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DIMENSÕES PSICOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA AULA 1 Prof. a Fabiana Maria Alexandre Prof.a Taís Glauce Fernandes de Lima Pastre 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, veremos as diferentes dimensões psicológicas e sua relação com o esporte e a atividade física, desde o contexto histórico da psicologia na educação física escolar até sua atuação no contexto esportivo. TEMA 1 – CONTEXTO HISTÓRICO DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO FÍSICA Como o curso de educação física trabalha com o corpo, a utilização da psicologia nesse contexto possibilita ao professor compreender que não se deve apenas considerar essa característica (Silva, 2016), devendo a matriz curricular levar em consideração o contexto escolar onde se irá trabalhar. Segundo Iaochite et al. (2004, p. 154), apenas adequar um curso de acordo com suas características não resolve o problema, sendo necessário compreender, analisar, criar, empreender e ser. O debate em torno da disciplina de psicologia no curso de educação física teve início em 1960 nos Estados Unidos e nos anos 1970 no Brasil (Iaochite et al., 2004). No entanto, Carvalho (2016) acredita que durante a Era Vargas, nos anos 1930, os desdobramentos políticos, econômicos e sociais iniciaram as primeiras tentativas da inserção da psicologia no contexto escolar. O foco do Estado nesse período era a saúde, higiene e educação, e foi quando surgiram as primeiras escolas de educação física no Brasil, permitindo a presença da psicologia. Assim, caminhavam lado a lado a medicina, o exército e a educação física, construindo novas e duradouras relações, e encontrando “um terreno propício para transmitir e construir uma nova prática voltada para a realidade da atividade física e esporte” (Carvalho, 2016, p. 77). Nesse período, o exército foi importante para o desenvolvimento do esporte, pois envolvia a noção de controle e disciplina. Assim, fundada em 1932, a Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), anteriormente chamada de Centro Militar de Educação Física (CMEF), localizada na Vila Militar na cidade do Rio de Janeiro, tinha como objetivo formar o homem ideal para a nação brasileira (Carvalho, 2016). A psicologia recebeu, “a convite” da educação física, a possibilidade de tentar intervir na relação entre mente e corpo, sendo os artigos científicos muitos eficazes nesse processo de fusão. Veja a seguir alguns periódicos brasileiros produzidos entre os anos 1930 e 1950, nos quais militares, médicos e educadores discorriam sobre o tema: 3 • Educação Physica Revista Technica de Esportes e Athletismo (1932- 1944): primeira revista de educação física do Brasil, publicada semestralmente pela Companhia Brasil Editora S/A, Rio de Janeiro. • Revista de Educação Física (1932 até hoje): criada pela Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx) para ajudar na construção da raça brasileira. Atualmente divulga atividades desportivas do exército. • Revista Brasileira de Educação Física (1944-1952): publicada mensalmente pela Empresa “A Noite”, Rio de Janeiro. • Revista Arquivos (1945-1972): fruto da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), criada em 1939 como a primeira escola de formação em nível superior ligada a uma universidade, a Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui caráter mais acadêmico e técnico em seus artigos. Entre 1930 e 1940, os estudos de eugenia e higienismo eram relacionados aos estudos da psicologia geral e experimental, baseando-se em autores como Willian James (1841-1910), que tratava das emoções; E. L. Thorndike (1874-1949); que descrevia a fadiga intelectual; e H. Bergson (1859- 1941), que estudava os sentimentos (Carvalho, 2016, p. 78). Entre 1930 e 1960, podemos citar alguns artigos nos quais a psicologia passou a ser solicitada: • “Psicologia e educação física” (1935), traduzido por Amélia de Oliveira. • “A educação física sob o ponto de vista psicológico” (1938), publicado pelo 