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27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 1/17 LINGUAGEM DIALÓGICA 1 INTRODUÇÃO Já se imaginou entrando em sala de aula sem cumprimentar sua turma, sem perguntar sobre suas expectativas quanto à aula, e sem explicar o conteúdo e trazer re�exões para a realidade dos alunos? Difícil, não é mesmo? Nessa situação, certamente todo professor se sentiria como uma máquina que reproduz conteúdo de forma mecânica, e se questionaria sobre sua função e importância nesse papel. Sabemos que a realidade não é bem essa. Como já ouvimos muitas vezes, o papel do professor é de mediador. É aquele que não só transmite o conhecimento, como também toma decisões sobre a ação de transmitir (o que, quando, como e por que transmitir). Decisões re�exivas que máquina nenhuma é capaz de assumir. É nesse sentido que você está sendo convidado a estudar a linguagem dialógica. Nas aulas remotas, o professor se depara com o desa�o de produzir materiais e orientar seus alunos numa modalidade de ensino com a qual não está habituado. É preciso orientar? Como orientar? Que linguagem usar? São dúvidas comuns que surgem no momento do planejamento, e que, a partir deste material, você poderá re�etir sobre elas. Iniciamos, então, com uma discussão sobre dialogismo. Você já ouviu este termo? A que ele te remete? 2 DIALOGISMO: O QUE É? QUADRO 1 – RECEITA Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 2/17 Bolo de cenoura com cobertura de chocolate Ingredientes para o bolo: 3 cenouras médias (cerca de 360g ou 2 ¼ xícaras (chá) de cenoura descascada e ralada) 4 ovos 1 xícara (chá) de óleo de milho 1 ½ xícara (chá) de açúcar 2 xícaras (chá) de farinha de trigo 1 colher (sopa) de fermento em pó 1 pitada de sal manteiga e farinha de trigo para untar e polvilhar a forma FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/3dZAQvq>. Acesso em: 27 jun. 2020. Bom, você deve ter se perguntado “qual o propósito do autor ao colocar os ingredientes de uma receita de bolo na abertura de um livro sobre linguagem dialógica?”, certo? Acredite, não foi uma simples coincidência. Agora, imagine se você encontrasse este fragmento de receita de bolo neste livro e não tivesse uma explicação do autor sobre o porquê de estar ali. Possivelmente, você se sentiria perdido e travaria a continuidade de sua leitura, ou criaria várias hipóteses que jamais teriam respostas, não é mesmo?! Vamos além: imagine que você se propõe a preparar um bolo de cenoura e apenas encontra os ingredientes, como o exemplo do Quadro 1, sem o modo de fazer. Desa�ador! É assim que nossos alunos se sentem quando, muitas vezes, são confrontados com atividades ou conteúdos novos que geram aquelas famosas perguntas “o que é pra fazer?” ou “por que eu tenho que aprender isso?”, em sala de aula. E o que o professor faz quando isso acontece? Explica, contextualiza. A�nal, os alunos precisam desse “modo de fazer” que só o professor, com sua experiência e formação, tem condições de apresentar. Dessa forma, quando estamos diante de uma situação de ensino não presencial, esta função do professor de sala de aula passa a ser assumida pelos materiais que disponibiliza ao aluno e pelo modo que interage com ele em ferramentas de texto virtuais. O professor passa a planejar, escolher e desenvolver materiais digitais pensando na autonomia do aluno e nos objetivos de aprendizagem que este deve alcançar, e para além disso, precisa explicitar seu planejamento e tornar claro ao estudante o percurso que deverá seguir em direção a estes objetivos. Ou seja, para que haja sucesso na aprendizagem, todo esse processo pedagógico imaginado Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 3/17 pelo docente precisa estar claro ao aluno e adaptado a sua realidade e visão de mundo, e é aí que entra a importância de uma linguagem dialógica. FIGURA 1 – RETRATO DO ENSINO NÃO