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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL TEORIA E PRÁTICA DO ESTUDO BÍBLICO CURSO DE TEOLOGIA Anselmo Ernesto Graff Sumário Apresentação......................................................................................................................... 4 1. A prática do estudo bíblico ................................................................................................. 7 1.1 A Bíblia e seu uso – um breve histórico ....................................................................... 7 1.2 Atributos e Propósitos da Palavra de Deus .................................................................. 9 1.3 Pressupostos no Estudo da Bíblia .............................................................................. 11 1.4 A Relação entre o Antigo e o Novo Testamento ......................................................... 13 1.5 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 15 2. A tarefa e a arte da Interpretação .................................................................................... 17 2.1 Aspectos gerais na história da interpretação bíblica ................................................... 17 2.2 A Interpretação da Bíblia ............................................................................................ 22 2.3 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 25 3. Lei e Evangelho na Interpretação da Bíblia ...................................................................... 27 3.1 Lei e Evangelho na Palavra de Deus ......................................................................... 27 3.2 Manejando bem a Palavra – Lei e Evangelho ............................................................ 30 3.3 A Lei de Deus em sua tríplice função ......................................................................... 32 3.4 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 34 4. Linguagem da Bíblia ........................................................................................................ 37 4.1 As línguas originais e traduções ................................................................................. 37 4.2 Figuras de Linguagem................................................................................................ 39 4.2.1 Um exemplo de metáfora: o “maior” no Reino dos Céus ..................................... 41 4.3 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 44 5. Gêneros Literários na Bíblia – Narrativa .......................................................................... 46 5.1 Narrativa .................................................................................................................... 46 5.1.1 Atos 15.36-41: Um exemplo de interpretação de uma narrativa do Novo Testamento .................................................................................................................. 49 5.1.2 Êxodo 4.1-9 - Exemplo de narrativa bíblica do Antigo Testamento ...................... 52 5.2 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 54 6. Gêneros Literários na Bíblia - Epístola ............................................................................. 57 6.1 A forma das epístolas ................................................................................................ 57 6.1.1 A carta de 1ª João e a importância do contexto histórico .................................... 59 6.1.2 A importância do esboço: um exemplo em Hebreus ............................................ 61 6.2 Dicas de interpretação ............................................................................................... 61 6.2.1 Colossenses 3.1-11: Exemplo de estudo bíblico de uma epístola ....................... 62 6.3 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 66 7. Gêneros Literários na Bíblia– Parábolas .......................................................................... 68 7.1 Funções das parábolas .............................................................................................. 68 7.2 O Reino de Deus........................................................................................................ 69 7.3 A Interpretação das Parábolas ................................................................................... 70 7.3.1 Exemplo I: A parábola dos dois filhos – Mt 21.28-32 ........................................... 72 7.3.2 Exemplo II: A parábola das dez virgens – Mt 25.1-13 .......................................... 72 7.4 Lucas 8.16-18 – A Parábola da Candeia: Um exemplo de estudo aplicado à uma parábola ........................................................................................................................... 73 7.5 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 74 8. Gêneros Literários na Bíblia – Profecia e Apocalipse ....................................................... 76 8.1 Profecia ...................................................................................................................... 76 8.2 Exemplo de estudo num texto profético - Jeremias 23.1-9 ......................................... 78 8.3 Apocalipse ................................................................................................................. 80 8.3.1 Linhas interpretativas do Apocalipse ................................................................... 82 8.4 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 84 9. Gêneros Literários na Bíblia – Poesia e Sabedoria Hebraica ........................................... 87 9.1 Poesia e algumas Características .............................................................................. 87 9.2 Os Salmos ................................................................................................................. 89 9.2.1 Salmo 16: Um exemplo de consideração sobre o contexto histórico de um salmo ..................................................................................................................................... 91 9.3 Sabedoria Hebraica ................................................................................................... 91 9.4 Atividades de auto-estudo .......................................................................................... 93 10. Métodos de Estudo Bíblico ............................................................................................ 95 10.1 Estudo de um grupo de versículos ........................................................................... 95 10.2 Estudo Temático ...................................................................................................... 96 10.3 Estudo Doutrinário ................................................................................................... 96 10.4 Estudo Biográfico – o estudo de um personagem bíblico ......................................... 96 10.5 Estudo de um livro da Bíblia completo ..................................................................... 96 10.6 Método Devocional .................................................................................................. 97 10.7 Um modelo de estudo bíblico temático - A Oferta Cristã .......................................... 97 10.8 O uso devocional da Bíblia: lendo a Bíblia com a mente e o coração ..................... 103 10.9 Considerações finais ..............................................................................................105 10.10 Atividades de auto-estudo .................................................................................... 106 Apresentação A proposta deste material é fornecer aos estudantes do Curso de Teologia a oportunidade de trabalhar princípios teóricos e práticos que norteiem o estudo e proclamação através de estudos bíblicos da palavra de Deus. Os tempos pós-modernos exigem que se busque a abordagem correta da interpretação bíblica, pressupostos saudáveis em sua leitura e reflexão sobre instrumentos disponíveis para auxiliar na tarefa de estudar e comunicar a palavra de Deus. Num contexto em que se demandam respostas cada vez mais rápidas e imediatas, o leitor/intérprete da Bíblia precisa estudar a arte de aprender a parar para pensar, refletir e processar a palavra de Deus. A Escritura Sagrada é o fundamento vital da Igreja Cristã e não pode servir simplesmente para especulações subjetivas e ser tratada com leviandade. A palavra de Deus tem poder. Através dela Deus julga, condena, salva, perdoa, consola, orienta, promete e devolve a esperança. Através da Escritura Sagrada Deus educa seus filhos a viver bem e a morrer bem. Viver, gozando do bem nos dias da prosperidade e com esperança e aceitação nos dias da adversidade. Morrer, crendo que em Jesus ainda que haja a morte, há a ressurreição assim como Cristo ressuscitou. O próprio Deus afirma o poder da sua palavra. “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Isaías 55.10-11).1 “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hebreus 4.12). “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3. 