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145 12 Nitrogênio e Adubos Nitrogenados _________________________ D evido à multiplicidade de reações químicas e biológicas, à dependência das condições ambientais e ao seu efeito no rendimento das culturas, o N é o elemento que apresenta maiores dificuldades de manejo na produção agrícola, mesmo em propriedades tecnicamente orientadas. 12.1 Formas e funções na planta As formas preferenciais de absorção de N pelas plantas são o amônio 4 3(NH ) e o nitrato (NO ). Compostos nitrogenados simples, como uréia e + – alguns aminoácidos, também podem ser absorvidos, mas são pouco encontrados na forma livre no solo. As plantas absorvem tanto o amônio como o nitrato com a mesma eficiência e na proporção em que estes se encontram no solo. Em condições de boa drenagem predomina o nitrato, formado pela nitrificação do amônio. Nos solos alagados predomina o amônio, não ocorrendo a nitrificação. Para fazer parte dos aminoácidos, o N deve estar na forma amoniacal. O nitrato absorvido deverá, portanto, ser reduzido a amônio. Essa redução é catalisada pela enzima nitrato-redutase nas células da raiz, embora as células de outros tecidos da planta também possuam esta capacidade. Nas plantas, a síntese da maior parte dos compostos orgânicos ocorre nas folhas. Para chegar às folhas o N é previamente combinado em estruturas carbonadas formando compostos com alto teor de N que são transportados pelo fluxo de transpiração. Dentre esses compostos destacam-se a alantoína (4N:4C), a arginina (4N:4C) e a citrulina (3N:6C). A maior parte do N contido nas plantas é encontrado na forma de 4 3compostos orgânicos. A presença de altos teores de NH ou NO nos tecidos + – Carlos Alberto Bissani et al. 146 indica a existência de uma condição desfavorável, como excessivo suprimento, insuficiente taxa fotossintética ou baixa capacidade de redução de nitratos. O N é parte integrante de todos os aminoácidos, que são os componentes das proteínas. Faz parte também da molécula de clorofila, das aminas, amidas, enzimas, alcalóides, hormônios, etc. Devido à sua condição de constituinte das proteínas, a deficiência de N afeta todos os processos vitais da planta; a capacidade fotossintética diminui, o crescimento é retardado e a reprodução é prejudicada. 12.1.1 Sintomas de deficiência de N Sintomas visuais de deficiência ocorrem facilmente em plantas não leguminosas, cultivadas em solos sob exploração agrícola continuada sem adubação nitrogenada. A deficiência de N é visualmente detectada por: a) clorose (amarelecimento) geral da planta, devido à diminuição da quantidade de clorofila. O amarelecimento é gradual, sendo no início difícil de identificar. Como o N é um elemento muito móvel na planta, à medida que a deficiência fica mais severa, há translocação do N das folhas mais velhas para as mais novas; e b) pouco desenvolvimento das plantas, devido à baixa formação de proteínas e outros compostos nitrogenados que controlam o crescimento. A falta de molibdênio, constituinte da enzima nitrato-redutase, pode causar sintomas de deficiência de N mesmo que a planta tenha bom suprimento de nitrato; esta enzima reduz o nitrato a amônia, para formação de aminoácidos e proteínas. 12.1.2 Excesso de N O suprimento de N em excesso pode ocorrer facilmente, o que não é comum com os outros nutrientes. Além disso, a resposta favorável à adubação nitrogenada depende da variedade da planta utilizada. Por exemplo, para as variedades comuns de arroz irrigado de porte alto (IRGA 406, EMPASC 100, etc), não se recomendam quantidades maiores que 40 kg de N/ha, enquanto as de porte baixo (IRGA 417, EMPASC 104, etc.) respondem favoravelmente a até 120 kg de N/ha [15.9]. Nos cereais (trigo, aveia, arroz, etc.), o excesso de N favorece o crescimento vegetativo, podendo ocorrer acamamento (as plantas crescem Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 147 com fraca estrutura de sustentação), diminuição no rendimento (pequena translocação de carboidratos para as sementes) ou retardamento da frutificação. Pode ocorrer também aumento da infecção por fungos em cereais devido ao aparecimento de falhas na camada protetora externa, com menor cobertura de sílica, provocadas pelo crescimento acelerado do tecido vegetal. Na beterraba açucareira e na cana-de-açúcar, o excesso de N reduz a formação de açúcar. As gramíneas forrageiras, por outro lado, dificilmente manifestam efeitos de excesso de N. Aumentos de produção devidos à aplicação de até 800 kg de N/ha/ano podem ser obtidos. 12.2 A matéria orgânica e o N do solo A maior parte do N do solo encontra-se em compostos orgânicos de grande peso molecular, não sendo disponível para as plantas. O N inorgânico presente no solo depende, portanto, dos teores relativos de C e de N, da composição dos materiais carbonados presentes na matéria orgânica e da atividade microbiana. Devido à inter-relação entre o N e o C orgânicos, o estudo da matéria orgânica possibilita conhecer a dinâmica do N no solo e avaliar a sua disponibilidade para as plantas. O ciclo do carbono no sistema solo-planta pode ser resumido em dois processos opostos, sendo o primeiro devido à fotossíntese, em que o carbono 2inorgânico (CO ) é transformado em carbono orgânico pelas plantas e outros organismos fotossintetizadores, com a utilização da energia solar: l 2 2 n 2CO + H O + Energia solar (– C –) + O (12.1) Planta l O segundo processo é constituído pela decomposição de resíduos orgânicos tanto de vegetais ou animais, como industriais ou urbanos, com 2liberação de CO pela atividade respiratória dos microrganismos do solo: l n 2 2 (– C –) + O CO 8 + Energia (12.1) l Microrganismos Carlos Alberto Bissani et al. 148 Tanto num sistema ecológico estável quanto numa área destinada à produção agrícola, diversos materiais orgânicos, como folhas e raízes mortas ou restos de culturas (resteva), são deixados no solo. Os organismos vivos do solo reciclam estes produtos (deles retiram a energia necessária para o crescimento), liberando os elementos nutritivos bloqueados nos restos vegetais para uma nova população de plantas. Esta liberação de elementos nutritivos pode requerer uma ou várias gerações de microrganismos, dependendo da composição dos resíduos vegetais. 