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1 Camila Carminate – 5 FASE Transtornos Mentais Orgânicos Alucinação: São experiências sensoriais vívidas criadas na própria mente e que são indistinguíveis das que tem origem do meio externo. A pessoa que está tendo uma alucinação não é capaz de diferenciar se as imagens e os sons que ela está vendo e ouvindo são reais ou não. Delírio: uma crença errônea mantida com absoluta convicção de verdade e incorrigível por qualquer demonstração de suas incongruências e impossibilidades. Delirium: é um estado agudo (início rápido, em poucas horas ou dias) de confusão mental devido a um rebaixamento do nível de consciência, organicamente determinado. O delirium, a demência, os transtornos amnésticos e outros transtornos da cognição são classificados como transtornos cognitivos no DSM-IV-TR. Como grupo, representam condições psiquiátricas devidas exclusivamente a fatores etiológicos “orgânicos”, em oposição a fatores “funcionais”. Os fatores psicológicos são ainda muito relevantes na experiência de sintomas do paciente e em sua resposta comportamental e emocional à doença. DELIRIUM Oocrre sob duas formas: hipo e hiperativa, ambas causadas por doença cerebral. Nos tempos modernos, diversos termos foram usados para designar o delirium, tais como transtorno confusional agudo, encefalopatia metabólica e psicose da unidade de tratamento intensivo. Novas hipóteses e descobertas, a partir de uma crescente série de pesquisas sobre o delirium, buscam harmonizar-se com a fundamentação estabelecida e, ao mesmo tempo, desafiá-la quando necessário. DEFINIÇÃO O delirium é um transtorno cerebral agudo manifestado por uma série de sintomas neuropsiquiátricos. Engel e Romano (1959) retrataram o delirium como uma “síndrome da insuficiência cerebral”, análoga à insuficiência cardíaca ou renal. O modelo do DSM-IV-TR descreve o delirium como uma síndrome neuropsiquiátrica reversível, aguda, causada por condições médicas gerais e/ou substâncias exógenas. Um recente levantamento (Ely et al., 2004b) confirmou que muitos médicos acreditam que o delirium é transitório e não apresenta consequência a longo prazo sobre o cérebro. Foi demonstrado que o delirium afeta marcada e independentemente aspectos como duração da internação, institucionalização subsequente e morte, entre outros. Igualmente notáveis são os estudos demonstrando novos e permanentes déficits cognitivos pós-recuperação, que podem estar ligados a supostos processos patológicos presentes no cérebro delirante. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DIAGNÓSTICO DE DELIRIUM DO DSM -IV-TR Os critérios diagnósticos do DSM-IV-TR para delirium requerem prejuízo na consciência/atenção e mudança na 2 Camila Carminate – 5 FASE cognição, os quais se desenvolvem de forma aguda e tendem a oscilar. Lipowski (1983, 1987) caracterizou o delirium como um transtorno da atenção, da vigília, da cognição e do comportamento motor. A ruptura da atenção muitas vezes é considerada o sintoma central. Os pacientes lutam para manter o foco da atenção, mas se distraem com facilidade, e seu nível de alerta com frequência varia. Os ciclos de sono-vigília também são interrompidos: com frequência, os pacientes apresentam sono maciçamente fragmentado e perda do ritmo circadiano normal. O prejuízo na cognição pode se dar em um amplo espectro, ou seja, de sutil a marcado e de focal a global. Podem ocorrer déficits de percepção, memória, linguagem, velocidade de processamento e funcionamento executivo. SUBTIPOS DE DELIRIUM De acordo com as antigas descrições de frenite e letargia, foram estabelecidos dois subtipos de delirium: hipoativo e hiperativo. Liptzin e Levkoff (1992) caracterizaram como hiperativos os pacientes delirantes com inquietação, hipervigilância, fala rápida, irritabilidade e combatividade, enquanto aqueles