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VIOLÊNCIAVIOLÊNCIA CONTRA ASCONTRA AS MULHERESMULHERES direitos e enfrentamento Ana Luisa Hickmann Grupo de Estudo e Pesquisa Lélia González especialista em políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres promotora legal popular dos direitos das mulheres pesquisadora pelo observatório de gênero na américa latina e pelo grupo de estudos e pesquisa lélia gonzález defensora dos direitos à cidadania pelo instituto maria da penha bacharel em antropologia e diversidade cultural mestre em estudos latino-americanos Aula 1: conceitosAula 1: conceitos Conceito de gênero Conceito de violência Desigualdade de gênero Marcadores sociais Tipos de violência contra as mulheres Ciclo da Violência Violência perpetrada por parceiro íntimo Se refere ao caráter cultural das distinções entre homens e mulheres. “um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder” GêneroGênero “Incorporação das normas sociais relativas feminino e ao masculino.” (PISCITELLI) A desigualdade de gênero pode ser observada em diversas esferas da nossa sociedade 15% das mulheres em idade produtiva em todo o mundo gostariam de trabalhar, mas não têm emprego, em comparação com 10,5% dos homens. A proporção de mulheres incapazes de encontrar uma vaga chega a 24,9% nos países de baixa renda. NO MERCADO DE TRABALHO De acordo com a UNESCO, as mulheres representam dois terços dos 750 milhões de adultos sem habilidades básicas de leitura e escrita. No mundo, existem mais meninas do que meninos fora da escola. NA EDUCAÇÃO Os homens seguem no comando de 88% das cidades do país. A paridade de gênero nas prefeituras do país poderá levar até 144 anos para ser alcançada. NA política As mulheres, além de realizarem duplas e até triplas jornadas, chegam a gastar até 90% de sua renda com a família. Já o gasto dos homens fica em torno de 30 a 40%. NA FAMÍLIA A construção de gênero é baseada na discriminação das mulheres, o que reverbera em relações violentas, estas que são legitimadas e vistas como naturais. Nos relacionamentos A violência está relacionada ao uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa a realizar algo que não possui vontade; constranger, incomodar, impedir de manifestação, sob pena de viver ameaçada, espancada e muitas vezes, tem como última instância a morte. Podem ser empregados diferentes termos, conforme o agente da violência: pessoal, familiar, doméstica, conjugal, policial, institucional, social, política, estatal, feminicida, entre outros. ViViolênciaolência A violênciaA violência contra as mulherescontra as mulheres Fenômeno social e histórico, naturalizado, resultado da discriminação presente nas relações de gênero. é um problema de saúde pública, e têm graves consequências na vida das mulheres que são vitimadas por ela. A discriminação de gênero é um aspecto fundamental da violência. É a partir dela que se justifica e sustenta os atos violentos, se desenvolvendo por meio de avanços e recuos, de maneira a se tornar algo que aparente ser inerente à natureza humana. (TELES E MELO, 2002) “Paira sobre a cabeça de todas as mulheres a ameaça de agressões masculinas, funcionando isto como mecanismo de sujeição aos homens, inscrito nas relações de gênero” (SAFFIOTI, 1897, p. 18) Doméstica A violência doméstica refere-se a que ocorre dentro de casa, no lar. "Uma noção espacializada". (Intra) Familiar Diz respeito à violência praticada por qualquer membro da família para com outro, dentro ou fora de casa. "A nomenclatura violência contra as mulheres em sua versão plural apresenta uma noção que contempla diferenças entre mulheres (em sua diversidade de identidades) e as múltiplas desigualdades derivadas das relações sociais de classe, gênero, raça e etnia, derivadas da heteronorma, do racismo, do sexismo e da lesbofobia, homofobia, transfobia, derivada das diferenças geracionais e especificidades das situações das mulheres com deficiência, entre outras." (DAYRELL, 2014, p.22) Violência de Gênero ouViolência de Gênero ou Contra as Mulheres?Contra as Mulheres? Feminicídios cresceram 6,1% em 2022, resultando em 1.437 mulheres mortas. Agressões em contexto de violência doméstica tiveram aumento de 2,9%, totalizando 245.713 casos; as ameaças cresceram 7,2%, resultando em 613.529 casos; Acionamentos ao 190, número de emergência da Polícia Militar, chegaram a 899.485 ligações, o que significa uma média de 102 acionamentos por hora. A violênciaA violência contra ascontra as mulheresmulheres em númerosem números Fontes: Anuário de Segurança Pública, 2023 O Brasil segue sendo o 5º país em números de feminicídio. 