12.2.1 Níveis de equilíbrio da matéria orgânica no solo Parte apreciável do carbono orgânico adicionado ao solo na forma de 2resíduos é reciclada para a atmosfera por volatilização, na forma de CO . Pequena quantidade, porém, permanece no solo em forma orgânica, fazendo parte dos microrganismos, ou de outros compostos orgânicos, constituindo a matéria orgânica do solo (M.O.). Na fração matéria orgânica estão incluídos todos os compostos de carbono nas diversas fases de decomposição. Podem- se facilmente distinguir três etapas na decomposição dos resíduos orgânicos: a) resíduos não decompostos, compreendendo o material orgânico recém adicionado (raízes mortas, folhas, resteva, etc.). A característica desta fração é a sua fácil identificação pelo exame visual; b) matéria orgânica fresca, compreendendo os resíduos orgânicos em decomposição ativa, que não podem ser identificados visualmente; e c) matéria orgânica humificada, constituída de resíduos da atividade microbiana. Esta fração é muito estável, devido à forma química em que se encontra (compostos cíclicos polimerizados, como os polifenóis) e à associação com as argilas. Por isto, a decomposição desta fração pelos microrganismos é muito lenta. Um sistema biológico é dinâmico, e a todo o momento material orgânico está sendo formado por alguns organismos vivos, enquanto outros organismos decompõem produtos orgânicos. Nestas condições, as adições e as perdas de compostos orgânicos se equivalem, não havendo, portanto, modificação no teor total de matériaorgânica do solo. O nível de equilíbrio depende principalmente do clima, da vegetação e do solo. A Figura 12.1 mostra os efeitos da temperatura e da umidade no teor de nitrogênio do solo. Com o aumento da temperatura, a decomposição dos Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 149 resíduos orgânicos é maior (diversos organismos podem manter metabolismo ativo até mais de 30ºC) em relação à formação de material orgânico (crescimento das plantas), ocorrendo então menor valor de equilíbrio da matéria orgânica do solo. O aumento da umidade do solo favorece a acumulação da matéria orgânica. Em condições de alagamento podem se formar solos orgânicos (turfeiras). O equilíbrio dinâmico entre a adição e a decomposição de resíduos orgânicos e a matéria orgânica do solo pode ser assim representado: Representação esquemática do equilíbrio dinâmico da matéria orgânica do solo. O valor de equilíbrio da matéria orgânica de um solo (na camada de 0 a 20 cm de profundidade) é maior quando este se encontra sob pastagem do que em vegetação de floresta (Figura 12.1). Isto se deve principalmente à renovação mais intensa da vegetação (raízes e parte aérea). O solo afeta o teor de matéria orgânica de diversas maneiras. Devido às ligações químicas existentes entre a superfície das argilas e os compostos do húmus, a fração mineral do solo tem efeito protetor da matéria orgânica contra o ataque dos microrganismos, ocasionando, portanto, maior acumulação de matéria orgânica à medida que aumenta o teor de argila do solo. A topografia, pela influência que exerce na drenagem e na suscetibilidade à erosão, afeta o teor de matéria orgânica; nas baixadas, em geral, os solos possuem teores mais altos de matéria orgânica do que nas encostas. Carlos Alberto Bissani et al. 150 FIGURA 12.1 Efeitos do clima e da vegetação no teor de N em solos dos EUA [12.2]. 12.2.2 Decomposição dos resíduos orgânicos A decomposição de resíduos orgânicos é um processo biológico e, por isto, depende das peculiaridades do desenvolvimento e atuação dos microrganismos. A decomposição dos resíduos propicia a manutenção do equilíbrio da matéria orgânica no solo. Os mesmos fatores que atuam neste processo são responsáveis pela decomposição de restos de culturas (resteva ou adubo verde). Muitos microrganismos podem decompor os resíduos orgânicos do solo. Em solos ácidos predominam os fungos, enquanto próximo à neutralidade as bactérias são mais eficientes. Sob condições de alagamento há dominância de pequeno número de bactérias, que, por não atacar a lignina, propiciam a acumulação de depósitos orgânicos (turfa). A relação carbono:nitrogênio (C/N) do material em decomposição indicará qual o destino imediato do N dos resíduos orgânicos. Se esta relação 4for baixa, em geral menor que 25 a 30, há liberação rápida de NH , que pode + ser absorvido pelas plantas. Acima destes valores de C/N, ocorre imobilização temporária do N pelos microrganismos. A presença de material orgânico facilmente decomponível propicia uma boa disponibilidade de energia para os microrganismos, cuja população tenderá a crescer. Além de compostos orgânicos, estes necessitam de nitrogênio e outros elementos minerais. Se o material em decomposição tiver pouco N (alta relação C/N), este será o fator limitante do crescimento da Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 151 população microbiana, que apresenta em média uma relação