14-17). A palavra de Deus precisa ser lida e explicada de maneira precisa. O apóstolo Pedro advertiu aos seus leitores que há coisas mais complicadas para compreensão e que podem sofrer distorções. “ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e 1 Passagens da Escritura foram extraídas da Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada, 1993. instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pedro 3.16). O objetivo último e mais importante é fornecer elementos e reflexões individuais e em grupo, para que a recomendação do apóstolo Paulo ao obreiro Timóteo também se concretize nos servos de Deus do século XXI. “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15). Como foi estruturado esse material? Visando formar obreiros que manejam bem a palavra do Senhor, os dez capítulos foram organizados no sentido de contemplar atributos essenciais da palavra de Deus, pressupostos fundamentais para se achegar às Escrituras, revisar alguns princípios hermenêuticos, notar as variações na linguagem bíblica, observar a diferença dos gêneros literários da Bíblia, possíveis métodos de estudos e alguns estudos bíblicos, cujo alvo é servir como referência para produção e apresentação de outros estudos bíblicos, que por sua vez, devem ter como fim último apontar para Jesus Cristo, o Autor e Consumador da fé. O conceito de que é mais fácil propor teorias do que colocá-las em prática, talvez também possa ser aplicado a este material. Porém, este não foi o alvo. A meta foi desenrolar alguns fundamentos teóricos para a prática saudável e coerente do estudo da Bíblia e, quase concomitantemente, oferecer subsídios práticos relevantes para a preparação e proclamação de sermões e estudos bíblicos. Ainda assim, este trabalho visa servir como um mapa esboçado que conduza à fonte primária e única norma de fé e de vida, as Sagradas Escrituras. A Palavra é o agente da vida. A Bíblia é de fato um livro divino e único, pois prepara os seres humanos para viverem e morrerem. É a rocha segura que todos encontram segurança, orientação e conforto. Revelam a Cristo, o Senhor e Salvador da humanidade. Martinho Lutero, em seus comentários sobre o Salmo 23, escreve que onde a Palavra de Deus é ensinada de maneira própria e pura, o resultado será só coisas boas: as ovelhas do Bom Pastor serão instruídas, guiadas, as forças renovadas, haverá tempos de refrigério, fortalecimento e conforto. Além disso, os cristãos continuamente serão mantidos no caminho direito, o corpo e a alma protegidos de toda espécie de ansiedades e aflições. Por outro lado, onde esta abençoada luz não alumiar, não haverá nem alegria, nem salvação, nem força ou conforto, mas desacordos, medo, ansiedade e a amarga ameaça da morte. Tudo isto deve servir como advertência e mobilização, a fim não considerarmos outra coisa acima ou mais preciosa, do que estar abençoado, possuindo a querida abençoada Palavra, para ser ensinada e confessada livre e publicamente.2 2 Luther, Martim. Luther’s Works. Volume 12: Selected Psalms ) J. J. Pelikan, H. C. Oswald & H. T. Lehmann, Ed.). Concordia Publishing House, Saint Louis, pp.149-151. 1. A prática do estudo bíblico Introdução O alvo para esse primeiro capítulo é esboçar uma visão panorâmica sobre a Bíblia como a palavra de Deus. Serão abordadas questões referentes à trajetória do estudo bíblico ao longo do tempo, atributos e propósitos das Escrituras, pressupostos em seu estudo e a relação de unidade do Antigo e Novo Testamento. O objetivo principal é tornar o aluno familiarizado com as nuances no acesso à Bíblia e que existiram ao longo dos anos e os propósitos essenciais da revelação divina através da Bíblia. Espera-se que o estudante tenha desenvolvida sua habilidade em observar os pressupostos na leitura bíblica, bem como veja o Antigo e o Novo Testamento como uma unidade teológica da revelação de Deus. O início do estudo bíblico Quando iniciou a prática do estudo bíblico? Pode-se afirmar em certo sentido que essa prática começou ainda no Antigo Testamento. Logo depois da volta do povo de Deus do exílio da Babilônia, os lideres Neemias e Esdras descrevem que não só houve leitura da lei, a Torá (que também pode ser traduzida por instrução de Deus), possivelmente os cinco primeiros livros da Bíblia, como se dava explicações sobre os textos lidos (Js 1; 2 Cr 34; Ne 8.8). Igualmente um dos pilares da Igreja Cristã do Novo Testamento foi exatamente a perseverança no estudo bíblico (At 2.42; 17.11, 18.24-28; Hb 5.12-14; 2 Pe 1.19-21, 3.2,18). O apóstolo Paulo em suas cartas admoesta para que haja crescimento no conhecimento (Cl 1.9) e Pedro faz o mesmo em sua epístola (2 Pe 3.18). É importante observar que a compreensão do conceito de estudo bíblico nesta obra está relacionado ao momento em que cristãos se reúnem em torno da palavra de Deus a fim de ler, estudar e explicar os textos bíblicos. Entende-se como estudo bíblico a leitura de uma parte da Bíblia e verificaro que Deus está realmente querendo dizer. Este é o seguro fundamento da Igreja Cristã e de cada cristão em particular. 1.1 A Bíblia e seu uso – um breve histórico Alguns pais da Igreja foram unânimes em afirmar que “a maneira normal para ser um cristão convicto e autêntico, era ler as Sagradas Escrituras”.3 Justino, Irineu, Tertuliano e Orígenes, não só esperavam que os adultos tivessem estudos bíblicos, mas também as crianças. A Bíblia era para eles o grande livro público do cristianismo e que deveria ser apresentado a todos, a fim de que as almas pudessem ser nutridas com a Palavra do Senhor. Policarpo escreveu à Igreja de Filipos: “eu acredito que todos estão sendo bem 3 Lutheran Cyclopedia. A Concise In-Home Reference for the Christian Family. Edited by Erwin L. Lueker, St. Louis, U.S.A., Concordia Publishing House, 1975, p.89. Disponível também no endereço <http://www.lcms.org/ca/www/cyclopedia/02/> http://www.lcms.org/ca/www/cyclopedia/02/ exercitados nas Santas Escrituras e que nada está sendo ocultado de vocês”. Isto implica estudo pessoal. A Bíblia é a melhor missionária da Igreja. Porém, houve um declínio desta prática com o crescimento da institucionalização da Igreja. Pouco a pouco o laicato estava perdendo o contato com a Bíblia e se tronou por muito tempo um tesouro inacessível. No século XII houve uma tentativa de reavivar o estudo bíblico, mas sem sucesso. Até a própria Bíblia estava sendo afastada das mãos do povo. Isto aconteceu apesar da advertência de Jerônimo: “Ignorância da Escritura é ignorância de Cristo”. No tempo da Reforma Luterana esse quadro mudou. Martinho Lutero freqüentemente incentivou a leitura das Escrituras. Uma das pressuposições básicas da fé protestante é capacitar o Sacerdócio Universal (os cristãos em geral) a ler e a interpretar a Bíblia. Nem sempre este princípio foi considerado. Havia bastante estudo “sobre” a Bíblia e pouco estudo “na” Bíblia. Matérias paralelas eram usadas em substituição ao estudo pessoal da Bíblia. Nos tempos mais modernos um ímpeto especial ao uso das Escrituras foi providenciado pelo Pietismo, movimento de reavivamento da igreja do século XVII . O ícone principal dessa iniciativa foi A. H. Francke, com suas exposições bíblicas. Desde 1685 o estudo bíblico tem ocupado um lugar de destaque nas igrejas protestantes. Um outro fator que contribuiu para essa nova realidade foi a criação das Sociedades Bíblicas. No início do século XX mais uma vez houve forças contrárias para a continuação do estudo da Palavra de Deus, especialmente por causa do surgimento do Liberalismo e Criticismo, que passou a ver a leitura da Bíblia mais do que como um outro livro, do que a Palavra revelada de Deus, do início ao fim. As duas guerras mundiais, a frustração do materialismo e avanços na educação estimularam novos esforços no sentido de chamar os cristãos de volta ao estudo da Bíblia. A Bíblia: o livro da fé e da vida O termo “Bíblia” se origina de uma palavra grega no plural e que significa “livros”. São 66 livros que compõe as Escrituras Sagradas. Eles contam uma história de aproximadamente 1.100 a 1.500 anos. A Bíblia na verdade se trata de uma biblioteca composta por 66 volumes. Alguns desses “volumes” são cartas de apenas uma página, como é a Segunda Epístola de João, outros são longas elaborações, como o livro de Isaías no Antigo Testamento e o Evangelho de Mateus, no Novo Testamento. Quando estes volumes são consultados individualmente, é possível perceber que Deus usou diferentes autores, gêneros literários e mesmo diferentes linguagens. São vários autores que escreveram originalmente em Hebraico [algumas passagens em Aramaico] e Grego. Cada um dos livros da Escritura Sagrada tem uma mensagem proposta por Deus. Assim, podemos dizer que a Bíblia é a palavra de Deus para a vida e fé. Nela vamos encontrar ensinos doutrinários e conselhos para a vida diária. O fato é que a Bíblia como palavra de Deus ensina a viver bem e a morrer bem. Ela é luz que guia desde o nascimento até o último dia de nossa existência. 