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3 1.INTODUÇÃO CONTRATO DE EMPRÉSTIMO “contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial.” Maria Helena Diniz Com o avanço civilizatório cada vez mais o ser humano se vê dependente da sociabilidade, e, assim, cada vez mais se contrata, pois o homem é por natureza um ser social, que depende dos uns dos outros para garantir sobrevivência. Dentre a diversidade de institutos contratuais passaremos ao estudo do empréstimo, nas modalidades de mútuo e de comodato. O empréstimo é o instituto contratual pelo qual uma pessoa entrega a outra, uma coisa, para que dela desfrute, com a obrigação de restituir. O contrato somente se perfaz com a tradição, é contrato de natureza real. Antes dela só haverá uma promessa de empréstimo. O negócio jurídico do qual tratamos, empréstimo, é exemplo inequívoco de contrato unilateral, abarcando duas espécies: i) Comodato (empréstimo de uso); e ii) Mútuo (empréstimo de consumo). Leciona CARVALHO DE MENDONÇA: “O vocábulo vulgar empréstimo não tem em direito a mesma significação técnica. No primeiro sentido, ele exprime a entrega de um objeto a alguém, que assume a obrigação implícita de restituir, em um prazo mais ou menos determinado. Não se trata, porém, de distinguir a natureza do objeto, nem a forma da restituição. Assim, tanto se diz: emprestar um cavalo, ou emprestar dinheiro, como emprestar um prédio. O direito, ao contrário, partindo da forma por que deve ser feita a restituição, considera o empréstimo sob dois pontos de vista e o ramifica em dois institutos que são, na verdade, inconfundíveis: o mútuo e o comodato”. Nesta conjuntura, sem sempre se almeja a benevolência em tais contratos, e sim, um escopo especulativo objetivando geração de riqueza. Sobremaneira evidente no contrato de mútuo. É o caso do contrato de mútuo com incidência de juros (feneráticio), ou seja, modelo 4 contrato de empréstimo de coisa fungível, objetivando lucro através de juros. Exemplo: Maria firma um empréstimo através de contrato de mútuo feneráticio com Jonas, com juros de 10% ao ano, ou seja, abaixo do limitado por lei, 12%. Em diversos casos, o contrato de empréstimo representa manifestação de solidariedade, especialmente quando gratuito. No mundo dos negócios, destacam os empréstimos onerosos, disponibilizados pelas instituições financeiras bancos e que fomentam o desenvolvimento e o progresso. O empréstimo, em qualquer de suas modalidades, pertence à categoria dos contratos que têm por objeto a entrega de uma coisa. O recebedor é obrigado a restituí-la. Destaque-se que somente se perfaz com a tradição, portanto é contrato de natureza real. Sem a entrega da coisa só haverá uma promessa de empréstimo. Iniciemos a analise dos institutos de empréstimos contratuais: o comodato (prestito ad uso) (arts. 579 a 585 do CC/2002) e o mútuo (prestito di consumazione) (arts. 586 a 592 do CC/2002). Sendo o primeiro unicamente para uso, tem-se a posse da coisa, já o segundo para o consumo, o contraente possui a propriedade da coisa. Quando da restituição, no comodato se aperfeiçoa com a devolução da coisa, que foi cedida sem onerosidade, e, no mútuo se perfaz a devolução de coisa equivalente ao emprestado, de modo geral possui caráter oneroso. Embora possa ser gratuito, hodiernamente de forma raríssima, possa se vê, empréstimos de coisas fungíveis, especialmente dinheiro, sem a devida remuneração, pagamento de juros. A diferenciação entre as modalidades apresenta efeitos jurídicos práticos, assim enquanto o comodante continua proprietário da res e por isto responde pelos riscos, o mutuante perde o domínio ao emprestar a res, ficando os riscos por conta do mutuário – res perit domino (a coisa perece por conta do dono). 2.COMODATO 2.1.Historicidade Leciona Fritz Schulz, que em Roma, o commodatum surgiu tardiamente na jurisprudência republicana, pois anteriormente compreendia-se que a prática não deveria ser objeto do Jus Positum, uma vez que se realizava no âmbito das amizades e parentesco. O comodante dispunha da actio commodati directa para exercitar os seus direitos e o comodatário, da actio commodati contraria. Por esta, pleiteava-se o reembolso de despesas efetuadas com a conservação da coisa, cabendo ao comodatário o jus retentionis. 