C/N igual a 10. Isto é, para cada 10 átomos de C utilizados pelos microrganismos para a constituição de sua biomassa, há incorporação (imobilização) de um átomo de N. A decomposição dos resíduos orgânicos pelos microrganismos pode ser assim visualizada: Na decomposição aeróbia dos resíduos, sempre ocorre volatilização de 2parte do CO . Para melhor entendimento do mecanismo de decomposição, o processo (12.2) pode ser reescrito assim: z n 2 2 z-x n-y M (C) + O yCO + M (C) + xM + energia (12.3) microrganismos nonde (C) representa o C orgânico e M um elemento mineral qualquer (N, S, P, Ca, Mg, etc.). z nEsta equação indica que na decomposição do material orgânico M (C) , 2 2há liberação de uma fração do C na forma de CO (yCO ) ficando uma n-yfração (C) no solo, incorporada no tecido celular dos microrganismos ou como material orgânico residual. Esta fração do C que fica no solo compõe a matéria orgânica humificada. Em clima temperado, os dados de pesquisa indicam que, em média, para cada três átomos de C orgânico adicionados no resíduo, dois são 2 perdidos para a atmosfera na forma de CO e um fica no solo. Em clima Carlos Alberto Bissani et al. 152 2 tropical a perda de CO é maior, e os solos contêm portanto menores teores de M.O. Combinando-se então as proporções entre o C perdido e o que fica no solo (em condições temperadas) com a C/N média da biomassa decompositora de resíduos no solo, tem-se que para cada 30 átomos de C 2adicionados, 20 são volatilizados na forma de CO e 10 permanecem no solo. A retenção destes 10 átomos de C pelos microrganismos requer um átomo de N. Portanto, a decomposição de um resíduo com C/N igual a 30 fornece exatamente a quantidade de N necessária aos microrganismos neste processo. Se a C/N for menor, haverá sobra de N, sendo este disponível para as plantas a curto prazo. Se for mais alta, haverá falta de N em relação à quantidade de energia disponível e os microrganismos competem com as 4 3plantas pelo N, podendo imobilizar também o N mineral (NH e NO ) que + – houver no solo, induzindo assim uma deficiência temporária de N para as plantas. A população microbiana inicial não se mantém crescendo indefinidamente. Alguns microrganismos são atacados por outros, constituindo-se então em resíduo orgânico, repetindo-se o ciclo e perdendo-se 2mais CO . A partir do ponto em que o sistema em decomposição tiver a C/N menor que 30, começa a ocorrer liberação de N para as plantas. No processo de decomposição dos resíduos vegetais, a relação C/N é um dos fatores mais importantes na liberação de N. Esta relação varia com a espécie vegetal e com a idade da planta, como é exemplificado na Tabela 12.1. TABELA 12.1 Relação C/N de diversos materiais e plantas Material Relação C/N Material Relação C/N Feno de alfafa 13 Serragem de madeira 300 Trevo doce (florescimento) 15 Aveia (perfilhamento) 17 Trevo doce (velho) 26 Aveia (espigamento) 27 Lupinus 20 Aveia (maturidade) 41 Palha de trigo 84 Aveia (palha) 74 Resteva de milho 50 A velocidade de decomposição dos resíduos é também um fator importante na imobilização do N. Esta velocidade é determinada principalmente pela composição do resíduo (teores de celulose e de lignina), temperatura, pH, teores de nutrientes e umidade do solo. A decomposição é Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 153 rápida no caso de plantas jovens, folhas, etc., enquanto resíduos com altos teores de lignina são decompostos muito lentamente. Por isso, a adição ao solo de resteva com relação C/N maior que 70, geralmente não provoca deficiência de N. A maior parte deste material se decompõe lentamente. As folhas, com C/N menor, são decompostas mais rapidamente do que os caules, suprindo o N necessário para o processo de decomposição da resteva [12.14]. 2Devido à perda do C orgânico em excesso na forma de CO , a relação C/N dos solos varia muito pouco, embora sejam adicionados materiais orgânicos com relações C/N muito diferentes. Assim, solos bem drenados e com a boa fertilidade, em geral apresentam uma relação C/N entre 10 e 12. Solos ácidos ou com baixo suprimento de cálcio geralmente apresentam valores de C/N maiores, devido à menor taxa de decomposição dos resíduos orgânicos pelas bactérias. 12.2.3 Modificações do equilíbrio provocadas pelo cultivo Na utilização agrícola, parte apreciável dos nutrientes é retirada do solo pelas culturas. Por outro lado, as práticas culturais de manejo e os corretivos e fertilizantes aplicados afetam diversas propriedades do solo, como aeração,umidade, pH e suprimento de nutrientes. O teor de matéria orgânica tenderá a se ajustar a um novo nível de equilíbrio, que dependerá da intensidade de manejo do solo utilizado. Como estas modificações são lentas, o novo nível de equilíbrio somente será atingido depois de alguns anos. Um experimento conduzido na estação experimental de Rothamsted (Inglaterra) ilustra este fato (Figura 12.2). Nas condições de equilíbrio para este local, os solos contêm aproximadamente 0,11% de N nas áreas de lavoura e 0,23% de N nas pastagens naturais. A adubação mineral da lavoura de trigo não afetou muito o teor de N do solo, mas permitiu a obtenção de boas colheitas. É interessante observar que o cultivo continuado do solo não provoca o decréscimo do teor de N e conseqüentemente de matéria orgânica, abaixo do nível de equilíbrio. A adição de 35 t/ha de esterco bovino curtido por ano elevou o teor de N para 0,24%. Na mesma estação experimental foi estudado o efeito da pastagem natural sobre o teor de N do solo que estava sob cultivo, portanto com o teor de M.O. inferior ao equilíbrio natural (Figura 12.3). O ganho de N foi pequeno e cumulativo nos primeiros anos, estabilizando finalmente no valor equivalente ao dos campos não cultivados. Este processo ocorre nas terras em pousio. Carlos Alberto Bissani et al. 154 A Tabela 12.2 mostra outro exemplo da influência do manejo do solo sobre o teor de N. A cultura do milho, de alta produção, mas também exigente em nutrientes e práticas culturais, após 49 anos de cultivo contínuo, provocou uma redução de 43% do N do solo quando não foi feita adubação; com calagem, adubação orgânica e mineral, esta redução foi de somente 21%. Com a inclusão de uma leguminosa na rotação, acompanhada de adubação e calagem a redução do teor de N foi ainda menor. FIGURA 12.2 Efeito da adubação no teor de N em solo cultivado com trigo a n u a l m e n t e ( E s t a ç ã o Experimental de Rothamsted, Inglaterra) [12.1]. FIGURA 12.3 Acumulação de N na camada arável de um solo cultivado ao ser deixado sob pastagem perene (Estação Experimental de Rothamsted, Inglaterra) [12.1]. Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 155 O cultivo com lavração e gradagem (sistema convencional) geralmente provoca uma redução do teor de M.O. do solo. Preparos reduzidos de solo ou cultivo de pastagem com manejo adequado da fertilidade podem aumentar o teor de M.O., a longo prazo. Assim, após a correção da acidez, fertilização mineral e implantação de pastagem perene com baixa intensidade de pastejo, foi possível constatar um aumento do teor de M.O. após sete anos de cultivo em solo arenoso do município de Tupanciretã, RS [12.3]. Em experimento de campo conduzido num Argissolo Vermelho distrófico típico (unidade de mapeamento S. Jerônimo) na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, no período de 1985 a 2003, foi observado um decréscimo no teor de matéria orgânica do solo de 1,2% ao ano, com a sucessão de culturas de aveia (inverno) e milho (verão), em plantio convencional, sem adubação nitrogenada; a inclusão de leguminosas em consorciação (ervilhaca no verão e caupi no inverno) reduziu estas perdas para 0,4% ao ano [12.15]. Em sistema plantio direto (sem preparo do solo), entretanto, foi determinada uma redução de somente 0,5% com a sucessão das culturas de milho e aveia, mas um aumento de 0,5% ao ano com a inclusão das leguminosas. A utilização das leguminosas foi essencial, portanto, para o aporte de N, que possibilita o aumento do carbono no solo. TABELA 12.2 Quantidade de N na camada arável do solo, após 49 anos de diversos cultivos (Morrow plots, Illinois, EUA) [12.2] Sucessão de cultivos Tratamentos % de N remanescente Milho Nenhum 57 Milho-aveia Nenhum 73 Aveia- aveia- trevo Nenhum 76 Milho Esterco + calcário + fósforo 79 Milho-aveia-trevo Esterco + calcário + fósforo 93 Milho-aveia-trevo-trevo Esterco + calcário + fósforo 100 12.3 Principais transformações do N no solo As rochas e o magma contêm a maior parte (98,0%) do N do globo terrestre, na forma de nitretos metálicos [12.2]. Esta fração do N, na escala de tempo compatível com o desenvolvimento das plantas, pode ser ignorada devido à lenta decomposição das rochas e à baixa concentração do N nas mesmas (.50 mg/kg). Carlos Alberto Bissani et al. 156 No sistema solo-planta são mais importantes o N do ar (1,9% do total contido no planeta), que pode ser utilizado pela fixação biológica e o N imobilizado na matéria orgânica do solo (<0,1%). Somente pequena parte 4 3 2está na forma mineral (NH , NO e NO ), que é preferencialmente absorvida + – – pelas plantas. N o s sist ema s natu rais e m e q uilíbr i o , a s m o dif ic açõ e s n ã o são perc ept íveis por q u e h á u m e q uilíbr i o d inâ mic o entre as adições e as perdas. Nos solos agrícolas, entretanto, parte apreciável do N fixado é retirada pelas culturas, sendo também maiores as perdas por erosão e por lixiviação. Como resultado, o nível de equilíbrio do N no solo (compartimento da M.O.) diminui. As principais transformações do N no sistema solo-planta são mostradas no esquema abaixo. Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 157 Representação esquemática das principais transformações de N no sistema solo-planta. A imobilização do N mineral do solo pode ocorrer pela adição de resíduos com alta relação C/N, como foi visto anteriormente. O processo inverso é a mineralização, pela qual o solo pode suprir às plantas parte do N contido na matéria orgânica. A transformação do N amoniacal em nítrico (nitrificação) é um processo que ocorre naturalmente nos solos bem drenados, mas não é desejável que todo o nitrogênio seja nitrificado rapidamente, por dois motivos: a) o nitrato é muito solúvel, não é retido por cargas negativas do solo, sendo facilmente lixiviado se houver percolação de água no perfil; e b) o nitrato pode ser desnitrificado se houver excesso de umidade no solo. A capacidade de utilização do N do ar por bactérias fixadoras de N (ou diazotróficas) é fundamental nos primeiros estágios da formação dos solos. Justifica-se, portanto, o uso da adubação verde como um meio natural de melhorar a fertilidade do solo. Além disso, há grande economia de fertilizante nitrogenado mineral para a maioria das leguminosas cultivadas. 