1.2 Atributos e Propósitos da Palavra de Deus A Bíblia é a Palavra do Deus vivo em linguagem humana. Primeiro, é preciso notar o lado divino e humano das Sagradas Escrituras. Isto está revelado em 2 Pe 1.20-21; Jr 36.1- 2; 1 Co 1.1; 2.13. As Escrituras são em sua plenitude a palavra de Deus (Ef 3.2-5). O acesso às Sagradas Escrituras não está ancorado numa pretensão humana, mas na encarnação de nosso Senhor Jesus. Deus entrou no mundo com Cristo e isto está testificado pelos profetas e os apóstolos. Assim, a Escritura precisa ser entendida cristologicamente, ou seja, o centro da revelação de Deus é Jesus Cristo, pois elas revelam ao Filho, o Ungido de Deus e Salvador da humanidade, o caminho de volta à restauração da comunhão com Deus (Lc 24.26-27; 44-45). Além disso, suas palavras ensinam, corrigem, advertem (2 Tm 3.16) e através delas o Espírito Santo chama à fé (Rm 10.17), ilumina e santifica o povo de Deus (Cf. ainda Salmo 119). Atributos divinos das Escrituras O que deve ser considerado quando se observa os atributos divinos das Sagradas Escrituras? Como palavra de Deus em palavras humanas, as Escrituras podem ser afirmadas como inspiradas, ou seja, elas são resultado da atividade do Espírito Santo nos escritores (2 Tm 3.16). a. Inspiração: a Bíblia é um livro inspirado por Deus e por isso tem a autoridade de Deus. Não há como determinar com exatidão como aconteceu o processo de inspiração, ou de que forma Deus revelou as palavras que ele determinou que os autores escrevessem. Porém, alguns aspectos podem ser observados; Os autores foram “movidos” pelo Espírito de Deus (2 Pe 1.21); O Espírito de Deus estava presente (Ez 12.1); Aos autores foi ordenado a escrever e a falar (Jr 36.2); Os autores foram “a boca” do Senhor. Eles falaram em nome dele (2 Co 13.3); As palavras são divinas, mas parece que tudo parece ter seguido um processo natural. Paulo é o autor da carta aos Romanos (Rm 1.1), mas quem escreveu foi Tércio (Rm 16.22); Paulo parece falar às vezes em seu próprio nome (1 Co 7.8-10); Jeremias foi guiado por Deus, mas quem escreveu o texto foi Baruque (Jr 36.4) e essas palavras consideradas como simplesmente palavras de um homem (Jr 36.21- 24). É preciso manter essa tensão. Por um lado um anjo falou aos ouvidos dos autores as palavras a serem usadas, por outro os profetas e apóstolos pensaram, pesquisaram e usaram textos para, em nome de Deus, escrever a sua Palavra (Lc 1.1-4). b. Inerrância: como palavras de Deus elas estão livres de erros. Pode-se dizer que os livros da Escritura são assim como qualquer outro livro, mas sem erro. É importante notar o que esta inerrância não significa: exatidão nas citações, tanto dos textos do Antigo Testamento, como das palavras do Novo Testamento (Mt 4.15-16; Is 9.1-2; Mt 3.17; Mc 1.11); Como é possível observar, há algumas leves diferenças, que de maneira alguma comprometem a mensagem de Deus. exatidão na ordem de eventos registrados. Por exemplo, a seqüência das tentações em Mt 4.1-11 e Lc 4.1-13 são um pouco diferentes. uso de figuras de linguagem, incluindo a hipérbole (Mt 3.5). Positivamente colocado, dizer que as Sagradas Escrituras são inerrantes4, é afirmar que seus autores são completamente fiéis aos seus propósitos pretendidos e a palavra de Deus é verdadeira5. Outros atributos e alvos das Escrituras Sagradas Além da inspiração divina e por conseguinte a inerrância da Bíblia, podem ainda ser considerados como atributos e objetivos das Escrituras Sagradas, os seguintes itens. A Palavra de Deus é: Indestrutível: Mt 24.35; Incorruptível: 1 Pe 1.23-25; Indispensável: Dt 8.3; Jo 23.12; Mt 4.4; Palavra inspirada de Deus: 2 Pe 1.20-21; O Conteúdo da Bíblia é: A Redenção: Ef 1.3-14; Planejadapelo Pai: 1 Jo 4.9-10; Realizada pelo Filho: 1 Co 15.3-4; 4 Outro detalhe observado sobre esse assunto diz respeito às palavras de Jesus, afirmando a semente de mostarda como a menor de todas (Mc 4.31). Cientistas hoje dizem que a menor semente de todas é a das orquídeas (Opening the Book of Faith, 2008, p.21). Por isso, o conceito de inerrância da Bíblia não pode ser tomada simplesmente no sentido de não conter erros, mas de que os escritores foram fiéis e a palavra de Deus é verdadeira. 5 VOELZ, James. What Does This Mean? Principles of Biblical Interpretation in the Post-Modern World. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1995, pp.230-239. Revelada pelo Espírito Santo: Jo 16.7-11,13,14; 14.26; Os propósitos da Bíblia são: Dar sabedoria que levam à salvação; ensinar a verdade; condenar o erro; corrigir as faltas; ensinar a conduta certa para a vida; preparar para as boas ações: 2 Tm 3.15-17; Produzir a fé salvadora: Rm 10.17; Jo 20.31; As palavras de Deus foram designadas para: Apontar para Cristo: Jo 5.39; Pesquisar o coração: Hb 4.12; Iluminar e esclarecer o caminho das pessoas: Sl 119.105, 130; Vivificar: Sl 119. 50, 93; Regenerar: Tg 1.18; A Palavra de Deus promove para aquele que nela medita: Um caminho puro: Sl 119.9; Jo 15.3; Ser sábio e simples: Sl 19.7; Crescimento: 1 Pe 2.2; Hb 5.12-14; Edificação na fé: At 20.32; Evita caminhos maus: Sl 17.4; 119.11; Permite prazer, alegria: Sl 119.111; Admoesta: 1 Co 10.11; Rm 15.4; Conforta: Sl 119.81; Dá vitória contra Satanás e as tentações: Mt 4.1-10 ; Ef 6.11-17; Realiza seus propósitos: Is 55.11; Ganha almas: Lc 8.4-15; Opera eficazmente nos cristãos: 1 Ts 2.13; 1.3 Pressupostos no Estudo da Bíblia O que um leitor da Bíblia precisa pressupor antes de começar a leitura ou o estudo? As considerações a seguir são alguns dos pressupostos fundamentais para o correto estudo da Palavra de Deus: A Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito Santo – At 1.16; 2 Pe 1.21. É a Palavra de Deus, mas em linguagem humana. A Bíblia é a única norma (orientação) de fé e de vida. Ela nos mostra o que crer (em quem, em Jesus) e o que é agradável a Deus – 2 Tm 3.14-17; Somos leitores cristãos. A Bíblia é o livro de Cristo, isto é óbvio no Novo Testamento – Jo 1.45; 5.39; Lc 24.27, 44. O ensino e a iluminação do Espírito Santo não dispensam transpiração, ou seja, não é porque o Espírito Santo vai abrir o entendimento das Sagradas Escrituras, que isto dispensaria o estudo cuidadoso e o preparo de um estudo bíblico- Jo 14.26; 1 Co 2.9-16; Mt 11.25-26; Sl 119.18. É verdade que Deus pode agir e abençoar uma interpretação imperfeita, mas o estudo persistente é indispensável e é um recurso abençoado por Deus. O principal objetivo da Bíblia é revelar a Cristo e tornar seus leitores sábios para a vida e para a salvação pela fé no Filho de Deus – 2 Tm 3.14-17. A Escritura não é um livro de regras morais nem somente uma compilação de fatos históricos. As palavras de Deus visam a salvação e para tanto elas são palavras de condenação e perdão, lei e evangelho, amargas e doces, más notícias e boas notícias, o que nós temos que fazer (e não conseguimos) e o que Deus fez e faz pelo seu povo (Ap 10.8-11). Esta é para C. F. W. Walther, um teólogo americano do século XIX, em ordem de importância, a segunda doutrina mais importante. A primeira é a doutrina da justificação pela fé,6 ou em outras palavras, somos salvos unicamente pela graça de Deus, nem pelo que praticamos nem pelo que deixamos de praticar, mas pela fé em Jesus (Ef 2.8; Rm 3.24; Rm 5.18). A recomendação de separar bem a Lei e o Evangelho ecoa no conselho dado pelo apóstolo Paulo ao pastor Timóteo (2 Tm 2.15). Saber separar entre Lei e Evangelho é uma arte e questão de extrema importância. “Para ser um teólogo ortodoxo, não basta que se exponham todos os artigos de fé em concordância com as Escrituras; é necessário, também, saber diferenciar corretamente lei e evangelho”; “Distinguir corretamente lei e evangelho é a mais difícil e a suprema arte que se apresenta aos cristãos em geral e, em especial, aos teólogos. Essa arte é ensinada exclusivamente pelo Espírito Santo, na escola da experiência”; “A Palavra de Deus não é aplicada corretamente, quando a lei deixa de ser pregada em todo o seu rigor e o evangelho, em toda sua doçura; quando, ao contrário, componentes do evangelho são adicionados à pregação da lei, e componentes da lei são adicionados ao evangelho.”7 Abrir e estudar a Bíblia é um privilégio, não é pré-requisito para a salvação. Por essa palavra há consolo, exortação e ensino – Pv 12.25; Não existe interpretação oficial de todos os texto bíblicos. A Palavra é infalível, mas nenhum indivíduo ou igreja pode afirmar essa infalibilidade; A Bíblia é clara, ainda que haja passagens ou assuntos mais complicados. Há alguns textos considerados problemáticos na interpretação: Gl 3.20 – 1 Co 15.29; 1 Co 11.10; 1 Pe 3.19; 2 Ts 2.3 (cf. 2 Pe 3.16). Ao teólogo cabe também, em algumas vezes e em relação a alguns textos, silenciar. De fato a própria palavra de Deus 6 WALTHER, C. F. W. Lei e Evangelho. Tradução de Vilson Scholz. Porto Alegre: Editora Concórdia, 1998, p. 17. 7 Idem, p.13. afirma que há certas coisas de difícil compreensão e que pode gerar deturpações da verdade (2 Pe 3.16). A Bíblia não se contradiz e se interpreta a si mesma. Um dos equívocos na interpretação de textos bíblicos é pinçar textos isolados e formular doutrinas baseadas neles e usá-los fora do seu contexto ou sem levar em consideração a Bíblia como um todo. Depois de terminada a tarefa exegética, as descobertas precisam ser relacionadas ao pensamento de todo o cânon das Escrituras (Analogia Fidei). Esse conceito entra em cena no processo interpretativo, depois que já foi estabelecido o significado particular da passagem em relação ao seu contexto imediato e do livro estudado. A Bíblia não é um livro misterioso, Deus quer ser entendido e comunicar sua mensagem. A tarefa é descobrir o sentido literal. O que o texto está dizendo. Isto não significa um literalismo absoluto, pois o tipo de linguagem também pode interferir. Exemplos: Mc 16.17-18; Ez 2.6; Mt 10.16; A Bíblia é revelação progressiva. O Novo Testamento interpreta o Antigo Testamento. As leis cerimoniais, por exemplo, o que não foi reinstituído no Novo Testamento, está abolido pela obra de Cristo Cl 2.16-19. 