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Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 1/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO 1. APRESENTAÇÃO Um grande desafio atualmente é o combate à pandemia do COVID-19, doença infecciosa causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), na qual parte dos pacientes contaminados apresentam complicações e necessitam de hospitalização, e cerca de 5% precisam de terapia intensiva. As complicações mais frequentes são a disfunção respiratória, seguida da disfunção renal. Nos casos de hospitalização, a assistência nutricional adequada deve ser parte do plano terapêutico do paciente, com a finalidade de prevenir, minimizar ou reverter os efeitos da desnutrição nesses pacientes. Nesse contexto, e a terapia nutricional é parte fundamental do cuidado integral na atenção ao paciente crítico com COVID-19 (HAMMES, 2019; BRASPEN, 2020). É comum observar a desnutrição em pacientes hospitalizados em todo o mundo. Estima-se que entre 20 e 60% dos pacientes hospitalizados apresentem quadro de desnutrição e que esta condição está associada ao aumento do tempo de internação e dos custos hospitalares, incidência de infecções, complicações pós-operatórias, retardo na cicatrização de feridas e aumento da mortalidade (SILVA et al, 2013; HAMMES, 2019). No que se refere à população pediátrica, muitos pacientes gravemente doentes em unidades de terapia intensiva pediátricas apresentam desnutrição, com uma taxa de mortalidade de 9-38%. Parte desses pacientes já chega com quadro de desnutrição instalado, porém, a maior parte desenvolve essa condição durante o período de internação devido ao hipercatabolismo causado por sepse, choque, inflamação e consequentemente apresenta sarcopenia, com prejuízo nas funções de órgãos vitais e depleção da resposta imunológica. Todo esse panorama é capaz de aumentar em 30-50% as necessidades energéticas do indivíduo (SILVA et al, 2013). A Terapia Nutricional Enteral (TNE) é um conjunto de procedimentos terapêuticos que visa reconstituir ou manter o estado nutricional do indivíduo por meio de nutrição enteral. O estado nutricional é o resultado da relação entre as necessidades nutricionais, bem como a capacidade de metabolização do organismo e a ingestão de energia e nutrientes. Em pacientes hospitalizados, o estado nutricional interfere na evolução clínica devido ao aumento da probabilidade de desenvolvimento ou agravamento das morbimortalidades e, por isso, deve ser avaliado precocemente, para que medidas de intervenções sejam elaboradas e aplicadas àqueles que apresentarem algum risco nutricional (RDC 63, 2000; HAMMES, 2019; BARBOSA et al, 2019). Desse modo, os pacientes críticos, dentre estes, os casos mais graves de COVID-19, estão geralmente associados a um estado de estresse catabólico e a uma resposta inflamatória sistêmica relacionada a complicações que levam ao aumento da morbidade infecciosa, da disfunção múltipla de órgãos, da hospitalização prolongada e da taxa de mortalidade. Nesses casos, o apoio nutricional é parte importante do tratamento e o início da terapia nutricional precoce, junto a um plano terapêutico adequado, considerando a indicação da terapia nutricional, os efeitos colaterais e as técnicas de alimentação disponíveis podem reverter o hipercatabolismo e suas consequências (SILVA, 2013; SANTOS; ARAÚJO, 2019). Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 2/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO 2. OBJETIVOS Definir protocolos institucionais baseados em diretrizes específicas para o cuidado e terapia nutricional em pacientes com COVID-19 visando recuperar ou manter o estado nutricional do indivíduo, a fim de garantir melhores desfechos clínicos e menores custos de internação. Estes protocolos também devem prever estratégias para o monitoramento da efetividade, adequação e eventos adversos das terapias nutricionais instituídas. 3. DESCRIÇÃO 3.1. Avaliação do risco nutricional De acordo com a recomendação do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) publicada em 20 de março de 2020, os nutricionistas não devem ter contato com pacientes suspeitos ou contaminados com COVID-19, a fim de preservar a saúde dos mesmos bem como dos pacientes. Desta forma, é sugerida a realização da triagem, avaliação e evolução nutricional a partir de dados secundários, como prontuários e ligações telefônicas. Esta recomendação foi reforçada pelas publicações da American Society for Parenteral and Enteral Nutrition - ASPEN (2020), que propõe a possibilidade da coleta de dados físicos desses pacientes por intermédio da equipe multidisciplinar de saúde. A Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral - BRASPEN (2020) também sugere a realização da triagem por meio de dados secundários e medidas alternativas, como visitas virtuais. No Hospital Universitário Júlio Bandeira (HUJB) dispomos do aplicativo TEAMS® e já está em funcionamento a telessaúde. Desta forma, a avaliação nutricional do paciente poderá ser realizada através do aplicativo, sendo necessário a ajuda de um dos profissionais da equipe multidisciplinar, que está em contato com o paciente para realizar a chamada via aplicativo. Para avaliação do risco nutricional em pacientes com COVID-19, recomenda-se que seja realizada triagem nutricional em