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S3 Medicina Alina Villela Bronquiectasia Caso clínico ▪ Identif: 49 anos, masculino, do lar, católico, natural e procedente de Canindé-Ce ▪ QP: tosse e secreção (doença de via aérea) ▪ HDA: Há 10 anos com história de tosse associada à secreção purulenta. Episódios frequentes de piora, caracterizados por aumento da secreção, mudança da coloração do escarro, febre e dispneia, algumas vezes com necessidade de internação. Referia ainda perda de peso nos últimos 2 anos. ▪ Hábitos: Tabagista de 8 m.a. Nega etilismo ▪ Ocupacional: segurança. ▪ HPP: Artrite reumatoide (doença autoimune). Sinusite de repetição ▪ Exame físico: FR: 26 rpm (taquipneico). AP: crepitações difusas. Discreto baqueteamento digital, SO2: 91%. Bronquiectasia 1a descrição: Laennec, 1819 ✓ Tosse produtiva ✓ Exacerbações frequentes ▪ Não é uma doença única ▪ Melhor entendimento nos últimos 20 anos ▪ Definição: Dilatação permanente dos brônquios - Cilíndrica: os brônquios estão consistentemente alargados - Cística (mais grave): a dilatação aumenta em direção à periferia pulmonar, o que causa uma estrutura em formato de balão -> definido pela TC Fisiopatologia Microbiota: Comunidade de microorganismos comensais, simbióticos e patogênicos encontrados em um nicho Microbioma: combinação do material genético de todos os microorganismos de um ambiente (mycobioma e viroma) Existe interação de diferentes microorganismo entre si e com o hospedeiro produzindo efeitos na saúde e doença Cultura vs métodos moleculares (RNA e DNA) Pulmão normal: Streptococcus, Prevotella, Veillonella; Menos comum: Haemophilus e Neisseria Ciclo vicioso: Infecção + inflamação Obstrução e lesão das vias aéreas (ex: aspiração de corpo estranho) com infecção recorrente Infiltração de neutrófilos e linfócitos T na parede brônquica Aumento da elastase, IL-8, TNF e prostanoides Macroscopicamente, as vias respiratórias envolvidas pelo processo tornam-se dilatadas, tortuosas, flácidas e, em geral, parcialmente obstruídas por secreções purulentas. As vias respiratórias mais periféricas costumam estar inflamadas e preenchidas por secreções em decorrência da obstrução mais proximal. A longa duração do processo obstrutivo pode ocasionar a substituição das pequenas vias respiratórias por processo fibrótico acelular. Esse conceito é de suma importância, pois, apesar de a doença ser caracterizada pela dilatação das grandes vias respiratórias, o comprometimento das pequenas vias respiratórias é fundamental na gênese dos sintomas e na gravidade desses pacientes. Microscopicamente, parte das vias respiratórias afetadas está espessada por S3 Medicina Alina Villela edema e células inflamatórias, enquanto outras áreas de mucosa apresentam erosões, úlceras e até mesmo formação de abscesso. A inflamação persistente pode levar à metaplasia escamosa. Podem ocorrer broncomalácia, hipertrofia muscular e intensa neovascularização de artérias brônquicas. Embora o processo envolva primariamente as vias respiratórias, as pneumonias recorrentes podem comprometer o parênquima pulmonar com inflamação, edema e fibrose, levando à distorção da arquitetura alveolar. Os três mecanismos mais importantes que contribuem para a patogênese das bronquiectasias são: Infecção; Obstrução das vias respiratórias; fibrose peribrônquica. A resposta inflamatória envolve o recrutamento de neutrófilos e linfócitos T. Ocorre liberação de elastase, colagenase e outras