2 A transformação do N do ar em N combinado com outros elementos 4 2 2 3(ex.: NH , NO, NO , N O, NO ) pode ocorrer em pequena escala na + - atmosfera por descargas elétricas ou por oxidação fotoquímica. Estes compostos podem atingir o solo dissolvidos na água da chuva, em quantidade de até 5 kg/ha/ano. 12.3.1 Mineralização do N Para ser absorvido pelas plantas, o N orgânico presente na M.O. do solo 4deve ser antes transformado para a forma mineral, isto é, para NH . Este + processo de mineralização é feito por diversos microrganismos que decompoem a M.O., a maior parte deles aeróbios. Como, em geral, a matéria orgânica está na faixa em que há liberação de N (C/N <30), o amônio é produto de excreção dos microrganismos. A decomposição de matéria orgânica do solo se processa muito lentamente devido principalmente à: Carlos Alberto Bissani et al. 158 a) presença de compostos constituindo cadeias cíclicas polimerizadas, muito estáveis e resistentes ao ataque dos microrganismos; e b) proteção pelas argilas dos radicais que as enzimas podem atacar 2 facilmente (por exemplo radical -NH das proteínas); a carga destas partículas possibilita a formação de um complexo argila-húmus com grande estabilidade, principalmente em solos com alto teor de Ca. Nos primeiros cultivos, a taxa de mineralização da matéria orgânica é alta, decrescendo com o passar dos anos, até atingir um nível de equilíbrio em que a mineralização e a imobilização se equivalem. Isto pode ser observado na Figura 12.4. Comparando-se estes valores com os dados da Tabela 12.2. observa-se que a redução do teor de matéria orgânica com o cultivo em solos do RS é mais intensa em relação ao meio-oeste americano, devido às condições ambientaisfavoráveis à mineralização e também pelas perdas de solo por erosão. Além do tempo de cultivo, outros fatores como temperatura, aeração, umidade e pH do solo afetam a mineralização. As maiores taxas ocorrem em temperaturas entre 25 a 30ºC, com boa aeração e com teor de umidade do solo próximo à capacidade de campo. A contribuição da matéria orgânica no suprimento de N para as culturas é difícil de ser avaliada com exatidão devido à ação destes fatores sobre a mineralização. Pode-se, entretanto, fazer um cálculo aproximado supondo-se que: a) 5% de matéria orgânica é constituída de N; e b) 2% da matéria orgânica é mineralizada anualmente. Desta forma, um solo que apresenta um teor de 3,5% de matéria orgânica poderá suprir à cultura (por exemplo milho, com um período de absorção de 4 meses): N disponível=2.000.000 x 0,035 x 0,05 x 0,02 x 4/12=23,3 kg de N/ha. (Obs.: considerando-se uma camada de solo de zero a 20 cm, com densidade de 1,0 g/cm ou 2,0 x 10 kg/ha)3 6 Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 159 FIGURA 12.4 Redução do teor de M. O. pelo cultivo em sistema conven-cional em solos do Rio Grande do Sul [12.9]. Esta avaliação muitas vezes não expressa a r e a l i d a d e , d e v i d o principalmente à ação de um ou mais dos seguintes fatores: a) a mineralização da matéria orgânica é mais intensa nos primeiros anos de c u l t i v o ; p o r exemplo, no solo da unidade de mapeamento Vila (Chernossolo), com 2,7% de matéria orgânica, o N suprido à cultura do milho foi 2,9 vezes maior no primeiro que no segundo ano de cul t ivo [12.4 ; 12.5]; b) a calagem estimula a mineralização da matéria orgânica devido ao estabelecimento de um ambiente favorável à ação dos microrganismos no solo, principalmente bactérias, pela elevação do Carlos Alberto Bissani et al. 160 pH, neutralização de elementos tóxicos e suprimento de nutrientes Ca e Mg; por exemplo, num experimento conduzido na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, a calagem aumentou a mineralização em 40% no primeiro ano e 30% no segundo e terceiro anos de cultivo de Paspalum guenoarum [12.6]; e c) a mineralização é mais intensa no verão devido à alta temperatura; por exemplo, no solo da unidade de mapeamento São Jerônimo (PVd), com 2,4% de matéria orgânica, cultivado com sorgo, a mineralização da M.O. foi de 6,2% num período de 5 a 6 meses [12.7]. Devido à existência de microrganismos que podem se desenvolver numa gama muito grande de condições de solo, a mineralização ocorre, embora com pequena atividade, mesmo na presença de fatores adversos, como baixa umidade do solo, alagamento e altas temperaturas. 12.3.2 Nitrificação O N amoniacal pode ser absorvido pelas plantas, mas em solos bem drenados é preferencialmente transformado em nitrato por ação microbiana. Este processo é chamado de nitrificação, ocorrendo em duas etapas: 4 2 2 22NH + 3O 2NO + 2H O + 4H (12.4) + – + Nitrosomonas sp 2 2 32NO + O 2NO (12.5) – – Nitrobacter sp A primeira transformação é provocada por Nitrosomonas sp e a segunda por Nitrobacter sp, que são bactérias autotróficas. Estas equações permitem duas conclusões importantes: a) para a nitrificação, há necessidade de oxigênio molecular, sendo 2estas bactérias estritamente aeróbias; em condições de falta de O , como em solos alagados, a nitrificação não ocorre; e 4b) na nitrificação, há formação de dois íons H para cada íon NH , + + nitrificado; a adição de adubos amoniacais ou de outros que 4originam NH , acidifica o solo; pode-se verificar abaixamento do pH + se as doses de adubo forem elevadas, principalmente em solos com baixo poder tampão (arenosos). Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 161 2O NO é tóxico para as plantas, mas dificilmente se acumula no solo, – 2pois a Nitrobacter sp é mais ativa que a Nitrosomonas sp, e todo o NO – 3formado é imediatamente transformado em NO . Em solos alcalinos, a adição – 3 de adubo amoniacal propicia a formação de NH (amônia) no solo (reação 12.7) que é mais tóxica para a Nitrobacter sp do que para a Nitrosomonas 2sp, podendo ocorrer, então, o acúmulo de NO . – A elevação do pH do solo pela calagem favorece a nitrificação. Outros fatores que influem na nitrificação, além do pH do solo e do suprimento de 2 4O , são a temperatura, a umidade e o teor de NH presente. + Em condições adversas para o desenvolvimento dos microrganismos, a nitrificação é mais afetada do que a mineralização da M.O. devido à especialização dos nitrificadores. Em clima seco ou em baixo pH, por exemplo, a nitrificação pode parar bem antes da mineralização. 