até 48 horas da admissão hospitalar. Todos os casos pediátricos de internação por suspeita ou confirmação de COVID-19 no HUJB devem ser submetidos, em até 48h da internação, à triagem nutricional pelo profissional nutricionista, para determinar o risco nutricional que o paciente apresenta e a necessidade de intervenção. O instrumento de triagem que deve ser utilizado é o Screening Tool for Risk of Impaired Nutritional Status and Growth – Strong kids, como descrito no quadro 1. Quadro 1 - TRIAGEM DE RISCO NUTRICIONAL – crianças > 1 mês: STRONG KIDS (Screening Tool for Risk of Impaired Nutritional Status and Growth) Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 3/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO ITENS DE AVALIAÇÃO ESCORE 1. Avaliação subjetiva clínica: o paciente apresenta estado nutricional deficiente verificado através da avaliação clínica subjetiva (diminuição da gordura subcutânea e/ou massa muscular e/ou face emagrecida)? SIM = 1 PONTO 2. Doença de alto risco (conforme abaixo): o paciente apresenta uma doença associada com risco de desnutrição ou previsão de grande cirurgia? – verificar a relação. Doença de alto risco: Anorexia nervosa; Queimaduras; Displasia Bronco pulmonar (idade máxima de 2 anos); Doença celíaca; Fibrose cística; Prematuridade (6 meses de idade corrigida); Doença cardíaca crônica; Doenças infectocontagiosas (AIDS); Doença inflamatória intestinal; Câncer; Doença hepática crônica; Pancreatite; Síndrome do intestino curto; Doença muscular; Doença metabólica; Trauma; Retardo mental; Expectativa de grande cirurgia; Não especificado (classificadas por médico). SIM = 2 PONTOS 3. Ingestão nutricional e perdas: Alguns dos itens a seguir estão presentes? ( ) Excessiva diarreia (> 5 vezes por dia) e/ou vômitos (> 3 vezes / dia) nos últimos dias? ( ) Reduzida ingestão alimentar durante os últimos dias antes da admissão (não incluindo o jejum para uma cirurgia ou procedimento eletivo)? ( ) Intervenção nutricional com orientação dietética prévia? ( ) Incapacidadede ingestão alimentar adequada por causa de dor? SIM = 1 PONTO 4. Perda de peso ou ganho de peso insuficiente: Há perda de peso ou nenhum ganho de peso (bebês < 1 ano) durante as últimas semanas/meses? SIM = 1 PONTO NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO DE ACORDO COM A CATEGORIA DE RISCO: Escore: 4 a 5 pontos RISCO ALTO realizar Avaliação Objetiva Nutricional; visitas diárias; Acompanhamento Nutricional Individualizado Escore: 1 a 3 pontos RISCO MODERADO acompanhar aceitação alimentar diariamente; verificar peso duas vezes por semana; avaliar o risco nutricional após uma semana Escore: 0 pontos RISCO BAIXO acompanhar aceitação alimentar diariamente; avaliar o risco nutricional após uma semana. Para os casos de internação de pacientes adultos e idosos por suspeita ou confirmação por COVID-19 no HUJB devem ser submetidos, em até 48h da internação, à triagem nutricional pelo profissional nutricionista, através do instrumento de triagem Nutritional Risk Screening – NRS 2002 (quadro 2), recomendada pela Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN) e pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Quadro 2 - TRIAGEM DE RISCO NUTRICIONAL – adultos e idosos: NRS 2002 (Nutritional Risk Screening) Triagem inicial SIM NÃO 1 IMC < 20,5 Kg/m²? 2 Perda de peso nos últimos 3 meses? 3 Redução da ingestão na última semana? Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 4/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO 4 Paciente está muito doente? (Ex. UTI) - Se houver pelo menos uma resposta “SIM” a qualquer pergunta da triagem inicial, a triagem final deverá ser utilizada. - Se todas as respostas da triagem inicial forem “NÃO”, o paciente deverá passar novamente pela triagem nutricional a cada 7 dias, até o momento da alta hospitalar. Triagem final Pontuação Estado Nutricional Pontuação Gravidade da doença Score 1 Leve Perda de peso > 5% em 3 meses Aceitação alimentar entre 50 a 75% das necessidades energéticas na semana anterior Score 1 Leve Complicações agudas de doenças crônicas DPOC Hemodiálise Câncer Diabetes Fratura do fêmur Score 2 Moderada Perda de peso >5% em 2 meses IMC 18,5 – 20,5Kg/m² Aceitação alimentar de 25 a 50% das necessidades energéticas na semana anterior Score 2 Moderada AVC Pneumonia grave Cirurgia no TGI ou abdominais Infecções graves Score 3 Grave Perda de peso >5% em 1 mês Perda de peso >15% em 3 meses IMC <18,5Kg/m² Aceitação alimentar <25% das necessidades energéticas na semana anterior Score 3 Grave Neurocirurgia Traumas UTI (Apache > 10) - Se apresentar idade > 70 anos, acrescentar 1 ponto na pontuação total. - Se apresentar os seguintes sinais clínicos: sinais de chaves, depleção da bola gordurosa de Bichart e depleção da massa muscular, acrescentar 1 ponto na pontuação total. Pontuação total: pontuação do estado nutricional + pontuação da gravidade da doença Pontuação do score total: _____+_____=_____ Paciente sem risco nutricional: se a pontuação total do score for menor que 3 (retriagem a cada 7 dias) Paciente com risco nutricional: se a pontuação total do score for >3 (iniciar terapia nutricional) Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 5/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO A BRASPEN (2020) sugeriu que, em caso de não ser possível realizar