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Teoria e Prática do Estudo Bíblico - Livro

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL 
 
 
 
TEORIA E PRÁTICA DO ESTUDO BÍBLICO 
 
 
 
CURSO DE TEOLOGIA 
 
 
 
Anselmo Ernesto Graff 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
Apresentação......................................................................................................................... 4 
1. A prática do estudo bíblico ................................................................................................. 7 
1.1 A Bíblia e seu uso – um breve histórico ....................................................................... 7 
1.2 Atributos e Propósitos da Palavra de Deus .................................................................. 9 
1.3 Pressupostos no Estudo da Bíblia .............................................................................. 11 
1.4 A Relação entre o Antigo e o Novo Testamento ......................................................... 13 
1.5 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 15 
2. A tarefa e a arte da Interpretação .................................................................................... 17 
2.1 Aspectos gerais na história da interpretação bíblica ................................................... 17 
2.2 A Interpretação da Bíblia ............................................................................................ 22 
2.3 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 25 
3. Lei e Evangelho na Interpretação da Bíblia ...................................................................... 27 
3.1 Lei e Evangelho na Palavra de Deus ......................................................................... 27 
3.2 Manejando bem a Palavra – Lei e Evangelho ............................................................ 30 
3.3 A Lei de Deus em sua tríplice função ......................................................................... 32 
3.4 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 34 
4. Linguagem da Bíblia ........................................................................................................ 37 
4.1 As línguas originais e traduções ................................................................................. 37 
4.2 Figuras de Linguagem................................................................................................ 39 
4.2.1 Um exemplo de metáfora: o “maior” no Reino dos Céus ..................................... 41 
4.3 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 44 
5. Gêneros Literários na Bíblia – Narrativa .......................................................................... 46 
5.1 Narrativa .................................................................................................................... 46 
5.1.1 Atos 15.36-41: Um exemplo de interpretação de uma narrativa do Novo 
Testamento .................................................................................................................. 49 
5.1.2 Êxodo 4.1-9 - Exemplo de narrativa bíblica do Antigo Testamento ...................... 52 
5.2 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 54 
6. Gêneros Literários na Bíblia - Epístola ............................................................................. 57 
6.1 A forma das epístolas ................................................................................................ 57 
6.1.1 A carta de 1ª João e a importância do contexto histórico .................................... 59 
6.1.2 A importância do esboço: um exemplo em Hebreus ............................................ 61 
6.2 Dicas de interpretação ............................................................................................... 61 
6.2.1 Colossenses 3.1-11: Exemplo de estudo bíblico de uma epístola ....................... 62 
6.3 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 66 
7. Gêneros Literários na Bíblia– Parábolas .......................................................................... 68 
7.1 Funções das parábolas .............................................................................................. 68 
7.2 O Reino de Deus........................................................................................................ 69 
7.3 A Interpretação das Parábolas ................................................................................... 70 
7.3.1 Exemplo I: A parábola dos dois filhos – Mt 21.28-32 ........................................... 72 
7.3.2 Exemplo II: A parábola das dez virgens – Mt 25.1-13 .......................................... 72 
7.4 Lucas 8.16-18 – A Parábola da Candeia: Um exemplo de estudo aplicado à uma 
parábola ........................................................................................................................... 73 
7.5 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 74 
8. Gêneros Literários na Bíblia – Profecia e Apocalipse ....................................................... 76 
8.1 Profecia ...................................................................................................................... 76 
8.2 Exemplo de estudo num texto profético - Jeremias 23.1-9 ......................................... 78 
8.3 Apocalipse ................................................................................................................. 80 
8.3.1 Linhas interpretativas do Apocalipse ................................................................... 82 
8.4 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 84 
9. Gêneros Literários na Bíblia – Poesia e Sabedoria Hebraica ........................................... 87 
9.1 Poesia e algumas Características .............................................................................. 87 
9.2 Os Salmos ................................................................................................................. 89 
9.2.1 Salmo 16: Um exemplo de consideração sobre o contexto histórico de um salmo
 ..................................................................................................................................... 91 
9.3 Sabedoria Hebraica ................................................................................................... 91 
9.4 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 93 
10. Métodos de Estudo Bíblico ............................................................................................ 95 
10.1 Estudo de um grupo de versículos ........................................................................... 95 
10.2 Estudo Temático ...................................................................................................... 96 
10.3 Estudo Doutrinário ................................................................................................... 96 
10.4 Estudo Biográfico – o estudo de um personagem bíblico ......................................... 96 
10.5 Estudo de um livro da Bíblia completo ..................................................................... 96 
10.6 Método Devocional .................................................................................................. 97 
10.7 Um modelo de estudo bíblico temático - A Oferta Cristã .......................................... 97 
10.8 O uso devocional da Bíblia: lendo a Bíblia com a mente e o coração ..................... 103 
10.9 Considerações finais ..............................................................................................105 
10.10 Atividades de auto-estudo .................................................................................... 106 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
 A proposta deste material é fornecer aos estudantes do Curso de Teologia a 
oportunidade de trabalhar princípios teóricos e práticos que norteiem o estudo e 
proclamação através de estudos bíblicos da palavra de Deus. 
 Os tempos pós-modernos exigem que se busque a abordagem correta da 
interpretação bíblica, pressupostos saudáveis em sua leitura e reflexão sobre instrumentos 
disponíveis para auxiliar na tarefa de estudar e comunicar a palavra de Deus. Num contexto 
em que se demandam respostas cada vez mais rápidas e imediatas, o leitor/intérprete da 
Bíblia precisa estudar a arte de aprender a parar para pensar, refletir e processar a palavra 
de Deus. A Escritura Sagrada é o fundamento vital da Igreja Cristã e não pode servir 
simplesmente para especulações subjetivas e ser tratada com leviandade. 
A palavra de Deus tem poder. Através dela Deus julga, condena, salva, perdoa, 
consola, orienta, promete e devolve a esperança. Através da Escritura Sagrada Deus educa 
seus filhos a viver bem e a morrer bem. Viver, gozando do bem nos dias da prosperidade e 
com esperança e aceitação nos dias da adversidade. Morrer, crendo que em Jesus ainda 
que haja a morte, há a ressurreição assim como Cristo ressuscitou. 
O próprio Deus afirma o poder da sua palavra. “Porque, assim como descem a chuva 
e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e 
a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra 
que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará 
naquilo para que a designei” (Isaías 55.10-11).1 “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, 
e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir 
alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do 
coração” (Hebreus 4.12). “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste 
inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, 
que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é 
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a 
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado 
para toda boa obra” (2 Timóteo 3. 14-17). 
A palavra de Deus precisa ser lida e explicada de maneira precisa. O apóstolo Pedro 
advertiu aos seus leitores que há coisas mais complicadas para compreensão e que podem 
sofrer distorções. “ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas 
as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e 
 
1
 Passagens da Escritura foram extraídas da Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, 
Edição Revista e Atualizada, 1993. 
instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição 
deles” (2 Pedro 3.16). 
O objetivo último e mais importante é fornecer elementos e reflexões individuais e em 
grupo, para que a recomendação do apóstolo Paulo ao obreiro Timóteo também se 
concretize nos servos de Deus do século XXI. “Procura apresentar-te a Deus aprovado, 
como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” 
(2 Timóteo 2.15). 
Como foi estruturado esse material? Visando formar obreiros que manejam bem a 
palavra do Senhor, os dez capítulos foram organizados no sentido de contemplar atributos 
essenciais da palavra de Deus, pressupostos fundamentais para se achegar às Escrituras, 
revisar alguns princípios hermenêuticos, notar as variações na linguagem bíblica, observar a 
diferença dos gêneros literários da Bíblia, possíveis métodos de estudos e alguns estudos 
bíblicos, cujo alvo é servir como referência para produção e apresentação de outros estudos 
bíblicos, que por sua vez, devem ter como fim último apontar para Jesus Cristo, o Autor e 
Consumador da fé. 
O conceito de que é mais fácil propor teorias do que colocá-las em prática, talvez 
também possa ser aplicado a este material. Porém, este não foi o alvo. A meta foi 
desenrolar alguns fundamentos teóricos para a prática saudável e coerente do estudo da 
Bíblia e, quase concomitantemente, oferecer subsídios práticos relevantes para a 
preparação e proclamação de sermões e estudos bíblicos. 
 Ainda assim, este trabalho visa servir como um mapa esboçado que conduza à fonte 
primária e única norma de fé e de vida, as Sagradas Escrituras. A Palavra é o agente da 
vida. A Bíblia é de fato um livro divino e único, pois prepara os seres humanos para viverem 
e morrerem. É a rocha segura que todos encontram segurança, orientação e conforto. 
Revelam a Cristo, o Senhor e Salvador da humanidade. 
 Martinho Lutero, em seus comentários sobre o Salmo 23, escreve que onde a 
Palavra de Deus é ensinada de maneira própria e pura, o resultado será só coisas boas: as 
ovelhas do Bom Pastor serão instruídas, guiadas, as forças renovadas, haverá tempos de 
refrigério, fortalecimento e conforto. Além disso, os cristãos continuamente serão mantidos 
no caminho direito, o corpo e a alma protegidos de toda espécie de ansiedades e aflições. 
 Por outro lado, onde esta abençoada luz não alumiar, não haverá nem alegria, nem 
salvação, nem força ou conforto, mas desacordos, medo, ansiedade e a amarga ameaça da 
morte. 
 Tudo isto deve servir como advertência e mobilização, a fim não considerarmos outra 
coisa acima ou mais preciosa, do que estar abençoado, possuindo a querida abençoada 
Palavra, para ser ensinada e confessada livre e publicamente.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2
 Luther, Martim. Luther’s Works. Volume 12: Selected Psalms ) J. J. Pelikan, H. C. Oswald & H. T. 
Lehmann, Ed.). Concordia Publishing House, Saint Louis, pp.149-151. 
1. A prática do estudo bíblico 
Introdução 
 O alvo para esse primeiro capítulo é esboçar uma visão panorâmica sobre a Bíblia 
como a palavra de Deus. Serão abordadas questões referentes à trajetória do estudo bíblico 
ao longo do tempo, atributos e propósitos das Escrituras, pressupostos em seu estudo e a 
relação de unidade do Antigo e Novo Testamento. O objetivo principal é tornar o aluno 
familiarizado com as nuances no acesso à Bíblia e que existiram ao longo dos anos e os 
propósitos essenciais da revelação divina através da Bíblia. Espera-se que o estudante 
tenha desenvolvida sua habilidade em observar os pressupostos na leitura bíblica, bem 
como veja o Antigo e o Novo Testamento como uma unidade teológica da revelação de 
Deus. 
O início do estudo bíblico 
Quando iniciou a prática do estudo bíblico? Pode-se afirmar em certo sentido que essa 
prática começou ainda no Antigo Testamento. Logo depois da volta do povo de Deus do 
exílio da Babilônia, os lideres Neemias e Esdras descrevem que não só houve leitura da lei, 
a Torá (que também pode ser traduzida por instrução de Deus), possivelmente os cinco 
primeiros livros da Bíblia, como se dava explicações sobre os textos lidos (Js 1; 2 Cr 34; Ne 
8.8). Igualmente um dos pilares da Igreja Cristã do Novo Testamento foi exatamente a 
perseverança no estudo bíblico (At 2.42; 17.11, 18.24-28; Hb 5.12-14; 2 Pe 1.19-21, 
3.2,18). O apóstolo Paulo em suas cartas admoesta para que haja crescimento no 
conhecimento (Cl 1.9) e Pedro faz o mesmo em sua epístola (2 Pe 3.18). 
É importante observar que a compreensão do conceito de estudo bíblico nesta obra 
está relacionado ao momento em que cristãos se reúnem em torno da palavra de Deus a fim 
de ler, estudar e explicar os textos bíblicos. Entende-se como estudo bíblico a leitura de uma 
parte da Bíblia e verificaro que Deus está realmente querendo dizer. Este é o seguro 
fundamento da Igreja Cristã e de cada cristão em particular. 
1.1 A Bíblia e seu uso – um breve histórico 
 Alguns pais da Igreja foram unânimes em afirmar que “a maneira normal para ser um 
cristão convicto e autêntico, era ler as Sagradas Escrituras”.3 Justino, Irineu, Tertuliano e 
Orígenes, não só esperavam que os adultos tivessem estudos bíblicos, mas também as 
crianças. A Bíblia era para eles o grande livro público do cristianismo e que deveria ser 
apresentado a todos, a fim de que as almas pudessem ser nutridas com a Palavra do 
Senhor. Policarpo escreveu à Igreja de Filipos: “eu acredito que todos estão sendo bem 
 
