo de gestão colegiada da rede de cuidado e proteção social de crianças, 
adolescentes e suas famílias em situação de violência, para articular, mobilizar, 
planejar, acompanhar e avaliar as ações da Rede. 
 » Organizar ações de atenção integral à criança em situação de violência em linha de 
cuidado, a partir do serviço, para o percurso interno e externo. 
 » Elaborar protocolos de acolhimento e atendimento humanizados (abordando os 
aspectos técnicos e éticos) para o serviço de saúde e para da rede complementar, 
definindo corresponsabilidades, áreas de abrangência, fluxos do atendimento, 
normativas específicas, podendo ser utilizados ou adaptados os protocolos existentes. 
 » Adotar estratégias de acompanhamento e apoio técnico e psicossocial no atendimento 
a crianças e adolescentes envolvidos em situações de violência e estimular que a 
rede complementar também siga essas estratégias. 
 » Implantar/implementar o sistema Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA). 
 » Divulgar para a sociedade os serviços com endereço completo e os horários de 
atendimento às crianças e aos adolescentes em situação de violência. 
 » Incluir conteúdo da atenção integral à saúde na capacitação de profissionais e 
gestores. 
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CAPÍtuLo 4
Atendimento em sistema prisional
Esta é uma temática que sugere sensibilidade, já que trata de adolescentes envolvidos na atividade 
delituosa, tão combatida, mas integrante na sociedade contemporânea. 
A doutrina e a jurisprudência que tratam da prática infracional por adolescentes não é consensual. 
Há estudiosos que afirmam que a legislação que trata das infrações cometidas por crianças e adolescentes 
é complacente e aumenta o desvirtuamento social, que a solução seria uma maior repressão e controle 
social, com a criação de mais espaços de contenção até mudanças na legislação vigente. 
No entanto, alguns reconhecem que essa violência envolve uma complexidade estrutural sociopolítica 
que produz e reproduz a exclusão e a violência nas sociedades, e não de mera segurança pública. 
Pesquisa
Em uma pesquisa realizada em um centro de socioeducação possibilitou uma interação com a 
realidade de adolescentes autores de ato infracional e de suas famílias. 
A realidade apresentava índices expressivos de adolescentes reincidentes em atos infracionais, 
conforme análise documental. 
Essa análise documental é um procedimento “que tem por objetivo ir além da compreensão imediata 
e espontânea ...” (RIZZINI, 1999), permitindo entender a relação entre as primeiras impressões e 
os dados que aparecem no texto. 
No contexto da investigação, buscou-se a identificação de fatores determinantes para a referida 
reincidência, os quais podem se relacionar dialeticamente na sua produção e reprodução. 
Os dados coletados nos documentos dos adolescentes cedidos pelo Centro de Socioeducação de 
Ponta Grossa foram sistematizados em uma planilha com a relação nominal de adolescentes, em 
ordem numérica (devido ao sigilo processual). 
Na planilha, apresentaram-se as seguintes variáveis: idade, escolaridade, procedência, uso de 
entorpecentes, infração, medida socioeducativa e situação sociofamiliar. 
A referida pesquisa revelou que, entre 2004 e 2006, 180 dos 219 adolescentes que foram internados 
no referido Centro atingiram a maioridade até setembro de 2007. 
dados coletados 
Conforme a pesquisa, a faixa etária de maior concentração dos adolescentes está entre 15 anos a 19 
anos. O Censo realizado em 2000 indicou que existiam, no Brasil, 21.249.557 habitantes na faixa 
etária de 12 anos a 18 anos, concluindo-se que existia um adolescente em cada oito brasileiros.
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A adolescência é um período entre a criança e a idade adulta:
 » em que a crise e o conflito se instalam; 
 » em que se formam em grupos ou turmas; 
 » em que procuram apoio mútuo; e
 » em que usam linguagem, roupas, adereços e formas de comportamento iguais. 
A adolescência, entre tantas outras esferas da vida, configura-se a partir de diferentes relações com:
 » a família; 
 » a escola; 
 » o trabalho; 
 » a cultura; 
 » o esporte; 
 » o lazer; 
 » o próprio corpo. 
Existe um relevante número de adolescentes autores de ato infracional que apresentam baixa 
escolaridade. 
Em se tratando da educação, a legislação brasileira define que a família e o Estado são responsáveis 
pela orientação da criança em seu trajeto socioeducacional. 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) estabelece: 
Art. 2o A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de 
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno 
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho. (LDB, Brasil, 1996) 
No entanto, a educação não está ao alcance de todos. 
A escola tem papel importante no desenvolvimento e formação de crianças e jovens, onde se busca:
 » a integração social; 
 » a troca de experiências; 
 » o conhecimento; e 
 » a preparação para a vida futura. 