PRESENCIAL FONTE: <https://bit.ly/2ZHjJtb>. Acesso em: 27 jun. 2020. No contexto das aulas remotas, grosso modo, podemos entender a linguagem dialógica como sendo uma linguagem que suscita re�exões e que conversa com o aluno. Calma. Antes de entrarmos na discussão sobre o conceito, já que trata-se de um conceito muito mais complexo, cabe a mim fechar a discussão sobre a receita de bolo, explicando que o único propósito real para ela estar ali no início (e de forma incompleta), é para que você compreenda a importância da contextualização e da linguagem dialógica durante a elaboração de aulas remotas. Algo que você, certamente, só conseguiu compreender a partir dos parágrafos seguintes à receita, escritos de forma dialógica, por sinal. Seguimos, então, para o conceito de dialogismo. Não podemos falar sobre ele de forma didática, sem antes visitar concepções tradicionais no campo da Educação e da Linguística. Scorsolini-Comin (2014) trata de duas perspectivas de dois grandes nomes quanto a este tema: Paulo Freire (educador e �lósofo brasileiro) e Mikhail Bakhtin (�lósofo e pensador russo). E destaca que embora estes não tratem especi�camente dos processos interativos dialógicos mediados por tecnologias, já que suas obras antecedem essa realidade de educação virtualizada, suas visões sobre a interação podem ser estendidas a estes processos. Em Paulo Freire, vemos, então, uma concepção de dialogicidade, centrada no diálogo como sendo aquilo que dá sentido ao homem (SCORSOLINI-COMIN, 2014). Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 4/17 O diálogo tem em sua essência “o re�etir e o agir”, termos chaves na obra de Freire, que tornam o momento de diálogo um ato de criação. Assim, o diálogo não pode ser nunca uma imposição de ideias de um para o outro, e nem mesmo uma mera troca de mensagens. Para Freire, “o diálogo é mais que isso, e contribui para a humanizar e transformar a realidade do mundo” (FREIRE, 2010, p. 91). Já para Bakhtin, onde a ênfase está no dialogismo, o diálogo é situado histórica, cultural e socialmente, e envolve uma interação em que há uma recepção ativa mútua, ou seja, não apenas um intercâmbio de códigos e mensagens ao acaso. Scorsolini-Comin (2014, p. 250) explica que: A presença das palavras do outro nas palavras do eu é um dos primeiros elementos que caracterizam o conceito de dialogismo, que pressupõe o relativismo da autoria individual. Mesmo no diálogo interior, esses múltiplos outros participam ativamente, de modo que se opera a ilusão de que as palavras são produto dos atos de fala de um dado sujeito, o que, em Bakhtin, abre espaço para um sujeito-coletivo, produtor e recriador de práticas presentes no espaço discursivo. Em outros termos, o autor explica como nossos discursos se relacionam com outros já ditos, e como as palavras são carregadas de subjetividade e ideologias. Elas estão relacionadas a contextos e possuem múltiplos signi�cados, sendo que o receptor possui um papel importante na sua escolha/interpretação/compreensão durante o diálogo. Como podemos ver, estas duas visões contribuem para compreendermos que o diálogo com nossos alunos via ferramentas virtuais deve partir sempre de uma visão desse sujeito como alguém único, que deve ser ouvido e provocado a buscar novos conhecimentos, a re�etir etc. O processo de aprendizagem, assim, constitui- se na interação, uma interação em que nosso aluno não é apenas um receptor vazio, sem conhecimentos e referências próprias. É preciso considerar que o diálogo, materializado nas nossas palavras e discursos, tem poder sobre como este processo acontecerá. FIGURA 2 – DIÁLOGO NAS FERRAMENTAS VIRTUAIS Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 5/17 FONTE:<https://bit.ly/38BbeEe>. Acesso em: 27 jun. 2020. Contextualizadas estas visões de Freire e Bakhtin, passamos a compreender a Linguagem Dialógica Instrucional dentro do contexto do ensino