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Sarah Fungos Fungos quinta-feira, 1 de outubro de 2020 08:08 Página 1 de Microbiologia INTRODUÇÃO Os fungos têm uma estreita relação com os homens desde a época mais remota, há relatos de até 3000 A.C na Índia da utilização de fungos em várias situações, como para alimentação, para atingir um estado de consciência alterada (no qual eles acreditavam que estavam entrando em contato com deuses) e até para envenenamento. Além disso, existem evidências fósseis que esses organismos existem a mais de 300 milhões de anos, logo fazem parte da Idade Devoniana. Por muito tempo os fungos não tinham uma classificação de Reino a parte, visto que eles tinham uma aparência muito similar às plantas e, assim, eles eram classificados dentro do Reino Plantae. Porém, em 1969, eles foram reconhecidos como fungos e classificados no próprio reino (Fungi) por H. Whittaker, que conseguiu demonstrar que as plantas e os fungos eram bastante diferentes através de estudos de morfologia e nutrição. Atualmente, existem 3 principais domínios, onde o Reino Fungi está inserido dentro do Domínio Eukarya. Já são descritas mais de 200 mil espécies de fungos, mas, na área médica, os mais importantes são os patógenos primários e oportunistas, que já são descritas cerca de 300 espécies. Patógeno primário é aquele que é verdadeiramente patogênico, ou seja, não é necessária nenhuma condição de base do hospedeiro para esse organismo causar a doença. Já os fungos oportunistas necessitam de fatores associados ao hospedeiro para invadir seu organismo e causar a doença. --------------------------------------------------------------------------------------------- CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS FUNGOS Os fungos são organismos eucariontes, ou seja, eles têm um núcleo que tem um envoltório, uma membrana com característica fosfolipídica. Eles podem apresentar 1 ou mais núcleos, então podem ser unicelulares ou pluricelulares. Não possuem clorofila, portanto não conseguem fazer fotossíntese, sendo, então, organismo heterotróficos. Uma outra diferença de plantas e fungos é que os fungos não armazenam amido, a principal reserva energética deles é o glicogênio. Também podem acumular lipídios para evitar a desidratação da célula fúngica e para proteção de altas temperaturas. O citoplasma da célula fúngica é rico em organelas, é possível ver o núcleo, o nucleossomo, membrana citoplasmática, mitocôndrias, retículo endoplasmático, glóbulo lipídico, vacúolo etc. Os ribossomos da célula fúngica são ribossomos 80S, o que os distingue das bactérias, que possuem ribossomos 70S. O genoma do fungo é constituído de DNA, que é o menor que existe entre os seres eucariontes, mas, mesmo assim, ele é grande, tendo de 12 a 88 Mpb (mega pares de base). Comparando com uma bactéria padrão, a exemplo da E. Coli, o DNA do fungo é 11 vezes maior. Lembrando que os fungos são organismos eucariontes porque seus núcleos são limitados por um envoltório nuclear. O seu DNA grande consegue ficar dentro do núcleo por conta das histonas, que são proteínas que conseguem compactar o DNA para que ele consiga ficar organizado dentro do núcleo. Em relação à mobilidade dos fungos, a maioria não apresenta flagelo, ou seja, é sem mobilidade, 14/09 - 1 - Características gerais dos fungos segunda-feira, 14 de setembro de 2020 08:37 Página 2 de Microbiologia Em relação à mobilidade dos fungos, a maioria não apresenta flagelo, ou seja, é sem mobilidade, com exceção de organismos dentro da divisão Chytridiomycota, que são fungos flagelados. Então, olhando na escala evolutiva, a divisão Chytridiomycota é a divisão mais primitiva que se tem. Os resquícios de flagelo são importantes porque esses microrganismos são aquáticos e vivem em ambientes úmidos (ricos e solos encharcados) e esses flagelos servem para movimentação desses fungos. A maioria desses microrganismos são saprófitos, ou seja, alimentam-se de matéria orgânica em decomposição. Podem ser parasitas de plantas e animais invertebrados. Dentro dessa divisão Chytridiomycota existem cerca de 1000 espécies diferentes. Uma das espécies que mais tem chamado atenção é a Batrachochytrium dendrobatidis (Bd), porque ela acaba causando uma doença chamada quitridiomicose (Chytridiomicose) em anfíbios, principalmente rãs e sapos. A Bd infecta o interior das células da camada mais externa da pele do animal, que é formada de queratina. A queratina dá rigidez à pele do animal, ajuda a evitar lesões, a fazer a hidratação ("bebe água pela pele") e a absorção de eletrólitos importantes (sódio e potássio) do animal. Uma vez que o Bd infecta o interior dessas células há um processo de hiperplasia e hiperqueratose, fazendo com que a pele do animal fique mais espessa, o que altera os níveis de eletrólitos, que faz com que o anfíbio tenha um colapso cardíaco, podendo vir a morte. Uma das características interessantes dessa doença é que o animal é encontrado virado para cima. No Brasil, nós temos vários problemas relacionados à quitridiomicose, porque há uma redução da população de anfíbios, que implica no aumento da população de insetos e gera um impacto na saúde muito grande, uma vez que se aumenta o número de insetos transmissores de doenças, entre elas a malária, a dengue e a febre amarela. Além disso, a alteração na cadeia alimentar, isto é, a diminuição do número de anfíbios, também dificulta a sobrevivência de outros animais, como aves e répteis, que muitas vezes se alimentam deles. Um outro impacto importante, nesse contexto, é o na alimentação, tendo em vista que o Brasil é o 2º maior criador de rãs do mundo. Então, a diminuição do número desses anfíbios acaba gerando um impacto econômico muito grande. --------------------------------------------------------------------------------------------- ESTRUTURA DA CÉLULA FÚNGICA Observando a célula fúngica como um todo de fora para dentro, a camada mais externa é a parede celular, depois dela há a membrana plasmática que envolve o citoplasma e dentro do citoplasma existem as organelas. A parede celular do fungo, diferente da das plantas, é uma parede celular sem celulose. A principal constituição dessa parede são polissacarídeos (90%), onde a quitina (N-acetilglicosamina) é um dos mais importantes. Fora a quitina, há outros polissacarídeos, como glucana e galactomanana; e algumas proteínas, melanina etc. Essa parede celular é importante porque ela acaba sendo a superfície de contato da célula com o meio externo, ou seja, com a célula do hospedeiro. Então, ela é uma importante sede de antígenos. É a parede celular que dá a forma à célula fúngica e a protege contra a pressão osmótica. Além disso, a parede é um importante mecanismo de virulência do fungo. Além de polissacarídeos, a parede celular apresenta proteínas importantes, uma delas é a melanina. Os fungos podem apresentar uma quantidade maior ou menor de melanina na sua parede celular (que deixam a parede mais escura/amarronzada) ou também podem ter melanina distribuída nas células, fazendo com que as estruturas fiquem amarronzadas. Quando o fungo tem grande quantidade de melanina na sua parede celular e distribuída pela célula, ele é chamado de fungo negro ou fungo demáceo. A principal melanina do fungo é a Di-hidroxinaftalenomelanina, que tem uma composição hidrofóbica que acaba evitando a desidratação da célula fúngica quando o fungo está exposto ao Página 3 de Microbiologia hidrofóbica que acaba evitando a desidratação da célula fúngica quando o fungo está exposto ao meio ambiente e/ou quando ele está exposto a altas temperaturas. Assim como no ser humano, a melanina também protege o fungo contra a radiação ultravioleta. Além disso, a melanina tem um fator essencial para o fungo na sua patogênese, pois consegue remover os radicais oxidativos dos fagócitos, protegendo a célula fúngica da fagocitose; consegue proteger contra enzimas proteolíticas e, além disso, os fungos que têm uma quantidade maior de melanina na sua célula possuem umaredução de sua susceptibilidade frente aos antifúngicos. Alguns microrganismos fúngicos têm um envoltório externo além da parede celular, que é denominado de cápsula. É o caso dos fungos do gênero Cryptococcus, responsáveis pela criptococose. Sua cápsula tem uma composição mucopolissacarídica, formada principalmente de glucuronoxilomanana (GXM), que tem uma importância muito grande na virulência desse fungo. Essa cápsula facilita a adesão do Cryptococcus na célula hospedeira e, além disso, acaba dificultando a fagocitose, visto que tem a capacidade de aumentar e diminuir o seu tamanho. Logo em seguida da parede celular, nós temos a membrana plasmática. A membrana plasmática dos fungos é uma membrana bem similar a dos outros microrganismos eucariontes. Então, ela tem uma bicamada fosfolipídica, que possui vários compostos inseridos nela, como algumas proteínas (enzimas importantes que auxiliam na produção de componentes tanto para a parede celular quanto para a cápsula) e o ergosterol, que é o esterol responsável pelo controle osmótico da célula. A membrana pode ter outros tipos de esterol (fergosterol, zimosterol etc.), mas o mais frequente é o ergosterol, que é, inclusive, o principal alvo de ação de grande parte dos antifúngicos disponíveis atualmente. OBS.: Pneumocystis spp. é o único fungo que não possui membrana celular, portanto também não possui o ergosterol. Ergosterol é diferente de colesterol. Colesterol é um esterol presente na célula de mamíferos. O ergosterol é um tipo de esterol, porém presente na célula fúngica. ----------------------------------------------------------------------------------------------- FISIOLOGIA DOS FUNGOS Os fungos não sintetizam seu próprio alimento como as plantas, então eles precisam obter esse alimento do meio externo. A principal fonte de energia do fungo é o carbono. Supondo um substrato, por exemplo uma pele com