apresentando fala e cinética lentas, apatia e alerta reduzido foram denominados hipoativos. O tipo misto oscilava ou incluía elementos dos dois outros subtipos. Os pacientes hipoativos tendem a ser mais velhos, ter trantornos cognitivos mais graves, apresentar menor probabilidade de serem diagnosticados e representarem um prognóstico pior. Parece haver uma tendência global, entretanto, de prevalência do tipo misto, seguido pelas variantes hipoativa e, por fim, hiperativa. ETIOPATOGÊNESE Sugere-se, que estados de doença comórbidos, estressores ambientais e certos medicamentos podem precipitar delirium em pacientes vulneráveis. O grande número e a natureza distinta dos precipitantes identificados questionam a maioria deles como tendo causalidade direta para o delirium. Além disso, é clinicamente reconhecido que o delirium com frequência persiste bem depois dos precipitantes terem sido tratados e removidos com sucesso. A nossa hipótese é que os precipitantes podem iniciar uma cascata de eventos neuroquímicos e metabólicos no cérebro. Indivíduos mais fortes podem resistir a essa cascata e não se tornar delirantes ou, se o delirium ocorrer, podem recuperar-se rapidamente e sem sequelas. Há variações sobre este tema em que precipitantes selecionados têm ligações causais parciais, como medicamentos com atividade anticolinérgica ou pró- dopaminérgica importante. Notavelmente, permanece a questão de como e onde enquadrar o delirium tremens e os estados de abstinência de sedativo no paradigma de delirium mais amplo. O PAPEL DO OXIGÊNIO Entre adultos jovens saudáveis, a concentração e a aprendizagem de curto prazo são degradadas quando a pressão parcial de oxigênio (PaO2) cai para 45 a 60mmHg, 3 Camila Carminate – 5 FASE e o delirium franco ocorre com segurança em uma PaO2 de 35 a 45 mmHg. Em uma análise retrospectiva de pacientes de UTI, três medidas de oxigenação (hemoglobina, hematócrito e oximetria de pulso) e duas de estresse metabólico (septicemia e pneumonia) foram piores nos indivíduos antes do desenvolvimento de delirium, apesar de não haver diferença na gravidade da doença entre os grupos. A importância do metabolismo oxidativo no delirium também é evidente em indivíduos com septicemia. Esses pacientes têm hemoglobina, fluxo sanguíneo cerebral (FSC), taxa metabólica para O2 e suprimento cerebral de O2 mais baixos se comparados a sujeitos sépticos não delirantes. RESERVAS CARDIOVASCULARES E RESPIRATÓRIAS Com a idade, ocorre um amplo declínio nas reservas cardiovasculares e respiratórias. Aos 85 anos, a capacidade vital é reduzida em 30 a 40% e o gradiente arterioalveolar amplia-se; aos 90 anos, a PaO2 basal cai para 70 mmHg, a resposta ventilatória à hipoxia aguda enfraquece e a frequência cardíaca máxima e o débito cardíaco diminuem. O suprimento de oxigênio para o cérebro em momentos de maior estresse metabólico também pode ser limitado pela capacidade reduzida para mudanças compensatórias na dinâmica dos vasos vertebrais e carotídeos devido à vasculopatia. DEMANDA DE OXIGÊNIO E ANEMIA Outrossim, a anemia, que também pode restringir o suprimento de O2 para o cérebro, é comumente encontrada entre pacientes hospitalizados. ANOXIA Uma ligação causal proposta entre desarranjos metabólicos e o desenvolvimento de delirium foi apresentada. MECANISMOS SELETIVOS ADICIONAIS Em um modelo de encefalopatia hipóxica, foi demonstrado que a liberação da dopamina aumenta 500 vezes, enquanto a liberação de ácido g-aminobutírico (GABA), apenas cinco vezes. Esse aumento maciço na dopamina resulta de uma decomposição nos transportadores dependentes de ATP (recaptação diminuída) durante a despolarização anóxica, bem como de diminuições no metabolismo pela atividade reduzida da catecol-O-metiltransferase (COMT) dependente do O2. Outro possível mecanismo subjacente ao aumento na dopamina é a redução