as triagens via contato telefônico ou por dados secundários de prontuários, as mesmas podem ser suspensas durante a pandemia a fim de proteger os profissionais e pacientes, reduzindo o contato físico. Assim, elaborou critérios de elegibilidade de risco nutricional com base nas comorbidades relacionadas ao pior prognóstico, indicadores e sintomas associados à desnutrição, e considerou como risco nutricional os pacientes que apresentarem ao menos 1 dos critérios no quadro 3. Assim, fica estabelecido que no HUJB, na impossibilidade de realizar a triagem nutricional pelos métodos supramencionados, serão utilizados os critérios apresentados no quadro abaixo. Quadro 3 - Critérios para avaliação do risco nutricional de pacientes com COVID-19. Critérios Idosos ≥65 anos Adulto com IMC <20,0 kg/m² Risco alto de desenvolvimento de lesão por pressão Imunossupressão Inapetência Disgeusia, anosmia Diarreia persistente Histórico de perda de peso Doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, pneumopatias estruturais Cardiopatias, incluindo hipertensão arterial sistêmica Diabetes insulinodependente Insuficiência renal Permanência em UTI superior a 48h Gestação Considerar ao menos 1 critério para estabelecimento de risco nutricional. Fonte: BRASPEN, 2020. 3.2. Avaliação do Estado Nutricional Ainda com base no contexto da pandemia e todas as suas limitações, a avaliação nutricional deverá ser realizada em todos os pacientes com COVID-19 em terapia nutricional enteral por meio de dados secundários. 3.2.1. Antropometria para pediatria Todas as crianças devem ter o peso e estatura/comprimento aferidos, avaliados e classificados de acordo com os índices antropométricos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) 2006 e 2007 para cada faixa etária. Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 6/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO Mensurar o peso no momento da internação hospitalar e monitorá-lo é essencial para a avaliação nutricional completa, além de permitir a adequada prescrição de doses de medicamentos, cálculo de hidratação, necessidade energética e de macro e micronutrientes, monitoramento do resultado da terapia nutricional e evolução do quadro clínico do paciente. Por se tratar de informação que pode influenciar na conduta terapêutica, este cuidado deve ser instituído como rotina (GOMES et al., 2019). Cálculos do percentil e do escore-z deverão ser realizados por intermédio de programa informatizado de domínio público divulgado e disponibilizado pela World Health Organization (WHO). Os softwares estão gravados na área de trabalho dos computadores utilizados pela equipe de nutrição da área clínica: Anthro (WHO, 2006) para crianças até 5 anos e Anthro Plus (WHO, 2007) para crianças dos 5 aos 19 anos. No HUJB, as crianças internas na ala destinada aos pacientes com sintomas ou confirmação de COVID-19 com menos de 2 anos de idade devem ter seu peso e estatura/comprimento aferidos no momento da admissão, bem como o monitoramento do peso diário e estatura semanais devem ser realizados, com registro dos dados em prontuário. As crianças com mais de 2 anos de idade devem ter seu peso e estatura/comprimento aferidos ao ingresso e monitoramento por meio da aferição do peso semanal e estatura mensal. Em caso de crianças com edema, o peso deverá ser mensurado diariamente para controle da retenção hídrica. Nas crianças/adolescentes desnutridos, em risco nutricional moderado e alto, e/ou em terapia nutricional enteral o monitoramento do peso deverá ser feito 2x/semana; crianças em risco nutricional baixo deverão ter seu peso aferido 1x/semana, devendo os dados serem registrados em prontuário (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2009). Quadro 4 - Periodicidade de mensuração das medidasantropométricas Faixa etária/condição clínica Parâmetro Periodicidade Responsável < 2 anos Peso ao internamento e diariamente Obtido pelo profissional de enfermagem Estatura ao internamento e semanalmente Obtido pelo profissional de enfermagem > 2 anos Peso ao internamento e semanalmente Obtido pelo profissional de enfermagem Estatura ao internamento e mensalmente Obtido pelo profissional de enfermagem Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 7/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO Crianças/adolescentes desnutridos, em risco nutricional moderado e alto e/ou em terapia nutricional enteral Peso ao internamento e 2x/semana Obtido pelo profissional de enfermagem Crianças em risco nutricional baixo Peso ao internamento e 1x/semana Obtido pelo profissional de enfermagem Fonte: UNC/HUJB. Nos casos de impossibilidade da aferição do peso, este deve ser estimado por meio das seguintes equações: Quadro 5 - Equações de estimativa de peso para crianças e adolescentes Faixa etária Equação de estimativa da altura 0 a 12 meses Peso (em Kg) = (idade in meses + 9/2) 1 a 5 anos Peso (em Kg) = 2 x (idade em anos + 5) 5 a 14 anos Peso (em Kg) = 4 x idade (em anos) Fonte: Tinning; Acworth (2007). A perda de peso deve ser monitorada, estando relacionada à baixa aceitação alimentar, aos quadros de intolerância, como vômito, distensão abdominal e aos períodos de jejum para exames e procedimentos. Na prática clínica pediátrica, a perda de 2% do peso, independentemente do tempo, já é considerada uma perda grave (GOMES et al., 2019). O cálculo para a perda de peso deve ser feito da seguinte forma: % Perda de peso = Peso usual (Kg) – Peso atual (kg)/Peso usual (Kg) x 100 Para crianças com limitações físicas, a estatura deverá ser estimada por meio das equações descritas no quadro abaixo: Quadro 6 – Equações de estimativa da altura em crianças e adolescentes Idade Segmento Equação 2 a 12 anos com paralisia cerebral (Stevenson, 1995) Comprimento da tíbia (CT) E = (3,26 x CT) +30,8 Altura de joelho (AJ) E = (2,69 x AJ) + 24,2 Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 8/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO Comprimento superior do braço (CSB) E = (4,35 x CSB) + 21,8 6 a 18 anos (Chumlea et al., 1994) Altura do joelho (AJ) Meninas brancas = 43,21 + (2,15 x AJ) Meninas negras = 46,69 + (2,02 x AJ) Meninos brancos = 40,54 + (2,22 x AJ) Meninos negros = 39,60 + (2,18 x AJ) Fonte: adaptado Silva; Nascimento; Zamberlan (2014). Quadro 7 - Índices antropométricos para crianças e adolescentes Faixa etária Crianças de 0 a 5 anos incompletos Crianças de 5 a 10 anos incompletos Adolescentes de 10 a 19 anos Índice antropométrico Peso para idade Peso para idade - Peso para estatura - - IMC para idade IMC para idade IMC para idade Estatura para idade Estatura para idade Estatura para idade Fonte: SBP, (2009). Nos casos de lactentes prematuros, antes de ser feita a avaliação nutricional antropométrica e consequente classificação pelas curvas da OMS, deverá ser calculada a idade corrigida (até os 2 anos de idade) da seguinte forma: IDADE CORRIGIDA = Idade cronológica (em semanas) – (40 – Idade gestacional) 4 3.2.3. Antropometria para adultos e idosos Todos os pacientes devem ter o peso e estatura aferidos no momento da internação hospitalar, o Índice de Massa Corporal (IMC) avaliado e o estado nutricional classificado de acordo com os pontos de corte recomendados pelo Ministério da Saúde (MS) 2014 e 2017 para adultos e idosos, conforme quadros 8 e 9. Cálculo do IMC: IMC = Peso atual (Altura)² Quadro 8 - Classificação do estado nutricional, de acordo com o IMC, para indivíduos com 20 anos ou mais e menores de 60 anos de idade Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 9/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO Estado Nutricional – IMC (Kg/m²) Classificação do Estado Nutricional < 18,5 Baixo Peso 18,5 a 24,9 Adequado 25 a 29,9 Sobrepeso > 30 Obesidade Grau I > 35 Obesidade Grau II > 40 Obesidade Grau III Fonte: Ministério da Saúde, 2017. Quadro 9 - Classificação do estado nutricional, de acordo com o IMC, para indivíduos com mais de 60 anos de idade Estado Nutricional – IMC (Kg/m²) Classificação do Estado Nutricional < 22 Magreza 22 a 27 Eutrofia >27 Excesso de peso Fonte: Ministério da Saúde, 2014. Nos casos de impossibilidade de aferição das medidas antropométricas, a estatura pode ser estimada através de medidas secundárias como a semi-envergadura e a altura do joelho (quadros 10 e 11) e o peso pode ser estimado a partir da altura (quadros 12 e 13). Quadro 10 – Estimativa da altura por envergadura Equação para estimativa de altura (cm) Referência Altura = semi-envergadura x 2 Mitchell e Lipschitz (1982) Altura = [0,73 x (2 x semi-envergadura dos braços)] + 0,43 WHO (1999) Fonte: CRN6, 2020. Quadro 11 – Estimativa da altura pela altura do joelho Gênero Feminino Gênero Masculino 19-59 anos (negra) = 68,10 + (1,66 x AJ) – (0,06 x I) 19-59 anos (negro) = 73,42 + (1,79 x AJ) 19-59 anos (branca) = 70,25 + (1,87 x AJ) – (0,06 x I) 19-59 anos (branco) = 71,85 + (1,86 x AJ) Fonte: Chumlea et al, 1994. Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 10/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO Quadro 12 – Estimativa do peso (Kg), a partir da altura para o sexo masculino Altura (cm) Estatura pequena Estatura média Estatura grande 155 50,0 53,6 58,2 156 50,7 54,3 58,8 157 51,4 55,0 59,5 158 51,8 55,5 60,0 159 52,2 56,5 60,5 160 52,7 56,4 60,9 161 53,2 56,2 61,5 162 53,7 56,8 62,1 163 54,4 57,7 62,7 164 55,0 58,5 63,4 165 55,9 59,5 64,1 166 56,3 60,1 64,8 167 57,1 60,7 65,6 168 57,7 61,4 66,4 169 58,6 62,3 67,5 170 59,5 63,2 68,6 171 60,1 63,8 69,2 172 60,7 64,4 69,8 173 61,4 65,0 70,5 174 62,3 65,9 71,4 175 63,2 66,8 72,3 176 63,8 67,5 72,9 177 64,4 68,2 73,5 178 65,0 69,0 74,4 179 65,9 69,9 75,3 180 66,8 70,9 76,4 181 67,4 71,7 77,1 182 68,0 72,5 77,8 183 68,6 73,2 78,6 184 69,6 74,4 79,8 185 70,9 75,0 80,9 186 71,5 75,8 81,7 187 72,1 76,6 82,5 188 72,7 77,3 83,2 189 73,3 78,0 83,8 190 73,9 78,7 84,4 191 74,5 79,5 85,0 Fonte: CRN6, 2020 - adaptado de Metropolitan life ensurance,1985. Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 11/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO Quadro 13 – Estimativa do peso (Kg), a partir da altura para o sexo feminino Altura (cm) Estatura pequena Estatura média Estatura grande 142 41,8 46,0 49,5 143 42,3 54,3 49,8 144 42,8 45,6 50,1 145 43,2 45,9 50,2 146 43,7 46,6 51,2 147 44,1 47,3 51,8 148 44,647,7 51,8 149 45,1 48,1 51,8 150 45,5 48,6 53,2 151 46,2 49,3 54,0 152 46,8 50,0 54,5 153 47,3 50,5 55,0 154 47,8 51,0 55,5 155 48,2 51,4 55,9 156 48,9 52,3 56,8 157 49,5 53,2 57,7 158 50,0 53,6 58,3 159 50,5 54,0 58,9 160 50,9 54,5 59,5 161 51,5 55,3 60,1 162 52,1 56,1 60,7 163 52,7 56,8 61,4 164 53,6 57,7 62,3 165 54,5 58,6 63,2 166 55,1 59,2 63,8 167 55,7 59,8 64,4 168 56,4 60,5 65,0 169 57,3 61,4 65,9 170 58,2 62,2 66,8 171 58,8 62,8 67,4 172 59,4 63,4 68,0 173 60,0 64,4 68,6 174 60,9 65,0 69,3 175 61,8 65,9 70,9 176 62,4 66,5 71,7 177 63,0 67,1 72,5 178 63,6 67,7 73,2 179 64,5 68,6 74,1 Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 12/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO 180 65,5 69,5 75,0 181 66,1 70,1 75,6 182 66,7 70,7 76,2 183 67,3 71,4 76,8 Fonte: CRN6, 2020 - adaptado de Metropolitan life ensurance,1985. 