1º tenente Airton Salgueiro de Freitas, instrutor de Educação Física e Desportos da EsEFEx e técnico da equipe brasileira de pentatlo moderno nos Jogos Olímpicos de Londres em 1948. • “Psicologia aplicada aos desportistas” (1946), por Inezil Penna Marinho, professor de Metodologia da ENEFD. • “Investigação psicológica no controle científico das atividades esportivas” (1955) e “Condições psicológicas para aplicação do ensino de qualidade à higiene, educação física e recreação” (1964), por Carlos Queiroz. • “A importância da investigação psicológica no controle científico das atividades desportivas” (1953), “Necessidade de orientação na prática de atividades desportivas” (1962) e “Contribuição da psicologia à orientação desportiva” (1964), por Cecília Torreão Stramandinoli. 4 Em 1935, foi publicado um artigo sem autoria na Revista EsEFEx, com o título de “Objetivos psicólogos na educação física”, o qual dizia que não existia na época uma relação entre a educação física e a educação intelectual. Assim, cabe à educação moderna relacionar os dois conceitos, corpo e espírito, pois a prática da educação física, segundo Carvalho (2016), é a única capaz de realizar um verdadeiro desenvolvimento físico e psíquico. Ela desenvolve o controle emocional, torna as pessoas moralmente equilibradas e é capaz de corrigir anormalidades psíquicas (idem, p. 81). TEMA 2 – CONTEXTO HISTÓRICO DA PSICOLOGIA NO ESPORTE O desenvolvimento do uso da psicologia no esporte, segundo Vieira et al. (2010), acompanha a utilização da psicologia geral no Brasil. Ou seja, é uma prática emergente, reconhecida e regulamentada pela resolução n. 02/01 (Carvalho, 2016). Para Vieira et al. (2010, p. 393), a Grécia Antiga é considerada o berço da psicologia esportiva, sendo que estudiosos como Aristóteles e Platão especulavam sobre a função perceptual e motora do movimento por meio dos conceitos de corpo e alma. Foi em função dessa associação que a prática esportiva, controle do corpo, atividade física, exercício e esporte passaram a ser objetos de estudo, e, a partir da Revolução Industrial, as primeiras práticas de exercícios começaram a ser observadas (Telles et al., 2016). Mundialmente falando, os primeiros estudos relacionados à psicologia e ao exercício físico ocorreram no final do século XIX e começo do século XX, como o de Norman Triplett em 1898, que verificou que o desempenho de ciclistas tendia a ser melhor quando pedalavam com outras pessoas. Segundo Oliveira (2018), a psicologia do esporte e do exercício físico foi desenvolvida com base em conhecimentos científicos da própria psicologia, das ciências dos esportes e de eventos esportivos como os Jogos Olímpicos. Além disso, para Telles et al. (2016), a psicologia do esporte compõe uma das sete áreas do esporte, sendo as demais: medicina, biomecânica, história, sociologia, pedagogia e filosofia do esporte. 5 Figura 1 – Relação entre conhecimentos nos domínios da ciência do esporte e da psicologia com o campo da psicologia do esporte e do exercício Fonte: Weinberg; Gould, 2017. Créditos: Oneo/Shutterstock; Illustration Forest/Shutterstock. Tenenbaum et al. (2013) destacam que a psicologia do esporte se desenvolveu com base em fatos internacionais que mantêm relação direta em sua história: • 1879 – fundação do primeiro laboratório de psicologia experimental em Leipzig, na Alemanha, por Wilhelm Wundt; • 1896 – realização da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, organizados por Pierre de Coubertin, que em 1913 também organizou o Primeiro Congresso Internacional sobre a Psicologia e a Fisiologia do Esporte; Psicopatologia Psicologia clínica Psicologia para aconselhamento Psicologia do desenvolvimento Psicologia experimental Psicologia dapersonalidade Psicologia fisiológica Domínios de conhecimentos da psicologia biomecânica fisiologia do exercício desenvolvimento motor aprendizagem e controle motores Medicina do esporte Pedagogia do esporte Sociologia do esporte Domínios de conhecimentos da ciência do esporte 6 • 1920 – primeiro