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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA Instituto de Ciências Humanas Curso de Psicologia ANÁLISE DA PRODUÇÃO FILME, NA PERSPECTIVA DA TEORIA PSICANALÍTICA. CRUZILENE PEREIRA DA SILVA RA: D7748j9 LUCAS MARTINS DE LIMA RA: N220910 SOLANGE P. HIGA SCARMAGNANI RA: T641IH7 MARCOS VINÍCIUS RIBEIRO FREIRE RA: 9520848 MARLY SILVA FERREIRA RA: N353HH6 Campus Norte - São Paulo 2020 UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA Instituto de Ciências Humanas Curso de Psicologia CRUZILENE PEREIRA DA SILVA RA: D7748j9 LUCAS MARTINS DE LIMA RA: N220910 SOLANGE P. HIGA SCARMAGNANI RA: T641IH7 MARCOS VINÍCIUS RIBEIRO FREIRE RA: 9520848 MARLY SILVA FERREIRA RA: N353HH6 ANÁLISE DA PRODUÇÃO FILME NA PERSPECTIVA DA TEORIA PSICANALÍTICA. Trabalho de análise de obra cinematográfica, a partir dos conteúdos programáticos da disciplina Desdobramentos da Teoria Psicanalítica do curso de Psicologia da UNIP. Prof. Espec. Flávio Rossi. Campus Norte – São Paulo 2020 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 2 1.1 DESENVOLVIMENTO ............................................................................ 3 2.CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 6 3.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 7 2 1. INTRODUÇÃO Esse trabalho nos permitiu a reflexão do filme o quarto de Jack, drama dirigido por Lenny Abrahamson e escrito por Emma Donoghue e a compreensão sobre as produções humanas e sua expressão à luz da teoria psicanalítica de Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista inglês influente no campo das teorias das relações objetais e do desenvolvimento psicológico. Ele que rejeita a ideia klainiana, de que as relações de objetos se iniciam desde o nascimento, sendo seu primeiro objeto, o seio da mãe, o qual, para criança fica dividido em um seio bom e um seio mau, sendo seio bom a parte vital para o desenvolvimento do ego. Para Winnicott, o bebê anseia a presença seguradora da mãe, que lhe inspire uma confiança básica em si mesmo e no mundo. Somente quando o seu contato com a mãe-ambiente for satisfatório, poderá adquirir a capacidade de usar os seus mecanismos mentais, segundo o qual a psicose está ligada à privação emocional em um estádio anterior àquele em que o bebê possa perceber essa privação. Correlacionamos assim, sua teoria ao drama que mostra o quanto Jack, menino de cinco anos, nascido e criado em cativeiro, foi acolhido pela mãe Joy, ao chegar ao mundo, que com grande empenho e dedicação, consegue oferecer ao filho o melhor, em matéria de afeto e conhecimento do mundo, que se dá por meio da televisão e toda uma grande conversa entre mãe e filho sobre o que é real e o que é imaginário. Planejando então a mãe, a fuga desse cativeiro, começa o desenrolar do drama, com o ingresso de Jack pela primeira vez nesse mundo real e o reingresso de Joy na vida social. 3 1.1 DESENVOLVIMENTO O filme traz momentos da vida de Joy, que aos 17 anos se deparou com o velho Nick pedindo ajuda com seu cachorro doente e ao prestar socorro, foi sequestrada, sendo trancada em um quarto, num pequeno galpão, sem janelas, apenas com uma claraboia no teto, onde entrava a luz do sol, e com uma única porta que só se abria com senha. Depois de dois anos sendo abusada pelo sequestrador, engravidou e deu a luz ao seu filho Jack, e o filme começa já quando Jack irá completar cinco anos, mostrando o seu comportamento. Joe a noite recebe a visita do seu sequestrador e ela não quer que o menino tenha contato com aquele homem que tirou sua liberdade, escondendo o filho dentro do armário onde fez uma cama improvisando um quartinho para ele. Durante o dia no pequeno espaço onde vivem, a mãe lava, cozinha, brinca com o filho, o ensina e, juntos se exercitam, ela ama e cuida, mas claro que ela tem momentos de profunda tristeza. Suas reações são quase sempre sufocadas, mas não desconta no menino a frustação da sua condição, sendo capaz de propiciar as condições necessárias para o desenvolvimento físico e psíquico de Jack... “Correlacionamos aí, a teoria Winnicottianna onde o vínculo entre a mãe e o bebê assentará as bases para o desenvolvimento saudável das capacidades inatas do indivíduo. Ele entende que há uma interação significativa entre o ambiente –mãe – e a criança (Winnicott, 2011 p.125), não enfatiza a configuração das zonas erógenas iniciais ou a natureza pulsional como constituintes do processo de amadurecimento. Colocando em pauta que, o ser humano integra-se em uma unidade que se inicia nos estágios primitivos e se direciona aos estágios de dependência relativa e rumo a independência, e, portanto revela a importância da provisão ambiental direcionando a dedicação