queratina, em que caia uma estrutura reprodutiva do fungo, a estrutura vai germinar e esse microrganismo vai começar a produzir estruturas que são responsáveis pela absorção dos nutrientes desse substrato. Uma hifa, por exemplo, consegue tomar o substrato em questão de segundos, emitindo prolongamentos em direção de onde tem a demanda de substrato para poder lançar enzimas para o meio para degradar essas moléculas complexas e transformá-las em moléculas simples, como monômeros, para depois absorver por processos passivos ou ativos. Então, as hifas possuem uma gama muito grande de enzimas que hidrolisam componentes do substrato. Alguns exemplos de enzimas são: lipase, querastase, proteinase, lactase, amilase etc. Os fungos conseguem degradar até mesmo substâncias como couro, ferro, plástico (alguns fungos formam biofilmes em superfícies plásticas como cateter), entre outras. Os fungos são grandes produtores de substâncias tóxicas, como as micotoxinas, que podem causar câncer hepático, câncer esofágico e vários sintomas desagradáveis. Para absorção de nutrientes, o fungo ainda requer uma certa quantidade de água. Então, o fungo só cresce e produz estruturas como hifas apenas em condições adequadas e uma dessas condições é a quantidade de água do meio. Página 4 de Microbiologia Tem fungos que crescem em uma atividade de água menor e outros em uma atividade de água maior. Porém, todos os fungos necessitam dessa água para a absorção de nutrientes e sua consequente germinação. Em uma situação de escassez de água, os fungos são capazes de produzir estruturas de resistência, como o esclerócio (visível a olho nu, parecem sementinhas e na verdade são o envelopamento de hifas). Uma vez que as condições favoráveis retornam, as hifas envelopadas se desenvolvem e o fungo volta a crescer. Um grande exemplo de fungo produtor de esclerócios é o Aspergillus alliaceus. Outra estrutura de resistência é o clamidoconídio (ou clamidósporos), que acaba ajudando na identificação dos microrganismos. Em relação à temperatura de crescimento, os fungos podem ser psicrófilos (crescem em uma temperatura de 5 a 20°C, com temperatura ótima de 15°c), mesófilos (crescem de 20 a 45°C, com temperatura ótima de 35°C) ou termófilos (crescem de 45 a 70°C, com temperatura ótima de 50°C). A maior parte dos fungos de importância clínica são caracterizados como mesófilos. O fungo filamentoso se desenvolve na temperatura em torno de 25 a 30°C e a levedura se desenvolve a uma temperatura de 30 a 40°C. Para o crescimento do fungo, outros parâmetros também são importantes, como o pH, luz, diferentes nutrientes, vitaminas e o meio. Em relação ao pH, o fungo gosta de um pH mais ácido, geralmente de 5,6 a 6,8. Porém, tudo em fungos tem exceções, visto que eles conseguem se adaptar muito facilmente ao meio, então existem desde fungos que se desenvolvem em um pH 1,5 até fungos que se desenvolvem num pH 11. Dependendo do fungo, ele tem uma certa preferência em um pH um pouco mais ácido que os outros, como as leveduras, que gostam de um pH em torno de 4. Já os fungos filamentosos gostam de um pH entre 5 e 6. Lembrando que, mesmo com as preferências, muitos fungos conseguem se adaptar. O fungo também necessita de luz ou da ausência de luz para poder germinar e reproduzir. Para que haja a germinação, normalmente chamada de esporulação, geralmente há a necessidade da presença de luz. Já o crescimento do micélio vegetativo, que é o micélio responsável por absorver os nutrientes, geralmente há uma preferência para crescer na ausência de luz. Existem vários nutrientes importantes para os fungos, tanto macronutrientes, quanto micronutrientes. Em relação aos macros, os fungos se desenvolvem muito bem principalmente na presença de carbono e nitrogênio, mas há outros macronutrientes importantes, como potássio, magnésio, fósforo. Além de micronutrientes como zinco, ferro, cobre etc. As vitaminas funcionam como fator de crescimento para os fungos. Existem vários meios que a gente pode sintetizar esses nutrientes para o crescimento dos fungos em laboratório (ágar batata dextrose, ágar extrato de malte, ágar milho, BHI, etc.). Entre eles, existe o meio Ágar Sabouraud, que é composto principalmente por peptona, que é uma fonte de nitrogênio, e glicose, que é uma fonte de carbono, formando um meio utilizado na recuperação de fungos. Em relação à obtenção de oxigênio, a maior parte dos fungos são aeróbios obrigatórios. Porém, existem aqueles microrganismos que crescem numa quantidade mínima de oxigênio, que são classificados como anaeróbios facultativos. Eles são facilmente encontrados no nosso dia a dia, porque consumimos produtos feitos pela fermentação de leveduras e outros fungos filamentosos, que conseguem crescer em uma quantidade menor de oxigênio (fungos fermentadores). Existem, ainda, os fungos que crescem na ausência de oxigênio, que são os anaeróbios obrigatórios. Um exemplo é aquela divisão considerada mais primitiva, a Chytridiomycota. Página 5 de Microbiologia O fungo também requer CO2, tanto para as reações de carboxilação (síntese de ácidos graxos), quanto para sua diferenciação celular. Alguns fungos conseguem mudar sua forma, ou seja, eles conseguem se transformar de filamentosos para leveduriformes ou de leveduriformes para filamentosos na presença de CO2 e também, e principalmente, em virtude da temperatura. Essa característica é conhecida como dimorfismo. Os fungos que são patógenos primários ou patógenos verdadeiros dentro de micologia médica são considerados fungos dimórficos, que são aqueles que alteram sua forma principalmente na dependência de mudança de temperatura. Um exemplo de fungo dimórfico é o Paracoccidioides brasiliensis, causador da paracoccidioidomicose, doença muito comum no ES. Esse fungo se encontra no meio ambiente a 25° C na sua forma filamentosa, porém quando ele infecta o hospedeiro ela vai até os alvéolos pulmonares e chegando lá, em virtude da mudança de temperatura (37°C) e alguns outros fatores, esse microrganismo muda sua forma para a leveduriformes.Outros exemplos são: Blastomyces dermatidis, Coccidiodos immitis, Histoplasma capsulatum, entre outros. Sobre as relações ecológicas conforme a fonte de nutrientes, os fungos podem ser saprófitos, parasitas ou simbiontes. Os saprófitos vivem em decomposição de organismos mortos (Ex.: Orelha de pau decompondo um tronco de árvore apodrecido). Os parasitas podem parasitar tanto animais, quanto plantas e humanos, retirando o alimento do seu hospedeiro vivo destruindo as células, podendo levar a doenças e causar a morte (Ex.: Formigas zumbi / Sapinho ou candidíase oral / Micoses de unha). Já a relação simbionte é estabelecida, por exemplo, entre um fungo e uma cianobactéria formando o líquen. É uma relação onde ambos lados têm benefícios. CICLO DE VIDA O ciclo de vida dos fungos pode ser de 2 formas, ou de forma assexuada ou de forma sexuada. Na reprodução assexuada, é uma reprodução típica de organismo assexuado, onde ele tem um tipo de ciclo mitospórico (em azul). Já na reprodução sexuada há uma alternância, ora ele tem um ciclo mitospórico, ora ele tem um ciclo mitospórico. Página 6 de Microbiologia Então, na assexuada não há necessidade de microrganismos de "sexos" distintos (alfa ou beta / positivo ou negativo), porque o próprio organismo se reproduz sem ter a fusão com outro organismo de sexo distinto. Todo esse ciclo é formado por microrganismos haploides (uma célula n dá origem a outra célula n). Já no ciclo de reprodução sexuada, são necessários 2 tipos de "sexos"/hifas distintas, uma positiva e uma negativa (matching). Então, essas hifas de polaridades diferentes se atraem por meio de feromônios, fundem seus citoplasmas (plasmogamia) e também seus núcleos (cariogamia), que gera um zigoto 2n. Esse zigoto 2n vai passar por um processo de meiose, formando o organismo haploide, que vai se reproduzir por processos mitospóricos. OBS.: Nem sempre são encontradas descritas as 2 formas de reprodução em todos os gêneros fúngicos. Página 7 de Microbiologia Os fungos, dependendo do meio onde ele é semeado (no caso no laboratório em meios sintéticos, com fonte de carbono e nitrogênio) podem crescer de 2 formas, ou com forma leveduriforme (leveduras) ou com uma forma filamentosa (fungos filamentosos). As leveduras são colônias que são muito pequenas se comparadas às colônias de fungos filamentosos. Essas colônias, geralmente, em meios como o Sabouraud, crescem apenas de uma única coloração, que é mais branca/creme. Há exceção de algumas colônias que produzem pigmento betacarotenoide ou pigmento à base de melanina, que são mais escuras. As colônias de leveduras têm um aspecto brilhoso ou podem ter um aspecto mais pastoso. Já as colônias de fungos filamentosos são, por exemplo, aquelas que crescem nos alimentos em casa, conhecidas popularmente como bolores ou mofos. Essas colônias são grandes e possuem vários aspectos e colorações diferentes. Podem ser, por exemplo, felpudas ou pulverulentas (em forma de pó). 