da atividade dadopamina- - hidroxilase. Esta enzima também é dependente do O2 e, portanto, em condições hipóxicas, menos dopamina é convertida em noradrenalina. PAPEL DOS NEUROTRANSMISSORES Em relação às alterações específicas nos neurotransmissores no delirium, as duas mais aceitas são a redução da atividade da acetilcolina (ACh) e o excesso de atividade da dopamina O estado de alerta, o ciclo de sono-vigília, a atenção, a aprendizagem e a memória são fortemente dependentes de ACh por meio de seus receptores nicotínico e muscarínico. A dopamina atua de forma significativa na atenção, no humor, na atividade motora, na percepção e no funcionamento executivo. O excesso de atividade dopaminérgica pode ocasionar delirium, como é observado com substâncias como L-dopa ou cocaína. O excesso de glutamato também é evidenciado na hipoxia. O transportador de glutamato falha em períodos de 4 Camila Carminate – 5 FASE privação de energia, resultando em perda de recaptação combinada com efluxo maciço de glutamato. MELATONINA Níveis mais baixos do metabólito de melatonina 6- sulfatoximelatonina (6-SMT) em pacientes delirantes hiperativos, mas níveis mais altos em indivíduos hipoativos. FATORES DE RISCO AVALIAÇÃO CLÍNICA Uma história completa e minuciosa fornece a maior parte das informações para o diagnóstico. O problema que gerou o encaminhamento é frequentemente caracterizado como psicose, depressão, falta de adesão ou comportamento ingovernável. As principais fontes de informação são pessoas que conhecem o paciente há algum tempo, como a família e os membros da equipe de tratamento. Uma revisão de doenças médicas ou cirúrgicas atuais do paciente também é essencial. É procedimento-padrão avaliar o ambiente de trabalho, com foco em variáveis que podem confundir, desorientar e interromper o ciclo cicardiano. Essas variáveis podem incluir subsídios visuais e auditivos; ciclos de luz, escuridão e ruído; esforços e dispositivos que auxiliam na comunicação; cuidadores, objetos e rotinas conhecidos versus desconhecidos; e fatores de despersonalização. REVISÃO DE MEDICAMENTO Toda avaliação de delirium justifica uma revisão de medicamento, inclusive de substâncias atuais e recentemente descontinuadas, sejam elas prescritas, de venda livre, fitoterápicas ou ilícitas. Os fármacos com propriedades anticolinérgicas devem ser evitados quando possível, e o potencial para interações medicamentosas deve ser revisto. Os idosos com delirium têm esterases plasmáticas diminuídas (enzimas metabólicas da fase 1). Esse grupo também demonstrou que pacientes delirantes têm albumina plasmática mais baixa e proteína C-reativa aumentada. A proteína C-reativa é relevante porque as citocinas inflamatórias suprimem a síntese da enzima P450. ENTREVISTA E OBSERVAÇÃO A entrevista deve ter como objetivo o estabelecimento de uma imagem global do funcionamento cognitivo do paciente. É útil observar se há diminuição da capacidade de atenção, psicose, déficits de memória de curto prazo, desorientação, disfunção executiva e alterações do humor ou da atividade motora. ESCALAS DE AVALIAÇÃO Os instrumentos de diagnóstico e avaliação são fundamentais para materializar e unificar esforços de diagnóstico e pesquisa no delirium. Os instrumentos mais citados e validados são a Escala de Avaliação de Delirium (DRS), a Escala de Avaliação de 5 Camila Carminate – 5 FASE Delirium – Revisada-98, o Método de Avaliação de Confusão e a Escala Memorial de Avaliação de Delirium. A DRS-R-98 é uma escala com 16 itens e de 46 pontos avaliados pelo médico. Ela pode servir para diagnosticar, avaliar gravidade e acompanhar alterações do delirium com o passar do tempo. O melhor escore de corte é 15 para a subescala de gravidade e 18 para o escore total (sensibilidade e especificidade nos percentis entre 90). Ela apresenta excelente validade interna e