1.4 A Relação entre o Antigo e o Novo Testamento Um dos princípios muito importantes na interpretação das Escrituras é pressupor a unidade dos dois testamentos. Em diferentes épocas esse tema foi articulado de forma diversificada. Marcião foi um dos mais proeminentes críticos. Em sua visão dualista, ele rejeita o Antigo Testamento, pois nele estaria revelado o Deus Justo, enquanto no Novo Testamento, o Deus bom, através de Jesus Cristo. Será que existe diferença entre a teologia do Antigo e a do Novo Testamento? A resposta é não. A teologia do Antigo Testamento é essencialmente a mesma do Novo Testamento. Há descontinuidades, mas a ênfase está na continuidade e unidade. Há diferenças cronológicas8, mas a essência do evangelho é mantida (Dt 7.7-8 – Jo 3.16). Os chamados e as escolhas de Deus não estão baseadas supostamente em méritos humanos, mas em seu amor, pois Deus é essencialmente amor (1 Jo 4.8). Jesus Cristo não é mencionado no Antigo Testamento, mas implicitamente ele está presente. Tipologia 8 HUMMEL, Horace. How to Preach the Old Testament. The Concordia Pulpit, Saint Louis: Concordia Publishing House, 1996, p.2 Como podemos ver essa continuidade na teologia dos dois testamentos? Um dos princípios utilizados para fundamentar a unidade dos dois testamentosé conhecido como “tipológico”. Algo relacionado a tipo e antítipo. “Anti”, não no sentido de “contra”, mas de correspondência, uma figura que representa a outra. Ou então, uma figura é sombra da outra. Tecnicamente podemos citar três tipos de situações em que podemos observar esse caráter tipológico e que fundamenta a unidade dos dois testamentos. a. Eventos: A Criação de Deus (Gn 1); os novos céus e a nova terra (2 Pe 3.13); o dilúvio (Gn 6); Batismo (1 Pe 3.21); Êxodo/Páscoa (Ex 12); libertação, ressurreição (Jo 20); Guerras/Israel (Js 10-12); batalha contra as forças espirituais do mal (Ef 6.12); Caminhada pelo deserto (Nm 10.11-28); peregrinos, forasteiros (1 Pe 2.11). b. Pessoas: Adão, Moisés, Josué, Juízes – Jesus Cristo (Rm 5.14, Hebreus). c. Lugares/cerimoniais: Jerusalém – Hb 12.22; Sacrifícios do Antigo Testamento, circuncisão, Israel (Cl 2.11-12; Gl 6.16). Há ainda outros elementos que podem ser observados sobre esse assunto. O primeiro, é que a Bíblia da Igreja Primitiva (pelo menos nos primeiros 100 anos) foi o Antigo Testamento. Os primeiros cristãos tinham acesso à versão grega, denominada de Septuaginta (LXX)9. O segundo ponto a ser lembrado é sobre o uso que Jesus fazia do Antigo Testamento. Com freqüência ele o citava e outras vezes o reinterpretava (Mc 12.26, 35). Mas é no evangelho de Mateus que mais se destaca essa íntima relação e unidade do Antigo e do Novo Testamento (Mt 1.23; 2.6; 3.3, por exemplo). Outro exemplo vem do apóstolo Paulo. Ele lembrava fatos ocorridos e descritos no Antigo Testamento e concluía que estes se tornavam exemplos para os cristãos de todos os tempos. A presença do Filho de Deus no Antigo Testamento Há ainda outra forma de ver a unidade teológica dos dois testamentos. Também se fala em presença real do Filho antes de Cristo, ou seja, Jesus, o Filho, estaria de fato presente no Antigo Testamento. Como colocar esse princípio em prática? Olhar para as profecias messiânicas? Como as do profeta Isaías, por exemplo? (Is 11.1-4; Is 53); Adotar o princípio da tipologia? Como nós vimos acima. Ou citar textos que implicitamente são referências à trindade? Gn 1.26; Is 6.8 Um dos aspectos da presença do Filho antes de Cristo é visto na relação da teofania com o Filho de Deus. O pressuposto é de que jamais alguém viu a Deus (Jo 1.18; 1 Tm 9 LXX é a abreviatura ou símbolo para a tradução do Hebraico para o Grego do Antigo Testamento. O trabalho teria sido feito por 70 tradutores (alguns afirmam terem sido 72), por isso LXX. O pedido de tradução foi de Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C.), a fim de que fosse disponibilizada na Biblioteca de Alexandria. Ainda que possa haver variáveis sobre as informações deste trabalho, o certo é que a LXX foi adotada pelos judeus de fala grega e usada pelos escritores do Novo Testamento ao citar o Antigo Testamento. 1.17; 6.15-16; 1 Jo 4.12), pois o pecador não pode ver a Deus Ex 33.20, mas os textos de Gn 32.30; Jz 6.22 relatam episódios em que houve quem tivesse visto a Deus. Se essa lógica estiver correta, então nessas ocasiões quem foi visto foi o próprio Filho de Deus. Há também detalhes interessantes sobre a figura do “Anjo” no Antigo Testamento (Gn 16.7-12; 21.17-18; Ex 3; Ex 23.20-22; 1 Co 10.4)10, que podem colaborar para confirmação deste fato. 1.5 Atividades de auto-estudo 1. Um dos pressupostos fundamentais para o correto estudo da Palavra de Deus é de que “o ensino e a iluminação do Espírito Santo não dispensam transpiração”, ou seja, não é porque o Espírito Santo que vai abrir o entendimento das Sagradas Escrituras, que isto dispensaria o estudo e o preparo cuidadoso de um estudo bíblico. É verdade também, que Deus pode agir e abençoar uma interpretação imperfeita, mas o estudo persistente é indispensável e é um recurso abençoado por Deus. Descreva em no mínimo 5 e no máximo 8 linhas, a relação entre a obra do Espírito Santo e o papel humano na elaboração de um estudo bíblico: 2. O propósito principal das Escrituras segundo o próprio Cristo em João 5.39 e Lucas 24.44 é revelar e apontar para Ele mesmo, o Filho de Deus. Além disso, o texto de 2 Timóteo 3.14-17 reforça a idéia de que a Escritura não é simplesmente um livro de regras morais nem somente uma compilação de fatos históricos. Faça uma avaliação descritiva, em pelo menos 5 linhas, sobre o significado prático disto no estudo da Bíblia, na aplicação e proclamação de estudos bíblicos, mensagens, sermões? 3. Para os pais da Igreja a maneira normal para ser um cristão convicto e autêntico é: a. tornar-se um freqüentador assíduo do templo; b. cumprir plenamente os Dez Mandamentos; c. pôr em prática em sua perfeição a lei do amor; d. Ouvir e ler as Sagradas Escrituras; Resposta “d” 4. Um dos princípios básicos de interpretação bíblica é de que a Escritura Sagrada precisa ser entendida cristologicamente, ou seja, o centro da revelação de Deus é Jesus Cristo, por que: a. elas revelam ao Filho, o Ungido de Deus e Salvador da humanidade; 10 GIESCHEN, Charles A. The Real Presence of the Son Before Christ: A New Approach to Old Testament Christology. Concordia Theological Quarterly, Volume 68, N o 2, 2004, pp.105-126. Disponível em: <http://www.ctsfw.net/media/pdfs/gieschenrealpresence.pdf>. b. o próprio Cristo ensinou isto em passagens como Lucas 24.26-27; 44-45 e João 5.39; c. as palavras de Deus visam a salvação da humanidade; d. todas as opções anteriores respondem a questão; Resposta “d” 5. Inerrância é um dos atributos da Escritura Sagrada que significa: a. que como palavras de Deus há exatidão nas citações, tanto dos textos do Antigo Testamento, como das palavras do Novo Testamento; b. que seus autores foram completamente fiéis aos propósitos pretendidos e a palavra de Deus é verdadeira; c. que há uma exatidão absoluta na ordem de eventos registrados; d. que não houve o uso de figuras de linguagem, como a hipérbole, por exemplo; Resposta “b” Referências Bibliográficas do capítulo BRAKEMEIER, Gottfried. A Bíblia e a nossa vida. Enfoques Bíblicos. São Leopoldo: Sinodal, 1987. JACOBSON, Diane; POWELL, Mark Allan; OLSON, Stanley N. Opening the Book of Faith. Lutheran Insights for Bible Study. Minneapolis: Augsburg Fortress, 2008. WEBER, Hans-Ruedi. Bíblia: o livro que me lê – Manual para estudos bíblicos. Tradução de Marcelo Schneider. São Leopoldo: Sinodal, 1998. 2. A tarefa e a arte da Interpretação Introdução O que é interpretar? Em palavras simples e objetivas poderíamos responder que interpretar é chegar à verdade ou ao entendimento do que está sendo lido. O elemento complicador em grande parte tem sido o conceito de verdade, pois ele tem variado ao longo dos anos. O alvo principal deste capítulo é tratar sobre alguns detalhes relacionados à interpretação da palavra de Deus, a fim de que o estudante seja habilitado a discernir necessários princípios de interpretação na leitura e estudo da Bíblia. A verdade do Pré-Modernismo ao Pós-Modernismo No Pré-Modernismo e no Modernismo a superioridade da razão prevalecia. Ou seja, havia possibilidade de explicar o que estava sendo investigado. No Pós-Modernismo esse conceito começou a mudar. Apenas poderia existir uma explicação parcial do que estava sendo estudado. Não haveria mais uma verdade objetiva e absoluta, mas em construção e relativa. Em outras palavras, “depende do meu ou do seu ponto de vista”. Será que podemos aceitar e seguir essa ideia na interpretação de um texto? Talvez de maneira geral a resposta até pudesse ser sim, mas em se tratando de documentos, é preciso ter princípios para interpretá-los, a fim de que se chegue ao propósito original do autor de um texto, aqui no caso, da Bíblia Sagrada. A interpretação de textos bíblicos envolve a utilizaçãode recursos envolvendo o estudo da linguagem, contexto histórico, objetivos dos autores e leitores originais. Porém, o seu uso está condicionado a princípios de interpretação que orientam a leitura da Bíblia. 