3
 Lutheran Cyclopedia. A Concise In-Home Reference for the Christian Family. Edited by Erwin L. 
Lueker, St. Louis, U.S.A., Concordia Publishing House, 1975, p.89. Disponível também no endereço 
<http://www.lcms.org/ca/www/cyclopedia/02/> 
http://www.lcms.org/ca/www/cyclopedia/02/
exercitados nas Santas Escrituras e que nada está sendo ocultado de vocês”. Isto implica 
estudo pessoal. A Bíblia é a melhor missionária da Igreja. 
 Porém, houve um declínio desta prática com o crescimento da institucionalização da 
Igreja. Pouco a pouco o laicato estava perdendo o contato com a Bíblia e se tronou por 
muito tempo um tesouro inacessível. No século XII houve uma tentativa de reavivar o estudo 
bíblico, mas sem sucesso. Até a própria Bíblia estava sendo afastada das mãos do povo. 
Isto aconteceu apesar da advertência de Jerônimo: “Ignorância da Escritura é ignorância de 
Cristo”. 
 No tempo da Reforma Luterana esse quadro mudou. Martinho Lutero 
freqüentemente incentivou a leitura das Escrituras. Uma das pressuposições básicas da fé 
protestante é capacitar o Sacerdócio Universal (os cristãos em geral) a ler e a interpretar a 
Bíblia. Nem sempre este princípio foi considerado. Havia bastante estudo “sobre” a Bíblia e 
pouco estudo “na” Bíblia. Matérias paralelas eram usadas em substituição ao estudo 
pessoal da Bíblia. 
 Nos tempos mais modernos um ímpeto especial ao uso das Escrituras foi 
providenciado pelo Pietismo, movimento de reavivamento da igreja do século XVII . O ícone 
principal dessa iniciativa foi A. H. Francke, com suas exposições bíblicas. Desde 1685 o 
estudo bíblico tem ocupado um lugar de destaque nas igrejas protestantes. Um outro fator 
que contribuiu para essa nova realidade foi a criação das Sociedades Bíblicas. 
 No início do século XX mais uma vez houve forças contrárias para a continuação do 
estudo da Palavra de Deus, especialmente por causa do surgimento do Liberalismo e 
Criticismo, que passou a ver a leitura da Bíblia mais do que como um outro livro, do que a 
Palavra revelada de Deus, do início ao fim. As duas guerras mundiais, a frustração do 
materialismo e avanços na educação estimularam novos esforços no sentido de chamar os 
cristãos de volta ao estudo da Bíblia. 
A Bíblia: o livro da fé e da vida 
 O termo “Bíblia” se origina de uma palavra grega no plural e que significa “livros”. 
São 66 livros que compõe as Escrituras Sagradas. Eles contam uma história de 
aproximadamente 1.100 a 1.500 anos. A Bíblia na verdade se trata de uma biblioteca 
composta por 66 volumes. Alguns desses “volumes” são cartas de apenas uma página, 
como é a Segunda Epístola de João, outros são longas elaborações, como o livro de Isaías 
no Antigo Testamento e o Evangelho de Mateus, no Novo Testamento. 
 Quando estes volumes são consultados individualmente, é possível perceber que 
Deus usou diferentes autores, gêneros literários e mesmo diferentes linguagens. São vários 
autores que escreveram originalmente em Hebraico [algumas passagens em Aramaico] e 
Grego. 
 Cada um dos livros da Escritura Sagrada tem uma mensagem proposta por Deus. 
Assim, podemos dizer que a Bíblia é a palavra de Deus para a vida e fé. Nela vamos 
encontrar ensinos doutrinários e conselhos para a vida diária. O fato é que a Bíblia como 
palavra de Deus ensina a viver bem e a morrer bem. Ela é luz que guia desde o nascimento 
até o último dia de nossa existência. 
1.2 Atributos e Propósitos da Palavra de Deus 
A Bíblia é a Palavra do Deus vivo em linguagem humana. Primeiro, é preciso notar o 
lado divino e humano das Sagradas Escrituras. Isto está revelado em 2 Pe 1.20-21; Jr 36.1-
2; 1 Co 1.1; 2.13. As Escrituras são em sua plenitude a palavra de Deus (Ef 3.2-5). O 
acesso às Sagradas Escrituras não está ancorado numa pretensão humana, mas na 
encarnação de nosso Senhor Jesus. Deus entrou no mundo com Cristo e isto está 
testificado pelos profetas e os apóstolos. Assim, a Escritura precisa ser entendida 
cristologicamente, ou seja, o centro da revelação de Deus é Jesus Cristo, pois elas revelam 
ao Filho, o Ungido de Deus e Salvador da humanidade, o caminho de volta à restauração da 
comunhão com Deus (Lc 24.26-27; 44-45). Além disso, suas palavras ensinam, corrigem, 
advertem (2 Tm 3.16) e através delas o Espírito Santo chama à fé (Rm 10.17), ilumina e 
santifica o povo de Deus (Cf. ainda Salmo 119). 
Atributos divinos das Escrituras 
 O que deve ser considerado quando se observa os atributos divinos das Sagradas 
Escrituras? Como palavra de Deus em palavras humanas, as Escrituras podem ser 
afirmadas como inspiradas, ou seja, elas são resultado da atividade do Espírito Santo nos 
escritores (2 Tm 3.16). 
a. Inspiração: a Bíblia é um livro inspirado por Deus e por isso tem a autoridade de Deus. 
Não há como determinar com exatidão como aconteceu o processo de inspiração, ou de 
que forma Deus revelou as palavras que ele determinou que os autores escrevessem. 
Porém, alguns aspectos podem ser observados; 
 Os autores foram “movidos” pelo Espírito de Deus (2 Pe 1.21); 
 O Espírito de Deus estava presente (Ez 12.1); 
 Aos autores foi ordenado a escrever e a falar (Jr 36.2); 
 Os autores foram “a boca” do Senhor. Eles falaram em nome dele (2 Co 13.3); 
 As palavras são divinas, mas parece que tudo parece ter seguido um processo 
natural. Paulo é o autor da carta aos Romanos (Rm 1.1), mas quem escreveu foi 
Tércio (Rm 16.22); 
 Paulo parece falar às vezes em seu próprio nome (1 Co 7.8-10); 
 Jeremias foi guiado por Deus, mas quem escreveu o texto foi Baruque (Jr 36.4) e 
essas palavras consideradas como simplesmente palavras de um homem (Jr 36.21-
24). 
É preciso manter essa tensão. Por um lado um anjo falou aos ouvidos dos autores as 
palavras a serem usadas, por outro os profetas e apóstolos pensaram, pesquisaram e 
usaram textos para, em nome de Deus, escrever a sua Palavra (Lc 1.1-4). 
b. Inerrância: como palavras de Deus elas estão livres de erros. Pode-se dizer que os livros 
da Escritura são assim como qualquer outro livro, mas sem erro. É importante notar o que 
esta inerrância não significa: 
 exatidão nas citações, tanto dos textos do Antigo Testamento, como das palavras do 
Novo Testamento (Mt 4.15-16; Is 9.1-2; Mt 3.17; Mc 1.11); Como é possível 
observar, há algumas leves diferenças, que de maneira alguma comprometem a 
mensagem de Deus. 
 exatidão na ordem de eventos registrados. Por exemplo, a seqüência das tentações 
em Mt 4.1-11 e Lc 4.1-13 são um pouco diferentes. 
 uso de figuras de linguagem, incluindo a hipérbole (Mt 3.5). 
Positivamente colocado, dizer que as Sagradas Escrituras são inerrantes4, é afirmar 
que seus autores são completamente fiéis aos seus propósitos pretendidos e a palavra de 
Deus é verdadeira5. 
Outros atributos e alvos das Escrituras Sagradas 
 Além da inspiração divina e por conseguinte a inerrância da Bíblia, podem ainda ser 
considerados como atributos e objetivos das Escrituras Sagradas, os seguintes itens. 
 A Palavra de Deus é: 
Indestrutível: Mt 24.35; 
Incorruptível: 1 Pe 1.23-25; 
Indispensável: Dt 8.3; Jo 23.12; Mt 4.4; 
Palavra inspirada de Deus: 2 Pe 1.20-21; 
 O Conteúdo da Bíblia é: 
A Redenção: Ef 1.3-14; 
Planejadapelo Pai: 1 Jo 4.9-10; 
Realizada pelo Filho: 1 Co 15.3-4; 
 