materna, proporcionando ao bebê o cuidado do qual ele necessita, o holding (o segurar) e o handling (o manejar) tanto físico quanto emocional, funciona como uma espécie de membrana protetora que viabiliza o isolamento primário, fundamental para que se articule um espaço psíquico. Através de uma adaptação ativa às necessidades da criança, o meio ambiente a torna capaz de permanecer em um estado de isolamento imperturbado, ocupando um espaço em que ela possa desenvolver sua vida de fantasia – um mundo secreto sentido como só seu, onde mais tarde vai se alojar um aparelho psíquico e uma organização dos processos de pensamento. O bebê, que não tem consciência desse suprimento por parte do objeto, entrega-se à fruição de um movimento espontâneo. Se tudo correr bem, o meio ambiente é descoberto, sem que haja uma perda do sentido de self”. ...O menino não tem brinquedos, não tem amigos, não tem animal de estimação, apenas um cachorro imaginário e explica: as plantas são de verdade, mas as árvores não, porque as únicas coisas reais para ele são as coisas que ele vê. Ele tem uma plantinha no quarto, por isso ele sabe que as plantas existem. As aranhas são de verdade e que os mosquitos também são, porque um mosquito já o picou, mas esquilos e cachorros não existem, só existem na tv. O menino só tem contato humano com a mãe, como mecanismo de compensação da falta de relações humanas, ele personifica os objetos do 4 quarto, cumprimentando o tapete, o armário, a pia, a privada, quando acorda. As brincadeiras e o uso desenfreado da imaginação, a hiperatividade e inocência eram tudo fruto da competência de Joy, para criar Jack mesmo com todas as limitações impostas pelo ambiente... Podemos pensar aqui na teoria Winnicotiana estudada, explicita que pelo brincar a criança se apropria de experiências com e através de um espaço situado entre o real e a fantasia. "é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)" (Winnicott,1975: 79-80. Ao brincar a criança necessita focar a sua atenção na brincadeira e desenvolver a sua criatividade, curiosidade, autoconfiança, motivação, empatia, cooperação, aprende a lidar com as frustrações, as regras, ganhar e perder nos jogos e outros conhecimentos e habilidades em relação ao seu comportamento necessários para o cotidiano. O espaço do brincar fica na fronteira da subjetividade, e é chamado de espaço potencial. O brincar facilita a comunicação, tanto consigo como comos outros. "É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação” (Winnicott). ...Assim, Joe faz o possível para tornar suportável a vida no local, mas quando seu filho completa cinco anos, ela decide elaborar um plano para fugir, e finalmente conta a verdade ao garoto de que existe um mundo do outro lado das paredes daquele quarto, que todas as coisas que ele vê na tv são reais, o garoto rejeita a nova realidade... A desilusão, para Winnicott (1952/1978), é um fenômeno mais amplo que antecede ao desmame. Enquanto o desmame implica uma alimentação bem-sucedida, a desilusão está relacionada ao fornecimento adequado de "oportunidades para ilusão". Ou seja, a mãe deve inicialmente fornecer ao bebê a ilusão de que o que ele cria está mesmo lá para ser encontrado. O desenvolvimento saudável está relacionado ao estabelecimento de uma tendência à redução dos estados esquizóides nos momentos iniciais da vida, quando o bebê está sendo gradualmente introduzido à realidade externa. Esse estágio de desilusão é fundamental para o progresso do desenvolvimento, onde ocorre o início a uma desadaptação gradual da mãe com a relação as necessidades do bebê colocando em marcha um longo e vagaroso processo de separação que possibilitará para o bebê a integração em um ser unitário e separado capaz de se relacionar com o mundo externo. Por um lado, a mãe percebe que o bebê já desenvolveu alguma capacidade de esperar e por outro se cansa da extrema exigência que a dependência absoluta do bebê requer, por isso começam a ocorrer pequenas falhas no processo de adaptação da mãe em relação as necessidades do bebê onde os objetos reais não se tornaram “reais” sem a experiência de frustrações. A frustração é uma condição para que o bebê passe a funcionar de acordo com o princípio da realidade. A adaptação “perfeita” assemelha-se a magia, gradualmente o bebê vai reconhecendo duas coisas, a limitação do controle magico e sua dependência da boa vontade dos outros. Ocorre uma gradual liberação da criança do apoio do ego materno, imprimida por uma modificação e um ajuste da adaptação do ambiente as necessidades da criança, em consonância com sua tendência inata ao amadurecimento. Neste momento a mãe e a criança se distanciam para conquistar a distinção entre si e a composição de um eu bebê