laboratório de psicologia do esporte foi criado por Robert Werner Schulte em Berlim, Alemanha; • 1925 – Coleman Griffith cria em Illinois, Estados Unidos, mais um laboratório de psicologia do esporte (Tenenbaum et al, 2013); • 1958 – primeiro trabalho de intervenção realizado no Brasil por João Carvalhaes, psicólogo do São Paulo Futebol Clube; • 1965 – criação da Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte (ISSP) por iniciativa da Federação Italiana de Medicina Esportiva; • 1966 – criação da Sociedade Norte-Americana para a Psicologia do Esporte e Psicologia da Atividade Física; • 1970 – criação da primeira revista específica dessa especialidade, a International Journal of Sport Psychology; • 1979 – surge no Brasil a Psicologia do Esporte e a Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da Recreação (SOBRAPE); • 2006 – surge no Brasil a Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP); • Presente – no Brasil, os psicólogos passaram a fazer parte das equipes olímpicas e paraolímpicas, e, em nível mundial, houve um aumento das pesquisas em psicologia do exercício e do esporte, por conta dos benefícios que o esporte traz à saúde e à qualidade de vida. A psicologia do esporte se consolidou nos anos 1970, sendo reconhecida pela American Psychology Association (APA) somente em 1986. E devido ao grande destaque dado ao esporte no Brasil, foi em 1990 que ela se destacou, trabalhando com atletas de diversas modalidades, e não apenas no momento de competições, mas também durante treinamentos, individuais ou em equipe. TEMA 3 – PSICOLOGIA E EXERCÍCIO FÍSICO A psicologia do esporte é considerada uma subdisciplina que pode ser ministrada tanto em cursos de psicologia quanto no curso de ciência do esporte, orientando profissionais a como trabalhar com seus atletas quanto ao treinamento, competições, como lidar com as perdas e vitórias, e também o retorno aos treinamentos e competições após tratamento médico. 7 Veja na Figura 2 a seguir o esporte e o exercício físico em sua perspectiva psicológica. Figura 2 – Psicologia do esporte e suas inter-relações profissionais PSICOLOGIA PSICOLOGIA DO ESPORTE CIÊNCIAS DO ESPORTE ESPORTE Fonte: Vieira et al. 2010, p. 392. Segundo Vieira et al. (2010, p. 395), a psicologia do esporte e do exercício é reconhecida em todo o mundo tanto como disciplina educacional quanto como campo da área clínica. No entanto, a formação no Brasil é um processo um pouco complexo, por ser difícil de encontrar profissionais específicos para a formação desses cursos (ibidem). Assim, o campo de atuação dos profissionais da psicologia do esporte e do exercício inclui o esporte de rendimento, esporte educacional, esporte recreativo e esporte de reabilitação, como mostra a Figura 3: Figura 3 – Áreas de atuação do psicólogo do exercício e do esporte Fonte: Samulski, 2009; adaptado por Alexandre; Pastre, 2020. PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO ESPORTE DE REABILITAÇÃO ESPORTE DE RENDIMENTO ESPORTE EDUCACIONAL OU ESCOLAR ESPORTE RECREATIVO 8 a) Esporte de rendimento: a psicologia do exercício e do esporte é mais atuante no esporte de alto nível ou de alto rendimento. Nessa área, são investigados os fenômenos psicológicos determinantes do rendimento, ou seja, a psicologia é utilizada como ferramenta para aperfeiçoar o processo de recuperação e para otimizar o desempenho do atleta. b) Esporte educacional ou escolar: a psicologia analisa os processos de ensino e de aprendizagem, bem como os processos de educação e socialização. Enfoca a questão socioeducativa do esporte e do exercício. c) Esporte recreativo: tem em vista o bem-estar do indivíduo; estuda os motivos, atitudes e interesses de grupos recreativos de diferentes faixas etárias, atuações profissionais e classes socioeconômicas. d) Esporte de reabilitação: engloba o trabalho tanto de atletas lesionados quanto de atletas deficientes físicos ou mentais; a psicologia investiga os aspectos preventivos e terapêuticos do esporte e do exercício. Pode-se citar ainda