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Estática e Dinâmica Jurídica em Hans Kelsen Por: Ariel Sigal Barkan 2015 Estática Jurídica Influenciado pela epistemologia pragmática kantiana, Hans Kelsen desenvolveu, em sua obra A Teoria Pura do Direito, aquilo que entendemos por estática jurídica. Em parte importante de sua obra, Kelsen autonomiza o Direito como ciência pura (daí o nome da obra). Essa concepção diz respeito à independência do Direito em relação a quaisquer outros ramos do conhecimento extrajudiciais. A ciência jurídica não diz respeito à ciência de fatos, mas à ciência de normas. É, pois, uma ciência embasada no prescrito juridicamente. Assim, Kelsen vê o Direito como uma estrutura simples de coerção, disposto de forma sistemática hierarquicamente organizada (pirâmide) de normas e de condições necessárias para a imposição de sanções pelos agentes do Estado. A norma jurídica é sempre redutível a uma proposição hipotética, na qual se prevê um fato ligado a uma consequência. Toda vez que um comportamento corresponder à proposição adequada, deverá advir uma consequência. Para Kelsen, o Direito é norma, e nada mais que norma. E norma é uma regra que afirma que um indivíduo deve se comportar de determinada maneira, sem afirmar que tal comportamento seja a vontade do sujeito (dissociação da ordem jurídica e da ordem moral). A norma é aquilo que tem poder de qualificar um ato como jurídico; o que a norma faz é inserir um fato natural ao mundo jurídico, tornando-o uma categoria deste. Se existe determinada conduta, deve ser efetivado um ato de coação proporcional a esta; logo, para Kelsen, o ilícito é um pressuposto, e não uma negação do Direito. Outra definição importante é a de Imputação, sendo esta a institucionalização do dever ser por instituições jurídicas em ser. Concreção, por sua vez, é a aplicação jurídica. A sentença do juiz, por exemplo. Kelsen define uma norma jurídica como uma previsão genérica e abstrata de uma situação de fato à qual se atribui uma consequência jurídica por meio de uma regra de imputação. Essa consequência jurídica traduz-se em sanções (positivas e negativas) e em potestades (regras de competência. Delegação de tarefas administrativas, legislativas e judiciais). Ademais, Kelsen afirma que uma norma tem como destinatário a pessoa legalmente investida no poder de aplicação da sanção. Para Hans Kelsen, a norma primária é, pois, aquela que enuncia a sanção, ficando em segundo plano a regra que define o que deve e não deve ser feito. Concluindo, a consequência, ou efeito jurídico, não é fruto de uma relação causa-consequência, mas sim de um processo de subsunção, que consiste na adequação do fato particular (premissa menor) à regra (premissa maior). Dinâmica Jurídica As normas jurídicas não são modelos estáticos e isolados, mas sim modelos dinâmicos que se implicam e se correlacionam, dispondo-se num sistema hierárquico onde umas são subordinantes e outras subordinadas. É essa relação de subordinação que responde a pergunta acerca da validade e do fundamento da norma. O fundamento ou validade de uma norma só pode ser outra norma, sendo que a norma que figura como fundamento de validade para outra é entendida como superior. A dinâmica jurídica diz respeito, pois, a como um sistema de Direito forja, por si só, suas categorias e seus conceitos. Dá-se, assim, o conceito de sistema jurídico como aquele no qual as normas derivam umas das outras através de sucessivas delegações de poder (Conceito de Norberto Bobbio). Para Kelsen, as normas de um sistema são criadas através de atos de vontade pelos indivíduos que foram delegados a assim o fazer por normas superiores. Assim, as normas de grau superior constituem uma delegação à instância inferior para a produção normativa. Quando uma norma de grau superior é aplicada, há a produção de uma norma de grau inferior. Resume- se assim pelo princípio da vinculação positiva, que afirma que o pressuposto de validade da norma hierarquicamente inferior é estar de acordo com a norma hierarquicamente superior. Essa aplicação propicia melhores garantias e controla abusos de poder. Outro aspecto a ser ressaltado no pensamento da dinâmica de Kelsen é a noção norma fundamental, ou Grundnorm. A norma fundamental não é criada em um procedimento jurídico por um órgão criador de direito. É válida por ser pressuposta como válida, e sem esse pressuposto, nenhum ato humano poderia ser interpretado como um ato jurídico. A norma fundamental prescreve que os atos devem ser praticados nos termos da Constituição. Não existe autoridade que delegue a Grundnorm, sendo esta pressuposta.
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