2.1 Aspectos gerais na história da interpretação bíblica Ser familiarizado e compreender aspectos da história das interpretações podem ser de significativo auxílio no estudo das Escrituras. Podem servir como advertência para não incorrer nos mesmos equívocos do passado; podem ajudar a refletir sobre influências que geraram mal-entendidos da palavra de Deus; podem também criar familiaridade com bons intérpretes da igreja primitiva e assim seguir seus passos. Walter Kaiser Jr. lembra que independentemente da motivação para esse contato com o passado, o estudo de suas obras pode poupar ao estudioso da Bíblia a perda de tempo ao tentar seguir por trilhas que sabidamente não levaram a lugar nenhum. Poderia se afirmar que desde o princípio e em certas ocasiões houve dificuldades para captar a correta compreensão da palavra de Deus. Os profetas tiveram essa reclamação já no Antigo Testamento (Jr 5.21; Is 6.10; Ez 12.2) e no Novo Testamento o apóstolo Paulo chama atenção dos Tessalonicenses pela falta de estabilidade no recebimento do ensino (2 Ts 2.2).11 Escola de Alexandria Ainda que esse assunto pudesse começar com as tendências hermenêuticas no judaísmo, a preferência foi iniciar pelos pais da igreja cristã primitiva. O primeiro professor da Escola de Alexandria foi Titus Flavius Clemente. Ele adotou a interpretação alegórica da Bíblia. Seu argumento principal era de que as Escrituras escondem o sentido e são enigmáticas. O lema desta escola era “a menos que você acredite, você não irá compreender”, baseado numa tradução e aplicação duvidosa de Is 7.9, na Septuaginta LXX12. Orígenes foi um discípulo de Clemente e seguindo o método alegórico, declarou que as Escrituras tinham um sentido triplo: corpóreo ou carnal, físico e espiritual. Em termos práticos, a pessoa mais simples pode ser edificada pela carne das Escrituras (o entendimento mais óbvio, primário-literal); a pessoa em estágio intermediário, pela alma das Escrituras; e aquele que é experimentado aproxima-se das palavras de Paulo em 1 Co 2.6- 7. Esse será beneficiado pela lei espiritual das Escrituras e que possuem “sombra dos bens vindouros” (Hb 10.1).13 Orígenes foi o primeiro na história da Igreja a elaborar e expor uma teoria de interpretação bíblica. Seu princípio básico é a alegoria, influências de Philo e do Platonismo. Seu ponto é de que as Escrituras escondem o sentido e por trás do significado literal do texto, há um significado mais profundo do texto.14 O método alegórico está fundamentado em cima do ensino das correspondências. Os acontecimentos ou objetos naturais e terrenos, vêm acompanhados de um objeto ou acontecimento análogo correspondente e de natureza celestial ou espiritual. Toda a história secular é uma alegoria e descrição de coisas espirituais e celestes.15 Na interpretação alegórica, as passagens na Escritura que tratam de fatos históricos ou falam de coisas terrenas têm um significado mais profundo do que o literal. Exemplo: o relato da embriagues de Noé em Gn 9.20-27. Nesse caso, um sentido mais profundo é a intenção do autor e o caráter literal da história é rejeitado. Outro exemplo desse tipo de interpretação é a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, relatada em Mateus 21.2-7. Para Orígenes esse fato é indigno para o Filho de 11 KAISER JR., Walter C. e SILVA Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. Tradução de Paulo César Nunes dos Santos, et alii. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 203 12 Para o significado de LXX, cf. nota 9, capítulo 1. 13 KAISER JR, op. cit., pp.210-211. 14 FEE, Gordon D. e STUART, Douglas. Entendes o que Lês? Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2008, p.239. 15 KAISER, JR., op. cit., p. 212. Deus. É inconcebível que Jesus tenha necessitado de uma jumenta e de um jumentinho. Por isso o relato deve ser alegorizado. Jesus, como palavra de Deus faz entrada na alma; jumento, sentido literal do Antigo Testamento; jumentinho, sentido literal do Novo Testamento. Ambos se tornam os veículos da palavra de Deus ao serem soltos pelos discípulos.16 Parece possível até a existência de listas de equivalências alegóricas para os teólogos pertencentes à escola de Alexandria. Dentre eles pode se citar: Jo 2.1: “dias” são Cristo; “três” é a fé; “um casamento” é o chamado aos gentios e “Caná” é a Igreja. Em Pv 10.1, as equivalências alegóricas são: “filho sábio”, apóstolo Paulo; “pai”, é o salvador; “filho insensato”, Judas Iscariotes; “mãe”, a igreja.17 Escola de Antioquia Em oposição a esse tipo de abordagem ou de interpretação do texto bíblico, surgiu a escola de Antioquia. Os principais líderes foram Teodoro de Mopsuesta, o maior exegeta da igreja antiga e João Crisóstomo, o maior pregador.18 O lema dessa escola era a theoria, ver, observar. Nesse caso, o sentido espiritual não pode ser separado do sentido literal. O alvo era preservar a integridade da história e do sentido natural da passagem bíblica. Isto, em outras palavras, é o método histórico-gramatical. A idéia era evitar dois perigos: excesso de literalidade ou de alegoria.19 O sentido literal deve ser mantido, a não ser que fique claro a utilização alegórica, como em algumas parábolas. Na interpretação dos escritos era importante considerar os hábitos, objetivos e métodos de cada autor, pois o impulso divino na inspiração era sobre a consciência e a inteligência do escritor. O sentido literal tinha primazia e dele tinham que ser tiradas lições morais, os sentidos tipológico e alegórico, eram considerados secundários.20 Escola do Ocidente O método de interpretação desta escola incluía elementos da escola alegórica de Alexandria, bem como de Antioquia. Os principais nomes dessa escola foram Jerônimo, conhecedor do grego e do hebraico, tradutor da Bíblia Vulgata e Agostinho, especialista em organizar as verdades bíblicas. A marca principal da interpretação bíblica nesse período era o modelo quádruplo, ou seja, cada texto bíblico teria quatro sentidos. Histórico-literal, alegórico, tropológico (moral) e anagógico (místico ou escatológico). A ilustração é com a cidade de Jerusalém, por 16 FEE, STUART, op. cit., p.239. 17 KAISER, JR., op. cit., p.212. 18 FEE, STUART, op. cit., p.240. 19 KAISER, JR., op. cit., p.213. 20 FEE, STUART, op. cit., p.240. exemplo. Literalmente é a cidade dos judeus; alegoricamente é a igreja; tropologicamente é a alma e anagogicamente é o lar celestial. No tempo da Idade Média até o período da Reforma, a Bíblia era interpretada como tendo um sentido quádruplo: literal, alegórico, moral e anagógico. Exemplo: Ex 20.8. O “Sábado” aqui teria quatro sentidos: a) O 7.º dia deve ser guardado; b) Cristo descansou no túmulo; c) O cristão deveria descansar do pecado; d) O verdadeiro descanso nos espera no céu.21 Outro fator que ganhou importância nessa época (500-1500) foi o princípio de que a interpretação da Bíblia tinha que se adaptar às tradições e doutrina da igreja.22 Uma das figuras importantes deste período foi Stephen Langdom (1150-1228), arcebispo de Cantuária. Foi ele quem efetuou a divisão da Bíblia em seus capítulos atuais. Mas sua interpretação dos textos bíblicos foi no sentido de enquadrá-los nas doutrinas da igreja. O nome mais importante nesse período foi Tomás de Aquino (1225-1274). Por um lado ele defendeu o sentido literal como base para todos os outros sentidos da Bíblia, por outro lado ele argumentou que o intérprete deve prestar atenção num sentido simbólico, visto que as coisas celestes não podem ser expressadas em palavras terrena sem o uso desse simbolismo.23A interpretação bíblica no período da Reforma Luterana Essa época é considerada como um tempo em que a Bíblia foi “desacorrentada”, a fim de que ela pudesse falar por si mesma. De início, Lutero também seguia o modelo básico de interpretação da Idade Média, ou seja, a alegorização das Escrituras, porém mais tarde, ele insistia no sentido literal do texto como a única base sólida para a interpretação bíblica. Para Lutero as alegorias são inadequadas para a leitura da Bíblia.24 Uma outra grande diferença era no sujeito capaz de ler as Escrituras. Enquanto na Idade Média a interpretação era confinada ao clero, os reformadores afirmaram que a Bíblia é acessível e compreensível a todos. O Espírito Santo é o escritor mais simples e suas palavras não podem ter mais do que um sentido, o sentido literal das Escrituras. O padrão exegético de Lutero apontava para o estudo das línguas originais, buscando descobrir o sentido primário, histórico e gramatical.25 Somente a Escritura. Este é o princípio formal da teologia da Reforma Luterana. A norma para as doutrinas não é encontrada nas tradições da igreja, mas sola Scriptura, 21 Lutheran Cyclopedia. Edited by Erwin L. Lueker, St. Louis, U.S.A., CPH, p.286. 22 KAISER, JR., op. cit., pp.214-215. 23 Idem, p.215. 24 Idem, p.216. 25 FEE, STUART, op. cit., pp.241-242, KAISER, JR., op. cit., p.216. somente nas Escrituras. E nesse princípio vem embutido o sentido literal como sendo a única base sólida e adequada para a exegese. A interpretação da Bíblia no período posterior à Reforma As duas escolas ou movimentos mais significativos foram o Pietismo e o Racionalismo. O primeiro foi uma reação ao dogmatismo e à falta da prática cristã piedosa dos estudiosos bíblicos. No entender de pietistas, a Bíblia era usada apenas para confirmar doutrinas. Embora tivesse sido um movimento de reação, é preciso considerar como positivo o modelo de estudo da Bíblia proposto, visando uma compreensão adequada do texto e sua proclamação. 