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TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
Conclui-se, então, que não se consegue um nível de desenvolvimento desejável sem investir 
substancialmente em educação, sem a qual não há desenvolvimento econômico e social. 
Procedência dos adolescentes 
Quanto ao local de procedência, dos 62 adolescentes que passaram pelo Centro de Ponta Grossa, 43 
são da mesma cidade e os demais 19 são de outras 14 comarcas do Estado. 
Conforme preceitua o ECA, no inciso VI do art. 124, o adolescente deve permanecer internado na 
localidade mais próxima da residência de seus pais ou responsável. 
uso de drogas pelos adolescentes 
Com relação ao uso de drogas, a investigação revela que há prevalência do uso de algum tipo entre 
os adolescentes infratores, e que ela é significativa, na ordem de 100% dos casos pesquisados: 24% 
dos adolescentes fazem uso de apenas um tipo de substância; 37% fazem uso associado de dois tipos 
de substâncias e 39% associam mais de duas substâncias. 
Entre as drogas mais utilizadas estão a bebida alcoólica e a maconha, seguidas do crack. 
As drogas mudam o comportamento da pessoa, provocando alterações no lado: 
 » físico; 
 » espiritual; 
 » mental; e
 » emocional. 
O dependente necessita ingerira droga, devido às substâncias químicas que ela contém, e terá 
atitudes distorcidas, uma vez que seu sistema nervoso central está sobrecarregado de substâncias 
nocivas que alteram as mensagens ao corpo. 
Outro dado que chama a atenção é o uso da cocaína, especialmente em uma de suas formas fumadas, 
que é o crack, com um percentual de uso por 87% dos adolescentes, associando a outras substâncias. 
Estudos revelam que o crack chegou ao Brasil em 1990, causando preocupação, pois, em um curto 
período de tempo, já se disseminou o uso em um percentual elevado nessa parcela da população, 
comprovando a precocidade no uso e a rapidez que caracteriza sua dependência. 
Um dos fatores que faz com que o adolescente busque constantemente a droga é o que estudiosos 
sobre o assunto denominaram como “craving”, ou seja, a fissura por ela, o que impulsiona ao seu 
uso, integrando dessa forma o conceito de dependência. 
Ao se constatar que 100% dos adolescentes autores de atos infracionais pesquisados são usuários de 
substâncias tóxicas e que 87% destes têm envolvimento com o crack, comprova-se o que os estudos 
sobre essa problemática vêm demonstrando: a relação do uso de drogas com o crime – há uma 
probabilidade de comportamentos violentos após a exposição à cocaína. 
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Atos infracionais praticados por adolescentes 
Os dados revelam que, entre os atos infracionais praticados por adolescentes, o destaque é para o 
roubo, totalizando 49% dos atos praticados, seguido do homicídio e sua tentativa, que, somados, 
equivalem a um percentual de 33%. 
O uso de drogas entre os adolescentes que cometeram ato infracional é significativa: 
está presente em 100% dos adolescentes pesquisados.
Os adolescentes egressos das medidas socioeducativas de semiliberdade e internação ingressaram 
no sistema prisional. Com os dados coletados nos registros individuais dos adolescentes e com 
o auxílio dos funcionários do Presídio Hildebrando de Souza, foi possível levantar o registro do 
ingresso dos jovens no cadastro de presos do Paraná. 
As situações familiares evidenciadas nos dados oriundos da análise documental trazem aspectos 
específicos do contexto em que acontecem, além de legitimar os conhecimentos apreendidos na 
ação profissional das pesquisadoras, no decorrer do cotidiano da instituição. 
Observa-se a importância do contexto familiar e social no qual estão inseridos os jovens egressos 
das medidas socioeducativas, pois é no seio dessas famílias e no meio onde estão inseridas, que 
nasceram, cresceram e se tornaram jovens. 
O tratamento das questões sociofamiliares dos adolescentes e dos 15 egressos que passaram ou se 
encontram no sistema prisional são descritos abaixo. Para compreensão do contexto familiar dos 
adolescentes, os dados foram agrupados em categorias, as quais se destacam aspectos relevantes do 
convívio social e comuns na maioria das famílias. 
O primeiro aspecto a ser considerado é a questão da violência, que, de uma forma ou outra, se faz 
presente no cotidiano dos adolescentes pesquisados, a qual está materializada: 
 » no envolvimento com o tráfico de drogas; 
 » no assassinato de parentes significativos; 
 » no envolvimento de parentes com o crime; e
 » no risco que envolve o adolescente de perder sua vida a qualquer momento. 