tem a capacidade de diferenciar delirium de demência. O CAM destina-se à detecção de delirium por médicos não psiquiatras. Ele é um instrumento com base em algoritmo que operacionaliza critérios diagnósticos do DSM. A MDAS de Breitbart é uma escala médica com 10 itens, de 30 pontos, mais adequada para avaliar gravidade. Um escore de corte de 13 oferece sensibilidade de 71% e especificidade de 94%. A MDAS correlaciona-se muito bem com a DRS e com escalas de gravidade avaliadas pelo médico. EXAME NEUROLÓGICO Técnicas de neuroimagem devem ser consideradas para pacientes com traumatismo craniano, achados focais, câncer, risco de acidente vascular cerebral (AVC), AIDS e apresentações atípicas (p. ex., jovens, saudáveis, ausência de precipitantes identificáveis). De acordo com isso, o grau de atrofia cortical generalizada foi mais estreitamente associado a risco de delirium do que a presença de lesões corticais focais isoladas. EXAMES LABORATORIAIS Os exames laboratoriais são importantes, mas não são a base de uma avaliação de delirium, e justificam-se de acordo com as características individuais do paciente. As avaliações podem incluir hemograma completo, eletrólitos, nitrogênio da ureia sanguínea, creatinina, glicose, cálcio, oximetria de pulso ou gases sanguíneos arteriais e análise da urina. Outros exames realizados habitualmente são testes urinários para substâncias, testes da função hepática com albumina sérica, culturas, raio X de tórax e eletrocardiograma (ECG). O exame do LCS também deve ser considerado na suspeita de meningite ou encefalite, bem como em casos atípicos de delirium. ELETROENCEFALOGRAMA Utilizando eletroencefalografia, demonstraram pela primeira vez que os pacientes delirantes apresentavam desorganização progressiva dos ritmos e lentificação generalizada. Especificamente, pacientes delirantes demonstram lentificação das frequências máxima e média, além de aumento dos ritmos teta e delta, mas diminuição dos ritmos. Esse mesmo padrão de lentificação eletroencefalográfica foi evocado em um modelo animal de delirium por diminuição de ACh ou aumento de atividade da dopamina. Tal padrão também é visto em seres humanos com encefalopatia hipóxica. As alterações eletroencefalográficas curiosamente se correlacionam com transtorno cognitivo e déficits de memória e atenção, mas não com o subtipo psicomotor. 6 Camila Carminate – 5 FASE O EEG é útil quando se está tentando diferenciar delirium de outras condições psiquiátricas, como, por exemplo, catatonia, depressão, transtorno conversivo e simulação. TRATAMENTO No tratamento de delirium, o médico, antes de qualquer ação, deve ser um observador diligente e um aprendiz ativo. A coleta de dados ativa permite que ele busque tratar mais seletivamente precipitantes que podem ser modificados e escolher quando e quais agentes farmacológicos são mais adequados para o paciente. É aconselhável que anticolinérgicos, benzodiazepínicos, corticosteroides, agonistas de dopamina poderosos e alguns opioides sejam descartados quando possível, embora não exista certeza nessa área. O objetivo terapêutico fundamental no delirium não é controlar a agitação ou as alucinações somente, é prevenir e reverter o delirium e, assim, diminuir os riscos de morbidez e mortalidade associados. INTERVENÇÕES NÃO FARMACOLÓGICAS - Elder Life Program, de Inouye e colaboradores (1999): Este programa de prevenção selecionou 426 pacientes não delirantes em risco para delirium e buscou abordar os seguintes aspectos: prejuízo cognitivo basal, sono, mobilidade, visão, audição e desidratação. - Terapia de oxigênio e prevenção de hipotensão perioperatória. FARMACOTERAPIA - Antagonistas dos receptores de dopamina: Haloperidol: efeitos anticolinérgicos ínfimos, ortostase mínima, sedação limitada, flexibilidade na dosagem e administração pelas vias oral,intramuscular e