a atuação dos psicólogos em projetos sociais, com o intuito da prática de esporte como meio de educação e socialização de crianças e jovens em situação e vulnerabilidade. Segundo Weinberg e Gould (2008), o objetivo do psicólogo do esporte é: • entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um indivíduo; • entender como a participação em esportes e exercício afeta o desenvolvimento psicológico, saúde e bem-estar de uma pessoa. A prática de exercícios físicos e esporte, além de construir corpos perfeitos, também é capaz de contribuir para a formação de uma mente forte (Kelleor, 1908). Vieira et al. (2010) destacam que o campo do profissional da psicologia do esporte é amplo e diversificado, mesmo estando sua denominação unida ao da psicologia. TEMA 4 – BENEFÍCIOS DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO FÍSICA A inserção da psicologia no contexto escolar veio para auxiliar os profissionais da educação, pois, muitas vezes, é na escola que se inicia o treinamento dos futuros atletas. É na educação física escolar que porventura aparecerão os grandes talentos, ou quando se dará início a formação esportiva, ética e moral das crianças (Zanetti, 2020, p. 38). 9 Assim, o profissional de educação física e o psicólogo do contexto escolar vão atuar com as crianças e jovens, abordando temas como vergonha, medo, ansiedade, relações humanas, motivação, liderança, competição, cooperação e formação de grupos na educação física escolar. 4.1 Vergonha De acordo com Zanetti (2010, p. 38), a “vergonha é desencadeada pela realização do indivíduo de algo que ele não domina ou sabe muito pouco e ao mesmo tempo este está sendo exposto ou observado por outros”. Ou seja, pode ser considerado um sentimento negativo, de fracasso e impotência (Almeida, 2015, p. 8). Esse sentimento pode ser classificado em vergonha-pura, vergonha- padrão, vergonha-meta, vergonha-ação, vergonha-norma, vergonha- humilhação, ou vergonha-contágio. Ao ser trabalhado na educação física escolar, é importante que o professor, segundo Zanetti (2010, p. 38), “lance mão de estratégias que permitam com que os alunos fortaleçam sua autoestima, o que contribuirá de maneira eficaz para a superação desta questão”. 4.2 Medo Zanetti (2010) destaca que o medo é um estado que merece destaque e que tem tomado a atenção em muitas pesquisas, por ser inerente a todos os seres humanos. É um sentimento de tensão, nervosismo ou opressão que provoca reações fisiológicas, como alterações na frequência cardíaca e respiratória, aumento na pressão sanguínea, sudorese e excessiva ou nenhuma salivação, e também pode levar a alterações em nível motor, como contrações (idem, p. 38). O medo ainda pode interferir negativamente no rendimento e aprendizado dos indivíduos devido à desorganização psíquica que é capaz de provocar. Machado (2006) divide o medo em seis níveis distintos que podem ocorrer na esfera do esporte: medo realístico, medo do desconhecido, ansiedade, medo ilógico, medo divertido e medo do fracasso. Este último é uma das situações mais terríveis que o atleta pode ter de enfrentar, pois a derrota não pode ser evitada a todos os momentos. 10 4.3 Ansiedade Segundo Barbante (1994, p. 18), “ansiedade é um estado emocional de temor, de apreensão, uma sensaçãode desastre iminente, sem nenhuma explicação racional”. Esse tema também merece ser tratado no contexto escolar e do esporte, no qual pode haver respostas negativas, provocando alguns sintomas físicos e psicológicos: • físicos: aceleração da pulsação por minuto, aumento da pressão sanguínea, aumento da tensão muscular, dificuldades respiratórias, sudoreses, enjoos e boca seca; • psicológicos: desconfianças, pensamentos negativos, preocupação, irritabilidade, dificuldades em estabelecer atenção, aumento de conflitos pessoais, diminuição da capacidade de processar a informação, alterações de pensamento, diminuição do comportamento de autocontrole, cansaço, insônia, dificuldades de relaxar, distração, preocupação e irritação. 