12.3.3 Desnitrificação No processo de respiração aeróbia (de macro e microrganismos) o 2oxigênio é o receptor de elétrons. Na falta de O , alguns microrganismos 3possuem um sistema enzimático que possibilita utilizar o NO como receptor - de elétrons: 3 2 2 2NO 6 NO 6 NO8 6 N O8 6 N 8 (12.6)– – Estes microrganismos são chamados desnitrificadores, sendo muito comuns no solo. Dentre eles podemos citar Thiobacillus denitrificans, Thiobacillus thioparus e espécies dos gêneros Pseudomonas, Micrococcus e Achromobacter. 2As condições de solo que propiciam a falta de O , como o alagamento ou a presença de grande quantidade de material orgânico facilmente decomponível por microrganismos, induzem à desnitrificação no solo. Como exemplo prático, deve-se portanto evitar a utilização de adubos com nitrato na fertilização do arroz irrigado por alagamento (item 15.3 - p. 206). 12.3.5 Volatilização O amônio pode ser transformado em amônia, que é volátil. A equação de equilíbrio da amônia é dependente do pH: 4 3 2NH + OH 6 NH 8 + H O (12.7)+ – Carlos Alberto Bissani et al. 162 Em solos alcalinos a concentração de OH é elevada, sendo o equilíbrio– 3 deslocado para a direita, com perda de NH por volatilização. A uréia aplicada ao solo é transformada pela urease (enzima presente no solo) em carbonato de amônio, que provoca a elevação do pH ao redor do 3 grânulo, podendo haver perda de NH por volatilização (reação 12.7) quando este adubo é aplicado superficialmente. A reação simplificada deste processo é: 2 2 4 2 3 2 4 2CO (NH ) 6 (NH ) CO + H O 6 2NH + 2OH + CO 8 (12.8)+ - Urease Perdas de N de até 35,5 kg/ha foram determinadas num experimento conduzido na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, com a aplicação superficial de 240 kg/ha de N na forma de uréia; o enterrio do adubo evitou estas perdas [12.8]. 12.4 Adubos e adubação nitrogenada O N dos adubos nitrogenados, tanto orgânicos como minerais, é obtido 2 inicialmente pela fixação de N do ar. As formas em que se apresenta são: nítrica, amoniacal (ou ambas), orgânica e amídica (uréia). A concentração de N nos adubos pode variar desde 82% na amônia anidra até alguns décimos de 1% nos adubos orgânicos. Os adubos nitrogenados manufaturados são inicialmente produzidos por fixação do N do ar por processos industriais. Como todos os adubos minerais nitrogenados são muito solúveis, a permanência do N no solo à disposição das culturas depende da quantidade de chuva e da capacidade do solo reter água. Para diminuir as perdas do fertilizante por lixiviação ou desnitrificação, a adubação nitrogenada deve ser feita em cobertura e na época em que a planta começa a absorver intensamente os nutrientes (Figura 12.5). Para os cereais, o N é aplicado 30 a 40 dias após a emergência (Figura 12.5a). No caso de culturas que exigem grandes quantidades de N, como o milho, é vantajoso fracionar o fertilizante em duas aplicações. Para as forrageiras deve-se fazer uma pequena adição de N após cada corte (Figura 12.5b). As quantidades de adubo nitrogenado a utilizar são muito variáveis,dependendo da cultura, variedade e produtividade esperada. As recomendações das tabelas de adubação expressam os resultados dos experimentos com as espécies e variedades cultivadas numa mesma região. Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 163 Pode-se observar nas tabelas de adubação [1.7] que: a) no arroz irrigado, a quantidade a adicionar é maior para as variedades adaptadas morfo-fisiologicamente para altas respostas a N, como as de porte baixo (efeito da variedade); b) as recomendações para o trigo e a cevada são baixas, devido à possibilidade de acamamento que facilmente ocorre nestas culturas; devido à dificuldade de fazer a adubação de cobertura nestas culturas, pode-se adotar a opção de aplicar todo o N no plantio em maior quantidade para compensar as perdas que podem ocorrer por lixiviação e desnitrificação; c) como o milho pode responder favoravelmente a até 150-200 kg de N/ha, as quantidades recomendadas variam conforme o nível de manejo da cultura, isto é: levando em conta os outros fatores de produção, como cultivar, época de plantio, região climática, cultura anterior e rendimento esperado; d) para as gramíneas forrageiras são recomendadas grandes quantidades, pois estas apresentam resposta linear à adição de N até 400-500 kg de N/ha; não é recomendado, entretanto, utilizar doses maiores que as indicadas nas tabelas, para evitar a acumulação de 3 3NO na planta; o NO no rúmen dos animais é transformado em – – 2NO que ao passar à corrente sanguínea oxida a hemoglobina para – 2methemoglobina, impedindo assim o transporte de O , podendo causar a morte dos animais; e e) para a silagem de gramíneas são também recomendadas grandes quantidades de N, para obter um grande rendimento de massa verde, a qual é totalmente removida da lavoura (pouco resíduo permanece no solo); por estes motivos há necessidade também de maiores adições de P e de K (ver exemplos de recomendações no Anexo 5). 