intravenosa. - Propofol - Outros antipsicóticos atípicos (risperidona): Bloqueio em 5-HT2A, D4 e receptores 1 agonismo em 5- HT1A; Aumento da atividade colinérgica líquida no córtex pré- frontal por meio de diversas interações de receptor de serotonina-ACh. - Ondansetrona intravenoso (um antagonista de 5-HT3) - Ácido valproico - Agentes pró-colinérgicos: Inibidores da acetilcolinesterase/butirilcolinesterase. - Benzodiazepínicos - Corticosteroides - Opioides DELIRIUM X DEMENCIA DEMÊNCIA As demências são um grupo heterogêneo de transtornos psiquiátricos caracterizado por perda dos níveis anteriores de funcionamento cognitivo, executivo e de memória (anterógrada e/ou retrógrada) quando o indivíduo está em estado de alerta total. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DAS DEMÊNCIAS De acordo com o DSM-IV-TR, as características essenciais das demências incluem déficits cognitivos múltiplos (prejuízo da memória anterógrada e/ou retrógrada e afasia, apraxia, agnosia ou perturbação do funcionamento executivo), que causam prejuízo no funcionamento do papel (role functioning) e representam um declínio significativo. A demência cortical é caracterizada por prejuízo proeminente de memória (lembrança e reconhecimento), disfunções de linguagem, apraxia, agnosia e déficits visuoespaciais. 7 Camila Carminate – 5 FASE A demência subcortical apresenta maior prejuízo da memória de evocação, fluência verbal diminuída sem anomia, bradifrenia (pensamento lento), humor deprimido, labilidade afetiva, apatia e atenção/concentração diminuídas. DEMÊNCIAS CORTICAIS A demência do tipo Alzheimer (DTA) é um diagnóstico clínico com base nos achados de início insidioso e na progressão gradual e contínua de déficits cognitivos. Visto que sintomas e sinais consistentes com DTA podem estar presentes em outros tipos de neuropatologia, o diagnóstico clínico de DA deve ser feito apenas depois que a avaliação médica não revelar outras causas para os sintomas de demência. Amnésia e outros sintomas cognitivos podem estar presentes desde o início da doença, embora o insight reduzido em relação à perda de memória seja comum. A atenção visual diminuída é considerada, às vezes, um fator-chave no prejuízo cognitivo. O paciente pode ficar desorientado no espaço e vagar a esmo. Apraxias no cuidado consigo mesmo podem ser evidentes. Déficits na memória, na concentração, na atenção e nas funções executivas tornam o paciente incapaz de manter seu emprego ou dirigir com segurança um veículo motorizado. A depressão é mais comum na DTA leve, enquanto a psicose é mais frequente na DTA moderada a grave. A apatia é um sintoma comum e pode ocorrer na ausência de síndrome completa de depressão; apatia, agitação, disforia e comportamento motor anormal aumentam com a progressão da doença e o avanço do prejuízo cognitivo. O constructo de “depressão menor” (um transtorno do humor subsindrômico para depressão maior) com demência comórbida foi associado a prejuízo psicológico e funcional significativo. Comportamento social e sexual desinibido, agressividade e risos ou lágrimas inadequados são comuns. A agitação do anoitecer (sundowning) pode ser um sinal especialmente disruptivo e foi associada a ritmos circadianos perturbados e atraso de fase da temperatura corporal na. Outros sintomas motores incluem lentificação, sintomas extrapiramidais, alterações de marcha, disartria, mioclonia e convulsões. A psicose é comum na DTA, e seu surgimento precoce está correlacionado a declínio cognitivo mais rápido. Alucinações visuais constituem a alteração perceptiva mais comum. A neuropatologia da DA inclui depósitos de amiloide, placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares. A APP (codificada no cromossomo 21) é clivada por proteases (secretases alfa e beta), produzindo amiloide insolúvel. 