4.4 Relações humanas Se na escola houver intolerância, ódio, raiva, rancor nas relações humanas, ela poderá ser considerada um ambiente hostil e insalubre para alunos e professores (Zanetti, 2010, p. 40). Nesse contexto, também pode ser citado o bullying na forma de ofensas, apelidos, exclusão, isolamento, humilhação, discriminação e assédio. Por outro lado, se as relações envolverem o interesse de participar e ajudar, com alegria e cordialidade, o processo de aprendizado será mais sadio. Outro fator de grande importância é a relação entre professor e aluno ou treinador e atleta, para que haja um ótimo rendimento e aprendizado esportivo e para a satisfação interpessoal desse aluno/atleta (Zanetti, 2010, p. 41). 4.5 Motivação Segundo Weinberg e Gould (2008), a motivação pode ser entendida como a direção e a intensidade dos esforços humanos – a palavra deriva do verbo latim movere, que significa movimento. Dessa forma, a motivação é o fato de uma pessoa ser influenciada, por estímulos internos ou externos, a fazer ou 11 realizar alguma coisa. Ela compreende cinco diretrizes para a prática profissional da educação física: Quadro 1 – Modelo interacional de motivação para a prática profissional de educação física Diretrizes Concepções Indivíduo-situação Percebe a motivação como sendo um resultado da combinação de fatores pessoais e situacionais. Motivos para o envolvimento Investiga os motivos que levam o indivíduo a realizar uma prática esportiva. Mudança no ambiente Compreende a importância de se estruturar ambientes de ensino e de treinamento que satisfaçam as necessidades de todos os participantes. Influência dos líderes Aponta o papel fundamental do técnico e/ou professor de educação física que por meio de suas atitudes, influenciam a motivação dos participantes. Mudanças de comportamento para alterar motivos indesejáveis Percebe mudanças nos motivos que levam os participantes a desenvolver a atividade, com o objetivo de promover maior interação entre eles. Fonte: Fundação Vale adaptado de Weinberg; Gould, 2008. 4.6 Liderança Para Zanetti (2010), a “liderança no contexto esportivo e da educação física escolar pode ser pautada sobre a afirmativa de que líderes simpáticos e experientes tendem a favorecer altas taxas de adesão e motivação dos participantes em programas esportivos ou de atividade física”. Os técnicos, nesse sentido, devem ser os principais motivadores dos atletas. 4.7 Competição A competição é natural do ser humano, e restringi-la ou negá-la no processo de formação esportiva dos atletas iniciantes é um erro gravíssimo, pois pode comprometer o desenvolvimento físico, psicológico e social do aluno/atleta. Existem algumas controvérsias com relação à competição entre crianças, mas a competição precoce permite que elas superem suas próprias dificuldades e obstáculos, mostrando suas potencialidades e se preparando para os desafios da vida adulta (Zanetti, 2010). 12 4.8 Cooperação A utilização de jogos cooperativos tende a despertar a consciência de cooperação, sendo uma alternativa saudável nas relações sociais, principalmente por unir pessoas, compartilhar e despertar a coragem em correr riscos com pouca preocupação com o fracasso. 4.9 Formação de grupos na educação física escolar Mesmo que uma equipe seja um grupo, um grupo não necessariamente compõe uma equipe, ainda que compartilhe os mesmos objetivos, devendo depender e apoiar uns aos outros, interagindo entre si e incorporando elementos de interdependência. Para Zanetti (2010), para que um grupo se torne uma equipe são necessárias características estruturais nas quais se destacam os papéis sociais e as normas do grupo. Assim, a atuação do profissional da educação física ou do psicólogo na escola tem como objetivo preparar seus praticantes para a cidadania e para o lazer, buscando compreender e analisar os processos de ensino, educação e socialização inerente ao esporte e seu reflexo no processo de formação e desenvolvimento da criança, jovem ou adulto praticante” (Souza; Souza; Ferreira, 2011, p. 3). TEMA 5 – BENEFÍCIOS DA