4
 Outro detalhe observado sobre esse assunto diz respeito às palavras de Jesus, afirmando a 
semente de mostarda como a menor de todas (Mc 4.31). Cientistas hoje dizem que a menor semente 
de todas é a das orquídeas (Opening the Book of Faith, 2008, p.21). Por isso, o conceito de inerrância 
da Bíblia não pode ser tomada simplesmente no sentido de não conter erros, mas de que os 
escritores foram fiéis e a palavra de Deus é verdadeira. 
5
 VOELZ, James. What Does This Mean? Principles of Biblical Interpretation in the Post-Modern 
World. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1995, pp.230-239. 
Revelada pelo Espírito Santo: Jo 16.7-11,13,14; 14.26; 
 Os propósitos da Bíblia são: 
Dar sabedoria que levam à salvação; ensinar a verdade; condenar o erro; corrigir as 
faltas; ensinar a conduta certa para a vida; preparar para as boas ações: 2 Tm 3.15-17; 
Produzir a fé salvadora: Rm 10.17; Jo 20.31; 
 As palavras de Deus foram designadas para: 
Apontar para Cristo: Jo 5.39; 
Pesquisar o coração: Hb 4.12; 
Iluminar e esclarecer o caminho das pessoas: Sl 119.105, 130; 
Vivificar: Sl 119. 50, 93; 
Regenerar: Tg 1.18; 
 A Palavra de Deus promove para aquele que nela medita: 
Um caminho puro: Sl 119.9; Jo 15.3; 
Ser sábio e simples: Sl 19.7; 
Crescimento: 1 Pe 2.2; Hb 5.12-14; 
Edificação na fé: At 20.32; 
Evita caminhos maus: Sl 17.4; 119.11; 
Permite prazer, alegria: Sl 119.111; 
Admoesta: 1 Co 10.11; Rm 15.4; 
Conforta: Sl 119.81; 
Dá vitória contra Satanás e as tentações: Mt 4.1-10 ; Ef 6.11-17; 
Realiza seus propósitos: Is 55.11; 
Ganha almas: Lc 8.4-15; 
Opera eficazmente nos cristãos: 1 Ts 2.13; 
1.3 Pressupostos no Estudo da Bíblia 
O que um leitor da Bíblia precisa pressupor antes de começar a leitura ou o estudo? 
As considerações a seguir são alguns dos pressupostos fundamentais para o correto estudo 
da Palavra de Deus: 
 A Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito Santo – At 1.16; 2 Pe 1.21. É a 
Palavra de Deus, mas em linguagem humana. 
 A Bíblia é a única norma (orientação) de fé e de vida. Ela nos mostra o que crer (em 
quem, em Jesus) e o que é agradável a Deus – 2 Tm 3.14-17; 
 Somos leitores cristãos. A Bíblia é o livro de Cristo, isto é óbvio no Novo Testamento 
– Jo 1.45; 5.39; Lc 24.27, 44. 
 O ensino e a iluminação do Espírito Santo não dispensam transpiração, ou seja, não 
é porque o Espírito Santo vai abrir o entendimento das Sagradas Escrituras, que isto 
dispensaria o estudo cuidadoso e o preparo de um estudo bíblico- Jo 14.26; 1 Co 
2.9-16; Mt 11.25-26; Sl 119.18. É verdade que Deus pode agir e abençoar uma 
interpretação imperfeita, mas o estudo persistente é indispensável e é um recurso 
abençoado por Deus. 
 O principal objetivo da Bíblia é revelar a Cristo e tornar seus leitores sábios para a 
vida e para a salvação pela fé no Filho de Deus – 2 Tm 3.14-17. A Escritura não é 
um livro de regras morais nem somente uma compilação de fatos históricos. 
 As palavras de Deus visam a salvação e para tanto elas são palavras de condenação 
e perdão, lei e evangelho, amargas e doces, más notícias e boas notícias, o que nós 
temos que fazer (e não conseguimos) e o que Deus fez e faz pelo seu povo (Ap 
10.8-11). Esta é para C. F. W. Walther, um teólogo americano do século XIX, em 
ordem de importância, a segunda doutrina mais importante. A primeira é a doutrina 
da justificação pela fé,6 ou em outras palavras, somos salvos unicamente pela graça 
de Deus, nem pelo que praticamos nem pelo que deixamos de praticar, mas pela fé 
em Jesus (Ef 2.8; Rm 3.24; Rm 5.18). A recomendação de separar bem a Lei e o 
Evangelho ecoa no conselho dado pelo apóstolo Paulo ao pastor Timóteo (2 Tm 
2.15). Saber separar entre Lei e Evangelho é uma arte e questão de extrema 
importância. “Para ser um teólogo ortodoxo, não basta que se exponham todos os 
artigos de fé em concordância com as Escrituras; é necessário, também, saber 
diferenciar corretamente lei e evangelho”; “Distinguir corretamente lei e evangelho é 
a mais difícil e a suprema arte que se apresenta aos cristãos em geral e, em 
especial, aos teólogos. Essa arte é ensinada exclusivamente pelo Espírito Santo, na 
escola da experiência”; “A Palavra de Deus não é aplicada corretamente, quando a 
lei deixa de ser pregada em todo o seu rigor e o evangelho, em toda sua doçura; 
quando, ao contrário, componentes do evangelho são adicionados à pregação da lei, 
e componentes da lei são adicionados ao evangelho.”7 
 Abrir e estudar a Bíblia é um privilégio, não é pré-requisito para a salvação. Por essa 
palavra há consolo, exortação e ensino – Pv 12.25; 
 Não existe interpretação oficial de todos os texto bíblicos. A Palavra é infalível, mas 
nenhum indivíduo ou igreja pode afirmar essa infalibilidade; 
 A Bíblia é clara, ainda que haja passagens ou assuntos mais complicados. Há alguns 
textos considerados problemáticos na interpretação: Gl 3.20 – 1 Co 15.29; 1 Co 
11.10; 1 Pe 3.19; 2 Ts 2.3 (cf. 2 Pe 3.16). Ao teólogo cabe também, em algumas 
vezes e em relação a alguns textos, silenciar. De fato a própria palavra de Deus 
 
6
 WALTHER, C. F. W. Lei e Evangelho. Tradução de Vilson Scholz. Porto Alegre: Editora Concórdia, 
1998, p. 17. 
7
 Idem, p.13. 
afirma que há certas coisas de difícil compreensão e que pode gerar deturpações da 
verdade (2 Pe 3.16). 
 A Bíblia não se contradiz e se interpreta a si mesma. Um dos equívocos na 
interpretação de textos bíblicos é pinçar textos isolados e formular doutrinas baseadas 
neles e usá-los fora do seu contexto ou sem levar em consideração a Bíblia como um 
todo. 
Depois de terminada a tarefa exegética, as descobertas precisam ser 
relacionadas ao pensamento de todo o cânon das Escrituras (Analogia Fidei). Esse 
conceito entra em cena no processo interpretativo, depois que já foi estabelecido o 
significado particular da passagem em relação ao seu contexto imediato e do livro 
estudado. 
 A Bíblia não é um livro misterioso, Deus quer ser entendido e comunicar sua 
mensagem. A tarefa é descobrir o sentido literal. O que o texto está dizendo. Isto não 
significa um literalismo absoluto, pois o tipo de linguagem também pode interferir. 
Exemplos: Mc 16.17-18; Ez 2.6; Mt 10.16; 
 A Bíblia é revelação progressiva. O Novo Testamento interpreta o Antigo 
Testamento. As leis cerimoniais, por exemplo, o que não foi reinstituído no Novo 
Testamento, está abolido pela obra de Cristo Cl 2.16-19. 
1.4 A Relação entre o Antigo e o Novo Testamento 
Um dos princípios muito importantes na interpretação das Escrituras é pressupor a 
unidade dos dois testamentos. Em diferentes épocas esse tema foi articulado de forma 
diversificada. 
Marcião foi um dos mais proeminentes críticos. Em sua visão dualista, ele rejeita o 
Antigo Testamento, pois nele estaria revelado o Deus Justo, enquanto no Novo Testamento, 
o Deus bom, através de Jesus Cristo. 
Será que existe diferença entre a teologia do Antigo e a do Novo Testamento? A 
resposta é não. A teologia do Antigo Testamento é essencialmente a mesma do Novo 
Testamento. Há descontinuidades, mas a ênfase está na continuidade e unidade. Há 
diferenças cronológicas8, mas a essência do evangelho é mantida (Dt 7.7-8 – Jo 3.16). Os 
chamados e as escolhas de Deus não estão baseadas supostamente em méritos humanos, 
mas em seu amor, pois Deus é essencialmente amor (1 Jo 4.8). Jesus Cristo não é 
mencionado no Antigo Testamento, mas implicitamente ele está presente. 
Tipologia 
 