remoto e da Educação a distância de forma geral. Partindo das teorias de Freire e Bakhtin, em especial deste último, o qual considera que a dialogicidade está presente em todos os textos por essência, Piva, Freitas e Miskulin (2009) propõem o conceito de Linguagem Dialógica Instrucional para explicar a linguagem utilizada no contexto de ensino on-line. Esta concepção de linguagem tem como premissa a utilização da dialogicidade explícita (PIVA; FREITAS; MISKULIN, 2009, s.p.), em outras palavras, situação em que o apresenta marcas, combinações e relações textuais que o caracterizam. Entenderemos um pouco mais sobre o uso desse conceito na subseção a seguir, momento em que a discussão se volta ao aspecto dialógico nos materiais. 3 LINGUAGEM DIALÓGICA EM MATERIAIS PARA AULAS NÃO PRESENCIAIS Você, professor, possui um papel extremamente importante na transmissão do conhecimento e na aprendizagem de seu aluno, e ao propor aulas remotas isso não é diferente. Não basta selecionar e enviar materiais prontos para toda a turma. Seu aluno (no singular, já que também devemos considerar as particularidades desse sujeito) precisa do olhar do professor para o seu processo de aprendizagem autônomo e progressivo, que implique em escolhas pedagógicas e orientações claras do que fazer, como fazer e por que fazer. Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 6/17 Nessa perspectiva, Ota e Vieira (2012) explicam que é por meio da interação com o objeto preparado pelo professor que a aprendizagem do aluno acontece. Trata-se de uma relação “que promove o desenvolvimento de esquemas mentais superiores em que o indivíduo possa estabelecer relações ao manipular o novo conhecimento nos aspectos cognitivos da aprendizagem humana” (OTA; VIEIRA, 2012, p. 4). É por essa razão, explicam os autores, que nas modalidades de ensino on-line adota-se uma Linguagem Dialógica Instrucional em que há uma interação entre o aluno e o objeto. FIGURA 3 – INTERAÇÃO ENTRE ALUNO E MATERIAL DIDÁTICO FONTE: <https://bit.ly/3e6i4Tg>. Acesso em: 27 jun. 2020. Tal linguagem tem como princípio básico oferecer condições para que o aluno estude sem a necessidade da interferência de um professor, ou seja, que este aluno possa conduzir seus estudos de forma autônoma. Ela costuma ser usada tanto nos materiais desenvolvidos pelos docentes quanto nas interações que ocorrem dentro do ambiente virtual. Basicamente, em textos escritos, tem como característica a forma didática de expor o conteúdo, com uso de exemplos, sugestões, questionamentos, re�exões e referências que conversam com a realidade do aluno e que o fazem pensar. Ou seja, o texto é conduzido na forma de diálogo, sempre buscando que este aluno se sinta motivado e encorajado a aprender. De acordo com Ota e Vieira (2012, p. 5): O diálogo é um ponto fundamental do design instrucional no ambiente on-line que se expressa nas indicações e orientações dos AVAs, no material didático, nas Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 7/17 imagens selecionadas e nos roteiros dos vídeos apresentados. Este diálogo instrucional possui características próprias na mediação do conteúdo ou objeto como a aprendizagem, esta mediação só ocorre diante da interação dos sujeitos envolvidos no processo educativo, que com a constante análise, construção e reconstrução de signos e signi�cados, possibilitam uma dinâmica dialógica e constante nos ambientes virtuais de aprendizagem, assim como, está em seu contexto como um disparador desta ação o uso do material didático elaborado especi�camente para o uso online nos cursos a distância. Em outras palavras, a linguagem dialógica é praticamente um requisito no design dos materiais elaborados para o contexto do EAD e se constitui como uma das estratégias da modalidade para fazer a mediação entre o conteúdo e o aluno. Para que essa mediação ocorra, vários materiais podem ser utilizados