5 2.2.Conceito O art. 579 do Código Civil dispõe, “comodato e o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto”. Enfim é um contrato benéfico, não oneroso, pelo qual se entregue uma coisa infungível para uso, e posteriormente seja devolvida em espécie, isto é, em sua individualidade, razão pela qual não pode ser consumida. Leciona Pablo Stolze: “comodato é um negócio jurídico unilateral e gratuito, por meio do qual uma das partes (comodante) transfere à outra (comodatário) a posse de um determinado bem, móvel ou imóvel, com a obrigação de o restituir.” Enquanto, Paulo Nader assim o define: “Comodato é contrato gratuito que se perfaz com a entrega de coisa móvel ou imóvel ao comodatário, para posse, uso e devolução, por tempo determinado ou não”. Ante o apresentado, o comodato é espécie de contrato, sendo unilateral, benéfico e gratuito. Pode o contrato ter como objeto bens móveis ou imóveis, porque são infungíveis (insubstituíveis). As partes que compõe o negocio jurídico em questão, comodato, quem empresta a res (coisa) é intitulado comodante, no outro polo que a recebe é o comodatário. O contrato de comodato é intuiti personae (personalíssimo), fundado na fidúcia, confiança do comodante em relação ao comodatário. Não há exigibilidade formal escrita, portando contrato informal e não solene. Sendo em regra geral, contratos que possuem como objeto bens infungíveis e não consumíveis. Conduto, há possibilidade de ter tal contrato em seu objeto, bem fungíveis para utilização de enfeite ou ornamentação, denominados de comodato ad pompam vel ostentationem. Exemplificando, presente está quando realiza-se comodato, se empresta, um arranjo floral diferenciado ou garrafas de vinhos para ornar uma adega ou exibir em uma exposição, situações que por acordo das partes tem aptidão de transformar coisa fungível por natureza em infungível, pois a devolução da mesma coisa emprestada aperfeiçoará o comodato. Claro esta, conforme exposto anteriormente no art. 579 do CC/2002, que o comodato tem natureza de contrato real, pois se perfaz com a tradição, entrega da coisa. Não existe qualquer exigibilidade formal para a avença, podendo ser verbal. Neste sentido, julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul do ano de 2016, apontou “o comodato caracteriza- se como empréstimo gratuito de coisa móvel ou imóvel infungível. É o contrato pelo qual 6 durante um tempo determinado uma pessoa empresta algo para ser utilizado por outro e depois devolvido. Não se exige a titularidade do bem, basta que as partes sejam capazes, como regra geral, e que o comodante tenha a posse. É contrato não solene, não exigindo formalidade, conforme art. 579 do Código Civil, de forma que pode haver comodato verbal” (TJRS, Acórdão 0173360-10.2016.8.21.700, Lajeado, 17.ª Câmara Cível, Rel.ª Des.ª Liege Puricelli Pires, j. 25.08.2016, DJERS 06.09.2016). 2.3.Características O contrato de comodato é uma forma contratual típica e nominada, que possui as seguintes características: Contrualidade, sendo contrato pode originar-se de acordo de vontades, contudo: i) Unilateral, entretanto envolver volitivitade de ambas as partes, impõe a uma das partes a posição de devedor, estando a outra no polo credor, apenas uma parte se obriga perante a outra. De modo que o comodatário assume obrigações, contudo excepcionalmente possao comodante contraí-las, passando portanto, a ser bilateral. ii) Gratuito, sendo cessão sem contraprestação , onde um dos contraentes sofre o ônus, propiciando a outra parte uma vantagem. É formado por um favor prestado pelo comodante ao comodatário, mesmo que eventualmente este assuma a obrigação de pagar taxa ou imposto que recaia sobre a coisa dada em empréstimo de comodato. Assim se o empréstimo for de um automóvel, cabe ao comodatário pagar o IPVA, manutenção, seguro etc, de modo que não desvirtua o comodato, sendo a onerosidade inferior a contraprestação e é imposta como encargo por ser um comodato modal. iii) Intuiti personae, se baseia na confiança do comodante para com o comodatário. Assim não pode o comodatário ceder o objeto a terceiro. iv) Real, o contrado de comodato apenas se perfaz com a traditio, isto é com a entrega da coisa, do comodante ao comodatário, tendo este a posse (uso) e não a propriedade. Não há de se falar em usucapião. Infungibilidade e inconsumibilidade do bem (móvel ou imóvel), poderá ser um bem fungível e consumível, hipótese que ter-se-á o commodatum pompae vel ostentationis causa. 