3.3. Monitoramento Bioquímico Os exames bioquímicos devem ser solicitados na internação antes de ser iniciada qualquer tipo de Terapia Nutricional (TN), visando evitar a ocorrência de síndrome de realimentação. No acompanhamento da evolução clínica é fundamental que seja considerada a periodicidade na avaliação de alguns parâmetros que interferem na conduta médica e nutricional. Dessa forma, ao se instituir a terapia nutricional, devem ser solicitados a dosagem eletrolítica, do hemograma, da função renal e da dosagem das proteínas plasmáticas, deve-se também solicitar dosagem de colesterol total e triglicérides, como parte da avaliação nutricional inicial. A depender do quadro clínico, solicitar hemograma, dosagem de sódio, potássio, cálcio, magnésio, fósforo, ureia, creatinina e albumina, conforme demonstrado abaixo. Quadro 14 – Exames laboratoriais que devem ser monitorados na rotina de pacientes em TNE Parâmetro Periodicidade primeiros 4 dias Após 5° dia Na+/K+ inicial e após 48 horas semanal Ca++/Mg++/Fósforo inicial se desnutrido semanal Perfil lipídico inicial (dislipidemia) semanal TGO, TGP, fosfatase alcalina, bilirrubina, GAMA GT inicial semanal Proteínas totais, albumina, pré-albumina e globulina inicial semanal Uréia e creatinina inicial semanal Glicemia 1x/dia semanal Hemácias, hemoglobina e hematócrito 3x/semana semanal Assim, é importante monitorar os níveis séricos de fósforo em pacientes críticos, e fazer a reposição adequada, quando indicado, pois a hipofosfatemia pode sinalizar síndrome de realimentação. A progressão calórica deverá ser adiada quando os níveis de fósforo, potássio e magnésio estiverem baixos, devido ao risco de síndrome de realimentação e a recomendação é iniciar aproximadamente com 25% da concentração calórica (FERRETI, 2020). Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 13/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO 3.4. Vias de Alimentação Em pacientes com COVID-19 em UTI não intubados, sob ventilação não invasiva, que não atingem o objetivo energético com dieta oral, suplementos nutricionais devem ser considerados anteriormente à nutrição enteral. Dessa forma, a Terapia Nutricional por via Oral (TNO) deve ser a primeira opção, quando o consumo alimentar for inferior a 4 refeições por dia (sendo 3 destas desjejum, almoço e jantar) ou consumo menor que 75% das recomendações nutricionais em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão. Nesses casos, a recomendação é utilizar TNO, por meio de suplementos hipercalóricos e hiperproteicos, até 3 vezes ao dia. Na impossibilidade de utilização da via oral, ou devido à ingestão alimentar insuficiente, com consumo inferior a 3 refeições por dia, sendo desjejum, almoço e jantar, ou seja, ingestão menor que 60% das recomendações nutricionais em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão deve ser utilizada TNE por Bomba de Infusão Contínua (BIC) por 24 horas com volume de vazão inicial de 20mL/h com evolução gradual. Ainda nos casos de pacientes com COVID-19 em UTI, intubados e ventilados, a nutrição enteral deve ser iniciada através de uma sonda nasogástrica e a alimentação pós-pilórica deve ser realizada em pacientes com intolerância gástrica após tratamento procinético ou em pacientes com alto risco de aspiração. A progressão da dieta deve ser realizada com cuidado em pacientes que necessitam de ventilação mecânica e estão hemodinamicamente instáveis. Em caso de hipercapnia, a TNE deve ser mantida compensada ou permissiva. Porém, em caso de hipoxemia, hipercapnia ou acidose grave, instabilidade hemodinâmica, níveis de lactato aumentados ou recebendo agentes vasopressores, a dieta deverá ser suspensa (FERRETI, 2020). 3.5. Recomendações Nutricionais 3.5.1. Necessidades nutricionais para pediatria A necessidade energética de crianças deve ser estimada com fórmulas padrão e, em seguida, ajustada de acordo com a evolução clínica (SBNEP, 2011). O valor do peso utilizado para cálculo deve corresponder ao atual ou habitual, quando não for possível a tomada direta da medida. Na ausência desses dois valores, utilizar o peso ideal. De acordo com a ASPEN, as necessidades energéticas para crianças e adolescentes em terapia nutricional podem ser calculadas da seguinte forma: Quadro 15 – Cálculo das necessidades energéticas para crianças e adolescentes em TN Idade (anos) Kcal/kg/dia Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 14/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO 0 a 1 90 – 120 1 a 7 75 – 90 7 a 12 60 – 75 12 a 18 30 – 60 Fonte: ASPEN, 2002. O Instituto de Medicina (IOM) propõe as seguintes recomendações para cálculo das necessidades energéticas: Quadro 16 – Recomendações energéticas diárias (Kcal) segundo idade, peso esperado na presença fisiológica de crescimento e atividade física Faixa etária (meses/anos) Energia/Kg