14/09 - 2 - Características gerais dos fungos / Foco em morfologia segunda-feira, 14 de setembro de 2020 13:01 Página 8 de Microbiologia FUNGOS FILAMENTOSOS O fungo filamentoso (bolor) é um microrganismo multicelular (apresenta mais de um núcleo). Ele é constituído por hifas e dividido em micélio vegetativo e micélio reprodutivo. O micélio vegetativo é o micélio aderido/abaixo à superfície do substrato (conjunto/emaranhado de hifas). As hifas vão crescendo de acordo com a demanda de nutrientes. O micélio reprodutivo é o que está acima da superfície de nutrientes. (visível o micélio reprodutivo) A hifa nada mais é do que o prolongamento que cresce de forma apical e rápida de acordo com a demanda de nutriente. É através do micélio que os fungos se expandem. Página 9 de Microbiologia Resumindo, na superfície de um substrato um conídio germina e as hifas começam a se formar originando o micélio vegetativo (hifa vegetativa). A medida que esse microrganismo cresce acima do substrato, ele vai formar o micélio aéreo, também chamado de micélio reprodutivo, porque é onde ficam as estruturas reprodutivas. Os fungos filamentosos apresentam várias cores e formas diferentes. As colônias podem ter uma borda lisa ou irregular, podem produzir pigmentos ou não, podem ter texturas diferentes (mais algodonosa, mais cotonosa, mais pulverulenta etc.), podem estar umbilicadas (com uma protuberância), podem estar com sulcos (rugosa), entre outras variações. CARACTERÍSTICAS DAS HIFAS Página 10 de Microbiologia CARACTERÍSTICAS DAS HIFAS As hifas podem ser de 2 tipos de acordo com sua septação. Podem ser hifas asseptadas/cenocíticas ou hifas septadas. O septo não é vedado/fechado, ele contém poros que permitem a passagem de substâncias e organelas de uma célula para outra. As hifas também podem ser classificadas em hialinas ou demáceas. As hialinas são aquelas claras/translúcidas ou pigmentadas pelo corante utilizado para a visualização (caso azul acima). As demáceas/negras são as hifas amarronzadas, que possuem um excesso de melanina na sua célula. Dependendo da hifa nós conseguimos assumir ou prever um determinado diagnóstico quando esses microrganismos estão invadindo a célula do hospedeiro. Se a hifa é hialina e cenocítica, provavelmente é o caso de uma mucormicose. Se a hifa é hialina e septada, provavelmente é o caso de uma hialohifomicose. Se a hifa é demácea pode ser uma feohifomicose ou uma cromoblastomicose. A hifa tem poros que permitem a passagem de organelas de uma célula para outra. Além disso, ela sofreu vários processos de adaptação para conseguir sobreviver no meio. Então, quando uma hifa é lesada, por exemplo num corte, ela não morre, porque ela produz o Corpúsculo de Woronin, que é como se fosse uma estrutura arredondada que veda o poro da célula fúngica, não permitindo que as organelas e as substâncias sejam extravasadas para o meio extracelular, o que poderia levar à morte. Página 11 de Microbiologia MODIFICAÇÕES DO MICÉLIO Nos fungos filamentosos, essas hifas podem se modificar e se transformar em várias estruturas distintas. Elas podem formar vesículas, artroconídios (fragmento da hifa), rizoides (similares às raízes, em fungos mais primitivos), hifas em espiral, além de estruturas de resistência. Página 12 de Microbiologia A exemplo de estrutura de resistência tem-se o esclerócio, que é formada na escassez de água, é um grão duro formado por um emaranhado de hifas. Além disso, há os clamidoconídios, que também são estruturas de resistências formadas na escassez de água. Página 13 de Microbiologia DEFINIÇÕES - Em relação à reprodução dos fungos, eles podem ser assexuados ou sexuados. DEFINICOES - ASSEXUADO Os fungos assexuados recebem uma denominação de anamorfos, estado em que os fungos produzem estruturas de reprodução assexuada. A reprodução assexuada abrange 4 modalidades: Fragmentação de artroconídios, fissão de células somáticas, brotamento ou gemulação do blastocoídio-mãe e produção de conídios. Os fungos filamentosos anamórficos (no seu estado assexuado) são caracterizados por possuírem estruturas como os conidióforos, células conidiogênicas e conídios. Conidióforos são células/hifas que sustentam as células conidiogênicas. As células conidiogênicas são as que fazem conidiogênese, isto é, dão origem aos conídios. Por fim, os conídios são estruturas assexuadas de reprodução. A dispersão de conídios é o que permite a perpetuação desses fungos. As células conidiogênicas podem ser de 2 tipos, ou uma célula fialídica (parece uma garrafinha, igual acima) ou anelídica (pegar exemplo). Os conídios nem sempre serão arredondados, eles podem ter Página 14 de Microbiologia acima) ou anelídica (pegar exemplo). Os conídios nem sempre serão arredondados, eles podem ter várias formas diferentes, como fusiforme ou em forma de boomerang. CLASSIFICAÇÃO DOS CONIDIOS SEGUNDO SACCARDO Não precisa decorar Os conídios podem ser,por exemplo, amerosporos (não têm septo), didimosporos (1 septo dividindo em 2), fragmosporos (a célula foi se fragmentando), dictiosporos (septos transversais e longitudinais), estaurosporos (formato de estrela), helicosporos (espiral), entre outros. DEFINIÇÕES - ESTRUTURAS SEXUADAS O fungo quando está na sua fase sexuada é chamado de teleomorfo. Enquanto na forma assexuada a estrutura reprodutiva dos fungos é chamada de conídio, na forma sexuada essa estrutura é chamada de esporo. Uma das diferenças é que esses esporos ficam dentro de bolsas. Além de estar dentro de uma bolsa, como são estruturas sexuadas, geralmente estão em número par. No caso de um fungo da divisão Ascomycota, as bolsas são chamadas de ascos e os esporos de ascosporos. Os ascos geralmente ficam dentro de corpos de frutificação, que são estruturas fechadas com uma abertura que permite que os ascosporos sejam liberados para o meio quando Página 15 de Microbiologia fechadas com uma abertura que permite que os ascosporos sejam liberados para o meio quando maduros. Esse corpo de frutificação na forma sexuada que tem um aspecto de pera é chamado de peritécio. Há outros tipos de corpos de frutificação na forma sexuada, como por exemplo o cleistotecio (forma circular) e o apotecio (forma de taça). IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS Como eu faço para identificar um fungo filamentoso? O fungo filamentoso é identificado não só pelo seu aspecto macromorfológico, mas também pela sua micromorfologia. Não há como fazer a identificação do fungo filamentoso olhando apenas o seu micélio vegetativo. É necessário olhar as suas estruturas reprodutivas para isso. Então, as estruturas reprodutivas dos fungos filamentosos, juntamente com sua macromorfologia, responsáveis pela identificação de gênero e espécie. ------------------------------------------------------------------------------------------- MORFOLOGIA FUNGOS LEVEDURIFORMES As leveduras são microrganismos unicelulares, geralmente arredondados e que se reproduzem Página 16 de Microbiologia As leveduras são microrganismos unicelulares, geralmente arredondados e que se reproduzem praticamente por brotamento ou gemulação. O brotamento ou gemulação é quando uma célula-mãe se divide formando uma célula idêntica (reprodução com divisão de citoplasma através de estrangulamento). A célula-filha é chamada de blastoconídio/gêmula. Esse blastoconídio normalmente se solta da célula-mãe, mas pode acontecer de ela continuar presa, acabar se alongando e formar uma pseudohifa. Levedura também pode formar a estrutura de resistência chamada clamidoconídio, que, em comparação a esse meio de leveduras, é uma estrutura arredondada, com uma parede espessa e o citoplasma corado, podendo estar na parte terminal na hifa ou intercalada na hifa. OBS.: É através do clamidoconídio que é possível identificar a Candida Albicans Página 17 de Microbiologia Os blastoconídios podem sofrer um processo chamado de pleomorfismo fúngico, ou seja, essas leveduras podem mudar de forma, deixando de ser o blastoconídio ao se alongar e formar uma falsa hifa (pseudohifa). Pseudohifas são blastoconídios prolongados e ligados entre si, lembrando o aspecto de hifa. Observar que parecem septos, mas não há passagem/poro, pois são indivíduos unicelulares e separados, que estão apenas ligados entre si. Algumas leveduras também podem formar hifas verdadeiras, como é o caso do trycosporum. A hifa verdadeira pode, inclusive, fragmentar-se e formar artroconídios. MACROMORFOLOGIA DAS LEVEDURAS Diferente dos fungos filamentosos, as leveduras possuem colônias menores, podem ser brancas ou beges (em meio básico, de ágar Sabouraud), podem produzir pigmento betacarotenoide ou, ainda, podem ser uma levedura negra (muita melanina não só na parede, mas também distribuída por toda a célula). São colônias pequenas, pastosas ou cremosas, brilhantes ou opacas, lisas ou rugosas. ------------------------------------------------ Existem fungos que se comportam ora como levedura, ora como fungo filamentoso. Esses fungos são denominados como dimórficos ou termodimórficos. Os fungos dimórficos são aqueles que quando está na temperatura ambiente (25°C) ele está na forma filamentosa e quando ele passa para uma temperatura mais elevada, como a temperatura corporal (37°C) esse microrganismo deixa sua forma filamentosa para se transformar na sua forma leveduriforme, que é a forma mais virulenta. CLASSIFICAÇÃO E TAXONOMIA DOS FUNGOS Página 18 de Microbiologia CLASSIFICAÇÃO E TAXONOMIA DOS FUNGOS Até o ano de 2000, o Reino Fungi era dividido em 4 filos (Zygomycota, Chytridiomycota, Ascomycota e Basidiomycota / do mais primitivo para o mais evoluído), com exceção da chytridiomycota, todos têm agentes causadores de doenças no humano. Porém, em 2007, essa classificação foi revista e refeita, avaliando parâmetros filogenéticos. Na nova classificação o Reino Fungi foi dividido 7 filos. A partir do Reino Fungi há um Sub-reino Dikarya, onde se tem os fungos mais evoluídos (filos Ascomycota e Basidiomycota). Como são os mais evoluídos, eles possuem hifas septadas. O resto ficou dividido em 5 filos (Chytridiomycota, Neocllimastigomycota, Blastocladiomycota e Glomeromycota) , que são os mais primitivos, então o micélio desses fungos é cenocítico (asseptado). Na verdade, ele pode até ter o septo, mas é tão pequeno/primitivo e difícil de visualizar no microscópio óptico (confirmar aula pratica?), que é considerado asseptado. O filo Zygomicota mudou de nome para Glomeromycota, que é dividido em subfilos, sendo o Mucoromycotina e o Entomopthoromycotina os mais importantes, por possuírem agentes causadores de doenças em humanos. Estudaremos os fungos desses subfilos mencionados da divisão Glomeromycota, que são mais primitivos (asseptados) e os fungos do Sub-reino Dikarya (filos Ascomycota e Basidiomycota), que são mais evoluídos (septados). Página 19 de