enquanto objetos de conhecimento. Como bem destacam os autores, nesse contexto, tanto textos verbais quanto não verbais podem ser materiais dialógicos. A�nal, o que vai determinar se um material é ou não dialógico é a forma com que ele foi pensado e estruturado para se relacionar com o aluno e seus conhecimentos pré-existentes. Quanto aos textos verbais, Tafner et al. (2010) destacam que a forma com que o texto é redigido pelo professor in�uencia na motivação e continuidade, ou não, da leitura pelo aluno em seus estudos a distância. Por essa razão, ao escrevê-lo, é necessário considerar a bagagem de conhecimentos que esse aluno possivelmente tem, e antecipar dúvidas que possam surgir. É possível fazê-lo lançando perguntas que levem o aluno à re�exão, chamando a atenção para determinados pontos ou conceitos, bem como fazendo comparações com outros textos e conexões com o que foi ou ainda vai ser dito no material (TAFNER et al., 2010). Nessa mesma perspectiva, Piva, Freitas e Miskulin (2009) apresentam outros princípios que podem ser seguidos na construção de materiais para a modalidade de estudos a distância dentro de uma Linguagem Dialógica Instrucional. Con�ra-os no quadro a seguir. QUADRO 2 – ORIENTAÇÕES PARA UMA LINGUAGEM DIALÓGICA INSTRUCIONAL a) usar sentenças curtas e evitar sentenças compostas; b) evitar excesso de informações na sentença; c) usar voz ativa e pronomes pessoais; d) manter itens iguais ou equivalentes em paralelo e listar as condições separadamente; Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 8/17 i) colocar as sentenças e parágrafos em uma sequência lógica: primeiro as coisas que sensibilizam ou são contextualizadas por muitos e depois as coisas com baixa sensibilização e contextualização; primeiro o geral, depois o especí�co; primeiro os conceitos permanentes, depois os temporários. e) usar exemplos familiares ao público alvo; f) escrever o mais próximo possível de como se fala; g) evitar jargões e palavras difíceis e desnecessárias; h) utilizar termos técnicos somente quando necessários e, sempre que possível, devem vir acompanhados de explicações; FONTE: Piva, Freitas e Miskulin (2009, s.p.) Esses aspectos deixam claro que uma linguagem dialógica depende da aproximação com o público-alvo, o que implica considerar os conhecimentos prévios do leitor e fazer uso de um vocabulário que não lhe cause estranhamento. Da mesma forma, pressupõe a criação de estratégias textuais baseadas em uma aprendizagem signi�cativa, onde a própria organização do texto favorece aspectos como a atenção e a assimilação do conteúdo pelo aluno. Finalizada esta contextualização sobre o conceito de linguagem dialógica, em seguida, veremos na prática como desenvolver trilhas pedagógicas e sequências didáticas nessa perspectiva. 4 A ELABORAÇÃO DE TRILHAS DE APRENDIZAGEM E SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DIALÓGICAS Você, professor, pode adotar diversas estratégias textuais que potencializem o aprendizado do aluno ao produzir uma trilha pedagógica. Antes de conhecermos estas estratégias, você sabe o que é uma trilha de aprendizagem? Você já produziu uma? A trilha é um instrumento pedagógico usado para guiar os estudos do aluno quando não há a mediação do professor, ou seja, é ela quem vai ditar o percurso que este aluno deve seguir em direção aos objetivos de aprendizagem propostos. Basicamente, a trilha reúne os materiais e o planejamento do professor em forma de texto para que o aluno saiba por onde começar, quais conteúdos e materiais explorar, e quando explorar. Nos cursos de educação a distância, essa trilha de Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICAhttps://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 9/17 Estratégias de entrada (anedotas, estudos de caso, perguntas, relatos de experiência, fragmentos literários): podem motivar, provocar o estudante a se introduzir no