de peso Energia (Kcal) 0 - 0,5 mês 72,6 501 0,6 mês - 1 ano 78,1 703 1 – 3 anos 79 869 Sexo masculino 4 – 8 anos 70,6 1.441 9 – 13 anos 58,1 2.079 14 – 18 anos 53,0 3.116 Sexo feminino 4 – 8 anos 64,9 1.487 9 – 13 anos 52,4 1.907 14 – 18 anos 42,6 2.302 Nos casos de pacientes em cuidados terapêuticos intensivos sob ventilação mecânica (exceto pacientes < 2 anos e queimados), segundo Koletzko et al. (2005), o cálculo das necessidades energéticas deverá ser feito pela seguinte equação: GEB = {[17 x idade (meses)] + [48 x peso (kg)] + [292 x temperatura (°C) – [9.677 x 0,239]} Iniciar e progredir o aporte calórico conforme esquema abaixo, observando sempre a tolerância do paciente (ocorrência de vômitos, distensão, diarreia, resíduo gástrico alto), até que as necessidades calóricas programadas sejam atingidas: Quadro 17 - Velocidade de infusão da nutrição enteral Faixa etária Velocidade de infusão inicial Aumento diário Meta/objetivo Administração contínua 0 – 1 10 – 20 mL/h ou 5 – 10 mL/8h ou 21 – 54 mL/h ou Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 15/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO 1 – 2 mL/Kg/h 1 mL/kg/h 6 mL/kg/h 1 - 6 20 – 30 mL ou 2 – 3 mL/Kg/h 10 – 15 mL/8h ou1 mL/kg/h 71 – 92 mL/h ou 4 - 5 mL/kg/h 6 - 14 30 – 40 mL ou 1 mL/Kg/h 15 – 20 mL/8h ou 0,5 mL/kg/h 108 – 130 mL/h ou 3 - 4 mL/kg/h > 14 50 mL ou 0,5 - 1 mL/Kg/h 25 mL/8h ou 0,4 - 0,5 mL/kg/h 125 mL/h Administração em bolus 0 – 1 60 – 80 mL/4h ou 10 – 15 mL/Kg/etapa 20 – 40 mL/4h 80 – 240 mL/4h ou 20 – 30mL/Kg 1 - 6 80 – 120 mL/4h ou 5 – 10 mL/Kg/etapa 40 – 60 mL/4h 280 – 375 mL/4h ou 15 – 20 mL/Kg/etapa 6 - 14 120 – 160 mL/4h ou 3 – 5 mL/Kg/etapa 60 – 80 mL/4h 430 – 520 mL/4h ou 10 – 20 mL/Kg/etapa > 14 200 mL/4h ou 3 mL/Kg/etapa 100 mL/4h 500 mL/4h ou 10 mL/Kg/etapa Fonte: Guidelines Canadian, 2009. A necessidade proteica em pediatria deve ser adequada de maneira quantitativa e qualitativa (SBNEP, 2011), conforme demonstram quadros abaixo: Quadro 18 – Necessidades de proteína em pediatria, conforme as Dietary References Intakes Faixa etária Proteína g/Kg/dia Proteína g/dia 0 a 5 meses 1,32 9,1* (AI) 6 a 12 meses 1,5 11 12 a 36 meses 1,18 13 Sexo masculino 4 a 8 anos 0,93 19 9 a 13 anos 0,95 34 14 a 18 anos 0,88 52 Sexo feminino 4 a 8 anos 0,83 19 9 a 13 anos 0,93 34 14 a 18 anos 0,85 46 Os valores das DRIs – Dietary Reference Intakes se referem às RDAs – Recommended Dietary Allowances (1989), exceto o identificado com asterisco (*), que indica a Adequate Intake (AI). Quadro 19 – Estimativa das necessidades de proteínas em pediatria Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 16/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO Idade Necessidade proteica (kcal/Kg/dia) Baixo peso ao nascer 3 a 4 RNT 2 a 3 1 a 10 anos 1 a 1,2 Adolescente masculino 0,9 Adolescente feminino 0,8 Criança/adolescente doente grave 1,5 Fonte: ASPEN, 2002; SBNEP, 2011. As recomendações nutricionais de carboidratos e lipídios estão baseadas nas evidências das DRIs. A faixa de distribuição aceitável de macronutrientes para crianças e adolescentes é: Quadro 20 - Distribuição de macronutrientes na dieta expressa em porcentagem do Valor Energético Total Macronutriente Faixa etária Lactentes (meses) Crianças (anos) Meninos (anos) Meninas (anos) 0 – 6 (g) 7 – 12 (g) 1 – 3 (%) 4 – 8 (%) 9 – 13 (%) 14 – 18 (%) 9 – 13 (%) 14 – 18 (%) Proteína 9,1 13,5 5 - 20 10 - 30 10 - 30 10 - 30 10 - 30 10 - 30 Carboidrato 60 95 45 - 65 45 - 65 45 - 65 45 - 65 45 - 65 45 - 65 Lipídeos 31 30 30 - 40 25 - 35 25 - 35 25 - 35 25 - 35 25 - 35 Fonte: adaptado de IOM, 2005. Para o cálculo das necessidades hídricas deve-se utilizar as seguintes estimativas: Quadro 21 – Estimativa das necessidades hídricas Holliday e Segar (1957) Peso corporal Necessidade hídrica Até 10 Kg 100 mL/Kg/dia De 11 a 20 Kg 1.000 mL + 50 mL para cada Kg acima de 10 Kg Acima de 20 Kg 1500 mL + 20 mL para cada kg acima de 20 Kg Fonte: Waitzberg; Dias; Isosaki, 2014. Completar a oferta de acordo com as necessidades hídricas de cada paciente, tendo em vista que a quantidade de água ofertada na dieta varia com sua densidade calórica. 3.5.2. Necessidades nutricionais para adultos Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 17/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO O quadro 22 demonstra as recomendações de energia e proteína para pacientes hospitalizados com COVID-19, de acordo com as recomendações da BRASPEN, ASPEN e ESPEN. Quadro 22 - Recomendações de energia e proteína para pacientes hospitalizados com COVID-19 Pacientes estáveis Fase aguda Energia 25 a 30 Kcal/kg/dia Iniciar com: 15 a 20 kcal/kg/dia e progredir para 25 kcal/kg/dia após o 4º dia Proteínas 1,2 a 2,0 g/kg/dia Iniciar com: <0,8 g/kg/dia nos 1º e 2º dias; 0,8-1,2 g/kg/dia no 3º ao 5º dia; 1,2 g/kg/dia após o 5º dia; 1,5 e 2,0 g/kg/dia de proteína, mesmo em caso de disfunção renal. Fonte: Ferretti et al, 2020. O aumento da oferta proteica demonstrou melhor prognóstico, especialmente nos pacientes instáveis. A nutrição isocalórica é preferível em relação à hipocalórica, e deve ser implementada progressivamente após a fase aguda da doença. Considerando a importância da preservação da função e da massa muscular esquelética, e as condições altamente catabólicas relacionadas aos pacientes em UTIs, estratégias adicionais