12.4.1 Adubos de fixação industrial Os adubos nitrogenados mais utilizados são relacionados na Tabela 12.3. Os teores de N no produto comercializado podem variar conforme o processo industrial utilizado (presença de impurezas). A uréia, o nitrato de amônio e o sulfato de amônio são os adubos nitrogenados minerais mais utilizados atualmente no Brasil. Apesar da possibilidade de uso direto, a amônia anidra é mais utilizada como matéria-prima de outros adubos nitrogenados. Carlos Alberto Bissani et al. 164 Uma característica comum destes fertilizantes é a grande solubilidade em água. Atualmente estão sendo pesquisados fertilizantes nitrogenados de solubilização lenta, que poderiam ser aplicados no plantio, sem o risco de perdas excessivas por lixiviação (ver item 12.5.6). FIGURA 12.5 Absorção de nitrogênio por culturas anuais (a) e pastagens (b) e a melhor época de adição de fertilizante nitrogenado. TABELA 12.3 Principais adubos nitrogenados produzidos industrialmente [19.1]. Nome Fórmula % de N 2 2Uréia CO(NH ) 45 4 2 4Sulfato de amônio (NH ) SO 20 4Cloreto de amônio NH Cl 25 4 3Nitrato de amônio NH NO 34 3Amônia anidra NH 82 Os adubos amoniacais têm reação ácida, devido à nitrificação que ocorre no solo (reação 12.4). Em solos arenosos, com baixo poder tampão, o pH pode diminuir sensivelmente após a aplicação de uma quantidade elevada de fertilizante amoniacal. Na Tabela 12.4 são dadas as quantidades de calcário necessárias para corrigir o efeito ácido de vários adubos amoniacais. 12.4.2 Adubos verdes e manejo de culturas Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 165 A adubação verde é feita pelo cultivo e incorporação (enterrio) de qualquer espécie de planta, principalmente leguminosas, com o objetivo de melhorar a fertilidade do solo. Na adubação verde deve-se considerar os princípios estabelecidos para a decomposição dos resíduos orgânicos (item 12.2.2), sendo fatores importantes a relação C/N, a composição do material, a atividade microbiana e os teores de umidade, temperatura e nitrogênio do solo. A forma de utilização da cobertura vegetal depende do manejo do solo, relacionado principalmente ao sistema de preparo. TABELA 12.4 Calcário necessário (PRNT = 65%) para neutralizar o efeito ácido de 1 kg de N na forma de adubos amoniacais Adubo Calcário (kg) Adubo Calcário (kg) Sulfato de amônio 4,8 Amônia anidra 4,8 Diamônio fosfato 9,5 Nitrato de amônio 3,9 Uréia 4,8 Na adubação verde deve-se: a) utilizar leguminosas (com inoculação); e b) incorporar na época do florescimento (baixa relação C/N). A adubação verde é atualmente uma prática não rentável em si, considerando-se apenas a adição do N ao solo, pois outros adubos nitrogenados são mais baratos. Num sistema racional de uso do solo com rotação de culturas, a adubação verde se justifica por: a) propiciar a cobertura do solo durante períodos de não utilização, reduzindo a possibilidade de erosão do solo; b) melhorar a permeabilidade dos solos utilizados com culturas anuais e mecanização intensa por vários anos, pelo cultivo de espécies com sistema radicular adequado a esta finalidade; c) aumentar a aeração e a capacidade de armazenamento de água do solo; e d) aumentar o teor de N na fração facilmente decomponível da M.O. do solo, no caso de cultivo de leguminosas. Estas contribuições são difíceis de quantificar economicamente, mas devem ser consideradas no uso racional do solo, principalmente com vistas à conservação do recurso natural. Na Tabela 12.5 é mostrado o rendimento da cultura do milho obtido no 5º ano de cultivo em diferentes sistemas de culturas. Com o cultivo da aveia consorciada com trevo subterrâneo no inverno, o rendimento do milho sem Carlos Alberto Bissani et al. 166 adubação nitrogenada no verão foi de 4,11 t/ha de grãos com uma contribuição de 19 kg de N/ha pela cultura de inverno (a média de rendimento no estado do RS foi de 2,28 t/ha). A consorciação com leguminosas (lablab e caupi) também favoreceu a cultura do milho [12.13]. A adubação verde não propicia um aumento imediato da M.O. do solo porque grande parte do carbono adicionado é reciclado para a atmosfera pela decomposição no solo (reação 12.2). Com a utilização de culturas com teor alto de fibras (lablab e guandu) o aumento do teor de N do solo já foi evidente após cinco anos de utilização do sistema [12.13]. 12.4.3 Adubos orgânicos A adubação orgânica foi a primeira prática empírica utilizada visando à melhoria da capacidade de produção do solo. Sua importância foi reconhecida pelas civilizações grega e romana, tendo-se constituído na base de manutenção da fertilidade de solos cultivados durante milhares de anos. O aumento da área cultivada, a possibilidade de obtenção de fertilizantes minerais a baixo custo e o elevado valor da mão-de-obra, que se acentuaram com a revolução industrial até nossos dias, restringiram o uso da adubação orgânica a hortas, pomares e pequenas propriedades. O adubo orgânico de origem animal ou vegetal se caracteriza por: a) ter baixo teor de nutrientes N, P e K (Tabela 12.6); c) ter a necessidade de pré-tratamento (elaboração de composto); e d) apresentar dificuldade de manuseio mecânico (recolhimento, preparação e aplicação no campo). A utilização de adubo orgânico em grandes lavouras não é muito viável devido: a) à dificuldade de obtenção de adubo orgânico em quantidade suficiente para se observar efeito positivo sobre o rendimento das culturas (aplicações maiores que 2.000 kg/ha/ano); b) ao elevado custo da mão-de-obra e maquinaria para preparação e aplicação; e, c) à não disponibilidade de máquinas para aplicação de grandes quantidades de adubo orgânico nas lavouras. Qualquer resíduo de origem animal ou vegetal pode ser preparado para uso como fertilizante ou aplicado diretamente na lavoura. No estudo da utilização é necessário considerar em cada caso: a) a relação C/N do material: a decomposição dos resíduos por microrganismos, necessária para a