processo e deixam o conteúdo mais atrativo. aprendizagem compõe o ambiente virtual do aluno, onde ele encontra todas as informações necessárias para estudar em uma sequência didática orientativa. Nessa mesma perspectiva da trilha, ao propormos aulas remotas, devemos ter em mente que o nosso aluno precisa receber os materiais elaborados pelo professor em uma ordem lógica de aprendizagem, e, para isso, devemos fornecer-lhes uma explicação geral, em forma de conversa, convidando-os a acessar ou consultar os materiais propostos. No caso da Educação Infantil, as orientações são destinadas aos pais, porém, da mesma forma, devem ser escritas de forma clara e prática. FIGURA 4 – RETRATO DE UM PAI FAZENDO A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM FONTE: <https://bit.ly/2Aym6G7>. Acesso em: 27 jun. 2020. Como você já sabe, para alcançar o aluno, o material produzido no âmbito da educação a distância deve apresentar uma linguagem dialógica, que desperte a atenção e a curiosidade do estudante, e que o leve a diversas possibilidades de entender, explorar, e comparar um determinado conteúdo. Em seu texto (ou trilha de aprendizagem), você pode usar diversas estratégias, como mencionei antes. Para começar a escrever, você pode usar estratégias de entrada, por exemplo. Vejamos a que se referem: QUADRO 3 – ESTRATÉGIAS DE ENTRADA FONTE: Tafner et al. (2010, p. 47) Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 10/17 Estratégias de desenvolvimento: como o próprio nome sugere, o conteúdo pode ser trabalhado com a conjugação de diferentes enfoques (considerando- se vários horizontes de compreensão: econômico, produtivo, social, cultural, ecológico, religioso, psicológico etc.); pôr em experiência, isto é, sair da dimensão teórica e relacionar o conteúdo com as experiências dos alunos; perguntar e recorrer aos mais variados materiais de apoio (GUTIERREZ; PRIETO, 1994). Como podemos ver, existem várias possibilidades de começarmos nosso texto e chamarmos nosso aluno para os estudos. Outra forma interessante, além destas listadas por Tafner et al. (2010), é tornar esse momento inicial um diálogo afetivo, em que o professor mostra que con�a no potencial de seu aluno e que consegue enxergar o seu esforço nos estudos. Nada melhor que começar com um elogio, não é mesmo?! Claro, este elogio não pode ser vago ou clichê, para que o aluno não sinta que está sendo enganado. Deve basear-se no reconhecimento verdadeiro do desempenho das atividades anteriores, com foco no que realmente foi observado pelo professor ao longo das propostas de estudo. No caso das atividades remotas, em que semana após semana, muitas vezes, o professor precisa elaborar uma trilha nova para que o aluno possa estudar em casa, outra forma de iniciar o texto pode ser trazendo um feedback das atividades anteriores, fazendo com que o aluno se sinta reconhecido por tê-la realizado e por ter alcançado os objetivos previstos. Vejamos agora as estratégias de desenvolvimento: QUADRO 4 – ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO FONTE: Adaptado de Tafner et al. (2010, p. 47) Como você pode perceber, as estratégias de desenvolvimento dizem respeito a forma como o texto será conduzido, incorporando explicações, complementações, enfoques, perguntas e materiais para o aluno. Dentro dessas estratégias de desenvolvimento, vejamos um exemplo prático de texto, a título de ilustração. O exemplo é parte do artigo de Piva, Freitas e Miskulin (2009), titulado Linguagem Dialógica Instrucional: A (re)construção da linguagem para cursos on-line, o qual discute os princípios da Linguagem Dialógica Instrucional. FIGURA 5 – OS PRINCÍPIOS DA LINGUAGEM DIALÓGICA INSTRUCIONAL Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 11/17 FONTE: Piva, Freitas e Miskulin (2009, s.p.) Como podemos ver, o texto 1a foi construído na voz de segunda pessoa, diferentemente do texto 2a, em