8
 HUMMEL, Horace. How to Preach the Old Testament. The Concordia Pulpit, Saint Louis: Concordia 
Publishing House, 1996, p.2 
 Como podemos ver essa continuidade na teologia dos dois testamentos? Um dos 
princípios utilizados para fundamentar a unidade dos dois testamentosé conhecido como 
“tipológico”. Algo relacionado a tipo e antítipo. “Anti”, não no sentido de “contra”, mas de 
correspondência, uma figura que representa a outra. Ou então, uma figura é sombra da 
outra. Tecnicamente podemos citar três tipos de situações em que podemos observar esse 
caráter tipológico e que fundamenta a unidade dos dois testamentos. 
a. Eventos: A Criação de Deus (Gn 1); os novos céus e a nova terra (2 Pe 3.13); o dilúvio 
(Gn 6); Batismo (1 Pe 3.21); Êxodo/Páscoa (Ex 12); libertação, ressurreição (Jo 20); 
Guerras/Israel (Js 10-12); batalha contra as forças espirituais do mal (Ef 6.12); Caminhada 
pelo deserto (Nm 10.11-28); peregrinos, forasteiros (1 Pe 2.11). 
b. Pessoas: Adão, Moisés, Josué, Juízes – Jesus Cristo (Rm 5.14, Hebreus). 
c. Lugares/cerimoniais: Jerusalém – Hb 12.22; Sacrifícios do Antigo Testamento, 
circuncisão, Israel (Cl 2.11-12; Gl 6.16). 
 Há ainda outros elementos que podem ser observados sobre esse assunto. O 
primeiro, é que a Bíblia da Igreja Primitiva (pelo menos nos primeiros 100 anos) foi o Antigo 
Testamento. Os primeiros cristãos tinham acesso à versão grega, denominada de 
Septuaginta (LXX)9. O segundo ponto a ser lembrado é sobre o uso que Jesus fazia do 
Antigo Testamento. Com freqüência ele o citava e outras vezes o reinterpretava (Mc 12.26, 
35). Mas é no evangelho de Mateus que mais se destaca essa íntima relação e unidade do 
Antigo e do Novo Testamento (Mt 1.23; 2.6; 3.3, por exemplo). Outro exemplo vem do 
apóstolo Paulo. Ele lembrava fatos ocorridos e descritos no Antigo Testamento e concluía 
que estes se tornavam exemplos para os cristãos de todos os tempos. 
A presença do Filho de Deus no Antigo Testamento 
 Há ainda outra forma de ver a unidade teológica dos dois testamentos. Também se 
fala em presença real do Filho antes de Cristo, ou seja, Jesus, o Filho, estaria de fato 
presente no Antigo Testamento. Como colocar esse princípio em prática? 
 Olhar para as profecias messiânicas? Como as do profeta Isaías, por exemplo? (Is 
11.1-4; Is 53); 
 Adotar o princípio da tipologia? Como nós vimos acima. 
 Ou citar textos que implicitamente são referências à trindade? Gn 1.26; Is 6.8 
 Um dos aspectos da presença do Filho antes de Cristo é visto na relação da teofania 
com o Filho de Deus. O pressuposto é de que jamais alguém viu a Deus (Jo 1.18; 1 Tm 
 
9
 LXX é a abreviatura ou símbolo para a tradução do Hebraico para o Grego do Antigo Testamento. O 
trabalho teria sido feito por 70 tradutores (alguns afirmam terem sido 72), por isso LXX. O pedido de 
tradução foi de Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C.), a fim de que fosse disponibilizada na Biblioteca de 
Alexandria. Ainda que possa haver variáveis sobre as informações deste trabalho, o certo é que a 
LXX foi adotada pelos judeus de fala grega e usada pelos escritores do Novo Testamento ao citar o 
Antigo Testamento. 
1.17; 6.15-16; 1 Jo 4.12), pois o pecador não pode ver a Deus Ex 33.20, mas os textos de 
Gn 32.30; Jz 6.22 relatam episódios em que houve quem tivesse visto a Deus. Se essa 
lógica estiver correta, então nessas ocasiões quem foi visto foi o próprio Filho de Deus. Há 
também detalhes interessantes sobre a figura do “Anjo” no Antigo Testamento (Gn 16.7-12; 
21.17-18; Ex 3; Ex 23.20-22; 1 Co 10.4)10, que podem colaborar para confirmação deste 
fato. 
1.5 Atividades de auto-estudo 
1. Um dos pressupostos fundamentais para o correto estudo da Palavra de Deus é de que 
“o ensino e a iluminação do Espírito Santo não dispensam transpiração”, ou seja, não é 
porque o Espírito Santo que vai abrir o entendimento das Sagradas Escrituras, que isto 
dispensaria o estudo e o preparo cuidadoso de um estudo bíblico. É verdade também, que 
Deus pode agir e abençoar uma interpretação imperfeita, mas o estudo persistente é 
indispensável e é um recurso abençoado por Deus. 
Descreva em no mínimo 5 e no máximo 8 linhas, a relação entre a obra do Espírito Santo e 
o papel humano na elaboração de um estudo bíblico: 
2. O propósito principal das Escrituras segundo o próprio Cristo em João 5.39 e Lucas 
24.44 é revelar e apontar para Ele mesmo, o Filho de Deus. Além disso, o texto de 2 
Timóteo 3.14-17 reforça a idéia de que a Escritura não é simplesmente um livro de regras 
morais nem somente uma compilação de fatos históricos. 
Faça uma avaliação descritiva, em pelo menos 5 linhas, sobre o significado prático disto no 
estudo da Bíblia, na aplicação e proclamação de estudos bíblicos, mensagens, sermões? 
3. Para os pais da Igreja a maneira normal para ser um cristão convicto e autêntico é: 
a. tornar-se um freqüentador assíduo do templo; 
b. cumprir plenamente os Dez Mandamentos; 
c. pôr em prática em sua perfeição a lei do amor; 
d. Ouvir e ler as Sagradas Escrituras; 
Resposta “d” 
4. Um dos princípios básicos de interpretação bíblica é de que a Escritura Sagrada precisa 
ser entendida cristologicamente, ou seja, o centro da revelação de Deus é Jesus Cristo, por 
que: 
a. elas revelam ao Filho, o Ungido de Deus e Salvador da humanidade; 
 
10
 GIESCHEN, Charles A. The Real Presence of the Son Before Christ: A New Approach to Old 
Testament Christology. Concordia Theological Quarterly, Volume 68, N
o
2, 2004, pp.105-126. 
Disponível em: <http://www.ctsfw.net/media/pdfs/gieschenrealpresence.pdf>. 
b. o próprio Cristo ensinou isto em passagens como Lucas 24.26-27; 44-45 e João 5.39; 
c. as palavras de Deus visam a salvação da humanidade; 
d. todas as opções anteriores respondem a questão; 
Resposta “d” 
5. Inerrância é um dos atributos da Escritura Sagrada que significa: 
a. que como palavras de Deus há exatidão nas citações, tanto dos textos do Antigo 
Testamento, como das palavras do Novo Testamento; 
b. que seus autores foram completamente fiéis aos propósitos pretendidos e a palavra de 
Deus é verdadeira; 
c. que há uma exatidão absoluta na ordem de eventos registrados; 
d. que não houve o uso de figuras de linguagem, como a hipérbole, por exemplo; 
Resposta “b” 
Referências Bibliográficas do capítulo 
BRAKEMEIER, Gottfried. A Bíblia e a nossa vida. Enfoques Bíblicos. São Leopoldo: 
Sinodal, 1987. 
JACOBSON, Diane; POWELL, Mark Allan; OLSON, Stanley N. Opening the Book of Faith. 
Lutheran Insights for Bible Study. Minneapolis: Augsburg Fortress, 2008. 
WEBER, Hans-Ruedi. Bíblia: o livro que me lê – Manual para estudos bíblicos. Tradução 
de Marcelo Schneider. São Leopoldo: Sinodal, 1998. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. A tarefa e a arte da Interpretação 
Introdução 
O que é interpretar? Em palavras simples e objetivas poderíamos responder que 
interpretar é chegar à verdade ou ao entendimento do que está sendo lido. O elemento 
complicador em grande parte tem sido o conceito de verdade, pois ele tem variado ao longo 
dos anos. O alvo principal deste capítulo é tratar sobre alguns detalhes relacionados à 
interpretação da palavra de Deus, a fim de que o estudante seja habilitado a discernir 
necessários princípios de interpretação na leitura e estudo da Bíblia. 
A verdade do Pré-Modernismo ao Pós-Modernismo 
No Pré-Modernismo e no Modernismo a superioridade da razão prevalecia. Ou seja, 
havia possibilidade de explicar o que estava sendo investigado. No Pós-Modernismo esse 
conceito começou a mudar. Apenas poderia existir uma explicação parcial do que estava 
sendo estudado. Não haveria mais uma verdade objetiva e absoluta, mas em construção e 
relativa. Em outras palavras, “depende do meu ou do seu ponto de vista”. 
Será que podemos aceitar e seguir essa ideia na interpretação de um texto? Talvez 
de maneira geral a resposta até pudesse ser sim, mas em se tratando de documentos, é 
preciso ter princípios para interpretá-los, a fim de que se chegue ao propósito original do 
autor de um texto, aqui no caso, da Bíblia Sagrada. A interpretação de textos bíblicos 
envolve a utilizaçãode recursos envolvendo o estudo da linguagem, contexto histórico, 
objetivos dos autores e leitores originais. Porém, o seu uso está condicionado a princípios 
de interpretação que orientam a leitura da Bíblia. 
2.1 Aspectos gerais na história da interpretação bíblica 
Ser familiarizado e compreender aspectos da história das interpretações podem ser 
de significativo auxílio no estudo das Escrituras. Podem servir como advertência para não 
incorrer nos mesmos equívocos do passado; podem ajudar a refletir sobre influências que 
geraram mal-entendidos da palavra de Deus; podem também criar familiaridade com bons 
intérpretes da igreja primitiva e assim seguir seus passos. 
Walter Kaiser Jr. lembra que independentemente da motivação para esse contato 
com o passado, o estudo de suas obras pode poupar ao estudioso da Bíblia a perda de 
tempo ao tentar seguir por trilhas que sabidamente não levaram a lugar nenhum. Poderia se 
afirmar que desde o princípio e em certas ocasiões houve dificuldades para captar a correta 
compreensão da palavra de Deus. Os profetas tiveram essa reclamação já no Antigo 
Testamento (Jr 5.21; Is 6.10; Ez 12.2) e no Novo Testamento o apóstolo Paulo chama 
atenção dos Tessalonicenses pela falta de estabilidade no recebimento do ensino (2 Ts 
2.2).11 
Escola de Alexandria 
 Ainda que esse assunto pudesse começar com as tendências hermenêuticas no 
judaísmo, a preferência foi iniciar pelos pais da igreja cristã primitiva. O primeiro professor 
da Escola de Alexandria foi Titus Flavius Clemente. Ele adotou a interpretação alegórica da 
Bíblia. Seu argumento principal era de que as Escrituras escondem o sentido e são 
enigmáticas. O lema desta escola era “a menos que você acredite, você não irá 
compreender”, baseado numa tradução e aplicação duvidosa de Is 7.9, na Septuaginta 
LXX12. 
 Orígenes foi um discípulo de Clemente e seguindo o método alegórico, declarou que 
as Escrituras tinham um sentido triplo: corpóreo ou carnal, físico e espiritual. Em termos 
práticos, a pessoa mais simples pode ser edificada pela carne das Escrituras (o 
entendimento mais óbvio, primário-literal); a pessoa em estágio intermediário, pela alma das 
Escrituras; e aquele que é experimentado aproxima-se das palavras de Paulo em 1 Co 2.6-
7. Esse será beneficiado pela lei espiritual das Escrituras e que possuem “sombra dos bens 
vindouros” (Hb 10.1).13 
 Orígenes foi o primeiro na história da Igreja a elaborar e expor uma teoria de 
interpretação bíblica. Seu princípio básico é a alegoria, influências de Philo e do Platonismo. 
Seu ponto é de que as Escrituras escondem o sentido e por trás do significado literal do 
texto, há um significado mais profundo do texto.14 
 O método alegórico está fundamentado em cima do ensino das correspondências. 
Os acontecimentos ou objetos naturais e terrenos, vêm acompanhados de um objeto ou 
acontecimento análogo correspondente e de natureza celestial ou espiritual. Toda a história 
secular é uma alegoria e descrição de coisas espirituais e celestes.15 
Na interpretação alegórica, as passagens na Escritura que tratam de fatos históricos 
ou falam de coisas terrenas têm um significado mais profundo do que o literal. Exemplo: o 
relato da embriagues de Noé em Gn 9.20-27. Nesse caso, um sentido mais profundo é a 
intenção do autor e o caráter literal da história é rejeitado. 
 Outro exemplo desse tipo de interpretação é a entrada triunfal de Jesus em 
Jerusalém, relatada em Mateus 21.2-7. Para Orígenes esse fato é indigno para o Filho de 
 