Microbiologia MICOSE SUPERFICIAL PROPRIAMENTE DITA: PITIRÍASE VERSICOLOR Didaticamente nós estudamos as micoses da seguinte forma: as micoses superficiais (onde temos as propriamente ditas e as cutâneas), as micoses profundas (onde temos as micoses de implantação, sendo que iremos estudar as de implantação por fungos demáceos), as micoses sistêmicas endêmicas (causadas por patógenos primários) e as micoses sistêmicas oportunistas (causadas por patógenos oportunistas). As micoses superficiais propriamente ditas atingem a parte mais superficial da pele, atingindo o extrato córneo ou a cutícula do pelo. Essas micoses causam uma resposta imune celular praticamente ausente ou mínima e raramente são sintomáticas, são tratadas geralmente em virtude dos seus aspectos estéticos. Alguns exemplos são: a pitiríase versicolor, piedra branca, piedra preta, tinha negra etc. As micoses superficiais cutâneas são aquelas que acometem não só a pele, mas também o pelo e a unha. Nesse caso, são micoses sintomáticas, que produzem resposta imune celular. Nesse grupo, existem dermatofitoses, candidíases e micoses causadas por fungos filamentosos não dermatófitos. Malassezia spp. Como iremos falar da pitiríase versicolor, iremos falar um pouco do seu agente, que é uma levedura. A malassezia produz colônias leveduriformes, pequenas, brilhantes e cremosas no meio de cultura. Porém, quando esse microrganismo está invadindo, por exemplo, o extrato córneo, ele deixa o estado leveduriforme para também formar hifas ou pseudohifas. Sendo assim, a malassezia é uma levedura, porém uma levedura polimórfica, já que muda de forma dependendo se ela está colonizando ou invadindo (não é dimorfismo, que é dependente de 15/09 - 1 - Micoses superficiais propriamente ditas + Pitiaríase Versicolor sexta-feira, 18 de setembro de 2020 14:42 Página 20 de Microbiologia dependendo se ela está colonizando ou invadindo (não é dimorfismo, que é dependente de temperatura). As malassezias podem ser encontradas em toda a superfícieda pele, tanto em humanos, quanto em animais. Desde que nascemos, já começamos a ser colonizados pela malassezia, colonização baixa e que se estabiliza entre 6 a 12 meses de idade. Quando se inicia a puberdade, há uma alteração de fatores hormonais, que têm uma implicação na atividade das glândulas sebáceas, assim esse microrganismo pode proliferar. A malassezia é consideara um microrganismo comensal, isto é, ela pode colonizar, por exemplo, nossa pele ou nosso couro cabeludo sem causar doença. No entanto, ela pode tornar-se patogênica dependendo de alguns fatores predisponentes. Taxonomia atual Em relação à taxonomia de malassezia, ela é um grupo de microrganismos que foi estudado mais a partir de 1965, então os estudos que o envolvem são mais recentes. Antes de 1965, apenas 3 espécies eram reconhecidas (funfor, cincodiliase e paquidermatis). Depois de 1965 ficou definido que esse microrganismo faz parte do filo Basidiomycota (meio incerto ainda), da classe Malasseziomycetes (mudou em 2013), da ordem Malasseziales, da Família Malasseziaceacea e do Gênero Malassezia. A malassezia se encontra no seu estado anamorfo, não há descrição do seu estado sexuado (telomorfico)? OBS.: Subfilo: Ustilaginomycotina Há cerca de 17 espécies de Malassezia, a maior parte descrita depois dos anos 2000, tanto isoladas de animais quanto isoladas de humanos. Dentro dessas 17, apenas 10 sãocausadoras de micoses em humanos. CARACTERÍSTICAS DO GENERO A malassezia tem uma característica muito peculiar, porque são leveduras lipodependentes, então elas dependem de lipídio para crescer, com exceção da M. pachydermatis (muito encontrada em pele de rinocerontes e no conduto auditivo de cães). A levedura de malassezia pode assumir formatos diferentes dependendo da espécie, pdoendo ser mais esférica ou mais elipsoidal. E é uma levedura que se reproduz por brotamento. Página 21 de Microbiologia A malassezia não consegue sintetizar acido graxo insaturado, por isso ela habita ambientes que há maior área de sebo (regiões gordurosas do corpo), como por exemplo o tronco, nos braços, atrás da orelha. Então, ela libera lipases para degradar esses triglicerídeos do sebo para produzir lipídios, que é sua principal fonte de energia. Essas lipases são formadas a partir de genes transcritos de seu genoma. Além das leveduras, ela produz hifas ou pseduohifas, podendo formar um pseudomicélio ou micélio verdadeiro. Porém, não é possível identificar a malassezia por seus aspectos morfológicos. Página 22 de Microbiologia Para a identificação desse microrganismo é necessário uma série de testes. Ela é caracterizada pela sua fisiologia, morfologia, assimilação do Tween (20, 40, 60 e 80), prova da catalase e meios de cultura (um meio de crescimento para malassezia deve ter a fonte de lipídios, então, por exemplo, pode utilizar o agar sabouraud dextrose com cloranfenicol e o azeite de oliva). Tween é um tensoativo, estereficado, formado de polioxietileno sorbitano. Os números significam a quantidade de unidades de oxietileno sorbitano. Existem alguns meios prontos para o crescimento da malassezia, como o Mdixon E o Leeming and Notman (LNA). Nesses meios há agar malte, glicerol, bile e Tween 40. No LNA há também azeite de oliva. IDENTIFICACAO DE ESPECIES EM MALASSEZIA Exxiste uma série de testes para identificaao da malassezia: OBS.: Por exemplo, se a malassezia crescer a 32 graus so pode ser a sympodallis, se der catalase negativa a restricta. Página 23 de Microbiologia Hoje em dia, com o aparecimento de várias espécies novas, tem sido recomendada a identificação molecular, mas com enfoque polifásico. Então, primeiro se faz os métodos convencionais (bioquímicos, fisiológicos etc.), daí se associa a uma técnica molécula. O mais indicado para se identificar malassezia é o sequenciamento, da região ITS (região conservada não codificadora de proteína) e D1/D2 do DNA ribossomal. Conseguimos identificar esse microrganismo também por meio de genes codificadores de proteínas, como betatubulina, actina, calmodulina. Uma técnica recente muito boa para identificar levedura é a MALDI-TOF, que é a espectrometria de massa. MALASSEZIA X DOENÇAS DE PELE Como já foi dito, as malassezias são leveduras muito bem adaptadas na pele, fazendo parte da colonização normal da pele, isso dificulta para estabelecer se esse microrganismo que está na pele é o único que está promovendo a doença ou se ele apenas está associado. Entre as doenças de pele em que o microrganismo está associado, há a pitiríase versicolor, a dermatite seborreica (“caspa”), dermatite atópica, foliculites e a psoríase. Dentre essas espécies causadoras de doenças de pele, a mais isolada é a Malassezia globosa, isto é, é a mais associada com doenças em humanos. Existem também as doenças que a malassezias podem diretamente causar, que são doenças um pouco mais invasivas, como pneumonia, sepse, peritonite e fungemia. ESTADOS DE CONVIVÊNCIA MALASSEZIA COM A PELE Falando de como esse microrganismo interage com a pele e como ele está associado a doenças, a malassezias pode conviver com o ser humano em 3 esstados de convivência. Página 24 de Microbiologia Um dos estados é o estado comensal, em que a levedura está colonizando a pele, está retirando alimento das células, mas não causa doença porque está em equilíbrio com a pele. Outro estado seria o patogênico, em que a levedura já prolifera, por causa de fatores predisponentes, porém raramente inflige inflamação. Esse é caso da pitiríase versicolor (PV). Ainda, a malassezias pode estar implicda com doenças com inflamação visível, como é o caso de dermatite seborrecia (ds), dermatite atópica (DA) e psoríase. PITIRÍASE VERSICOLOR A PV é uma micose superficial benigna. E caracterizada por apresentar uma fina descamação da pele, que pode provocar o aparecimento de manchar. Essas manchas podem ter uma coloração mais amarronzada (hipercromiantes) ou podem ter uma coloração mais avermelhada ou branca (hipocromiante), todas ligadas à produção de melanina. As máculas pdoem causar uma descamação fina na pele, são maculas com borda irregular e tamanhos diferentes, podendo confluir e formar o que chamamos de mapa geográfica (juntas tomam um tamanho maior da pele). Os principais locais atingidos pro esse microrganismo são: tronco, ombro, parte superior do braço, pescoço e face (menos frequente). As principais malassezias associadas a PV são a M. globosa,a M. sympodialis e a M. furfur. O desenvolvimento acontece da seguinte forma: a malassezias está no seu estado leveduriforme, se houver qualquer fator que predispõe esse microrganismo a alterar sua forma, ela passará de levedura para filamento (pseudohifa ou hifa) e conseguirá invadir o extrato córneo, causando a doença Manifestacoes clinicas Podemos observar, por exemplo, máculas com manchas hiporomiantes, que geralmente acontece em peles mais escuras. EM peles mais claras, as manchas soa normalmente mais avermelhadas;castanhas. Esse microrganismo gosta muito de calor e umidade, por isso algumas regiões são mais propicias a aparecerem as manchas, como a região inguinal nos homens. Página 25 de Microbiologia .sinonimias A malassezias possui alguns sinônimos, como micose de praia (a exposição ao sol ajuda a observar as manchas e a radiação uv é um fator predisponente para a invasão do fungo no extrato córneo), pano branco (por causa das colorações esbranquiçadas nas manchas), tinea versicolor (versicolor = várias cores), dermatomicose furfurácea (porque a lesão esfarela facilmente) e machas de fígado. Aspectos epidemiológicos A malassezias está presente principalmente em populações de regiões tropicais e subtropicais, mas também estão presentes em locais de clima frio e seco numa porcentagem bem menor. Pode atingir todas as raças e ambos sexos, acredita-se que tem uma maior prevalência no sexo masculino. É relatada em qualquer idade, mas é mais frequente entre 18 a 25 