que, embora quem fale seja um personagem robotizado, a primeira pessoa é usada seguindo princípios da Linguagem Dialógica Instrucional (PIVA; FREITAS; MISKULIN, 2009). Obviamente, no caso dos materiais didáticos, não há a obrigatoriedade da incorporação de um personagem na trilha do professor, podendo ser um diálogo direto entre professor e aluno. O que merece destaque, nesse caso, é o uso da primeira pessoa, tornando o texto muito mais interativo e próximo, e interferindo na afetividade do leitor. No desenvolvimento, outro ponto a ser destacado, é o emprego da pedagogia da pergunta ao longo do texto, aproximando o leitor e convidando-o a interagir com o emissor, “vamos começar?”. Contudo, vale ressaltar que, ao lançarmos perguntas sobre o conteúdo, devemos considerar o momento certo, o propósito e a qualidade da questão levantada, podendo esta ser retórica ou não. Vamos ver na prática exemplos de trilhas dialógicas para cada etapa escolar? Começaremos com um exemplo de orientação dialógica enviada aos pais. QUADRO 5 – TEXTO PARA EDUCAÇÃO INFANTIL OU ENSINO FUNDAMENTAL I Prezados pais, Espero encontrar todos vocês muito bem. Nesta semana, envio atividades que preparei sobre o tema “[...]”. Este tema é importante porque a criança pode aprender a [...]. Espero contar com sua costumeira ajuda no apoio aos pequenos para a leitura e realização dessas atividades em casa. Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 12/17 Prof. Carlos Envio um planejamento sobre como começar, acompanhar e �nalizar as atividades com as crianças (anexar aqui planejamento do professor em linguagem dialógica). Peço, gentilmente, que me envie relatos e registros das atividades, assim consigo acompanhar e saber o que os pequenos estão conseguindo aprender neste período em que estamos distantes. Após o envio de seus registros, farei a devolutiva. Estou à disposição para ajudar e esclarecer dúvidas. Um abraço, FONTE: O autor Agora, veja um exemplo de trilha de aprendizagem aplicado ao ensino de Língua Espanhola como língua estrangeira. QUADRO 6 – TRILHA DIALÓGICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL II Olá! Na aula de espanhol desta semana vamos trabalhar com os "falsos amigos", também chamados de "falsos cognatos" ou heterosemánticos. Sabia que nem todas as palavras do espanhol que se parecem com o português possuem signi�cados semelhantes nas duas línguas? Antes de conhecermos estas palavras “diferentes”, proponho que cantemos e relembremos a música Despacito, do cantor Luis Fonsi: https://www.youtube.com/watch?v=kJQP7kiw5Fk. Para complementar, leia a letra da música em espanhol na integra (sem tradução): https://www.letras.mus.br/luisfonsi/despacito/. Dica: aproveite este momento de leitura para treinar a sua oralidade na língua espanhola. Conseguiu? Desa�ador! Ao terminar a leitura que sugeri, tente adivinhar, e escreva no caderno, os signi�cados das palavras: rato, mirada, solo, acercando, cuello, �rmar, pelo e apellido. Escreveu? Você vai se surpreender com o signi�cado delas! Assista essa reportagem sobre o tema desta aula: Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 13/17 Prof. Carlos Rodrigo de Oliveira Estou dando feedback nas atividades recebidas, e quero parabenizar a todos que estão se esforçando e entregando cada uma delas. Alguns alunos não estão entregando as atividades conforme combinado, mas entendo que alguns imprevistos podem acontecer e atrapalhar a rotina de estudos. Nesse caso, procurem-me para conversarmos e negociarmos novos prazos. http://g1.globo.com/pernambuco/videos/v/despacito-ajuda-a-aprender-osfalsos-cognatos-da-lingua-espanhola/6158443/. Ao assistir a reportagem, você deve ter visto que muitas palavras na música Despacito são chamadas de “falsos cognatos”, não é mesmo? Inclusive estas que você anotou aí no caderno: rato signi�ca tempo; mirada signi�ca olhar etc. Ou seja, parecem com palavras