PSICOLOGIA NO ESPORTE E EXERCÍCIO FÍSICO A psicologia do esporte e do exercício físico, como campo da ciência, vem crescendo e ampliando suas áreas de atuação nos últimos anos, pois “muitos são os apelos para que a prática de atividade física se torne uma necessidade” (Telles et al., 2016). Mesmo apresentando cem anos de estudo, a área ainda vem ganhando espaço, porque se preocupa com as pessoas envolvidas com a prática de exercícios físicos, ou seja, com o movimento humano (Oliveira, 2018). Ela pode ser encontrada em diferentes contextos, tais como escolas, hospitais, academias, centros de treinamento das mais diversas modalidades esportivas, entre atletas iniciantes, amadores e atletas de ponta, profissionais e aqueles que buscam o alto rendimento (Pinho, 2016, p. 4). Segundo Pesca e Cruz (2011, p. 11) 13 A psicologia do esporte é o estudo científico das pessoas e seus comportamentos no contexto esportivo e de exercício, bem como as aplicações práticas derivadas dos conhecimentos gerados por esses estudos. Nesse sentido, a psicologia do esporte é, ao mesmo tempo, uma ciência aplicada e um campo de intervenção dos psicólogos, cujas competências podem auxiliar na compreensão dos processos psicológicos instalados ou geridos no âmbito da atividade esportiva em geral. Cabe ao psicólogo especialista nesta área desenvolver e operar conhecimentos e métodos, visando compreender em que medida a participação em esportes afeta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar dos atletas. Segundo Souza et al. (2018, p. 175), “os psicólogos esportivos têm buscado identificar princípios e diretrizes que possam ser usados para auxiliar os atletas a participarem e obterem benefícios em suas práticas esportivas, pois muitos possuem técnica, força e preparo físico, mas nem sempre a maturidade psíquica”, necessitando de um grande preparo psicológico para suportar a pressão de uma competição. As funções dos psicólogos do esporte são bastante rigorosas e abundantes, baseando-se em fundamentos éticos indispensáveis na sua função (Paiva; Carlesso, 2018, p. 3). Assim, pode-se definir a função do psicólogo do esporte como a de entender e ajudar atletas de elite, crianças, indivíduos física e mentalmente incapacitados, idosos e praticantes a alcançar o máximo de participação e desempenho, satisfação pessoal e desenvolvimento mediante as atividades. Podemos citar então as seguintes áreas em que o psicólogo poderá atuar: • manutenção da atenção; • memória; • foco e concentração; • motivação e automotivação; • diminuir a tensão e aliviar a ansiedade esportiva; • estabelecer ou melhorar a autoconfiança; • autocontrole e autoconhecimento; • alcance de metas esportivas (curto, médio e longo prazo); • contribuir para a prevenção de lesões, burnout e overtraining. Sendo assim, é importante diferenciar um psicólogo do esporte do psicólogo clínico, pois ele trabalha para ensinar os atletas ou futuros atletas a explorar o máximo de suas habilidades esportivas,aprendendo a enfrentar as diversas emoções e sentimentos que ocorrem durante treinos e competições, 14 emoções estas que podem ajudar ou atrapalhar seu rendimento (Vittude, 2018, p. 1). Segundo Falcão (2012), o treinamento psicológico acontece em três fases distintas: Quadro 3 – Fases do treinamento psicológico Educação Quando atletas reconhecem a importância do treinamento psicológico e sua influência no desempenho esportivo Aquisição Quando atletas adquirem as habilidades mentais e aprendem a utilizá-las Treino Quando atletas são capazes de automatizar as habilidades mentais e implementá- las em treinos e competições Fonte: Eu Atleta, 2019. O psicólogo Willian Falcão (2012) aponta que qualquer atleta pode se beneficiar do treinamento psicológico. Como iniciantes, os atletas aprendem a se manter motivados e se concentrar durante a realização de um movimento técnico, ajudando a evoluir em sua modalidade. Já o atleta de alto nível poderá aperfeiçoar sua técnica e a suportar o estresse associado às expectativas do alto rendimento. Falcão (2012, p. 1) ainda descreve algumas técnicas que podem ser aplicadas durante o treinamento psicológico: controle da ansiedade, estabelecimento de metas e metalização, as quais, treinadas da maneira correta, contribuem para o sucesso esportivo do atleta, tornando-o um atleta com “força mental”. No entanto, para Telles (2016), independentemente do motivo pelo qual o indivíduo venha a realizar um exercício físico ou esporte, é importante que todos compreendam que a prática se faz necessária para melhorar a saúde física e mental. Em uma pesquisa realizada por Liz e Andrade (2014), sobre os benefícios psicológicos da musculação entres praticantes e ex-praticantes, foi observado que a prática de fato proporciona benefícios psicológicos, como a melhora no bem-estar, na autoestima e com relação à imagem corporal. NA PRÁTICA A psicologia é uma área importante no contexto esportivo, pois influencia o desenvolvimento físico e mental de quem pratica. Assim, é importante que o profissional dessas duas áreas, psicologia e esporte, consiga encontrar técnicas 15 ou propor atividades para que os alunos e atletas consigam tirar proveito de seus benefícios da melhor maneira possível. Ao elaborar uma atividade, o professor deve estar ciente de que a atividade proposta deve propiciar ou estimular o autocontrole e a autoestima. O aluno deve compreender que nem sempre a vitória e o corpo perfeito são o que mais importa em uma atividade competitiva ou como estilo de vida. Assim sendo, ao propor a atividade, o professor deverá levar em consideração o tipo de atividade a ser trabalhada, para que o contexto não seja mal interpretado e o que era pretendido seja descontextualizado. FINALIZANDO Podemos concluir que a psicologia do esporte é de fundamental importância para a prática esportiva, seja ela uma atividade física, exercício físico ou esporte. Ao se exercitar, a pessoa esquece dos problemas relacionados ao trabalho, família ou até mesmo saúde, e muitas vezes encontra uma solução para contornar esses problemas. Além disso, o exercício eleva a autoestima e o bem-estar, controla o mau humor, e pode também controlar algumas enfermidades, como diabetes, hipertensão, obesidade e depressão. O campo de atuação do profissional psicólogo em conjunto com o profissional de educação física é bastante vasto, podendo acompanhar desde atletas profissionais a um praticante de atividade física que busca a melhora da saúde física e mental. Mesmo sendo recente, a prática da psicologia do esporte tanto no contexto escolar como no meio esportivo auxilia o aluno e o atleta a encontrar confiança na permanência nas atividades assim como iniciar e permanecer em um novo projeto esportivo. 16 REFERÊNCIAS FALCÃO W. Os benefícios do treinamento psicológico. Globo Esporte, 2012. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/2012/04/os- beneficios-do-treinamento-psicologico.html>. Acesso em: 6 jun. 2020. HAUSENBLAS, H.; RHODES, R. E. Exercise psychology: physical activity and sedentary behavior. Jones & Bartlett Publishers, 2016. LIZ, C. M.; ANDRADE. A. Análise qualitativa dos motivos de adesão e desistência da musculação em academias. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.005>. Acesso em: 6 jun. 2020. OLIVEIRA, É. A importância da psicologia do esporte e do exercício físico, 2018. Disponível em: <https://blogeducacaofisica.com.br/psicologia-do- esporte>. Acesso em: 6 jun. 2020. PAIVA, E. M.; CARLESSO, J. P. P. A importância do papel do psicólogo do esporte na atualidade: relato de experiência, 2018. Disponível em: <Https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/798/703>. Acesso em: 6 jun. 2020. TELLES T. C. B. et al. Adesão ao exercício: um estudo bibliográfico. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 2016. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.31501/rbpe.v6i1.6725>. Acesso em: 6 jun. 2020. WEINBERG, R. S; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Porto Alegre: Artmed, 2017.
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