substâncias pelos neutrófilos recrutados. Os macrófagos e as células epiteliais das vias respiratórias liberam substâncias químicas como interleucina-8, fator de necrose tumoral e prostanoides, que influenciam a migração de células. O resultado final da inflamação na parede brônquica é a destruição de suas camadas elástica e muscular, levando às características dilatações das bronquiectasias. A distorção brônquica originada desse processo irá proporcionar ainda maior obstrução e retenção de secreção, aumentando o processo infeccioso. Quadro clínico Focal (pneumonia recorrente): Obstrução brônquica por tumor, corpo estranho…; Obstrução extrínseca por linfonodo (síndrome do lobo médio) Difusa (ex: fibrose cística) ▪ Tosse (98%) ▪ Secreção mucoide, amarelada, espessa (78%) ▪ Hemoptise e hemoptoicos (27%) ▪ Dispneia e sibilância em 75% dos casos ▪ Crepitações (70%), sibilos (34%), roncos (44%) ▪ Baqueteamento digital em 3-5% Causas ▪ Condições pós-infecciosa: Bactérias, tuberculose, aspergilose; Vírus (adenovírus, sarampo, influenza…) ▪ Condições congênitas: Discinesia ciliar primária (disfunção dos cílios); Deficiência de alfa1-antitripsina; Síndrome de Marfan ▪ Imunodeficiências: Hipogamaglobulinemia; Leucemia, quimioterapia; Inalação tóxica ou aspiração; Overdose de heroína; Aspiração de corpo estranho. ▪ Condições reumatológicas: Artrite reumatoide; LES ▪ Outras: Doença inflamatória intestinal; Síndrome das unhas amarelas. ▪ Infecção de repetição em crianças (coqueluche) ▪ Micobacteriose não tuberculose ▪ Fibrose cística (bronquiectasia de lobos superiores) Fenótipo Exacerbador (3 ou +/ano) : Fatores de risco: Exacerbação prévia; Colonização por H. influenzae e P. aeruginosa no escarro; Valor do VEF1; Gravidade radiológica; DPOC associado Bronquiectasia seca vs produtiva S3 Medicina Alina Villela Diagnóstico ▪ Radiografia de tórax normal em até 95% ▪ TCAR de tórax em TODO CASO SUSPEITO ▪ Exames gerais: Dosagem de imunoglobulinas (IgG); Fator reumatoide, FAN; Cultura de escarro (diagnóstico e acompanhamento); Alfa1-antitripsina; Sorologia aspergillus (caso de suspeita); IgE anti-aspergillus; Espirometria Sinal do trilho de trem Bronquiectasia na lígula e no lóbulo inferior Bronquiectasia cilíndrica Bronquiectasia cilíndrica em cistos Bronquiectasia de tração (alvéolo e intertiscio pulmonar fibrosas e “esgarram” o brônquio) Círculo amarelo= fibrose paramediastinal Setas= brônquios dilatados por tração Prognóstico ▪ BSI e FACED -> índices ▪ Fatores de maior mortalidade: Internações prévias - >3 exacerbações/ano; Idade avançada; VEF1 reduzido; Baixo IMC Tratamento ▪ Tratamento da causa de base ▪ Redução da inflamação ▪ Redução da carga bacteriana (atb) ▪ Higiene brônquica (fisioterapia) ▪ Broncodilatação ▪ Tratamento das exacerbações infecciosas ▪ Macrolídeos (fenótipo exacerbador) ▪ Antibiótico inalatório? ▪ Solução salina hipertônica (facilita expectoração) ▪ Fisioterapia ▪ Não usar corticoide inalado de rotina! ▪ Terapia DRGE (exacerbador) ▪ Vacinas ▪ Reabilitação ▪ Cirurgia (transplantes sempre bilaterais, pois o uso de imunossupressores causaria exacerbações); bronquiectasia localizada-> opera o lóbulo) Bactérias mais frequentemente isoladas no escarro: H influenzae (40%); P aeruginosa (30%); S pneumoniae (13%) Colonização por Pseudomonas: Maior produção de escarro, maior extensão das Bqt - Maior necessidade de hospitalização e pior QoL
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