do português, mas no espanhol signi�cam outra coisa. Agora que você já sabe do que se trata, corrija as traduções que você colocou no caderno e busque o signi�cado das demais na internet. Vamos nos divertir um pouco mais? Assista a este vídeo, e conheça outros exemplos de frases com “falsos cognatos” Espero que tenha gostado da aula que preparei para hoje. Lembre-se de que estou aqui, caso haja dúvidas ou queira conversar sobre o conteúdo. Bons estudos e até a próxima semana! FONTE: O autor Por �m, vejamos um exemplo aplicado ao ensino de Língua Portuguesa e Literatura: QUADRO 7 – TRILHA DIALÓGICA PARA O ENSINO MÉDIO Bom dia, pessoal. Mais uma semana de estudo começando, mas antes de passar a atividade desta semana, vamos aos recadinhos importantes! Agora, sim, vamos à atividade! Pessoal, esta semana vamos aprofundar nosso conhecimento literário. “Aprofundar”, porque tenho certeza que você já ouviu falar desse importante nome da literatura brasileira. Consegue imaginar quem Capítulo 1 https://www.youtube.com/watch?v=OG7dZ6rqiwU 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 14/17 1. De que gênero textual se trata o texto? 2. 2. Quais as características desse gênero? 3. De que expoente da literatura o texto trata? 4. Qual a origem e contexto familiar desse escritor(a)? 5. Comente algumas de suas principais obras e pesquise sobre sua corrente literária. Prof. Carlos é?! Leia este texto para saber de quem se trata: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/10/cultura/1544426497_594113.html. Certamente, este texto é uma ótima fonte de estudos sobre este escritor(a). Você sabia dessa história de que o nome deste(a) escritor(a) causava inquietação nos críticos? Curioso, não é mesmo?! Agora eu pergunto: você reparou no site que visitou? E na estrutura do texto que leu, você se atentou? Tanto o suporte quando o gênero textual são muito importantes no momento de construirmos sentido de um texto. Saiba mais assistindo a este vídeo. Agora que leu ao texto e assistiu ao vídeo, você já está pronto para responder as seguintes questões que preparei sobre o texto: Responda as questões em seu caderno. Não é necessário copiar o conteúdo do site ou as questões, se você tem acesso posterior a eles. Lembrando que a realização da atividade compõe nota e gera presença para a disciplina de Língua portuguesa. Muito bem! Atividade �nalizada, missão cumprida! Ficou com dúvidas? Não deixe de anotá-las e entrar em contato comigo. Bons estudos, e um abraço forte! FONTE: O autor É possível notar que em todas as trilhas, optou-se por uma escrita dialogada em que o aluno é conduzido para a realização das atividades. Obviamente, trata-se de exemplos de como conduzir seu texto de forma interativa, porém, você pode Capítulo 1 https://www.youtube.com/watch?v=VlS7wt7WtQo 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 15/17 prevê os objetivos imediatos a serem alcançados (conhecimentos, habilidades, atitudes); especi�ca os itens e subitens do conteúdo que serão trabalhados durante a aula; de�ne os procedimentos de ensino e organiza as atividades de aprendizagem de seus alunos (individuais e em grupo); indica os recursos (cartazes, mapas, jornais, livros, objetos variados) que vão ser usados durante a aula para despertar o interesse, facilitar a compreensão e estimular a participação dos alunos; estabelece como será feita a avaliação das atividades (HAYDT, 2001, s.p.). construir o seu próprio modelo ou fazer uma mistura dos três, conforme sua preferência ou estilo textual. Lembrando que ao propor sua trilha, você deve seguir uma sequência didática, que segundo Alves e Meira “são consideradas um conjunto de tarefas sequenciadas utilizadas para se ensinar um dado conteúdo ou objeto” (2018, p. 279). As autoras baseiam-se em Dolz, Noverraz e Schneuwly para quem as sequências didáticas referem-se a “um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (2004, p. 