podem ser adotadas a fim de melhorar o anabolismo no músculo esquelético (Ferretti et al, 2020). No que concerne à proporção de lipídeos e carboidratos, deverá ser considerada a proporção de energia proveniente de lipídeos e carboidratos entre 30:70 (indivíduos sem deficiência respiratória) a 50:50 (pacientes em ventilação) (Ferretti et al, 2020). Quanto as necessidades hídricas para pacientes adultos, é recomendada a ingestão de 30 a 40mL/kg para pacientes em estado de hidratação normal (função renal e cardíaca normal) ou 1,0 a 1,5mL/kcal (SBNPE, 2011; ASBRAN, 2011). Nos casos em que os pacientes apresentarem insuficiência renal aguda a hidratação deve ser individualizada através da aplicação da fórmula de Riella; Martins, 2013: hidratação = diurese de 24h = 500mL. 3.6. Tipo de dieta 3.6.1. Escolha do tipo de dieta em pediatria A partir da determinação das recomendações de energia e proteínas, determina-se a fórmula enteral, considerando a densidade energética e a concentração proteica e Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 18/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO consequentemente estabelecendo-se o volume diário. É necessário também determinar o método de administração, descritos no quadro 23. Lactentes de 0 a 6 meses o 1ª opção: Fórmula infantil de partida. o Dieta enteral polimérica hipercalórica para lactentes: situações de restrição hídrica, intolerância a volumes maiores ou necessidades calóricas aumentadas. o Fórmula semielementar (extensamente hidrolisada): síndromes de má absorção; outras situações com comprometimento funcional do trato gastrointestinal; jejum prolongado (7 dias); Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV). o Fórmula elementar (aminoácidos): APLV. Lactentes de 6 a 12 meses o 1ª opção: Dieta enteral polimérica hipercalórica. o Fórmula láctea de seguimento: nos casos de intolerância à dieta enteral polimérica hipercalórica, ou em situações de complementação de alimentação sólida via oral. o Fórmula semielementar (extensamente hidrolisada): síndromes de má absorção; outras situações com comprometimento funcional do TGI; jejum prolongado (7 dias); alergia à proteína heteróloga. o Fórmula elementar (aminoácidos): alergia à proteína heteróloga. Crianças e adolescentes de 1 a 15 anos de idade o 1ª opção: Dieta enteral polimérica normocalórica sem fibras. o Dieta enteral normocalórica sem fibras concentrada. Indicações: necessidade de restrição hídrica; necessidade de oferta calórica elevada. o Dieta oligomérica. Indicações: síndromes de má absorção; outras situações com comprometimento funcional do TGI; jejum prolongado (≥7 dias). o Observação: para crianças de 10 anos ou mais de idade, geralmente podem ser usadas fórmulas específicas para adultos (FLEET; DUGGAN, 2020). Quadro 23 - Métodos de administração da nutrição enteral em pediatria Sistema de infusão Administração Requisitos Aberto IntermitenteEm bolos (seringa) - Estado clínico: estável - Idade: a partir dos 30 dias de vida - Função gástrica: preservada 2/2 h 3/3 h Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 19/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO 4/4 h - Posição da sonda: gástrica - Validade: 12 horas sob refrigeração 6/6 h Na enfermaria: forma mais utilizada para não restringir a mobilização do paciente e permitir o planejamento da alta hospitalar Gravitacional (em 30 a 60 minutos por gotejamento) - Volume: a partir de 50mL, envasados em frascos Bomba de infusão (de 1 a 2 horas) - Intolerância aos métodos intermitentes anteriores 3.6.2. Escolha do tipo de dieta para adultos A primeira opção deve ser a fórmula polimérica, isosmótica, com alto teor de proteína (>20% de proteína), esta deve ser usada precocemente na fase aguda. À medida que o estado crítico do paciente melhora e os vasopressores diminuírem, a adição de fibra pode ser considerada. Não devem ser utilizadas fórmulas enterais com ômega 3, óleos de borragem e antioxidantes em pacientes com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo - SDRA (FERRETI et al, 2020). Em caso de pacientes com disfunção respiratória aguda e/ou renal, está indicado utilizar fórmulas enterais com alta densidade calórica (1,5-2,0 kcal/ml), a fim de restringir a administração de fluidos. Não está indicada a utilização de fórmulas com alto teor lipídico/baixo teor de carboidrato para manipular coeficiente respiratório e reduzir produção de CO2 em pacientes críticos com disfunção pulmonar. Também é recomendado evitar a utilização de módulos, a fim de diminuir a manipulação com o paciente e exposição da equipe de enfermagem (FERRETI et al, 2020; BRASPEN, 2020). 3.7. Posição prona e Terapia Nutricional A recomendação da posição prona em pacientes com COVID-19 tem sido muito utilizada. As complicações gastrointestinais ou pulmonares podem surgir, mas em posição prona isso é menos provável. Além disso, essa posição não representa limitação ou contraindicação para a TNE, entretanto, alguns cuidados devem ser tomados, como pausar a dieta antes de movimentar o paciente para posição prona. Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 20/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO Está indicada a fórmula hipercalórica, hiperproteica, sem fibras, em volume trófico (até 20ml/h) em infusão contínua, durante todo o período de prona ou durante os primeiros 6 dias. A infusão da dieta deverá ser iniciada após a primeira hora e manter até 1 hora antes do retorno à posição supina (FERRETI et al, 2020). 