7 Temporariedade, o uso da coisa dada em comodato deverá ser temporário, determinado ou indeterminado, caso que o tempo é presumido do fim ao qual se destina. Assim, o empréstimo em comodato de um caminhão para realizar mudança, a devolução da coisa fica condicionada ao termino da tarefa. Durante este tempo o comodante não poderá exigir a coisa, salvo por determinação judicial, por advento de causa imprevista e urgente. Cito, em virtude de um desmoronamento, necessita do caminhão para retirar entulho que ameaça sua residência. Enfim, como não se trata de doação ou compra e venda o comodato não pode ser perpétuo. Restituição obrigatória da coisa, após o uso deve o comodatário restituir o objeto em sua completude, pois o comodatário é quem detém sua propriedade. Portanto caberá ao comodante interpor ação judicial de reintegração de posse, se o comodatário praticar esbulho (retirada forçada do bem de seu legítimo possuidor ou proprietário). 2.4.Requisitos Subjetivo. Requer a capacidade genérica conforme se exige para praticar atos da vida civil, contudo estabelece a certas pessoas para proteção dos proprietários, incapacidades especiais para outorga do comodato conforme se observa no art. 580 do Código Civil – “Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua guarda.” Denota-se a proteção ao proprietário do bem, para que o administrador não obtenha vantagens sobre o que não lhe pertence, pois foge a sua função de administrator e não aufere nenhum beneficio ao administrado. A exceção para realização do comodato se dará através de autorização especial do proprietário, e, sendo o mesmo incapaz ouvido o ministério publico, por decisão do juiz. Objetivo. Apenas podem ser emprestados através de comodato, bens infungíveis e inconsumíveis, imóveis ou móveis, que desfrutarão o comodatário, como se encontram, não havendo por parte do comodante o dever de repará-los. Pode se constituir no direito de usar determinado local (commodatum loci), como casa de praia em um fim de semana ou vaga de estacionamento, sem onerosidade, isto é de forma gratuita. Formal. Não se exige forma solene, sua forma é livre, de manifestação de vontade para o aperfeiçoamento da relação contratual, tratando-se de um contrato consensual. Por questão de segurança jurídica, porque pode se aperfeiçoar até oralmente, se faz recomendável ser por escrito, pois no entendimento jurisprudencial o comodato se presume; coexistindo dúvidas entre a locação e o comodato, será compreendido como se realizado contrato locativo. 8 2.5.Obrigações do comodatário Conservar e guardar a coisa emprestada como se fosse sua, conforme se infere no art. 582, 1ª parte, Código Civil. Evitando assim ser penalizado por perdas e danos, conforme a responsabilidade civil. Não podendo emprestar o que não lhe pertence, e se alienar o objeto do comodato caberá sua responsabilização por crime de estelionato, disposto no art. 171, § 2°, Código Penal. As despesas originárias correrão por conta do comodatário, como: água, luz, conserto de fechadura, ITPU etc. Não poderão ser recobradas ao comodante, pois feitas no seu uso e gozo. Contudo caberá ao comodatário as despesas extraordinárias, em caso de urgência e, não comunicadas ao comodante para autorização, podendo reter a coisa emprestada até que os gastos lhes sejam pagos, em se tratando de benfeitorias, pois o mesmo é detentor de boa-fé. Entretanto as benfeitorias realizadas em virtude da natureza do comodato, não possibilitarão ser indenizados. Os gastos extraordinários deverão ser previamente solicitados e pelo comodante serem autorizados. Fazendo benfeitorias, o comodatário, no bem objeto do comodato, com o tácito consentimento ou à vista do comodante, deverá ser ressarcido. Cito, executando reparos na casa emprestada, e tendo ciência o comodante sem se manifestar, ao