97). Esta sequência de atividades deve partir de um bom plano de aula, o qual deve estar de acordo com documentos curriculares o�ciais, como a Base Nacional Comum Curricular. A elaboração deste plano pelo professor parte de algumas ações, conforme Haydt (2001). Dessa forma, ao planejar uma aula, o docente: Além disso, basicamente, um bom plano didático, segundo o autor, apresenta: coerência e unidade; continuidade e sequência; �exibilidade; objetividade e funcionalidade; precisão e clareza (HAYDT, 2001, s.p.). Não é exagero dizer que um bom plano de aula também explora diferentes materiais e ferramentas para que o aluno consiga construir uma visão mais ampla em seu aprendizado. Dessa forma, sempre que possível, para impulsionar sua proposta no contexto das aulas remotas, visite diferentes ferramentas digitais disponíveis, como lives, fóruns, enquetes e videoaulas, por exemplo. Ao trazê-las para seu planejamento, procure manter uma linguagem dinâmica e didática ao aluno. Procurando não só orientá-lo, mas estimulá-lo a estudar mesmo em casa. Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 16/17 Por último, destaco que, no contexto de pandemia, todos os itens que compõem um plano de aula (como o tema; objetivos; conteúdos; habilidades; tempo de execução; metodologia; avaliação; materiais necessários; e referências) precisam ser adaptados para uma linguagem dialógica, em que tanto os pais quanto os alunos possam entender o que o professor idealizou para a realização das atividades. Isso implica dizer que se deve evitar termos técnicos ou rebuscados que são facilmente compreendidos por especialistas da educação, mas que exigem esforço e conhecimentos prévios de leitores que não são da área. Sua forma de falar e escrever neste momento de construção da autonomia do aluno e na orientação dos pais, professor, são fundamentais. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em síntese ao que estudamos até aqui, a sensibilização dos alunos e a assimilação do conteúdo só é possível quando conseguimos produzir um texto que aproxime de sua realidade, como bem pontua Piva, Freitas e Miskulin (2009). A autonomia no estudo do aluno depende, em parte, do planejamento do professor, dos materiais e atividades que este propõe, e das estratégias textuais que utiliza para alcançar e estimular este aluno. Neste material, foi possível conhecer um pouco sobre uma das características principais dos materiais elaborados para o contexto de estudo a distância: a linguagem dialógica. Foram apresentados princípios teóricos de Paulo Freire e Bakhtin (grandes referências no estudo da dialogicidade), para posteriormente compreendermos a linguagem dialógica em propostas de aulas remotas. Também foi possível observar na prática como funciona a linguagem dialógica na produção de trilhas de aprendizagem e sequências didáticas com o uso de exemplos e sugestões. Para �nalizar, ressalto que as propostas apresentadas devem ser adaptadas à particularidade de cada sistema de ensino, pois muitos adotam a forma híbrida, em que as trilhas e as sequências didáticas propostas são tanto on-line quanto impressas para alunos que não têm acesso à internet. Dessa forma, vídeos devem ser substituídos por textos, por exemplo, visando o ajuste à realidade local do aluno, porém, dentro do mesmo princípio interativo da dialogicidade. Espero que este material tenha contribuído de alguma maneira para sua formação neste período. Até um próximo encontro! Capítulo 1 27/10/2020 Livro Digital - LINGUAGEM DIALÓGICA https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/conteudo.html?capitulo=1 17/17 Apresentação Conteúdo escrito por: Todos os direitos reservados © 2020 Prof. Carlos Rodrigo de Oliveira Capítulo 1 https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/linguagem_dialogica/index.html
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