3.8. Posição prona e cuidados de enfermagem na administração de dieta enteral o Conferir na prescrição médica: data, horário, tipo e volume da dieta a ser oferecida. o Conferir na prescrição médica: data, horário, tipo e volume da dieta a ser oferecida. o Conferir dados de identificação da dieta com os dados do paciente. o Verificar dieta quanto ao volume e aspecto. o Verificar posicionamento da sonda – auscultar ruído com estetoscópio em região epigástrica, durante injeção de 20ml de ar em adultos e 5ml de ar em crianças; aspirar o conteúdo gástrico até observar presença de secreção na sonda. o Programar a bomba de infusão, conectar o equipo à sonda e iniciar a administração; o Iniciar a dieta após a primeira hora de mudança de decúbito para a posição prona e manter até 1 hora antes do retorno à posição supina. De acordo com Oliveira, Piekala, Deponti et. al (2015), o paciente pode ser mantido de 16-20 horas em posição prona, com média de 17h, sempre avaliando suas condições clínicas. o Manter cabeceira elevada em 25-30º (Trendelemburg Reverso). o Observar sinais de desconforto do paciente durante o procedimento. o Checar na prescrição médica o horário de instalação da dieta. Observação: o Se o paciente já estiver em uso de TN e for necessário realizar a mudança de decúbito para a posição prona, sugere-se pausar a dieta enteral, abrir a sonda em sifonagem 2h antes da manobra e reiniciar a NE 1 h após. o Sugere-se uso de procinético fixo (ondansetrona) o A dieta deve ser suspensa em casos de hipoxemia descompensada, hipercapnia ou acidose grave. 3.9 Recomendações fonoaudiológicas Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 21/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO O Conselho Regional de Fonoaudiologia da 4ª Região, considerando o rápido avanço da COVID-19, sua ampla transmissão comunitária e a recomendação para o isolamento social, divulgadas pelos veículos oficiais de saúde, orienta que nos casos suspeitos ou confirmados, seja analisado a pertinência da avaliação fonoaudiológica, privilegiando medidas preventivas de cuidado e de menor risco, não sendo recomendado o acompanhamento de pacientes intubados sob nenhuma hipótese, devendo portando, aguardar a extubação. Nos casos de pacientes traqueostomizados, não realizar qualquer procedimento que possa gerar aerossóis. 3.10. Administração de medicamentos por sonda enteral Em pacientes intubados, além da dieta, alguns medicamentos que não podem ser administrados por via parenteral, são administrados pela sonda da nutrição enteral, logo, é necessário atentar para a interação entre fármacos e alimentos. Dentre os medicamentos utilizados no tratamento da COVID-19 tem-se a Azitromicina, que na padronização dessa instituição está comtemplada na forma farmacêutica “pó para suspensão oral”. Então recomenda-se pausar a dieta por 1 hora antes da administração e depois de 1 ou 2 horas retomar, na tentativa de evitar interação fármaco-alimento, como no caso da quelação, que ocorre entre os sais presentes na nutrição enteral com os macrólidos, formando um complexo insolúvel que impede a absorção do mesmo. 4. REFERÊNCIAS ASPEN. American Society for Parenteral and Enteral Nutrition. 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Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 24/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL (SBNEP); Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica; Sociedade Brasileira de Clínica Médica; Associação Brasileira de Nutrologia. Recomendações Nutricionais para Crianças em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral. 2011. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Avaliação nutricional da criança e do adolescente – Manual de Orientação. Departamento de Nutrologia. – São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 2009. 112 p. TINNING, K.; ACWORTH, J. Make your Best Guess: An updated method for paediatric weight estimation in emergencies. Emergency Medicine Australasia, v.19, n.6, p. 528–534, 2007. WAITZBERG, D. L.; DIAS, M. 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HISTÓRICO DE REVISÃO VERSÃO DATA DESCRIÇÃO DA ALTERAÇÃO 1 12/05/2020 Novo Elaboração Renata Layne Paixão Vieira Nataly Cézar de Lima Lins Thaise de Abreu Brasileiro Sarmento Itavielly Layany França Feitosa Maria Aparecida de Freitas Silveira Ana Flávia Dias Pereira Amorim Data: 12/05/2020 Análise Francisca Sanches Tavares Ribeiro – Setor de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente Data: 14/05/2020 Conforme Processo SEI nº 23771.002950/2020-03 Aprovação Eliane De Sousa Leite - Chefe do Setor de Apoio Diagnóstico e Terapêutico Data: 21/05/2020 Conforme Processo SEI nº 23771.002950/2020-03 Tipo do Documento MANUAL MA.UNC.002 – Página 25/25 Título do Documento TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL PARA PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS COM COVID-19 Emissão: 21/05/2020 Próxima revisão: 21/05/2022 Versão: 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO BANDEIRA DE MELLO ANEXO 1 - Classificação do estado nutricional através de escore-z e percentis
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