anos,justamente porque é nessa faixa em que há alterações hormonais, que aumentam a atividade das glandulaas sebáceas. Sendo assim, há mais disponibilidade de lipídios para o crescimento do fungo. O período de incubação é indeterminado nas zonas tropicais e úmidas, visto que o tempo quente ocorre o tempo todo. Para as pessoas que moram em regiões de clima frio e seco que viajam temporariamente as áreas tropicas, pode se observar um período de incubação de 5 a 20 dias. Os fatores predisponentes para a passagem do estado de colonização ao patogênico são calor, umidade, exposição ao sol, uso de cremes e bronzeadores oleosos, corticosteroides (diminuem a imunidade), falta de higiene, deficiência na produção de linfocinas (IL, IFN), gravidez (alteração hormonal), deficiência nutricional, hiperidrose e o uso de contraceptivos orais (hormônios). Patogenia Os principais fatores de virulência da malassezia é sua capacidade de mudar de forma, esse microrganismo sai de um estado totalmente leveduriforme e começa a ter hifas e pseudohifas. Fora isso, a malassezia produz queratinase e lipase, que são muito importantes no processo de invasão. A pitiríase versicolor hipocromiante ocorre mais em pessoas de pele escura/morena. Ocorre uma alteração da síntese de melanina e a formação, então, das manchas mais claras. O que acontece é que esses microrganismos degradam os lipídios do extrato córneo, reação que forma o ácido azeláico (ácido dicarboxílico). Esse ácido compete com uma enzima da síntese de melanina, a tirosinase, então diminui a produção de melanina. A produção desse ácido azeláico pelo fungo pode ser estimulada na pele pela presença da luz solar, assim como a produção da pitiriacitrina. Essas 2 substâncias podem reduzir a quantidade de melanócitos. Página 26 de Microbiologia Já na pitiríase versicolor hipercromiante há um aumento no tamanho dos melanossomos e uma distribuição na pele, então há uma produção maior de melanina. Diagnostico clinico O diagnóstico clínico é bastante simples, observa-se manchas na pele e existem 3 evidências que podem ajudar a confirmar a PV. Há o Sinal de Besnier, que é a raspagem da lesão gerar um esfarelamento. O Sinal de Zireli é quando se estira a pele da lesão (na região próxima vc puxa com o polegar e do outro lado com o indicador) e a mácula começa a esfarelar. Além disso, também é usada a lâmpada de Wood, que é uma lâmpada de luz UV, que quando projetada nas manchas da PV emite uma fluorescência verde/amarelada. Página 27 de Microbiologia Diagnostico laboratorial Antes do diagnostico laboratorial, o médico tem que solicitar o exame microscopico direto e a cultura, além de colocar o possível diagnóstico para orientar o pessoal do laboratório. O médico pode pegar o material colocando um durex na lesão e depois restirando, mas pode também ser feita uma raspagem da lesão, gerando as escamas, que é o material clínico. No laboratório, essas escamas são colocadas em uma lâmina, onde se adiciona KOH, que é um clarificante que degrada estruturas não-fúngicas, além de adicionar tinta parker, que é uma tinta Página 28 de Microbiologia clarificante que degrada estruturas não-fúngicas, além de adicionar tinta parker, que é uma tinta azul que vai impregnar na parede celular do microrganismo, possibilitando a visualização das estruturas. Como o microrganismo saiu do estado comensal e entrou no patogênico, é possível ver no microscópio hifas, pseudohifas e um emaranhado de levedura, ficando em um aspecto chamado de "macarrão com almôndega". Cultura Na cultura, é possível ver apenas a levedura. Essa levedura leva mais tempo para crescer do que o normal, em torno de 7 dias. Sua temperatura de incubação vai de 30 a 37°C. A micromorfologia desse microrganismo em cultura não ajuda a identificar espécie, visto que só aparece a levedura, os blastoconídios. Tratamento O tratamento pode ser tanto tópico, com o uso de loções, cremes e soluções. Dependendo do grau e Página 29 de Microbiologia O tratamento pode ser tanto tópico, com o uso de loções, cremes e soluções. Dependendo do grau e do tempo das doenças, pode ser utilizado um antifúngico sistêmico. Como tópico, damos preferência ao cetoconazol, que é um azólico. Pode ser usada também uma solução a base de hipossulfito de sódio (20 a 40%) ou de sulfeto de selênio. Se a doença estiver da forma sistêmica e for preciso um antifúngico sistêmico, pode ser utilizado de preferência o Itraconazol (200 mg/dia durante 5d) ou o cetoconazol (200 mg/dia durante 10d). É normal ter recorrência da doença, visto que convivemos normalmente com colônias do fungo na nossa pele, então se fatores predisponentes para a proliferação do microrganismo aparecerem, ele irá invadir novamente. Algumas pessoas têm problemas com a PV, como prurido, então algumas acabam fazendo profilaxia. Para isso normalmente se utiliza um antifúngico sistêmico, como o Itraconazol em dose única de 400 mg a cada mês por 6 meses. Há 3 tipos de evolução para a Pitiríase Versicolor. Pode ocorrer a cura tanto clínica, quanto micológica. Pode ocorrer a recidiva, que é bem comum, relacionada a fatores de predisposição. Além disso, há a possibilidade de uma PV crônica. Nesse caso, o paciente não tem melhora mesmo com tratamento adequado, e não se sabe ainda o porquê que isso acontece. Obs Malassezia - Um breve update. Informações publicadas recentemente Alguns autores escreveram que as Malassezinas, produzidas pela malassezia, induzem a apoptose de melanócitos, que promovem a despigmentação cutânea. Outras 2 substâncias foram descritas, a Pityrialactona (responsável pela fluorescência sob a lâmpada de Wood) e a Pityriarubinas (responsável pela limitada resposta inflamatória nas lesões de PV) Página 30 de Microbiologia Dermatofitose é uma micose que fica restrita ao extrato córneo, mas também pode atingir os seus anexos, como pelo e unha. Ela pode evoluir tanto de forma subaguda quanto de forma crônica. Ela é causada por um grupo de fungos que têm características fisiológicas, patogênicas e taxonômicas muito semelhantes. Eles se diferem apenas em questões nutricionais e em produção enzimática. Esses fungos pertencem ao filo Ascomycota, Ordem Onygenales e 3 gêneros diferentes: Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. Esses microrganismos estão na sua fase assexuada (anamorfo), porém Trichophyton e Microsporum já têm reconhecidas suas fases sexuadas, que é chamada de Arthroderma (Nanínia é o nome antigo para essa fase dos Microsporum). Esses fungos têm afinidade muito grande por queratina, então eles têm a capacidade de invadir os tecidos queratinizados. Eles conseguem promover uma resposta imunológica do hospedeiro e as lesões podem ser sintomáticas. Ainda, esse grupo de fungos tem em comum pertencer a grupos de fungos filamentosos, que apresentam hifas hialinas septadas, podendo produzir artroconídios. ECOLOGIA DOS DERMATÓFITOS Em relação à ecologia dos dermatófitos, eles podem ser geofílicos, zoofílicos ou antropofílicos. Os geofílicos são aqueles microrganismos que vivem nos solos, principalmente onde se tem pena, escama de peixe e outros materiais ricos em queratina. Na realidade, a maior parte dos dermatófitos são geofílicos. Os zoofílicos são os microrganismos que vivem do parasitismo de animais. Já os antropofílicos são os que vivem de parasitismo das células humanas. GEOFILICOS Os fungos geofílicos, que vivem no solo rico em queratina, possuem poucas espécies que são causadoras de doenças em humanos e animais. Porém, esses microrganismos quando conseguem invadir a célula humana acabam causando uma reação inflamatória exacerbada, visto que para ele se adaptar a pele do hospedeiro, ele precisa dispor de vários recursos para a invasão. 15/09 - 2 - Micoses superficiais cutâneas - Dermatofitoses sexta-feira, 18 de setembro de 2020 19:54 Página 31 de Microbiologia Como é um microrganismo evolutivamente distante dos vivem em humanos,eles conseguem ser eliminados rapidamente. Então, a pessoa que é infectada com fungos geofílicos tem a tendência de ter uma cura espontânea. Entre os dermatófitos de maior prevalência que são geofílicos podemos citar o Microsporum gypseum, Microsporum nanum e o Trichophyton terrestre. ZOOFILICOS Os fungos zoofílicos são aqueles que em certo período da vida viviam no solo, mas evoluíram, abandonaram o solo e passaram a ter contato com aqueles animais que tinham contato com esse solo (conseguiram se adaptar ao parasitismo de animais). Então, comparando os zoofílicos com os geofílicos, os primeiros são mais evoluídos. Por conta disso, quando infectam células humanas, acabam provocando uma resposta imunológica moderada e podem causar infecções mais agudas, porém restritas às áreas onde o hospedeiro é encontrado. Estima-se que 30% das dermatofitoses humanas são causadas por fungos zoofílicos. Não só os humanos, mas também os animais podem sofrer com essas doenças, principalmente os cães, gatos, bovinos, suínos etc. ANTROPOFILICOS Os antropofílicos são a maior parte (70%) dos fungos que causam dermatofitoses em humanos, visto que são adaptados ao parasitismo da célula humana. Nesse caso, a resposta inflamatória é mais branda. No entanto, na hora de tratar as infecções por esses microrganismos, há a tendência de uma certa resistência ao tratamento. Então, eles podem causar infecções crônicas, com evolução lenta e a resposta inflamatória pode ser baixa ou pode nem existir. Página 32 de Microbiologia baixa ou pode nem existir. As doenças causadas por esses fungos são frequentes em comunidades e podem causar surtos, porque há transmissão inter-humana. Essa transmissão pode ocorrer de forma indireta ou direta (banhos em piscinas, escovas de cabelo etc.). DISTRIBUICAO GEOGRAFICA E EPIDEMIOLOGIA Em relação à distribuição geográfica e epidemiologia desses microrganismos, grande parte são cosmopolitas (pode ser encontrado praticamente em qualquer lugar do mundo), principalmente