liberação dos nutrientes para a Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 167 forma mineral,obedece aos princípios discutidos no item 12.2.2; as variáveis que podem ser controladas são temperatura, umidade, e 2suprimentos de O e de nutrientes; b) a velocidade de decomposição do material, depende principalmente dos teores de lignina (fibra) e de compostos resistentes à decomposição microbiana, como ceras e resinas; e c) a presença de compostos que inibem o crescimento dos microrganismos, como polifenóis (responsáveis pela resistência à decomposição da madeira). TABELA 12.5 Rendimento de grãos do milho com e sem adubação nitrogenada obtido na safra de 1988, após cinco anos de diferentes manejos de culturas [12.13] (1) Culturas N adicionado pela cultura anterior Rendimento Inverno Verão sem N com N (2) kg/ha ---------- t/ha ------------ Solo descoberto Pousio Aveia Aveia+trevo subterrâneo Pousio Aveia+vica Milho Milho Milho Milho Milho+lablab Milho+caupi - - 9 19 19 21 1,90 3,34 1,80 4,11 5,94 4,65 6,65 6,05 6,65 7,47 6,86 6,80 Experimento conduzido na EEA da UFRGS, em solo São Jerônimo (PVd). (1) A adubação nitrogenada foi de 120 kg de N/ha em cobertura, na forma de uréia.(2) Os resíduos da indústria de processamento animal (resíduos limpos), como farinhas (de ossos, sangue, carne e peixe) são utilizados preferencialmente na alimentação de animais pelo alto valor nutricional. O mesmo ocorre com alguns resíduos de processamento de sementes como tortas (de algodão, de soja, de amendoim e de mamona). Um problema recente em relação ao manejo de dejetos animais é a poluição do ar e da água observada nas áreas de grandes estabelecimentos de terminação de animais. A movimentação e utilização do estrume representa uma despesa de operação apreciável. No capítulo 15 serão apresentadas mais detalhadamente a utilização de adubos orgânicos e a agricultura orgânica. 12.4.4 Adubação orgânica e adubação mineral Carlos Alberto Bissani et al. 168 A adubação inorgânica (fertilizantes industrializados) pode manter uma alta produtividade das culturas. O teor de M.O. do solo depende do equilíbrio entre os fatores climáticos, a intensidade de manejo e o sistema de cultivo. A adição esporádica ou em pequenas quantidades de resíduos não influencia o teor de M.O. do solo, porque a maior parte do carbono adicionado é 2volatilizado na forma de CO ; desse modo, a adição de M.O. ao solo deve ser uma prática continuada. TABELA 12.6 Produção e composição de alguns resíduos de origem animal e vegetal [12.10; 12.11; 12.12 ] (1) Material Produção/1000 kg de peso vivo 2 2 5 2 H 0 N P 0 K 0 t/ano ------------------------- % ---------------------------- Estrume de boi 27,0 86 0,60 0,15 0,45 Estrume de porco 30,5 87 0,50 35 40 Estrume de galinha 9,5 55 2,50 1,8 150 Torta de cana - - 1,37 1,11 0,7 Torta de mamona - - 5 1,5 1,2 Torta de algodão - - 7 2,5 12 Torta de soja - 10 7 15 2,4 Palhas de cereais - 37975 0,4-0,8 0,2-0,3 0,5-1,1 Palhas de leguminosas - 37976 1,2-2,0 0,3-0,4 0,6-1,8 2 5 2 Teores de N, P 0 e K 0 no material seco. (1) Além do fornecimento de nutrientes às plantas pela M.O., são importantes também os benefícios indiretos como: a) aumento da retenção de umidade no solo; b) melhoria da aeração e da agregação de partículas do solo; c) aumento da retenção de cátions, pela alta CTC da M.O.; e d) aumento da capacidade de retenção de nutrientes como S, B, Cu, Zn e Mo. A manutenção de alto teor de M.O. do solo em grandes áreas pode ser conseguida na prática somente com a adoção de manejo conservacionista do solo aliado ao bom desenvolvimento das plantas, inclusão de leguminosas no sistema de culturas e controle da erosão do solo (item 12.2.3 - p. 155). Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 169 12.5 Você sabia ? 12.5.1 A quebra do poste Qualquer campeiro sabe que o poste da cerca (de madeira) quebra ao nível do solo. Porquê? 12.5.2 A “terra de mato” Foi dito no item 12.2.1 que o solo de florestas contém menos M.O. que o de pastagem. Por que então as floriculturas vendem bastante “terra de mato”? 12.5.3 No banheiro Qual a relação entre o mau cheiro dos banheiros (mal lavados) com a perda de eficiência de adubos nitrogenados no solo? 12.5.4 Mineralização de M.O. Qual é teoricamente a liberação de N pela decomposição da M.O. do solo utilizado no experimento em vasos (Anexo 7), que possui 0,8% de M.O.? Qual foi a liberação real de N para a aveia, contido na parte aérea e nas raízes das plantas, nos dois cortes (tratamento 2: sem adição de N)? Por quê? 12.5.5 Eficiência de absorção Mesmo não ocorrendo deficiência de outros nutrientes, a absorção de N dos adubos pelas plantas em geral é menor que 100%. Calcule então a eficiência de absorção do N (da uréia) pela aveia no experimento apresentado no Anexo 7 (tratamento 4), considerando as quantidades contidas nas raízes e na parte aérea dos dois cortes da aveia. Qual deve ter sido a principal forma de perda de N? 12.5.6 Adubos nitrogenados de liberação lenta de N Está sendo atualmente testado a campo um produto (tiofosfato de N-n- butiltriamida - NBPT) que retarda a ação da urease por 3 a 4 dias, podendo reduzir as perdas de N por volatilização de amônia, em média, até 50 a 60% Carlos Alberto Bissani et al. 170 na cultura do milho, caso ocorra chuva entre 7 a 10 dias após a aplicação superficial da uréia [12.16]. Page 1 Page 2 Page 3 Page 4 Page 5 Page 6 Page 7 Page 8 Page 9 Page 10 Page 11 Page 12 Page 13 Page 14 Page 15 Page 16 Page 17 Page 18 Page 19 Page 20 Page 21 Page 22 Page 23 Page 24 Page 25 Page 26
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