8 Camila Carminate – 5 FASE A -amiloide ativa os macrófagos e a microglia, produzindo uma inflamação que acelera o dano neuronal, embora tenha sido relatado que essa proteína seja, ela própria, tóxica para neurônios em cultura. O estresse oxidativo parece aumentar a taxa de morte neuronal, contudo esse processo pode ser bloqueado por vitamina E. Na DA, foi encontrada diminuição na atividade central de acetilcolinesterase em exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET). Com a progressão dessa doença, a deficiência na função colinérgica central produz uma condição hiperdopaminérgica relativa correlacionada ao surgimento de sintomas psicóticos. Além disso, na DA, outros sistemas neurotransmissores afetados incluem a serotonina (perda neuronal e ENFs na rafe dorsal e no núcleo septal central) e a noradrenalina (perda neuronal no locus ceruleus com metabolismo noradrenérgico aumentado compensatório e/ou autorreceptores noradrenérgicos hipersensíveis). Um decréscimo do volume sanguíneo no córtex temporoparietal também foi detectado, e prejuízo funcional do córtex parietoccipital foi revelado em um estudo que examinou a percepção visuoespacial na DA. A demência frontotemporal (DFT), incluindo demência devida à doença de Pick, caracteriza-se por idade de início mais precoce do que a DTA, disfunção executiva, déficits de atenção, perda de insight, afasia e alterações de personalidade (tipicamente extroversão aumentada) com preservação relativa da memória e das funções visuoespaciais. Os portadores de DFT podem exibir exuberância “infantil”, reações “catastróficas” a eventos triviais, consciência social diminuída, desinibição, distratibilidade, afasia, perseveração, “fissura” (craving) por carboidratos e sinais de liberação do lobo frontal, bem como uma resposta mais pobre a inibidores da colinesterase do que aqueles com DA. A demência em virtude de doença de Creutzfeldt- Jakob (DCJ), também denominada “encefalopatia espongiforme”, é uma infecção mediada por príon. Ela manifesta-se como uma demência cortical de progressão rápida, acompanhada por mioclonia, e pode aparecer inicialmente com psicose. A demência causada por hematoma subdural crônico pode apresentar-se com sinais neurológicos focais, alterações da personalidade, vários prejuízos cognitivos (incluindo diminuição de memória, disfunções de linguagem, dificuldade com abstração, problemas com cálculos e julgamento social pobre), letargia e/ou agitação. DEMÊNCIAS SUBCORTICAIS A demência em razão de HIV inicialmente se manifesta por meio de diminuição na velocidade psicomotora e de processamento de informação, na memória verbal, na eficiência da aprendizagem e na função motora fina, com sintomas corticais posteriores de redução da função executiva, afasia, apraxia e agnosia. Em estágios avançados, podem ocorrer ataxia, espasticidade, tônus muscular aumentado e incontinência. A demência em função de HIV resulta da neurotoxicidade mediada por macrófagos infectados pelo vírus (que servem como local para replicação viral). A demência devida à doença de Parkinson (DP) caracteriza- se por bradifrenia, apatia, memória de recuperação pobre, fluência verbal diminuída e déficits de atenção. A demência devida à DP caracteriza-se por depósitos de alfassinucleína ou proteína tau na substância negra e comumente envolve corpos de Lewy nesta substância, no córtex e no subcórtex, com déficits resultantes na neurotransmissão dopaminérgica, noradrenérgica, colinérgica e serotonérgica. A demência decorrente da coreia de Huntington (CH) caracteriza-se por abulia e prejuízos na memória de recuperação, na velocidade cognitiva, na concentração, na aprendizagem verbal e na flexibilidade cognitiva (Boeve, 2006; Ranen, 2000). Com a progressão da doença, pode ocorrer um prejuízo mais global na memória e nas funções visuoespacial e executiva. Transtorno do humor, ansiedade (incluindo sintomasobsessivo-compulsivos) e sintomas psicóticos comórbidos são frequentes nessa demência. 