1.o passo: estabelecer o texto; 2.o passo: elucidar o sentido das palavras; 3.o passo: observar o contexto; 4.o passo: considerar o contexto bíblico; 5.o passo: descobrir informações do contexto histórico; 6.o passo: ver o sentido do texto como um todo; 7.o passo: aplicação homilética (proclamação). O Racionalismo tem sua manifestação especialmente no método histórico-crítico.26 A pretensão foi tornar os estudos bíblicos científicos, fruto em grande parte do Iluminismo. A partir desse modelo, tudo o que é incompatível com a razão humana deveria ser descartado. A Bíblia passou a ser vista como um livro iguail aos demais e conceitos teológicos, como da inspiração, deveria ser ignorado. Nessa linha também surgiu a crítica da forma, que visava demonstrar que a literatura bíblica tinha origem em contextos históricos definidos e alguns relatos seriam inexatos. Mais recentemente Rudolf Bultmann sacudiu com princípios de interpretação bíblica. Para ele a revelação deveria ser desvinculada da história e por isso deveria haver pouco interesse pelo Antigo Testamento. A título de exemplo, usando esse pensamento, a desmitologização, E. L. Allen considerou como removíveis os seguintes conceitos no Antigo Testamento: a) O conceito da eleição de Israel por Deus, como povo escolhido. Isto seria nacionalismo e racismo; b) O conceito do Deus pessoal, ciumento, pois é inapropriado empregar termos pessoais a suas ações para com os seres humanos, apenas o contrário é possível.27 Sua era remover supostos “mitos” antigos e ler a mensagem da Escritura numa forma relevante para a mente moderna. 26 Esse método geralmente é avaliado como estando mais preocupado em identificar as fontes literárias e contextos sociais que deram vida aos textos, do que os textos bíblicos que podem normatizar a vida dos leitores contemporâneos e da igreja. Em resumo, esse modelo de interpretação enfatizaria mais sua lealdade a teorias atuais de composição de textos e como eles surgiram, do que o texto em todas as suas partes e o que realmente quer dizer (KAISER Jr., 2002, pp.30-31). Uma avaliação do Método Histórico-Crítico está no Apêndice 2 (pp.244-247), escrito por Enio Ronald Mueller, no livro Entendes o que lês, da Editora Vida Nova (cf. referência bibliográfica do capítulo). O livro está em sua segunda edição e foi reimpresso em 2008. 27 LIVINSGTON, Herbert G. The Pentateuch in its Cultural Environment. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1987, p.203. 2.2 A Interpretação da Bíblia Há diferentes tipos de leitura: leitura para informação; leitura para lazer e leitura para compreensão. Quando a leitura é da Bíblia, exige-se uma leitura que leva à compreensão e percepção do texto. Isto significa entender as palavras, frases e parágrafos. Por isso, ler para apreender o conteúdo demanda leitura lenta, no caso da Bíblia, um elemento facilitador é o estudo em diferentes traduções disponíveis e com anotações. Isto já não bastaria para uma leitura e explanação proveitosas da palavra de Deus? Por que é preciso falar em princípios para ler e explicar a Bíblia? Antes de tudo, é preciso admitir que se existem problemas na interpretação bíblica, eles não são da Bíblia, mas daqueles que a leem. É verdade também que a Bíblia não é um livro obscuro e que dependeria de profissionais para ser compreendido. Uma resposta possível a esses questionamentos é que a Bíblia se trata de um livro divino e assim exige alguns critérios para lê-la de forma adequada. Em se tratando de textos bíblicos não é possível concordar com a frase “essa é a sua ou a minha interpretação”. Declarar simplesmente uma opinião particular sobre um texto bíblico desmente o conselho dado pelo próprio Deus. Ao longo das Escrituras Sagradas, há algumas referências a textos que exaltam a necessidade de se buscar a excelência na interpretação da palavra de Deus e da responsabilidade envolvida nessa prática. O conselho dado pelo escritor de Apocalipse (Ap 22.18-19) pode até se referir de maneira específica ao último livro da Bíblia, mas existem outros textos que possuem essa mesma orientação (Pv 30.5-6; 2 Tm 2.15; Tg 3.1). É verdadeira a observação de que ninguém é capaz de falar de maneira absolutamente clara e compreensível em todas as ocasiões, a não ser o próprio Deus. Na verdade não se pode deixar de lembrar que o princípio básico que rege a interpretação das Escrituras, é que ela interpreta a si mesma e que o cristão tem a iluminação do Espírito Santo para ler e estudar a Palavra (1 Jo 2.27). Porém, a Bíblia é um livro divino e humano ao mesmo tempo e por isso é preciso olhar para alguns detalhes decisivos para sua interpretação. Há aspectos linguísticos e culturais que não nos são tão familiares, bem como ações e mesmo palavras que necessitam observação especial. Além disso, existem ainda nos livros da Bíblia diferentes gêneros literários e que nem sempre são do nosso domínio completo. Fundamentalmente a Bíblia é um livro bastante simples e claro. Entretanto, como leitores nem sempre possuímos o conhecimento suficiente e adequado para nos aproximarmos do texto e tirar dele e de maneira completa o sentido e os propósitos do texto. Antes de enumerar algumas regras que podem ser observadas na interpretação da palavra de Deus, podem ser lembrados alguns propósitos últimos de uma interpretação saudável: a. entender as palavras da Escritura e a mensagem que elas conduzem; b. estabelecer uma conexão da cultura dos tempos bíblicos à do mundo contemporâneo, sem perder a essência da mensagem; c. ter um fundamento seguro para a fé, doutrina e vida cristãs, tanto para o cristão individualmente, bem como para a igreja. Estas são algumas das razões que compeliram cristãos através dos séculos a buscar uma interpretação que é saudável bíblica e teologicamente,bem como honesta e válida intelectualmente.28 O alvo da interpretação correta é simplesmente chegar ao sentido claro do texto. Princípios Gerais de Interpretação Bíblica É preciso princípios de interpretação? Não bastaria a leitura dos textos bíblicos? O sentido de um texto não vem pela leitura? Essa última pergunta poderia ser respondida de certo modo com um sim e um não. A razão principal de se aprender a interpretar é porque um leitor é também um intérprete. Quando lemos nós passamos a entender de algum modo o que está sendo lido. E nesse nosso entendimento incorporamos nossas experiências, nossa forma de ver as coisas, cultura e compreensão de palavras e ideias. E é aí que reside o detalhe problemático de equiparar a simples leitura de um texto com a sua compreensão plena. Um exemplo dado é sobre o texto de Rm 13.14 e o conceito de carne. É verdade que traduções mais modernas facilitam sua compreensão, mas “carne” aqui não se refere ao corpo, como poderia se supor, mas aos “apetites físicos”, ou a natureza pecaminosa do ser humano.29 A natureza da Escritura Sagrada demanda princípios para ler e interpretar bem. Por ser palavra de Deus, sua relevância é eterna. Porém, ela é humana nas palavras e nos personagens. A seguir, alguns princípios básicos que devem ser levados em conta na tarefa de interpretar a palavra de Deus. Um dos primeiros elementos a ser considerado é tratar o texto bíblico do ponto de vista histórico-gramatical, usado desde o tempo da escola teológica de Antioquia. Esse método procura valorizar o fato de Deus ter se revelado na história em palavras humanas. Em termos práticos isto significa ouvir o texto como as pessoas do primeiro século o compreendiam. 28 Aqui é necessário refletir no fato de que existem assuntos na Bíblia em que a razão precisa “calar”. O próprio apóstolo Paulo diz aos Coríntios que a salvação de Deus através da cruz de Cristo é loucura (1 Co 1.18-25). Também não se encaixa racionalmente a idéia que cristãos devem dizer não para seus interesses particulares e serem servos de Cristo e uns dos outros (Mc 8.34-38; 10.43; Fp 2.1-7). Porém, Deus também não espera que um intérprete da sua palavra desligue o seu cérebro e simplesmente creia em tudo, mesmo no que não faz sentido algum. Ler e interpretar a palavra de Deus também envolve cuidadoso estudo, a fim de checar se as coisas de fato são assim e a Bíblia foi entendida de maneira adequada. A razão, quando usada apropriadamente, também é uma dádiva do alto para conduzir à verdade (Opening the Book of Faith, p.25-26). 29 FEE, E STUART, op. cit., pp.13-15. Também é preciso ler a passagem dentro do seu contexto. Esse princípio vale para toda a literatura, mais ainda a Bíblia. As Escrituras não podem ser tratadas como uma coleção de passagens isoladas. O alvo é compreender o todo a fim de apreciar e entender as partes, ou então compreender as partes para apreciar o todo. Precisam ser observados principalmente os contextos do texto (o que vem antes e o que segue), do livro da Bíblia e contexto histórico. Importante ainda é observar o gênero literário que estou lendo. Os diferentes gêneros literários exigem atenção diferenciada. Um Salmo não pode ser lido e explicado como uma parábola, por exemplo. Os principais gêneros literários são: Narrativa Histórica, Poesia, Sabedoria Hebraica, Profecia, Parábola, Epístola e o Apocalipse. Na leitura da Bíblia é necessário aprender a aplicar regras especiais a cada uma dessas formas literárias. Identificar o contexto histórico e cultural de um livro também é um auxílio na interpretação. Quem escreve, para quem, com que propósito, de que forma, o que estava acontecendo na época. O desafio é ler o texto como se fôssemos contemporâneos daqueles primeiros leitores. Em termos culturais há palavras e imagens que precisam ser dissecadas e esclarecidas. Ainda vale a recomendação de que a própria Escritura é a sua melhor intérprete. A fim de evitar interpretações subjetivas (humanas), um outro princípio, que pode ser considerado como primário, é deixar com que a própria Escritura estabeleça o ensino. O que quer dizer isso? Primeiro, que fora da Bíblia realmente não se pode definir uma verdade. Deus tem a última palavra e não tradições humanas (Mt 15.3; Cl 2.8). Segundo, toda passagem bíblica deve ser iluminada pelo ensino