11
 KAISER JR., Walter C. e SILVA Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. Tradução de Paulo 
César Nunes dos Santos, et alii. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 203 
12
 Para o significado de LXX, cf. nota 9, capítulo 1. 
13
 KAISER JR, op. cit., pp.210-211. 
14
 FEE, Gordon D. e STUART, Douglas. Entendes o que Lês? Tradução de Gordon Chown. São 
Paulo: Vida Nova, 2008, p.239. 
15
 KAISER, JR., op. cit., p. 212. 
Deus. É inconcebível que Jesus tenha necessitado de uma jumenta e de um jumentinho. 
Por isso o relato deve ser alegorizado. Jesus, como palavra de Deus faz entrada na alma; 
jumento, sentido literal do Antigo Testamento; jumentinho, sentido literal do Novo 
Testamento. Ambos se tornam os veículos da palavra de Deus ao serem soltos pelos 
discípulos.16 
 Parece possível até a existência de listas de equivalências alegóricas para os 
teólogos pertencentes à escola de Alexandria. Dentre eles pode se citar: Jo 2.1: “dias” são 
Cristo; “três” é a fé; “um casamento” é o chamado aos gentios e “Caná” é a Igreja. Em Pv 
10.1, as equivalências alegóricas são: “filho sábio”, apóstolo Paulo; “pai”, é o salvador; “filho 
insensato”, Judas Iscariotes; “mãe”, a igreja.17 
Escola de Antioquia 
 Em oposição a esse tipo de abordagem ou de interpretação do texto bíblico, surgiu a 
escola de Antioquia. Os principais líderes foram Teodoro de Mopsuesta, o maior exegeta da 
igreja antiga e João Crisóstomo, o maior pregador.18 O lema dessa escola era a theoria, ver, 
observar. Nesse caso, o sentido espiritual não pode ser separado do sentido literal. O alvo 
era preservar a integridade da história e do sentido natural da passagem bíblica. Isto, em 
outras palavras, é o método histórico-gramatical. 
A idéia era evitar dois perigos: excesso de literalidade ou de alegoria.19 O sentido 
literal deve ser mantido, a não ser que fique claro a utilização alegórica, como em algumas 
parábolas. Na interpretação dos escritos era importante considerar os hábitos, objetivos e 
métodos de cada autor, pois o impulso divino na inspiração era sobre a consciência e a 
inteligência do escritor. O sentido literal tinha primazia e dele tinham que ser tiradas lições 
morais, os sentidos tipológico e alegórico, eram considerados secundários.20 
Escola do Ocidente 
 O método de interpretação desta escola incluía elementos da escola alegórica de 
Alexandria, bem como de Antioquia. Os principais nomes dessa escola foram Jerônimo, 
conhecedor do grego e do hebraico, tradutor da Bíblia Vulgata e Agostinho, especialista em 
organizar as verdades bíblicas. 
 A marca principal da interpretação bíblica nesse período era o modelo quádruplo, ou 
seja, cada texto bíblico teria quatro sentidos. Histórico-literal, alegórico, tropológico (moral) e 
anagógico (místico ou escatológico). A ilustração é com a cidade de Jerusalém, por 
 
16
 FEE, STUART, op. cit., p.239. 
17
 KAISER, JR., op. cit., p.212. 
18
 FEE, STUART, op. cit., p.240. 
19
 KAISER, JR., op. cit., p.213. 
20
 FEE, STUART, op. cit., p.240. 
exemplo. Literalmente é a cidade dos judeus; alegoricamente é a igreja; tropologicamente é 
a alma e anagogicamente é o lar celestial. 
No tempo da Idade Média até o período da Reforma, a Bíblia era interpretada como 
tendo um sentido quádruplo: literal, alegórico, moral e anagógico. Exemplo: Ex 20.8. O 
“Sábado” aqui teria quatro sentidos: a) O 7.º dia deve ser guardado; b) Cristo descansou no 
túmulo; c) O cristão deveria descansar do pecado; d) O verdadeiro descanso nos espera no 
céu.21 
 Outro fator que ganhou importância nessa época (500-1500) foi o princípio de que a 
interpretação da Bíblia tinha que se adaptar às tradições e doutrina da igreja.22 Uma das 
figuras importantes deste período foi Stephen Langdom (1150-1228), arcebispo de 
Cantuária. Foi ele quem efetuou a divisão da Bíblia em seus capítulos atuais. Mas sua 
interpretação dos textos bíblicos foi no sentido de enquadrá-los nas doutrinas da igreja. 
 O nome mais importante nesse período foi Tomás de Aquino (1225-1274). Por um 
lado ele defendeu o sentido literal como base para todos os outros sentidos da Bíblia, por 
outro lado ele argumentou que o intérprete deve prestar atenção num sentido simbólico, 
visto que as coisas celestes não podem ser expressadas em palavras terrena sem o uso 
desse simbolismo.23A interpretação bíblica no período da Reforma Luterana 
 Essa época é considerada como um tempo em que a Bíblia foi “desacorrentada”, a 
fim de que ela pudesse falar por si mesma. De início, Lutero também seguia o modelo 
básico de interpretação da Idade Média, ou seja, a alegorização das Escrituras, porém mais 
tarde, ele insistia no sentido literal do texto como a única base sólida para a interpretação 
bíblica. Para Lutero as alegorias são inadequadas para a leitura da Bíblia.24 
 Uma outra grande diferença era no sujeito capaz de ler as Escrituras. Enquanto na 
Idade Média a interpretação era confinada ao clero, os reformadores afirmaram que a Bíblia 
é acessível e compreensível a todos. O Espírito Santo é o escritor mais simples e suas 
palavras não podem ter mais do que um sentido, o sentido literal das Escrituras. O padrão 
exegético de Lutero apontava para o estudo das línguas originais, buscando descobrir o 
sentido primário, histórico e gramatical.25 
 Somente a Escritura. Este é o princípio formal da teologia da Reforma Luterana. A 
norma para as doutrinas não é encontrada nas tradições da igreja, mas sola Scriptura, 
 
21 Lutheran Cyclopedia. Edited by Erwin L. Lueker, St. Louis, U.S.A., CPH, p.286. 
22
 KAISER, JR., op. cit., pp.214-215. 
23
 Idem, p.215. 
24
 Idem, p.216. 
25
 FEE, STUART, op. cit., pp.241-242, KAISER, JR., op. cit., p.216. 
somente nas Escrituras. E nesse princípio vem embutido o sentido literal como sendo a 
única base sólida e adequada para a exegese. 
A interpretação da Bíblia no período posterior à Reforma 
 As duas escolas ou movimentos mais significativos foram o Pietismo e o 
Racionalismo. O primeiro foi uma reação ao dogmatismo e à falta da prática cristã piedosa 
dos estudiosos bíblicos. No entender de pietistas, a Bíblia era usada apenas para confirmar 
doutrinas. 
 Embora tivesse sido um movimento de reação, é preciso considerar como positivo o 
modelo de estudo da Bíblia proposto, visando uma compreensão adequada do texto e sua 
proclamação. 1.o passo: estabelecer o texto; 2.o passo: elucidar o sentido das palavras; 3.o 
passo: observar o contexto; 4.o passo: considerar o contexto bíblico; 5.o passo: descobrir 
informações do contexto histórico; 6.o passo: ver o sentido do texto como um todo; 7.o 
passo: aplicação homilética (proclamação). 
 O Racionalismo tem sua manifestação especialmente no método histórico-crítico.26 A 
pretensão foi tornar os estudos bíblicos científicos, fruto em grande parte do Iluminismo. A 
partir desse modelo, tudo o que é incompatível com a razão humana deveria ser descartado. 
A Bíblia passou a ser vista como um livro iguail aos demais e conceitos teológicos, como da 
inspiração, deveria ser ignorado. 
 Nessa linha também surgiu a crítica da forma, que visava demonstrar que a literatura 
bíblica tinha origem em contextos históricos definidos e alguns relatos seriam inexatos. 
Mais recentemente Rudolf Bultmann sacudiu com princípios de interpretação bíblica. 
Para ele a revelação deveria ser desvinculada da história e por isso deveria haver pouco 
interesse pelo Antigo Testamento. A título de exemplo, usando esse pensamento, a 
desmitologização, E. L. Allen considerou como removíveis os seguintes conceitos no Antigo 
Testamento: a) O conceito da eleição de Israel por Deus, como povo escolhido. Isto seria 
nacionalismo e racismo; b) O conceito do Deus pessoal, ciumento, pois é inapropriado 
empregar termos pessoais a suas ações para com os seres humanos, apenas o contrário é 
possível.27 Sua era remover supostos “mitos” antigos e ler a mensagem da Escritura numa 
forma relevante para a mente moderna. 
 