Trichophyton rubrum, que é o fungo mais frequente nos casos de dermatofitose. Porém, existem fungos que são endêmicos em algumas regiões, como o Trichophyton megninii na Europa, o Trichophyton concentricum na América do Sul e Ilhas do Pacífico. No Brasil, há frequências diferentes dependendo das regiões. Por exemplo, nas regiões sul e sudeste, o dermatófito mais frequente é o T. rubrum, M. canis e T. mentagrophytes. Já na região nordeste (clima mais quente e seco), há mais T. tonsurans, mas também T. rubrum e M. canis. Sendo assim, são microrganismos que estão associados às condições climáticas, que causam infecção principalmente em regiões tropicas e subtropicais (mais quentes e úmidas). Estão relacionados, também, às práticas sociais (contato com o sol, higienização etc.) e à mobilidade da população (Ex.: Europa e colônias europeias). FATORES PREDISPONENTES Vários fatores são responsáveis para o desenvolvimento da dermatofitose, entre eles corticoterapia (fator predisponente para quase todas doenças fúngicas), diabetes (diabetes descompensada/cetoacidose/glicose no sangue). Além disso, o crescimento do microrganismo é favorecido em pessoas que usam sapatos fechados o dia todo ou roupas sintéticas, pessoas que têm uma má higienização, pessoas que têm contato com animais e/ou pessoas que deixam áreas do corpo com umidade (Ex.: lavar o pé e não secar). PATOGENIA MECANISMOS DE DEFESA INATO Nosso organismo possui mecanismos de defesa inatos para as dermatofitose. O primeiro deles é a própria pele, sua estrutura física e química, que mantém uma defesa contra esses microrganismos. Porém, se essa estrutura é rompida, ocorrendo uma alteração na pele, como o pH, a disponibilização de mais nutrientes para o fungo, entre outros, esse microrganismo pode Página 33 de Microbiologia o pH, a disponibilização de mais nutrientes para o fungo, entre outros, esse microrganismo pode invadir. Um outro mecanismo é a exposição à luz ultravioleta, que acaba sendo uma defesa inata, porque esses microrganismos não suportam a luz UV. Temperatura corporal e falta de umidade também são mecanismos de defesa inatos. Além disso, romper a microbiota, diminuindo outros fungos e bactérias da pele também pode ajudar. Ainda, a queratinização (renovação do extrato córneo) é também um mecanismo de defesa inato do hospedeiro. Fatores que favorecem a infecção Alguns mecanismos vão favorecer a infecção, como por exemplo quando se rompe a estrutura física da pele, quando muda a constituição da pele na utilização de produtos (hidratantes etc.), quando a temperatura da pele está mais baixa que a do corpo, quando muda o pH da pele, entre outros. Uma vez que esse microrganismo se adere à célula do hospedeiro ele pode ficar disponível por vários dias, mas em mais ou menos 6 horas esse conídio aderido acha seu substrato e começa a germinar, daí inicia a secreção de enzimas (proteases, lipases, fosfatases etc.) para ele poder invadir, penetrando o tubo germinativo dos tecidos e, então, absorvendo os nutrientes e promovendo o crescimento fúngico. Com o crescimento, há a formação de estruturas reprodutivas, então há a formação de novos conídios. Com isso, muitas vezes são liberados metabólitos tóxicos, que muitas vezes acabam desenvolvendo uma resposta inflamatória na célula do hospedeiro. Patogênese - epiderme Falando um pouco de patogênese de cada tipo de infecção (pele, unha e pelo), geralmente ela ocorre da seguinte forma: Pele Podemos ver na imagem um homem com um propágulo fúngico na sua pele, que consegue penetrar. Ele pode conseguir invadir a célula ou por forças mecânicas ou pela produção de substâncias químicas (enzimas). Uma vez que ele entra no extrato córneo, os conídios começam a germinar e crescer, em um desenvolvimento circular e centrífugo, ou seja, de dentro para fora (a lesão é formada no local da inoculação de dentro para fora). Com o crescimento do fungo, ele libera metabólitos tóxicos para a célula do hospedeiro, Página 34 de Microbiologia Com o crescimento do fungo, ele libera metabólitos tóxicos para a célula do hospedeiro, desenvolvendo uma resposta inflamatória. Então, há uma lesão na área que circunscreve o local da inoculação, geralmente com a borda um pouco mais elevada e eritematosa (vesículas e descamação) e a parte central tendendo à cura. Logo, na borda da lesão é onde se tem o fungo na sua forma ativa e no centro, normalmente, ele já morreu. Pelo A patogênese do pelo ocorre, geralmente, de forma secundária à evolução da pele, ou seja, o fungo está em busca de novas fontes de queratina e, com isso, ele invade o pelo em direção ao infundíbulo. Então, o fungo remove a cutícula e ganha o pelo (sai da parte mais externa para a parte mais profunda). Esse microrganismo consegue colonizar o pelo de 2 formas, que chamamos de parasitismo endotrix ou ectotrix. O parasitismo endotrix é quando o microrganismo parasita por dentro do pelo. Nesse caso, quando o pelo vai emergir geralmente ele se quebra. Já o parasitismo ectotrix é quando o microrganismo parasita por fora do pelo. Essa invasão fúngica é mantida justamente por causa de movimentos contrários de crescimento do pelo e entrada do fungo (pelo crescendo para fora e fungo indo em direção à nova fonte de queratina). Página 35 de Microbiologia fungo (pelo crescendo para fora e fungo indo em direção à nova fonte de queratina). No exame microscópico direto, é possível ver artroconídios dentro do pelo (parasitismo endotrix), podendo haver quebra do folículo piloso quando o pelo emerge. Unhas A unha se divide da seguinte forma: próxima da cutícula, há a parte proximal, onde se tem uma região branca que parece uma lua, conhecida como lúnula. Longe dessa parte proximal, que seria a borda livre da unha, há a parte distal. Ainda, podemos identificar as regiões de leito ungueal e lâmina ungueal. Vários outros microrganismos podem causar micose de unha, que é chamada de onicomicose.Mas, na onicomicose por dermatófito, a invasão se dá da parte distal para a parte proximal. Então, o fungo invade a borda livre e vai crescer em direção à parte proximal. Outros microrganismos que causam onicomicose, por exemplo, leveduras do gênero Candida ou Malassezia, podem realizar uma invasão a partir da região proximal, fazendo um desgaste da cutícula. Raramente algum dermatófito também causa onicomicose nessa região proximal. Página 36 de Microbiologia AGENTES Dentre os agentes de dermatofitose, temos os Trichophyton, os Microsporum e os Epidermophyton. Do gênero Trichophyton (maioria antropofílico), as espécies mais frequentes são: T. rubrum, T. mentagrophytes (zoofílico), T. tonsurans, T. schoenleinii, T. verrucosum, T. concentricum e T. violaceum. Já no gênero Microsporum, as espécies mais prevalentes são M. canis (zoofílico) e M. gypseum (geofílico). O gênero Epidermophyton só tem 2 espécies, mas só o Epidermophyton floccosum (antropofílico) que causa dermatofitose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Em relação às manifestações clínicas, existem 2 tipos de classificação: a corrente inglesa e a corrente francesa. Usaremos a inglesa. Na corrente inglesa, tinea se refere à verme e a segunda palavra se refere a uma parte do corpo. Então, temos Tinea corporis (tinha do corpo), Tinea facei (tinha da face), Tinea pedis (tinha do pé), Tinea unguium (tinha das unhas), Tinea cruris (tinha inguino-crural), Tinea capitis (tinha do couro cabeludo), Tinea barbae (tinha da barba) e Tinea manum (tinha da mão). Na corrente francesa, infecção de pele é chamada de epidermofitíase, infecção de unha é chamada de onicomicose e infecção de couro cabeludo é chamada de tinea ou tinha. TINEA CORPORIS/ T. FACEI São lesões inflamatórias mais ou menos intensas, que podem ser únicas ou múltiplas e têm um desenvolvimento centrífugo. Então, elas começam por uma lesão avermelhada, que vai desenvolver de forma centrífuga, onde se tem uma área mais inflamatória, que pode ser pruriginosa ou não, e uma área circunscrita com várias vesículas. Podem ser lesões descamativas. A maior incidência é em crianças e adultos, sem predileção por sexo. Os principais agentes são Página 37 de Microbiologia A maior incidência é em crianças e adultos, sem predileção por sexo. Os principais agentes são Trichophyton rubrum, T. mentagrophytes, Microsporum canis, M. gypseum e Epidermophyton floccosum. TINEA MAMUM Como o nome diz, os dermatófitos infectam a palma da mão. As lesões podem ser eczematoide ou podem ter um aspecto de hiperceratoide, com bastante descamação. Podem atingir a palma da mão, mas também podem atingir entre os dedos (regiões interdigitais). Além disso, podem ter um aspecto desidrótico, quando formam vesículas com líquidos. Os principais agentes são T. rubrum, T. mentagrophytes e t. T. tonsurans. TINEA BARBAE Atingem não só a barba, mas também o bigode. As lesões causadas pela Tinea barbae são lesões que podem ter alopécia cicatricial, além de formações de pústulas foliculares únicas ou agrupadas. Além disso, podem ter um aspecto descamativo. Os principais agentes são T. rubrum, T. mentagrophytes e T. verrucosum. Página 38 de Microbiologia TINEA PEDIS É a dermatofitose causada nos pés, que pode ser tanto na sola (mais frequente), na lateral ou entre os dedos. A Tinea pedis pode ocorrer de 3 formas. Ela pode ser intertriginosa, quando se tem fissuras entre os dedos, fissuras que podem sangrar, ter um leve prurido e que podem formam um odor fétido, principalmente quando se tem infecção secundária por bactéria. Esse é o famoso "pé-de-atleta", bastante frequente em pessoas que fazem natação (muito contato com água e não secam o pé direito). Página 39 de Microbiologia Outra forma é a forma desidrótica, que é quando há a presença de vesículas na região plantar ou até na região dorsal do pé. Essas vesículas contêm líquido. Além disso, existe a forma hiperceratósica, que forma placas tanto na sola quanto na lateral do pé. Essas