comodatário caberá direito à retenção da coisa, salvo se convenção contraria. Limitar o uso da coisa. Conforme o convencionado no contrato ou de acordo com a natureza em atenção ao art. 582 do Código Civil, sob pena de responsabilização por perdas e danos. Vejamos: tendo emprestado veículo para realizar viajem a cidade de Arapiraca, não se pode ir a cidade do Recife; se objeto do comodato é destinado para uso próprio não se pode destina-lo a terceiro. Existindo dano ou perda da coisa objeto do comodato por seu uso indevido, o comodatário responde por perdas e danos, por suposto lhe cabendo ação regressiva contra terceiro que deu-lhe causa. Devolução da coisa emprestada “in natura”. No momento acordado restituir a coisa, em não havendo prazo determinado, terminado o uso pela natureza da circunstancia. Exemplificando, se empresta um veículo de carga para efetuar uma mudança, devolve-lo ao termino da operação. Caberá ação de reintegração de posse se o comodatário não devolver no tempo devido o que não é de sua propriedade, pois estará cometendo esbulho. Frise-se que o 9 comodante apenas poderá solicitar a coisa antes do prazo estipulado se provar, motivado por caso de emergência e imprevisão em relação ao ato do contrato, e assim o juiz assim entender, conforme pode se aferir no disposto no Código Civil em seu art. 581. Responsabilidade pela mora. Responde por suportar os riscos, assumindo os resultados de deterioração e perda da res emprestada (art. 389, CC), e efetuar o aluguel (art. 399, CC) convencionado em base do valor de mercado estipulado no contrato, pelo tempo do atraso em restituir, ou, correspondente a perdas e danos conforme se infere da jurisprudência, calculados desde a interposição da ação de execução ou do arbitramento, inclusive as despesas com custas processuais e honorários advocatícios. O aluguel é um meio de reparar os prejuízos do comodante motivados pela mora do comodatário. Alertando que o contrato não se transforma de comodato para locação. Ainda se o aluguel arbitrado pelo comodante gerar enriquecimento indevido, não obstara a redução contudo o contrato de comodato ser gratuito. constituída a mora do comodatário, ante notificação, em caso de recusa na devolução da coisa ter-se-á esbulho no caso de imóvel, sendo permitido o uso da ação de reintegração de posse. Responsabilidade pelos riscos. Em caso de deterioração ou perda da coisa, conforme reza o art. 582 do Código Civil. Assim, mesmo em virtude de força maior ou caso fortuito tem o dever o comodatário, podendo agir, de salvaguardar primeiramente, evitando ou amenizando o dano ao que lhe foi emprestado em relação a seus próprios bens. Se fizer o contrário, restará indenizar o prejuízo. Evidente que como no comodato a coisa pertence ao dono e nãoao possuidor/comodatário, o ônus ante o risco da coisa se perder em caso de caso fortuito ou força maior este arcará com os prejuízos. Responsabilizar-se solidariamente, havendo mais comodatários. Possuidor de caráter benéfico o contrato de comodato e ao que se infere do art. 585 do Código Civil, a responsabilidade dos comodatários é solidaria ante o comodante. Constituindo-se uma maior segurança para efetivação da devolução da coisa, pois em caso de descumprimento do contrato, terá direito o comodante a acionar qualquer dos comodatários para assegurar o seu direito de propriedade, não importando qual dos comodatários descumpriu, restando aos demais, ação regressiva a quem deu causa ao prejuízo. 2.6.Obrigações do comodante A rigor o comodante não possui obrigações, pois se tratando de contrato que apenas se perfaz com a tradição, entrega da coisa, é contrato unilateral. Realizada esta, resiste 10 obrigações apenas ao comodatário. Contudo eventualmente possam surgir obrigações ao comodatário, decorrente das leis e fatos, como: Vedação a restituição do bem. Não cabe solicitar o bem emprestado antes do convencionado, estipulado ou do necessário para o uso do comodatário, salvo nos casos das circunstâncias do art. 581 do Código Civil e/ou se o contrato for de prazo não fixado, poderá o comodante solicitar a qualquer tempo sem carência de justificativas, bastando cientificar o usuário. Despesas