Assim, a sua experiência social está ligada à violência no meio familiar e comunitário. A realidade 
encontrada nesse contexto não propicia aos seus membros a convivência saudável, que determina 
as condições físicas e mentais necessárias em cada fase de sua vida, com vínculos afetivos que o 
levem a construir sua identidade baseada em valores humanos condizentes com uma situação de 
vida mais justa. 
As situações familiares encontradas revelam: 
 » “mãe falecida, irmãos presos por homicídio”; 
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TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA │ UNIDADE ÚNICA
 » “sem reconhecimento da paternidade, registrado em nome do 3o companheiro da 
mãe, quatro irmãos com filiação diferente, três vítimas de homicídio na família, 
sendo uma o padrasto que o registrou”; 
 » “pais separados, mãe assassinada por novo companheiro a tiros na frente dos filhos, 
pai com várias companheiras e vários filhos”; 
 » “mãe viúva com filhos assassinados (dois por vingança e um em função das drogas)”; 
 » “mãe viúva e conivente com os atos infracionais dos quatro filhos, dois filhos 
assassinados e um preso por homicídio”; 
 » mãe falecida, pai alcoólatra e preso por tráfico, irmãos dependentes químicos, um 
irmão vítima de homicídio e dois irmãos presos”.
A família tem a função de educar, formar e socializar, cabendo-lhe exercer autoridade e definir 
limites; estabelecer uma socialização mais disciplinar e menos permissiva. 
Entretanto, as famílias pesquisadas indicam por um lado que não estão preparadas para assumir 
o seu papel na educação das crianças e dos adolescentes. Trazem resquícios da cultura das últimas 
décadas, em que era delegada ao Estado e ao mercado a formação de seus filhos. O envolvimento 
com o tráfico de drogas, a exemplo de pai, mãe, irmãos, padrastos e madrastas, é outro aspecto 
bastante presente na vida desses jovens. 
Daí a crise ética de valores na qual eles se desenvolvem e a participação em atividades ilícitas, como 
uma questão de sobrevivência. Esta é uma situação crucial, pois os adolescentes dessas famílias 
acabam por produzir e reproduzir os padrões de comportamento dos familiares e do meio social no 
qual estão inseridos. 
As situações familiares registradas confirmam: 
 » “pai andarilho, não tem o reconhecimento da paternidade, mãe usuária de drogas, 
com três relacionamentos, último companheiro preso por tráfico”; 
 » “pais separados, adolescente morava com o pai traficante, até que este foi preso, 
passando então a residir com a mãe”; 
 » “mãe falecida, pai alcoólatra, preso por tráfico, irmãos dependentes químicos, um 
irmão vítima de homicídio e dois irmãos presos”; 
 » “pais separados, o pai constituiu nova família, criou o filho até os 8 anos, 
posteriormente passou a morar com a mãe, que até então tinha sido dada como morta, 
esta com novo relacionamento, todos envolvidos no tráfico e presos (mãe, padrasto 
e irmão)”; 
 » “mãe assassinada, pai e madrasta presos por tráfico, adolescente residia com o avô 
que faleceu, passando a viver em situação de abandono, irmã criada pelos padrinhos”. 
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UNIDADE ÚNICA │ TÉCNICAS, DIAGNÓSTICOS E ACOMPANHAMENTOS NO TRABALHO COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
O capitalismo atual reproduz a desigualdade social, concentrando renda e poder, acarretando a 
divisão social entre os incluídos no “mundo do direito” e aqueles que estão à margem. Entende-se 
que socialmente o homem reage à falta de perspectivas com a própria violência. 
Em uma sociedade carregada de desigualdades, como a nossa, é necessário o entendimento de 
que as famílias brasileiras têm espaços diferenciados de luta pela sobrevivência e pela reprodução 
da vida. 
Os históricos de vida dos adolescentes pesquisados evidenciam: 
 » “pais separados, mãe e padrasto alcoólatras, irmãos dependentes químicos, situação 
de miserabilidade”; 
 » “mãe com vários relacionamentos, irmãos com filiação diferentes, situação de 
miserabilidade e higiene extremamente precária”; 
 » “pais casados, mãe portadora de deficiência mental, pai aposentado por invalidez, 
cinco filhos, adolescente com companheira usuária de drogas, possui uma filha, 
situação de miserabilidade”; 
 » “pais separados, mãe abandonou o lar, situação de miserabilidade, adolescente 
residia com o pai e uma companheira, grávida do adolescente, companheira com 
problemas renais”; 
 » “mãe vivia na prostituição, desconhece o genitor, morou até os oito anos com a 
mãe na prostituição, posteriormente passou a morar com a madrinha que criou seu 
irmão por parte de mãe”; 
 » “mãe solteira, proprietária de casa noturna, criado