placas têm a coloração avermelhada e um caráter escamoso. Os principais agentes são T. rubrum, T. mentagrophytes e Epidermophyton floccosum. TINEA UNGUIUM Também conhecida como onicomicose dermatofítica. Pode atingir as unhas tanto das mãos quanto dos pés, porém é mais frequente nas dos pés. A Tinea unguium é classificada de várias formas. A primeira delas é a subungueal distal e/ou lateral, que é a mais frequente. Pode atingir tanto a borda livre da unha em direção à região proximal, quanto pode atingir a lateral da unha. Uma vez que esse fungo começa a consumir a queratina local, há uma mudança de coloração da unha, ficando mais opaca/esbranquiçada (dependendo do fungo até mais avermelhada/amarronzada, como no T. rubrum). Essa unha fica mais espessa (engrossamento e esfarelamento) e pode ocorrer uma distrofia. Os principais agentes são T. rubrum e T. mentagrophytes. Página 40 de Microbiologia A branca superficial possui manchas que aparecem na lâmina superior da unha, principalmente na parte média. Esse tipo de onicomicose é raro, acontecendo geralmente em pacientes com alguma imunodeficiência. Os principais agentes são T. rubrum e T. mentagrophytes. A subungueal proximal também é rara e vai atingir a região próxima a cutícula (proximal) em direção à região distal. A unha fica em um aspecto mais opaco, podendo ficar mais amarronzado/avermelhado (T. rubrum). Os principais agentes são T. rubrum e T. mentagrophytes. Ainda, existe a Tinea unguium chamada de distrófica total, que pode ocorrer por evolução de qualquer uma das outras mencionadas quando o paciente não dá a atenção devida ao tratamento. A doença, então, acaba se tornando crônica e o microrganismo vai consumindo toda a queratina local e acaba destruindo a unha (a lâmina ungueal), podendo evoluir em queda. Nesse caso, o fungo se alimenta dos restos de queratina que ficam no local. Os principais agentes, também, são T. rubrum e T. mentagrophytes. TINEA CRURIS A Tine cruris atinge região inguinal, mas pode atingir também regiões de grandes pregas, como axilares e inframamárias. Nesse caso, tem-se uma extensa maceração do extrato córneo. Ocorre em regiões que costumam ser mais úmidas e quentes, o que propicia a invasão do microrganismo. Página 41 de Microbiologia Ela evolui de forma insidiosa, parecendo uma mancha avermelhada, que pode se estender e confluir da região frontal do corpo e entre as coxas para a região das nádegas, formando uma única placa. Pode ocorrer a formação de vesículas e de pústulas, com uma borda bastante eritematosa. São lesões que, durante a noite, coçam bastante, sendo esse prurido noturno uma das maiores queixas dos pacientes. OBS.: É importante prestar atenção que existe uma doença que atinge tecido superficial chamada eritrasma, causada por uma bactéria filamentosa, que gera lesões bem parecidas com a Tinea cruris. Para diferenciá-las, usa-se a Lâmpada de Wood (luz UV), sendo que se for eritrasma a coloração da lesão fica avermelhada (os dermatófitos, principalmente Microsporum, geralmente apresentam coloração verde e amarelo fluorescente). Os principais agentes são T. rubrum, T. mentagrophytes e Epidermophyton floccosum. TINEA CAPITIS (do tipo Tinha tonsurante) Essa micose é a mais frequente, acomete principalmente crianças com idade escolar de 4 a 10 anos de idade, visto que elas não possuem ácidos graxos e cadeia longa (ação antifúngica). Pode aparecer em adultos e idosos, mas são mais assintomáticas. É caracterizada pelo aparecimento de placas únicas ou múltiplas, com diâmetros pequenos ou maiores. São placas de alopécia em que se pode observar fragmentos de pelo emergindo do folículo piloso. Os principais agentes são Microsporum canis (frequente nas regiões sul e sudeste do Brasil) e Trichophyton tonsurans (frequente nas regiões norte e nordeste do Brasil). Como é um agente antropofílico, é facilmente contagioso. A tinha tonsurante pode ser do tipo microspórica ou tricospórica/tricofítica.A microspórica é causada geralmente por Microsporum e é caracterizada por apresentar apenas uma placa de um diâmetro grande. Nesse caso, o tipo de parasitismo do pelo é o tipo ectotrix. Por ser causada por Microsporum, na lâmpada de Wood apresenta uma fluorescência esverdeada. Página 42 de Microbiologia A tricospórica é praticamente o contrário, existem pequenas lesões, porém múltiplas. Como seu nome indica, ela é causada por espécies do gênero Trichophyton. Nesse caso, a maior parte faz parasitismo do tipo endotrix, logo quando o pelo vai emergir ele acaba quebrando. No microscópio possível ver o pelo tomado por artroconídios. TINEA CAPITIS (do tipo Tinha supurativa) A Tinha supurativa é um outro tipo de Tinea capitis, que é bastante frequente no couro cabeludo de mulheres e crianças, mas pode ocorrer em barba e bigode de homens (referente a lesões secundárias). Ela pode formar placas, que são mais elevadas, além de microabcessos. Gera uma área em que se vê sinais inflamatórios bem evidentes (edema, secreção de pus etc.). O paciente tem perda de cabelo, porém não permanente. Os principais agentes são Microsporum gypseum (geofílico) e Trichophyton mentagrophytes. Também são conhecidas como Kérion Celsi. Página 43 de Microbiologia TINEA CAPITIS (do tipo Tinha fávica) A Tinha fávica é a mais rara. É causada por um único agente, que é o Trichophyton schoeleinii (que também pode gerar dermatofitoses em outras partes do corpo). Ela começa ao redor do folículo piloso, onde vai liberando gotículas, que formam uma massa e, então, crostas. Essas crostas possuem um odor bem fétido (similar à urina do rato) e são chamadas de godet ou de escútulas. Essa massa nada mais é que um emaranhado de hifas. Nesse caso, há uma foliculite muito intensa, que gera cicatrização do folículo piloso e evolução para alopécia definitiva. Página 44 de Microbiologia O T. schoeleinii é dificilmente encontrado no Brasil. Seu parasitismo é um pouco diferente, existe o parasitismo do tipo endotrix, onde se vê artroconídios dentro do pelo, mas também nitidamente a presença de bolhas (único Trichophyton que forma essa bolha dentro do pelo). Há também o parasitismo do tipo ectotrix. Página 45 de Microbiologia TINEA IMBRICATA A Tinea imbricata também é chamada de Tokelau (ilha do pacífico onde a doença foi primeiramente descrita). Ela é típica de populações isoladas, podendo ocorrer também microepidemias familiares. Essa dermatofitose é caracterizada pela formação de círculos excêntricos, de tamanhos diferentes, que têm a borda mais branco-acinzentada e um aspecto escamoso. Ela é pruriginosa, podendo formar um aspecto liquenizante. Nesse caso, há a ausência de sinais inflamatórios. O único agente de Tinea imbricata é o Tricophyton concentricum, que, como é um agente antropofílico, pode gerar transmissão inter-humana (causando as microepidemias familiares) e pelo compartilhamento de objetos íntimos. QUAIS SÃO AS FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS DISPONÍVEIS? Uma vez que o paciente apresenta clínica de dermatofitose, o mais indicado é que seja coletado o material, a ser levado para um laboratório. O médico deve solicitar um exame microscópico direto e a cultura. Pesquisa direta do material clinico O exame microscópico direto consiste em pegar a amostra que foi coletada, isto é, os pelos ou as escamas de pele ou de unha, e olhar no microscópio para ver ser esse material tem alguma estrutura fúngica. O material é colocado sobre uma lâmina e corado/tratado com KOH 30% (clarificante, degrada as escamas deixando mais evidentes as estruturas fúngicas) e com Tinta Parker (tinta azul que impregna na parede celular facilitando a visualização do fungo). Página 46 de Microbiologia que impregna na parede celular facilitando a visualização do fungo). Nas escamas epidérmicas e ungueais é possível ver a hifa, que indica que é um processo onde o microrganismo está causando a doença, ou os artroconídios, que seria a fragmentação dessas hifas, que indica a mesma coisa. Observar que são hifas hialinas septadas. Lembrando que, uma vez feito o exame microscópico direito, deve ser pedido também o isolamento do fungo (cultura). O material, então, será semeado em meios específicos para dermatófitos, por isso é tão importante que o médico envie sua suspeita clínica. Depois de mais ou menos 7 a 14 dias, se o microrganismo crescer, será possível fazer a identificação. Página 47 de Microbiologia No pelo (também tratado com o KOH 30%, com tinta parker ou não) é possível o tipo de parasitismo dentro do pelo (endotrix) com os artroconídios e o tipo de parasitismo fora do pelo (ectotrix) também com os artroconídios. Também deve ser solicitada a cultura. Página 48 de Microbiologia Diagnóstico laboratorial: Histopatológico Não é necessário fazer o corte histológico, visto que pelo exame microscópico direto já se consegue ver as estruturas fúngicas. Nesse caso, é bastante utilizado o Ácido Periódico de Schiff. Cultura A cultura é feita por análises microscópicas e análises macroscópicas. Nas análises macroscópicas, como é fungo filamentoso hialino, devem ser observadas a textura Página 49 de Microbiologia Nas análises macroscópicas, como é fungo filamentoso hialino, devem ser observadas a textura (pulverulenta, granular, camurçada, cotonosa etc.), a topografia (plana, pregueada, cerebriforme, convexa etc.), a cor da colônia e a pigmentação (no reverso da colônia). Nas análises microscópicas, observamos o micélio vegetativo, onde se vê se as hifas são septadas ou asseptadas, hialinas ou demáceas, se tem presença de hifas em espiral, em raquete, entre outros. Nas estruturas reprodutivas, observa-se se existem microconídios ou macroconídios. Por exemplo, o M. canis (zoofílico) é caracterizado por ter uma colônia com aspecto de gema de ovo, mais glabra, menos peluda, amarelada (reverso bem amarelado) e com seu conídio grande (macroconídio). Então, são fungos filamentosos hialinos septados que