extraordinárias e necessárias. Nos casos de conservação da coisa, em caso de urgência, em que não se pode dar ciência ao comodante para respectiva autorização; como da mesma forma gastos não relacionados com a fruição do bem emprestado em comodato, cito, realização de pagamento da multa por construção irregular do imóvel emprestado. Responsabilização da posse útil e pacifica da coisa. O comodante ante ao comodatário, se procedeu dolosamente, responderá. Conduto, não se responsabilizará pela evicção ou vícios redibitórios, que pressupõem contratos cumulativos ou onerosos, sendo o comodato contrato gratuito e unilateral. Fundamentado nos arts. 441 e 447 do Código Civil. 2.7.Extinção do comodato Tratamento da extinção do contrato válido de comodato. Pois, se for caso de alguma nulidade absoluta ou relativa, o estudo de sua desconstituição é realizado na teoria geral, quando da análise da invalidade do negócio jurídico. Exaurimento do seu prazo de vigência, e, caso seja pactuado por prazo indeterminado, será considerado cumprido quando esgotada a finalidade de sua utilização. Dissolvido por resolução, resilição ou distrato. A resolução por inexecução contratual, não obsta que o comodante rescinda o contrato previamente ao termo do prazo, reivindicando perdas e danos, quando o comodatário utiliza o bem em sua posse de forma diversa ao empréstimo. A resilição unilateral, devido o contrato ser gratuito, poderá ser resolvido provado superveniência de necessidade urgente e não prevista à época da contratação, sentenciado pelo juiz competente. Pode também o comodatário, a qualquer tempo, resilir o negócio jurídico que não seja mais do seu interesse, pois não estará obrigado a conservar situação que já não mais o interessa. Distrato, este se efetivará se os contraentes antes do convencionado prazo de extinção, acordarem mutuamente. 11 Morte das partes. Suportará ser considerado dissolvido o contrato, no caso de falecimento do comodatário, se for considerado intuitu personae, pois há casos em que o comodante cede o uso da coisa em atenção, não especificamente à pessoa do comodatário, mas em favor do interesse deste. Esclarecendo, pode o comodante ter emprestado uma casa para um casal morar, tendo o negócio realizado como o esposo. O comodatário morre e o contrato poderá ser mantido com a viúva. Carlos Roberto Gonçalves, em referência ao exemplo acima citado, leciona: “Se, no entanto, o empréstimo do trator ao vizinho, por exemplo, foi feito para uso na colheita, a sua morte prematura não obriga os herdeiros a efetuarem a devolução antes do término da aludida tarefa”. Finalizando, cabe salientar que a morte do comodante não induz a extinção do contrato, uma vez que os seus herdeiros deverão respeitar o seu prazo de vigência. Alienação da coisa emprestada. Extingue-se o contrato de comodato, salvo se o novo proprietário assumir a obrigação de manter o comodato. Oportuno salientar que se dará por encerrado, o contrato se o seu objeto sofrer destruição total (perecimento), como na hipótese de um acidente natural (enchente, terremoto etc.) destruir a casa, cedida para uso do comodatário. Sendo destruição, todavia, apenas parcial, nada impede que o comodato subsista, a depender do interesse das partes. Entretanto, se o comodatário contribuiu com culpa ou incorreu em alguma das situações de responsabilidade vistas acima (arts. 582 e 583), a obrigação converte-se em perdas e danos. 3.MÚTUO 3.1.Historicidade Contrato de mútuo é importante propulsor da economia mundial, por ser um importante instrumento de realização da atividade financeira. Antigamente nas sociedades, o mútuo se realizava na manifestação de caridade, pois se condenava a fixação de juros. Entretanto no Direito Romano, predominou a liberdade na estipulação dos juros, posteriormente combatida no Direito Canônico e admitida hodiernamente. 