26
 Esse método geralmente é avaliado como estando mais preocupado em identificar as fontes 
literárias e contextos sociais que deram vida aos textos, do que os textos bíblicos que podem 
normatizar a vida dos leitores contemporâneos e da igreja. Em resumo, esse modelo de interpretação 
enfatizaria mais sua lealdade a teorias atuais de composição de textos e como eles surgiram, do que 
o texto em todas as suas partes e o que realmente quer dizer (KAISER Jr., 2002, pp.30-31). Uma 
avaliação do Método Histórico-Crítico está no Apêndice 2 (pp.244-247), escrito por Enio Ronald 
Mueller, no livro Entendes o que lês, da Editora Vida Nova (cf. referência bibliográfica do capítulo). O 
livro está em sua segunda edição e foi reimpresso em 2008. 
27
 LIVINSGTON, Herbert G. The Pentateuch in its Cultural Environment. Grand Rapids, Michigan: 
Baker Book House, 1987, p.203. 
2.2 A Interpretação da Bíblia 
Há diferentes tipos de leitura: leitura para informação; leitura para lazer e leitura para 
compreensão. Quando a leitura é da Bíblia, exige-se uma leitura que leva à compreensão e 
percepção do texto. Isto significa entender as palavras, frases e parágrafos. Por isso, ler 
para apreender o conteúdo demanda leitura lenta, no caso da Bíblia, um elemento facilitador 
é o estudo em diferentes traduções disponíveis e com anotações. 
Isto já não bastaria para uma leitura e explanação proveitosas da palavra de Deus? 
Por que é preciso falar em princípios para ler e explicar a Bíblia? Antes de tudo, é preciso 
admitir que se existem problemas na interpretação bíblica, eles não são da Bíblia, mas 
daqueles que a leem. É verdade também que a Bíblia não é um livro obscuro e que 
dependeria de profissionais para ser compreendido. 
Uma resposta possível a esses questionamentos é que a Bíblia se trata de um livro 
divino e assim exige alguns critérios para lê-la de forma adequada. Em se tratando de textos 
bíblicos não é possível concordar com a frase “essa é a sua ou a minha interpretação”. 
Declarar simplesmente uma opinião particular sobre um texto bíblico desmente o conselho 
dado pelo próprio Deus. Ao longo das Escrituras Sagradas, há algumas referências a textos 
que exaltam a necessidade de se buscar a excelência na interpretação da palavra de Deus 
e da responsabilidade envolvida nessa prática. O conselho dado pelo escritor de Apocalipse 
(Ap 22.18-19) pode até se referir de maneira específica ao último livro da Bíblia, mas 
existem outros textos que possuem essa mesma orientação (Pv 30.5-6; 2 Tm 2.15; Tg 3.1). 
É verdadeira a observação de que ninguém é capaz de falar de maneira 
absolutamente clara e compreensível em todas as ocasiões, a não ser o próprio Deus. Na 
verdade não se pode deixar de lembrar que o princípio básico que rege a interpretação das 
Escrituras, é que ela interpreta a si mesma e que o cristão tem a iluminação do Espírito 
Santo para ler e estudar a Palavra (1 Jo 2.27). 
Porém, a Bíblia é um livro divino e humano ao mesmo tempo e por isso é preciso 
olhar para alguns detalhes decisivos para sua interpretação. Há aspectos linguísticos e 
culturais que não nos são tão familiares, bem como ações e mesmo palavras que 
necessitam observação especial. Além disso, existem ainda nos livros da Bíblia diferentes 
gêneros literários e que nem sempre são do nosso domínio completo. 
Fundamentalmente a Bíblia é um livro bastante simples e claro. Entretanto, como 
leitores nem sempre possuímos o conhecimento suficiente e adequado para nos 
aproximarmos do texto e tirar dele e de maneira completa o sentido e os propósitos do texto. 
Antes de enumerar algumas regras que podem ser observadas na interpretação da palavra 
de Deus, podem ser lembrados alguns propósitos últimos de uma interpretação saudável: a. 
entender as palavras da Escritura e a mensagem que elas conduzem; b. estabelecer uma 
conexão da cultura dos tempos bíblicos à do mundo contemporâneo, sem perder a essência 
da mensagem; c. ter um fundamento seguro para a fé, doutrina e vida cristãs, tanto para o 
cristão individualmente, bem como para a igreja. 
Estas são algumas das razões que compeliram cristãos através dos séculos a buscar 
uma interpretação que é saudável bíblica e teologicamente,bem como honesta e válida 
intelectualmente.28 O alvo da interpretação correta é simplesmente chegar ao sentido claro 
do texto. 
Princípios Gerais de Interpretação Bíblica 
É preciso princípios de interpretação? Não bastaria a leitura dos textos bíblicos? O 
sentido de um texto não vem pela leitura? Essa última pergunta poderia ser respondida de 
certo modo com um sim e um não. A razão principal de se aprender a interpretar é porque 
um leitor é também um intérprete. Quando lemos nós passamos a entender de algum modo 
o que está sendo lido. E nesse nosso entendimento incorporamos nossas experiências, 
nossa forma de ver as coisas, cultura e compreensão de palavras e ideias. E é aí que reside 
o detalhe problemático de equiparar a simples leitura de um texto com a sua compreensão 
plena. 
Um exemplo dado é sobre o texto de Rm 13.14 e o conceito de carne. É verdade que 
traduções mais modernas facilitam sua compreensão, mas “carne” aqui não se refere ao 
corpo, como poderia se supor, mas aos “apetites físicos”, ou a natureza pecaminosa do ser 
humano.29 
A natureza da Escritura Sagrada demanda princípios para ler e interpretar bem. Por 
ser palavra de Deus, sua relevância é eterna. Porém, ela é humana nas palavras e nos 
personagens. A seguir, alguns princípios básicos que devem ser levados em conta na tarefa 
de interpretar a palavra de Deus. 
 Um dos primeiros elementos a ser considerado é tratar o texto bíblico do ponto de 
vista histórico-gramatical, usado desde o tempo da escola teológica de Antioquia. 
Esse método procura valorizar o fato de Deus ter se revelado na história em palavras 
humanas. Em termos práticos isto significa ouvir o texto como as pessoas do 
primeiro século o compreendiam. 
 