e um eu da mãe. Agora distintos, a mãe poderá auxiliar a criança a experimentar o término da ilusão de “dois em um” mantendo- se viva e real. Isso permite que a criança vivencie esse momento de desilusão, 5 ter destruído o Eu materno, pela constatação da mãe real. Sustentando-se no aparecimento do ser real da mãe, a criança experimenta a interrupção da sua capacidade criativa e caminha em direção à integração da realidade objetiva à realidade subjetiva construindo a possibilidade do Eu sou e à dependência absoluta, ilusão, que ambos viveram necessariamente até esse momento. A provisão ambiental é especialmente importante facilitação de tendência natural do indivíduo ao amadurecimento e, para tanto, existem duas atitudes gerais fundamentais, de um lado, a existência continuada das condições de dependência em alto grau que pode voltar, circunstancialmente, a ser necessária, de outro, a provisão de oportunidade para que o indivíduo, gradualmente, se separe da mãe e se ligue a família, e da família à unidade social mais próxima a esta, e assim por diante, em ciclos mais amplos (retirado do texto, aula 09) ...Continuando, Joe consegue convencer Jack, dizendo que mentiu na tentativa de poupá-lo da cruel realidade, porque se ele não sabe da existência do mundo lá fora, ele não sofre e com a ajuda do filho, ela tenta enganar Nick para retornar à realidade e apresentar um novo mundo a seu filho. Quando, o menino consegue fugir, a claridade do mundo lá fora, do mundo exterior, ofusca os seus olhos. Todas aquelas imagens e sons, o deixa atordoado, mal consegue caminhar e falar de tão grande que é seu choque com o novo, pois a única referência dele é o quarto e não tinha ideia de como é o mundo. Depois de muita tensão, a fuga deu certo e finalmente eles se reencontram, livres daquele pesadelo. Ao retornar a casa ela vive as consequências psíquicas dos anos de encarceramento. Jack começa a fazer terapia, mas sua mãe se recusa, se mostrando impaciente com tudo e com dificuldade de se readaptar ao mundo. Na casa da avó, ele não tem o mínimo interesse de brincar com os brinquedos novos que ganhou, porque ele não sente falta do que nunca teve, e deseja voltar ao quarto, pois sente falta da rotina com a mãe, já que a mãe agora vivia ausente, tentando se libertar do conflito que vive consigo mesma. 6 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS Analisando o filme, podemos concluir que a obra escrita por Emma Donoghue, e dirigida por Lenny Abrahamson, tem traços teóricos importantes lido em Winnicott que acreditava que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, base do fazer-criativo. E a percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo singular de cada indivíduo. Joy representa para Jack a mãe suficientemente boa, pois, reflete um ambiente suficiente bom ao menino, importante para a saúde psíquica de Jack, mesmo que ambos estejam sendo mantidos em cativeiro sob condições precárias. Houve uma perfeita adaptação da mãe as necessidades do filho, lhe permitindo a entrada do livre desenrolar dos processos de maturação. Outro traço compreendido foi o brincar e a brincadeira que é universal e que é própria da saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz a relacionamento grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia... " (Winnicott, 1975, p.63) nesse momento, aprende a lidar com as frustrações, as regras, ganhar e perder nos jogos e outros conhecimentos e habilidades em relação ao seu comportamento necessários para o cotidiano. E por último os fenômenos transicionais coincidem com o início da desilusão e por causa do início desta fase que surge a transicionalidade. A perda de ilusão de onipotência, decorrente das falhas inevitáveis da mãe, determina uma diminuição gradual da experiência de onipotência. Porém, através da transicionalidade que existe uma tentativa de recuperar a ilusão que passou a perder. No fenômeno transicional essa função de separar e juntar é também uma defesa contra a ansiedade depressiva. Assim, a sua importância é que um dia esteve totalmente vinculado à presença da mãe que significa a garantia da presença humana na vida da criança. Ao viver os fenômenos transicionais, o bebê está criando seus alicerces para viver outras relações no decorrer da vida. 7 3. BIBLIOGRAFIA WINNICOTT, D.W. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. WINNICOTT, D.W. Da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1993. Winnicott, D. W. (1975c). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1971 . WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Trad. de José Octavio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro, Imago, 1975.
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