da Escritura como um todo. Isso diz respeito particularmente àquelas passagens de compreensão mais difícil, mas é um critério que deve ser aplicado em todos os textos. Autor, texto e leitor – palavras e ações No caso da Escritura Sagrada, podem existir pelo menos três aspectos envolvidos no processo de interpretação. Autor, texto e leitor. No caso do autor, mesmo que em alguns casos haja algum grau de dificuldade para determiná-lo, tem o seu valor saber quem escreveu determinado texto. Também é fundamental se ater àquilo que é básico, o texto em si, ou o significado das palavras. Porém, é preciso ainda considerar que o texto revela também ações, cujo significado pode não ser claro por si só e que também interfere na interpretação do texto. Jesus caminhando sobre a água por exemplo (Mt 14.22-33), ou o sacerdote e o levita passando do outro lado da estrada, na história do Bom Samaritano (Lc 10.25-34). Também é significativo considerar os receptores do texto. O que estava acontecendo na época, sob quais circunstâncias o texto lhes foi encaminhado. Aqui é preciso lembrar que, de maneira geral, o sentido de um texto está na superfície. Não há necessidade de escavar. Não é preciso zelar pela originalidade na interpretação, como se as verdades estivessem nessa escavação. O alvo do estudo bíblico não é a originalidade em termos de inovação na interpretação, mas apresentar o que o texto ensina de forma mais profunda possível. É justificável, contudo, o propósito de buscar reflexões sobre a aplicação de melhores técnicas de estudo e de instruções sobre princípios hermenêuticos bíblicos saudáveis para a elaboração e condução de estudos bíblicos, cuja meta por sua vez, é a edificação do povo de Deus através do evangelho do Senhor Jesus Cristo, o cerne das Santas Escrituras. 2.3 Atividades de auto-estudo 1. Uma das características dos tempos pós-modernos é a afirmação de uma suposta falta de uma verdade objetiva. Há uma relativização extrema e que também acaba chegando à leitura e interpretação da Bíblia. Os mesmos textos são interpretados de forma completamente distinta. Como podemos avaliar essa situação em se tratando da leitura de documentos, a saber, a Escritura Sagrada? Considere essa circunstância e apresente em pelo menos 5 linhas uma análise e possível solução para essa situação. 2. O que está certo? a) Ler e interpretar o texto bíblico com bom senso, é saber que o sentido do texto geralmente está na superfície e seu sentido é literal; b) O mais importante é inovar na interpretação, isto é o mais importante num Estudo Bíblico. Escreva em torno de 3 a 5 linhas sobre a razão de sua escolha e fundamente sua resposta. 3. Em poucas palavras poderíamos dizer que interpretar é: a. tirar conclusões subjetivas de um texto; b. abranger todas as possibilidades de explicação de um texto; c. chegar à verdade ou ao entendimento correto do que está sendo lido; d. uma explicação parcial de um texto bíblico; Resposta “c” 4. A afirmação de que Bíblia se trata de um livro divino e assim exige alguns critérios para sua leitura, se refere: a. a garantir que cada um tenha o direito de interpretar a Bíblia subjetivamente; b. à interpretação adequada e em conformidade com os objetivos de Deus; c. a apenas alguns livros da Bíblia, especialmente Apocalipse; d. somente ao modelo quádruplo de interpretação; Resposta “b” 5. Diante de passagens da Escritura Sagrada de compreensão mais difícil: a. submetê-las ao princípiode que a Bíblia interpreta a si mesma; b. devem ser completamente ignoradas para evitar ensino falso; c. Não existem passagens bíblicas desse tipo; d. fazer valer a opinião de cada um em particular; Resposta “a” Referência comentada HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Tradução de Rubens Castilho. Viçosa: Ultimato, 2002. Para uma aproximação dos pais da Igreja e aprendizado sobre sua leitura das Sagradas Escrituras, a sugestão é o livro que faz uma viagem desde a razão de ler dos pais, a mente moderna e a interpretação bíblica, quem são os pais e forma como eram lidas as Escrituras neste período. Referências Bibliográficas do Capítulo JACOBSON, Diane; POWELL, Mark Allan; OLSON, Stanley N. Opening the book of faith. Lutheran Insights for Bible Study. Minneapolis: Augsburg Fortress, 2008. KAISER JR., Walter C. e SILVA Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. Tradução de Paulo César Nunes dos Santos, et alii. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002. FEE, Gordon D. e STUART, Douglas. Entendes o que Lês? 2ª Ed. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2008. VOELZ, James W. What Does This Mean? Saint Louis, U.S.A.: Concordia Publishing House, 1995. 3. Lei e Evangelho na Interpretação da Bíblia Introdução Esse capítulo visa tratar de maneira especial e específica um aspecto fundamental, quem sabe crucial, na leitura da Bíblia e já tratado inicialmente nos pressupostos no estudo da Bíblia, abordados no primeiro capítulo desta obra. A distinção entre lei e evangelho. Saber distinguir e aplicar corretamente a lei e o evangelho “é uma arte ensinada pelo Espírito Santo na escola da experiência”, mas espera-se que a partir dos estudos e das reflexões aqui apresentadas, o estudante seja capaz de observar a importância do ensino e comece a colocar em prática “essa arte”. 3.1 Lei e Evangelho na Palavra de Deus O conteúdo da palavra de Deus na Bíblia nos vem em forma de lei e evangelho. Por um lado a palavra de Deus aterroriza os pecadores denunciando seus pecados, por outro lado ela lhes justifica, vivifica e regenera, apagando suas transgressões. Essas são a rigor as duas obras de Deus e nestas duas se divide a Escritura Sagrada. Uma parte é a lei, que teologicamente também é chamada de espelho, pois mostra e condena os pecados; a outra é evangelho, denominado de boas novas, pois apresenta a boa notícia da graça salvadora manifestada em Cristo. Em princípio, aprender a distinguir a lei do evangelho é tarefa até certo ponto fácil. O que talvez seja mais complexo é a sua aplicação na vida das pessoas através da proclamação da palavra de Deus. Costuma-se afirmar que isto só pode ser ensinado pelo Espírito Santo na escola da experiência. O Centro das Escrituras A mensagem da Bíblia tem a ver com a história de pessoas que erraram o alvo em suas vidas. Deus criou o homem e a mulher em completa santidade e perfeição. Entretanto houve uma quebra nesse relacionamento gerado pelas próprias criaturas. Deus não desistiu de seus filhos, muito pelo contrário, ele foi atrás deles tão logo aconteceu sua rebelião, prometendo-lhes um salvador, a fim de restabelecer a conexão perdida entre criaturas e criador (Gn 3.15). A Bíblia, em resumo, é a história do livramento divino para pessoas perdidas no pecado. E essa história culminou em Jesus Cristo. Ele é a palavra (Verbo) que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14) e todo que nele crê se torna filho de Deus (Jo 1.12). Cristo é o centro da Bíblia. Ele próprio deixou isso claro em várias ocasiões. O cerne da revelação de Deus são as boas novas do evangelho. Em João 5.39 ele fala de maneira bem direta que as Escrituras testemunham a respeito Dele. Em Lucas 24.25-27,44, ele ressalta que o Antigo Testamento falava de Jesus. O que significa isto? Isto tem implicações significativas na compreensão da Bíblia e na forma como vamos proclamar sua mensagem. Se a Bíblia aponta para o Filho de Deus, nosso compreensão e proclamação devem ter como centro a Jesus Cristo, o Salvador. Bíblia: o livro das Boas Novas Um dos conflitos mais proeminentes descrito nos evangelhos é de Cristo com os fariseus. Qual era a dificuldade principal? Grande parte do problema estava na interpretação equivocada da palavra de Deus por parte dos fariseus. A leitura deles não era cristocêntrica, nem orientada na distinção lei/evangelho. Para esses líderes religiosos as Escrituras eram vistas como uma coleção de regras e que tinham como enfoque o que cada um deve fazer para agradar a Deus. Jesus os acusou de colocarem sobre os ombros das pessoas pesados e impossíveis fardos de carregar (Mt 23.4) e sua intenção era apenas serem vistos pelas outras pessoas (Mt 23.5-7). Essa postura chegou ao extremo de até ignorar e invalidar a própria palavra de Deus, para fazer valer as suas tradições (Mc 7.10-13). Ao invés de colocar no centro do seu ensino e vida a Cristo, o salvador prometido na Lei, Salmos e Profetas, eles preferiam continuar ensinando regras comportamentais e até tradições meramente humanas. Eles até tinham “zelo por Deus, porém, não com entendimento” (Rm 10.2), com o propósito de serem justificados por Deus.30 Infelizmente essa tendência equivocada é de todo ser humano. Ler a Bíblia com ênfase maior, e às vezes tão somente, nas exigências de Deus, ao invés da mensagem de lei e evangelho. A ênfase na lei é um perigo. Ela pode gerar desespero, bem como produzir pessoas que confiam mais naquilo que supostamente fazem de agradável a Deus, do que naquilo que Deus fez a faz por elas graciosamente em Jesus Cristo. O papel da Lei de Deus A lei de Deus já vem programada originalmente em todo o ser humano (Rm 2.15) e sua função é tornar conhecido o pecado (Rm 7.7) e assim produzir o arrependimento. Foi isso que aconteceu no reinado de Josias, ainda no Antigo Testamento (2 Rs 22.11-13). A palavra de Deus na forma de lei apontou às pessoas daquela época o pecado e com o seu arrependimento, veio a boa nova de Deus (2 Rs 22.18-20). Isto aconteceu há vários séculos atrás. Mas essas