12 3.2.Conceito Para Pablo Stolze e Gagliano: “O mútuo consiste em um “empréstimo de consumo”, ou seja, trata-se de um negócio jurídico unilateral, por meio do qual o mutuante transfere a propriedade de um objeto móvel fungível ao mutuário, que se obriga à devolução, em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”. Conceitua o civilista Carlos Roberto Gonçalves: “O mútuo é o “empréstimo de coisas fungíveis”, pelo qual o mutuário obriga-se “a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade” (CC, art. 586). Por ele, o mutuante “transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário”. Por conta deste, que se torna proprietário, “correm todos os riscos dela desde a tradição” (art. 587)”. Paulo Nader, o define deste modo: “O contrato de mútuo consiste no empréstimo de coisa fungível, por tempo determinado ou determinável, findo o qual deve ocorrer a restituição, mediante coisa de igual gênero, quantidade e qualidade”. Conceitualmente, o mútuo o mútuo consiste em um “empréstimo de consumo”, ou seja, trata-se de um negócio jurídico unilateral, por meio do qual o mutuante transfere a propriedade de um objeto móvel fungível ao mutuário, que se obriga à devolução, em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Conforme se infere do art. 586, Código Civil: - “O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”. Observe-se que, posto o dinheiro seja bem fungível por excelência, o mútuo pode ter por objeto outros bens, passíveis de consumibilidade. Assim, tanto haverá o mútuo quando se toma dinheiro emprestado em um banco, como também quando vamos ao vizinho e pedimos “emprestado” uma porção de açúcar, obrigando- nos a devolver outra porção, do mesmo gênero, no dia seguinte. É importante, pois, o entendimento que: enquanto comodato tem por objeto coisas infungíveis (empréstimo de uso); o mútuo tem por objeto coisas fungíveis (empréstimo de consumo), sendo que, neste caso, há de se observar que a transferência da propriedade não é a finalidade do contrato desejada pelas partes, como no contrato de compra e venda, mas a consequência normal da fungibilidade do bem emprestado, que, na maioria das vezes, impede a restituição do mesmo bem emprestado. 13 3.3.Características Contratualidade. Requer a manifestação de duas vontades. Trata-se de contrato real, perfaz-se com a tradição; gratuito, o mutante nada recebe do mutuário em trocado favor que lhe faz, podendo ser oneroso, havendo alguma contraprestação por parte do mutuário. Cito, pagamentos de juros nos empréstimos de dinheiro ou de outras coisas fungíveis; unilateral, vez que o bem emprestado ao mutuário, recairá apenas sobre ele, em regra, obrigações. Temporariedade. Pois geralmente é realizado durante prazo determinado, pois se fosse indeterminado ter-se-ia uma doação ou compra e venda. O art. 592, CC, contem regras quando da indeterminação da estipulação de prazos. Cito, de prazo até a colheita, se o emprestado for produtos agrícolas, para consumo ou para semeadura; prazo mínimo de 30 dias, se for relacionado a dinheiro; do espaço de tempo declarado pelo mutante, sendo qualquer coisa fungível, vedado o que for para semeadura ou consumo agrícola, ou de dinheiro. O mutante fixará prazo para devolução do bem pelo mutuário, contudo nada obsta, se pelas circunstâncias fáticas o magistrado conceder maior prazo ao mutuário. Fungibilidade da coisa emprestada. Mesmo que possa recair sobre coisa inconsumível pelo uso que, por destinação ou convenção, se torne fungível, por exemplo, empréstimo em uma biblioteca de um exemplar de uma coleção, com a obrigação de restituí- lo em igual número. Translatividade de domínio do bem emprestado. Sendo fungível, e , regra geral, consumível, ocorre a transferência da propriedade ao mutuário com a tradição da coisa. Assim o mutuário dispõe do bem como melhor lhe convir, pelo que acara com as consequências dos eventuais prejuízos que venha a sofrer, a coisa pertence ao dono, mesmo nos casos de força maior ou caso fortuito. Os riscos pertencem ao mutuário pois a propriedade é sua. Evidente destacar que os riscos provenientes anteriores a tradição serão suportados pelo mutante, já que a propriedade é sua. Obrigatoriedade da restituição de outra coisa da mesma espécie, qualidade e quantidade. Sendo restituída por coisa diversa ou dinheiro, ter-se-ia troca ou compra e venda. Não há de se cogitar em devolução in natura, ou seja, da própria coisa emprestada. Disposto no art. 590 do Código Civil, o mutante pode exigir garantias a restituição, se anteriormente ao prazo estipulado ao vencimento, sofrer o mutuário acentuada mudança na sua situação econômica que dificulte o cumprimento da obrigação. O mutuário não satisfazendo tal 14 exigência, ter-se-á o vencimento antecipado da dívida. No caso de morte do mutuário, é dever dos herdeiros recompor o patrimônio do mutante, restituindo a coisa mutuada, nas condições acordadas. 