71,9% das vítimas de feminicídio tinham entre 18 e 44 anos quando foram mortas, sendo que o maior percentual se concentra na faixa entre 18 e 24 anos. A violênciaA violência contra ascontra as mulheresmulheres em númerosem números Fontes: Anuário de Segurança Pública, 2023 Registros de assédio sexual cresceram 49,7% e totalizaram 6.114 casos em 2022 e importunação sexual teve crescimento de 37%, chegando ao patamar de 27.530 casos no último ano. Diariamente, 673 mulheres se deslocaram até uma delegacia de polícia para denunciar um episódio de violência doméstica. A perseguição resultou em 56.560 casos de mulheres vítimas em 2022, uma taxa de 54,5 por 100 mil. A violênciaA violência contra ascontra as mulheresmulheres em númerosem números Fontes: Anuário de Segurança Pública, 2023 A arma de fogo foi o instrumento utilizado em 26,3% dos casos de feminicídio. Agressões, por sua vez, foram o modus operandi de 10,4% das fatalidades registradas. Nos casos dos feminicídios, em mais da metade dos casos (53,6%) o autor é identificado como o parceiro íntimo, em 19,4% dos casos como o ex-parceiro íntimo e em 10,7% dos registros constava outro familiar, como filho, irmão. A violênciaA violência contra ascontra as mulheresmulheres em númerosem números Fontes: Anuário de Segurança Pública, 2023 Em se tratando do local de ocorrência do evento violento, 7 em cada 10 vítimas de feminicídio foram mortas dentro de casa. Já nos demais assassinatos de mulheres, a via pública foi o lugar mais frequente, representando o local da morte de 36,5% dos casos, seguido da residência (34,9%). O Anuário mais recente registrou o maior número de registros de estupro e estupro de vulnerável da história, com 74.930 vítimas. Aproximadamente 8 em cada 10 vítimas de violência sexual eram menores de idade. A violênciaA violência contra ascontra as mulheresmulheres em númerosem números Fontes: Anuário de Segurança Pública, 2023 Pessoas negras seguem sendo as principais vítimas da violência sexual, mas houve crescimento da proporção em relação a 2021. Na maioria absoluta dos casos os abusadores são conhecidos das vítimas (82,7%), e apenas 17,3% dos registros tinham desconhecidos como autores da violência sexual. Em relação ao local em que ocorreu o crime, a residência aparece com mais frequência: em média, 68,3% dos casos somados de estupro e estupro de vulnerável ocorreram na residência da vítima. A violênciaA violência contra ascontra as mulheresmulheres em númerosem números Fontes: Anuário de Segurança Pública, 2023 33,3% da população brasileira acredita que o estupro é culpa da mulher que foi estuprada. Isso significa que 1 a cada 3 brasileiros culpabiliza a mulher pelo crime. 42% dos brasileiros acreditam que os estupros acontecem com mulheres que “não se dão o respeito”. A violênciaA violência contra ascontra as mulheresmulheres em númerosem números F o n t e : F ó r u m B r a s i l e i r o d e S e g u r a n ç a P ú b l i c a De acordo com uma pesquisa realizada pela ONG Transgender Europe (2017), o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo todo. No dia 31 de maio de 2019, Raiane Marques, mulher trans, foi assassinadaem Praia Grande, e pela primeira vez um assassinato contra uma mulher transexual foi enquadrado como feminicídio. Apesar da invisibilidade estatística ou midiática, a violência conjugal lésbica exerce-se de forma tão agressiva quanto qualquer outra forma de violência doméstica e possui características próprias. Entre 2014 e 2017, foram registrados 126 assassinatos de lésbicas no país.(Santos, 2012) Entre as vítimas de feminicídio, têm-se que 61,1% eram negras e 38,4% brancas. Nos demais assassinatos de mulheres, o percentual de vítimas negras é ainda maior, com 68,9% dos casos, para 30,4% de brancas. (FBSP, 2023) Registros de 2019 sobre violência contra pessoas com deficiência apontam que, a cada grupo de 10 mil pessoas, houve 56,9 notificações contra mulheres com deficiência intelectual, 17,8 com deficiência física, 5 com deficiência auditiva e 1,6 com deficiência visual. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a população indígena ultrapassa a marca de 900 mil pessoas e 305 povos, sendo 448 mil delas mulheres. Entre 2007 e 2017, pouco mais de 8 mil notificações de casos de violência contra as mulheres indígenas foram registradas no Brasil, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Formas deFormas de violência contraviolência contra as mulheresas mulheres Violência físicaViolência física Entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal. Qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir e outros.. “Os aspectos quase legítimos, quase morais e quase legais da violência psicológica são o que, na minha opinião, são os mais possuem interesse, pois são eles que servem como argamassa para sustentação hierárquica do sistema”. (SEGATO, 2003, p. 114). Violência sexualViolência sexual Entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. Entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. A violência obstétrica refere-se a práticas abusivas, desrespeitosas ou negligentes que ocorrem durante o processo de atendimento à saúde materna, incluindo