9 Camila Carminate – 5 FASE Esse tipo de demência é resultante da perda de células em zonas primárias sensoriais e de associação, na área entorrinal, no núcleo caudado e no putame. A demência em função de esclerose múltipla inclue as características clínicas de déficits na memória, na atenção, na velocidade de processamento de informação, na aprendizagem e nas funções executivas, sendo que a linguagem e a inteligência verbal são relativamente poupadas. DEMÊNCIAS CORTICAIS E SUBCORTICAIS A demência vascular (DVa) envolve de forma ampla demências resultantes de patologia vascular, que têm como caminho final comum a perda de córtex funcional. A DVa multi-infarto é caracterizada por início abrupto, funcionamento executivo diminuído, alteração da marcha, labilidade afetiva e sintomas parkinsonianos. A DVa pós-AVC, ou seja, demência ocorrendo como consequência aguda ou subaguda de um único AVC, pode ser difícil de diferenciar claramente de DVa multi-infarto que se apresenta após uma série de eventos vasculares. A demência pós-AVC está associada a apraxia, negligência, hemianopsia, paralisia facial e fraqueza das extremidades. A variante de corpos de Lewy (VCL) da DA e a DCL apresentam um grau significativo de sobreposição fenomenológica e podem ser de difícil diferenciação clínica. Clinicamente, a VCL e a DCL compartilham os aspectos de flutuação do estado mental, alucinações visuais bem- formadas, delírios, depressão, apatia, ansiedade e sintomas extrapiramidais. A demência devida à síndrome de tremor/ataxia associada a X frágil (FXTAS) é uma patologia descrita recentemente que se caracteriza por sintomas de demência do lobo frontal e subcortical com anomalias motoras nos avôs de crianças com a síndrome do X frágil. Os pacientes apresentam amnésia, déficits da função executiva e lentificação psicomotora. Os sintomas neurológicos evidentes incluem rigidez, tremor e ataxia. Os pacientes exibem um declínio neurológico e cognitivo progressivo. A demência devida à hidrocefalia de pressão normal está associada a amnésia, movimento psicomotor diminuído, apraxia de marcha (frequentemente descrita como uma marcha “magnética”, em que os pacientes são incapazes de levantar os pés para iniciar a caminhada) e incontinência. Os sintomas cognitivos e motores podem melhorar após punção de LCS ou procedimentos de derivação. AVALIAÇÃO CLÍNICA A história clínica deve ser obtida, em primeira instância, diretamente do paciente, sem a presença de outros membros da família. Deve abordar a função cognitiva recente; exemplos incluem o funcionamento no trabalho e em casa, ao dirigir veículos e enquanto realiza outras atividades de alto risco. A queixa de perda de memória pode ser preditiva de diagnóstico posterior de DTA, mesmo sem déficits de memória demonstráveis no exame clínico inicial. A história de medicamento deve abordar os agentes psicotrópicos e não psicotrópicos tomados antes do início dos sintomas cognitivos e comportamentais. EXAME DO ESTADO MENTAL A avaliação formal da função cognitiva deve ser acrescida à avaliação de rotina de humor e afeto, nível de 10 Camila Carminate – 5 FASE consciência, atividade psicomotora, produção de fala e conteúdo e processos de pensamento. Várias questões estruturadas feitas ao cuidador do paciente são usadas para avaliar as seguintes esferas comportamentais: delírios, alucinações, agitação/agressividade, disforia/depressão, ansiedade, apatia, irritabilidade, euforia, desinibição, comportamento motor anormal, perturbação comportamental noturna e anormalidades de apetite/alimentação. EXAME FÍSICO O exame neurológico deve incluir avaliação da marcha, de sinais de liberação do lobo frontal, de transtornos do movimento, da função sensorial e de déficits neurológicos