3.4.Requisitos Subjetivos. Para realizar o contrato de mútuo se faz necessária a capacidade comum tanto como a especial dos contraentes se for o caso. Como se pode aferir no Código Civil nos arts. 180, 588 e 589. Vejamos: “Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. (...) Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores. Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente: I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente; II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais; III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor; V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente”. Objetivos. Sendo empréstimo de consumo, o objeto envolvido é fungível, assim pode ser substituído por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade (art. 85, CC). Comumente o mútuo hodiernamente se realiza por empréstimo em dinheiro. Podendo se realizar através de mercadorias e títulos, contudo menos frequentes. No mútuo me dinheiro a resolução do contrato se dará restituindo a mesma soma contraída no empréstimo, mesmo havendo depreciação da moeda. O mútuo fenerático ou oneroso é permitido em nosso ordenamento jurídico, pois é essencialmente um contrato destinado a fins econômicos. Sendo a taxa de juros fixada pela que estiver em vigor no ato da realização do contrato, para a mora do pagamento devidos à Fazenda Nacional, não havendo estipulação entre as partes ou disposição legal diversa. Hoje o entendimento recai que a taxa seria a Selic ou a do art. 161 do CTN. Claro esta a permissão 15 para capitalização anual de juros. Sendo proibida a clausula que estabelecer período inferior para capitalização. As taxas de juros superiores as permitidas, caso requeridas ao juízo, este determinara seu ajuste, ou no caso de terem sido cumpridas, ordenar a restituição, em dobro, da quantia para em excesso, acrescidas de juros legais a contar da data do pagamento indevido. Estas regras não se aplicaram às instituições financeiras e demais autorizadas pelo Banco Central, bem como as operações no mercado financeiro, de capitais e de valores imobiliários regidos por legislação própria. Também as sociedades de crédito que fomentem o microempreendedor, as organizações da sociedade civil, digo, sociedades simples de interesse público de que trata a Lei 9.790/99, registradas no MJ, e não apresentam qualquer ligação com o Sistema Financeiro Nacional, por operarem com sistemas alternativos de crédito. Os juros constituem o proveito do capital emprestado, podendo ser compensatório, se representarem a renda ou o fruto do dinheiro mutuado, compensando o mutante pela indisponibilidade do dinheiro, ou seja, pelo uso que dele fez o mutuário, é moratórios, se forem pagos a título de indenização pela mora do devedor. Formal. A lei não requer modo especial para celebração do contrato de mútuo, possuirá forma livre, não sendo oneroso, caso em que terá de ser convencionado expressamente. A prova do contrato será realizada, por exemplo, com a emissão de nota promissória, confissão formal da dívida e o recibo da soma emprestada. Contudo os Tribunais têm entendido que o cheque não serve para comprovação de contrato de mútuo, pois representar apenas o meio de pagamento. 