produzem macroconídios (mas também pode apresentar microconídios). Esses macroconídios têm as pontas afiladas (fusiforme) e são do tipo fragmosporo (todo fragmentado). Ao contar as células no macroconídio, para ser M. canis, é necessário ter mais de 6 células. Sua parede celular é mais espessa, podendo ser lisa ou um pouco equinulada (com uns espinhos). O M. gypseum (geofílico) é bastante diferente, sua colônia é mais pulverulenta, que vai de um branco a bege (amarelo clarinho), seus macroconídios não são tão fusiformes (pontas mais arredondadas, como um charuto de desenho animado) e é possível ver microconídios das hifas hialinas septadas. Ao contar as células dentro dos macroconídios de M. gypseum só se chega até 6 células. O T. rubrum (que mais gera dermatofitose) possui uma colônia branca, mais cotonosa e com o reverso avermelhado. Ele forma hifas hialinas septadas com microconídios paralelos a elas e em forma de lágrima. O T. mentagrophytes tem uma característica diferente de todos os dermatófitos, que é a produção de uma hifa em espiral. Então, ele possui uma hifa hialina septada com uma modificação, que é sua formação em espiral. Fora isso, possui conídios arredondados, que podem estar agrupados ou fixos na hifa. A colônia é uma colônia mais esbranquiçada e pulverulenta. O T. tonsurans parece uma centopeia, tem uma hifa hialina septada com microconídios alternados, um para um lado e um para o outro da hifa (ficam parecendo patinhas de centopeia). A colônia é uma colônia mais sulcada (com valas) e com coloração mais bege. O T. schoenleinii (muito difícil de isolar) possui uma colônia com aspecto de vela derretida, numa cor mostarda e com periferia esbranquiçada. Não se vê presença de conídios, são visíveis só as hifas, mais alargadas e formando o que chamamos de candelabro flaboso. Os tricophytons podem produzir macroconídios, que geralmente têm uma forma de caneta, mas são mais raros. O E. floccosum tem uma característicade produzir macroconídios, que podem estar agrupados em cachos, todos dispostos na hifa, parecendo uma clava e com até 9 septos. Pode produzir também um único conídio fixo à hifa. Sua colônia é diferente de todas as outras, porque tem um aspecto que começa mais esbranquiçado, mas fica mais amarelo-esverdeado na periferia. Página 50 de Microbiologia TRATAMENTO TRATAMENTO TOPICO Se há uma infecção que não está disseminada e não acomete cabelos e unhas, como por exemplo Tinea corporis, Tinea cruris e Tinea pedis tipo seco, pode ser feito o tratamento tópico, que vai consistir de cremes, loções, sabonetes. Página 51 de Microbiologia Pode ser a base de algumas substâncias, como solução de iodo, ácido salicílico e ácido benzóico, principalmente em lesões de pele glabra, pés e unhas. Ainda, podem ser usados alguns derivados imidazólicos, como miconazol, oxiconazol, tioconazol e o isoconazol. Como se fala mais de pele/pé, o tratamento dura de 2 a 4 semanas. No caso de pele e região inguinal, cerca de 2 semanas, já no pé demora um pouco mais, chegando a 4 semanas. TRATAMENTO SISTEMICO Agora, falando de Tinea capitis, que atinge o couro cabeludo, de uma Tinea corporis extensa, de uma onicomicose crônica ou de uma Tinea pedis crônica, o tratamento deve ser sistêmico. Nesse caso, usa-se griseofulvina (antifúngico utilizado apenas para dermatofitose) para as Tinea capitis (30-45 dias), pedis (45 dias) e corporis (20 dias). Para crianças, uma dosagem de 10 a 20 mg/kg e para adultos 500 mg/dia. Esse medicamento tem sido usado principalmente para a Tinea corporis extensa. Além disso, é possível utilizar itraconazol (100 mg/dia), fluconazol (150 mg/semana) e terbinafina (250 mg/dia) para o tratamento de Tinea corporis (2-4 semanas), Tinea capitis (4-6 semanas) e Tinea unguium (3-6 meses para as mãos ou mais de 6 meses para os pés). OBS.: O tratamento da Tinea corporis é o mais rápido e o da Tinea unguium é o mais demorado. OBS. 2: Lembrar que os fungos antropofílicos têm tendência à resistência, visto que eles estão mais adaptados à célula humana. Página 52 de Microbiologia INTRODUÇÃO Já falamos das micrses superficias propriamente ditas e das micoses superficiais cutâneas. Agora, falaremos um pouco das micoses "subcutâneas" causadas por fungos demáceos. Esse termo subcutâneo já não é tao utilizado, visto que nem todas as micoses causadas por fungos demaceos são só subcutaneas. A principal nomenclatura utilizada atualmente é "Micoses de implatação". FUNGOS DEMÁCEOS Falando um pouco dos fungos demáceos, são fungos cosmopolitas, grande parte deles vivem no solo, em vegetações, decompondo matéria orgânica. São microrganismos que são praticamente "avirulentos". Eles têm uma característica muito marcante que é a presença exacerbada da melanina na sua parede celular. Então, quando se observa tanto a macro quanto a micromorfologia desses microrganismos, é possível ver que o micélio vegetativo é escuro. Porém, pode ser que a colônia cresça esbranquiçada, sendo apenas relevante observar o micélio vegetativo, logo o reverso da placa, que sempre estará enegrecido por conta das hifas amarronzadas. 21/09 - 1 - Micoses de implantação - Cromoblastomicose terça-feira, 22 de setembro de 2020 21:13 Página 53 de Microbiologia Esses fungos são pleomórficos, isto é, eles mudam sua forma dependendo se estão na natureza ou no tecido do hospedeiro. A melanina é importante para esses fungos em diversos fatores, principalmente por eles estarem muito presentes no ambiente (fora de hospedeiros). A melanina, então, evita a desidratação da célula fúngica e protege da radiação ultravioleta. Além disso, ela tem um papel importante na patogênese do fungo, visto que consegue: remover os radicais oxidativos dos fagócitos, diminuindo a fagocitose; diminuir a susceptibilidade a antifúngicos e proteger contra enzimas proteolíticas. Espectro de doenças causadas por fungos melanizados Existem mais de 150 espécies de fungos demáceos, que estão distribuídas em 70 gêneros. A cada dia se tem um número maior de especies, visto que novas delas são constantemente relatadas, principalmente porque hoje em dia se tem uma população maior de imunocompretidos. Então, esses microrganismos conseguem causar um espetro amplo de doenças, desde doenças superficiais até doenças disseminadas e de sítio profundo, por isso a nomenclatura "subcutânea" não é utilizada mais. Como exemplos, nós temos: micose superficial cutânea causada por agentes de feohifomicose, cromoblastomicose, feohifomicose causando micose subcutânea, micetoma causando micose subcutânea, feohifomicose causando micose de sítio profundo ou disseminada etc. SINDROMES CLINICAS Fungos demáceos podem causar micose superficial cutânea, como por exemplo a Tinea Nigra; podem causar micose subcutânea, como por exemplo a cromoblastomicose, o micetoma e a feohifomicose; além disso, podem causar micoses sistêmicas, como as feohifomicoses sistêmicas. Página 54 de Microbiologia Variáveis associadas à plasticidade morfológica dos fungos demáceos Esses microrganismos são fungos pleomórficos, ou seja, mudam de forma. Essas variáveis estão associadas à mudança morfológica desse microrganismo principalmente quando ele está no tecido do hospedeiro. Então, esse microrganismo, quando está no solo por exemplo, está na sua forma micelial, contendo o micélio vegetativo e as hifas. Porém, quando ele infecta o hospedeiro e começa a desenvolver a doença, esse fungo apresenta formas diferentes daquela que está no solo, devido às diferenças teciduais, como o pH mais baixo, uma tensão menor de oxigênio e uma temperatura mais elevada. Esse microrganismo, então, produz estruturas diferentes no tecido, como por exemplo a célula muriforme, que é uma estrutura arredondada bastante melanizada, que pode ser única ou dividida em 2 (septos longitudinais ou transversais). Essa célula recebe vários nomes diferentes: corpo esclerótico, corpo fumagoide, célula fumagoide, célula muriforme etc. Além disso, esses fungos podem produzir alterações nas hifas, formando o que chamamos de hifa toruloide, uma hifa acastanhada mais inchadinha (mais gordinha). Essas condições teciduais podem influenciar na produção de vários outros componentes celulares. Dependendo da estrutura que se acha no tecido e do fungo que é isolado, é possível chegar no diagnóstico da doença. PORTA DE ENTRADA A porta de entrada desses microrganismos, como estamos falamos de micose de implantação, é o trauma transcutâneo. Esses microrganismos são encontrados no ambiente em matéria orgânica em decomposição, em material em putrefação, em ambientes úmidos etc. Então, o homem se acidenta e esse microrganismo é inoculado dentro do tecido, sendo que onde esse microrganismo é Página 55 de Microbiologia e esse microrganismo é inoculado dentro do tecido, sendo que onde esse microrganismo é inoculado é o local onde vai se desenvolver a lesão. ASPECTOS EPIDEMIOLOGICOS DAS MICOSES DE IMPLANTAÇÃO Essas doenças têm aspectos epidemiológicos muito parecidos. São típicas de regiões tropicais e subtropicais, com exceção da feohifomicose, que como possui a doença sistêmica pode ocorrer em qualquer lugar com pacientes imunocomprometidos e alguns outros fatores. As pessoas mais atingidas são aquelas que trabalham com agricultura, com construtivismo e com construção civil, visto que estão mais em contato com o solo, principalmente os trabalhadores rurais. Por esse fator, elas acabam sendo consideradas doenças ocupacionais e acabam atingindo mais os homens. Já a idade com mais prevalência é aquela que condiz com a faixa onde a força de trabalho é maior (mais ou menos de 30 a 50 anos de idade). Essas doenças geralmente ocorrem em casos isolados, com exceção da esporotricose, que pode gerar epidemias. Página 56 de Microbiologia Essas doenças são doenças que infelizmente não possuem notificação compulsória, isto é, são limitadas e negligenciadas
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