focais. EXAMES LABORATORIAIS NEUROIMAGEM A tomografia computadorizada (TC) está mais prontamente disponível e é de custo mais baixo do que a IRM, embora a resolução superior desta tenha levado a seu maior uso na avaliação desse transtorno. A TC de contraste aumentado e a IRM com gadolínio são menos recomendadas. TRATAMENTO TRANSTORNOS AMNÉSTICOS Os transtornos amnésticos são caracterizados por perda de memória devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral ou aos efeitos persistentes de uma substância. Eles têm em comum a apresentação sintomática de prejuízo da memória, mas são diferenciados por sua etiologia. Os transtornos amnésticos são síndromes secundárias causadas por doença médica sistêmica, patologia ou trauma cerebral primários, transtornos relacionados a substâncias ou efeitos adversos de medicamentos. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Os pacientes com transtornos amnésticos têm sua capacidade de aprender e recordar informações novas (amnésia anterógrada) comprometida ou são incapazes de lembrar material aprendido anteriormente (amnésia retrógrada). 11 Camila Carminate – 5 FASE Os déficits na memória de curto prazo ou recente observados na amnésia anterógrada podem ser avaliados solicitando-se ao paciente lembrar três objetos após um intervalo de cinco minutos. Enquanto a amnésia anterógrada está quase sempre presente, a retrógrada é mais variável e depende da localização e da gravidade da lesão cerebral. Tanto a lembrança imediata (testada pela repetição de dígitos) quanto a memória remota para eventos do passado distante geralmente estão preservadas. A orientação pode ser prejudicada, visto que ela depende da capacidade de armazenar informações relativas a hora, data, local e circunstância. Mais comumente, os pacientes apresentam apatia, falta de iniciativa e expressão afetiva diminuída, o que sugere alterações da função da personalidade. TRAUMATISMO CRANIANO Sintomas neurológicos e psiquiátricos graves podem resultar de um traumatismo craniano, mesmo na ausência de evidência radiológica de lesão estrutural. Após um traumatismo craniano, costumam ser verificadas amnésia anterógrada (ou atual) e amnésia retrógrada por um período variando de alguns minutos a vários anos antes da lesão. SÍNDROME DE KORSAKOFF A síndrome de Korsakoff é um transtorno amnéstico causado por deficiência de tiamina geralmente associada a ingestão prolongada e excessiva de álcool. Ela pode ocorrer em outras condições de desnutrição, como marasmo, carcinoma gástrico e HIV. A síndrome de Korsakoff está relacionada à fase aguda da encefalopatia de Wernicke, que apresenta oftalmoplegia, neuropatia periférica, ataxia, nistagmo e delirium. Embora esses sintomas neurológicos agudos respondam à reposição intensa da tiamina, uma síndrome amnéstica persistente, residual, geralmente permanece. AMNÉSIA GLOBAL TRANSITÓRIA A amnésia global transitória (AGT) é uma forma de transtorno amnéstico caracterizado por um episódio abrupto de amnésia anterógrada profunda e incapacidade variável de recordar eventos que ocorrem durante o episódio. Tipicamente, esses episódios duram apenas alguns minutos ou horas, cessando com a função cognitiva intacta. TRANSTORNO DEVIDO A BENZODIAZEPÍNICOS Diversos medicamentos foram associados a síndromes amnésticas, com os benzodiazepínicos recebendo a maior atenção. Essa classe de medicamentos pode causar amnésia anterógrada e interferir na consolidação e na recuperação da memória. Os fatores de risco incluem dosagem alta, administração intravenosa e uso de agentes de alta potência e meia-vida curta, como o triazolam. Os efeitos dos benzodiazepínicos podem ser potencializados pelo uso concomitante de álcool. DIAGNOSTICO 12 Camila Carminate – 5 FASE CAUSASREFERÊNCIA Tratado de Psiquiatria Clínica – 5 ed.
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