3.5.Efeitos jurídicos Celebrado o contrato de mútuo, este passará a produzir efeitos no mundo jurídico, como: Gerar obrigações ao mutuário e conferir direitos ao mutante. Obrigações do mutuário. Cabe ao contraente mutuário deveres, como: a) restituir o recebido em coisa de mesma espécie, qualidade e quantidade, no prazo estipulado, não sendo possível tal devolução, por causa que lhe é inimputável, poderá ser devolvida coisa devida pelo seu equivalente pecuniário. Se não convencionado não pode o mutuário compelir o mutante a receber pro parte. b) Sendo o contrato fenerático, obrigatoriedade de se para os juros. Direitos do mutante. Lhe é facultado direitos, como: a) exigir garantia real (ex. hipoteca) ou fidejussória (ex. fiança) da restituição, se o mutuário vier a sofre, anteriormente o 16 findo prazo, notória mudança no seu patrimônio ou em sua capacidade econômica, que dificulte o comprimento do contrato. Se não cumprida tal exigência, ter-se-á o vencimento antecipado da divida, descontando-se da importância os juros legais; b) reclamar a restituição de coisa equivalente, vencido o prazo estipulado. Se não houver estipulação de prazo contratual, a exigência da restituição poderá ocorrer a qualquer tempo, cabendo ao mutante notificar em prazo razoável o mutuário, excetuando os caos contidos no art. 592, I e II, CC; c) demandar a resolução do contrato de mútuo fenerático, caso o mutuário deixe de pagar os juros. Deveres do mutante. Existem certos deveres não decorrentes dos efeitos da obrigação contratual assumida no mútuo, pois são elementosindispensáveis a formação do contrato. Trata-se da obrigação de: a) entregar a coisa do objeto de mútuo; b) se abster de interferir no uso, ou se no consumo, da coisa durante a vigência do contrato, sendo impossibilitado de exigir a restituição antes do prazo estipulado, salvo casos em que autorizem a rescisão contratual; c) responsabilizar-se pelo vício oculto apresentado pela coisa depois da tradição e pelos danos que, culposamente, causar. 3.6.Extinção O modo de extinção normal de todo contrato é seu cumprimento. O contrato de mútuo pode estipular outras formas de extinção. Regra geral, o contrato de mútuo estabelece prazo para seu cumprimento e extinção. Não ocorrendo exceções, somente pode ser exigida a restituição, uma vez findo o prazo. As partes podem de comum acordo resilir o pacto, operando distrato. No silencio do contrato, aplica-se a regra do art. 133, CC, segundo a qual os prazos se presumem estabelecidos em proveito do devedor. De modo que, pode o devedor restituir a coisa antes do término do prazo. Para que tal direito possa ser afastado, há necessidade de regra expressa no contrato instituindo o prazo em favor do credor, exigindo, exemplificando, o pagamento de juros de todo o período contratual. Não havendo previsão contratual, o art. 592, CC, especifica situações de extinção do mútuo: “I – até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como para a semeadura; II – de trinta dias, pelo menos, até prova em contrário, se for de dinheiro; III – do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível.” 17 O descumprimento de cláusula contratual também pode dar motivo à extinção, como, por exemplo, o não pagamento de juros ou apresentação oportuna de garantias. O mútuo, ao contrário do comodato, não possui regra que permite ao mutuário pedir a restituição antes do prazo na hipótese de necessidade imprevista e urgente, tendo em vista a natureza fungível das coisas emprestadas. Não sendo fixado prazo para o mútuo, incumbe ao mutuante que efetive denúncia vazia ou imotivada do contrato, a fim de que exija a restituição. Havendo prazo e não exigindo o mutuante a devolução a seu final, o contrato passa a ter vigência por prazo indeterminado. Não se confunde essa vigência com a recondução ou renovação do contrato, que pode decorrer dos próprios termos do negócio. 4.CONCLUSÃO O desenvolvido no presente trabalho evidencia a importância dos contratos de empréstimo nas espécies mútuo e comodato suas similaridades e particularidades, e, como atualmente no mundo dos negócios jurídicos, precipuamente na modalidade mútuo, se mostra como instrumento propulsor do fomento a economia. Também, percebe-se que entender um contrato é compreender o que o documento quer dizer para os sujeitos de direito, isto é, a que ele se refere, o que ele protege, que seguranças traz consigo, entre outras questões. Assim, demostrado como se classificam e a que se destinam. Evidenciamos, por fim, que não foi exaurido o tema, o que se pretendeu apenas, foi que através desta obra seja possível introduzir conhecimento necessário para o melhor aprendizado do estudo do direito contratual de empréstimo.
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