o pré-natal, o parto e o pós- parto. Isso pode envolver tratamento desumano, coerção, falta de informação, intervenções médicas não consentidas, humilhação e discriminação, prejudicando a autonomia e a dignidade das mulheres, além de afetar negativamente sua saúde física e emocional. A violência institucional contra a mulher ocorre quando as instituições, como órgãos governamentais, sistemas de saúde, educação e justiça, perpetuam práticas, políticas ou normas que discriminam, negligenciam ou dificultam o acesso das mulheres a direitos e serviços, reforçando desigualdades de gênero. Isso pode resultar em obstáculos para o exercício pleno de seus direitos, afetando áreas como saúde, trabalho, educação e justiça, contribuindo para a perpetuação da discriminação e violência de gênero. A violência simbólica contra a mulher se manifesta por meio de símbolos, imagens, linguagem e representações culturais que reforçam estereótipos, papéis de gênero prejudiciais e relações desiguais entre homens e mulheres. Essa forma de violência pode perpetuar normas sociais que diminuem a autoestima das mulheres, limitam suas opções e restringem sua participação plena na sociedade, contribuindo para a manutenção de estruturas de poder desfavoráveis às mulheres. Essa forma de violência busca desencorajar, silenciar e descreditar a participação das mulheres no espaço político, perpetuando estereótipos de gênero e desequilíbrios de poder. pode assumir diversas formas, como difamação, insultos, ameaças, intimidação, assédio sexual, disseminação de informações falsas (fake news) agressões físicas e morte, como no caso de Marielle Franco - Marielle, presente. Gaslighting, stealthing, staring, violência virtual, pornografia de vingança, golpes. “As violências física, sexual, emocional e moral não ocorrem isoladamente. Qualquer que seja a forma assumida pela agressão, a violência emocional está sempre presente” (SAFFIOTI, 2015, p. 79). Violência por parceiro íntimo A violência por parceiro íntimo é definida como comportamento dentro de uma relação íntima que provoque dano físico, sexual ou psicológico, incluindo atos de agressão física, coerção sexual, abusos psicológicos e comportamentos intimidadores. (OMS, 2012). Entre 40 a 70% dos homicídios femininos ocorridos no mundo são praticados por parceiros íntimos. (HEISE; GARCIA-MORENO, 2002). Violência por parceiro íntimo Um estudo realizado em 2022 mostrou que uma em cada três brasileiras com mais de 16 anos sofreu violência física e sexual provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, representando 33,4% da população feminina do país. Fonte: Pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, 2022 Violência por parceiro íntimo O mesmo estudo aponta o ex-companheiro como o principal autor da violência (31,3%), seguido pelo atual parceiro íntimo (26,7%). Fonte: Pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, 2022 Violência por parceiro íntimo Pesquisas recentes indicam que as formas de violência de gênero que ocorrem não são as mesmas para todos os casais que vivenciam conflitos violentos. Parece haver pelo menos dois padrões: • Uma forma grave e crescente de violência, caracterizada por diversas formas de abuso, terror e ameaças, e um comportamento cada vez mais possessivo e controlador por parte de quem pratica o abuso. • Uma forma mais moderada de violência no relacionamento, onde a frustração constante e a raiva ocasionalmente irrompem em agressão física. Fonte: Relatório mundial sobre violência e saúde. Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. Suas motivações mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro. Mig uel Mo rale s FeminicídioFeminicídio A palavra foi difundida na década de 1970, pela socióloga sul-africana Diana E.H. Russell (“femicide”, em inglês). Russell entende que essas mortes não são casos isolados ou episódicos, mas inseridos dentro de uma cultura, na qual a sociedade naturaliza a violência de gênero e limita o desenvolvimento livre e saudável de meninas e mulheres. A psicóloga Lenore Walker percebeu em 1979, a partir de estudos sobre mulheres em situação de violência, que as relações violentas operam de forma cíclica, tendo três fases principais: a tensão, a agressão e a lua de mel. Agressão Tensão Lua de Mel O ciclo da violência Mulheres não são centros de reabilitação. Fica a dica! Nas próximas aulasNas próximas aulas Tratados e convençõesUm breve apanhado das leis de proteção à mulher na América Latina Enfrentamento à violência contra as mulheres: Contexto Nacional Maria da Penha: A mulher e a Lei Leis que toda mulher deve conhecer Mitos que permeiam a violência O que não dizer para uma mulher em situação de violência Formas de enfrentamento e denúncia Rota crítica Rede de enfrentamento e rede de apoio Aula 2: Aula 3: @anameteacolher anameteacolher@gmail.com
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