28
 Aqui é necessário refletir no fato de que existem assuntos na Bíblia em que a razão precisa “calar”. 
O próprio apóstolo Paulo diz aos Coríntios que a salvação de Deus através da cruz de Cristo é 
loucura (1 Co 1.18-25). Também não se encaixa racionalmente a idéia que cristãos devem dizer não 
para seus interesses particulares e serem servos de Cristo e uns dos outros (Mc 8.34-38; 10.43; Fp 
2.1-7). Porém, Deus também não espera que um intérprete da sua palavra desligue o seu cérebro e 
simplesmente creia em tudo, mesmo no que não faz sentido algum. Ler e interpretar a palavra de 
Deus também envolve cuidadoso estudo, a fim de checar se as coisas de fato são assim e a Bíblia foi 
entendida de maneira adequada. A razão, quando usada apropriadamente, também é uma dádiva do 
alto para conduzir à verdade (Opening the Book of Faith, p.25-26). 
29
 FEE, E STUART, op. cit., pp.13-15. 
 Também é preciso ler a passagem dentro do seu contexto. Esse princípio vale para 
toda a literatura, mais ainda a Bíblia. As Escrituras não podem ser tratadas como 
uma coleção de passagens isoladas. O alvo é compreender o todo a fim de apreciar 
e entender as partes, ou então compreender as partes para apreciar o todo. 
Precisam ser observados principalmente os contextos do texto (o que vem antes e o 
que segue), do livro da Bíblia e contexto histórico. 
 Importante ainda é observar o gênero literário que estou lendo. Os diferentes 
gêneros literários exigem atenção diferenciada. Um Salmo não pode ser lido e 
explicado como uma parábola, por exemplo. Os principais gêneros literários são: 
Narrativa Histórica, Poesia, Sabedoria Hebraica, Profecia, Parábola, Epístola e o 
Apocalipse. Na leitura da Bíblia é necessário aprender a aplicar regras especiais a 
cada uma dessas formas literárias. 
 Identificar o contexto histórico e cultural de um livro também é um auxílio na 
interpretação. Quem escreve, para quem, com que propósito, de que forma, o que 
estava acontecendo na época. O desafio é ler o texto como se fôssemos 
contemporâneos daqueles primeiros leitores. Em termos culturais há palavras e 
imagens que precisam ser dissecadas e esclarecidas. 
 Ainda vale a recomendação de que a própria Escritura é a sua melhor intérprete. A 
fim de evitar interpretações subjetivas (humanas), um outro princípio, que pode ser 
considerado como primário, é deixar com que a própria Escritura estabeleça o 
ensino. O que quer dizer isso? Primeiro, que fora da Bíblia realmente não se pode 
definir uma verdade. Deus tem a última palavra e não tradições humanas (Mt 15.3; 
Cl 2.8). Segundo, toda passagem bíblica deve ser iluminada pelo ensino da Escritura 
como um todo. Isso diz respeito particularmente àquelas passagens de compreensão 
mais difícil, mas é um critério que deve ser aplicado em todos os textos. 
Autor, texto e leitor – palavras e ações 
No caso da Escritura Sagrada, podem existir pelo menos três aspectos envolvidos no 
processo de interpretação. Autor, texto e leitor. No caso do autor, mesmo que em alguns 
casos haja algum grau de dificuldade para determiná-lo, tem o seu valor saber quem 
escreveu determinado texto. Também é fundamental se ater àquilo que é básico, o texto em 
si, ou o significado das palavras. Porém, é preciso ainda considerar que o texto revela 
também ações, cujo significado pode não ser claro por si só e que também interfere na 
interpretação do texto. 
Jesus caminhando sobre a água por exemplo (Mt 14.22-33), ou o sacerdote e o 
levita passando do outro lado da estrada, na história do Bom Samaritano (Lc 10.25-34). 
Também é significativo considerar os receptores do texto. O que estava acontecendo na 
época, sob quais circunstâncias o texto lhes foi encaminhado. 
Aqui é preciso lembrar que, de maneira geral, o sentido de um texto está na 
superfície. Não há necessidade de escavar. Não é preciso zelar pela originalidade na 
interpretação, como se as verdades estivessem nessa escavação. O alvo do estudo bíblico 
não é a originalidade em termos de inovação na interpretação, mas apresentar o que o texto 
ensina de forma mais profunda possível. 
 É justificável, contudo, o propósito de buscar reflexões sobre a aplicação de 
melhores técnicas de estudo e de instruções sobre princípios hermenêuticos bíblicos 
saudáveis para a elaboração e condução de estudos bíblicos, cuja meta por sua vez, é a 
edificação do povo de Deus através do evangelho do Senhor Jesus Cristo, o cerne das 
Santas Escrituras. 
2.3 Atividades de auto-estudo 
1. Uma das características dos tempos pós-modernos é a afirmação de uma suposta falta 
de uma verdade objetiva. Há uma relativização extrema e que também acaba chegando à 
leitura e interpretação da Bíblia. Os mesmos textos são interpretados de forma 
completamente distinta. Como podemos avaliar essa situação em se tratando da leitura de 
documentos, a saber, a Escritura Sagrada? 
Considere essa circunstância e apresente em pelo menos 5 linhas uma análise e possível 
solução para essa situação. 
2. O que está certo? a) Ler e interpretar o texto bíblico com bom senso, é saber que o 
sentido do texto geralmente está na superfície e seu sentido é literal; b) O mais importante é 
inovar na interpretação, isto é o mais importante num Estudo Bíblico. 
Escreva em torno de 3 a 5 linhas sobre a razão de sua escolha e fundamente sua resposta. 
3. Em poucas palavras poderíamos dizer que interpretar é: 
a. tirar conclusões subjetivas de um texto; 
b. abranger todas as possibilidades de explicação de um texto; 
c. chegar à verdade ou ao entendimento correto do que está sendo lido; 
d. uma explicação parcial de um texto bíblico; 
Resposta “c” 
4. A afirmação de que Bíblia se trata de um livro divino e assim exige alguns critérios para 
sua leitura, se refere: 
a. a garantir que cada um tenha o direito de interpretar a Bíblia subjetivamente; 
b. à interpretação adequada e em conformidade com os objetivos de Deus; 
c. a apenas alguns livros da Bíblia, especialmente Apocalipse; 
d. somente ao modelo quádruplo de interpretação; 
Resposta “b” 
5. Diante de passagens da Escritura Sagrada de compreensão mais difícil: 
a. submetê-las ao princípiode que a Bíblia interpreta a si mesma; 
b. devem ser completamente ignoradas para evitar ensino falso; 
c. Não existem passagens bíblicas desse tipo; 
d. fazer valer a opinião de cada um em particular; 
Resposta “a” 
Referência comentada 
HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Tradução de Rubens 
Castilho. Viçosa: Ultimato, 2002. 
Para uma aproximação dos pais da Igreja e aprendizado sobre sua leitura das 
Sagradas Escrituras, a sugestão é o livro que faz uma viagem desde a razão de ler dos pais, 
a mente moderna e a interpretação bíblica, quem são os pais e forma como eram lidas as 
Escrituras neste período. 
Referências Bibliográficas do Capítulo 
JACOBSON, Diane; POWELL, Mark Allan; OLSON, Stanley N. Opening the book of faith. 
Lutheran Insights for Bible Study. Minneapolis: Augsburg Fortress, 2008. 
KAISER JR., Walter C. e SILVA Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. Tradução de 
Paulo César Nunes dos Santos, et alii. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002. 
FEE, Gordon D. e STUART, Douglas. Entendes o que Lês? 2ª Ed. Tradução de Gordon 
Chown. São Paulo: Vida Nova, 2008. 
VOELZ, James W. What Does This Mean? Saint Louis, U.S.A.: Concordia Publishing 
House, 1995. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Lei e Evangelho na Interpretação da Bíblia 
Introdução 
 Esse capítulo visa tratar de maneira especial e específica um aspecto fundamental, 
quem sabe crucial, na leitura da Bíblia e já tratado inicialmente nos pressupostos no estudo 
da Bíblia, abordados no primeiro capítulo desta obra. A distinção entre lei e evangelho. 
Saber distinguir e aplicar corretamente a lei e o evangelho “é uma arte ensinada pelo 
Espírito Santo na escola da experiência”, mas espera-se que a partir dos estudos e das 
reflexões aqui apresentadas, o estudante seja capaz de observar a importância do ensino e 
comece a colocar em prática “essa arte”. 
3.1 Lei e Evangelho na Palavra de Deus 
 O conteúdo da palavra de Deus na Bíblia nos vem em forma de lei e evangelho. Por 
um lado a palavra de Deus aterroriza os pecadores denunciando seus pecados, por outro 
lado ela lhes justifica, vivifica e regenera, apagando suas transgressões. Essas são a rigor 
as duas obras de Deus e nestas duas se divide a Escritura Sagrada. Uma parte é a lei, que 
teologicamente também é chamada de espelho, pois mostra e condena os pecados; a outra 
é evangelho, denominado de boas novas, pois apresenta a boa notícia da graça salvadora 
manifestada em Cristo. 
 Em princípio, aprender a distinguir a lei do evangelho é tarefa até certo ponto fácil. O 
que talvez seja mais complexo é a sua aplicação na vida das pessoas através da 
proclamação da palavra de Deus. Costuma-se afirmar que isto só pode ser ensinado pelo 
Espírito Santo na escola da experiência. 
O Centro das Escrituras 
 A mensagem da Bíblia tem a ver com a história de pessoas que erraram o alvo em 
suas vidas. Deus criou o homem e a mulher em completa santidade e perfeição. Entretanto 
houve uma quebra nesse relacionamento gerado pelas próprias criaturas. Deus não desistiu 
de seus filhos, muito pelo contrário, ele foi atrás deles tão logo aconteceu sua rebelião, 
prometendo-lhes um salvador, a fim de restabelecer a conexão perdida entre criaturas e 
criador (Gn 3.15). A Bíblia, em resumo, é a história do livramento divino para pessoas 
perdidas no pecado. 
 E essa história culminou em Jesus Cristo. Ele é a palavra (Verbo) que se fez carne e 
habitou entre nós (Jo 1.14) e todo que nele crê se torna filho de Deus (Jo 1.12). Cristo é o 
centro da Bíblia. Ele próprio deixou isso claro em várias ocasiões. O cerne da revelação de 
Deus são as boas novas do evangelho. Em João 5.39 ele fala de maneira bem direta que as 
Escrituras testemunham a respeito Dele. Em Lucas 24.25-27,44, ele ressalta que o Antigo 
Testamento falava de Jesus. O que significa isto? Isto tem implicações significativas na 
compreensão da Bíblia e na forma como vamos proclamar sua mensagem. Se a Bíblia 
aponta para o Filho de Deus, nosso compreensão e proclamação devem ter como centro a 
Jesus Cristo, o Salvador. 
Bíblia: o livro das Boas Novas 
 Um dos conflitos mais proeminentes descrito nos evangelhos é de Cristo com os 
fariseus. Qual era a dificuldade principal? Grande parte do problema estava na interpretação 
equivocada da palavra de Deus por parte dos fariseus. A leitura deles não era cristocêntrica, 
nem orientada na distinção lei/evangelho. Para esses líderes religiosos as Escrituras eram 
vistas como uma coleção de regras e que tinham como enfoque o que cada um deve fazer 
para agradar a Deus. 
 Jesus os acusou de colocarem sobre os ombros das pessoas pesados e impossíveis 
fardos de carregar (Mt 23.4) e sua intenção era apenas serem vistos pelas outras pessoas 
(Mt 23.5-7). Essa postura chegou ao extremo de até ignorar e invalidar a própria palavra de 
Deus, para fazer valer as suas tradições (Mc 7.10-13). Ao invés de colocar no centro do seu 
ensino e vida a Cristo, o salvador prometido na Lei, Salmos e Profetas, eles preferiam 
continuar ensinando regras comportamentais e até tradições meramente humanas. Eles até 
tinham “zelo por Deus, porém, não com entendimento” (Rm 10.2), com o propósito de serem 
justificados por Deus.30 
 Infelizmente essa tendência equivocada é de todo ser humano. Ler a Bíblia com 
ênfase maior, e às vezes tão somente, nas exigências de Deus, ao invés da mensagem de 
lei e evangelho. A ênfase na lei é um perigo. Ela pode gerar desespero, bem como produzir 
pessoas que confiam mais naquilo que supostamente fazem de agradável a Deus, do que 
naquilo que Deus fez a faz por elas graciosamente em Jesus Cristo. 
O papel da Lei de Deus 
 A lei de Deus já vem programada originalmente em todo o ser humano (Rm 2.15) e 
sua função é tornar conhecido o pecado (Rm 7.7) e assim produzir o arrependimento. Foi 
isso que aconteceu no reinado de Josias, ainda no Antigo Testamento (2 Rs 22.11-13). A 
palavra de Deus na forma de lei apontou às pessoas daquela época o pecado e com o seu 
arrependimento, veio a boa nova de Deus (2 Rs 22.18-20). 
 Isto aconteceu há vários séculos atrás. Mas essas redescoberta do rei Josias nos 
lembra que nossa fé ou esperança não se pode basear sobre alguma espécie de 
moralidade, ou mesmo sobre a lei, mas na pregação da lei para mostrar o pecado e produzir 
 