redescoberta do rei Josias nos lembra que nossa fé ou esperança não se pode basear sobre alguma espécie de moralidade, ou mesmo sobre a lei, mas na pregação da lei para mostrar o pecado e produzir 30 O próprio apóstolo Paulo é um exemplo dessa prática nos primeiros anos de sua vida, até ser encontrado e convertido pelo Senhor Jesus (At 9.1-19; Fp 3.2-11). o arrependimento (2 Tm 2.25) e do evangelho, a boa nova do perdão e da nova vida em Cristo (2 Tm 1.10). A lei tem o papel de expor o pecado, “cortar a carne”, e o evangelho é o poder de Deus para sarar e fazer com que os pecados e transgressões sejam atirados nas profundezas do oceano (Mq 7.18-19), pois essa mensagem está baseada na misericórdia e na graça do Senhor Jesus Cristo. O Evangelho de Jesus Cristo Ao exercer sua função a lei não está em conflito com a mensagem do evangelho, mas está a serviço dele. Por isso, a distinção entre ambos não é feita num vácuo, ou de maneira abstrata. A função da lei é em última análise servir ao evangelho e engrandecê-lo. Qual definição poderia ser dada ao evangelho? Dentre os muitos acontecimentos e descobertas na vida de Martinho Lutero e dos quais somos herdeiros, nada talvez se compare ao fato de que ele foi convencido da verdadeira identidade de Deus. Um Deus amoroso e que pode ser chamado de Pai. E ele só pôde ver o retrato do verdadeiro Deus em Jesus Cristo, seu Filho, quem lhe foi revelado na Escritura Sagrada. Martinho Lutero tinha um pai terreno. Ele tinha um pai e uma mãe que cuidavam dele e queriam o melhor para ele. Mas nem por isso ele vivia em paz. Ele vivia com medo e na melancolia. A igreja da sua época lhe ensinava que Deus era um pai amoroso para quem era obediente à sua lei. Quem fazia coisas boas recebiaas recompensas do pai. Isso tudo gerava medo, confusão, angústia e aflição, pois por mais que se esforçava, ele não conseguia satisfazer a Deus. Mas esse era o ensino na ocasião. Um dos primeiros acontecimentos que aflorou esse medo foi antes de entrar na universidade. Depois de ter se ferido com a espada, com a perda de muito sangue e posterior infecção, ele pensou que iria morrer. Isso provocou nele o medo da morte e o mais sério, o medo de Deus, pois foi levado a acreditar que Deus era um juiz irado e vingador. Mas o acontecimento decisivo aconteceu um tempo depois, quando em meio a um temporal e muito assustado, caiu de joelhos prometendo ser um monge para agradar a Deus e não ser castigado. Ele ansiava pela paz e a maneira que lhe foi ensinado e pensou que poderia fazê-lo, era separar-se do mundo, fazer coisas boas, agradar a Deus e sentir o seu amor. Porém, mais ele tentava fazê-lo, mais ele se afundava e se perdia num labirinto sem saída, não sabendo mais o caminho de volta para o Pai. Ele havia chegado ao fundo do poço. Para encontrar o verdadeiro Deus, a epístola de Romanos foi decisiva para Lutero ver a Deus como Pai. Lá, ele confirmou o que já sabia: que era um filho desobediente e que se distanciou do Pai. Porém, lá Deus lhe ensinou o outro lado da moeda: ele não precisa e nem pode fazer algo para se reaproximar e voltar à casa do Pai, pois Deus fez isso em Jesus Cristo. Nele somos filhos adotados do Deus Pai. É um presente em Jesus. Quanto mais Lutero estudava a palavra, mais ele era convencido que Deus Pai quer salvar os pecadores e não puni-los e que a graça de Deus remove os pecados. Essa talvez seja uma forma de descrever o evangelho, a boa notícia de Deus para a humanidade. Essa é a mensagem que o apóstolo Paulo tinha para os coríntios (1 Co 15.1-4). Seu conteúdo é específico. Ele trata do perdão amoroso de Deus através da obra de seu filho Jesus Cristo. Esse é o evangelho pelo qual somos salvos. Como a bênção do evangelho é atualizada na vida das pessoas hoje? Como elas recebem os benefícios da cruz conquistados por Cristo? Segundo a palavra de Deus, o evangelho não é só informação a respeito do amor de Deus, mas é o poder de Deus para regenerar e salvar quem nele crê (Rm 1.16). O apóstolo Paulo nos diz que esse evangelho e que nos une com Cristo vem por meio do Batismo (Rm 6.3-8) e pela pregação da Palavra ou do evangelho (Rm 10.17). 3.2 Manejando bem a Palavra – Lei e Evangelho “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (At 16.30) Essa foi a pergunta de um carcereiro feita a Paulo e a Silas. Em nossa resposta pode estar envolvido o seu destino eterno. Qual seria a sua resposta? Se ela for do tipo “é preciso ser um imitador de Jesus ou é preciso obedecer a Deus”, poderá haver uma confusão entre lei e evangelho. Cristo de fato nos convida a sermos seus imitadores, mas depois de termos recebido gratuitamente a sua salvação (Ef 5.1-2). Quando existe qualquer exigência ou apego à lei, se anula a graça, ou o evangelho do Senhor Jesus (Gl 2.21). Por isso a resposta de Paulo e Silas foi “crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Na cruz de Cristo foi pago tudo o que era necessário para a nossa salvação (Jo 19.30). Quando se introduzem exigências a fim de alguém ser perdoado e receber a salvação, a boa nova do evangelho é transformada em lei. E isto contradiz o evangelho do Senhor Jesus, que é graça e não exigência (Ef 2.8-9; Rm 5.17-21). Lei e Evangelho em ação Na leitura da Bíblia é possível observar a maneira como Deus trabalha na vida das pessoas. Ele as chama ao arrependimento através da Lei e lhes concede a graça do perdão através do Evangelho. Essa forma de lidar com o ser humano é desde o princípio de sua existência e no quadro abaixo a proposta é olhar as formas diferentes de Deus operar através da Lei e do Evangelho. A Lei e o Evangelho trabalham de forma diferente31: A Lei de Deus O Evangelho de Deus Como Deus os dá? Como Deus escreveu a Lei no coração do Deus não escreveu o Evangelho no coração 31 Baseado na Revista Boas Novas, Número 11, Lei e Evangelho, pp. 30-31. Esta publicação é feita em várias línguas pela Concordia Mission Society, St. Louis, Estados Unidos. homem quando o criou (Rm 2.14-15): A consciência do homem reconhece a Lei (Rm 2.15); Até o pior pecador pode ver que ele deveria fazer o que a Lei manda (Rm 2.14-15). do homem quando o criou (1 Co 2.6-14), por isso: A consciência do home é surpreendida pelo Evangelho (Lc 4.14-30; Jo 6.41, 51-52, 60,66); O home só irá aprender o Evangelho se o ler ou se alguém o proclamar/testemunhar a ele (Mt 28.18-20; Lc 9.2; Rm 10.14-17; 16.25-26). Em resumo: Enquanto todas as pessoas sabem naturalmente alguma coisa sobre a Lei, só se pode aprender o Evangelho a partir da proclamação da palavra de Deus. O que ensinam? Como a Lei mostra o que deve ser feito pelo homem (Ex 20.1-17; Dt 27.10), ela: Se concentra nas obras (Dt 6.24; Jr 11.3-4); Exige obediência perfeita (Dt 6.5-8; Mc 12.30-31; Tg 2.10); Nunca oferece o perdão, mas cobra, nos condena e mata. Como o Evangelho nos mostra o que Deus faz por nós em Cristo (Mt 26.26-28; Rm 4.8; 6.3-7; 2 Co 5.19-21), ele: Se concentra na obra de Deus pela humanidade (Rm 3.22-26; 5.6-9; 8.32); Não faz exigências, mas oferece a graça (At 20.24) e a salvação de Deus (Ef 1.13); Perdoa, redime, justifica, salva e concede a paz e a vida eterna (Rm 3.24,28; 5.1; Cl 1.13-14, 21-22; Jo 10.27-28; 1 Jo 5.11). Em resumo: Enquanto religiões ensinarem apenas a mensagem da Lei, haverá somente uma explicação parcial da palavra de Deus. A Bíblia também ensina a mensagem do Evangelho, as boas novas da salvação e esta for ensinada de modo preponderante, a palavra completa de Deus será ensinada. O que prometem? A Lei pode até nos prometer vida e salvação (Lv 18.5; Lc 10.25-28), mas: Somente se houver cumprimento perfeito e completo (Gl 3.12; Tg 2.10); A Lei só pronuncia alguém como justo um homem realmente justo (Rm 2.13). O Evangelho também nos promete vida e salvação (Jo 3.15-16; 5.24), mas: Sem impor absolutamente nenhuma condição (Rm 3.28; Rm 4.1-5; Gl 3.18), portanto: O Evangelho declara que um homem injusto é justo (inocente diante de Deus) através de Jesus Cristo (Rm 4.5; 5.6-8). Em resumo: Somente Cristo poderia cumprir integral e perfeitamente as exigências da Lei. Ele as cumpriu para a nossa salvação. Como ameaçam? A Lei nos ameaça apenas com punições (Gn 2.17; Lv 26.14-17; Dt 27.26; Gl 3.10). O Evangelho jamais nos ameaça (2 Sm 12.13; Mt 9.2; Lc 7.47; Jo 8.3-11; 1 Tm 1.15). Em resumo: Cristo levou o castigo ou a maldição que você merecia, silenciando assim, as ameaças que a Lei fazia a você. O que fazem para você? Como a Lei exige mas não pode nos Como o Evangelho é convite e poder de capacitar a cumprir suas exigências, ela: Nos torna rebeldes (Rm 7.5,7-11, 15); Jamais nos ajuda no combate à vida pecaminosa e assim nos leva ao desespero (Mt 27.3-5; Rm 7.7,24); Nos faz tristes e temerosos e não nos proporciona consolo algum (2 Sm 12.7-13a; At 2.36-37). Deus para recebermos as bênçãos de Deus em Cristo Jesus (At 16.27-31; Rm 10.17), ele: Remove todo o terror, medo e angústia e os substitui com paz e alegria no Espírito Santo (Rm 5.1-2, 10-11; 8.1); Não exige um bom coração, boas intenções, aperfeiçoamento, santidade ou amor para com Deus ou às pessoas. Ele não dá ordens, mas nos regenera e capacita para vivermos uma nova vida em Cristo (2 Co 3.18; 5.17; Ef 5.8; Cl 1.21-22). Em resumo: A Lei não pode salvar você, mas ela tem um papel importante: ela o convence da sua pecaminosidade e aí é que o Evangelho pode fazer sua obra de reconciliação, perdão e cura na sua vida. Quem deve ouvir? Todos são pecadores (Rm 3.10, 23; 1
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