30
 O próprio apóstolo Paulo é um exemplo dessa prática nos primeiros anos de sua vida, até ser 
encontrado e convertido pelo Senhor Jesus (At 9.1-19; Fp 3.2-11). 
o arrependimento (2 Tm 2.25) e do evangelho, a boa nova do perdão e da nova vida em 
Cristo (2 Tm 1.10). A lei tem o papel de expor o pecado, “cortar a carne”, e o evangelho é o 
poder de Deus para sarar e fazer com que os pecados e transgressões sejam atirados nas 
profundezas do oceano (Mq 7.18-19), pois essa mensagem está baseada na misericórdia e 
na graça do Senhor Jesus Cristo. 
O Evangelho de Jesus Cristo 
 Ao exercer sua função a lei não está em conflito com a mensagem do evangelho, 
mas está a serviço dele. Por isso, a distinção entre ambos não é feita num vácuo, ou de 
maneira abstrata. A função da lei é em última análise servir ao evangelho e engrandecê-lo. 
 Qual definição poderia ser dada ao evangelho? Dentre os muitos acontecimentos e 
descobertas na vida de Martinho Lutero e dos quais somos herdeiros, nada talvez se 
compare ao fato de que ele foi convencido da verdadeira identidade de Deus. Um Deus 
amoroso e que pode ser chamado de Pai. E ele só pôde ver o retrato do verdadeiro Deus 
em Jesus Cristo, seu Filho, quem lhe foi revelado na Escritura Sagrada. 
 Martinho Lutero tinha um pai terreno. Ele tinha um pai e uma mãe que cuidavam dele 
e queriam o melhor para ele. Mas nem por isso ele vivia em paz. Ele vivia com medo e na 
melancolia. A igreja da sua época lhe ensinava que Deus era um pai amoroso para quem 
era obediente à sua lei. Quem fazia coisas boas recebiaas recompensas do pai. Isso tudo 
gerava medo, confusão, angústia e aflição, pois por mais que se esforçava, ele não 
conseguia satisfazer a Deus. Mas esse era o ensino na ocasião. 
 Um dos primeiros acontecimentos que aflorou esse medo foi antes de entrar na 
universidade. Depois de ter se ferido com a espada, com a perda de muito sangue e 
posterior infecção, ele pensou que iria morrer. Isso provocou nele o medo da morte e o mais 
sério, o medo de Deus, pois foi levado a acreditar que Deus era um juiz irado e vingador. 
 Mas o acontecimento decisivo aconteceu um tempo depois, quando em meio a um 
temporal e muito assustado, caiu de joelhos prometendo ser um monge para agradar a 
Deus e não ser castigado. Ele ansiava pela paz e a maneira que lhe foi ensinado e pensou 
que poderia fazê-lo, era separar-se do mundo, fazer coisas boas, agradar a Deus e sentir o 
seu amor. Porém, mais ele tentava fazê-lo, mais ele se afundava e se perdia num labirinto 
sem saída, não sabendo mais o caminho de volta para o Pai. Ele havia chegado ao fundo do 
poço. 
 Para encontrar o verdadeiro Deus, a epístola de Romanos foi decisiva para Lutero 
ver a Deus como Pai. Lá, ele confirmou o que já sabia: que era um filho desobediente e que 
se distanciou do Pai. Porém, lá Deus lhe ensinou o outro lado da moeda: ele não precisa e 
nem pode fazer algo para se reaproximar e voltar à casa do Pai, pois Deus fez isso em 
Jesus Cristo. Nele somos filhos adotados do Deus Pai. É um presente em Jesus. Quanto 
mais Lutero estudava a palavra, mais ele era convencido que Deus Pai quer salvar os 
pecadores e não puni-los e que a graça de Deus remove os pecados. Essa talvez seja uma 
forma de descrever o evangelho, a boa notícia de Deus para a humanidade. 
 Essa é a mensagem que o apóstolo Paulo tinha para os coríntios (1 Co 15.1-4). Seu 
conteúdo é específico. Ele trata do perdão amoroso de Deus através da obra de seu filho 
Jesus Cristo. Esse é o evangelho pelo qual somos salvos. 
 Como a bênção do evangelho é atualizada na vida das pessoas hoje? Como elas 
recebem os benefícios da cruz conquistados por Cristo? Segundo a palavra de Deus, o 
evangelho não é só informação a respeito do amor de Deus, mas é o poder de Deus para 
regenerar e salvar quem nele crê (Rm 1.16). O apóstolo Paulo nos diz que esse evangelho 
e que nos une com Cristo vem por meio do Batismo (Rm 6.3-8) e pela pregação da Palavra 
ou do evangelho (Rm 10.17). 
3.2 Manejando bem a Palavra – Lei e Evangelho 
 “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (At 16.30) Essa foi a pergunta de 
um carcereiro feita a Paulo e a Silas. Em nossa resposta pode estar envolvido o seu destino 
eterno. Qual seria a sua resposta? Se ela for do tipo “é preciso ser um imitador de Jesus ou 
é preciso obedecer a Deus”, poderá haver uma confusão entre lei e evangelho. Cristo de 
fato nos convida a sermos seus imitadores, mas depois de termos recebido gratuitamente a 
sua salvação (Ef 5.1-2). Quando existe qualquer exigência ou apego à lei, se anula a graça, 
ou o evangelho do Senhor Jesus (Gl 2.21). Por isso a resposta de Paulo e Silas foi “crê no 
Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). 
 Na cruz de Cristo foi pago tudo o que era necessário para a nossa salvação (Jo 
19.30). Quando se introduzem exigências a fim de alguém ser perdoado e receber a 
salvação, a boa nova do evangelho é transformada em lei. E isto contradiz o evangelho do 
Senhor Jesus, que é graça e não exigência (Ef 2.8-9; Rm 5.17-21). 
Lei e Evangelho em ação 
 Na leitura da Bíblia é possível observar a maneira como Deus trabalha na vida das 
pessoas. Ele as chama ao arrependimento através da Lei e lhes concede a graça do perdão 
através do Evangelho. Essa forma de lidar com o ser humano é desde o princípio de sua 
existência e no quadro abaixo a proposta é olhar as formas diferentes de Deus operar 
através da Lei e do Evangelho. A Lei e o Evangelho trabalham de forma diferente31: 
A Lei de Deus O Evangelho de Deus 
Como Deus os dá? 
Como Deus escreveu a Lei no coração do Deus não escreveu o Evangelho no coração 
 
31
 Baseado na Revista Boas Novas, Número 11, Lei e Evangelho, pp. 30-31. Esta publicação é feita 
em várias línguas pela Concordia Mission Society, St. Louis, Estados Unidos. 
homem quando o criou (Rm 2.14-15): 
 A consciência do homem reconhece 
a Lei (Rm 2.15); 
 Até o pior pecador pode ver que ele 
deveria fazer o que a Lei manda (Rm 
2.14-15). 
do homem quando o criou (1 Co 2.6-14), por 
isso: 
 A consciência do home é 
surpreendida pelo Evangelho (Lc 
4.14-30; Jo 6.41, 51-52, 60,66); 
 O home só irá aprender o Evangelho 
se o ler ou se alguém o 
proclamar/testemunhar a ele (Mt 
28.18-20; Lc 9.2; Rm 10.14-17; 
16.25-26). 
Em resumo: 
Enquanto todas as pessoas sabem naturalmente alguma coisa sobre a Lei, só se pode 
aprender o Evangelho a partir da proclamação da palavra de Deus. 
O que ensinam? 
Como a Lei mostra o que deve ser feito pelo 
homem (Ex 20.1-17; Dt 27.10), ela: 
 Se concentra nas obras (Dt 6.24; Jr 
11.3-4); 
 Exige obediência perfeita (Dt 6.5-8; 
Mc 12.30-31; Tg 2.10); 
 Nunca oferece o perdão, mas cobra, 
nos condena e mata. 
Como o Evangelho nos mostra o que Deus 
faz por nós em Cristo (Mt 26.26-28; Rm 4.8; 
6.3-7; 2 Co 5.19-21), ele: 
 Se concentra na obra de Deus pela 
humanidade (Rm 3.22-26; 5.6-9; 
8.32); 
 Não faz exigências, mas oferece a 
graça (At 20.24) e a salvação de 
Deus (Ef 1.13); 
 Perdoa, redime, justifica, salva e 
concede a paz e a vida eterna (Rm 
3.24,28; 5.1; Cl 1.13-14, 21-22; Jo 
10.27-28; 1 Jo 5.11). 
Em resumo: 
Enquanto religiões ensinarem apenas a mensagem da Lei, haverá somente uma explicação 
parcial da palavra de Deus. A Bíblia também ensina a mensagem do Evangelho, as boas 
novas da salvação e esta for ensinada de modo preponderante, a palavra completa de Deus 
será ensinada. 
O que prometem? 
A Lei pode até nos prometer vida e salvação 
(Lv 18.5; Lc 10.25-28), mas: 
 Somente se houver cumprimento 
perfeito e completo (Gl 3.12; Tg 
2.10); 
 A Lei só pronuncia alguém como 
justo um homem realmente justo (Rm 
2.13). 
O Evangelho também nos promete vida e 
salvação (Jo 3.15-16; 5.24), mas: 
 Sem impor absolutamente nenhuma 
condição (Rm 3.28; Rm 4.1-5; Gl 
3.18), portanto: 
 O Evangelho declara que um homem 
injusto é justo (inocente diante de 
Deus) através de Jesus Cristo (Rm 
4.5; 5.6-8). 
Em resumo: 
Somente Cristo poderia cumprir integral e perfeitamente as exigências da Lei. Ele as 
cumpriu para a nossa salvação. 
Como ameaçam? 
A Lei nos ameaça apenas com punições (Gn 
2.17; Lv 26.14-17; Dt 27.26; Gl 3.10). 
O Evangelho jamais nos ameaça (2 Sm 
12.13; Mt 9.2; Lc 7.47; Jo 8.3-11; 1 Tm 
1.15). 
Em resumo: 
Cristo levou o castigo ou a maldição que você merecia, silenciando assim, as ameaças que 
a Lei fazia a você. 
O que fazem para você? 
Como a Lei exige mas não pode nos Como o Evangelho é convite e poder de 
capacitar a cumprir suas exigências, ela: 
 Nos torna rebeldes (Rm 7.5,7-11, 
15); 
 Jamais nos ajuda no combate à vida 
pecaminosa e assim nos leva ao 
desespero (Mt 27.3-5; Rm 7.7,24); 
 Nos faz tristes e temerosos e não 
nos proporciona consolo algum (2 
Sm 12.7-13a; At 2.36-37). 
Deus para recebermos as bênçãos de Deus 
em Cristo Jesus (At 16.27-31; Rm 10.17), 
ele: 
 Remove todo o terror, medo e 
angústia e os substitui com paz e 
alegria no Espírito Santo (Rm 5.1-2, 
10-11; 8.1); 
 Não exige um bom coração, boas 
intenções, aperfeiçoamento, 
santidade ou amor para com Deus ou 
às pessoas. Ele não dá ordens, mas 
nos regenera e capacita para 
vivermos uma nova vida em Cristo (2 
Co 3.18; 5.17; Ef 5.8; Cl 1.21-22). 
Em resumo: 
A Lei não pode salvar você, mas ela tem um papel importante: ela o convence da sua 
pecaminosidade e aí é que o Evangelho pode fazer sua obra de reconciliação, perdão e 
cura na sua vida. 
Quem deve ouvir? 
Todos são pecadores (Rm 3.10, 23; 1

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